23/07/2022

Doce e Clemente, Mãe da graça e do perdão

Em 1996, eu e minha Maria, juntamente com nossos compadres Manu e Vera, tivemos a oportunidade de viajar pela primeira vez para a cidade de Caicó, no interior da Rio Grande do Norte, para participar da festa de Sant’Ana, que é uma das mais tradicionais festas religiosa desse estado.

A festa de Sant’Ana de Caicó acontece anualmente sempre a partir da quinta-feira que antecede o dia 26 de julho, dia de Sant’Ana no calendário litúrgico, e se encerra com uma grande procissão no domingo subsequente, totalizando 10 dias de comemorações.  Em 2010 foi tombada como patrimônio imaterial do Brasil. É o maior evento sócio-religioso do Rio Grande do Norte. A festa é uma mistura de sagrado e profano que atrai turistas de todos os cantos do RN.

Em 1584, uma bula do papa Gregório XIII instituiu uma festa, comemorada no dia 26 de julho, mês que passou a ser denominado “Mês de Santa Ana”.

Desde os primórdios da história, as lendas são utilizadas para explicar fatos desconhecidos. Os gregos como os romanos já explicavam suas origens através de lendas. Herdamos esse gênero literário. A origem de Caicó não foi diferente. Não sabendo ao certo explicar sua origem, os literatos ou historiadores utilizaram-se das lendas do vaqueiro e do poço de Santana que se descrevem de várias formas, para expressar o surgimento da cidade de Caicó.

As lendas do vaqueiro e do poço de Santana são tão antigas quanto a própria história da velha Caicó. Fruto da fantasia humana, ela relata a cidade na sua origem e, mais importante ainda, cultua o que mais caracteriza o local na época. A história das lendas de Caicó não foi apenas um capitulo a mais na história da cidade. Se não e o mais importante, possui seu valor pelo pioneirismo e o relato descritivo de seu meio geográfico, fatos que enriquecem a história da cidade.

A celebração da Festa de Sant’Ana remete, constantemente, à lenda de fundação da cidade, encenando uma luta dos primeiros moradores contra a adversidade da natureza ainda não “domesticada”. Entre as diferentes versões existentes, escolhemos a escrita pelo jornalista, jurista, educador e estudioso das tradições populares Manoel Dantas (falecido em 1924), conta no seu livro “Homens de Outrora” que: Quando o Sertão era virgem, a tribo dos “Caicos”, celebre por sua Ferocidade, julgava-se invencível, porque Tupã vivia ali, encarnado num Touro bravio que habitava um intrincado mofumbo, existente no local onde está, hoje, situada a cidade do Caicó. Certo dia, um vaqueiro experto, penetrando no mofumbo, viu-se, de repente, atacado pelo touro sagrado, que iria, indubitavelmente, matá-lo. Rapidamente inspirado, o vaqueiro fez o “voto” a N.S. Santana de construir ali uma capela, se o livrasse de tamanho perigo. Como por encanto, o touro desapareceu. O vaqueiro destruiu a mata e iniciou, logo, a construção da capela. O ano era seco e a única aguada existente era de um poço do rio Seridó. O vaqueiro fez novo “voto” a S. Anna para o poço não secar antes de concluída a construção da capela. O “Poço de Santana”, como ficou, desde então, denominado, nunca mais secou. Reza a lenda que o espirito do deus dos índios, expulso do mofumbo, foi se abrigar no poço, encarnando-se no corpo de uma serpente enorme que destruirá a cidade, ou quando o poço secar, ou quando as águas do rio, numa cheia pavorosa, chegarem até o altar-mor da matriz do Caicó onde se venera a imagem da mãe de Nossa Senhora.

A narrativas lendária, mostra que a devoção a Sant’Ana, padroeira de Caicó, tornou-se um elemento fundamental para a construção da identidade caicoense. A construção da primitiva capela, em 1695, e a história de alguns milagres creditados a santa motivou a relação de devoção que o povo de Caicó e de toda região do Seridó nutre por Sant’Ana. O culto a Sant’Ana em suas “famosas” e “tradicionais” festas religiosas promovem uma verdadeira transformação no que se refere a cultura local.

A festa de Santana significa o momento em que as famílias seridoenses voltam a se encontrar restabelecendo os antigos laços que o tempo e a distância cortaram, com a partida de muitas pessoas para outras regiões do pais, reafirmar valores cristãos e acionar registros específicos da cultura seridoense, sobretudo no que diz respeito à sociabilidade fundada no interconhecimento.

Inspirados no amor materno da santa, os caicoenses aplicam os princípios da hospitalidade e da generosidade irrestrita. As casas de família acolhem os visitantes, aplicando sem restrição os preceitos cristãos.

Em junho de 2012, o Blog de Kleber Nóbrega, publicou um artigo com o nome “Caicó, cidade Servidora!”, que retrata bem o povo Caicoense: “Pode um cidade inteira ter comportamento servidor? Você conhece alguma cidade em que as pessoas parece terem verdadeiro prazer em servir bem? Você conhece algum lugar onde as pessoas parecem estar, sempre, de bom humor e felizes?  Pois é esta a sensação que tenho sempre que vou a Caicó, no Rio Grande do Norte”. E continuou:  “Um dia ainda faço uma pesquisa científica sobre isto”.

Para alguns, a festa de hoje não é a mesma de outrora, pois, naquela época, assim diziam, por volta de 1940, era só novena. Quando terminava, o povo ia para a praça andar, não havia nada de barracas de Comidas ao redor. Era também proibido bailes. Após as novenas, sempre havia um leilão (atualmente realizado nas noites de novena). Começaram a aparecer os Parques, pois antes só existiam os carrosséis que eram empurrados a mão. Era uma Casa de jogo, um barzinho, a banda de música tocando no coreto até as 10 horas, devido à luz a motor apagar nesse horário.

Nossa Senhora de Santana é venerada ao redor do mundo. Dentro da igreja católica é uma das personalidades mais respeitada. A sua história envolve muita luta, sofrimento e também milagres. Apesar de muitas pessoas não fazerem ideia de quem ela foi, sua figura está no centro da Igreja Católica.

As primeiras referências a ela vêm do Protoevangelho de Tiago, também foi chamado de ¨Natividade de Maria¨, um texto que não consta na Bíblia, e em outros textos apócrifos. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes.

O Evangelho Apócrifo de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro esposo, José.

São Joaquim era uma pessoa de grande influência, principalmente na região de Jerusalém, onde moravam. Além da influência, era pertencente à família real de Davi. Apesar do grande prestígio, o casal passaria por grandes dificuldades pelo caminho, em razão de uma dificuldade para gerar filhos.

Mesmo tentando durante anos, São Joaquim não foi capaz de engravidar sua esposa Ana. Na época, a culpa pela infertilidade era automaticamente atribuída à mulher. O homem nunca era culpado por falta de fertilidade. Quando as pessoas da comunidade notaram esse fato, passaram a criticar Sant'Ana.

Acreditava-se que a falta de fertilidade era um castigo de Deus. São Joaquim também sofreu na pele os julgamentos, principalmente por parte dos sacerdotes. Eles criticavam o fato de ele não ter filhos. Apesar de todo o sofrimento, tanto Sant’Ana quanto São Joaquim permaneceram crentes, orando a Deus e pedindo por um milagre. Atendidos em suas orações, foram agraciados com uma filha, a qual deram o nome de Maria, mãe de Jesus. Sendo mãe de Maria, é portanto avó de Jesus Cristo. Por isso foi designada padroeira dos avós. Venerada ainda como padroeira das mulheres casadas, especialmente as grávidas, protetora das viúvas, dos navegantes e marceneiros.

Bem, uma das coisas que sempre ouvi as pessoas dizerem é que não havia nada melhor do que ter netos. Deus que, nessa vida, foi sempre muito generoso comigo, me fez avô aos 59 anos. Devo confessar que desde que o vi pela primeira vez passei a desfrutar de um sentimento que julgava nunca ter experimentado antes. Eu nunca havia experimentado isso antes ou havia esquecido do que sentia quando do nascimento dos meus filhos. Passei então a levantar as razões, por que sempre que o tenho por perto ou que vejo as suas fotos e pequenos filmes, o meu olhar brilha e o ar de felicidade fica estampado em minha face.

Quando meu neto invade a minha casa, sinto que o meu coração se enche da mais plena alegria proporcionada por Deus.

Quando somos pais estamos num período de nossa vidas em que ficamos absorvidos pelo nosso trabalho. Os filhos dividem o espaço com essas grandes preocupações. As inquietações de então hoje não existem mais. Hoje, temos um melhor entendimento do que seja a vida e do valor que ela tem e, sendo assim, ao olharmos aquela criança constatamos a maravilha do que foi o seu nascimento e quão magnífico é cada progresso conquistado.

Nesta altura da vida somos orientados menos pela razão e mais pela emoção e a nossa emotividade aflora.

Ser avó e avô é como amar o filho pela segunda vez, é ter uma segunda oportunidade de participar na criação de crianças na família, mas, desta vez, de forma mais leve e tranquila.

Ser avó ou avô é uma das coisas mais fantásticas que pode acontecer na vida de uma pessoa. Especialmente porque, em geral, a surpresa vem na terceira idade. Quando a vida parecia ter sossegado. Um serzinho vem iluminar a casa.

Cena mais comum na casa da avó é crianças correndo. Se você não tiver o mínimo de equilíbrio, não consegue acompanhar. Aquele dia entediante, sem graça e silencioso é completamente transformado no momento em que os netos pisam na casa. Ter um neto é sinônimo de vitalidade emocional. A casa simples torna-se um parque de diversões imenso.

Netos têm a capacidade de imaginar coisas incríveis e levar avós a viagens inéditas. Ser avó é retornar a infância, em viagem de primeira classe.

Muitas vezes, papais ou mamães exigentes e rigorosos, quando se tornam avós, o coração amolece, prontos para a próxima brincadeira ou para mais uma historinha antes de dormir.

Nos dias de hoje, o papel dos avós vão além do agrado aos netos, eles participam ativamente da rotina das crianças e são personagens importantes na educação compartilhada com os pais. Todavia devem procurar respeitar as regras familiares, especialmente quando participam em grande frequência da rotina da criança, já que a discordância gera inconsistências e insegurança para os netos, bem como pode resultar em conflitos e desrespeito das crianças e adolescentes aos pais.

Ser avó também traz responsabilidade, por, até sem perceber, exercermos influência na vida dos netos. Ensinando, estamos influenciando na formação de seu caráter e de valores. Até quando nos divertimos com eles, nossa postura e linguajar estão sendo observados e assimilados. Conosco eles aprendem a dar valor à família, quando lhes falamos a respeito do nosso passado, de sua árvore genealógica, mostramos-lhes fotos de seus antepassados e transmitimos-lhes tradições familiares e culturais. Outra responsabilidade, é de transmitir aos netos também e, acima de tudo, a fé cristã.

Estudos mostram que crianças que têm relacionamentos fortes com os avós são mais bondosas, generosas e com menores taxas de ansiedade e depressão no futuro. O envolvimento dos netos com os avós, de acordo com o mesmo estudo, também aumenta o desempenho escolar, a autoestima, a inteligência emocional e a fazer ou manter amigos. Assim como, que avós que têm a oportunidade de estar com os netos, não apenas emocionalmente, mas também em contribuir com suporte funcional – como buscar de vez em quando na escola, ajudar com algo financeiro ou ainda cuidar das crianças para que os pais possam sair – demonstram ter mais saúde psicológica e menos depressão do que aqueles que não fazem isso.

Enfim, muitos netos não chegam a conhecer seus avós. Poucos têm a felicidade que eu tive. A realidade é que, pertinho ou de longe, os vovôs são pessoas que marcam nossas vidas de um jeito único, deixando deliciosas lembranças para sempre…

Viva Sant’Ana. Viva todos Avós do mundo!

“Doce e Clemente. Mãe da graça e do perdão. Abrigai-nos docemente. Dentro em vosso coração! Salve, Sant’Ana gloriosa.  Nosso amparo e nossa luz. Salve, Sant’Ana ditosa. Terno afeto de Jesus. Vossos filhos desta terra. Vos suplicam que sejais.  O seu refúgio na guerra. E sua alegria na paz”. (Hino de Sant’Ana – letra de Palmyra e Carolina Wanderley e Música de Manoel Fernandes).

23/06/2022

Procura-se Gestores Municipais

Nas minhas “andanças” pelo Estado da Paraíba, morei de 1995 a 1997 na cidade de Sumé, onde trabalhei no DER – Departamento de Estrada e Rodagem. Tive a oportunidade de conhecer e fazer amizade com o Sr. Leonardo Guilherme (faleceu em 2018), que foi prefeito de Sumé entre 1977 a 1983. Nas nossas conversas, o Sr. Leonardo gostava de contar um episódio, que ocorreu durante a sua gestão, como prefeito de Sumé.

Vista Cidade Sapé-PB

Participando de um encontro de prefeitos, em Brasília, com a presença de órgãos do governo federal, diversos prefeitos reclamavam nos debates que o dinheiro que recebiam para construir escolas municipais, só permitiam construir uma sala de aula. Quando foi a vez dele falar, ele disse que o dinheiro que recebeu, construiu três salas de aula. Imaginem o “murmurinho” ocorrido neste momento entre os participantes, com esta declaração do Sr. Leonardo Guilherme.

Esse “causo” era de conhecimento da população de Sumé, que teve muito orgulho ter tido um prefeito sério e comprometido, com o bem estar de todos, de uma retidão e honestidade impressionantes. Fato que talvez seja uma exceção, quando se trata da administração municipal dos 5570 municípios brasileiros.

Não tenho dúvida, que os Municípios possam ser considerados o primeiro degrau da organização econômica, política e administrativa de nosso país. 

Infelizmente, o nível de corrupção nas prefeituras brasileira é alarmante. Salvo, pequenas exceções, normalmente o ocupante do principal cargo da gestão municipal, utiliza a administração geral como uma feira de negócios próprios ou permite que terceiros o façam, sem um razoável controle. Pessoas que adotaram a política como profissão ou como um estranho sacerdócio, para o qual não há nem necessidade de fé, nem juramento de sacrifícios. O propósito não é de servir a população do município, nem servir à pátria. Além dos vícios morais, eles carregam a incompetência gerencial. Não mostram para os ofícios públicos a mesma habilidade, enquanto estelionatários.

Além de todos as irregularidades comuns que muitos gestores praticam, tais como: superfaturamento, obras pagas mas jamais executadas, fraudes de licitação, etc…outro grave problema da gestão administrativa municipal, diz respeito as obras inacabadas sob responsabilidade dos governos municipais.  Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), existem atualmente no Brasil, pelo menos, 6.932 obras iniciadas entre 2012 e 2021 paradas (contrato sem movimentação há mais de 180 dias). Esqueletos de escolas, unidades de saúde, pavimentação de estradas, canalização de esgoto e iluminação pública. Desperdício de dinheiro público e prejuízo para a população. Muitas são obras inacabadas, apenas porque foram começadas pelo antecessor.

