25/03/2024

Pela obra se reconhece o autor

O escritor de Gênesis abre seu livro dizendo: “No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro (Gênesis 1,1- 5).

A criação do homem, versus a evolução do homem, é um dos maiores debates religiosos versus científicos. As religiões judaico-cristãs acreditam que Adão foi o primeiro homem na Terra e foi criado na forma atual do homem por Deus, e muitos cientistas acreditam que o primeiro homem na Terra, realmente evoluiu algumas centenas de milhares de anos antes.

Seguindo esse debate temos algumas perguntas que acompanham a humanidade há muito tempo, que são: De onde vim, para onde vou e o que estou fazendo aqui? Existe um Deus, um ser superior, um criador? Quem criou, quem nos criou?

Tem gente que não crê em Deus ou em qualquer "ser superior", é o que chamamos de “Ateu”. O ateísmo é uma "postura filosófica" dos ateus, que rejeita a ideia de existência de quaisquer deuses. Um ateu pode ter uma atitude ativa (quando defende de forma veemente a ausência de qualquer Deus) ou uma atitude passiva (quando nega apenas por não haver provas que demonstrem a existência da divindade).

Temos também os agnósticos que não negam a sua existência, mas tampouco podem confirmá-la. Os agnósticos, portanto, estão calcados na dúvida, pois não acreditam que podem afirmar a existência ou não existência de um deus. E temos os teístas que não seguem nenhuma religião, isto é, não participam de ritos, celebrações e rituais religiosos, mas eles acreditam na existência de um deus ou de deuses.

Uma das maiores religiões do mundo é o Budismo. A religião budista na sua forma clássica não é teísta, ou seja, não possui um Deus e não acredita em Deus. O Budismo é uma doutrina espiritual e filosófica criada pelo indiano Siddhartha Gautama, o Buda, que considera o poder da reencarnação humana, de animais e das plantas, e acredita que as escolhas para se chegar à libertação dos sofrimentos estão no autoconhecimento. Por isso o indivíduo deve ser bom a todos os seres.

A origem da vida é um tema bastante polêmico, e várias hipóteses tentam explicar como os primeiros seres vivos surgiram em nosso planeta. As principais são: a Biogênese, que segundo a mesma um ser vivo só pode ser originado a partir de um ser vivo preexistente; a Panspermia, cuja a hipótese é que a vida na Terra foi trazida do espaço por meteoros e cometas; da Evolução Química, cuja hipótese é que compostos simples presentes na Terra primitiva passaram por diversas reações e formaram compostos tão complexos ao ponto de conceber seres vivos; a Abiogênese que diz que alguns tipos de materiais possuem um tipo de “princípio ativo” capaz de gerar vida; e finalmente a Criacionista, que é a teoria de que a vida teria sido uma criação divina sendo embasada por escritos religiosos. As principais religiões que difundem suas versões criacionistas para explicar a origem dos seres na Terra são: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.

Para muitos físicos o conceito de Deus é uma necessidade teórica. Porque tudo tem que ter uma causa. Algo não pode ter origem do nada. Então você tem que ter sempre algo antes. A Teoria que tem sido aperfeiçoada é muito discutida sobre a origem do Universo, é a teoria do Big Bang. Ela sustenta que o Universo surgiu a partir da explosão de uma única partícula, o átomo primordial, causando um cataclismo cósmico inigualável a cerca de 13,8 bilhões de anos. De onde surgiram os elementos que provocaram o Big Bang? Então como vemos, a própria Ciência precisa de uma causa sempre. E aí o conceito de Deus entra como causa, causa primária de todas as coisas. Para os que não acreditam em Deus é mais fácil crer no acaso, que em um Ser Criador.

Tem um provérbio que diz: “Pela obra se reconhece o autor.” Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à humanidade.

A ciência requer prova, a crença religiosa requer fé. Os cientistas não tentam provar ou refutar a existência de Deus porque sabem que não existe um experimento que possa detectar Deus.

Deus, de diversas maneiras, pertence ao plano “invisível”, portanto, há um elemento de fé na crença. Não se trata, contudo, de uma fé cega e insensível.

Um dos fundadores da microbiologia, criador da pasteurização, Louis Pasteur (1822-1895), disse a seguinte frase: “Quanto mais eu estudo a natureza, mais me maravilho com a obra do Criador, a ciência me aproxima de Deus”

O universo não é somente funcional; ele é lindo! É difícil admirar as cachoeiras, lagos, montanhas, florestas, orlas marítimas, cânions e não acreditar que Deus existe. Por isso que o maçom denomina o Criador de Grande Arquiteto do Universo

Os sinais de Deus se manifestam em todas as ciências para que o indivíduo pensante os contemple. Basta olharmos a complexidade dos seres humanos e dos animais, com tantos detalhes e tanta perfeição, os diferentes tipos de solos, rochas e minerais, de Bacias hidrográficas espalhadas pelo mundo inteiro e os oceanos que removem carbono do ar, regulam o clima da Terra, fornecem alimentos, empregos e fornecem oxigênio, da variedade de vegetais que se adaptam em diferentes tipos de terras e em climas diversos.

Não há como explicar a nossa beleza e existência, a perfeição do ser humano, e de todos os seres belos e encantadores como o cosmo, as estrelas, as flores, os pássaros, as crianças, e toda a ordem da natureza sem Deus.

Tentar compreender e explicar Deus é como tentar enxergar a olho nu e descrever, toda a grandeza das galáxias do universo. Impossível! Deus é imensurável!

Santo Agostinho disse que “Ele não pode e não deve ser compreendido, mas adorado”. Se nós o compreendêssemos ele seria um Deus falso, muito pequeno, limitado, criatura e não criador. Um deus que cabe na nossa cabeça não é Deus.

Quanto mais tivermos dificuldade para entendê-Lo, tanto mais podemos estar certos de estar crendo no Deus verdadeiro, que não pode ser apreendido pela nossa humanidade. Caso contrário Ele não seria Deus.

Deus é Infinito em tudo: onisciente (sabe tudo), onipresente (está em toda parte); onipotente (pode tudo). Ele está fora do tempo e do espaço; para Ele não existe ontem e amanhã; Ele é “um instante que não passa!”, disse Karl Ranner (sacerdote católico jesuíta de origem germânica).

Na obra ‘O Livre Arbitro’ de Santo Agostinho, livro II, capítulo 1 a 14, fala sobre a prova da existência de Deus. Para chegar à prova da existência de Deus, ele demonstrou que elas são:  A Razão, porque é o que há de melhor no homem, ela diferencia o homem de todos os outros seres do mundo, principalmente dos animais; Os Números, porque possuem uma verdade universal, inalterável e imutável; A Sabedoria, porque é com ela que o homem é capaz de discernir o que é bom e o que é ruim; E a Fé, porque é através dela que ele chegou a verdade, que é Deus. O ponto principal do pensamento de Santo Agostinho é a fé, porque foi através dela que ele chegou à verdade, que procurava antes de converter-se ao cristianismo.

E se acreditamos em Deus, não importa o que os cientistas descubram sobre o Universo — qualquer cosmos pode ser considerado consistente com Deus.

Quanto as três perguntas: De onde viemos, para onde vamos e o que estamos fazendo aqui?

Viemos de Deus, ele é o criador de todas as coisas. Essas três perguntas não se encontram em teorias bem construídas, mas em uma pessoa: Jesus Cristo. Quando Ele estava para partir desse mundo, através de sua morte e ressurreição, Jesus se reuniu com seus discípulos e disse: “Não tenham medo, não fiquem perturbados nem apavorados. Eu vou agora, mas vocês não podem ir comigo, mas um dia vocês estarão comigo para sempre, pois vocês sabem o caminho”.  Nesse momento, um dos discípulos o interrompe e pergunta: “não sabemos para onde você vai, como saberemos o caminho?” A incompreensão do momento presente e a preocupação com o futuro fez com que os discípulos questionassem suas origens, seu futuro e sua missão. É nesse contexto que Jesus, de maneira simples e objetiva, apresenta a resposta para as três perguntas. Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.

