O bom humor é como o sal

Em 1950, nosso rei do baião, Luiz Gonzaga, gravou a música “A dança da moda”, composta em parceria com o pernambucano Zé Dantas. Na primeira estrofe da música temos: “No Rio tá tudo mudado, nas noites de São João, em vez de polca e rancheira, o povo só dança e só pede o baião”. Fico imaginando como seria essa composição se fosse escrita nos dias atuais. Nem polca, rancheira, xaxado, xote e nem baião, atualmente as festas juninas, foram invadidas por músicas sertanejas e outros estilos músicas. Infelizmente mudanças desse tipo tem ocorrido, com muita intensidade, em vários segmentos de nossa sociedade. Por exemplo, até os programas humorísticos ou melhor dizendo, as formas de se trazer humor para as pessoas tiveram uma mudança radical. Estamos falando dos vídeos compartilhados, tanto pela rede TikTok ou Kwai, que permite a criação rápida de vídeos divertidos e facilitar o compartilhamento com outras plataformas como WhatsApp e Instagram.

Mas, quando se trata de humor, temos que lembrar que o humor está presente na civilização desde às sociedades mais primitivas. Ele é uma capacidade que o ser humano tem de olhar a realidade e ressignificá-la, tornando-a algo engraçado e conferindo-lhe olhar crítico. O humor é uma das formas mais universais de comunicação.

O tempo, provoca profundas transformações na sociedade. Alteram-se os hábitos, visões, valores e até mesmo as formas de governo. O humor acompanha essas mudanças. Ele é produzido historicamente, cada momento possui sua linguagem humorística. Piadas de sucesso, antigamente, dificilmente teriam o mesmo impacto hoje.

Se voltarmos no tempo, na Idade média, as cortes europeias, contratavam os bobos da corte, para divertir os reis e seu séquito. Como um palhaço, era considerado cômico e muitas vezes desagradável, por apontar de forma grotesca os vícios e as características da sociedade. Além de fazer a corte rir, ele também declamava poesias, dançava, tocava algum instrumento e era o cerimonialista das festas. Os bobos da corte não eram nada bobos. Eles possuíam várias habilidades. Alguns bobos, inclusive, sentavam-se à mesa de banquetes com o Rei e seus convidados, e tinham a liberdade de falar coisas aos monarcas que os demais membros da corte não ousariam.

Palhaços, figura popular conhecida por trazer diversão e muitas gargalhadas para seu público. Esse personagem, há muito tempo faz parte da infância das pessoas e até hoje marca presença na vida das crianças. Entretanto, a origem deles, costuma ser confundida com a história do circo. Por isso, não se sabe ao certo quando esse personagem surgiu. Talvez dos próprios bobos da corte, que também usavam máscaras divertidas e diferentes, roupas largas e sapatos engraçados.

Na década de 80, começaram a surgir grupos de palhaços que visitam hospitais e outras instituições de saúde, a fim de modificar o ambiente clínico. Hoje em dia, palhaços hospitalares, palhaços sociais, doutores palhaços ou senhores palhaços são profissionais já reconhecidos e diferenciados. No Brasil existem centenas de iniciativas. Aqui faço uma homenagem a três palhaços brasileiros que fizeram alegria do povo brasileiro: Benjamin de Oliveira (primeiro palhaço negro do Brasil), Arrelia e Carequinha.

Neste momento, um filme passa em minha mente. Um filme real, pois me faz lembrar do meu pai, quando no início da década de 60, levou eu e minha irmã para assistirmos no cinema, que ficava no Bairro de Jaguaribe em João Pessoa, um filme de Jerry Lewis, chamado “O Professor Aloprado”. Conhecido como "Rei da Comédia", ele é um dos maiores comediantes de todos os tempos. Tornou-se famoso por suas comédias estilo pastelão feita nos palcos, filmes, programas de rádio, de televisão e em suas músicas. Boas lembranças!

Nessa época, também fazia sucesso os atores Moe, Larry e Curley, grupo cômico norte-americano, conhecidos no Brasil como Os Três Patetas. Seus filmes estiveram em atividade de 1922 a 1970 com seus curtas e longa metragens. Suas comédias, caracterizavam-se pela farsa e pastelão.