Podemos citar, como exemplo, de um gestão municipal bastante conturbada, a do município de Sapé do Estado da Paraíba. De 1972 a 2020 (desconsiderando o prefeito eleito que tomou posse em 2021), teve 11(onze) prefeitos eleitos pelo voto direto, todavia nesse período, ocorreram afastamento e/ou condenação por improbidade administrativa de 05 (cinco) prefeitos e tendo tomado posse 03 (três) Interventores nomeados pelo Governo do Estado.

Desde que foi concedido o direito dos prefeitos, disputarem suas reeleições (a partir do ano 2000) apenas um prefeito de Sapé utilizou desse instrumento e conseguiu renovar o mandato.

No livro “O processo histórico de Sapé” de autoria do advogado Juraci Marques Ferreira, além de relatar fatos do passado do Município de Sapé, o escritor emiti sua abalizada opinião, dentro do contexto ocorrido com os gestores municipais, nos últimos 48 anos, em que o Município de Sapé se transformou num verdadeiro cemitério de prefeitos. “Eleger-se Prefeito de Sapé nos dias atuais, é simplesmente encerrar a carreira política de maneira altamente melancólica e ainda ter de responder a inúmeros processos na justiça em razão de altos administrativos ilegais, praticados no exercício do cargo”.

Outro triste exemplo de desmando administrativo, tem ocorrido nos últimos 24 anos na gestão administrativa do município de Guamaré-RN. De 1997 a 2021 ocorreram 06 (seis) eleições municipais, sendo duas suplementares. Dois prefeitos foram afastados do cargo por impropriedade administrativa, com condenação judicial, além de um vereador, que assumiu a gestão, por renúncia do prefeito. Em uma das eleições, tivemos a cassação do mandado eleitoral do prefeito e vice eleitos, tendo em vista a desaprovação de contas do vice prefeito, pelo Tribunal de contas, quando foi prefeito em Guamaré-RN. O cargo foi assumido pelo candidato que foi segundo lugar na disputa eleitoral. Em outra eleição, o candidato eleito não chegou a tomar posse, pois a Justiça Eleitoral do Rio Grande do Norte indeferiu o registro da candidatura, tendo em vista que a Constituição da República, veta a permanência de um mesmo grupo familiar na chefia do Poder Executivo, por mais de dois mandatos consecutivos. Uma verdadeira lambança.

Lógico que não podemos generalizar. Tenho certeza que em muitos municípios brasileiros, temos prefeitos que primam pela legalidade e pelo zelo do cargo público.

A instituição da prefeitura de seu encarregado maior, o "prefeito", é algo relativamente novo na história do Brasil. Durante todo o período do Brasil Colônia, a instituição administrativa máxima, no nível municipal era a câmara municipal, que exercia um número muito maior de funções do que atualmente. Era a responsável, por exemplo, pela coleta de impostos e preservação do patrimônio público.

No Brasil Império, a administração pública foi centralizada através da Constituição de 1824. A duração da legislatura foi fixada em quatro anos e o vereador mais votado assumia a Presidência da Câmara. Em tal cargo, o Presidente da Câmara, continuou a ser no entanto, responsável por funções comparáveis as do atual prefeito, além de seus encargos como vereador e como presidente da Câmara dos Vereadores.

Com a Proclamação da República Brasileira em 1889, as câmaras municipais são dissolvidas e seus poderes, alterados. Os presidentes dos estados, são habilitados a nomear os membros do Conselho de Intendência. Tais conselhos de intendência são responsáveis, com exclusividade, pelo poder executivo municipal, separando este poder do legislativo, que continua a cargo das câmaras municipais, uma vez que estas são recompostas.

Com a Revolução de 1930 e o início da Era Vargas, cria-se a figura do prefeito e institui-se a “prefeitura”. O prefeito, a partir da Constituição de 1934, passa a ser escolhido pelo povo.

Após 1988, a descentralização e autonomia municipal consagradas no federalismo brasileiro, foram defendidas como forma de melhorar a gestão local, de promover mais eficiência no uso dos recursos e de ampliação do controle social. O município ampliou suas responsabilidades, sobretudo na implementação de políticas de bem-estar social, e adquiriu respaldo constitucional, para responder por todas as questões que envolvam o interesse local. As prefeituras começaram a decidir o que era melhor para quem residia no município, utilizando os recursos federais, estaduais e municipais, sem que o governo federal tivesse que conhecer, a fundo, a vida de milhares de pessoas que estão distantes de Brasília.

O processo de evolução dos Municípios Brasileiros no que concerne aos recursos financeiros destinados a atender suas necessidades básicas, no curso dos anos, sofreu consideráveis modificações. Durante um vasto período, especialmente na fase conhecida por República Velha, os nossos municípios não recebiam recursos financeiros, nem do governo Estadual, nem tão pouco do Federal.

Se por ventura, o governo federal ou estadual decidisse construir uma obra pública em determinado Município, fazia por sua inteira conta. Não enviava o dinheiro para o Prefeito Municipal fazer o empreendimento, pois não se realizavam convênios de qualquer natureza entre os administradores, coisa que só ocorreu a partir da Constituição Federal de 1946.

Essa situação de penúria dos Municípios só começou a melhorar a partir da vigência da Constituição antes mencionada, porque aquela Carta Magna no seu contexto trouxe dispositivos constitucionais que obrigava os governos da União e dos Estados a repassarem determinados recursos, advindos de recolhimentos de impostos, em favor dos Municípios.

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços (ICMS), só se concretizou a partir da Constituição Federal de 1988. Antes, existia o ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), de menor abrangência, criado em 1965 e cuja vigência só foi consolidada no ano de 1967.

Com relação à presença do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), teve origem ainda no regime militar, através da Lei Federal 5.172, de 25 de outubro de 1966. Com o Decreto-Lei de n° 1.881, de 27 de agosto de 1981, foi criada a Reserva do FPM e foram estabelecidos os coeficientes em favor dos Municípios, com base no número de habitantes de cada um, concorrendo para que houvesse um melhor disciplinamento na distribuição dos recursos.

Tomando por base essas considerações, há de se admitir que os Prefeitos brasileiros, durante bom tempo, administravam sem dispor de recursos financeiros dos governos estaduais e federais. Na realidade, ainda hoje, alguns municípios têm tanta dificuldade para se sustentar, porque nem deveriam existir, pois não geram receita suficiente para custear os serviços básicos da cidade.

Vale lembrar que seja no âmbito federal, estadual e municipal, cada um dos três poderes possui obrigações diferentes, porém considerando que a gestão municipal seja a base da pirâmide ou melhor dizendo, o primeiro degrau da organização de nosso país, a performance dos governos municipais, influenciam diretamente na vida dos brasileiros.

A péssima gestão municipal atrelada aos desvios de recursos públicos, condena a nação ao subdesenvolvimento econômico crônico.

No Brasil, de vez em quando, é dito que a política é geralmente considerada atividade desabonadora, para quem nela milita. Uma situação dessa natureza põe em risco a causa democrática, pois esta tem nos políticos uma de suas bases primordiais, por serem os representantes da coletividade na órbita do Estado.

Por enquanto, a única saída para que possamos ter bons administradores, é colocar-se através do voto, no lugar de Prefeito pessoas que implantem na administração pública métodos de trabalho impregnados de medidas saneadoras, longe da política paternalista e acima de tudo, voltados para o planejamento, a moralidade administrativa e o completo distanciamento dos chamados “picaretas” incompetentes, que tantos males e entraves já causaram ao Município e a nossa população.

O problema é encontrar candidatos que não tenham os olhos voltados para o próprio umbigo, que tenha competência gerencial para o cargo e que busquem realmente cumprir suas promessas eleitorais, em benefício da população. Enfim, a única solução é continuar procurando candidatos a gestores municipais com essas características. Será que temos? Possivelmente que sim, mas as ideologias políticas e as forças ocultas não deixam serem candidatos.

Parafraseando Jean Jacques Rousseau: o povo brasileiro acredita ser livre, mas estão completamente iludidos, é livre apenas durante as eleições dos membros do executivo e legislativo, pois, eleitos os seus membros, ele volta à escravidão, é um nada. Pelo uso que faz da liberdade, nos curtos momentos em que lhe é dado desfrutá-la, bem merece perdê-la. (Do Contrato Social, Liv. III, cap. 15 - Rousseau).

07/06/2022

Querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil!

Nas décadas de 70, 80 e 90 o automobilismo brasileiro ganhou destaque mundial com Emerson Fittipaldi, Nelson Pique e Ayrton Senna. Porém, foi o piloto Ayrton Senna, que no final dos anos 80 e início dos anos 90, com seu tricampeonato mundial, deixou registrado seu nome na história como um dos maiores representantes do esporte do Brasil, podemos até dizer, do mundo.

Senna colecionava pódios em sua carreira, tendo o total de 80 pódios, onde 41 destes foi consagrado com a vitória. Em suas vitórias, o piloto carregava com orgulho a bandeira nacional em mãos, mostrando o poder do automobilismo brasileiro. Infelizmente, sua vida e carreira foram interrompidas devido a um acidente de carro em 1° de maio de 1994, no GP de San Marino, na Itália.

Esse ato de carregar a bandeira nacional, exaltava em todos brasileiros o sentimento de patriotismo. Lembramos que patriotismo é o sentimento de orgulho, amor, devolução e devoção à pátria, aos seus símbolos (bandeira, hino, brasão, riquezas naturais, patrimônios material e imaterial, os heróis de sua história, dentre outros) e ao seu povo. É razão do amor dos que querem servir o seu país e ser solidários com os seus compatriotas.

Será que os brasileiros ainda sabem o que são símbolos nacionais? Pois bem, para quem não se lembra, conforme descritos, na Constituição Federal, os quatro símbolos oficiais que representam o Brasil e a identidade da nação no mundo, são: a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais (ou Brasão Nacional) e o Selo Nacional.

O Patriotismo, luta para que esses símbolos sejam preservados, valorizados e transmitidos, tudo isso, aliado à construção de uma sociedade presente e melhor.

O conceito de patriotismo e nacionalismo são coincidentes, ao ponto de confundirem-se os conceitos originais. Patriotismo, remete à herança cultural e aos símbolos de uma nação, enquanto nacionalismo remete à ideia de país e sua organização política. Ou seja, o nacionalismo envolve um certo grau de patriotismo, mas é algo ligado ao compromisso, com um projeto político.

Já o patriotismo autêntico, transcende interesses políticos e partidários imediatos, e envolve o amor autêntico por toda a bagagem cultural de uma nação.

O Patriotismo está acima do amor por um governo ou partido específico, e engloba o amor por todo o conjunto de valores, tradições e gestos, que um determinado povo comporta.

O nacionalismo pode ser combinado com diversos objetivos e ideologias políticas, tais como o conservadorismo (conservadorismo nacional e populismo de direita) ou o socialismo (nacionalismo de esquerda).

Na prática, o nacionalismo pode ser positivo ou negativo, dependendo da sua ideologia e dos seus resultados.

A ideia de Nacionalismo, tem precedentes no período medieval, no momento em que as monarquias absolutistas promoveram a centralização dos reinos.

É a partir da Revolução Francesa, que surge o Nacionalismo na configuração que hoje se tem. Ele motivou guerras, como as Napoleônicas, e processos de independência ou unificação como nos casos dos Estados Unidos, da Alemanha e da Inglaterra.

O nacionalismo que vemos hoje, nas democracias consolidadas é muito diferente daquele da Alemanha nazista e do Brasil dos anos 30. Afinal, o mundo está muito diferente. Não tão presente no culto aos símbolos, como o hino e a bandeira.

O nazismo, é o exemplo máximo de uma das mais emblemáticas características do nacionalismo: a anulação das diferenças. Neste caso, houve uso da força física para exterminar algumas parcelas da população (judeus, ciganos e homossexuais) e forjar uma nação “sem diferenças”.

O nacionalismo no Brasil, está diretamente relacionado ao período de governo de Getúlio Vargas, principalmente no período da ditadura do Estado Novo, quando era presidente no Brasil. O Estado Novo, foi de 1937 a 1945 e tinha como principais características o anticomunismo, o autoritarismo e o nacionalismo. Vargas incentivava o nacionalismo de diversas formas, desde a implementação de políticas populistas, a utilização de propaganda do seu governo, a extrema valorização do território brasileiro.

Durante o regime militar brasileiro, o nacionalismo também foi bastante incentivado, por meio de campanhas ufanistas para conquistar a simpatia da população. Assim, surgiram os slogans “Ninguém segura este país” e “Brasil, ame-o ou deixe-o”, além das músicas com refrão “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo; ninguém segura a juventude do Brasil”, “Este é um país que vai pra frente (…)”.

O hino da Copa de 1970 era cantado pelo país: “noventa milhões em ação, pra frente, Brasil do meu coração (…) Salve a seleção”. A ideia, era a de contagiar a população em torno de um mesmo objetivo: amar a sua nação. E deu certo, pois a vitória da Seleção Brasileira Masculina de Futebol, na primeira transmissão ao vivo de uma Copa do Mundo, levou grande parte do país às ruas para cantar versinhos patrióticos, o que foi uma grande vitória para a ditadura militar.

Muitos consideram que a maioria do povo brasileiro, não é nacionalista, ou só demonstra amor pela nação na altura de grandes competições esportivas, como a Copa do Mundo.

Historicamente, o povo brasileiro, nunca teve que se unir contra uma ameaça externa, como aconteceu em outros países. Mesmo quando o Brasil conquistou a independência, essa conquista foi alcançada para o benefício de um pequeno grupo, que lutava pelos seus interesses. Muitos acreditam, que por esse motivo o nacionalismo não foi fomentado no Brasil.

Voltando aos símbolos nacionais, podemos defini-los como “elementos gráficos ou musicais destinados a representar um Estado bem como uma nação que vive dentro dos seus limites” indicando a sua soberania.

De muito, os povos demonstraram uma tendência natural de se tornarem conhecidos, através de desenhos ou combinações de cores, detalhes que evoluíram até atingir a situação de bandeiras e escudos. Realmente, diferentes comunidades, em épocas remotas, elegeram desenhos que permitiam identifica-las.

Os símbolos nacionais são elementos que representam a nação e os fundamentos constitucionais: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Os nossos símbolos nacionais atuais, são definidos pela Lei 5700 de 1° de setembro de 1971.

Lembrando novamente, da atitude do nosso Ayrton Sena do Brasil, carregando a bandeira nacional em mãos, quero ressaltar que as Bandeira Nacionais, simbolizam a soberania de uma nação, representando sua história, seus valores, suas lutas e uma infinidade de outros elementos e sentimentos de um povo em relação ao seu país. Isto é, as Bandeiras Nacionais, emblemam o sentimento de pertencimento a uma nação, mas, para além disso, simbolizam o patriotismo: o sentimento de amor, orgulho e devoção à pátria. Portanto, é respeitável que recordemos um pouco da história da bandeira do Brasil, a fim de que entendamos sua origem e seu sentido originário, nem sempre mantidos nos discursos da atualidade política.