O que estamos fazendo aqui? Nós estamos aqui para amadurecer diante de Deus, aprendendo a romper com as estruturas falidas deste mundo e se aproximar dos valores do reino de Deus, os valores e a maneira de viver ensinada por Jesus. Ele é o caminho. A vida com Deus não é um ponto de chegada somente. Mais do que isso, é uma estrada que precisa ser trilhada, obstáculos precisam ser superados, lições precisam ser aprendidas e você precisa amadurecer até parecer-se mais e mais com Cristo.

Quem criou Deus? Essa é uma pergunta que considera já de início que Deus foi criado. Que é um grande equívoco, considerando toda a complexidade do Universo criado. Daí a distinção fundamental que a Bíblia faz de todos os deuses das demais religiões e mitos. Deus é o Supremo Criador. Ele sempre existiu, nunca foi criado: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) Todas as coisas foram feitas por ele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. - João 1:1, 3.

"Pouca ciência afasta o homem de Deus, muita ciência a Deus conduz" (Francis - político, filósofo empirista, cientista, ensaísta inglês).

S.M.J

15/12/2023

Reconhecemos o que Jesus fez por nós?

Desde dos tempo antigos que os humanos tentam prever o futuro.  Os chineses tinham o I Ching que surgiu antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.). Traduzido como Livro das Mutações ou Clássico das Mutações, é um texto clássico chinês, composto de várias camadas sobrepostas ao longo do tempo, é considerado um dos mais antigos e importantes livros de filosofia chinesa. O I Ching foi objeto de comentários de estudiosos e a base para a prática de adivinhação por séculos no Oriente, tendo também um papel influente no entendimento do pensamento oriental pelo Ocidente. Todavia, os oráculos gregos preferiam procurar respostas nas entranhas de animais.

Procurar saber o futuro através dos búzios, das cartas, a leitura de mãos, bola de cristal, horóscopo, etc, ainda faz parte de grande parte da população. Respeito a opinião de todos, que procuram esses caminhos para saber do futuro mas entendo que o futuro para nós é uma construção. É muito relativa essa coisa de prever o futuro para nós. Porque o futuro está em construção hoje. Entre as suas diversas frases famosas, o escritor Antoine de Saint Exupéry (1900-1944) o autor de um clássico da literatura “O Pequeno Príncipe”, escrito em 1943, nos diz: “O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído e o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o destino”.

Este tema me fez lembrar de um personagem da Escolinha do Professor Raimundo  - Seu Joselino Barbacena – quando ele dizia “Quando eu era criança pequena lá em Barbacena...”. Pois bem, na minha adolescência, descobri na casa de meus avós paternos o livro “As Profecias de Nostradamus”. Confesso que li apenas algumas parte do livro, mas na época me impressionou muito. O livro conta a história e profecias do francês Michel de Notre-Dame que nasceu em 1503. Ao mudar seu sobrenome para Nostradamus (forma latinizada de Nostredame, que caía bem numa época em que a sabedoria da Antiguidade era redescoberta) e escrever centenas de versos enigmáticos que chamava de profecias, ele caiu nas graças dos poderosos de seu tempo, e ainda cativa quase todo mundo que tenha uma quedinha pelo sobrenatural.

Segundo o livro, ele tinha suas visões em seu quarto, numa bacia de água, fazendo previsões, por exemplo, sobre o fim dos tempos, bem como a previsão de três anticristos encarnados, em seres humanos. Previu que um eclipse do sol sucederá o mais escuro e tenebroso verão que jamais existiu desde a criação e a morte de Cristo. Esse eclipse estava prevista para 11 de outubro de 1999 (fato não acontecido). Até hoje ninguém conseguiu prever um acontecimento com base em sua obra. O que existe é a correlação após o fato.

O título de "profeta", aplicado a Nostradamus, conferiu-lhe, com o passar dos séculos, uma aura de santidade e credibilidade indevidas. Identificou-o erroneamente com os profetas bíblicos.

Importante esclarecer que os profetas bíblicos não eram meros prognosticadores do futuro. Suas mensagens não se resumiam em falar o que ia acontecer. A inspiração divina em seus lábios, tinha por objetivo revelar os planos de Deus e manifestar a vontade do Senhor. Anunciavam todo o propósito de Deus, relacionando-os com o futuro, somente quando assim era necessário.

Existem cerca de trezentas profecias que se cumpriram literalmente na vida de Jesus, como o Messias de Israel. Entre essas predições, muitas delas envolviam lugares e acontecimentos exatos, como a cidade onde nasceu, a forma como falou, a forma como morreu e o resultado de sua obra. Não há nada escondido, não é necessário tecer conjecturas e suposições arbitrárias para "interpretá-las".

A profecia, entendida como a revelação da vontade inerente de Deus para a sua igreja, cessou com os profetas do Antigo Testamento e com os apóstolos do Novo Testamento. A primeira pessoa a ser identificada como profeta na Bíblia foi Abraão (Gênesis 20:7). O último profeta da Bíblia, na tradição profética de Israel, foi João Batista. A prova de que João Batista encerrou a escola profética de Israel, foi dada pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Foi Jesus quem falou que a Lei e os Profetas duraram até João, e desde então é anunciado o Reino de Deus (Lucas 16:16).

Quando alguém diz ser profeta, devemos analisar o que diz à luz da Bíblia (1 Tessalonicenses 5:20-22). Nem todo que diz que é profeta vem de Deus. Também existem falsos profetas, que causam problemas.

O profeta de Deus não procura sua própria glória nem usa o dom de profecia para se tornar poderoso ou influente, não inventa novas doutrinas nem distorce o ensino da Bíblia, profetiza para ajudar outras pessoas, não para dar espetáculo nem para parecer importante, e se profetiza sobre o futuro, vai acontecer o que diz, senão não é profeta de Deus.

Por diversas vezes, humanos que se julgavam “profetas”, fizeram previsões sobre o fim do mundo. Por exemplo, São Gregório de Tours calculou que o fim do mundo aconteceria entre 799 e 806. Martim Lutero acreditava que o mundo acabaria até 1600. A peste negra (1346-1351) foi interpretada como um sinal do fim dos tempos.

Bem, quando ao fim do mundo e a volta de Jesus, melhor que acreditemos como está escrito nos evangelhos, por exemplo: "Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. (Mateus 24:36).  Enquanto isso, temos que continuar, procurando comemorar com muita alegria seu nascimento, viver seus ensinamentos e refletir sobre o sangue de Cristo, derramado na cruz do Calvário para cumprir sua missão neste mundo, que ele revolucionou com suas ideias e ações.

Infelizmente, muitos cristãos só se preocupam em celebrar o nascimento de Jesus (acredita-se que a celebração do nascimento de Jesus, surgiu entre os séculos III d.C. e IV d.C), enquanto isso, no período conhecido por “Quaresma”, que nos lembra a entrada de Jesus Cristo a Jerusalém e posteriormente a sua crucificação, torna-se para muitos, um grande feriadão.

Algumas pessoas gostam de fazer o seguinte questionamento: “Se Jesus nascesse hoje, aqui no Brasil ou em qualquer periferia do mundo, qual seria a reação das pessoas com suas atitudes? Possivelmente, seria xingado e atacado nas redes sociais como anarquista, manifestante, socialista revolucionário ou falso profeta. E se barrasse algum apedrejamentos, diriam que eram ligada a alguma ONGS defensora dos direitos humanos.

Se voltarmos o tempo, lembraremos que Jesus nasceu em Belém, em um estábulo, envolvido em panos e colocado numa manjedoura, porque não havia lugar para ele e seus pais em uma hospedaria. Isso nos mostra que Jesus não veio de uma família rica ou importante da época. Grande parte do povo do qual Jesus fazia parte vivia exatamente nessa condição. Eram pessoas, em sua maioria, destituídas de poder político e praticamente sem posse ou renda. Situação parecida a de muitos brasileiros nos dias de hoje

Desde que nasceu, Jesus foi perseguido pelos governantes. Conforme o evangelista Mateus (2:13-23), o governo sentiu-se ameaçado diante do menino nazareno, organizou um elaborado plano para matá-lo, de forma a eliminar uma possível ameaça. Na verdade, Jesus nasceu e viveu em meio a violência estrutural promovida pelo Império Romano.