Também tive, na minha infância e adolescência, alegria de assistir e consequentemente rir, com vários humoristas desse pais, tais como: Mazzaropi, Costinha, Golias, Dercy Gonçalves, Agildo Ribeiro, Grande Otelo, Roni Rios (interpretava a velha surda da Praça é Nossa), e não temos com não lembrar do quarteto dos Trapalhões (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias).

Nessa grande família de humoristas que surgiram no Brasil e fizeram seu nome na história desse pais, quero destacar Chico Anísio e Jô Soares. Não é exagero falar que Chico Anysio foi um dos maiores humoristas da história do Brasil, se não o maior. O comediante, com toda sua versatilidade, deu vida a diversos papeis e em programas distintos. Arrancou gargalhadas de gerações de brasileiros pobres, remediados e ricos, intelectuais e analfabetos. Sua postura crítica não conhecia limites. Na galeria de tipos cômicos criados por ele, é possível detectar vergonhas nacionais como o coronelismo, o populismo, o analfabetismo. Quem não se lembra do Pantaleão (“É mentira, Terta?”), do deputado Justo Veríssimo (“Quero que pobre se exploda!”), o pai de santo Painho (“Affe! Eu tô morta!), Bozó (“E-eu trabalho na Globo, tá legal?”), Bento Carneiro (vampiro brasileiro), o malandro Azambuja, o boleiro atrapalhado Coalhada, o funcionário público Nazareno, o Baiano, e sem esquecer do Professor Raimundo (“E o salário, ó...”).

Assim como Chico Anísio não temos como não lembrar e exaltar o nosso inesquecível Jô Soares. As novas gerações podem não lembrar, mas Jô Soares foi um dos expoentes da comédia brasileira. Detentor de um talento nato e versátil. Tudo ele acabava levando para o lado do humor, da alegria.

Na televisão, explorou os mais diversos caminhos e deu vida a mais de 200 personagens. As figuras apresentadas no programa Viva o gordo! como Capitão Gay, um super-herói gay que fazia críticas veladas à ditadura, Zé da Galera, torcedor fanático da seleção brasileira, ligava para Tele Santana pedindo alterações nas escalações do time e convocação de outros jogadores, Reizinho, um monarca sempre com problemas no reino, se destacaram nos anos 1980. Um frase do Jô ficou marcada nos últimos dias no hospital, antes de sua morte: "viver não é problemático, difícil é fazer humor".

Com certeza você já ouviu o ditado “rir é o melhor remédio para todos os males”. Se tem algum fundamento científico não posso afirmar mas uma função importante do humor é facilitar as relações sociais, sendo o primeiro passo para a aproximação das pessoas e o estabelecimento da confiança entre elas e dentro de um grupo. Por exemplo, o bom humor no trabalho é uma ferramenta para conectar pessoas, aliviar a tensão e incentivar um clima organizacional positivo. Ter um bom estado de ânimo é importante, principalmente, para quem desempenha cargo de liderança, pois ajuda a manter um ambiente descontraído, fortalecendo sua liderança perante sua equipe.

Alguns pensadores medievais julgavam o riso como demoníaco, sob o pretexto de que Jesus nunca havia rido, como forma de renúncia aos prazeres mundanos, porém para o filósofo grego Aristóteles, o riso seria “próprio do homem”, sinal da racionalidade humana, a necessária ligação do homem com os deuses através das ideias que elevam o espírito (teoria da felicidade). Assim, o riso é uma das poucas coisas que já vieram perfeitas no homem, em suma era (e é) a visão do criador, um presente que não deve ser maculado, pois contem em si, neste aspecto, como imagem e semelhança do Criador.

Na Inglaterra vitoriana, em meados do século XIX, as mulheres não riam. Elas escondiam a boca com o leque. A moça que ria em público era mal falada. Hoje, o sorriso feminino é usado como um instrumento de sedução.

O filósofo alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche, afirmou que o homem sofre tão profundamente que ele teve que inventar o riso. Nesse sentido, é um meio para tornar mais agradável, e gratificante, a existência humana.

Quem na vida cotidiana não gosta de escutar uma piada ou até mesmo contar? Quem nunca não escutou uma piada do Joãozinho (garotinho que faz perguntas ou comentários que provocam espanto em adultos) ou piadas sobre portugueses? Ou mesmo piadas consideradas de “tolerância zero” acerca de Seu Lunga? Personagem do interior do Ceará, famoso pela sua rispidez quando fazem perguntas estúpidas.

