24/08/2023

Somos protagonista do Filme de nossas vidas

Em algum momento de nossa vida devemos ter escutado alguém associar a ideia de cultura à erudição ou intelectualidade. Afirmar que alguém “não tem cultura”, geralmente, é o mesmo que dizer que a pessoa é ignorante ou não possui conhecimentos que são considerados de maior refino. Esse é um engano que todos nós já cometemos algum dia.

A cultura, é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Uma cultura não pode existir fora de uma sociedade, da mesma maneira, uma sociedade não pode existir sem cultura.

Todos os indivíduos, todos os seres humanos tem cultura, no entanto, cada cultura é diferente da outra, mesmo povos ditos incivilizados tem cultura, pois a cultura não baseia-se somente na linguagem escrita, e, como é herança social é transmitida de geração em geração. Cultura compreende uma série de elementos, como costumes, crenças religiosas, vestimenta, língua, objetos, rituais etc.

Dos quatro pilares nos quais alicerça a cultura humana – Arte, Mística, Filosofia e Ciência, a Arte é, muito provavelmente, a mais antiga a ser regularmente praticada pela Humanidade.

Na Grécia Antiga, surgiu a divisão entre as artes superiores, criadas para serem apreciadas com os olhos e os ouvidos, e as menores relacionadas com o tato. E dessas, seis vêm das que conhecemos hoje como Belas Artes:  Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Literatura e Dança. O Cinema foi considerado como a sétima arte apenas no século XX, por Ricciotto Canudo, teórico e crítico de cinema, que queria distanciar a ideia de que o cinema era um espetáculo de massa, aproximando-o e integrando-o às Belas Artes. Para ele, o cinema é a arte síntese, que concilia todas as outras. Hoje, é um dos mais populares meios de expressão artística no mundo.

O cinema tem papel importante para a transformação da sociedade, pois através dele é possível chamar a atenção para diversas questões e realidades. Os filmes geram impacto nas pessoas, além de emoções e sentimentos. É possível, por meio deles, retratar, demonstrar, e até vivenciar diversas situações e problemas, que possuem relevância para o mundo.

Assistir um filme, é fazer uma grande viagem pelo imenso mundo do imaginário humano. Nas personagens apresentadas nos projetamos e nos sentimos como os heróis ou vilões, dependendo somente de quem você quer ser.

Dentro desse contexto, tenho certeza que todos nós, claro que existem exceções, devemos ter assistido um filme, seja no cinema, televisão ou em alguma plataforma de streaming, que de alguma forma marcou a nossa vida, ou pelo menos consideramos inesquecível. No meu caso esse filme se chama “Papillon”. Assisti esse filme em 1974 (cento e cinquenta minutos de projeção). Filme intenso do começo ao fim, não há momento para desatinar da cadeira.  “Papillon” conta a história real do ladrão de jóias. Interpretado por Henry Charrière (Steve McQueen), apelidado de "Papillon" por causa da tatuagem de borboleta em seu peito, é injustamente condenado pelo assassinato de um cafetão. Em 1933, é condenado à prisão perpétua na temível colónia penal da Guiana Francesa (Île du Diable). Enclausurados e agrilhoados em celas minúsculas, escuras e sobrelotadas como cães miseráveis à mercê da morte, Henry, não se deixa vergar pelo infortúnio do seu fado, imiscuindo-se, desde logo, na venda de um arriscado plano de fuga ao abastado falsificador de dinheiro, Louis Dega (Dustin Hoffman) que há muito tempo perdeu todas às esperanças de ser libertado. É famosa a cena em que Papillon come baratas para sobreviver.  Depois de 11 anos nesse “inferno”, de um alto penhasco, Papillon observa uma pequena enseada,  onde descobre que as ondas são fortes o suficiente para carregar um homem para o mar e para o continente próximo. Papillon pede a Dega para se juntar a ele em outra fuga, e os homens fazem dois flutuadores com cocos ensacados. Enquanto eles estão no lado do penhasco, Dega decide não escapar e implora a Papillon que não o faça. Papillon abraça Dega uma última vez e depois salta do penhasco. Agarrando seu flutuador, ele é levado com sucesso para o mar.