Por mais de um século, as cores que representavam nosso país eram o branco e o vermelho. Isso porque, até 1645, o Brasil utilizava os mesmos símbolos nacionais que nossa metrópole, Portugal, sendo comum encontrar nas bandeiras anteriores brasões, coroas e escudos, que representavam a família real portuguesa.

A bandeira Imperial do Brasil, criada e adotada após a Independência do Brasil, trazia os traços de nosso atual pavilhão nacional.

A atual Bandeira Nacional do Brasil, foi criada pelo filósofo e matemático Raimundo Teixeira Mendes e pelo filósofo Miguel Lemos, sendo inspirada na antiga Bandeira do Império que foi desenhada pelo pintor francês Jean Baptiste Debret sendo utilizada oficialmente pela primeira vez em 19 de novembro de 1889, apenas quatro dias após a Proclamação da República.

O que distingue a nossa bandeira é a original disposição do losango amarelo sobre o campo verde. Nenhum outro pavilhão nacional, no mundo, apresenta desenho igual ou parecido ou tem o verde e amarelo como cores principais ou únicas. Essa concepção, foi projetada pelo artista francês Jean Baptiste Depret, que se inspirou nas bandeiras militares da França, usadas no tempo da Grande Revolução e na época Napoleônica, delas reproduzindo o modelo ornamental em estilo império, constituído por um losango inscrito num retângulo.

Apesar de ser famosa a história de que a Bandeira do Brasil, representa nossas riquezas naturais e minerais - o amarelo seria o ouro, o verde, nossas florestas e o azul, nossos mares, na verdade a bandeira representa nosso atual sistema político, a República.

Prova disso, é que as estrelas da bandeira representam a divisão do país nos 26 Estados e mais o Distrito Federal.

Na verdade, a cor verde representa a Casa de Bragança, da família real portuguesa, e a cor amarela representa os Habsburgos, a família da imperatriz Leopoldina. O lema escrito na bandeira, "Ordem e Progresso", tem inspiração em uma frase de Augusto Comte, criador da filosofia positivista, que diz: "O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim".

A Lei nº 5.700, de 1971, dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos Nacionais. Sendo bem específico a Bandeira Nacional, no Art. 31 da referida Lei, considera manifestações de desrespeito à Bandeira Nacional, e portanto proibidas: apresentá-la em mau estado de conservação, mudar-lhe a forma, as cores, as proporções, o dístico ou acrescentar-lhe outras inscrições, usá-la como roupagem, reposteiro, pano de boca, guarnição de mesa, revestimento de tribuna, ou como cobertura de placas, retratos, painéis ou monumentos a inaugurar e reproduzi-la em rótulos ou invólucros de produtos expostos a venda. Todavia, apesar do artigo 35 da referida Lei, prevê, que “a violação de qualquer disposição desta Lei, é considerada contravenção, sujeito o infrator à pena de multa de uma a quatro vezes o maior valor de referência vigente no País, elevada ao dobro nos casos de reincidência”, com a revogação do Decreto-lei n. 898, de 1969 que definia como delito o ato de e “destruir ou ultrajar a bandeira, emblemas ou símbolos nacionais, quando expostos em lugar público”, com pena de detenção de 2 a 4 anos para quem o fizesse, queimar ou insultar a bandeira nacional passou a não ser mais crime. Em resumo, as Leis do Brasil não protegem totalmente a Bandeira Nacional.

Após a descrição de todas as normativas referentes a Bandeira Nacional, faço o seguinte questionamento: Por que os brasileiros que se consideram tão patriotas, muitos não valorizam seus símbolos nacionais, principalmente a Bandeira Nacional?  O que vemos atualmente no Brasil é um desrespeito total a este amado Símbolo Nacional. Um símbolo só tem legitimidade, enquanto sua forma e conteúdo são integralmente respeitados.

Na minha opinião, o Brasil hoje, enfrenta um perigoso processo de extinção do que é seu Patriotismo. Verifica-se hoje uma tendência crescente de apropriação de símbolos nacionais por movimentos político-partidárias no Brasil. Pior ainda em manifestações ocorridas que atearam fogo na Bandeira Nacional e ultrajam os Símbolos Nacionais.

Triste lembrar, torcedores jogando bandeirinhas em direção ao campo, nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002, no jogo contra a Colômbia, bem como, na final da Copa de 1998, em que o Brasil perdeu a final contra a França em placar de 3×0. 

O Brasil, tem passado por mudanças dentro e fora dos esportes nos últimos anos, mas a bandeira nacional, tem que ser utilizada como símbolo de esperança para torcedores e esportistas, em todas as modalidades.

Todo cuidado é pouco na hora de se manifestar nas ruas. E aqui não há opção entre cumprir ou não cumprir as determinações legais. O que menos importa é que o indivíduo pensa, seja doutrinador ou não, patriota ou apátrida, de qualquer posição do campo de pensamento, seja qual for a ideologia seguida, pois a lei está em vigor.

É importante que a Bandeira Nacional, do Brasil seja um símbolo de união de todo o povo brasileiro, longe de se restringir apenas a algumas convicções políticas. Ela é o símbolo do patriotismo, que todo brasileiro deve carregar consigo, congregando o nosso povo. O amor e orgulho que temos de nossa Pátria e que nos faz arrepiar quando se ouve a execução do Hino Nacional, ou vislumbramos com o tremular altaneiro da Bandeira Nacional.

É preciso refletir acerca do tema, a fim de que o sentido originário deste símbolo nacional, seja lembrado e preservado, independentemente de ideologias político-partidárias.

Desta forma, sugerimos o respeito, e sobretudo, ordem e progresso na Pátria Amada, para que tenhamos lindos campos e mais flores, que reconheçamos, paz no futuro e glória no passado, nesse gigante Torrão pela própria natureza, forte, belo, encantador, fenomenal, impávido colosso, Terra adorada Brasil, e que a luz do cruzeiro possa resplandecer sempre, riscando os céus dos mais belos horizontes, pois já raiou a liberdade no horizonte do Brasil, abrindo as asas sobre todos, das lutas na tempestade.

Desta feita, recebe o afeto que se encerra em nosso peito varonil, querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil!

17/05/2022

Um monstro de muitas faces

Embora não seja um assunto novo, o racismo passou a ser, nos últimos tempo, um tema principal dos debates públicos, dentro e fora das redes sociais. Vejamos, por exemplo, a palavra “macaco”, como ela é usada nos campos de futebol para ferir (jogadores negros).

Lembramos, também, quando da chegada de médicos cubanos (2015), em sua maioria negros, que vieram para o país através do Programa Mais Médicos. Nos aeroportos, eles foram recebidos com vaias e bananas por médicos brasileiros, majoritariamente brancos.

O racismo, foi por muito tempo naturalizado na sociedade e, muitas vezes, o debate sobre esse tema, causa constrangimento ou irritação, porque provoca nas pessoas a necessidade de refletir sobre suas ações.

A ideia de que “hoje tudo é racismo” ou “não dá mais pra brincar com nada” fazem com que até mesmo propor esse debate seja difícil. Tem um processo de conscientização envolvido. Muitas pessoas não veem maldade nessas “brincadeiras” e acham que a intenção de quem fez a brincadeira, vale mais do que o sentimento causado pela brincadeira, no outro, na vítima.

No Brasil, durante os períodos colonial e imperial, foi a escravidão que se encarregou de posicionar os negros e os brancos em mundos diferentes. Com a assinatura da Lei Áurea, em 1888, os brancos criaram mecanismos menos explícitos do que as senzalas e os grilhões, para manter os negros num lugar de subordinação.  Da escravidão ao formato atual, o racismo foi se metamorfoseando no correr no tempo, hábil em adaptar-se às mudanças da sociedade.

No começo do século 20, no meio acadêmico, havia a ideia de que era o elemento negro que produzia a desordem e as crises que o Brasil vivia na Primeira República. Isso, legitimou o uso da violência contra essa população. Ao mesmo tempo, acreditava-se que a miscigenação seria benéfica para o país porque, nessa mistura, o sangue branco forte prevaleceria sobre o sangue negro fraco e haveria o branqueamento da população. Aquele grupo desestabilizador acabaria sendo eliminado. Sendo mais direto: eugenia. Na década de 1930, o discurso que passou a vigorar foi a da democracia racial. O Brasil seria um país plural, com o branco, o negro e o indígena convivendo em harmonia, todos importantes, desde que cada raça ficasse no seu lugar. Já não se pensava mais em eliminar o negro, mas sim em absorvê-lo e mantê-lo numa posição subalterna.

O historiador, sociólogo e escritor pernambucano, Gilberto Freyre (1900-1987), oriundo de família rica e tradicional, escreveu a primeira grande obra brasileira que trata das relações entre senhores e escravos no período colonial e imperial no Brasil, o livro Casa Grande e Senzala, publicado em 1936. A obra-prima de Freyre, dedica páginas e mais páginas ao relato das atrocidades que se fizeram contra os escravos. Está tudo ali, todos os sofrimentos impostos aos escravos: o trabalho desumano nas lavouras, as meninas menores de 14 anos, virgens, violentadas na crença de que o estupro curaria a sífilis, as mucamas que tinham os olhos furados e os peitos dilacerados apenas por despertar os ciúmes das senhoras de engenho.

O papel de Freyre, porém foi outro, muito mais marcante. No debate com o pensamento majoritário de então, o que Freyre fez foi resgatar a importância do negro para a construção de nossa identidade nacional, para a construção da nossa cultura, do nosso jeito de pensar, de agir e de falar. Ele enalteceu a figura do negro dando e ela sua real dimensão, sua real importância. A nossa miscigenação, concluímos depois de ler Freyre, não é a nossa chaga, mas a nossa principal virtude.

Segundo os estudiosos, o que vigora no Brasil é o racismo estrutural. O racismo é estrutural porque se apresenta como um alicerce em cima do qual se constroem as relações políticas, econômicas e sociais no país. As pessoas e as instituições são moldadas, por vezes de forma inconsciente, para encarar como normal que brancos e negros ocupem lugares diferentes. O racismo estrutural, impede que as pessoas enxerguem suas atitudes como racistas e se responsabilizem pelas consequências delas.

Muitos de nós fomos ensinados a acreditar na existência de diferenças biológicas e genéticas entre as raças. Essa biologia responde por diferenças visuais tais como a cor da pele, textura capilar, formato dos olhos e características que achamos poder ver, como sexualidade, habilidades atléticas ou competências matemáticas. A ideia de raça como um construto biológico facilita acreditar que a maioria das divisões que vemos na sociedade é natural. Todavia, a raça, assim como o gênero, é socialmente construída. As diferenças que detectamos com nossos olhos, textura capilar e cor dos olhos, são superficiais e emergiram como adaptações geográficas. Por baixo da pele, não existe raça biológica de verdade. As características externas que usamos para definir raça são indicadores inconfiáveis da variação genética entre duas pessoas quaisquer.

Nos últimos trinta anos, este é o consenso entre os geneticistas: os homens são todos iguais ou, como diz o geneticista Sergio Penas, os homens são igualmente diferentes.

Consideremos dos grupos. O primeiro com aqueles que o senso comum diz ser de “raça” negra: homem de cor preta, nariz achatado e cabelo crespo. O segundo com aqueles que o mesmo senso comum diz ser da “raça” branca: homens de cor branca, nariz afinado e cabelos lisos.

As diferenças entre indivíduos de um mesmo grupo serão sempre maiores do que as diferenças entre dois grupos, considerados em seu conjunto. Tanto no grupo de negros ou brancos haverá indivíduos altos, baixos, inteligentes, menos inteligentes, destros, canhotos, com propensão a doenças cardíacas, com proteção genética contra o câncer, com propensão genética ao câncer, etc.

A única coisa que vai variar entre os dois grupos é a cor da pele, o formato do nariz e a textura do cabelo, e, mesmo assim, apenas porque os dois grupos já foram selecionados a partir dessas diferenças.

O genoma humano é composto de 25 mil genes. As diferenças mais aparente (cor da pele, textura do cabelo, formato do nariz) são determinadas por um conjunto de genes insignificantemente pequeno se comparado a todos os genes humanos. Para ser exato, as diferenças entre o branco nórdico e um negro africano compreende apenas a fração de 0,005 do genoma humano.

Por essa razão, a imensa maioria dos geneticistas é peremptória: no que diz respeito aos homens, a genética não autoriza falar em raça. Segundo o geneticista Craig Venter, o primeiro a descrever a sequência do genoma humano, “raça é um conceito social, não um conceito científico”.

Independentemente de definição, o homem brasileiro é uma amálgama de várias correntes raciais, resultante de diferentes elementos étnicos: o aborígine, o branco colonizador e o negro escravo. Do ponto de vista psicológico, essa pluralidade racial também reflete os temperamentos, de tal sorte, que se poderia formular um diagnóstico genérico da personalidade social brasileira em suas grandes tônicas psico-sociais. Assim, encontramos no homem brasileiro diversas qualidades. Por exemplo, herdamos do português a instabilidade emocional, o sentimento de religiosidade e o individualismo decorrente da figura do patriarca avulta, tomando conta da terra e das gentes de cada grupo isolado, o sentimentalismo, traço fundamental do brasileiro, fruto do lirismo do português, do espírito contemplativo. Herdamos o sentimento de amor à liberdade e a natureza do índio e da nostalgia, a abstração e o senso estético do negro.

Outros elementos étnicos oriundos das imigrações trouxeram subsídios a nossa civilização. Assim, do germânico herdamos um certo conteúdo de idealismo e teorização, do italiano, a exuberância do gesto e palavras, e certo culto às artes, do árabe a tendência à especulação, do francês, a ilustração, e a cultura ornamental, e do britânico, certo senso crítico e humorismo irreverentes. Assim, temos o elenco das principais qualidades do caráter nacional. 

Importante ressaltar sobre os dados divulgados sobre a população no Brasil no último censo demográfico (2010). Segundo o IBGE, 7,5% são negros, 47,5% brancos e 43,4% são pardos.

Como o pardo tem de ser, necessariamente, o resultado do casamento entre brancos e negros, o número de brasileiros com algum negro na família é necessariamente alto. Isso seria a prova que somos uma nação majoritariamente livre de ódio racial (repito que, sim, sei que o racismo existe aqui e onde mais houver seres humanos reunidos, mas, certamente, ele não é um traço marcante de nossa identidade nacional).

A cor da pele não determina sequer a ancestralidade, Nada garante que um indivíduo negro tenha a maior parte de seus ancestrais vindos da África. Isso é especialmente verdadeiro no Brasil, devido ao alto grau de miscigenação.