Ele foi o primeiro a lutar pelos direitos humanos e a dizer para separarmos a política da religião. Suas palavras eram contra a injustiça e independente de qualquer linha ideológica. Jesus dedicou toda sua vida para defender os humildes como ele. Defendia e curava os miseráveis que circulavam pelas ruas da Galileia. E enfrentou os enganadores que lucravam com a fé do povo.

Os quatro evangelhos, escritos em tempos diferentes para comunidades distintas, nos atingem ainda hoje por retratar os desafios de Jesus de Nazaré, numa sociedade mergulhada em tensões e disputas de poder. Uma sociedade massacrada pela ocupação romana, que teve o apoio dos religiosos para manutenção das relações de exclusão e violência.

Jesus não morreu de velhice, de doença, tão pouco foi atropelado por um camelo nas esquinas de Jerusalém. Foi crucificado até a morte, sem direito a julgamento algum. Foi vítima de torturadores.

Jesus participou intensamente da plataforma de redenção dos pobres. Ele jamais se apartou das pessoas que se esperaria que ele evitasse. Ele permaneceu amigo dos marginalizados, da sociedade e tocou nos intocáveis e tidos como indesejáveis.

Para muitos cristãos, protestar é visto como algo errado ou mesmo pecaminoso. Imaginar Cristo, como um manifestante é visto como um ato de blasfêmia. Protestar é a antítese de ser apático, cúmplice, insensível e passivo. Portanto, os cristãos devem se consolar com o fato de que Jesus – o filho de Deus – não era  apático, insensível nem passivo.

Ele incomodou tanto que acabou sendo preso, por perturbar o sistema à sua volta. Jesus criticou os fariseus e os chamou de hipócritas por darem o dízimo meticulosamente, mas falharem em aplicar o princípio mais profundo de justiça e igualdade. Nas estradas, nos montes ou mesmo no Templo, Sua voz ecoou em favor dos esquecidos, das crianças, das mulheres e dos marginalizados.

Jesus morreu porque confrontou o Templo, um sistema de dominação e exploração dos pobres. Foi assassinado pelos interesses da casta sacerdotal no poder, aterrorizada pelo medo de perder o domínio sobre o povo e, sobretudo, de ver desaparecer a riqueza acumulada às custas da fé das pessoas.

O crime pelo qual Jesus foi eliminado foi ter apresentado um Deus completamente diferente daquele imposto pelos líderes religiosos, um Pai que nunca pede a seus filhos, mas que sempre dá.

“Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6,37) é, de fato, o chocante anúncio de Jesus: apenas duas palavras que, no entanto, ameaçaram desestabilizar toda a economia de Jerusalém. Para obter o perdão de Deus, não havia mais necessidade de ir ao templo levando ofertas, nem de submeter-se a ritos de purificação, nada disso. Não, bastava perdoar, veem para ser imediatamente perdoado. Quando os escribas, a mais alta autoridade teológica no país, considerando o ensinamento infalível da Lei, vêem Jesus perdoar os pecados a um paralítico, imediatamente sentenciam: “Este homem está blasfemando!” (Mt 9,3). E os blasfemos devem ser mortos imediatamente (Lv 24,11-14).

A indignação dos escribas pode parecer uma defesa da ortodoxia, mas na verdade, visa salvaguardar a economia. Jesus Cristo não era um perigo para a teologia (no judaísmo havia muitas correntes espirituais que competiam entre si, mas que eram toleradas pelas autoridades), mas para a economia.

As lideranças político-religiosas dos judeus não sabiam o que fazer com Jesus, como também não sabiam o que fazer com outras tantas formas de inconformismo dos judeus, de Zelotas a Essênios, que não mediam consequências para acabar com a dominação romana e que levariam à destruição de Jerusalém e a devastação de sua nação.

Importante ressaltar, que os judeus nunca reconheceram Jesus como o Seu salvador e não o receberam como deveriam. Em João 1 está escrito: Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu.

Os judeus, esperavam um Messias poderoso e político, não um filho de carpinteiro que mal tinha onde dormir. Por isso se apegavam a qualquer figura que demonstrasse liderança e poder de convencimento. Olhavam para Jesus, como um profeta que fundou um movimento responsável, por um legado de violência e tentativa de conversões forçadas de seu povo durante um período longo e cinzento da história. Infelizmente, até hoje existem judeus que não reconhecem Jesus como Messias prometido. Eles ainda aguardam um Messias que não virá, pois já veio. Naquele tempo, Jesus já dizia: "Só em sua própria terra, entre seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não tem honra". E não pôde fazer ali nenhum milagre, exceto impor as mãos sobre alguns doentes e curá-los (Marcos 6:4,5).

Importante ressaltar, que todos os milagres de Jesus têm um significado espiritual, pois indicam uma realidade que não podemos ver, muito maior que a qual podemos ver e, com isto, se abre o plano da redenção da humanidade. Na Bíblia, há registro de 35 milagres que Jesus fez. Os maiores objetivos dos milagres de Jesus eram: glorificar o Pai, cumprir e provar a palavra dita e a revelação de Jesus como Messias, Filho de Deus. Os milagres de Jesus não indicavam que Ele seria um líder terreno, que iria libertar a nação da opressão estrangeira. Seus milagres indicavam que Ele, era o único que poderia libertar o seu povo da condenação do pecado, satisfazendo a justiça de Deus através de seu auto sacrifício expiatório.

É impossível, ao olharmos para o crucifixo, com aquele corpo que foi torturado, ferido, riscado de correntes e coágulos de sangue expostos, aqueles pregos que perfuram a carne, aqueles espinhos presos na cabeça de Jesus, não nos sentirmos culpados. No evangelho de Marcos 14, 24, o sangue é derramado em “favor de muitos” e, em Lucas 22,20, é “derramado em favor de vós”. Será que em pleno Século XXI, reconhecemos o que Jesus fez por nós? Será que se Jesus nascesse e vivesse nos dias de hoje o reconheceríamos? Acredito, o contexto da sua morte não seria diferente, até porque os líderes ainda possuem extrema dificuldade em acolher os mais excluídos da sociedade e a sociedade não muda.

Mas, sempre é tempo de reflexão, principalmente no período natalino.  É a época para gente celebrar o quão maravilhoso e generoso Deus foi, por mandar o seu filho para a Terra para nos ensinar tantas coisas. Época para renovação da fé e da esperança e para união das famílias. Famílias que quase nunca conseguem se ver, mas fazem um esforço extra para estar juntos durante esse dia específico.

Celebrar o Natal nesses tempos de grandes ataques de escuridão simbolizados pela discórdia, pela corrupção, falsos messias, pelo confronto de ideologias política, pelo racismo, pela bandidagem, pelas guerras é um grande desafio para nossas famílias. Devemos portanto, pedir todos os dias que o Espírito Santo ilumine os nossos corações, para pue possamos reconhecer no Menino Jesus, nascido em Belém da Virgem Maria, a salvação oferecida por Deus a cada um de nós, a todo ser humano e a todos os povos da terra.

Devemos lembrar que Jesus veio ao mundo para tirar os pecados da humanidade, por isso, Ele morreu na cruz, para arrancar o pecado do mundo, arrancar as ervas daninhas que matam o jardim da nossa alma.

Concluímos, lembrando de uma citação do Papa Francisco: “Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, não se ouve a voz de Deus, não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem”.

Feliz Natal e Um Próspero Ano Novo!

19/03/2023

“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”

De todos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, acredito que a fé e o perdão (principalmente por assassinato de entes queridos), devam ser os mais difíceis de se praticar. Todavia, possivelmente para todos nós humanos, o perdão não é uma tarefa fácil. Nesse momento, me veio na memória uma frase de um amigo no dia do assassinato do seu filho: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Apenas substitui o termo chulo. O ditado popular quer dizer que o sofrimento alheio não dói na gente, que é fácil falar quando o problema é com outra pessoa.