Todavia, saber contar piadas é um dom, uma arte que promove um contínuo exercício de memória. O mais chato dos chatos contadores de piada é aquele que, antes mesmo de começar a contá-la, já está rindo. As piadas não pertencem à cultura refinada, mas sim ao entretenimento e lazer de todas as classes.

Hoje não podemos mais brincar ou contar piadas com temas que brincávamos antigamente, e a gente precisa entender e se adequar a isso. Precisamos evoluir, por outro lado, o humor se democratizou bastante.

No século XII, Santo Tomás de Aquino já escrevia que "brincar é necessário para levar uma vida humana", defendendo que as piadas seriam importantes para repor as "forças do espírito".

O que seria da vida sem humor? O poder de uma boa gargalhada é inegável. Ela libera imediatamente hormônios que nos dão uma sensação de bem-estar. É daí que parte o clichê “rir é o melhor remédio”.

O humor é um dos principais sinalizadores das emoções humanas e naturalmente, é praticamente impossível estar sempre bem-humorado. Por mais que o indivíduo tente esconder seus conflitos internos, o humor sempre acaba transmitindo a verdade.

Rir faz a pressão sanguínea baixar, além de aumentar a quantidade de oxigênio no sangue, o que só faz bem ao coração. Como nessa hora de empolgação muito ar é inalado, os pulmões são ventilados e ficam mais limpos. Dar risada também ajuda a aumentar a quantidade de células protetoras no corpo. Assim, o risco de ficar doente é menor. Além disso, a endorfina produzida quando você está de bom humor faz sentir menos dor. Uma boa gargalhada movimenta os músculos do abdômen, do rosto, das pernas, das costas.

Há quem diga que o bom humor é como o sal: um pouco pode ser a medida certa. Um “muito” pode estragar tudo.

Quando nossos filhos eram menores, inclusive bebês, nós os ensinamos a rir fazendo carinhos, cócegas, massagens, etc. Pois nós somos os mesmos e eles também. Isso reforça a necessidade ou melhor, de lembrarmos que os filhos precisam de um ambiente no qual, habitualmente, está presente o bom humor. Quando isso não acontece, o lar mergulha pouco a pouco em um torpor parecido à tristeza, que nunca é produtiva nem diminui em nada os problemas.

Freud, o pai da psicanálise, define o humor como “o mais elevado grau de sofisticação do ser humano, a manifestação mais sofisticada do espírito humano”. Ele foi autor de dois grandes trabalhos sobre senso de humor, característica que atribuía a si mesmo. Nos trabalhos, falou sobre piadas, trocadilhos, sobre o cômico.

É preciso fazer um esforço para encarar a vida com mais leveza. Viver com leveza é praticamente um ideal de vida. Com tantos afazeres e perrengues na rotina, precisamos de momentos que aliviam a tensão e aumentam a descontração entre às pessoas. 

Então, devemos sempre lembrar e tomar como experiência a música “Emoções” de Roberto Carlos: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.

Quem não se comunica, se trumbica

Discoteca do Chacrinha foi um programa de variedades da televisão brasileira apresentado por Abelardo "Chacrinha" Barbosa em várias emissoras (Fonte: observatoriodatv)

O escritor e jornalista macauense (RN) Vicente Serejo, escreveu um artigo com o título “Vesgos”. Segundo ele, o fenômeno “vesgos” nasce de polarização que divide brasileiros e impede a visão correta do Brasil; os que apoiam candidato “A” não enxergam erros do seu candidato e os que apoiam o candidato “B” olham em seu candidato o exemplo da virtude. O efeito imediato é a vesguice, um verdadeiro vício “vesgueiro”, que acaba por fomentar uma visão política brasileira atual completamente distorcida, cheia de intolerância e sem limites, jogada num fosso profundo.

As recentes manifestações de rua, por todo país, reforçam o pensamento do jornalista Vicente Serejo. Podemos até entender a indignação e frustração do povo com os descaminhos da política, mas fazer manifestação pedindo intervenção militar e, pior, retorno do AI 5 (Ato Institucional 5) é desconhecer totalmente a história do Brasil. Acredito que a maioria destas pessoas nem eram nascidas na década de 60 e 70.  Há muito tempo ouvimos a frase: “O brasileiro tem memória curta!”. Vou mais longe, a memória do brasileiro não dura sequer seis meses.

Ao longo de mais de 150 anos, a postura do poder constituído frente às ideias dissonantes que emergiam da sociedade variou de uma repressão ferrenha à relativa liberalização, por vezes centrando fogo nas questões políticas, outras posicionando-se em defesa de uma suposta moral da família brasileira. 