Com anos de naturalização de estigmas, de inferiorização e ridicularização do povo negro, o uso de palavras, frases e brincadeiras racistas que deprimem, machucam e mutilam física ou mentalmente, muitas vezes, repetimos de geração para geração. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar alguns exemplos: “ele é um negro de alma branca”, “não sou racista, tenho até amigos negros”, “negro correndo é ladrão”, “as crianças não se assustam com esse seu cabelo?”, “a coisa tá preta”, “negro tem cheiro forte”, “negros se destacam apenas em atividades recreativas ou no esporte”, “preto quando não suja na entrada, suja na saída”, “ele nem tem cara de médico, parece mais com o faxineiro”, “ainda bem que nasceu clarinho!”, “negro é complexado”, “ela ainda anda com aquela negrada?”,

Algumas expressões que também são racistas e tão comuns no nosso vocabulário, tais como: “Pensa que eu sou tuas negas”. Ela surgiu na época da escravidão, quando, as mulheres negras eram consideradas “propriedades” dos seus senhores, que se achavam no direito de fazer tudo com elas – inclusive estupros, assédios e agressões. A expressão "dar com pau", usada hoje em dia para expressar "abundância" ou "grande quantidade", também remete à violência da escravidão. Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um 'pau de comer' foi criado para jogar angú, sopa e outros alimentos pela boca.

“Cabelo ruim”, “cabelo bombril”, “cabelo duro”.Termos racistas usados como bullying que depreciam a imagem e o cabelo de pessoas negras. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo. Melhor falar: “cabelo crespo”, “cacheado” ou “afro”.

O pior é que em nosso meio social, sempre escutamos alguém com essas frases: “deixa de vitimismo, foi só uma brincadeira”, “nossa, o mundo tá chato, agora tudo é racismo, é muito mimimi”, “os negros são os mais racistas”, etc.

Como é possível mudar essa situação? Pensando de forma mais pragmática, uma das maneiras mais simples de se lidar com o racismo em seu dia a dia é exercer mais empatia pelo próximo, independentemente da cor da pele ou gênero. Exercermos sinceramente a empatia, que é a capacidade psicológica de sentir o que sentiria outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. É tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar o que sente outro indivíduo. Por exemplo, ao ver ou saber que uma pessoa sofreu racismo, você pode ter empatia por ela, tentando entender o que ela sentiu ao sofrer com o episódio.

O racismo faz parte das raízes da nossa sociedade e cultura e, por isso, consiste em um monstro de muitas faces. Está profundamente entranhado em nosso tecido social. Ele não se limita a um só ato ou pessoa. Barrar as forças do racismo é trabalho contínuo, de uma vida toda porque as forças que nos condicionam a estrutura racista estão sempre em ação.

O racismo não é causado por uma patologia, uma anomalia, ou a falta de caráter de alguém: é, na verdade, um sistema complexo e histórico, fazendo com que o racismo ocorra a todo momento, e que as pessoas sejam racistas sem perceberem

O racismo está em nosso dia a dia, por isso, para combatê-lo devemos estar vigilantes de nossas ações e de ações coletivas que perpetuem injustiças. Mais do que não ser racista, é nosso dever social combater o racismo. E isso não se aplica apenas aos discursos em redes sociais, ou posicionamentos pessoais dentro de correntes em prol da causa. Esta é uma ação que precisa ser exercitada no nosso dia a dia, com as pessoas próximas a nós.

Se algum amigo ou colega seu fizer comentários racistas: situe eles. Se alguém compartilhar uma piada racista perto de você: lembre-se que racismo não tem graça e que é crime. Se seus familiares tiverem noções equivocadas sobre o racismo estrutural, construa conhecimento junto a eles e procure explicar mais sobre a causa.

Estudiosos, da desigualdade racial, afirmam que, para que a luta contra a discriminação da população negra produza resultados consistentes, há um passo decisivo que nós, brasileiros, ainda não demos: assumir que somos, sim, racistas — seja como indivíduos, seja como sociedade. Quando se admite a existência do racismo, cria-se automaticamente a obrigação moral de agir contra ele: A negação é essencial para a continuidade do racismo.

Os brasileiros entendem que é lá fora que existe ódio racial, não aqui. Acreditam que no Brasil vivemos numa democracia racial, miscigenados, felizes e sem conflito. Essa é a perversidade do nosso racismo. Ele foi construído de uma forma tão habilidosa que os brasileiros chegam ao ponto de não quererem ou não conseguirem enxergar a realidade gritante que está bem diante dos seus olhos.

Não é possível haver democracia numa sociedade racista. A sociedade racista é sistemicamente autoritária, porque precisa se utilizar da força para rejeitar as reivindicações justas da maioria e atender à minoria. Manter a desigualdade, a pobreza e a baixa representatividade política exige violência sistêmica, que depois acabará sendo aproveitada também contra os brancos. Além disso, se a maioria da sociedade é pobre, violentada e humilhada o tempo todo, essa sociedade não pode ser saudável. É um lugar péssimo para qualquer pessoa viver, inclusive os brancos. O engajamento na luta antirracista significa compromisso com a democracia, o bom desenvolvimento econômico e a humanidade. 

Eu acredito que majoritariamente, ainda somos uma nação que acredita nas virtudes da nossa miscigenação, da convivência harmoniosa entre todas as cores e nas vantagens, imensas vantagens, de sermos um pais em que os racistas, quando existem, envergonham-se do próprio racismo. “Numa sociedade racista, não basta não ser racista é preciso ser antirracista.” Ângela Davis.

06/05/2022

Mãe, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba

O mês de maio é recheado de celebrações importantes que chamam as pessoas a refletir sobre diversos temas. As datas comemorativas revestem-se de importância por representarem o esforço de se manter vivo na memória coletiva algum acontecimento ou homenagem com certa relevância social. Nesse nosso artigo vamos lembrar de quatro datas, ou melhor, acontecimentos, com destaque para um deles.

Primeiramente, o dia 1°de maio, que é marcado como o Dia Mundial do Trabalho ou o Dia Nacional e Internacional do Trabalhador. Uma greve da classe operária nos Estados Unidos em 1886, deu início ao que hoje é comemorado o Dia do Trabalho em muitos países.

Segundo acontecimento, a data da abolição da escravatura, que foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil, após a Proclamação da Independência, em 1822. No dia 13 de maio de 1888, após seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país. Sobre este dia, Machado de Assis escreveu anos depois na coluna “A Semana”, no jornal carioca Gazeta de Notícias: “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”.

Neste mesmo dia da assinatura da Lei Áurea, os católicos recordam a primeira das aparições de Nossa Senhora aos três Pastorinhos - Jacinta, Francisco e Lúcia - que ocorreu na cidade de Fátima, em Portugal, no ano de 1917. Sendo, portanto, comemorado o dia de Nossa Senhora de Fátima.

Por último, o dia das mães que é uma data comemorativa celebrada, no Brasil, no segundo domingo do mês de maio, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento, no sentido da bondade e da solidariedade humana.

Considera-se que o Dia das Mães surgiu nos Estados Unidos, bem no começo do século XX. Apesar disso, os historiadores enxergam algumas semelhanças entre essa data comemorativa e algumas celebrações realizadas na Antiguidade clássica, isto é, na Grécia e Roma antigas. Não existe uma associação direta, entre a celebração moderna e a realizada na Antiguidade, mas os historiadores pontuam-nas em diálogo para demonstrar que festivais em homenagem à figura materna não são uma exclusividade do mundo contemporâneo. Na Grécia, por exemplo, celebrava-se Reia, a mãe dos deuses. Podemos observar então que, desde tempos muito remotos, as mães são enxergadas como figuras importantes dentro da família e da sociedade.

A norte-americana Anna Maria Jarvis (1864-1948) é considerada a idealizadora do modelo contemporâneo do Dia das Mães. Em 1905, ela perdeu a mãe, que também se chamava Ann Jarvis, e entrou em depressão.

Preocupadas com ela, suas amigas resolveram dar uma festa, para perpetuar a memória da mãe de Anna e, ao mesmo tempo, tentar animá-la. Anna quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, independentes de estarem vivas ou mortas, e em pouco tempo a comemoração se propagou por todo país. Em 1914, a data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson, e passou a ser comemorada no dia 9 de maio. Aos poucos, a homenagem foi se espalhando para outros países.

Sua mãe era reconhecida como uma "grande mãezona" na comunidade onde vivia, no Estado americano da Virgínia Ocidental.  Conhecida por realizar trabalho social, com outras mães, sobretudo no período da Guerra Civil Americana. Participante da Igreja Metodista, dedicou sua vida ao ativismo social.

A popularização dessa data nos Estados Unidos fez com que ela fosse exportada para o Brasil. Os historiadores falam que a primeira celebração do tipo aconteceu aqui em 12 de maio de 1918, quando uma organização cristã realizou essa comemoração em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. O Dia das Mães só foi oficializado no Brasil na década de 1930, quando o presidente Getúlio Vargas emitiu o Decreto nº 21.366, em 5 de maio de 1932. Por meio desse documento, determinou-se o segundo domingo de maio, como momento para comemorar os sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento no sentido da bondade e da solidariedade humana.

Interessante, que a data só se consolidou anos depois, durante o regime militar (1964 a 1985).

Já pensaram o que seria o mundo sem as mães? Um caos total. As mães são essenciais para a sociedade, possuem uma tarefa árdua de ensinar, cuidar e amar. Elas possuem forte influência sobre seus filhos e seu amor é incomparável.

Ser mãe, é gerenciar diariamente crises, ser enfermeira, professora, psicóloga, chefe de cozinha, economista e uma série de outras profissões

Muitos estudiosos afirmam que durante a primeira infância, isto é, até seis anos, o caráter da criança já está moldado em 75%. Por isso, seu modo de amar, de agir, de repreender e falar, têm grande interferência em seus filhos e uma mãe sábia, cria filhos sábios e que são motivo de orgulho para ela e não de vergonha. Como está escrito em Provérbios 22:6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”.

Ser mãe, é sonhar com o filho antes mesmo dele existir no ventre. Ser mãe, é se desdobrar em cuidados e atenção aos filhos. Ser mãe, é ver o perigo antes mesmo dele existir. Ser mãe, é dormir tarde e acordar cedo para conciliar todas as suas outras atividades. Ser mãe, é amar incondicionalmente. Ser mãe, é amar sem esperar nada em troca.

Ser mãe, é ter seu ventre abençoado por Deus e a incumbência de educar, ensinar, amar, cuidar, zelar e se doar. Educar não apenas oferecendo uma boa escola e atividades extracurriculares. Educar, vai muito além disso, nos leva a refletir no espiritual também, ensinar o Caminho da Verdade. Essa é a responsabilidade das mães, ensinar que os filhos não estarão sozinhos, após a nossa partida, eles sempre terão a companhia de Deus.

Enfim: “Ser mãe é dom de Deus!”. 

Nesse momento não tenho como não falar em Maria, mãe de Jesus. Mulher escolhida soberanamente por Deus pela qual nosso Senhor e Salvador veio ao mundo. Ela também é conhecida como Maria de Nazaré. Pouco se sabe sobre quem foi Maria, e sobre seus pais, especialmente com respeito a detalhes biográficos. Mas a história de Maria, conforme narrada nos Evangelhos, já é suficiente para entendermos a importância dessa mulher.

Ela foi uma mulher bem-aventurada e digna de ser imitada, pelo seu exemplo de humildade, fidelidade e abnegação diante dos planos de Deus. Infelizmente algumas pessoas, que criticam a teologia católica, menosprezam e subestimam completamente a mulher a quem Deus escolheu soberanamente para receber a incalculável honra de dar à luz a Jesus Cristo.

Depois desse passeio na história, sobre a criação do dia das mães e a importância dessa homenagem, quero exaltar três mulheres em minha vida.

Primeiramente minha mãe Ruth que me colocou no mundo pela graças de Deus. Me ensinou o caminho do bem, da gratidão e da justiça. O seu coração é tão grande e generoso quanto a imensidão do universo. Tem uma expressão popular que ela sempre gosta de me dizer: “se a vida te der um limão, faça uma limonada”. Esse frase carrega um sentido muito forte, que podemos utilizar como uma filosofia para superar as adversidades em nossa vida. Enfim, sempre tem uma palavra que acalma e orienta.

A segunda mulher, minha querida Maria José, minha companheira. Uma mãe guerreira sempre disposta a lutar pela felicidade de seus filhos e agora seu neto. Uma mãe fenomenal. Exemplo de força e dedicação.

A terceira mulher, minha filha Nanda. Uma mãe amorosa, carinhosa, atenta. Posso dizer, uma mãe recente mas que desde cedo carrega no coração e traduz em ações o que é ser mãe.

Concluindo, quero celebrar o dia das mães, agradecendo a todas as mães pela dedicação, amor e carinho que dão aos seus filhos diariamente, lembrando de um pequeno trecho da música “Mãe, um pedacinho do céu, composta pela dupla de compositores da Jovem Guarda Ed Wilson e Carlos Colla, gravada originalmente pelo pernambucano Leonardo Sullivan:

“Para mim sou grande.  Mas pra ela pequenino.  Sou adulto mas pra ela sou menino

Quando olha pra mim seus olhos brilham.  Um amor feito de sonho. De alegria e de esperança.

Se estou junto dela sou criança.  O mundo é muito mais bonito.  Sem pecado e sem perigo.

E ninguém no mundo vai gostar de mim.  Como ela gosta.

Se eu estou errado ou certo não importa. Na alegria ou na tristeza ela está sempre comigo.

Na hora do prazer me lembro dela.  Mas na hora da tristeza e da saudade é meu abrigo.

Por mim ela não mede sacrifícios.  Pode parecer difícil que alguém ame desse jeito.

Acontece que ela é a minha mãe.  E mãe é sempre assim.

Mãe, palavra que Deus inventou.  Um anjo que à Terra chegou.  Voando nas asas do amor.

Mãe, palavra mais doce que o mel.  Talvez um pedacinho do céu. Que Deus transformou em mulher”.

01/05/2022

Se o penhor dessa igualdade, conseguimos conquistar com braço forte

Pouco tempo depois, que iniciei a publicação dos meus artigos, recebi uma ligação do meu ex-colega de empresa e amigo, o pernambucano Renato Matos. No meio da conversa, ele me sugeriu escrever sobre os invisíveis moradores de rua. Considerando que esse assunto, está em consonância com os artigos que tenho escrito, levantei bandeira acerca do tal assunto.

Bem, vamos refletir um pouco sobre esta triste situação, hoje, quando a sensibilidade é mais aguçada e se fala tanto na fraternidade cristã.

Historicamente, sabe-se da existência de moradores de rua desde o período clássico no Mundo Grego e Império Romano, passando pela idade média e se perpetuando até os dias atuais. Há notícias, inclusive, de uma certa “profissionalização” da situação de rua. Já, na Era Industrial, sabe-se que teria havido repressão generalizada, à difusão de atividades ligadas à vagabundagem e à mendicância.