No caso específico de ter “Fé”, entendo que todos tenhamos, nem que seja do tamanho de um grão de mostarda. Sobre esse aspecto, compartilho com o que o escritor potiguar Antônio Barnabé Filho, escreveu no seu livro “Buscai o Espírito Santo”: “Nossa fé pode ser comparada à construção de uma torre de concreto: começa o alicerce e, aos poucos e lentamente, vão crescendo tijolo a tijolo. A diferença é que na construção da fé parece que venta muito ou falta matéria-prima”.

Não podemos esquecer que ter fé é crer firmemente em algo, sem ter em mãos nenhuma evidência de que seja verdadeiro ou real o objeto da crença.  É a energia que alimenta todas as crenças e religiões do planeta, desde os primórdios da humanidade. Jesus, em seus ensinamentos, teóricos e práticos, demonstrou integralmente a importância da fé, e o seu potencial inquestionável.

Os próprios apóstolos, seguidores de Jesus, sofriam com a falta de fé. Lembrando do Evangelho de Mateus (8, 23-26): “E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram; E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo. E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! que perecemos. E ele disse-lhes: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma grande bonança”.

Não temos como não exaltar a grandeza da fé do povo do sertão nordestino. Seja na abundância da chuva ou na escassez da seca, o sertanejo não muda sua fé. A fé, por estas bandas, resiste a muito mais do que pequenas provações diárias: Resiste à fome, à sede, à tristeza de ver o rebanho morto. Mas, provavelmente, boa parte do Brasil tem ao menos uma gota do sangue nordestino. Sangue devoto.

Quanto ao perdão, repito, não é tarefa fácil e nunca foi. Por isso começamos escrever sobre o perdão lembrando que nós erramos o tempo inteiro, mas não aceitamos que errem conosco. Na verdade, fazemos dos erros dos outros uma justificativa para os nossos próprios.

Desde pequeno, temos vivido sistematicamente sob o princípio de que é preciso ser perfeito e nunca falhar, porque quem falha merece ser punido, repreendido e condenado, mas isso é exatamente o que não queremos para nós mesmos.

Já ouvi inúmeras histórias, de como fulano ou sicrano não perdoariam a ação dos outros. Mas sempre me pergunto, será que há algo que é inerentemente imperdoável? Em muitas circunstâncias, aquilo que tem um peso muito grande para você, pode ser pequeno para o outro e, às vezes, até insignificante. Traição, morte, dor, dor, injustiça, incompetência, falta de ética, perda de dinheiro, mentira, crueldade? Todo mundo tem uma lista negra. Muitas pessoas assumem claramente as suas dores e mágoas, abraçam seus ressentimentos e terminam reiterando sua incapacidade de oferecer perdão aos seus algozes. Tem pessoas que cultivam mágoas como alguém cultiva um jardim. “Não tenho como perdoar o que ele me fez”; “Ninguém nunca passou pelo o que eu passei”; “Eu quero perdoar, mas não consigo”; “Ele foi muito cruel comigo, então, tem que pagar por isso”; “Passe o tempo que passar, eu nunca vou me esquecer do que aconteceu”. Um verdadeiro círculo vicioso: relembrar a mágoa, ressentir a dor e voltar ao desejo de vingança.

Relembramos do atentado que São João Paulo II sofreu em 13 de maio de 1981, e poucos dias depois mostrou ao mundo a força do perdão. Quatro dias após o atentado, João Paulo II, por meio de uma gravação feita no leito do hospital, com voz fraca, disse: “Rezo pelo irmão que me atirou, a quem eu sinceramente perdoei. Unidos a Cristo, Sacerdote e Vítima, eu ofereço meus sofrimentos pela Igreja e pelo mundo”. Em 27 de dezembro de 1983, o Papa João Paulo II, foi até a prisão Rebíbia de Roma, entrou na cela de seu agressor, o jovem Mehmet Ali Agca, e o abraçou.

Não podemos esquecer das famílias judias que foram capazes de perdoar seus algozes nazistas, Historias iguais a essa se multiplicam pelo mundo afora e inadvertidamente nos levam a pensar que, de fato, oferecer perdão é um ato sobre-humano. É preciso ser uma espécie de super-humano para conseguir perdoar de verdade. E que perdão tem a ver com bondade ou superioridade. E que essas pessoas devem ser muito elevadas espiritualmente para não mais desejarem vingança ou justiça por tudo o que lhes aconteceu.

Todavia, perdoar não tem a ver como ser (ou não) bondoso; com ser (ou não) superior. Perdoar é, na realidade, uma questão de inteligência. No entanto, não como medida de proteção contra as pessoas e acontecimentos que foram “culpados” por seu sofrimento, mas por oferecer a você uma possibilidade única de conquistar uma vida mais leve, plena, saudável, feliz e bem-sucedida – pessoal e profissional.

Perdoar, diferentemente do que pode parecer à primeira vista, não é esquecer, mas deixar de se importar, mudar o foco dos seus pensamentos e ações. O perdão faz parte de um processo que, muitas vezes, é doloroso, mas extremamente necessário para a nossa libertação. É como mexer em uma ferida. Resistimos em mexer nela, em abrir e passar o remédio necessário. Mas é dessa forma que ela irá cicatrizar a não doer mais. Expor o ferimento da alma e tratá-lo, não é um ato confortável, mas crucial para que possamos alcançar a cura.

Quando perdoamos alguém, nós nos tornamos livres do passado e de mágoas que nos fazem mal. A falta de perdão desperta sentimentos pecaminosos em nosso coração contra quem fez algo contra nós. Quando perdoamos, somos livres destes pensamentos maus. Com a mente liberta, fica mais fácil nos aproximarmos de Deus e fica mais fácil também nos aproximarmos das pessoas

Estudos já demonstraram que, cada vez que nos recordamos dos acontecimentos que elegemos como imperdoáveis, nosso organismo reage quimicamente a essa lembrança como na primeira vez, aumentando a pressão arterial e os níveis de estresse. Em longo prazo, esse processo pode estar associado ao surgimento de doenças cardiovasculares, além de diabetes e câncer.

De acordo com pesquisadores da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, as pessoas tendem a se sentir menos hostis, irritadas e chateadas quando param de se vingar e perdoam, o que melhora a qualidade do sono, a tensão, a raiva, a fadiga e a depressão.

É importante separar o joio do trigo. Por exemplo. Esposas que sofrem algum tipo de violência doméstica. Qualquer mulher nessa situação deve recolher imediatamente às medidas legais para garantir que não mais seja vitimada por seu parceiro. No entanto, se possível, ela deve fazê-lo não por raiva ou vingança, mas porque foi efetivamente lesada e lesionada, e tem, em seu favor, uma legislação toda concebida para protegê-la.

As vítimas de violência doméstica também podem (se assim quiserem) perdoar seus parceiros a partir da compaixão, mas que isso não significa, necessariamente, retomar a relação. O que o perdão faz é nos dar a capacidade de deixar o passado para trás. Quando perdoamos, recuperamos nosso bem-estar, nossa autoestima, nosso amor próprio e nossa satisfação pessoal independentemente de fatos e pessoas. Passamos a viver uma vida mais leve, feliz e satisfeita, mesmo com e apesar de tudo o que nos aconteceu. E, principalmente, encontramos uma paz interior duradoura e indescritível.

O perdão é uma ação que requer prática constante. Ele não acontece como num passe de mágica. É preciso praticá-lo todos os dias. Ninguém acorda um belo dia e dirá: “Agora perdoei”. Trata-se de um caminho, uma escolha que só você pode tomar para se libertar do passado e construir um presente e um futuro plenos de amor e compaixão.

Perdoar não significa esquecer ou mesmo acolher de volta aqueles que o magoaram. Significa apenas seguir em frente, sem ressentir ou se vingar pela sua dor. A dor ficou no passado e, no presente positivo que você escolheu construir, não há mais espaço para que ela ecoe!