A censura no Brasil, tanto cultural como política, ocorreu durante todo o período após a colonização do país. A imprensa brasileira, por exemplo, teve um nascimento tardio, como tardios foram o ensino superior, a própria independência política e a abolição da escravatura. As três primeiras tentativas de surgimento da imprensa no Brasil, tanto em Pernambuco (1706), Rio de Janeiro (1747) e Vila Rica – Minas Gerais (1807) foram suprimidas por ordem do governo português.

O objetivo da Coroa era manter a Colônia ainda em seu domínio, nas trevas e na ignorância. Era coibida toda e qualquer atividade de imprensa (jornais, livros ou panfletos). A Coroa proibia circular em seus territórios e suas colônias todas as obras de teor iluminista ou que criticassem a  Igreja Católica e a monarquia absolutista instituída em Portugal.

A Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal publicado em território nacional. Começou a circular em 10 de setembro de 1808. Infelizmente, pouco mais de um mês depois, uma série de medidas renovou os dispositivos referentes à censura e à vigilância sobre os impressos. A situação da imprensa só se alterou em março de 1821, quando D. João ordenou por decreto a suspensão da prévia censura, mas sob a condição de que dois exemplares de cada impresso seriam obrigatoriamente remetidos ao Diretor de Estudos, para análise das provas que se tinham de cada folha na imprensa. Em 28 de agosto de 1821, D. Pedro alterou a Lei da Imprensa, determinando a liberdade de imprensa, porém foram caracterizados os chamados crimes de imprensa com punições.

A censura foi em tese abolida com a lei de imprensa de outubro de 1823, assinada por D. Pedro I. Esse decreto estipulou que nenhum escrito estaria sujeito a censura, mas não impedia que o imperador fizesse uso de outras prerrogativas para perseguir aqueles que o atacavam nos jornais.

Um fato interessante sobre D. Pedro I era que gostava de publicar artigos inflamados contra seus adversários no jornal “O Espelho”. Era considerado um jornalista panfletário, irreverente e polêmico. Utilizava vários pseudônimos: “Simplício Maria das Necessidades”, “O Inimigo dos Marotos”, “Derrete Chumbo a Cacete”, “Piolho Viajante”, etc.

A constituição brasileira de 1824 estabeleceu a liberdade de imprensa como norma, mas incluía limitações suficientemente vagas para aplicações de restrições e represálias.

Importante lembrar que o jornalista João Soares Lisboa, editor do Correio do Rio de Janeiro, foi o primeiro a defender, através da imprensa, a convocação de uma constituinte brasileira e a primeira pessoa processada no Brasil por abuso da liberdade de imprensa (1822), do mesmo modo que o jornalista Líbero Badaró foi o primeiro jornalista a ser assassinado no Brasil em virtude do que escrevia. Era um crítico em relação ao autoritarismo do Imperador e defensor de que a imprensa deveria ser tanto livre quanto responsável. Morreu em novembro de 1830, em consequência de um atentado a bala.

Do ponto de vista da liberdade de imprensa, o Reinado de Pedro II é incomparável, principalmente decorrente da postura tolerante do monarca frente às críticas escritas e ao deboche das caricaturas. Os jornais que pregavam a mudança da forma de governo nunca foram reprimidos por isso.

Com a proclamação da República (1889), ocorreu a volta aos tempos de cerceamento da liberdade e dos atos de violência, no início, sobretudo, contra os poucos jornais que se mantinham monarquistas, por parte de agentes e simpatizantes do governo.

No fim de 1889, surge a primeira lei de censura republicana, ou seja, a junta militar passa a ter o direito de processar jornalistas e puni-los. Ocorreu o fechamento de diversos jornais. Além da repressão, não foram poucos os casos em que recursos públicos foram utilizados para corromper jornais e jornalistas, em especial sob o governo Campos Salles (1898-1902).

No governo Arthur Bernardes (1923) foi criada a Lei de Imprensa Brasileira (lei de censura) para estabelecer limites de atuação da imprensa.

Um dos exemplos de censura mais conhecidos é o do Barão de Itararé. Em 1932, após mais de cinco anos de implacáveis sátiras à sociedade e à política em geral, Aparício é sequestrado e espancado por policiais da marinha, nunca identificados. O episódio não o fez abandonar seu ofício. Mantendo o espírito satírico, afixou o seguinte aviso na porta de seu escritório: “Entre sem bater”.