O filme, mostra de maneira crua a crueldade que é vivida nesse lugar, e toda a desumanização, que acaba se tornando um trunfo para o protagonista após anos na solitária. Aflorar o sentimento de que é o instinto de sobrevivência e a vontade de ser livre, que são cativantes. O Papillon não perde a esperança de se ver livre. Um homem que não se deixou vencer. O filme, tem seu pico quando ressalta toda gana humana em busca da liberdade.

Papillon é “borboleta” em francês, e bem simboliza esse homem, real, que por várias vezes tenta sair do casulo que o meteram injustamente, para alçar vôo de volta à França. Sim ela mesma, a mãe da liberdade. De lagarta à borboleta é praticamente uma ressurreição!

Em 2018 tivemos um remake de “Papillon”. Não conseguiu no Brasil alcançar o reconhecimento que teve o primeiro, e isso talvez se deva à época em que foi lançado (no Brasil, o original chegou em 1974, em plena ditadura militar, e fez sucesso devido ao tema abordado).

A arte, por vezes se confunde com a vida, o que nos leva a questão sobre quem imita quem. Seria a arte inspirada pelo nosso cotidiano, ou seria a vida baseada nas influências da arte? Se a arte for um retrato da vida, vivemos então como prisioneiros? Se a vida é reflexo da arte, somos condenados a fugir das cordas impostas pelos autores? E se formos nós esses autores?

Quem algum dia não pensou que a própria vida poderia tornar-se um bom filme? Que “happy end” podemos imaginar para o filme da nossa vida?

Bem, para fazermos um filme de nossa vida precisamos escrever o roteiro. Que tal iniciarmos escrevendo o Livro de nossa vida?

O livro da vida somos nós mesmo que escrevemos dia após dia. As pessoas à nossa volta partilham continuamente às páginas e capítulos do nosso livro. 

O poeta chileno Pablo Neruda certa vez afirmou: “Escrever é fácil. Você começa com letra maiúscula, termina com ponto final e no meio coloca as ideias”. Quem dera, colocar as ideias no papel fosse algo tão simples como parece na citação acima! Porém, o grande desafio da arte da escrita está justamente no recheio.

Em algum momento da vida acumulamos uma mala cheia de histórias que poderiam facilmente ser transformadas em livro.

Nossa história vai sendo escrita durante nossa vida, as decisões que tomamos e tudo o que realizamos vão completando as páginas que estão em branco, todo dia escrevemos uma parte dessa história e somos nós que decidimos que tipo de história de nossa vida vamos contar nesse livro.

Alguns já têm muita coisa para contar aos 25, 30, 40 anos. Outros, consideram-se experientes apenas aos 70. O tempo, não passa da mesma forma para todo mundo, afinal, vivemos vidas diferentes e sentimos de formas únicas. E é justamente isso que torna cada história interessante.

Quando criança, por exemplo, não temos tantas memórias nítidas, então talvez seja preciso reconstruir algo.

Quando voltamos no tempo conseguimos identificar momentos felizes, outras vezes conseguimos identificar relacionamentos imaturos, estresse com discussões familiares ou mesmo ficamos olhando mais para fora, para o outro, do que para nós mesmos.

Todos sabemos o que vivemos e pelo menos os fatos que para nós foram mais importantes ou intensos estão em nossa memória, mas quando paramos para olhar mais de perto e tiramos um tempo, para avaliar os capítulos da nossa própria história, podemos criar um desfecho melhor e mais positivo, desconstruindo e reinterpretando uma cena aqui e ali, alterando o resultado dos capítulos seguintes.

Em certos momentos vivemos numa Comédia, depois passamos por um drama, há quem viva até mesmo um terror, mas em toda boa história tem seus momentos românticos, alegres, e de muita esperança, por isso, nos cabe apenas viver intensamente e deixar que o autor maior Deus, defina quais serão os próximos capítulos.

Devemos sempre ter em mente que o livro que escrevemos não pode ser reescrito, os acontecimentos passados não podem ser mudados. Por isso, não podemos nunca esquecer que plantamos hoje o que vamos colher no futuro, a vida é uma sucessão de consequências de nossas ações, não é como uma lavoura que no plantio já sabemos quando será a colheita, a colheita da vida pode ser imediata ou demorar longos anos, mas é preciso que seja cultivada, assim como as plantas, que precisam de cuidados, devemos cuidar de nossa vida com sabedoria. O futuro ainda não sabemos o enredo, mas sabemos quais são nossos objetivos e devemos lutar para que se realizem.