O perdão é importante para a vida espiritual porque envolve o amor. Quem não perdoa, atrofia a sua capacidade de amar. O perdão é uma das coisas mais libertadoras que alguém pode fazer. A falta de perdão é como uma pedra amarrada na perna de alguém, que a arrasta para o fundo do mar.

Segundo o Evangelho Mateus (18:21-22), Pedro, aproximando-se, de Jesus perguntou-lhe: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.

Concluímos, reforçando que o perdão necessariamente não nos fará esquecer o que passou (não! o perdão não é Alzheimer!); apenas nos permitirá relembrar aquela história sem ressenti-la, ou seja, sem senti-la novamente.

Acredito que tudo que acontece em nossa vida sempre merece uma reflexão. Que esse artigo nos permita uma reflexão sobre o perdão e que possa ajudar a espalhar dentro de nós mesmos e entre nossos amigos, familiares, vizinhos e todos os seres humanos na Terra, o PERDÃO.

18/12/2022

O Homem que abalou os alicerces da história humana através de sua própria história

Todos sabemos que o mês de dezembro é um mês doce e cheio de significado para as nossas vidas ou melhor, para toda humanidade cristã, pois comemoramos no dia 25 de dezembro o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

É tempo de repensar valores, de ponderar sobre a vida e tudo que a cerca. É momento de deixar nascer essa criança pura, inocente e cheia de esperança que mora dentro de nossos corações.

É tempo de refletir sobre o significado de comemorar o nascimento de Jesus, o que Ele significa para o ser humano e que Ele veio para nos salvar dos pecados e nos dá a vida eterna com Deus.

Fazendo um pequeno retrospecto, podemos dizer que a história de Jesus Cristo teve particularidades em toda a sua trajetória: do nascimento à morte. Ele abalou os alicerces da história humana através de sua própria história. Seu viver e seus pensamentos atravessaram gerações, varreram os séculos, embora de nunca tenha procurado status social ou político.

Ele cresceu sem se submeter à cultura clássica do seu tempo. Quando abriu a boca, produziu pensamentos de inconfundível complexidade. Tinha pouco mais de trinta anos, mas perturbou profundamente a inteligência dos homens mais cultos de sua época.

Sua vida sempre foi árida, sem nenhum privilégio econômico ou social. Conheceu intimamente as dores da existência. Contudo, em vez de se preocupar com as suas próprias dores e querer que o mundo gravitasse em torno das suas necessidades, ele se preocupava com as dores e necessidades alheias.

Teve um nascimento indigno, e os animais foram suas primeiras visitas. Provavelmente, até as crianças mais pobres têm um nascimento mais digno do que o dele. Quando tinha dois anos, deveria estar brincando, mas já enfrentava grandes problemas. Era ameaçado de morte por Herodes. Poucas vezes uma criança frágil e inocente foi tão perseguida como ele. Fugiu com seus pais para o Egito, fez longas jornadas desconfortáveis, a pé ou no lombo de animais.

Com apenas 12 anos de idade, os doutores da lei, admirados, sentavam ao seu redor para ouvir sua sabedoria (Lucas 2, 39-44). Seus discípulos ficavam continuamente atônicos com sua inteligência, enquanto seus opositores emudeciam diante do seu conhecimento e faziam “plantão” para ouvir suas palavras (Mateus 22:22). Tornou-se um carpinteiro, tendo de labutar para sobreviver. 

A inteligência do carpinteiro de Nazaré era tão impressionante que ele discursava sobre temas que só seriam abordados pela ciência 19 séculos depois, com o surgimento da psiquiatria e da psicologia. Cristo se adiantou no tempo e discorreu sobre a mais insidiosa das doenças psíquicas, a ansiedade (Mateus 6, 25-34).

Cristo tanto prevenia a ansiedade como discursava sobre o prazer de viver. Dizia: “Olhai os lírios dos campos” (Mateus 6:28). Queria que as pessoas fossem alegres, inteligentes, mas simples. Porém, assim como seus discípulos, nós não sabemos comtemplar os lírios dos campos, ou seja, não sabemos extrair o prazer dos pequenos momentos da vida. A ansiedade estanca esse prazer.

Ao analisar a história de Jesus, fica claro que os invernos existenciais pelos quais ele passava não o destruíam, pelo contrário, geravam nele uma bela primavera existencial, manifesta em sua sabedoria, amabilidade, tranquilidade, tolerância.

Foi incompreendido, rejeitado, zombaram dele, cuspiram em seu rosto. Foi ferido física e psicologicamente. Porém, apesar de tantas misérias e sofrimentos, não desenvolveu uma emoção agressiva e ansiosa; pelo contrário, exalava tranquilidade diante das mais tensas situações e ainda tinha fôlego para discursar sobre o amor no seu mais poético sentido.

Jesus não tinha preconceitos. Falava com as pessoas em qualquer ambiente. Não perdia oportunidade para conduzir o ser humano a se interiorizar. Era de tal forma contra a discriminação que fazia com que os moralistas da sua época tivessem calafrios diante das suas palavras. Teve a coragem de dizer aos fariseus que os corruptos coletores de impostos e as meretrizes os precederiam em seu reino (Mateus 21:31). Os coletores de impostos eram odiados e as prostitutas eram apedrejadas na época. Todavia, o plano transcendental de Cristo arrebata a psicologia humanista. Nele alguém considerou tão dignas pessoas tão indignas. Nunca alguém exaltou tanto pessoas tão desprezadas. Nunca alguém incluiu tanto pessoas tão excluídas.

Quando queria demonstrar que era contra qualquer tipo de discriminação, economizava no discurso e tinha atitudes inesperadas. Se queria demonstrar que era contra a discriminação por razões estéticas ou doenças contagiosas, ia fazer suas refeições na casa de Simão, o leproso. Quando queria demonstrar que era contra a discriminação das mulheres, tinha complacência e gestos amorosos para com elas diante das pessoas mais rígidas. Se era contra a discriminação social, ia jantar na casa de coletores de impostos, que eram a “raça” mais odiada pela cúpula judaica.

Sua delicadeza para incluir e cuidar das pessoas excluídas socialmente representava um belo retrato de sua elevada humildade. Era tão sociável que participava continuamente de festas. Participou da festa em Caná da Galileia, da festa da Páscoa, do tabernáculo e de muitas outras.

A proposta de Cristo do perdão é libertadora. A maior vingança contra um inimigo é perdoá-lo. Ao perdoá-lo, nos livramos dele, pois ele deixa de ser nosso inimigo. O maior favor que fazemos a um inimigo é odiá-lo ou ficarmos magoados com ele. O ódio e a mágoa cultivam os inimigos dentro de nós.

Cristo viveu a arte do perdão, Perdoou quando rejeitado, quando ofendido, quando incompreendido, quando ferido, quando zombada, quando injustiçado; perdoou até quando estava morrendo na cruz. No ápice da sua dor, disse: “Pai, perdoai-os pois eles não sabem o que fazem...” (Lucas 23:24). Esse procedimento tornou a trajetória de Cristo livre e suave.

A prática do perdão de Cristo era fruto da sua capacidade incontida de amar. Com essa prática, todos tinham contínuas oportunidades de revisar a sua história e crescer diante dos seus erros. O amor de Cristo é singular, ninguém jamais pode explicá-lo.

Cristo se doou e se preocupou ao extremo com a dor do “outro”, mas ninguém se preocupou com a sua dor. Foi ferido e rejeitado sem oferecer motivos para tanto. Era tão dócil, e sofreu tanta violência. Não queria o trono político, mas o trataram como se fosse o mais agressivo dos revolucionários.

Se Cristo vivesse nos dias de hoje, também seria uma ameaça para o governo local? Seria drasticamente rejeitado? Provavelmente, sim. Embora preferisse o anonimato e não fizesse propaganda de si mesmo, não conseguiu se esconder. É impossível esconder alguém que fale o que ele falou e faça o que ele fez.

Mesmo que Cristo não tivesse feito nenhum milagre, os seus gestos e pensamentos foram tão eloquentes e surpreendentes que, ainda assim, ele teria dividido a história... Depois que ele passou por essa sinuosa e turbulenta existência, a humanidade nunca mais foi a mesma. Se o mundo político, social e educacional tivesse vivido minimamente o que Cristo viveu e ensinou, nossas misérias teriam sido extirpadas, e teríamos sido uma espécie mais feliz...