A desigualdade social, faz parte da construção das sociedades. No Brasil, isso é evidenciado desde o período colonial brasileiro, que foi marcado por intensas desigualdades sociais e raciais, onde um negro africano era considerado inferior e tinha valor somente para ser escravizado. Acentuando-se com a abolição da escravatura em 1888, pela Lei Áurea, na qual sem aparo social nenhum, os escravos (à própria sorte) foram deixados à margem da sociedade, não conseguindo muitas das vezes, trabalhos assalariados, reconhecimento como cidadãos e sendo privados de ir aos lugares. As ruas se tornaram a solução para os seus problemas. E esse contraste, de modo de vida, é visto até hoje que, cerca de 67% dos moradores de rua são negros ou pardos.

Para agravar, entre os séculos XIX e XX, o Brasil viveu o auge de seu período de industrialização. Houve, nessa época, acentuado êxodo rural e grande quantidade da população migrou para as cidades, em busca de melhores oportunidades. No entanto, esse processo não foi organizado e não contou com nenhum planejamento de distribuição populacional. Consequentemente, o processo de urbanização, do que hoje são os grandes centros urbanos, gerou um contraste no tecido social, haja vista que os mais ricos tiveram oportunidade de habitação e bem-estar social, enquanto os mais pobres foram submetidos à marginalização. Como resultado, surgiram favelas e muitos indivíduos em situação de rua.

Reflexo do histórico de exclusão social existente no país, que a cada dia afeta um maior número de pessoas, que não se encontram enquadradas no modelo econômico atual.

Reforçamos ainda, que em razão da precária situação econômica de uma considerável parcela da população brasileira, alguns comportamentos, tidos como criminosos ou contravencionais devem ser excluídos do ordenamento jurídico em razão do seu conteúdo retrógrado e injusto. As contravenções penais de vadiagem e mendicância são dois desses comportamentos. Esses dois tipos penais não são recentes, tendo em vista que eram previstos no Código Criminal do Império de 1830.

O artigo 295 do Código Criminal do Império, descrevia o crime de vadiagem como aquele cometido nas hipóteses em que "não tomar qualquer pessoa uma ocupação honesta e útil de que possa subsistir, depois de advertida pelo juiz de paz, não tendo renda suficiente". Enquanto o artigo 296 previa punição para aqueles que andassem mendigando em determinados locais.

Passados bons anos, foi sancionada a Lei 3.688 de 1941- Lei das Contravenções penais, que ficou conhecida como lei contra vadiagem no Brasil.  No seu artigo 59, a lei classifica como vadiagem “entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita". A pena pode variar entre 15 dias e três meses. Apesar da Lei da vadiagem ser raramente aplicada, ainda persiste no país. Essa sanção proibia a livre circulação da população de rua, o que evidencia a presença da desigualdade e da exclusão social desde os primórdios do capitalismo.

Interessante, que de acordo com a constituição no Art.5º "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Nessa perspectiva, é fato que a discriminação sofrida por moradores de rua, ainda é um fato excludente dos interesses sociopolíticos.

No livro Homens Invisíveis, o psicólogo Fernando Braga comprova a existência de uma invisibilidade social, a qual atinge, principalmente, pessoas em situação de rua. Nesse sentido, constata-se uma diferença de tratamento entre classes socioeconômicas distintas.

Os moradores de rua são considerados invisíveis, por grande parte da população, as pessoas passam por eles todos os dias e não conseguem enxergar a sua existência. Parece que estas pessoas já fazem parte do cenário urbano. Muitos evitam qualquer contato e passam de largo evitando até olhar à distância, acreditam se tratar de alguém supostamente perigoso, demente, um indigente que pode nos atacar, nos ferir ou mesmo nos matar. Esta, em geral, é a reação da sociedade diante de um ser humano que por algum motivo se encontra na rua abandonado e, na maioria das vezes, sem nenhuma esperança. Indivíduos que perdem a condição de cidadãos à medida que se dissipam as simbologias que os retratam como tal em adjetivos pejorativos – mendigo, vagabundo, etc.

É importante ressaltar, que essa invisibilidade social, acaba tornando os moradores de rua pessoas sem oportunidades, no que tange ao mercado de trabalho. Tendo como consequência o aumento das mazelas sociais.

Além de não possuírem as condições básicas de sobrevivência (comida, água, local para dormir, etc), também estão suscetíveis à violência, maus tratos e, principalmente, ao desprezo e abandono.

O aumento exponencial no número de moradores de rua, é um retrato da desigualdade em nosso país. O número de pessoas em situação de rua no Brasil cresceu 140% entre 2012 e março de 2020, chegando a quase 222 mil pessoas. Maior parte da população é masculina.

A população em situação de rua se caracteriza por ser um grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelidas a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por caráter temporário ou de forma permanente.

Os motivos que levam uma pessoa a morar na rua são vários, como o desemprego, o abandono familiar ou até falta da família, a situação econômica, o desajuste social, violência, perda da autoestima, problemas psicológicos e, muitas vezes, o uso abusivo de drogas, como o álcool e o crack.

A população em situação de rua é subdividida em três grupos, nos quais ocorre a distinção conforme a permanência na rua: As pessoas que ficam na rua – configuram uma situação circunstancial que reflete a precariedade da vida, pelo desemprego ou por estarem chegando na cidade em busca de emprego, de tratamento de saúde ou de parentes. Nesses casos, em razão do medo da violência e da própria condição vulnerável em que se encontram, costumam passar a noite em rodoviárias, albergues, ou locais públicos de movimento. As pessoas que estão na rua - são aquelas que já não consideram a rua tão ameaçadora e, em razão disso, passam a estabelecer relações com as pessoas que vivem na ou da rua, assumindo como estratégia de sobrevivência a realização de pequenas tarefas, com algum rendimento. É o caso dos guardadores de carro, descarregadores de carga, catadores de papéis ou latinhas. As pessoas que são da rua e já utilizam esses lugares como moradia há um bom tempo e de certo modo, se acomodaram com tal situação, em consequência do uso de drogas e da má alimentação, degradam sua saúde. O álcool e as drogas são substâncias presentes nesses grupos, pois servem como alternativa para minimizar a fome e o frio.

As pessoas que vivem nas ruas viram-se como podem. Dormem em “mocôs” (imóveis abandonados), próximas a órgãos públicos, em rodoviárias ou estações de trem, montam barracas em praças ou áreas verdes, abrigam-se embaixo de pontes. Dormem geralmente em grupos, em razão dos riscos que enfrentam pela violência de que são alvos, mas também há as que se mantêm sozinhas.

É possível, por intermédio da linguagem simples e coloquial do poema, "Tinha uma pedra no meio do caminho" de Carlos Drummond de Andrade fazer uma analogia a respeito da população em situação de rua no Brasil. Dentro do contexto do tema, a exclusão sofrida pelos residentes de rua, torna-se uma pedra no meio do caminho, para a melhoria das condições de vida, desta parcela da população brasileira. A problemática atua e repercute no cotidiano dos brasileiros como um verdadeiro obstáculo social a ser superado. Contudo, percalços como a inércia governamental e a falta de acesso à educação dificultam o sobrepujar dessa adversidade.

Da mesma forma, o poema de Manuel Bandeira “O Bicho” na passagem “não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem." Torna-se possível imaginar a situação dos moradores de rua no Brasil, que são animalizados, por falta de adjetivos, que caracterizem tamanha falta de dignidade em suas condições de vida. Um bicho misterioso e tenebroso, comendo comida do lixo, depois percebe que o ser, na realidade, era um Ser Humano. Paralelo à realidade, muitos moradores de rua, como o personagem do poema de Bandeira, são vistos socialmente como seres estranhos, ou às vezes nem são vistos, se tornam parte do cenário urbano, isto é, deixam de ser enxergados como seres humanos, devido ao estado em que se encontram. Portanto, os moradores de rua passam por um processo de desumanização, devido à forma preconceituosa pela qual são vistos pela óptica social.

O importante ao se analisar essa realidade encontrada no Brasil, é lembrar que essas pessoas fazem parte de nossa sociedade, que todos possuem os mesmos direitos perante as leis. No Art.1º da Constituição Brasileira é citado os fundamentos do Estado Democrático de Direito e entre eles está presente aspectos como a cidadania e a dignidade da pessoa humana. O Artigo 3º afirma que erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais são os objetivos da República Federativa do Brasil. O artigo 6º garante a todos os indivíduos, o direito à moradia, assistência aos desamparados e ao bem-estar social. No entanto, trazendo para o contexto da população de rua no Brasil, mostra-se que esses direitos, não estão corretamente sendo praticados.

De acordo com o jornalista Gilberto Dimenstein, a terminologia "Cidadão de papel" designa os direitos previsto na legislação e servem apenas para criar um estado de bem-estar social, todavia o Estado não faz quase nada para alterar o cenário na realidade.

Em 2014, com a Copa do Mundo realizada no Brasil, o Governo estipulou um plano para remover a população de rua, nas principais cidades, onde os jogos seriam realizados. Apesar da aparente preocupação, o projeto não logrou êxito e reincidiu a mesma situação decadente. Na realidade, o plano não continha medidas para buscar resolver o problema mas "esconder os desfavorecidos."

Enfim, não basta o estado criar programas sociais, é preciso acompanhar, criar métodos quantitativo e qualitativo, a fim de consertar seus erros e propor melhorias para atingir à eficácia dos programas. É necessário a criação de políticas públicas que garantam a reinserção destas pessoas como cidadãos.

Sabemos que a questão é muito complexa, mas é preciso pensar em caminhos preventivos, em soluções que envolvam direito à moradia e geração de renda. Cuidar das pessoas, antes delas estarem em condição de rua, é muito mais eficiente e barato do que cuidar delas depois desta situação consolidada, quando o resgate social fica mais difícil a cada dia que passam na rua.

O pior, é que o desinteresse do Estado, influencia diretamente no comportamento da sociedade, haja vista que os moradores de rua são tratados, ora com compaixão, ora com repressão, preconceito, indiferença e violência.

Mas, não podemos deixar de exaltar e agradecer, as diversas Organizações Não Governamentais, às (ONGs), às Instituições Religiosas, Maçonaria, Lions Clube, Rotary Club e Sociedades Espíritas, nos serviços de amparo à essas pessoas, atuando na distribuição de alimentos, roupas, cobertores, etc.

Temos também pessoas que se unem em grupos e sempre saem a procura destes moradores, levando-lhes roupas, alimentos e sobretudo, calor humano. São os "bons samaritanos" modernos, pessoas abnegadas que desempenham tão linda missão.

No caso de instituições Religiosas, na cidade de Natal-RN, queremos dar dois exemplos. Primeiro o trabalho realizado pela Pastoral Ronda Fraterna que faz parte da Paróquia de Nossa Senhora das Graças e Santa Teresinha, localizada no Bairro do Tirol. Com objetivo e atender aos irmão necessitados, realiza distribuição semanal de sopa, pão e leite achocolatado, para diversas famílias cadastradas nas comunidades. Construção e reformas de casas, e outras atividades. E o segundo exemplo, é o trabalho feito pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, onde através do trabalho denominado “A Ronda Paz e Bem”, ocorre a distribuição de sopa e roupas para os moradores de rua.

Durante meu trabalho de pesquisa para escrever esse artigo, conversei com um ex-colega de trabalho e amigo George Adriano, que eu tinha conhecimento que fazia parte desse grupo de “samaritanos” do Ronda Paz e Bem. Ele me contou, que sempre observava que a grande maioria dos moradores de rua, que participavam da distribuição de sopa com a ronda Paz e Bem do convento Santo Antônio, não tinham acesso a um banho. Foi aí que surgiu a ideia da construção de um trailler banheiro. A ideia foi colocada em prática e em 15 de dezembro de 2016, ocorreu o ato inaugural do primeiro “Banho Solidário”. Repetindo as palavras do amigo George Adriano: “Foi assim que nasceu a vontade de fazer algo mais para os nossos irmãos em situação de rua."

Nosso exemplo de solidariedade é Jesus Cristo. Viveu uma trajetória de dedicação e cuidado com os mais pobres. Desde o seu nascimento, teve uma vida simples. Nasceu em um estábulo entre animais, cresceu em uma família humilde e foi apresentado no Templo, com a oferta dos pobres. Com o passar dos anos, mostrou-se próximo daqueles que eram discriminados e desprezados da sociedade e fez dessa a sua missão de vida.

Jesus não apenas deixou o exemplo da solidariedade, como também nos indicou que esse é o caminho a ser trilhado, para fazer a vontade de Deus e caminhar na santidade.  Dessa forma, quando olhamos para a sua história, devemos nos inspirar no tamanho do seu amor pelos mais necessitados. O espaço que o pobre tem no coração de Cristo é o que também devemos manter em nossos corações.

 “Se o penhor dessa igualdade. Conseguimos conquistar com braço forte”. Esse trecho do hino nacional brasileiro expõe uma visão idealizada de uma nação justa e igualitária.

Entretanto, ao observar a situação dos moradores de rua, no Brasil, percebe-se que essa noção patriota é constatada apenas em teoria e não desejavelmente na prática, e a problemática persiste intrinsecamente ligada à realidade do país.

 “Triste mundo este que cobre os vestidos e despe os nus”. A frase, do dramaturgo e poeta espanhol Pedro Calderón de la Barca, exprime a ideia de que quem pouco tem terá menos ainda, uma vez que dele será tirado para dar aos que muitos possuem.

18/04/2022

Liberdade, ainda que tardia

“Mestre, é lícito pagar imposto a César ou não? (Mateus 22:17). Qualquer resposta de Jesus o comprometeria, colocando-o ou como traidor da nação de Israel ou em confronto direto com o Império Romano. Se defendesse a liberdade de Israel, respondendo que era ilícito pagar imposto a César, seus opositores o entregariam a Pilatos para que fosse executado, embora também considerassem injusto tal tributo. Se dissesse que era lícito pagar tributo a César, o jogariam contra o povo que o amava, pois o povo passava fome na época, e um dos motivos era o jugo de Roma. Por isso que disse: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Segundo o escritor Augusto Cury, no seu livro “O Mestre da Sensibilidade”, não havia outra solução para Jesus naquele momento, a não ser que se intimidar e se omitir. Suas palavras certamente abririam a vala da sua sepultura.

A necessidade de coletar tributos dos cidadãos, não é uma prática que iniciou apenas na sociedade atual, como conhecemos. Na verdade, o recolhimento de impostos acompanhou a evolução da sociedade e da humanidade desde os primórdios.

Segundo relatos da história, os primeiros registros de cobranças foram de 4000 A.C., documentados em peças de barro, encontradas na região da Mesopotâmia. Nessas peças foi possível constatar que os tributos exigiam que parte dos alimentos produzidos pela população, fossem destinada ao governo. Além disso, parte do povo era obrigado a passar até cinco meses por ano trabalhando para o rei.

O Império Romano, foi o primeiro grande exemplo do uso eficiente dos tributos recolhidos. A cobrança de impostos, era usada como forma de fortalecer seus exércitos e conquistar mais terras. Os principais impostos cobrados eram sobre a importação de mercadorias (“portorium”) e sobre o consumo geral de qualquer bem (“macelum”).