Deus nos dá uma nova chance todos os dias de escrever a nossa própria história. Cabe a nós, escolhermos o que vamos escrever hoje, e por isso temos que construir cada detalhe com total convicção de que estamos fazendo o nosso melhor, pois amanhã não terá como voltar atrás e fazer diferente. E o que foi escrito por nós hoje, borracha nenhuma será capaz apagar no amanhã.

Porém, chega uma hora em que Deus nos tira o lápis e escreve ''FIM''. Por esse motivo, devemos aproveitar bem hoje, pois cada momento é único, o passado não voltará e o futuro pode não chegar. Não devemos desperdiçar tempo com mágoas, ódios, rancor e brigas. Assim como nos filmes, também temos um tempo limite, assim como os heróis e heroínas dos filmes. Afinal é por isso que gostamos e torcemos por eles.

Será que após escrevermos o livro de nossa vida e transformá-lo em um filme, vamos ter coragem de assistir ou até mesmo projetá-lo para nossos familiares e amigos? Bem, apenas para fazermos uma reflexão.

Porém, não podemos esquecer que o maior leitor da história de nossa Vida é Deus. Ele lê as linhas, mas também conhece as entrelinhas da história da nossa vida. 

“Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta” (Chico Xavier).

25/07/2023

CHORA SANFONINHA CHORA CHORA

Em um dos versos do nosso querido Hino Nacional nos diz: “Gigante pela própria natureza. És belo, és forte, impávido colosso. E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada[...]. Esse verso ressalta muito bem a variedade de riquezas naturais do Brasil. Acredito que possamos complementar dizendo não só gigante pela própria natureza mas também gigante pela riqueza cultural que temos em todas regiões do Brasil. Por exemplo podemos citar as festas juninas que costumam ser dedicadas aos três santos - Santo Antônio, São João e São Pedro – principalmente no Nordeste do Brasil. Entretanto, apesar das comemorações estarem tão entranhadas na cultura brasileira, é interessante destacar que algumas dessas práticas são heranças absorvidas da tradição portuguesa, em especial os aspectos religiosos.

As festas juninas são conhecidas popularmente por serem de caráter alegre, com brincadeiras, comidas típicas, simpatias, e muito forró. Fogueiras, bandeirolas, quadrilha, fogos de artifício e bandeiras dos santos são alguns dos símbolos de uma festa junina.

A fogueira é um dos elementos de mais destaque nas festas juninas e tem especial ligação com o dia de São João, pois foi por meio de uma fogueira que sua mãe, Santa Isabel, avisou Maria, mãe de Jesus, que o filho tinha nascido. Cada santo junino tem um tipo diferente de fogueira, sendo a de santo Antônio quadrada, a de são João redonda e a de são Pedro triangular. Os balões foram criados para lembrar as pessoas do início da festa. As bandeirolas surgiram por causa dos três santos: são João, santo Antônio e são Pedro, onde estes eram pregados nas bandeiras para serem admirados durante a festa. Os fogos de artifício são usados para espantar os sentimentos ruins, os maus espíritos. A quadrilha é uma forma de agradecimento pelas boas colheitas, feita aos santos juninos. A origem desse tipo de dança é o bailado trazido da França entre o século 18 e 19 e popularizado na sociedade rural. A origem francesa da dança é perceptível através de alguns termos comuns, que são usados nesses momentos pelos narradores das quadrilhas, como “anarriê”, por exemplo, que em tradução livre significa “para trás”.

As simpatias são uma forma de trazer maiores crenças, como sorte na vida e no amor. A maior parte dessas simpatias era de adivinhações, principalmente relacionada com o casamento.

O folcloristas Câmara Cascudo, em seu livro Superstições no Brasil, diz o seguinte: Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dados no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentado terá de esperar pelo casamento. (p. 148).