O Natal é simplesmente uma ternura do passado, o valor do presente e a uma esperança do futuro. Que o Natal nos traga a paz e iluminação Divina, e esperança para um ano novo de sementes e frutos de felicidade, paz, amor e saúde. E que os ensinamentos de Nosso Jesus Cristo nos faça derrubar as barreiras criadas por ideologias políticas e que aprendamos a construir pontes de união e fraternidade.

Um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.

Referência bibliográfica:

Cury, Augusto Jorge, O Mestre dos Mestres. Rio de Janeiro. Editora Sextante, 2006.

23/07/2022

Doce e Clemente, Mãe da graça e do perdão

Em 1996, eu e minha Maria, juntamente com nossos compadres Manu e Vera, tivemos a oportunidade de viajar pela primeira vez para a cidade de Caicó, no interior da Rio Grande do Norte, para participar da festa de Sant’Ana, que é uma das mais tradicionais festas religiosa desse estado.

A festa de Sant’Ana de Caicó acontece anualmente sempre a partir da quinta-feira que antecede o dia 26 de julho, dia de Sant’Ana no calendário litúrgico, e se encerra com uma grande procissão no domingo subsequente, totalizando 10 dias de comemorações.  Em 2010 foi tombada como patrimônio imaterial do Brasil. É o maior evento sócio-religioso do Rio Grande do Norte. A festa é uma mistura de sagrado e profano que atrai turistas de todos os cantos do RN.

Em 1584, uma bula do papa Gregório XIII instituiu uma festa, comemorada no dia 26 de julho, mês que passou a ser denominado “Mês de Santa Ana”.

Desde os primórdios da história, as lendas são utilizadas para explicar fatos desconhecidos. Os gregos como os romanos já explicavam suas origens através de lendas. Herdamos esse gênero literário. A origem de Caicó não foi diferente. Não sabendo ao certo explicar sua origem, os literatos ou historiadores utilizaram-se das lendas do vaqueiro e do poço de Santana que se descrevem de várias formas, para expressar o surgimento da cidade de Caicó.

As lendas do vaqueiro e do poço de Santana são tão antigas quanto a própria história da velha Caicó. Fruto da fantasia humana, ela relata a cidade na sua origem e, mais importante ainda, cultua o que mais caracteriza o local na época. A história das lendas de Caicó não foi apenas um capitulo a mais na história da cidade. Se não e o mais importante, possui seu valor pelo pioneirismo e o relato descritivo de seu meio geográfico, fatos que enriquecem a história da cidade.

A celebração da Festa de Sant’Ana remete, constantemente, à lenda de fundação da cidade, encenando uma luta dos primeiros moradores contra a adversidade da natureza ainda não “domesticada”. Entre as diferentes versões existentes, escolhemos a escrita pelo jornalista, jurista, educador e estudioso das tradições populares Manoel Dantas (falecido em 1924), conta no seu livro “Homens de Outrora” que: Quando o Sertão era virgem, a tribo dos “Caicos”, celebre por sua Ferocidade, julgava-se invencível, porque Tupã vivia ali, encarnado num Touro bravio que habitava um intrincado mofumbo, existente no local onde está, hoje, situada a cidade do Caicó. Certo dia, um vaqueiro experto, penetrando no mofumbo, viu-se, de repente, atacado pelo touro sagrado, que iria, indubitavelmente, matá-lo. Rapidamente inspirado, o vaqueiro fez o “voto” a N.S. Santana de construir ali uma capela, se o livrasse de tamanho perigo. Como por encanto, o touro desapareceu. O vaqueiro destruiu a mata e iniciou, logo, a construção da capela. O ano era seco e a única aguada existente era de um poço do rio Seridó. O vaqueiro fez novo “voto” a S. Anna para o poço não secar antes de concluída a construção da capela. O “Poço de Santana”, como ficou, desde então, denominado, nunca mais secou. Reza a lenda que o espirito do deus dos índios, expulso do mofumbo, foi se abrigar no poço, encarnando-se no corpo de uma serpente enorme que destruirá a cidade, ou quando o poço secar, ou quando as águas do rio, numa cheia pavorosa, chegarem até o altar-mor da matriz do Caicó onde se venera a imagem da mãe de Nossa Senhora.

A narrativas lendária, mostra que a devoção a Sant’Ana, padroeira de Caicó, tornou-se um elemento fundamental para a construção da identidade caicoense. A construção da primitiva capela, em 1695, e a história de alguns milagres creditados a santa motivou a relação de devoção que o povo de Caicó e de toda região do Seridó nutre por Sant’Ana. O culto a Sant’Ana em suas “famosas” e “tradicionais” festas religiosas promovem uma verdadeira transformação no que se refere a cultura local.

A festa de Santana significa o momento em que as famílias seridoenses voltam a se encontrar restabelecendo os antigos laços que o tempo e a distância cortaram, com a partida de muitas pessoas para outras regiões do pais, reafirmar valores cristãos e acionar registros específicos da cultura seridoense, sobretudo no que diz respeito à sociabilidade fundada no interconhecimento.

Inspirados no amor materno da santa, os caicoenses aplicam os princípios da hospitalidade e da generosidade irrestrita. As casas de família acolhem os visitantes, aplicando sem restrição os preceitos cristãos.

Em junho de 2012, o Blog de Kleber Nóbrega, publicou um artigo com o nome “Caicó, cidade Servidora!”, que retrata bem o povo Caicoense: “Pode um cidade inteira ter comportamento servidor? Você conhece alguma cidade em que as pessoas parece terem verdadeiro prazer em servir bem? Você conhece algum lugar onde as pessoas parecem estar, sempre, de bom humor e felizes?  Pois é esta a sensação que tenho sempre que vou a Caicó, no Rio Grande do Norte”. E continuou:  “Um dia ainda faço uma pesquisa científica sobre isto”.

Para alguns, a festa de hoje não é a mesma de outrora, pois, naquela época, assim diziam, por volta de 1940, era só novena. Quando terminava, o povo ia para a praça andar, não havia nada de barracas de Comidas ao redor. Era também proibido bailes. Após as novenas, sempre havia um leilão (atualmente realizado nas noites de novena). Começaram a aparecer os Parques, pois antes só existiam os carrosséis que eram empurrados a mão. Era uma Casa de jogo, um barzinho, a banda de música tocando no coreto até as 10 horas, devido à luz a motor apagar nesse horário.

Nossa Senhora de Santana é venerada ao redor do mundo. Dentro da igreja católica é uma das personalidades mais respeitada. A sua história envolve muita luta, sofrimento e também milagres. Apesar de muitas pessoas não fazerem ideia de quem ela foi, sua figura está no centro da Igreja Católica.

As primeiras referências a ela vêm do Protoevangelho de Tiago, também foi chamado de ¨Natividade de Maria¨, um texto que não consta na Bíblia, e em outros textos apócrifos. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes.

O Evangelho Apócrifo de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro esposo, José.

São Joaquim era uma pessoa de grande influência, principalmente na região de Jerusalém, onde moravam. Além da influência, era pertencente à família real de Davi. Apesar do grande prestígio, o casal passaria por grandes dificuldades pelo caminho, em razão de uma dificuldade para gerar filhos.

Mesmo tentando durante anos, São Joaquim não foi capaz de engravidar sua esposa Ana. Na época, a culpa pela infertilidade era automaticamente atribuída à mulher. O homem nunca era culpado por falta de fertilidade. Quando as pessoas da comunidade notaram esse fato, passaram a criticar Sant'Ana.

