17/10/2021

A Liberdade caminha sobre o fio da navalha

Fonte: Baixaki

Em decorrência da pandemia, chegamos à conclusão que o direito à liberdade não é absoluto e pode ser relativizado, sob pena de cometimento de crime, visto que em momento de pandemia, o interesse público se sobrepõe ao interesse privado. Isto mostra a fragilidade da nossa liberdade. O lockdown que consiste na obrigação de manter-se em isolamento social, bate de frente com o direito constitucional de ir e vir (artigo 5° inciso XV da Constituição Federal), fundamental para a liberdade de locomoção dos cidadãos. Enfim, ficamos proibidos de ir a um bar, fazer reunião com amigos, sair do estado ou do pais, visitar familiares e etc. Desrespeitando a política de isolamento e quarentena passamos a cometer crime. A população fica nesses momentos privada de liberdade.

Independentemente da pandemia, há muito tempo que a violência cresce no campo e nas cidades, já não temos mais liberdade de ir e vir como antes, nos trancamos a cada dia mais em nossos lares. Instalamos equipamentos de vigia externa, colocamos cadeado nos portões, mais fechadura na porta, isolamos o quarto da sala e do resto da casa.

Mas, o que é a liberdade? Segundo a filosofia, liberdade é definida como a independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. De acordo com a ética, a liberdade está relacionada com responsabilidade, uma vez que um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não desrespeite ninguém, não passe por cima de princípios éticos e legais.

A Liberdade guiando o povo – Eugenne Delacroix
Museu do Louvre

Podemos afirmar que este vocábulo, representa o bem mais sagrado da vida. É o bem maior que repousa no coração do homem. Como pressuposto do lema revolucionário francês a “Liberdade” representava a identidade democrática, que não privilegiava interesses particulares em prejuízo do bem público e do cidadão.

Os povos antigos, sábios e sacerdotes, agrupavam-se em templos que diziam ser proibidos ao Vulgo (a classe popular, a plebe, o povão), a fim de estudarem os fatos científicos que originaram as divisões da ciência em várias disciplinas. Ao lado dos estudos científicos, técnicos realizavam o estudo dos fatos sociais com a preocupação de dar aos seres humanos, condições de vivência justa.

Após dotar a sociedade de estruturas que permitiram a vivência do homem em agrupamento, passou a sociedade a dedicar-se à libertação dos povos, à extirpação da inquisição e da escravatura.

Se ontem a luta era contra a prepotência, os dominadores, o absolutismo e as leis injustas, hoje se tem pela sua frente o monstro da corrupção para ser enfrentado. Deve-se a pobreza moral do ser humano, a implantação desse mal, que oriundo do orgulho e do egoísmo, elimina vidas, desagrega famílias. Vemos em pleno século XXI atos brutais de terrorismos, atentados, ditaduras, sequestros, assaltos, enfim, a violência campeia em todos os seguimentos sociais.

Será que está tudo perdido? Não, basta analisarmos os preceitos morais que nortearam, norteiam e hão de nortear a sociedade humana para que possamos nos posicionar em guardar contra o monstro voraz dos inescrupulosos, dos corruptos, etc.

Cabe agora à nossa Sociedade libertar o homem. Trabalho árduo, mas, necessário. Não mais a libertação física, mas libertação moral, libertação do seu interior, numa certeza que existe uma vida futura.

Para Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Da mesma forma, o homem nasce livre, mas por toda parte se encontrará acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração. O indivíduo se torna escravo de suas necessidades e daqueles que o rodeiam, o que em certo sentido refere-se a uma preocupação constante com o mundo das aparências, do orgulho, da busca por reconhecimento e status.

Para se conquistar um maior grau de liberdade é fundamental o fortalecimento da paciência e da tolerância frente às frustações em geral. É poder ver cada novo dia uma nova esperança brotar. É acreditar que as pessoas podem mudar, se delas partir essa decisão. Liberdade é olhar para o céu, mas em toda a parte se vê acorrentado.

Não podemos esquecer que os vícios limitam os nossos atos livres. São, portanto, uma forma de escravidão, pois nos tornam dependentes deles.

A verdadeira liberdade não é fazermos tudo o que queremos como: depredar o bem público, como se ele não fosse nosso, jogar detritos pela janela da casa ou do carro, quebrar os ônibus da cidade, ligar o rádio no máximo, pois quer ouvir música alta, bater e ferir emocionalmente as pessoas ou mesmo ter vícios para fugir da realidade. Isso não é liberdade, é falta de domínio próprio, é ser escravo. Ter a capacidade de escolher e seguir qual o melhor caminho, ainda que tenha todas as possibilidades ao seu alcance, é a cereja do bolo. É controlar-se mesmo em situações adversas, escolher as atitudes que lhe farão bem.