Quem não se lembra da música “Brincadeira Na Fogueira” (1967), do compositor paraibano Antônio Barros: Tem tanta fogueira, tem tanto balão. Tem tanta brincadeira, todo mundo no terreiro faz adivinhação. Meu são João, eu Não. Meu são João, eu Não. Eu não tenho alegria. Só porque não vem. Só porque não vem. Quem tanto eu queria. Danei a faca no tronco da bananeira. Não gostei da brincadeira, Santo Antônio me enganou. Sai correndo lá pra beira da fogueira, vê meu rosto na bacia a água se derramou”. Nessas simpatias, normalmente o coitado do Santo Antônio sempre é sacrificado, sendo colocado de cabeça para baixo até que a pessoa arrume um companheiro.

Segundo a doutora Zulmira Nóbrega em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia o São João é uma festa completa. Ele não é uma festa como o carnaval. No Carnaval você vai, você dança, você se diverte e acabou. O São João tem todo um conjunto de símbolos ali dentro (…) que é a comida típica, a comida de milho, as bandeirinhas, as quadrilhas, o forró, o vestir, as brincadeiras.

Bem, não tem como falar sobre festa junina, é não lembrar de imediato de forró. O forró é uma expressão artística nordestina. Trata-se de uma manifestação cultural bem ampla e que se consagrou como ritmo musical, mas também como um estilo de dança,

Chamado em sua origem de “forrobodó”, o surgimento do forró pode estar relacionado a bailes populares que aconteciam no final do século XIX. Na época, era necessário molhar o piso do local onde essas festas aconteciam, pois era feito de "chão batido", não tendo revestimento, e a dança acontecia na própria terra. Durante a dança, as pessoas costumavam arrastar os pés para evitar que a poeira levantasse. Foi então que surgiu a expressão “rastapé” ou “arrasta-pé”. O ritmo também teve influência de ritmos holandeses e portugueses e das danças de salão europeias.

Uma conhecida anedota diz que a palavra forró teria surgido de uma corruptela de "for all" ("para todos", em inglês) em bailes abertos ao público promovidos por trabalhadores gringos no Nordeste. O mais provável é que seja apenas uma lenda, verossímil por causa do espírito popular do ritmo, e a verdadeira origem tenha a ver com a expressão francesa faux-bourdon (algo como "falso bordão", uma técnica de harmonização musical).

Como um ritmo típico da região nordeste do país, o forró acrescenta a dança e vários instrumentos musicais de forma única em sua composição que são: a sanfona, a zabumba e o triangulo. Podemos ser taxativa ao afirmar que não existe forró sem sanfona, zabumba e o triangulo.

A sanfona não é um instrumento brasileiro, mas foi adotado por nós. Faz parte da cultura brasileira. Lembramos que o mais primitivo ancestral da sanfona hoje conhecida, segundo pesquisadores, surgiu na China, em 2700 a.C., com a denominação de “Cheng”. Suas primeiras características eram de um instrumento de sopro, pois, além de ter um recipiente de ar, canudo de sopro e tubos feitos de bambu, esse instrumento transmitia sons a partir do sopro emitido pela boca.

De acordo com o padre jesuíta Amiot, o Cheng foi levado da China para São Petersburgo, na Rússia. Da Rússia, passou para a Europa, tendo na Alemanha, esse intrigante invento chamado a atenção de muitos curiosos, entre eles o fabricante de instrumentos europeu Friedrich Ludwig Buschman e o austríaco Cyrillus Demien. Em 1822, Ludwig criou um instrumento de sopro um pouco mais elaborado, utilizando ainda o sistema de palhetas; e, sete anos depois, Demien acrescentou o fole àquela engenhoca, patenteando a sua invenção com o nome de acordeão, devido aos acordes obtidos através da manipulação de seus quatro botões. O acordeão foi patenteado por Demian em 06 de maio de 1829 na cidade de Viena.

Os primeiros acordeões italianos foram construídos em 1863 em Castelfidardo, em Ancona, surgindo depois Paolo Soprani e Stradella-Dellapé.

Somente no final do século XIX é que o acordeão aportou no Brasil, trazida por imigrantes alemães e italianos.  O primeiro acordeão n a chegar ao Rio grande do Sul veio com uma família de imigrantes alemães no ano de 1846 na cidade de São Leopoldo.

Com o aumento de sua popularidade nas regiões nordeste, centro-oeste e sul, o instrumento passou a ser chamado de sanfona.

Particularmente no Nordeste, a sanfona se tornou maestrina do então novo ritmo do forró no início do século XX. 