Acreditava-se que a falta de fertilidade era um castigo de Deus. São Joaquim também sofreu na pele os julgamentos, principalmente por parte dos sacerdotes. Eles criticavam o fato de ele não ter filhos. Apesar de todo o sofrimento, tanto Sant’Ana quanto São Joaquim permaneceram crentes, orando a Deus e pedindo por um milagre. Atendidos em suas orações, foram agraciados com uma filha, a qual deram o nome de Maria, mãe de Jesus. Sendo mãe de Maria, é portanto avó de Jesus Cristo. Por isso foi designada padroeira dos avós. Venerada ainda como padroeira das mulheres casadas, especialmente as grávidas, protetora das viúvas, dos navegantes e marceneiros.

Bem, uma das coisas que sempre ouvi as pessoas dizerem é que não havia nada melhor do que ter netos. Deus que, nessa vida, foi sempre muito generoso comigo, me fez avô aos 59 anos. Devo confessar que desde que o vi pela primeira vez passei a desfrutar de um sentimento que julgava nunca ter experimentado antes. Eu nunca havia experimentado isso antes ou havia esquecido do que sentia quando do nascimento dos meus filhos. Passei então a levantar as razões, por que sempre que o tenho por perto ou que vejo as suas fotos e pequenos filmes, o meu olhar brilha e o ar de felicidade fica estampado em minha face.

Quando meu neto invade a minha casa, sinto que o meu coração se enche da mais plena alegria proporcionada por Deus.

Quando somos pais estamos num período de nossa vidas em que ficamos absorvidos pelo nosso trabalho. Os filhos dividem o espaço com essas grandes preocupações. As inquietações de então hoje não existem mais. Hoje, temos um melhor entendimento do que seja a vida e do valor que ela tem e, sendo assim, ao olharmos aquela criança constatamos a maravilha do que foi o seu nascimento e quão magnífico é cada progresso conquistado.

Nesta altura da vida somos orientados menos pela razão e mais pela emoção e a nossa emotividade aflora.

Ser avó e avô é como amar o filho pela segunda vez, é ter uma segunda oportunidade de participar na criação de crianças na família, mas, desta vez, de forma mais leve e tranquila.

Ser avó ou avô é uma das coisas mais fantásticas que pode acontecer na vida de uma pessoa. Especialmente porque, em geral, a surpresa vem na terceira idade. Quando a vida parecia ter sossegado. Um serzinho vem iluminar a casa.

Cena mais comum na casa da avó é crianças correndo. Se você não tiver o mínimo de equilíbrio, não consegue acompanhar. Aquele dia entediante, sem graça e silencioso é completamente transformado no momento em que os netos pisam na casa. Ter um neto é sinônimo de vitalidade emocional. A casa simples torna-se um parque de diversões imenso.

Netos têm a capacidade de imaginar coisas incríveis e levar avós a viagens inéditas. Ser avó é retornar a infância, em viagem de primeira classe.

Muitas vezes, papais ou mamães exigentes e rigorosos, quando se tornam avós, o coração amolece, prontos para a próxima brincadeira ou para mais uma historinha antes de dormir.

Nos dias de hoje, o papel dos avós vão além do agrado aos netos, eles participam ativamente da rotina das crianças e são personagens importantes na educação compartilhada com os pais. Todavia devem procurar respeitar as regras familiares, especialmente quando participam em grande frequência da rotina da criança, já que a discordância gera inconsistências e insegurança para os netos, bem como pode resultar em conflitos e desrespeito das crianças e adolescentes aos pais.

Ser avó também traz responsabilidade, por, até sem perceber, exercermos influência na vida dos netos. Ensinando, estamos influenciando na formação de seu caráter e de valores. Até quando nos divertimos com eles, nossa postura e linguajar estão sendo observados e assimilados. Conosco eles aprendem a dar valor à família, quando lhes falamos a respeito do nosso passado, de sua árvore genealógica, mostramos-lhes fotos de seus antepassados e transmitimos-lhes tradições familiares e culturais. Outra responsabilidade, é de transmitir aos netos também e, acima de tudo, a fé cristã.

Estudos mostram que crianças que têm relacionamentos fortes com os avós são mais bondosas, generosas e com menores taxas de ansiedade e depressão no futuro. O envolvimento dos netos com os avós, de acordo com o mesmo estudo, também aumenta o desempenho escolar, a autoestima, a inteligência emocional e a fazer ou manter amigos. Assim como, que avós que têm a oportunidade de estar com os netos, não apenas emocionalmente, mas também em contribuir com suporte funcional – como buscar de vez em quando na escola, ajudar com algo financeiro ou ainda cuidar das crianças para que os pais possam sair – demonstram ter mais saúde psicológica e menos depressão do que aqueles que não fazem isso.

Enfim, muitos netos não chegam a conhecer seus avós. Poucos têm a felicidade que eu tive. A realidade é que, pertinho ou de longe, os vovôs são pessoas que marcam nossas vidas de um jeito único, deixando deliciosas lembranças para sempre…

Viva Sant’Ana. Viva todos Avós do mundo!

“Doce e Clemente. Mãe da graça e do perdão. Abrigai-nos docemente. Dentro em vosso coração! Salve, Sant’Ana gloriosa.  Nosso amparo e nossa luz. Salve, Sant’Ana ditosa. Terno afeto de Jesus. Vossos filhos desta terra. Vos suplicam que sejais.  O seu refúgio na guerra. E sua alegria na paz”. (Hino de Sant’Ana – letra de Palmyra e Carolina Wanderley e Música de Manoel Fernandes).

04/04/2022

O Exemplo do Mar

No Brasil, convencionou-se dizer que o ano começa depois do Carnaval. Máxima que se tornou quase um ditado popular. Cultura enraizada no nosso país. Entendo que tem um pouco de lógica, pelas datas comemorativas, que temos a partir do Natal até a Quarta-feira de Cinzas.

Oficialmente o Carnaval termina na quarta-feira de cinzas, data que foi criada pela religião católica para celebrar o início da Quaresma, ou seja, os 40 dias que antecedem a Páscoa.

Como sabemos, a origem da Quarta-feira de Cinzas é puramente religiosa. A tradição católica, diz que, se deve fazer jejum e não comer carne. Isso já existe há muitos anos e tem como intuito fazer com que os fiéis se identifiquem com o sacrifício de Jesus, se privando de uma coisa de que gostam, neste caso, a carne.

A Quarta-feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano. Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas, quando temos a imposição de cinzas cuja ideia é lembrar a todos que nós, humanos, somos finitos. A concepção da celebração, remete à mitologia egípcia, especificamente ao mito da Fênix, um pássaro que não morre, é queimado, mas ressurge das cinzas.

O tempo da Quaresma é um tempo de reflexão e de penitência. Tempo de conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A Quaresma é uma prática realizada por fiéis de tradição católica, assim como por devotos da Igreja Ortodoxa, anglicanos e luteranos.

Na última semana do período da Quaresma, temos a Semana Santa, que inicia no Domingo de Ramos. É um período religioso do Cristianismo e do Judaísmo que celebra a subida de Jesus Cristo ao Monte das Oliveiras. Temos a crucificação de Jesus, na sexta-feira da Semana Santa e a sua ressurreição, que ocorre no domingo de Páscoa.

As tradições envolvendo a Sexta-feira Santa, conhecida também como Sexta-feira da Paixão, eram bem mais arraigadas no passado. A Igreja Católica sempre aconselhou os fiéis a fazerem algum tipo de penitência, como jejum, abstinência de carne e exclusão de coisas que dê prazer a eles. Pessoas mais velhas, ainda seguem às tradições a risca. No entanto, muitos jovens não conhecem muito bem esses costumes.

A única carne permitida é a de peixe. O Peixe é uma das representações que simbolizam a vida e a fé das pessoas em Jesus Cristo.

Na Sexta-feira da Paixão, também não se deve ouvir música alta e nem dançar. Mas, você pode ouvir músicas religiosas para refletir sobre esse dia.  Nada de consumo de bebidas alcoólicas. Não convém nem mesmo vinho. As pessoas devem evitar brigar e falar palavrões.

Na atualidade, a Igreja mostra mais flexibilidade e tolerância quanto a ações dos fiéis na data. Antigamente, os familiares evitavam fazer qualquer tipo de limpeza no lar. A mãe cobria as imagens de santos, quadros e fotografias com panos roxos, para simbolizar o luto, pela morte de Jesus. 