Haverá necessariamente conflitos de liberdades. A liberdade de uns necessariamente estará impactada pela liberdade dos outros. Imagine-se que, no exercício de sua liberdade de ir e vir, uma boa parte da humanidade decidisse, simultaneamente, estar no mesmo momento no Pico do Everest. A liberdade de ir e vir de muitos estaria limitada. Ou imagine que, em uma assembleia de cem pessoas, todas resolvessem simultaneamente exercer a liberdade de discursar.

A Liberdade não é só poder sair por aí, caminhando, respirando, vivendo, amando, partindo, voltando, e sim estar bem com seu espírito, seguir sua vontade sem obstáculos, sem amarras. É poder olhar as pessoas e ver o lado bom deles, é olhar a vida com os olhos da alma e poder alçar voos mais altos em busca da evolução. É meditar, ouvir, é sentir sua verdadeira essência, é sempre querer ser alguém melhor, e também querer que os outros sejam.  Ser livre é poder escolher o que você quer para a vida, mesmo que para os outros não seja a escolha certa. 

Enfatizo que a liberdade deve sempre vir acompanhada de responsabilidade. Assim, “ser livre” é também não se vincular a compromissos para os quais não estamos preparados.

Liberdade é desenvolver a criatividade, descobrindo sempre novas possibilidades. É ser inocente, sem ser ingênuo. É aumentar a cada dia a sensação de vitalidade. É sentir-se desobrigado a agradar constantemente os outros. É não precisar justificar-se a todo momento.

Liberdade é sermos nós – plenos de defeitos e imperfeições – devotados para poder talhar a pedra pela construção contínua de uma sociedade mais justa e perfeita.

Para terminar lembramos do Hino da Proclamação da República do Brasil, escrito por Medeiros de Albuquerque, que apresenta um importante conceito de liberdade: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!". E de uma frase do livro “O Fio da Navalha” de W. Somerset Maugham: “Difícil é caminhar sobre o aguçado fio de uma navalha. Árduo, dizem os sábios, é o caminho da Salvação”.

17/10/2021

E se o Brasil não tivesse descoberto o PRÉ- SAL?

Fonte: Politize

Em 20/11/2009 participamos da inauguração oficial da Refinaria Potiguar Clara Camarão localizada no Município de Guamaré-RN. Em um determinado momento tive a oportunidade de trocar algumas palavras com um dos diretores da Petrobras da época, que se fazia presente ao evento. Na verdade, apenas disse para ele: “Diretor, para os petroleiros o Senhor é o Pai do Pré-Sal”. Ele de imediato respondeu: “Não sou o pai do Pré-sal, apenas defendo o Pré-sal contra forças ocultas”. Infelizmente nossas trocas de palavras terminaram com essa resposta e não consegui matar minha curiosidade de quais forças ocultas ele estava falando.

Independentemente do que seja, a história do petróleo em solo brasileiro, pode ser comparada como uma longa estrada cheia de obstáculos e desvios, que se interligam a própria história da Petrobras.

Nossa caminhada nessa estrada inicia no Segundo Reinado (1840-1889), quando os primeiros decretos foram concedidos dando o direito de extração de minerais no Brasil. As concessões tinham por finalidade encontrar material para o fabrico de óleo ou gás de iluminação.

Em 1864, através de Decreto Imperial, foi concedido ao inglês Thomaz Denny Sargent prerrogativa pelo prazo de 90 anos para, por si ou por meio de uma companhia, extrair turfa, petróleo e outros minerais nas comarcas do Camamu e Ilhéus, na Província da Bahia. Houve ainda nessa época, várias outras concessões do governo do Império do Brasil para pequenos exploradores em busca de jazidas de petróleo, geralmente junto com a busca por carvão e outros minerais.

A partir de 1876 com a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais, passou-se a formar mão-de-obra mais especializada e detentora de algum conhecimento científico para se buscar petróleo. No entanto, o primeiro poço brasileiro foi perfurado somente em 1897 pelo fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo no município de Bofete, no estado de São Paulo. O poço atingiu a profundidade de 488 metros, mas, jorrou apenas uma água sulfurosa, com grande concentração de enxofre. 

Na primeira metade do século XX, no surgente setor industrial brasileiro, destaca-se a figura do escritor da maior parte das histórias infantis nacionais, o paulista Monteiro Lobato. Os quatro anos que passara na América do Norte, como adido comercial, constituíram uma descoberta e um deslumbramento para o caipira de Taubaté. Ele vê o gigantesco progresso americano e o compara com a nossa lentidão colonial.

Fonte: Traça Livraria

Logo após ao seu retorno ao Brasil, começou a apresentar planos grandiosos de salvação econômica para o Brasil. O primeiro deles é a Campanha do Ferro: é preciso “ferrar o Brasil”. E logo em seguida, ainda mais ampla, que foi a Campanha do Petróleo.

Em dois livros, “Ferro” (1931) e “O Escândalo do Petróleo” (1936), o escritor documenta os lances dramáticos das duríssimas batalhas que teve que travar para prover o Brasil de uma indústria petrolífera independente.