Quando se fala em sanfona, é comum que o termo “acordeão” logo venha à mente. Em muitos lugares, um nome é mais famoso que o outro e, então, surgem as dúvidas sobre quais são as suas diferenças.

Se modelos equivalentes forem comparados, o acordeão e a sanfona são o mesmo instrumento. Trata-se, apenas, de uma distinção regional no nome do instrumento e que está relacionada ao sotaque. Para algumas pessoas, o acordeão emite o mesmo som em qualquer movimento, enquanto a sanfona traz opções diferentes entre abrir e fechar. Contudo, isso está muito mais ligado ao modelo que à nomenclatura.

Na região sul do Brasil, o mesmo instrumento é conhecido como gaita. Quando o termo é usado nesse contexto, entende-se que não se trata da gaita de boca, e sim de um nome regional para a sanfona.

Os Acordeões ou sanfonas possuem diferenças quanto ao número de baixos, podendo ser de 8, 12, 24, 48, 60, 72, 80 ou 120 baixos. Os baixos são botões tocados com a mão esquerda que exercem função de acompanhamento, tocando notas e acordes num ritmo determinado pelo estilo de música.

A sanfona de oito baixos, também conhecida como pé-de-bode, fole de 8 baixos, fole, harmônica ou simplesmente 8 baixos, faz parte da memória musical e afetiva do Nordeste, verdadeiro patrimônio cultural sertanejo. Considerada pelos sanfoneiros como um dos instrumentos de mais difícil execução, pelo jogo de fole obrigatório, a tradição do fole de 8 baixos é uma arte que atualmente é dominada por poucos. Importante lembrar que a sanfona de Oito Baixos, foi a primeira sanfona aquisição do Rei do Baião Luiz Gonzaga.

É possível dividir a história do forró em duas partes: antes e depois de Luiz Gonzaga. Antes, as matrizes forrozeiras se dispersavam pelos sertões na forma de baiões, xaxados, xotes e outros ritmos, tocados e dançados nos forrós (ou forrobodós). Luiz Gonzaga, o brilhante intérprete e compositor pernambucano, com seu acordeão, suas criações geniais, seus trajes de vaqueiro e seu carisma, ao se tornar um sucesso no Rio de Janeiro, a partir da década de 1940, divulgou como ninguém os ritmos nordestinos – até então desconhecidos por grande parte dos brasileiros – consagrando-os em um único gênero musical que se popularizou como forró. Na década de 1950, Luiz Gonzaga se tornou ícone pela música ‘Forro de Mané Vito’ — desde então, seu nome tem sido lembrado por amantes de forró.

A partir da atuação pioneira de Gonzaga, o forró foi abraçado por diversos outros artistas importantes, como Genival Lacerda, Trio Nordestino, Dominguinhos, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Marinês, e consolidado como gênero musical nacional, que evolui, se moderniza, se transforma e cativa – seja na forma de forró tradicional, forró pé de serra, forró universitário ou forró eletrônico – brasileiros de diversas origens e gerações.

Infelizmente, nos últimos anos, as festas juninas pelo país revelou um movimento que vem crescendo e preocupa quem luta para manter vivas as culturas regionais: o crescimento dos shows sertanejos em festas populares que não nada tem a ver com essa modalidade. Isto é, estamos tendo uma descaracterização na festas juninas, principalmente do Nordeste.

Quem vem para o Nordeste em junho vem para ver e ouvir as tradições desse povo que passa a vida inteira alimentando suas raízes em sua poesia, sua música, sua culinária, suas crenças, suas vestimentas. Nada contra os outros gêneros que já têm o ano inteiro à disposição deles, mas é preciso respeito para com o que é nosso.

Festa junina do passado eram momentos ternos de união entre os vizinhos, ruas e até bairros, enquanto que atualmente é uma congregação de interesses comerciais e políticos. Vizinhos se reuniam, dividindo as tarefas. Cada família participava com aquilo que podia. Escolhía-se o vizinho que tivesse o quintal maior para ser montado o arraial. Começava então a preparação da festa. Balões, bandeirinhas, lanternas eram confeccionadas em diversas noites de reuniões. Decidía-se então quem seria o noivo, a noiva, padrinhos, padre etc. Atualmente, vizinho não conhece vizinho. Nas ruas não se pode mais fazer fogueira. Balões, só em sonhos. As festas são organizadas por clubes, escolas e entidades assistenciais. Faz-se shows de pagode, convidam-se grandes astros para incrementarem as festas e assim ganharem mais dinheiro. São festas comerciais. Não há mais inocência, romantismo, cooperação e fraternidade.