A queda do Império Romano, trouxe um novo sistema de organização da sociedade e, portanto, dos impostos. É nessa época, que surge a lenda do mais belo protesto contra excesso de tributação. O conde Leofric de Mercia disse a sua mulher, Lady Godiva, que só baixaria os impostos da pequena cidade de Coventry, Inglaterra, quando ela passeasse nua pela cidade sobre um cavalo branco. Ela aceitou o desafio, mas em respeito ao seu ato de bravura e humanidade, o povo fechou as janelas e não a contemplou.

Importante ressaltar, que o tributo administrado pelo Estado, de uma forma muito semelhante ao que conhecemos hoje, foi instituído na Grécia. Com base nos impostos recolhidos e no trabalho escravo, os gregos se tornaram uma das maiores civilizações do mundo.

Com a evolução da sociedade, os impostos também foram se adaptando, seguindo os formatos de governança do Egito, Império Romano, Grécia e Idade Média, chegando aos modelos de tributação que ainda temos hoje em dia.

Aterrissando em nossas terras, a história da origem dos impostos no Brasil, iniciou-se com o extrativismo do pau-brasil, sendo o primeiro produto a ser tributado. Nessa época, 1/5 de toda a extração do pau-brasil deveria ser entregue à Coroa Real Portuguesa.

No final do século XVII, a cana-de-açúcar, que era a principal economia do Brasil, estava em decadência. Sendo assim, os colonos tiveram que buscar uma nova alternativa para garantir o enriquecimento da metrópole. Foi então que, finalmente, encontraram as primeiras jazidas de pedras preciosas, na região das Minas Gerias. Inicia-se, dessa forma, o Ciclo do Ouro (ouro, prata e diamantes). A descoberta de ouro na região das Minas Gerais gerou uma corrida para extração desse metal.

A Coroa Portuguesa, na época, viu uma grande possibilidade de arrecadar tributos e lucrar muito com o trabalho da população, que convergia para a área, tratou então de lançar pesados tributos sobre a produção mineral. Foi lançado então a cobrança do "QUINTO". O chamado quinto, como o próprio nome já indica, correspondia à cobrança de 20% (1/5) sobre a quantidade de ouro, extraído anualmente. Afirma-se que o termo era dirigido aos cobradores de impostos, que ao exigir o quinto ouviam algo como "Vá buscar o quinto nos infernos!".

A partir do final do século XVIII, a exploração desmedida fez com que os metais das jazidas se esgotassem. Com isso, os proprietários não tinham como pagar o imposto referente a extração dos metais, chamado de quinto real.

Com o descompasso entre o imposto esperado e o que deveria ser verdadeiramente pago, Portugal lançou a “derrama”. A Derrama tinha como objetivo cobrar todos os impostos atrasados de uma só vez. Caso não fosse pago, ocorria o confisco de todos os bens dos devedores.

Pois bem, em 21 de abril de 2022 completarão 230 anos que Joaquim José da Silva Xavier, vulgo TIRADENTES, foi enforcado por ter cometido o crime de lutar pela independência e contra a cobrança injusta de impostos, pela Coroa Portuguesa.

O movimento, que foi denominado de Inconfidência Mineira, no entanto, nunca superou a fase conspiratória. Isso aconteceu porque Joaquim Silvério dos Reis denunciou o movimento em março de 1789. Ele manteve contato com os inconfidentes e participou das reuniões secretas. Joaquim Silvério denunciou a organização em troca do perdão de todas as dívidas que ele possuía. 

Tiradentes foi o único dos líderes da Inconfidência Mineira a ter sua condenação à morte concretizada. De acordo com os historiadores, apenas Tiradentes foi condenado a morte porque era o único envolvido que não pertencia à elite econômica e política de Minas Gerais. Além disso, durante os interrogatórios que foram realizados, ele foi o único que não negou o envolvimento com a Inconfidência Mineira e também foi quem não abriu mão às defesas dos ideais republicanos.

Um fato curioso, é que poucos sabem, que a imagem que vemos nos livros escolares de Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, é uma idealização de quem o retratou. Segundo o historiador e pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Minas Gerais, Olinto Rodrigues, as pinturas que retratam Tiradentes com barba e cabelos nos ombros foram inspiradas em Jesus Cristo.

Ele percorreu um longo período de anonimato, antes de ser reconhecido como o grande herói nacional. Por sua atuação na revolta provocada pelo excesso de impostos cobrados pela Coroa Portuguesa é também denominado Patrono dos Contribuintes.

Passados 230 anos, o Brasil continua sob enorme carga tributária e um emaranhado de burocracia, para se apurar os tributos e contribuições a serem recolhidos pelos contribuintes.

Em 2021, considerando dados oficiais, a carga tributária no Brasil correspondeu 33,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Lembramos que em 1950, correspondia a 14%. Simplificando, a carga tributária que nos aflige é 63% (Sessenta e três por cento) maior do que aquela exigida por Portugal na época do "QUINTO DOS INFERNOS". Interessante que Tiradentes, foi enforcado por se levantar contra muito menos injustiça do que somos vítimas hoje.

Não à toa, o estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou que os brasileiros precisam trabalhar, para pagar impostos, mais de 5 meses todos os anos. 151 dias de trabalho são destinados aos cofres públicos. 

Ao todo, entre impostos federais, estaduais e municipais, taxas e contribuições, o Brasil possui uma lista de 92 tributos vigentes.

Nosso país, destaca-se mundialmente em dois pontos antagônicos: está entre os países de maior Carga Tributária e infelizmente, entre os que menos retorno concedem aos cidadãos. Suécia, Dinamarca, Finlândia, Alemanha e França, por exemplo, têm cargas tributárias superiores as do País do Futebol. Todavia, em um ranking levantado pelo mesmo IBPT, entre os 30 países com a maior carga tributária no mundo, o Brasil é o que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados em prol do bem-estar da sociedade.

Estudo publicado pela ONU revela que os cidadãos da Alemanha, são os que melhor aceitam pagar taxas para financiar bens públicos, como saúde e educação. Os brasileiros, por outro lado, estão entre os menos satisfeitos em ter que pagar taxas, por não terem a contrapartida de serviços públicos de qualidade.

A cobrança de impostos é inegavelmente uma preocupação dos brasileiros. O que poucos sabem, é que, ao contrário do que o senso comum imagina, o Brasil está entre os países do mundo que mais taxam a população pobre do país.  Aqui, quem tem menos paga mais. Isso acontece porque a carga tributária brasileira está concentrada nos impostos indiretos, que consistem em taxas sobre o consumo inseridas nos preços de toda e qualquer mercadoria. Quando você olha para os países europeus, a maior parte dos tributos incide sobre a renda das pessoas que ganham mais e também sobre o patrimônio.

De acordo com dados da Receita Federal, grande parte da arrecadação de impostos, vem de bens e serviços, cerca de 44,8%. Folha de salários, com 27,34%, e renda com 21,62% fecham o top 3 de arrecadação de impostos no país.  No caso de bens e serviços se destaca a tributação indireta, que quer dizer que não leva em conta a renda para tributar produtos neste sentido. 

Isto é, o mesmo valor de determinado produto ou serviço será cobrado para o rico e o pobre. Considerando esse cenário, é possível afirmar que a base da pirâmide social, a classe média assalariada e os pobres, de uma forma geral, é que acabam pagando mais impostos. 

Além do sistema tributário brasileiro, onerar os mais pobres, também abre mão de cobrar impostos dos mais ricos desde 1996, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso isentou impostos sobre lucros e dividendos das pessoas físicas na declaração do imposto de renda. Isso significa que quando uma empresa transfere lucros e dividendos para seus acionistas, essa transferência de renda, geralmente de valores exorbitantes, não é tributada. O Brasil faz parte de um reduzido grupo de nações que não taxam essa renda paga a pessoas físicas. No grupo, figuram ainda países como Estônia e Letônia.

Enquanto isso, um trabalhador assalariado tem que preencher sua declaração de imposto de renda com todos os rendimentos na parte de tributáveis. Informa seu salário, retém na fonte, tudo certo. Agora, o empresário informa seus lucros na parte de isento.

Outra distorção, refere-se o imposto sobre grandes fortunas. Está previsto na Constituição desde 1988, mas até hoje não saiu do papel porque ainda não foi regulamentado pelo poder público.

Quando os pobres arcam proporcionalmente mais com os tributos, a própria Constituição Brasileira é violada. O artigo 145 estabelece que, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar e respeitar os direitos individuais nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

A grande razão do imposto ser alto no Brasil, é que, a cada dia que passa, os gastos públicos estão mais altos no país. A consequência disso é um grande rombo nas contas públicas e para supri-lo o governo aumenta os impostos para elevar a arrecadação.

Além disso, como o dinheiro da arrecadação não é investido corretamente, a qualidade dos serviços básicos na área de saúde, educação, transporte e outros é extremamente baixa.

Hoje, 230 anos depois, não se paga mais um quinto, mas cerca de dois quintos, ou seja, aproximadamente 35% de impostos saem do bolso do brasileiro direto para o governo.

Entendemos que uma Reforma Tributária é absolutamente necessária. Ela precisa ser profunda, alterar a Constituição, pois ela amarra muito o sistema tributário. É necessária uma reforma tributária de verdade, que provocasse aplausos a Tiradentes (se vivesse em nossos tempos), que priorize uma tributação justa, num sistema tributário mais simples de operar e menos burocrático, contemplando melhoria na distribuição de renda. Mas sou cético. A chance acontecer isso é muito baixa, pois contraria interesses dos grupos políticos.

Fico pensando o que faria o Mártir da Inconfidência se vivesse nos tempos atuais. Naquela época, Tiradentes não tinha Constituição na qual se apoiar. Ele não dispunha de celular, Instagram, facebook, e-mails, etc. mas mesmo assim lutou com todas as armas que tinha, contra o jugo Português, impiedoso e déspota.  

Bem, apesar de toda essas mídias digitais, existentes atualmente, acredito que um Tiradentes não daria conta. Seriam necessários vários Tiradentes. Hoje os Tiradentes vão para a rua, a polícia reprime e nada muda. Acho que só alguém no poder poderia mudar algo de cima para baixo.

Acredito que o dia 21 de abril deveria ser usado pelo cidadão, enquanto contribuinte, para manifestar sua indignação contra essa situação de opressão fiscal sem precedentes, em nossa história.

Dentre os direitos humanos, a liberdade econômica também compreende a liberdade do indivíduo.

Assim sendo, inspirado nos ideais de Tiradentes, tenhamos coragem de lutarmos pela nossa liberdade econômica para que sejamos realmente livres: “Libertas quae sera tamem”.

04/04/2022

O Exemplo do Mar

No Brasil, convencionou-se dizer que o ano começa depois do Carnaval. Máxima que se tornou quase um ditado popular. Cultura enraizada no nosso país. Entendo que tem um pouco de lógica, pelas datas comemorativas, que temos a partir do Natal até a Quarta-feira de Cinzas.

Oficialmente o Carnaval termina na quarta-feira de cinzas, data que foi criada pela religião católica para celebrar o início da Quaresma, ou seja, os 40 dias que antecedem a Páscoa.

Como sabemos, a origem da Quarta-feira de Cinzas é puramente religiosa. A tradição católica, diz que, se deve fazer jejum e não comer carne. Isso já existe há muitos anos e tem como intuito fazer com que os fiéis se identifiquem com o sacrifício de Jesus, se privando de uma coisa de que gostam, neste caso, a carne.

A Quarta-feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano. Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas, quando temos a imposição de cinzas cuja ideia é lembrar a todos que nós, humanos, somos finitos. A concepção da celebração, remete à mitologia egípcia, especificamente ao mito da Fênix, um pássaro que não morre, é queimado, mas ressurge das cinzas.

O tempo da Quaresma é um tempo de reflexão e de penitência. Tempo de conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A Quaresma é uma prática realizada por fiéis de tradição católica, assim como por devotos da Igreja Ortodoxa, anglicanos e luteranos.

Na última semana do período da Quaresma, temos a Semana Santa, que inicia no Domingo de Ramos. É um período religioso do Cristianismo e do Judaísmo que celebra a subida de Jesus Cristo ao Monte das Oliveiras. Temos a crucificação de Jesus, na sexta-feira da Semana Santa e a sua ressurreição, que ocorre no domingo de Páscoa.

As tradições envolvendo a Sexta-feira Santa, conhecida também como Sexta-feira da Paixão, eram bem mais arraigadas no passado. A Igreja Católica sempre aconselhou os fiéis a fazerem algum tipo de penitência, como jejum, abstinência de carne e exclusão de coisas que dê prazer a eles. Pessoas mais velhas, ainda seguem às tradições a risca. No entanto, muitos jovens não conhecem muito bem esses costumes.

A única carne permitida é a de peixe. O Peixe é uma das representações que simbolizam a vida e a fé das pessoas em Jesus Cristo.

Na Sexta-feira da Paixão, também não se deve ouvir música alta e nem dançar. Mas, você pode ouvir músicas religiosas para refletir sobre esse dia.  Nada de consumo de bebidas alcoólicas. Não convém nem mesmo vinho. As pessoas devem evitar brigar e falar palavrões.

Na atualidade, a Igreja mostra mais flexibilidade e tolerância quanto a ações dos fiéis na data. Antigamente, os familiares evitavam fazer qualquer tipo de limpeza no lar. A mãe cobria as imagens de santos, quadros e fotografias com panos roxos, para simbolizar o luto, pela morte de Jesus. 

Um lamentável costume antigo, que ainda pode ser localizado em algumas cidades brasileiras, com maior força na região Nordeste, é o ato de roubar galinhas durante a Semana Santa.

Na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia, jovens e adultos saíam pelas ruas da vizinhança em que moravam em busca de casas em que eram criadas galinhas para assim poder roubá-las.

Uma das explicações para essa prática, se deve a crença de que como Jesus estava morto (ressuscitaria no Domingo de Páscoa), este não poderia ver os pecados dos ladrões de galinhas, que praticavam seus “crimes” sem “culpa”.

O fato, é que é uma prática cultural controversa. O crime muitas vezes levado em tom de brincadeira pode parar na Justiça, resultando em condenação.

Pelo fato, de ter nascido no seio de uma família católica, minha formação religiosa foi toda dentro da doutrina do catolicismo. Quando chegamos a uma certa idade, as influências externas ou outros fatores, podem fazer as pessoas seguirem outra religião, diferente da qual fomos catequizados, mas no meu caso posso afirmar que isso não ocorreu, pelo contrário, consegui fortalecer ainda mais minha convicção religiosa, a católica.

Não tenho dúvidas que essa catequese religiosa que tive, influenciou significativamente na formação do meu caráter. Assim sendo, dentro dessa influência religiosa, desde criança, aprendi que devemos vivenciar a Semana Santa. Por isso, é bom lembrar que a Semana Santa, assim como outros momentos de Festa da Igreja, não é nenhum tipo de feriado, onde podemos simplesmente viajar para descansar ou realizar passeios turísticos, pelo contrário é momento de viver intensamente a celebração, meditando o sofrimento de Cristo por amor à humanidade.