O governo de Getúlio Vargas, o qual era a­cu­sado de “não perfurar e não deixar que se perfure” proibiu “O Es­cân­dalo do Petróleo” e mandou re­colher todos os exemplares disponíveis, naquilo que seria o primeiro lance da longa sequência de escândalos envolvendo o ouro negro brasileiro, que prosseguem até os dias de hoje.

Entre 1932 e 1935, duas companhias passaram a atuar no Brasil: a Companhia Petróleo Nacional, que funcionava em Riacho Doce, Alagoas, e a Companhia Petróleos do Brasil, instalada no campo de Araquá, hoje Águas de São Pedro, no interior de São Paulo. Ainda assim, não se extraía petróleo do subsolo brasileiro. Ao menos não oficialmente.

Em 1932, o país consumia cerca de 12.000 barris por dia e em 1938, exigia a importação de 38.000 barris diários.

Com o objetivo de remover obstáculos e embaraços ao racional aproveitamento das riquezas do subsolo e de assegurar as iniciativas privadas nos trabalhos de pesquisa e lavra, em 1934 o governo federal promulgou o novo Código de Minas, que regulava a propriedade das jazidas do subsolo. A legislação, porém, ao definir empresas nacionais como “sociedades organizadas no Brasil”, sem restrição de nacionalidade dos acionistas, possibilitava que companhias estrangeiras fossem até proprietárias de empresas nacionais.

Monteiro Lobado criticou duramente e abertamente o Código de Minas de 1934. Em especial com a exigência de nacionalidade brasileira para a pesquisa e para a lavra das jazidas minerais, apelidou-o de “lei cipó”.  Ele julgava necessária a diferenciação entre acordo e entreguismo. Ele cobrava que Getúlio Vargas priorizasse os interesses do Estado brasileiro, inclusive em longo prazo.

Em março de 1934, o DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) foi criado.  O órgão passou a comandar as iniciativas de pesquisa de petróleo em território brasileiro.  Nesse mesmo ano, foi contratado o técnico americano Victor Oppenheim, conhecido e renomado geólogo da época vinculado à Standard Oil, o maior truste petrolífero norte-americano, para operar pesquisas em solo brasileiro.

Os primeiros boletins divulgados pelo DNPM, afirmavam que a região de S. Pedro, no estado de S. Paulo (poço São João do Araquá, cuja exploração se dava pela Companhia Petróleos do Brasil, de Monteiro Lobato), assim como, em Alagoas, em um poço explorado pela Companhia Petróleo Nacional, outra empresa de Lobato, e ainda na localidade de Lobato, na Bahia, eram positivamente desfavoráveis à presença de hidrocarbonetos, do ponto de vista da geologia de petróleo,

Primeiro poço produtor de petróleo no Brasil na cidade de Lobato na Bahia. 1938. Fonte: Acervo CPDOC FGV

Mas em 1939, contrariando os laudos do DNPM, o petróleo brotou no bairro de Lobato, em Salvador, na Bahia. Apesar da descoberta do primeiro poço de petróleo brasileiro ter ocorrido no bairro de Lobato, em Salvador (Bahia), esse nome nada tem a ver com o criador do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.

Nessa época, o jornal “A Nação” publicou: “Durante longas datas, a existência de petróleo no Brasil foi uma questão morta”.

Em janeiro de 1939, o jornal “A Noite”, reportou as notícias que vieram a encher de júbilo todos os brasileiros: “O óleo de combustível jorrava pelo furo da sonda, com tal violência que ameaçava desmontar a perfuradora”. Nesse mesmo mês, o mesmo jornal, trazia a manchete “Romaria ao local da jazida”. De acordo com a reportagem, a empolgada multidão fazia “questão de levar um frasco com amostra do petróleo”.

Infelizmente, ao final de 17 poços perfurados, em quatro anos de atividades, apenas sete apresentaram óleo. O poço responsável pela descoberta rapidamente perdeu vazão e o campo foi considerado subcomercial.

Primeiro poço comercial produtor de petróleo no Brasil - Candeia/BA.
Fonte: CandeiasBrasil

Finalmente, no ano de 1940, o primeiro campo comercial foi descoberto na bacia do Recôncavo, no município de Candeias/Ba.

O certo é que com admirável sentido de luta, Monteiro Lo­ba­to conseguiu sacudir o Brasil de alto a baixo, apontando ao povo brasileiro os caminhos de sua emancipação econômica, lutas que se aprofundariam após a sua morte e que redundaram na fundação da hoje Petróleo Brasil S/A (Petrobras).

No dia 2 de julho de 1948, Monteiro Lo­ba­to concedeu à rádio Record aquela que se­ria a última entrevista de sua vida, a qual encerrou com as palavras: “O Pe­tróleo é Nosso”! Dois dias após, “O Repórter Esso”, na voz de He­ron Domingues, anunciou a morte de um grande brasileiro, desses que surgem poucos a cada geração: “E a­gora uma notícia que entristece a todos: acaba de falecer o grande es­critor e patriota Monteiro Lobato!”.