As quadrilhas juninas estão se transformando em escolas de samba. As tradicionais roupas de matuto foram substituídas por vestimentas que lembram mais as escolas de samba desfilando na Sapucaí, no Rio de Janeiro. Uma modernização que descaracteriza sua essência cultural. A modernidade tá eliminando a tradição.

Só no Brasil é que a palavra "evoluir" pode significar algo pior, medíocre, algo que perde a qualidade existente. E é exatamente isso que está acontecendo com as festividades de São João no Nordeste do Brasil.

Cada dia que passa vão empurrando o nosso forró para mais longe do lugar que ele merece. O forró é nossa identificação cultural, é o eco do canto do povo desse lugar.

Temos pelo menos uma luz no fim do túnel. Em junho de 2023, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou em regime de urgência a lei Luiz Gonzaga 3083/2023. O projeto prevê destinar 80% de recursos públicos para as festividades juninas em todo o território nacional, visando a valorização do forró, que em 2021 foi declarado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o projeto aprovado na câmara, o próximo passo é a votação

A cultura é dinâmica. As coisas vão evoluir, tomar novos caminhos ao longo dos anos. Não há problema nisso. Mas é evidente que algumas tradições precisam ser preservadas para que não se percam.

O mês de junho é sempre e sempre será vinculado as festividades juninas e consequentemente as música do forró, então, pelo menos nesse momento deixem o nosso verso desfilar pelas ruas, pelos arraiais, pelos espaços de grandes e pequenos polos destinados à verdadeira festa junina.

Lembramos que o Dia Nacional do Forró é comemorado em 13 de dezembro. A data escolhida faz referência ao nascimento do seu principal representante, o cantor, compositor e sanfoneiro Luiz Gonzaga.

Plagiando à música de Luiz Gonzaga “Sanfoninha Choradeira”, digo: “Chora sanfoninha, chora, chora. Chora sanfoninha minha dor. Sanfoninha que toca a alma da gente que permaneça viva nas festas juninas dos nordestinos e no coração de quem lhe tem amor”.

22/06/2023

A Educação é a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão

chargesdodenny blogspot com

Durante cinco anos de minha vida de labuta, tive a oportunidade de ensinar em colégios Estaduais, da rede de ensino da Paraíba. Sem sombra de dúvida foram grandes experiências e desafios que tive, principalmente por ter ensinado a matéria de Física a muitos estudantes com pouco conhecimento em matemática. Mas isso não me desanimava, pelo contrário, era um incentivo de continuar com minha missão. Apesar da minha vida profissional paralela, a minha presença em sala de aula, além de obrigação, era mais uma forma de ensinar que a responsabilidade com os compromissos assumidos faz parte de nossa vida. Confesso que, nesse período de ensino, não me lembro quantas vezes fiquei ausente da sala de aula.  Era para mim uma grande alegria quando nos dias que tinha que cumprir minha missão, no ultimo horário, encontrava a sala cheia de alunos, mesmo quando nos primeiros horários os mesmos não tivessem tido aula.

Gostava sempre de dizer aos alunos que a Física era a ciência da natureza, pois se dedica a estudar a natureza e os elementos que a compõe, buscando compreender as interações exercidas entre as forças presentes no universo e o resultado produzido nessas relações.

Na minha opinião, pelo fato do professor ter o papel de formador de cidadãos, torna-se a mais importantes profissão para a sociedade.  Desde que o mundo é mundo, o professor é o único profissional que forma todas as outras profissões. Ninguém é médico, dentista, advogado, engenheiro, doutor, sem passar pelo carinho, pela atenção e pelo amor de um professor.