Vivemos numa época de mudanças. Os costumes de duas ou três décadas atrás apresentam tendência a se diluírem. A sociedade era marcada pelo cristianismo e pelo catolicismo, hoje não é mais assim. Conforme pesquisa da Data Folha, realizada no Brasil em 2020, a população brasileira católica atingiu 50%. Ressaltamos que no censo demográfico de 1940, totalizava 95%.

Ao contrário, do que ocorre entre os católicos, a Igreja Evangélica não altera sua programação devido ao período de Páscoa, nem estabelece um cronograma específico para a Semana Santa.

Dessa forma, a Semana Santa não é tão enfatizada, sendo lembrada nas celebrações como os dias que antecedem o sacrifício de Jesus na cruz. Já o domingo de Páscoa, costuma ser o dia mais importante na tradição reformada, uma vez que simboliza a redenção da humanidade. Portanto, os evangélicos enxergam esse período como um momento para refletir e levar a palavra de Cristo para mais pessoas.

Para os membros da Igreja Evangélica, não é proibido comer nada. Segundo os pastores, o que prejudica o homem não é o que entra pela boca, mas sim, o que sai dela. No entanto, os evangélicos não condenam os membros que só comem peixe, nos Dias Santos.

Para a Doutrina Espírita, não existe a chamada Semana Santa, nem tão pouco à Sexta-feira Santa. A Sexta-feira Santa, para o espiritismo é um feriado nacional e uma prática católica.

Os espíritas, veem Jesus como um mestre por excelência, um educador, que ensina como agir rumo ao sumo bem. Não seria o derramamento do sangue do Cristo que teria significado, mas toda sua trajetória.

Na Doutrina Espírita, não há restrição à carne vermelha, na Sexta-feira Santa ou em qualquer outra data. Eles consideram essa restrição uma prática de outra religião que eles respeitam, mas não adotam.

Para o Espiritismo, a Páscoa significa libertação. “A passagem representa a libertação, desde que sigamos os ensinamentos. Comemoramos a festa da Páscoa, com muito empenho e alegria, porque Jesus vivenciou a morte e nos mostrou que somos espíritos mortais”.

Os rituais da Umbanda também acompanham a Quaresma. Na Quarta-feira de cinzas, por exemplo, os Orixás da casa são vestidos e cada filho de santo lhes oferece a sua comida preferida. Os atabaques são lavados e guardados, e só são acordados no Sábado de Aleluia.

Para a Umbanda, a Semana Santa representa a criação do mundo, por isso, durante esse período, os Umbandistas se vestem de branco, principalmente na Sexta-feira Santa. Além da roupa branca, eles se alimentam somente com comidas dessa cor, como a canjica, arroz doce e pães. Esse é o dia em que os Orixás descem do Orún (mundo espiritual), para conhecer a grande criação de Olorum (Grande Criador, Divino, Deus criador de tudo).

Os seguidores da religião judaica, não celebram a Semana Santa como os católicos, comemoram apenas a Páscoa judaica (do hebraico Pessach = passagem). A Páscoa significa para a comunidade judaica, a libertação do povo judeu do cativeiro do Egito. É comemorado no mundo inteiro. Oferecem um jantar especial na Páscoa Judaica. Um cerimonial, ritual diferente com alimentos como manda a tradição judaica.

Importante ressaltar a missa realizada no Sábado de Aleluia, o primeiro dia depois da crucificação e morte de Jesus Cristo e o dia anterior ao Domingo de Páscoa. A missa de Lava-Pés, celebra humildade com fiéis, relembrando o gesto de Jesus. Ao lavar os pés dos seus discípulos, Jesus tinha como objetivo deixar mais um exemplo de amor ao próximo e de humildade.

A humildade é um sentimento de extrema importância, porque faz a pessoa reconhecer suas próprias limitações, com modéstia e ausência de orgulho. Humildade é ter um conceito equilibrado de si mesmo, sem buscar honra para si. A justiça não se pode praticar sem humildade, porque o orgulho exagera os seus direitos em detrimento dos do próximo.

A pessoa humilde sabe que todos os seus talentos e sucessos vêm de Deus. O humilde trabalha e se esforça, mas nunca se esquece que foi Deus quem lhe deu a vida e todas as coisas melhores que tem. A pessoa humilde não faz as coisas para ganhar tratamento especial nem para parecer melhor que outras pessoas. Faz o que é certo, porque é certo, não porque vai parecer “santo”. A pessoa humilde, reconhece que não é perfeita nem faz tudo certo. Não fica cheia de orgulho por se achar melhor que os outros.

Madre Teresa nos ensinou que “a humildade consiste em calar as nossas virtudes e deixar que os outros as descubram”, e assim, sendo tolerante com as diferenças, respeitando os nossos limites, podemos então trilhar o caminho do crescimento.

O escritor e blogueiro brasileiro Paulo Roberto Gaefke (1961, no livro “Quando é preciso Viver” página 29), escreveu: “Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado”.

Antes de concluir, quero lembrar a origem da palavra humildade. Humildade tem origem no Latim humus, “terra fértil”, derivado por sua vez do Indo-Europeu ghyom-, “terra”. 

Assim, precisamos nos questionar, não só no período da Quaresma, mas em todos momentos de nossa vida, se temos vivido uma vida produtiva, uma vida fértil em fazer o bem, em aprender, evoluir e partilhar, ou se estamos pelo contrário, vivendo de forma improdutiva, de forma a não fertilizarmos nada de positivo no convívio com os outros. Essa é uma reflexão, que carrego comigo sempre e creio que seja esse o significado que devemos reconhecer e buscar, incorporar em nosso dia a dia, alguém humilde, é alguém que é capaz de produzir bons frutos, de fertilizar o bem e fazer a diferença nesse mundo.

Independente de religião, a Quaresma é um período em que todos são convidados a refletir, a repensar na vida, no modo de encarar o cotidiano, de como pode ser melhor dentro de casa, com o próximo no trabalho e na comunidade.

E que a Páscoa seja um período para agradecermos a Jesus, pelo sacrifício e também para pensar em todos os nossos atos e renovar os votos perante Deus, para sermos cada vez melhores e dignos desse ato tão nobre para nos libertar e nos dar a vida.

Viva uma Semana Santa de paz, de tranquilidade e de novos tempos. Seja gentil, reflita, respire. A mudança em sua vida, para melhor, deve começar por você mesmo! Sempre!

17/03/2022

Duas vezes trinta

Nos meus primeiros anos escolares, após a fase de alfabetização, uma das matérias que eu mais gostava era “História do Brasil”.  Possivelmente, se alguém naquela época me perguntasse a razão, eu não saberia dizer. Hoje responderia que essa ciência que estuda a vida do homem através do tempo, investigando o que os homens fizeram, pensaram e sentiram enquanto seres sociais, nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer em nosso tempo.

Em resumo, a história é a ciência do passado e do presente. Todavia, o estudo do passado e a compreensão do presente não acontecem de uma forma perfeita, pois não temos o poder de voltar ao passado e ele não se repete. Por isso, o passado tem que ser recriado, levando em consideração as mudanças ocorridas no tempo.

De qualquer forma, ao estudarmos história, as datas relacionadas a fatos históricos passam a ter uma importância significativa, pois fazem a gente viajar no tempo em determinado ponto específico do passado.

Não tenho dúvida que a minha primeira viagem no tempo foi quando me ensinaram sobre o descobrimento do Brasil. Assim sendo a data de 22 de abril de 1500, ficou sendo uma data marcante em minha infância,

Mas na nossa trajetória terrestre, vamos mudando de fase, passamos de criança para adolescente e depois adolescente-jovem, até atingirmos a fase de adulta e em complemento as datas relacionadas a fatos históricos, outras datas começam a marcar ou ter uma importância significativa em nossas vidas. Sejam datas de aniversários de familiares, de pessoas que passamos a conviver em nosso ciclo de amizade ou datas que marcam nossa existência.

Para mim, essa data ocorreu no dia 03 de dezembro de 1977. Já se passaram quarenta e cinco anos. Esse foi o dia que começou minha caminhada com a minha alma gêmea. A conclusão desse ciclo ocorreu em 10 de dezembro de 1982 quando através da Lei dos Homens e os Mandamentos de Deus estabelecemos nosso vínculo matrimonial. Lembrando do Livro do Gênesis (2:24): “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”.

A partir do início de um novo ciclo, novas datas relevantes passaram a fazer parte de nossas vidas. Primeiro ocorreu em 08 de janeiro de 1986 no nascimento de nossa primogênita Nanda. Depois em 26 de maio de 1989, nascimento do nosso filho Ewerton.

Outros fatos relevantes ocorreram nessa caminhada, como por exemplo as formaturas de Nanda e Ewerton, o casamento de Nanda com Thiago e por último nascimento do nosso neto Lucas.

Mas a vida continua, as vezes marcada por eventos felizes, outras vezes eventos tristes, mas isso está na mão de Deus. Enquanto isso vamos comemorando as vitórias em nossas vidas e também os aniversários dos nossos entes queridos.

Pois bem, hoje tenho uma data importantíssima para comemorar, a passagem de minha alma gêmea Maria José para uma nova fase da vida. Nesse 19 de março de 2022 (Dia de São José), minha Maria completa sessenta anos.

Desses sessenta anos, participei de sua vida quarenta e cinco anos como namorado, noivo e amante a moda antiga. Quantas cartas escritas recheadas de muito paixão na fase de namoro. Quantos sonhos que se tornaram realidades na fase de noivado. Quantos desafios e conquistas passamos juntos principalmente no início do nosso casamento e nos primeiros anos de vida de nossos filhos. Em muitas vezes você foi mãe e pai em decorrência da minha vida laboral. Teve uma participação ativa na vida escolar dos nossos pequenos, indo levá-los e busca-los na escola no nosso velho Buggy Tropical. Uma torcedora vibrante nos jogos escolares de nossos filhos. Um mulher guerreira sempre disposta a lutar pela felicidade de seus filhos e agora seu neto. Uma mãe fenomenal!

Quero reforçar e lembrar a importância da nossa fé cristã durante toda essa caminha, sem nunca esquecer que o casamento foi criado por Deus, trata-se de uma instituição sagrada entre um homem e uma mulher e que deve ser tratada com respeito e reverência. O segredo para um casamento feliz é convidar que Jesus faça parte do relacionamento, para que o casal possa ser usado para a glória de Deus, sendo uma bênção para outras pessoas. “Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe" (Mateus 19:6).

Hoje você completa sessenta anos, e que linda idade, que lindo número é esse, principalmente com este seu espírito jovem. Você demonstra todos os dias como a idade não passa de um número, e que a juventude se sente no coração e não na carteira de identidade.

Fique certa que fazer 60 anos deixa a vida leve. Parece que passamos por todas as fases complicadas e agora estamos com o poder de ressignificar nossa história.

Os japoneses consideram fazer 60 anos uma honra, e chamam à celebração é “Kanreki”. Essa etapa da vida é vista como um renascimento. Eles acreditam que quando uma pessoa completa 60 anos, ela já passou pelo ciclo do zodíaco chinês cinco vezes e agora está de volta ao seu zodíaco original.  O significado da palavra “Kanreki” deriva das palavras kan (retorno) e reki (calendário). Simplificando, fazer 60 anos é visto como sua chance de começar de novo.

Assim, lembre-se que a idade, em si, é o menos importante. O que importa é o seu momento de vida, que é um caderno em branco pronto para ser escrito.

Enfim, feliz aniversário, minha querida esposa. Que você continue sendo sempre essa mulher apaixonante e iluminada, com quem aprendi a amar. Que Deus ilumine seus passos, aonde quer que você vá. Que Ele encha seus caminhos de alegrias, te dê muitas felicidades e continue renovando seu espírito com fé, alegria e esperança, ano após ano. Que o Senhor te acompanhe todas as horas. Que Ele nunca solte a sua mão e lhe proteja contra tudo e todos.

Feliz aniversário, minha querida amada Maria!