Entre 1945 e 1950, o abastecimento de derivados de petróleo importados no Brasil começava a pressionar de forma crescente as reservas cambiais do país. A importação de derivados de petróleo em 1948 chegou a representar 44% do valor de todas as matérias-primas importadas pelo Brasil.

Em 1950 o valor que o país pagava pela importação de petróleo bruto era US$ 200.000 e equivalia ao que o país arrecadava com toda a exportação de café.

 A campanha pela autonomia brasileira no campo do petróleo foi uma das mais polêmicas da história do Brasil republicano, de 1947 a 1953 o país dividiu-se entre aqueles que achavam que o petróleo deveria ser explorado exclusivamente por uma empresa estatal brasileira e aqueles que defendiam que a prospecção, refino e distribuição deveriam ser atividades exploradas por empresas privadas, estrangeiras ou brasileiras

 Os nacionalistas argumentavam que se o Brasil não criasse uma empresa estatal, fatalmente aquele produto estratégico para o desenvolvimento econômico, seria oligopolizado pelas grandes corporações internacionais, pela Standard Oil, Shell, Texaco, Mobil Oil, Esso, etc... e que desta forma o país se veria refém daquelas grandes companhias.

 No dia 3 de outubro de 1953, Vargas sancionou a Lei nº 2.004. Estava criada a maior empresa nacional da história, a Petróleo Brasileiro S.A – Petrobras.


Getúlio discursa, observado por Café Filho (atrás dele) e pelo deputado Tancredo Neves (à direita de Café) durante solenidade de assinatura do decreto de criação da Petrobras. Fonte Memorial da Democracia
Fonte: Memorial da Democracia

 Depois de Guaricema, ocorreram outras descobertas no litoral do Nordeste: em 1970, os campos de Caioba, Camorim, Robalo e Dourado, em Sergipe; em 1973, Ubarana, no Rio Grande do Norte.

Plataformas geminadas - Campo Ubarana litoral do Rio Grande Norte
Plataforma de Concreto (PUB-02) navegando para costa potiguar nos anos 70. Foi construída em Ponta de Laje na Baia de Aratu - Bahia

Em 1968, o petróleo existia em grande quantidade e a baixo preço no exterior, e a política governamental de autossuficiência petrolífera foi deixada de lado. A ordem passou a ser comprar petróleo onde fosse mais barato. A partir desse ano, a produção nacional estaciona e o consumo cresce. A importação do Petróleo trouxe sérias consequências para o país, entre elas, o aumento da dívida externa.

Na década de 1970 quando ocorreu as duas “Crises do Petróleo”, a primeira em 1973 e a segunda em 1979, a explosão do preço do barril de petróleo provocou o colapso econômico, encerrando inclusive o chamado “Milagre Econômico Brasileiro”.

Fonte: Revista Veja
Crise Petróleo.
Fonte: Matiz Jeocaz Lee Meddi

Em 1972 o Brasil importava 80% do petróleo que consumia e a produção interna de petróleo atendia apenas 23.5% da demanda aparente.    

 A partir de 1973, os preços do barril de petróleo foram elevados de US$ 2,90 para US$ 11,65/barril. Na ocasião, a Petrobras produzia apenas 169 mil barris de petróleo/dia e as importações ultrapassavam 1 milhão de barris diários.

Em 08/12/1973, o jornal O Estado de São Paulo, apresentou a seguinte manchete: “Petrobras fará apelo para poupar gasolina”.

Fonte: Info Escola
Fonte: Revista Quatro Rodas

Esse aumento provocou impacto negativo da conta do petróleo sobre as reservas cambiais, com repercussões na economia, como por exemplo: redução das taxas de crescimento econômico, agravamento do processo inflacionário, crescente drenagem de moedas fortes para os países produtores de petróleo e a mudança inesperada na estrutura econômica.

O valor das importações de petróleo em 1974 superou o de todas as exportações de produtos manufaturados feitas pelo Brasil.  Em consequência de seu déficit comercial o país teve que aumentar sua dívida externa e reduzir suas reservas internacionais.

A dívida externa brasileira subiu de 4.4 bilhões de dólares em 1969 para 12.6 bilhões em 1973, e de US$ 17,2 bilhões em 1974 para US$ 43,5 bilhões em 1978.

No apagar do ano de 1974, finalmente, a primeira descoberta importante aconteceu no mar: o Campo de Garoupa, na Bacia de Campos. Tendo a produção de petróleo iniciada em 1977.  Garoupa é considerado o marco da exploração de petróleo em alto-mar, iniciada em 1968 no campo de Guaricema, no Sergipe.