Segundo historiadores, na história da humanidade, os sufistas foram os primeiros professores profissionais do Ocidente. Neles está a origem da docência. Eles recebiam essa denominação porque percorriam as cidades, se deslocando de um lugar para o outro, Atuaram durante a Grécia Antiga, em um período em que os cidadãos estavam muito interessados em aspectos da vida pública e política. Por isso, seus ensinos, que envolviam a argumentação pública, retórica e oratória, encontrou tantos adeptos. É importante ressaltar que o trabalho realizado pelos sufistas não era gratuito. Todas as aulas eram concedidas mediante pagamento.

Em nosso amado Brasil, o jesuíta português Vicente Rijo, foi o primeiro professor. Nascido no ano de 1528 às margens do Rio Tejo, com o nome de Vicente Rodrigues, ingressou na Companhia de Jesus e fez parte do primeiro grupo de jesuítas enviados ao Brasil, chegando à Bahia em 29 de março de 1549. Na literatura educacional brasileira, poucas referências encontramos referente a figura de Vicente Rijo Rodrigues, primeiro mestre da escola do Brasil. Primeiro sacerdote da Companhia de Jesus a ser ordenado em terras brasileiras e igualmente primeiro a instalar uma escola jesuítica no continente americano.

Por este tríplice pioneirismo, cabe a Vicente Rodrigues honroso lugar de destaque, tanto na História da Educação Brasileira, quanto na própria História da Igreja, em nosso país.

As poucas referências a sua pessoa vamos encontrar em três obras do historiador Serafim Leite: Novas Páginas de História do Brasil, História da Companhia de Jesus no Brasil  e Monumenta Brasiliae.

Em 1553, chegava ao Brasil o padre José de Anchieta. Sua missão foi ensinar aos índios sobre o cristianismo. No entanto, ele também aprendeu o guarani, língua falada na época e que fazia parte da cultura indígena. Foi o primeiro dramaturgo, o primeiro gramático e o primeiro poeta nascido nas Ilhas Canárias. Foi o autor da primeira gramática da língua tupi, e um dos primeiros autores da literatura brasileira, para a qual compôs inúmeras peças teatrais e poemas de teor religioso e uma epopeia.

Existe uma profunda diferença, entre dar aula e ser professor. Dar aula é uma atividade, mas ser professor é muito mais do que isso. Ser professor é, muito antes de ser uma profissão, uma das formas mais genuínas do amor. Como já dizia o grande mestre Paulo Freire, “eu nunca poderia pensar em educação sem amor." Em outras palavras: Ser professor é mais que um trabalho, é um ato de amor. Além da transmissão de conhecimento, o professor desenvolve a função de educador, ou seja, educar para a vida, sempre buscando que o aluno reconheça o seu lugar no mundo.

Ser professor é partir do princípio de ter amor pela profissão e estar engajado em ser um semeador da transformação em parceria com o aluno, inseridos na leitura do mundo, cujos objetivos são: despertar a criatividade; desenvolver o senso crítico e incentivar o ato de reflexão através do conhecimento. Ser professor é posicionar-se perante o mundo, despir-se de títulos e honrarias e desenvolver relações horizontais, criando vínculos e identidade com seus educandos, problematizando o saber no contexto social, no qual o grupo está incluído, exercitando o uso público da razão, a mais inofensiva de todas as liberdades.

Estar em uma sala de aula para ensinar e educar requer criatividade, pois muitas vezes o conhecimento não basta. É preciso entreter os alunos, se comunicar com eles, compartilhar ideias e estimulá-los a pensar, imaginar e fugir do senso comum. Igualmente, é necessário buscar por atualizações, principalmente considerando às mudanças constantes que o mundo sofre e que precisam ser compartilhados em sala de aula.

Professor acaba por viver muitas vidas além da sua. Vivencia o crescimento, os obstáculos, as crises, os começos de namoro, as brigas entre amigos, problemas de casa, a conjuntivite alheia, as angústias, etc.

Paulo Freire dizia: “A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo”.

Lembramos que a primeira comemoração de um dia inteiramente dedicado ao profissional da educação, ocorreu em São Paulo, numa pequena escola da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, por iniciativa de alguns professores, em 15 de outubro de 1947. A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963.

Infelizmente, a profissão está ameaçada. Nossos jovens estão cada vez menos atraídos pela profissão de  professor. De cem alunos que entram no curso de pedagogia, apenas 51 se formam e só 27 tem interesse em trabalhar na área.