Um lamentável costume antigo, que ainda pode ser localizado em algumas cidades brasileiras, com maior força na região Nordeste, é o ato de roubar galinhas durante a Semana Santa.

Na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia, jovens e adultos saíam pelas ruas da vizinhança em que moravam em busca de casas em que eram criadas galinhas para assim poder roubá-las.

Uma das explicações para essa prática, se deve a crença de que como Jesus estava morto (ressuscitaria no Domingo de Páscoa), este não poderia ver os pecados dos ladrões de galinhas, que praticavam seus “crimes” sem “culpa”.

O fato, é que é uma prática cultural controversa. O crime muitas vezes levado em tom de brincadeira pode parar na Justiça, resultando em condenação.

Pelo fato, de ter nascido no seio de uma família católica, minha formação religiosa foi toda dentro da doutrina do catolicismo. Quando chegamos a uma certa idade, as influências externas ou outros fatores, podem fazer as pessoas seguirem outra religião, diferente da qual fomos catequizados, mas no meu caso posso afirmar que isso não ocorreu, pelo contrário, consegui fortalecer ainda mais minha convicção religiosa, a católica.

Não tenho dúvidas que essa catequese religiosa que tive, influenciou significativamente na formação do meu caráter. Assim sendo, dentro dessa influência religiosa, desde criança, aprendi que devemos vivenciar a Semana Santa. Por isso, é bom lembrar que a Semana Santa, assim como outros momentos de Festa da Igreja, não é nenhum tipo de feriado, onde podemos simplesmente viajar para descansar ou realizar passeios turísticos, pelo contrário é momento de viver intensamente a celebração, meditando o sofrimento de Cristo por amor à humanidade.

Vivemos numa época de mudanças. Os costumes de duas ou três décadas atrás apresentam tendência a se diluírem. A sociedade era marcada pelo cristianismo e pelo catolicismo, hoje não é mais assim. Conforme pesquisa da Data Folha, realizada no Brasil em 2020, a população brasileira católica atingiu 50%. Ressaltamos que no censo demográfico de 1940, totalizava 95%.

Ao contrário, do que ocorre entre os católicos, a Igreja Evangélica não altera sua programação devido ao período de Páscoa, nem estabelece um cronograma específico para a Semana Santa.

Dessa forma, a Semana Santa não é tão enfatizada, sendo lembrada nas celebrações como os dias que antecedem o sacrifício de Jesus na cruz. Já o domingo de Páscoa, costuma ser o dia mais importante na tradição reformada, uma vez que simboliza a redenção da humanidade. Portanto, os evangélicos enxergam esse período como um momento para refletir e levar a palavra de Cristo para mais pessoas.

Para os membros da Igreja Evangélica, não é proibido comer nada. Segundo os pastores, o que prejudica o homem não é o que entra pela boca, mas sim, o que sai dela. No entanto, os evangélicos não condenam os membros que só comem peixe, nos Dias Santos.

Para a Doutrina Espírita, não existe a chamada Semana Santa, nem tão pouco à Sexta-feira Santa. A Sexta-feira Santa, para o espiritismo é um feriado nacional e uma prática católica.

Os espíritas, veem Jesus como um mestre por excelência, um educador, que ensina como agir rumo ao sumo bem. Não seria o derramamento do sangue do Cristo que teria significado, mas toda sua trajetória.

Na Doutrina Espírita, não há restrição à carne vermelha, na Sexta-feira Santa ou em qualquer outra data. Eles consideram essa restrição uma prática de outra religião que eles respeitam, mas não adotam.

Para o Espiritismo, a Páscoa significa libertação. “A passagem representa a libertação, desde que sigamos os ensinamentos. Comemoramos a festa da Páscoa, com muito empenho e alegria, porque Jesus vivenciou a morte e nos mostrou que somos espíritos mortais”.

Os rituais da Umbanda também acompanham a Quaresma. Na Quarta-feira de cinzas, por exemplo, os Orixás da casa são vestidos e cada filho de santo lhes oferece a sua comida preferida. Os atabaques são lavados e guardados, e só são acordados no Sábado de Aleluia.

Para a Umbanda, a Semana Santa representa a criação do mundo, por isso, durante esse período, os Umbandistas se vestem de branco, principalmente na Sexta-feira Santa. Além da roupa branca, eles se alimentam somente com comidas dessa cor, como a canjica, arroz doce e pães. Esse é o dia em que os Orixás descem do Orún (mundo espiritual), para conhecer a grande criação de Olorum (Grande Criador, Divino, Deus criador de tudo).

Os seguidores da religião judaica, não celebram a Semana Santa como os católicos, comemoram apenas a Páscoa judaica (do hebraico Pessach = passagem). A Páscoa significa para a comunidade judaica, a libertação do povo judeu do cativeiro do Egito. É comemorado no mundo inteiro. Oferecem um jantar especial na Páscoa Judaica. Um cerimonial, ritual diferente com alimentos como manda a tradição judaica.

Importante ressaltar a missa realizada no Sábado de Aleluia, o primeiro dia depois da crucificação e morte de Jesus Cristo e o dia anterior ao Domingo de Páscoa. A missa de Lava-Pés, celebra humildade com fiéis, relembrando o gesto de Jesus. Ao lavar os pés dos seus discípulos, Jesus tinha como objetivo deixar mais um exemplo de amor ao próximo e de humildade.

A humildade é um sentimento de extrema importância, porque faz a pessoa reconhecer suas próprias limitações, com modéstia e ausência de orgulho. Humildade é ter um conceito equilibrado de si mesmo, sem buscar honra para si. A justiça não se pode praticar sem humildade, porque o orgulho exagera os seus direitos em detrimento dos do próximo.

A pessoa humilde sabe que todos os seus talentos e sucessos vêm de Deus. O humilde trabalha e se esforça, mas nunca se esquece que foi Deus quem lhe deu a vida e todas as coisas melhores que tem. A pessoa humilde não faz as coisas para ganhar tratamento especial nem para parecer melhor que outras pessoas. Faz o que é certo, porque é certo, não porque vai parecer “santo”. A pessoa humilde, reconhece que não é perfeita nem faz tudo certo. Não fica cheia de orgulho por se achar melhor que os outros.

Madre Teresa nos ensinou que “a humildade consiste em calar as nossas virtudes e deixar que os outros as descubram”, e assim, sendo tolerante com as diferenças, respeitando os nossos limites, podemos então trilhar o caminho do crescimento.

O escritor e blogueiro brasileiro Paulo Roberto Gaefke (1961, no livro “Quando é preciso Viver” página 29), escreveu: “Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado”.

Antes de concluir, quero lembrar a origem da palavra humildade. Humildade tem origem no Latim humus, “terra fértil”, derivado por sua vez do Indo-Europeu ghyom-, “terra”. 

Assim, precisamos nos questionar, não só no período da Quaresma, mas em todos momentos de nossa vida, se temos vivido uma vida produtiva, uma vida fértil em fazer o bem, em aprender, evoluir e partilhar, ou se estamos pelo contrário, vivendo de forma improdutiva, de forma a não fertilizarmos nada de positivo no convívio com os outros. Essa é uma reflexão, que carrego comigo sempre e creio que seja esse o significado que devemos reconhecer e buscar, incorporar em nosso dia a dia, alguém humilde, é alguém que é capaz de produzir bons frutos, de fertilizar o bem e fazer a diferença nesse mundo.

Independente de religião, a Quaresma é um período em que todos são convidados a refletir, a repensar na vida, no modo de encarar o cotidiano, de como pode ser melhor dentro de casa, com o próximo no trabalho e na comunidade.

E que a Páscoa seja um período para agradecermos a Jesus, pelo sacrifício e também para pensar em todos os nossos atos e renovar os votos perante Deus, para sermos cada vez melhores e dignos desse ato tão nobre para nos libertar e nos dar a vida.

Viva uma Semana Santa de paz, de tranquilidade e de novos tempos. Seja gentil, reflita, respire. A mudança em sua vida, para melhor, deve começar por você mesmo! Sempre!