Plataforma no Campo de Guaricema.
Fonte: Agencia o Globo
Plataforma no Campo de Garoupa.
Fonte: Revista Petro&Quimica

Superando as expectativas contrárias da época, a Petrobras descobriu ainda petróleo em diversas bacias sedimentares terrestres brasileiras, como nas bacias do Recôncavo, de Sergipe, de Alagoas, Potiguar e do Solimões.

Exploração na Bacia Potiguar.
Fonte: Revista Petro&Quimica

Em 1975, foi descoberto na Bacia de Campos o Campo de Namorado, o primeiro gigante da Plataforma Continental Brasileira. Em 1976, o campo de Enchova.

Os problemas relacionados com o balanço de pagamentos levaram o Governo a considerar a possibilidade de rever a legislação do petróleo de modo a aumentar a produção interna. Isso levou a aceitação em outubro de 1975 dos chamados contratos de serviço com cláusula de risco.

Nos 14 anos de vigência dos contratos de risco (1975-1988), foram celebrados 243 acordos com as 35 maiores e mais experientes empresas estrangeiras, que tiveram à disposição mais de 80% das bacias sedimentares brasileiras.

No período 1977-1989, elas investiram US$ 1,1 bilhão, dos quais apenas US$ 350 milhões no Brasil, O saldo destinou-se ao pagamento de equipamentos e mão-de-obra no exterior. No mesmo período, a Petrobras aplicou US$ 26 bilhões, ou seja, quase 80 vezes mais.

As multinacionais perfuraram apenas 205 poços, contra 9.770 concluídos pela Petrobrás. Afora uma pequena ocorrência não comercial de gás na Bacia de Santos, de economicidade duvidosa, identificada pela Pecten e consorciadas, as companhias estrangeiras não descobriram nada. Em razão do fracasso, os contratos foram proibidos pelos constituintes de 1988, quase por unanimidade. Na mesma área, em local distante apenas 1.500 metros de poço perfurado pelas multinacionais, a Petrobras encontrou óleo que deu origem ao Campo de Tubarão e, posteriormente, Estrela do Mar, Coral e Caravela.

No mesmo período, a Petrobras mais que quadruplicou a produção brasileira de óleo e gás equivalente, elevando-a de 169 mil barris em 1975 para 700 mil em 1989. Porém, em 1978, ocorreu nova crise. Desta vez o preço internacional quintuplica. A Petrobras volta a investir na prospecção de jazidas petrolíferas a fim de diminuir nossa dependência externa em relação a esta fonte importantíssima de matéria – prima.

As novas descobertas da Petrobras aumentavam exponencialmente. O Brasil produzia 14% do petróleo que consumia, número que passou a 50% em 1985.

O primeiro grande campo descoberto em águas profundas do País, ocorreu em 1984, e foi chamado de Albacora. Mais tarde, surgiram outros campos gigantes, como Marlim, Roncador, Barracuda e Caratinga. Além desses, também de grande porte, foram descobertos na parte norte da bacia, já no estado do Espírito Santo: Jubarte e Cachalote, na área que ficou conhecida como "Parque das Baleias". Em 1984 a produção nacional era cerca de 500 mil barris por dia.

Fonte; Agencia O Globo

Em 12/10/1986 apenas sessenta e duas pessoas presenciaram o momento em que o petróleo jorrou pela primeira vez na Amazônia, no campo de Urucu. Situado no município de Coari, a cerca de 650 quilômetros de Manaus. Grande desafio. A aventura pura, estilo Indiana Jones mesmo. Todo transporte de material e de pessoas era feito pelo Rio Urucu. Os equipamentos, máquinas, tratores e sondas eram desmontados e carregados pelo meio da mata fechada e enlameada nas costas. Desmontava-se tudo, colocava-se tábuas para reduzir os atoleiros e, em meio as clareiras que eram abertas, se montava tudo de novo. Não era incomum as equipes encontrarem onças, cobras e todo tipo de animal. Não podemos deixar de exaltar o desafio de produzir petróleo com respeito ao meio ambiente e redução dos impactos da atividade sobre a região.

Campo de Urucu em plena Selva Amazônica.
Fonte: AM Post

Em 1997, a Petrobras chegou a 1 milhão de barris produzidos por dia. No ano de 2006 finalmente atingimos a 2 milhões de barris produzidos por dia, o que significava dizer que a produção desse recurso no país, pela primeira vez, era igual ou maior do que a demanda interna para a sua utilização.       A expertise da Petrobras em águas profundas foi fundamental para vencer o desafio tecnológico da extração de petróleo no Pré-sal.

Separação do Continente Gondwana
Fonte: Pangea_animation

O Pré-sal é uma sequência de rochas sedimentares formadas há mais de 100 milhões de anos, no espaço geográfico criado pela separação do antigo continente Gondwana. Na separação formou-se a América Sul e a África.