08/03/2022

HERÓI DOS HERÓIS

Na década de 60 a televisão tornou-se um meio de comunicação em massa. Sem dúvida, a televisão revolucionou o mundo, influenciou comportamentos, marcou décadas e hoje é o meio de comunicação com maior penetração e importância no mundo, mesmo depois da popularização da Internet.
Foi a década da minha infância. Nos meus primeiros contatos com esse meio de comunicação, gostava de assistir um série que fez grande sucesso no Brasil, denominada “As aventuras de Rin Tin Tin. Narrava a história de Rin Tin Tin , o cachorro que acompanhava uma unidade da Cavalaria dos Estados Unidos no final do século XIX, sediada no Forte Apache. Seu melhor amigo era o Cabo Rusty (Lee Aaker, nascido em 1943), um garoto que perdeu os pais em um ataque dos índios e foi adotado pela corporação, se tornando uma espécie de mascote. Sempre que havia algum problema e Rusty necessitava da ajuda de seu amigo canino, gritava Yo ho Rinty! e Rin Tin Tin aparecia para ajudar. Nessa época, fazia também sucesso, a série Zorro que narrava a história de um justiceiro mascarado, que usava o chicote e a espada para defender o povo, e também o faroeste ''Bat Masterson''. O herói desta série da televisão, raramente apelava para a força das armas, preferindo derrotar seus rivais lutando. Todavia, naquela época, foi o cachorro da série Rin Tim Tim, que adotei como meu herói. Interessante que meu neto Lucas, atualmente com três anos, passou a adotar os pequenos filhotes de cachorro do desenho “A Patrulha Canina” como seus heróis. O desenho lúdico usa uma linguagem próxima das crianças, com mensagens que representam bem a intenção de incentivar nos pequenos a habilidade de resolução de problemas, assim como a coragem e o trabalho em equipe. Um menino de 10 anos comanda um time de filhotes muito espertos, para resolver problemas e salvar a cidade.
Fui crescendo e passei a gostar cada vez mais de futebol. No início da década de 70, o Brasil ganhou a Copa do Mundo. Não teve por onde, alguns craques como o Rei Pelé, Rivelino, Gerson, Jairzinho, Tostão e tantos outros, passaram a fazer parte da galeria de ídolos da garotada daquela época. Todos queriam jogar com o número desses jogadores, estampado nas costas. Importante diferenciar um herói de um ídolo. A maioria das pessoas pensam que "herói" e "ídolo" são usados ​no mesmo contexto. Mas o fato é que os dois são diferentes. “Herói" é uma palavra que foi cunhada do grego "heróis", que significa "guerreiro, protetor, herói ou defensor". Também é semelhante a Hera, uma deusa, conhecida como guardiã do casamento. "Herói" é atribuído a uma pessoa por sua coragem, nobreza e realizações extraordinárias. Um verdadeiro guerreiro. Aquele que fez algo de bom para a sociedade ou arriscou sua vida pela sociedade. O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz.
Através das histórias em quadrinhos, do cinema e de outras mídias, a cultura de massa popularizou a figura do super-herói, que são indivíduos dotados de atributos físicos extraordinários, como corpo à prova de balas, capacidade de voar, etc.
Fora das telas, os heróis da vida real têm reconhecimentos mais discretos (sem holofotes), que são sentidos dia a dia, ao lograr sucesso em cada missão. Eles não têm superpoderes, mas usam todas as suas habilidades, com coragem e destemor. Podemos, por exemplo, lembrar dos Bombeiros, que arriscam as suas vidas para proteger as pessoas, as cidades e as florestas do risco de incêndios, desastres naturais, desabamentos, também ajudam a socorrer animais em perigo e auxiliar pessoas que enfrentam situações de grande stress, como tentativas de suicídio, afogamentos, desaparecimentos e traumas provocados por acidentes. Além de desenvolverem vários projetos sociais e educativos, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Não podemos esquecer de considerarmos heróis os policias civis e militares que, buscando proteger a sociedade, se colocam em situações de risco, sejam investigando crimes ou na captura de criminosos. Acrescentamos as ações de solidariedade e salvamentos.
No início de 2020, ano do grande teste sanitário da humanidade, os profissionais de saúde foram autênticos anjos da guarda. Foram verdadeiros heróis da pandemia. Com resiliência e coragem, colocaram a própria saúde em risco para salvar vidas, se isolando de suas famílias, dedicando uma atenção extrema. Incessantes guerreiros.
Além desses profissionais, outros profissionais como os cientistas e pesquisadores, que têm trabalhado incansavelmente em busca de remédios e vacinas, merecem ser chamados de heróis.
Assim como os bombeiros, profissionais da saúde, policiais civis e militares, não podemos esquecer de personagens que ultrapassaram barreiras sociais e antropológicas de uma época, lutaram contra políticos e culturas e até arriscaram suas vidas para romper dogmas, preconceitos, políticas antiquadas e formas de administrar atrasadas, desrespeitosas e cruéis, para tornar nosso país e nosso mundo um lugar melhor para se viver, como Mahatma Ghandi, Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama e Malala.
"Ídolo" é uma palavra derivada do antigo "ídolo" francês, que significa "uma imagem de uma divindade como um objeto de adoração". Pessoa a quem se atributa grande admiração, demasiado respeito, excessivo afeto ou pessoa pela qual se tributam louvores excessivos ou que se ama apaixonadamente. Personalidade que desfruta de grande popularidade (artistas populares, esportistas e etc).
Bem, quanto aos ídolos, diferente dos heróis reais, influenciam significativamente tanto as crianças, como jovens e adultos. Por exemplo, as crianças tendem a imitar os seus ídolos. Os ídolos normalmente lhes ensina um padrão a seguir, lhes transmite uma série de valores (positivos ou negativos) e incentivam sua imaginação. Muitas crianças podem criar uma imagem falsa do seu ídolo. É então que os pais devem agir. Uma obsessão pelo seu ídolo pode gerar nas crianças falsas expectativas e muita frustração.
No caso das crianças e jovens, diante da enorme diversidade de canais de TV e YouTube, chegamos a um ponto em que mal sabemos quem são os ídolos de nossos filhos. Durante nossa infância era comum que compartilhássemos com irmãos e amigos a admiração pelos mesmos personagens e artistas. Dividíamos a mesma televisão em casa. O canal que um membro da família assistia era a única opção para todos.
Não podemos esquecer, que às crianças pequenas, só têm um ídolo que admiram diariamente: os seus pais. Para elas, os seus pais são como super-heróis e não há quem consiga vencê-los.
Às crianças prestam bastante atenção na postura dos pais. Dentro de casa, o pai é visto como um modelo masculino mais importante. Instintivamente, o pequeno se limita a comportamentos que agradem o pai. Ao enxergar o pai como referência, a criança faz dele seu espelho, um modelo a ser seguido. O pai será a primeira pessoa que a criança amará no plano abstrato e espiritual, pois nunca esteve ligada fisicamente ao pai como esteve à mãe. Infelizmente, temos a paternidade inadequada. Aquela cujo pai está ausente ou, quando está presente, atua nos extremos: autoritária ou passiva.
Considero marcante aquela imagem, muito comum em nosso meio, a do pai retirando as rodinhas laterais da bicicleta e, segurando no banquinho, empurrando a criança para que ela, ao pedalar, consiga o equilíbrio por si mesma. Esta atitude simbólica, da bicicleta, é uma representação muito concreta da função paterna no nosso desenvolvimento, onde o pai é quem “empurra” a criança para o mundo concreto e real, promovendo o seu equilíbrio e autonomia. Neste sentido, dizemos que o pai é uma figura de referência no que se refere ao desenvolvimento social da criança.
A adolescência é uma fase de intensidade em todos os sentidos, em grande parte provocada pelos hormônios em ebulição. Na prática, os indivíduos nessa etapa da vida comumente têm comportamentos hiperbólicos: ora amam muito, algo que parece trivial aos olhos dos adultos, ora odeiam com todas as forças. O mesmo acontece em relação às personalidades da música, do esporte, da televisão e da internet. Quase sempre os os jovens demonstram uma admiração desmedida por pessoas que mal conhecem.
O devoção, que alguns adolescentes desenvolvem por celebridades, pode ser explicada por duas características tradicionais da adolescência: busca de referências fora da família e também como uma tentativa de pertencer a um grupo (dos geeks, dos roqueiros, dos populares). Esse comportamento, faz parte do processo de construção da identidade, e a tendência é que com o tempo diminua naturalmente.
Sob o olhar do adolescente, os ídolos são como “espelhos estruturantes” nos quais se reconhece refletido e a quem transfere o que entende como suas características ideais: beleza, rebeldia, glamour, inteligência, habilidade no esporte, sex appeal. Essa admiração exagerada a uma personalidade, é comum e geralmente não apresenta qualquer perigo, exceto quando o adolescente realmente desenvolve um comportamento de idolatria, um fanatismo que atrapalha seus relacionamentos e os rendimentos nos estudos. Como os adolescentes, ainda não têm o senso crítico plenamente desenvolvido, podem acreditar que se trata de um ser humano sem defeitos, que já acorda de maquiagem e sorrindo. É papel dos pais mostrar que “nem tudo que reluz é ouro”, e que pode ser que aquela pessoa não seja tão perfeita ou feliz quanto aparenta nas redes sociais.
Bem, os heróis e ídolos sempre farão parte da sociedade humana. Todavia, de vez enquando surgem dois segmentos que muito preocupa o crescimento dessa sociedade e a paz mundial. Estamos falando dos Salvadores da Pátria e dos Mitos. Na crise mundial ocorrida entre 1929 e 1932, que ficou conhecida pela “Grande Depressão”, a Alemanha, chegou a ter seis milhões de desempregados, em junho de 1932. As dificuldades econômicas, contribuíram para um aumento vertiginoso de apoio popular ao Partido Nazista, fazendo com que o austríaco Adolfo Hitler aparecesse no cenário político como o “salvador da pátria”, conquistando a simpatia de milhões de alemães, e levando a assumir o poder com a morte do presidente Hindenburg em 1934. Na Alemanha, Hitler implantou uma das mais cruéis ditaduras da história da humanidade. Livros proibidos eram queimados, democratas e comunistas eram demitidos, aos judeus eram impostas várias proibições e uma forte perseguição.
Pousando em nosso país, podemos afirmar, o Brasil continua sendo um país messiânico. A história política nacional é repleta de exemplos de personalidades que chegaram ao poder prometendo "salvar a pátria". Foi assim desde Getúlio Vargas, o pai dos pobres, até os nossos dias.
O Brasil acostumou-se a ser um país de salvadores da pátria, de soluções milagrosas, isso é típico de uma monarquia. Mas, numa democracia republicana quem resolve nossos problemas somos nós. Existe a ilusão de que quem constrói cidadania é o Estado. O Estado é reflexo da sociedade. Precisa haver uma mudança de cultura da sociedade através da educação e promoção de valores democráticos.
Ao longo de sua história, o Brasil falhou na tarefa de realizar coisas importantes, como prover educação para todos, reduzir a pobreza e formar cidadãos capazes de conduzir os seus próprios destinos, em um ambiente de democracia.
As pessoas participam pouco da atividade política, não vão a reuniões de condomínio ou de pais e mestres, desprezam os partidos políticos, não ligam a mínima para os sindicatos e associações de bairro, ou seja, são totalmente ausentes das decisões que afetam a sua vida. Mas cobram muito do Estado. Possivelmente, essa falta de interesse, é uma herança da época da monarquia, em que um rei ou um imperador teria a missão de cuidar do bem estar geral.
Sabemos que, em momentos de crise econômica, política ou religiosa, aparecem lideranças que oferecem a esperança, muitas vezes enganosa de segurança do cotidiano. O “são todos iguais”, ou seja, ladrões e corruptos, leva indevidamente à busca do santo, do mago, do salvador capaz de tirar o país do poço onde se encontra afundado.
Mas, o Brasil não precisa de um santo, mito, mago ou novo salvador da pátria, precisa de pessoas que valorizem às instituições e tenha um projeto de país sério. Que saiba liderar a enorme potencialidade do nosso povo, com suas inúmeras riquezas. Que seja presidente de todos e não apenas de seus eleitores. Que busque juntar pedaços de sensatez e de ideias não viciadas pela paixão.
Está na hora de superar a política de uns contra os outros, e partir para o todo, contra os problemas do Brasil. De aclamar por combate à corrupção e aplaudir aqueles que lutam contra isso, mas ao mesmo tempo, deixar de está sempre a procura de oportunidade de "ser esperto". Se queremos um país melhor, se queremos mudança, ela tem que começar por nós mesmos e por nossas famílias. Temos que entender que o Salvador da Pátria, é afinal, a cidadania, que depende de cada um, e não de um ou outro candidato ou governante. Nosso desafio atual é educar as pessoas para que se tornem cidadãos de pleno direito, capazes de romper com essa herança histórica.
Sei que não é nada fácil, colocar em prática essas ações, porém, jamais poderemos parar lutar por elas. Lembrando da célebre lição de Winston Churchill: "a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela".
Lembrando da música “Pra não dizer que não falei de flores”, vamos escrever um pouco sobre “Mito”. Mito, é uma narrativa fantástica, criada pelos gregos com o objetivo de explicar a existência de coisas, que as pessoas não conseguiam explicar cientificamente, tal como, a origem das coisas, fenômenos da natureza, entre outros. Através da referência a alguns fatos reais, às pessoas eram levadas a acreditar nessas histórias. Podemos definir ainda como uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida.
O mito também faz presente em diversas áreas do conhecimento. Na Ciência Política ele perde suas características de história, sobre um passado ou origem gloriosos e passa a ser sinônimo de mentira. Mesmo que a ideia de enganar os cidadãos possa ser considerada uma prática repudiada, Platão justificava, “o uso da mentira, pelos governantes, como forma de guiar melhor seus comandados”.
De acordo com o historiador francês Raoul Girardet, no livro Mitos e Mitologias Políticas, originalmente publicado em 1986, a presença de mitos e mitologias políticas sempre foi uma constante na história humana, principalmente em momentos de crise. Girardet, escreve que às pessoas ficam mais suscetíveis a acreditarem em figuras mitológicas em períodos de instabilidade social, econômica ou política.
Usando finalmente a definição do Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, podemos dizer que, o mito é uma pessoa ou um fato, cuja existência, presente na imaginação das pessoas, não pode ser comprovada, ficção.
Temos vária histórias de Mitos no Brasil. Uma delas é do Lobisomem. Este mito não é exclusivamente brasileiro. Conta a história de um homem, que por algum motivo foi mordido por um lobo, e ao invés de morrer adquiriu a capacidade de transformar-se em um ser monstruoso, com características de lobo e de homem, e que ataca às pessoas nas noites de lua cheia.
Entre os anos 385 e 380 a.c, Platão escreveu seu livro “A República”, nele o filósofo apresenta o conhecido Mito da Caverna, uma história sobre um grupo de pessoas acorrentadas, que passam o tempo inteiro olhando para sombras projetadas, em uma parede. Para eles aquilo era o mundo real, e não havia nada e ninguém que pudesse convencê-los do contrário. Nessa lenda, um prisioneiro, que insatisfeito com sua condição, rompe as correntes e sai do local pela primeira vez na vida. Esse prisioneiro, agora livre, depois de contemplar o mundo no exterior da caverna, sente compaixão pelos demais prisioneiros e decide regressar para tentar libertá-los. Ao tentar se comunicar com os outros prisioneiros, ele é desacreditado, tido como louco e finalmente, morto por seus colegas de aprisionamento.
Com essa metáfora, Platão buscou demonstrar o papel do conhecimento, que para ele seria o responsável por libertar os indivíduos da prisão, imposta pelos preconceitos e pela mera opinião. A saída da caverna representa a busca pelo conhecimento, e o filósofo é aquele que mesmo após se libertar das amarras e alcançar o conhecimento, não fica satisfeito. Assim, ele sente a necessidade de libertar os outros da prisão da ignorância, mesmo que isso possa causar a sua morte. Desde que foi escrita, o Mito da Caverna serviu para ilustrar uma das mais antigas discussões da história do pensamento humano: será que realmente percebemos a realidade?
Enfim, esquecendo dos mitos e salvadores da pátria, os nossos verdadeiros heróis/ídolos são pessoais reais vivem no meio de seu povo. Estou falando dos pais heróis e mães heroínas do lar, que dedicam sua vida aos filhos realizando atos de amor/heroísmo e que fazem parte dos chamados heróis da labuta nacional. Esses heróis, abrangem todos os trabalhadores brasileiros, os grandes heróis da labuta nacional, por sobrepujarem com garra e força de vontade, todas as intempéries, dificuldades e injustiças da vida de trabalhadores brasileiros. Que acordam de madrugada todos os dias, que trabalham à noite, que apanham dois ou três transportes coletivos, para chegar aos empregos. Por conseguirem sobreviver com um salário mínimo, que nem de longe passa perto de cobrir metade das suas necessidades, enquanto existem muitas pessoas nos plenários estaduais e federal ganhando muito sem suar as camisas.
Há momentos que, creio ser necessário, nos perguntarmos, porquê? Afinal, por que esperarmos por mudanças grandiosas, que virão de uma única pessoa, quando poderíamos agir conforme uma das frases mais conhecidas de Mahatma Gandhi “seja a mudança que você quer ver no mundo”. Ou melhor ainda, como diria o poeta Sérgio Vaz: “Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo.”
Depois de muito escrever sobre herói, ídolo, salvador da pátria e mito, me vem em mente a música “Pai” do compositor e cantar Fábio Junior: “Pai, me perdoa essa insegurança. É que eu não sou mais aquela criança. Que um dia morrendo de medo. Nos teus braços você fez segredo. Nos teus passos você foi mais eu. Pai, você foi meu herói, meu bandido. Hoje é mais, muito mais, que um amigo. Nem você, nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse caminho. Que hoje eu sigo em paz. Pai…”
Se ser é Herói é arriscar a própria vida, ou morrer por um ato nobre, posso afirmar que o maior Herói da Humanidade foi Jesus Cristo. Herói dos heróis