O nascimento do Estado Novo, em 1937 (Era Vargas), além de haver uma grande censura aos meios de comunicação, exilio e tortura de jornalistas e intelectuais que faziam críticas ao regime, foi também instituído uma espécie de culto à personalidade ao ditador Getúlio Vargas, semelhante à adoração que havia à Adolfo Hitler (Alemanha) e à Benito Mussolini (Itália).

Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que era encarregado do aparato de censura e da propaganda oficial. Objetivos principais: fazer censura do teatro, do cinema, das funções recreativas e esportivas, da radiodifusão, da literatura social e política e da imprensa.

Em março de 1940, registrou-se um dos casos mais notórios de intervenção em jornais com a invasão pela polícia de “O Estado de S. Paulo”; o jornal permaneceu sob intervenção do DIP até o final do Estado Novo (1945).

No período democrático entre 1946 e 1964, a censura centrou-se em questões morais e atuava em grande medida em função da pressão de setores conservadores da sociedade, preocupados especialmente com o cinema (decreto 20493), que experimentava uma popularização sem precedentes e começava a ousar em cenas e enredos.

O período de 1964 a 1985 foi sombrio para o exercício da liberdade de imprensa. A princípio, embora as lideranças políticas identificadas com o antigo governo e à esquerda dele tenham sido perseguidas, não houve maior repressão à imprensa, entretanto, em pouco tempo a censura ganhou força multiplicadora e se voltou para questões políticas. Era considerada subversivas e perigosas para a unidade nacional quaisquer manifestações que envolvessem algum tipo de crítica ao regime vigente, ao cotidiano nacional e às “tradições brasileiras”. O endurecimento do regime militar com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), no dia 13 de dezembro de 1968, reintroduziu a censura direta e indireta em níveis só comparáveis ao período mais duro do Estado Novo (1937-1945).

Parecer da censura recomendando a proibição da canção "Partido Alto", de Chico Buarque (Fonte Arquivo Nacional).

Em 1970 uma portaria formalizou esta prática em caráter mais duradouro e enfatizava a censura sobre publicações consideradas “subversivas” ou “obscenas.” Nesse período, censores foram colocados nas redações dos jornais, com uma lista de tópicos que não deveriam ser abordados, e até mesmo palavras que não poderiam ser faladas. A partir do governo Geisel a atuação da censura começou a arrefecer, mas não cessou, estendendo-se até mesmo além do governo Figueiredo.

Entretanto, graças a constituição de 1988, a proteção à liberdade de expressão e de pensamento foi firmada com tamanha amplitude. Afirma: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Apesar de transcorridos apenas 35 anos (1985-2020), este é o maior período da Era Republicana em que houve plena vigência das instituições democráticas, principalmente após a Constituição 1988. Com o retorno à democracia, conseguimos reaver os nossos direitos fundamentais, entre eles, o da liberdade de expressão que é vital para o próprio funcionamento da sociedade democrática, haja vista que a imprensa (escrita, televisiva ou virtual) tem o poder de fiscalizar o exercício da atividade pública, bem como supervisionar e denunciar abusos de autoridade e crimes que venham a ser praticados por membros de instituições públicas. Liberdade de expressão é um dos “pulmões” da democracia.

Fonte: mekstein.blogspot

A Democracia outorga liberdade, mas a mesma não significa permissividade ou licenciosidade, pela qual se pode abusar da liberdade para a prática do mal e de tudo o que é proibido, e sim, traduz-se pelo uso responsável dos direitos e o exercício consciente dos deveres. Nesse aspecto todos nós temos que nos policiarmos, principalmente em decorrência das redes sociais disponíveis nos tempos atuais (facebook, whatsApp, twitter, Messenger, etc). 

Já dizia o grande pernambucano Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Quem não se comunica se trumbica”. Se Chacrinha fosse vivo, faria um complemento: “porém sem fakenews”.         

Slogans que fizeram história na política brasileira

Fonte: Google

Em fevereiro de 1987 começou minha caminhada no Estado do Rio Grande do Norte. Na oportunidade o empresário Geraldo Melo tinha acabado de vencer as eleições para governador com o slogan “Novos tempo, Novos Ventos”. Normalmente os slogans usados nas campanhas eleitorais tornam-se gritos de guerra dos militantes partidários e, com certeza, não saem da cabeça de nenhum iluminado.