O Pré-sal descoberto no Brasil constitui uma grande reserva petrolífera e de gás natural localizada em áreas profundas do oceano, abaixo de uma camada de sal que atualmente chega a 2 mil metros de espessura. Essa reserva situa-se em uma área de três bacias sedimentares: Bacia de Santos, Bacia de Campos e Bacia do Espírito Santo.

Os primeiros indícios de petróleo no Pré-sal ocorreram em agosto de 2005, na Bacia de Santos, próximo a Parati. Ainda em caráter experimental, ou seja, para verificar a qualidade do óleo extraído que acabou sendo de boa qualidade.

Todo esse trabalho foi consolidado no dia 15 de julho de 2010, quando a Petrobras deu início à produção comercial do Pré-sal, campo de Baleia Franca, na Bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo. Produzindo 13.000 barris de petróleo dia.

Plataforma da Petrobras no pré-sal da área de Parque das Baleias, no Espírito Santo. Foto: Steferson Faria / Agência O Globo

O Pré-sal brasileiro ao apresentar um grande volume de petróleo, qualidade do óleo, alta produtividade dos poços produtores e alta índice de sucesso nas perfurações, possibilitou a redução do custo de produção com o aumento gradativo da explotação dos reservatórios, a ponto do custo de produção do barril de petróleo no Campo de Búzios na Bacia de Santos ter atingido US$ 4 em 2020.

Importante ressaltar, que a Shell chegou perto de descobrir o Pré-Sal, todavia não quis correr o risco financeiro para enfrentar o risco geológico, tendo em vista os poços serem muito caros, um poço custava US$ 240 milhões. Neste momento a Petrobras fez a diferença tendo em vista seu compromisso com o desenvolvimento nacional.

Com todo esse histórico de dificuldades, é impressionante como uma parte da imprensa brasileira ainda é capaz de distorcer a realidade dos fatos. Talvez por interesses pessoais ou “coletivos”, como podemos constatar através de artigos publicados na mídia brasileira.

Dois anos após a descoberta de Pré-sal, Carlos Alberto Sardenberg publicou artigo afirmando que o Pré-sal existia só na propaganda do governo.

Em 2009, Miriam Leitão reconheceu a existência do Pré-sal, mas foi categórica ao afirmar que a Petrobras não tinha tecnologia para extrair petróleo em águas tão profundas. Precisaria do apoio de empresas estrangeiras.

A mesma jornalista, em 29/10/2010, escreveu o artigo “Além do Arco-Íris”, e citou: “É falsa a ideia de que o Pré-sal é a solução mágica que garante o futuro. O governo faz confusão proposital quando o assunto é petróleo”. O Pré-sal invenção brasileira é uma distorção de marketing inventado pelos políticos do governo com apoio dos ideólogos da Petrobras e da ANP”.

O Globo, em seu editorial de 20/12/2015, destila ódio contra a Petrobrás: “O Pré sal pode ser patrimônio inútil”. Todavia, em 16 setembro 2018, O GLOBO publica em um dos seus editoriais: “Doze anos após sua descoberta, o Pré-sal brasileiro se tornou a fronteira petrolífera mais atraente do mundo”.

No final de abril de 2016, Carlos Alberto Sardenberg, com maestria de picadeiro, retrata a situação: “Quebraram a estatal. Ou ela faz um acordo judicial ou vai precisar de aportes do governo”. Nunca mostrou um número sequer (mesmo porque eles não existiam), e o Brasil inteiro acreditou (e, incrivelmente, até hoje acredita). A mentira virou verdade.

Fonte: TiberioGeo

Em 2018, Fernando Morais em seu Blog NOCAUTE, escreveu:  Pré-sal: o “patrimônio inútil” agora vale ouro. Pois é o Pré-sal é a maior descoberta petrolífera no mundo contemporâneo e já responde por 70% da produção nacional de petróleo. 

Enquanto a imprensa brasileira fazia uma cobertura superficial e tendenciosa adotando um tom de fofoca, com críticas rasas e sem fundamento sobre o Pré-sal, a mídia estrangeira publicava matérias consistentes e detalhadas, destacando a importância do Pré-sal para o Brasil e para a indústria petrolífera mundial e até comemorando a conquista. O The New York Time em um dos seus editoriais, enfatizou a “mudança nacionalista” do País, que fortalecia a atuação estatal da Petrobras na exploração da camada.

Fonte: Geopolitica do petroleo

Interessante, como a mídia brasileira em determinados momentos, acerca do Pré-sal, conseguiu influenciar pesadamente o pensamento de muitos brasileiros. Alguns amigos chegaram a me perguntar se esse negócio de Pré-sal era mesmo verdade. Parecia aquela dúvida que até hoje muitos ainda têm sobre a ida do homem à Lua. Tem gente que não acredita. Realmente, explorar petróleo a 300 km distante da costa, com lâmina d’água atingindo 2.200 m de profundidade e os reservatórios chegando a 5.000 m abaixo do leito marinho, incluindo uma camada de sal de aproximadamente 2.000 m de espessura, pode ser comparado a complexidade de chegar à lua.  

