22/06/2023

A Educação é a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão

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Durante cinco anos de minha vida de labuta, tive a oportunidade de ensinar em colégios Estaduais, da rede de ensino da Paraíba. Sem sombra de dúvida foram grandes experiências e desafios que tive, principalmente por ter ensinado a matéria de Física a muitos estudantes com pouco conhecimento em matemática. Mas isso não me desanimava, pelo contrário, era um incentivo de continuar com minha missão. Apesar da minha vida profissional paralela, a minha presença em sala de aula, além de obrigação, era mais uma forma de ensinar que a responsabilidade com os compromissos assumidos faz parte de nossa vida. Confesso que, nesse período de ensino, não me lembro quantas vezes fiquei ausente da sala de aula.  Era para mim uma grande alegria quando nos dias que tinha que cumprir minha missão, no ultimo horário, encontrava a sala cheia de alunos, mesmo quando nos primeiros horários os mesmos não tivessem tido aula.

Gostava sempre de dizer aos alunos que a Física era a ciência da natureza, pois se dedica a estudar a natureza e os elementos que a compõe, buscando compreender as interações exercidas entre as forças presentes no universo e o resultado produzido nessas relações.

Na minha opinião, pelo fato do professor ter o papel de formador de cidadãos, torna-se a mais importantes profissão para a sociedade.  Desde que o mundo é mundo, o professor é o único profissional que forma todas as outras profissões. Ninguém é médico, dentista, advogado, engenheiro, doutor, sem passar pelo carinho, pela atenção e pelo amor de um professor.

Segundo historiadores, na história da humanidade, os sufistas foram os primeiros professores profissionais do Ocidente. Neles está a origem da docência. Eles recebiam essa denominação porque percorriam as cidades, se deslocando de um lugar para o outro, Atuaram durante a Grécia Antiga, em um período em que os cidadãos estavam muito interessados em aspectos da vida pública e política. Por isso, seus ensinos, que envolviam a argumentação pública, retórica e oratória, encontrou tantos adeptos. É importante ressaltar que o trabalho realizado pelos sufistas não era gratuito. Todas as aulas eram concedidas mediante pagamento.

Em nosso amado Brasil, o jesuíta português Vicente Rijo, foi o primeiro professor. Nascido no ano de 1528 às margens do Rio Tejo, com o nome de Vicente Rodrigues, ingressou na Companhia de Jesus e fez parte do primeiro grupo de jesuítas enviados ao Brasil, chegando à Bahia em 29 de março de 1549. Na literatura educacional brasileira, poucas referências encontramos referente a figura de Vicente Rijo Rodrigues, primeiro mestre da escola do Brasil. Primeiro sacerdote da Companhia de Jesus a ser ordenado em terras brasileiras e igualmente primeiro a instalar uma escola jesuítica no continente americano.

Por este tríplice pioneirismo, cabe a Vicente Rodrigues honroso lugar de destaque, tanto na História da Educação Brasileira, quanto na própria História da Igreja, em nosso país.

As poucas referências a sua pessoa vamos encontrar em três obras do historiador Serafim Leite: Novas Páginas de História do Brasil, História da Companhia de Jesus no Brasil  e Monumenta Brasiliae.

Em 1553, chegava ao Brasil o padre José de Anchieta. Sua missão foi ensinar aos índios sobre o cristianismo. No entanto, ele também aprendeu o guarani, língua falada na época e que fazia parte da cultura indígena. Foi o primeiro dramaturgo, o primeiro gramático e o primeiro poeta nascido nas Ilhas Canárias. Foi o autor da primeira gramática da língua tupi, e um dos primeiros autores da literatura brasileira, para a qual compôs inúmeras peças teatrais e poemas de teor religioso e uma epopeia.

Existe uma profunda diferença, entre dar aula e ser professor. Dar aula é uma atividade, mas ser professor é muito mais do que isso. Ser professor é, muito antes de ser uma profissão, uma das formas mais genuínas do amor. Como já dizia o grande mestre Paulo Freire, “eu nunca poderia pensar em educação sem amor." Em outras palavras: Ser professor é mais que um trabalho, é um ato de amor. Além da transmissão de conhecimento, o professor desenvolve a função de educador, ou seja, educar para a vida, sempre buscando que o aluno reconheça o seu lugar no mundo.

Ser professor é partir do princípio de ter amor pela profissão e estar engajado em ser um semeador da transformação em parceria com o aluno, inseridos na leitura do mundo, cujos objetivos são: despertar a criatividade; desenvolver o senso crítico e incentivar o ato de reflexão através do conhecimento. Ser professor é posicionar-se perante o mundo, despir-se de títulos e honrarias e desenvolver relações horizontais, criando vínculos e identidade com seus educandos, problematizando o saber no contexto social, no qual o grupo está incluído, exercitando o uso público da razão, a mais inofensiva de todas as liberdades.

Estar em uma sala de aula para ensinar e educar requer criatividade, pois muitas vezes o conhecimento não basta. É preciso entreter os alunos, se comunicar com eles, compartilhar ideias e estimulá-los a pensar, imaginar e fugir do senso comum. Igualmente, é necessário buscar por atualizações, principalmente considerando às mudanças constantes que o mundo sofre e que precisam ser compartilhados em sala de aula.