Embora a história da propaganda política no Brasil seja recente, a contribuição do slogan tem sido uma peça essencial de uma campanha política.

Os slogans eleitorais devem ser de fácil lembrança, com palavras simples. Rimas, trocadilhos e palavras bem humoradas ajudam no fator lembrança, como: “Não vote em branco, vote Negrão de Lima’ (Campanha no Rio de Janeiro para Governador); “Chega de malas, vote em Bouças”; “Não vote sentado, vote em Pé”; “Vote com prazer” (candidata stripper no Ceará); Vote em Difunto, porque político Bom é político Morto” (candidato chamado Difunto); “Seu voto? não chute... vote na Ruth?”; “Linguiça Neles” (candidato Linguiça de Cotia-SP). “Rouba mas faz” (Ademar de Barros/Paulo Maluf). Esse foi um slogan popular, que surgiu em épocas distintas para os dois candidatos.

Na eleição de 1920 para presidência da república, o candidato Artur Bernardes foi apelidado de “Seu Mé” pelos seus hábitos etílicos (imprimindo-lhe o rótulo de “Seu Mé”, para qualificar quem tomava aguardente em excesso).”

Alguns predicados foram exaltados no slogan do Brigadeiro Eduardo Gomes na eleição presidencial de 1945. “Vote no brigadeiro, ele é bonito e é solteiro”. Significando que ele poderia ser um bom presidente por estas razões.

Candidato Brigadeiro Eduardo Gomes

Nas eleições presidenciais de 1960, o candidato Jânio Quadro queria varrer a corrupção que assolava o país na época, então utilizou o slogan “Varre, varre vassourinha”. A vassoura era um objeto que a maioria da população possuía em sua própria casa, desta forma seria possível, com a autoridade moral do candidato, acabar com a corrupção no país.

A repetição deu ao “Meu nome é Enéas” (1989) a característica para que o candidato obtivesse com apenas 30 segundos diários, mais de um milhão de votos. O candidato Enéas repetia e interpretava este slogan, que beirava o ridículo, mas cujo resultado em termos de memorização e eficiência foi ótimo

Fonte: Capa da Veja

O slogan “Caçador de Marajás” foi usado pelo candidato Collor de Melo nas eleições presidenciais de 1989. Usando a imagem de que um “marajá” era um funcionário público que ganhava muito e não trabalhava direito, o então candidato, reprisando a mensagem da “vassoura” de Jânio, igualmente prometia limpar a corrupção do funcionalismo público no país.

“Sem medo de ser feliz”, slogan de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 1989. As pesquisas mostravam que a classe média tinha medo de votar em Lula para Presidente. Assim nasceu o slogan que combatia esse conceito.

Fonte: Centro Sérgio Buarque de Holanda

Fonte: Carta Maior

Na eleição presidencial de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro adotou o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Esse slogan é uma apropriação de brado da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército. Em artigo, o coronel Cláudio Tavares Casali, esclareceu que o lema foi muito questionado devido a semelhança com o brado nazista de “Alemanha acima de tudo” (no alemão, “Deutschland Über alles”) mas que a origem foi realmente o brado da Infantaria Paraquedista, surgido no final da década de 1960. 

Temos ainda slogans durante o regime militar (1970): “Brasil, ame-o ou deixe-o”; “Ninguém segura esse país”; “Este é um pais que vai pra frente”; “Eu te amo meu Brasil”.

Fonte: Propaganda Governo
Fonte: Jornal a Verdade

Não podemos esquecer do slogan “O Petróleo é nosso”. Segundo a médica e ativista política brasileira Maria Augusta Tibiriçá, a campanha do petróleo é nosso foi efetivamente, a maior e mais original contribuição de uma atitude nacionalista brasileira democrática. Talvez hoje esse slogan seja: “O petróleo ainda é nosso?”.

Pelo que evidenciamos, a criatividade não tem faltado na criação dos slogans. Infelizmente os candidatos não têm honrado com seus slogans, mas não devemos desanimar. Vamos continuar com a esperança que tenhamos Novos tempos, Novos ventos nesse nosso amado Brasil, afinal são apenas 132 anos de república.

Concluímos com a frase do Sir Winston Churchill: “O político precisa ter habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, semana que vem, mês que vem e no ano que vem. E a habilidade de explicar porque não aconteceu”.