Desde as primeiras descobertas em águas profundas, na Bacia de Campos, nos anos 70, até chegar à nova fronteira exploratória do Pré-sal, foi necessário trilhar numa longa jornada tecnológica. Tecnologias foram aprimoradas e novas tecnologias desenvolvidas com participação diversas áreas técnicas da Petrobras, incluindo o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Miguez (Cenpes), de fornecedores, operadoras, de estudiosos e pesquisadores de universidades e centros de tecnologias.

Com certeza, a descoberta dessas extensas reservas de petróleo e gás ao longo da costa sudeste do Brasil, em 2006, representou um novo capítulo na história do petróleo mundial e principalmente do Brasil. Atualmente a produção de petróleo do Brasil, totaliza 3.045.000 bbl/dia, sendo que o Pré-sal totaliza 2.221.126 bbl/dia, correspondendo a 73% do petróleo explorado (dados apresentados no Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natura da Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e BioCombustíveis de 31/08/2021).

Campo de Tupi.
Fonte: Petrobras

Fico pensando como estaria a economia do Brasil sem o Pré-Sal. Talvez, sem o Pré-sal, estaríamos na mesma situação da década de 70, onde o Brasil era um grande importador de petróleo com reflexo significativo na sua economia e crescimento.

Fonte: Jornal O Globo

Acredito que podemos denominar de “Bandeirantes do petróleo” os trabalhadores brasileiros que escreveram e continuam escrevendo a história do petróleo brasileiro com muita luta e dedicação, e principalmente com a consciência, que o “Petróleo é Nosso”.

Fonte: IBP
Monteiro Lobado.
Fonte: Dialogo do Sul

Em 1º de maio de 1935, Monteiro Lobado escreveu uma carta para o engenheiro de perfuração Charles Frankie, imigrado da Suíça em 1920, lamentando a ignorância de deputados e senadores sobre a questão do petróleo. Dizia ainda que: “O livro [Luta pelo Petróleo] é que vai abrir os olhos dessa gente, mostrando a significação do petróleo. Ninguém sabe. Este país é uma burrada imensa…”.

Sem sombra de dúvida, Monteiro Lobato foi um dos homens mais íntegros e corajosos que já viveram neste país, um intelectual “à moda antiga”, daqueles que passados quase um século a nossa pobreza ética e intelectual ainda se ressente.

12/10/2021

O vírus da saúde brasileira

Fonte: Manaus Olimpica

O livro “Subsídios para o estudo de problemas brasileiros” (1979) de autoria do professor Eurivaldo Tavares, no capítulo Saúde – Diagnóstico e Diretrizes, faz um raio X dos problemas da saúde no Brasil da época, evidenciando o enorme déficit de médicos, de enfermeiras e de leitos hospitalares, além do alto custo da medicina e dos produtos farmacêuticos. Além disso, complementa: “Os profissionais da medicina, além de poucos, são mal distribuídos, muito sofrendo o interior do país. Mais da metade dos municípios brasileiros não tem um só médico. De modo geral, os médicos recém-formados não são inclinados a se deslocarem para o interior...”.  Alguma semelhança com o sistema de saúde no Brasil dos tempos atuais?

Voltando ao Brasil-Colônia, lembramos que o território brasileiro era ocupado unicamente por povos indígenas que já tinham algumas enfermidades, mas a colonização portuguesa trouxe diversas outras comuns na Europa, que não existiam por aqui. Isso causou um grande problema de saúde entre a população, já que os nativos não tinham imunidade para combater determinadas enfermidades; como consequência, milhares deles morreram. Como não existia infraestrutura na área de saúde, quem precisava buscar auxílio geralmente recorria aos pajés, curandeiros, boticários ou barbeiros.

No Brasil colonial, eram os curandeiros e barbeiros que proporcionavam atendimento de saúde aos menos favorecidos (Fonte: Scielo)

Com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, o Brasil começou a receber mais investimentos em infraestrutura. Foram criados os cursos de Medicina, Cirurgia e Química.

Em 1822, D. Pedro I declara a independência brasileira com relação a Portugal, bradando: “Independência ou morte!”  Relacionando o bordão com saúde pública, pode-se dizer que houve avanços durante o período Imperial – de acordo com o Dr. Drauzio Varella, pouco eficazes.

Na realidade, durante os 389 anos de duração da Colônia e do Império, pouco ou nada foi feito com relação à saúde. Não havia políticas públicas estruturadas, muito menos a construção de centros de atendimento à população. O acesso aos tratamentos e cuidados médicos dependia da classe social: pessoas pobres e escravos viviam em condições duras e poucos sobreviviam às doenças que tinham. As Santas Casas de Misericórdia foram, durante décadas, a única opção de acolhimento e tratamento de saúde para quem não tinha dinheiro. As pessoas nobres e colonos brancos, que tivessem terras e posses, tinham maior facilidade de acesso aos médicos e remédios da época.