Professor acaba por viver muitas vidas além da sua. Vivencia o crescimento, os obstáculos, as crises, os começos de namoro, as brigas entre amigos, problemas de casa, a conjuntivite alheia, as angústias, etc.

Paulo Freire dizia: “A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo”.

Lembramos que a primeira comemoração de um dia inteiramente dedicado ao profissional da educação, ocorreu em São Paulo, numa pequena escola da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, por iniciativa de alguns professores, em 15 de outubro de 1947. A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963.

Infelizmente, a profissão está ameaçada. Nossos jovens estão cada vez menos atraídos pela profissão de  professor. De cem alunos que entram no curso de pedagogia, apenas 51 se formam e só 27 tem interesse em trabalhar na área.

Não é fácil ser docente neste nosso país. Se fossem instaladas câmeras em algumas escolas, de Norte a Sul do país, para registrar o dia a dia de alunos e professores em sala de aula, o resultado mostraria, de forma inconteste, uma realidade que, em muitos casos, gostaríamos de não assistir. A indisciplina amedronta os próprios alunos e tem atingido, sobremaneira, muitos professores, obrigando-os, inclusive, a se afastarem do magistério. A violência, que tem tomado as ruas de nossas cidades, vem também se repetindo com mais intensidade dentro das nossas escolas.

Para a pedagoga e catedrática sueca, Inger Enkvist é impossível aprender bem sem disciplina. “Não se é bom professor apenas pelo que se sabe sobre a matéria, nem só porque sabe conquistar os alunos. É preciso combinar ambos os elementos: atrair os alunos para a matéria para ensiná-la adequadamente. É preciso recrutar professores excelentes, nos quais alunos, pais e autoridades possam confiar. E a menos que haja uma situação grave, devemos deixá-los trabalhar”, afirma a pedagoga.

É preciso que as autoridades públicas se conscientizem e reconheçam a importância de se reestruturar a rede pública de ensino, de oferecer condições dignas de trabalho e, principalmente, melhores salários para o corpo docente.

São anos de estudos e dedicação, para que finalmente, o professor consiga ocupar o espaço de mestre dentro de uma sala de aula. Mas muito mais do que estudar ou se preparar intelectualmente para ensinar e educar os alunos. É necessário ter vocação para enfrentar os melhores momentos e as piores dificuldades em realizar sua tarefa.

Etimologicamente, a palavra “mestre”, deriva do latim magister, que significa professor, ou seja, aquele que professa algo, que se dedica à arte de ensinar. Todavia, nos dias atuais, esse vocábulo tem apresentado outros inúmeros sentidos, tais como: alguém que concluiu um curso de mestrado em alguma área do saber e/ou que exerce a profissão de: mestre-escola, mestre de obras, mestre-cuca, mestre-sala, mestre de cerimônias etc.

Ser mestre não é apenas lecionar, transmitir aos alunos determinados conteúdos curriculares programáticos. É também saber caminhar com os educandos passo a passo, desvelando aos mesmos os segredos e percalços da caminhada da escola da vida e da vida na escola.

Sendo assim, pode-se dizer que mestre não é aquele que simplesmente apresenta um caminho novo, mas aquele que mostra como algo novo o jeito de caminhar. Por isso que o nosso Mestre dos Mestre foi Jesus Cristo. Seus ensinos, seus sermões ou discursos e suas aulas eram eloquentes e profundamente convincentes aos que o ouviam. Jesus era o Mestre perfeito. Além de Pastor, pregador, missionário e evangelista, exercia com excelência a missão de ensinar.

O ensino do Mestre Jesus, não teve nem tem paralelo em qualquer instrução, discurso ou filosofia dos homens. São ensinamentos para serem vividos, e não apenas pregados. Seu ensino era bem recebido pelas multidões, porque Ele vivia o que ensinava e ensinava o que vivia.

Jesus conseguia ensinar desde o mais simples dos homens até o mais culto e estudado. Escribas, fariseus, autoridades judaicas e romanas, homens e mulheres de alta posição, mendigos e as mais tenras criaturas eram alcançadas por ele, em meio a uma multidão eclética e diversificada.

O Mestre dos Mestres deixou-nos grandes exemplos de sua pedagogia: conhecia a matéria que ensinava (Lc 24:27); conhecia seus alunos (Mt 13; Lc 15:8-10; Jo 21); reconhecia o que havia de bom em seus alunos (Jo 1:47); ensinava as verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc 5:17-26; Jo 14:6). Jesus foi o Mestre dos Mestre numa escola onde muitos intelectuais se comportam como fracos alunos.

Enfim, ser um mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver.

Um bom mestre é valorizado e lembrado durante o tempo de escola, enquanto um excelente mestre jamais é esquecido, marcando para sempre a história dos seus alunos.

Não tenho dúvida que investir em educação é o principal caminho para transformar às pessoas, que construirão este país mais justo e igualitário em oportunidades.

Lembrando novamente Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda às pessoas. Pessoas transformam o mundo”.