Não é fácil ser docente neste nosso país. Se fossem instaladas câmeras em algumas escolas, de Norte a Sul do país, para registrar o dia a dia de alunos e professores em sala de aula, o resultado mostraria, de forma inconteste, uma realidade que, em muitos casos, gostaríamos de não assistir. A indisciplina amedronta os próprios alunos e tem atingido, sobremaneira, muitos professores, obrigando-os, inclusive, a se afastarem do magistério. A violência, que tem tomado as ruas de nossas cidades, vem também se repetindo com mais intensidade dentro das nossas escolas.

Para a pedagoga e catedrática sueca, Inger Enkvist é impossível aprender bem sem disciplina. “Não se é bom professor apenas pelo que se sabe sobre a matéria, nem só porque sabe conquistar os alunos. É preciso combinar ambos os elementos: atrair os alunos para a matéria para ensiná-la adequadamente. É preciso recrutar professores excelentes, nos quais alunos, pais e autoridades possam confiar. E a menos que haja uma situação grave, devemos deixá-los trabalhar”, afirma a pedagoga.

É preciso que as autoridades públicas se conscientizem e reconheçam a importância de se reestruturar a rede pública de ensino, de oferecer condições dignas de trabalho e, principalmente, melhores salários para o corpo docente.

São anos de estudos e dedicação, para que finalmente, o professor consiga ocupar o espaço de mestre dentro de uma sala de aula. Mas muito mais do que estudar ou se preparar intelectualmente para ensinar e educar os alunos. É necessário ter vocação para enfrentar os melhores momentos e as piores dificuldades em realizar sua tarefa.

Etimologicamente, a palavra “mestre”, deriva do latim magister, que significa professor, ou seja, aquele que professa algo, que se dedica à arte de ensinar. Todavia, nos dias atuais, esse vocábulo tem apresentado outros inúmeros sentidos, tais como: alguém que concluiu um curso de mestrado em alguma área do saber e/ou que exerce a profissão de: mestre-escola, mestre de obras, mestre-cuca, mestre-sala, mestre de cerimônias etc.

Ser mestre não é apenas lecionar, transmitir aos alunos determinados conteúdos curriculares programáticos. É também saber caminhar com os educandos passo a passo, desvelando aos mesmos os segredos e percalços da caminhada da escola da vida e da vida na escola.

Sendo assim, pode-se dizer que mestre não é aquele que simplesmente apresenta um caminho novo, mas aquele que mostra como algo novo o jeito de caminhar. Por isso que o nosso Mestre dos Mestre foi Jesus Cristo. Seus ensinos, seus sermões ou discursos e suas aulas eram eloquentes e profundamente convincentes aos que o ouviam. Jesus era o Mestre perfeito. Além de Pastor, pregador, missionário e evangelista, exercia com excelência a missão de ensinar.

O ensino do Mestre Jesus, não teve nem tem paralelo em qualquer instrução, discurso ou filosofia dos homens. São ensinamentos para serem vividos, e não apenas pregados. Seu ensino era bem recebido pelas multidões, porque Ele vivia o que ensinava e ensinava o que vivia.

Jesus conseguia ensinar desde o mais simples dos homens até o mais culto e estudado. Escribas, fariseus, autoridades judaicas e romanas, homens e mulheres de alta posição, mendigos e as mais tenras criaturas eram alcançadas por ele, em meio a uma multidão eclética e diversificada.

O Mestre dos Mestres deixou-nos grandes exemplos de sua pedagogia: conhecia a matéria que ensinava (Lc 24:27); conhecia seus alunos (Mt 13; Lc 15:8-10; Jo 21); reconhecia o que havia de bom em seus alunos (Jo 1:47); ensinava as verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc 5:17-26; Jo 14:6). Jesus foi o Mestre dos Mestre numa escola onde muitos intelectuais se comportam como fracos alunos.

Enfim, ser um mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver.

Um bom mestre é valorizado e lembrado durante o tempo de escola, enquanto um excelente mestre jamais é esquecido, marcando para sempre a história dos seus alunos.

Não tenho dúvida que investir em educação é o principal caminho para transformar às pessoas, que construirão este país mais justo e igualitário em oportunidades.

Lembrando novamente Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda às pessoas. Pessoas transformam o mundo”.