Igreja da Misericórdia de Porto Seguro, fundada na primeira metade do século 16 pela primeira Irmandade da Santa Casa da Misericórdia do Brasil, que também fundou o primeiro hospital. Atualmente é o Museu de Arte Sacra de Porto Seguro, com imagens do século 16 (Fonte: Guia Geográfico História do Brasil)

Com a instauração da Republica do Brasil, em 1889, o Pais continuava sofrendo com epidemias e falta de saneamento básico. A cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico, caracterizado pela presença de diversas doenças graves que acometiam à população, como a varíola, a malária e a febre amarela.

Fonte: Biblioteca Nacional

Na era do Estado Novo (Era Vargas) poucas foram as investidas no setor da saúde pública, podemos citar a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (1930) e o fortalecimento do Instituto Oswaldo Cruz, como referência nacional no controle epidemias e endemias.

É importante destacar a implantação da Lei Eloy Chaves, estabelecida pelo Decreto Legislativo 4.682/1923, que criou as chamadas Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) para os empregados ferroviários. Depois estendida para empregados dos serviços de força, luz, bondes, mineração, para os telegráficos e portuários.  As CAP’s concediam aos trabalhadores associados ajuda médica, aposentadoria, pensões, para dependentes e auxílio funerário.  O Decreto n° 20.465/1931, estendeu o Regime da Lei Eloy Chaves aos empregados dos demais serviços públicos concedidos ou explorados pelo Poder Público Federal. É considerada a primeira lei de previdência social.

Posteriormente, as CAP’s existentes a época foram reunidas nos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), organizados pelo Estado, como autarquias federais, por categoria profissional, surgindo, assim, uma previdência social de abrangência nacional. Todavia, a unificação dos IAP’s só ocorreu em 1977, por meio do Decreto-Lei nº 72/1966, após a criação do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS).

Infelizmente, durante o regime militar, a saúde sofreu cortes orçamentários e muitas doenças voltaram a se intensificar. Em 1970, apenas 1% do orçamento da União era destinado para a saúde. Em 1977 foi criado o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) que era ligado ao Ministério da Previdência e Assistência Social, e fornecia atendimento com uma ressalva: só eram atendidas as pessoas que tinham carteira assinada e contribuíam para a Previdência. O Inamps entra em declínio no final dos anos 1980, por pressão de movimentos por uma reforma sanitarista no País e por constituir um sistema, cuja conta não fechava: arrecadação não cobria os gastos.

Em setembro de 1990 tivemos a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS). Na Constituição de 1988 ficou definido que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. A frase define a ideia de qualquer pessoa pode ir a uma unidade básica de saúde ou a um hospital público e receber atendimento de graça. O sistema brasileiro foi inspirado no britânico, o NHS (Nacional Health Service). O SUS não é apenas atendimento médico, mas também vigilância em saúde e fornecimento de medicamentos.  

O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma das maiores conquistas da população brasileira (Fonte: APUBH)

O SUS é o único sistema público de saúde do mundo que “atende uma população com mais de 200 milhões de pessoas” gratuitamente, universal (para todos) e financiado pelo dinheiro dos impostos. Dos países reconhecidos por possuírem sistema de saúde público e universal, como Reino Unido, Canadá, Dinamarca, Suécia, Espanha, Portugal e Cuba, nenhum tem população superior a 100 milhões de habitantes. Nos EUA não há sistema universal de saúde – é necessário pagar para ter atendimento ou remédios. O governo subsidia planos de saúde para alguns grupos específicos, como idosos ou pessoas de baixa renda – no entanto, mesmo para eles o atendimento e os remédios não são de graça. Na China, o sistema público de saúde não é gratuito, já que existem os seguros de saúde públicos e os privados.

Pelo que evidenciamos, apesar de inúmeras conquistas e avanços em sua história, o sistema saúde pública no Brasil continua enfrentando diversos problemas. O saneamento básico ainda é precário em várias regiões do Brasil. Temos retorno de doenças consideradas erradicadas ou controladas há muito tempo. Em muitos hospitais faltam leitos, principalmente quando trata-se de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Além de que é comum a grande espera para atendimento. O mesmo acontece com a marcação de exames. Ressaltamos ainda que, a concentração e distribuição de médicos pelo território brasileiro é bastante desigual.

Fonte: SOU + SUS
Fonte: SOU + SUS
Fonte: SOU + SUS

Todavia entendo que nosso SUS (Sistema Único de Saúde) foi uma das grande conquista da população brasileira, sendo reconhecido como um dos maiores do mundo e usado como modelo em muitos outros países. Entretanto, sofre desafios do mau gerenciamento e a insuficiência de investimentos financeiros. No Orçamento Público aprovado para 2020, que totaliza R$ 3,6 trilhões, foi destinado apenas R$ 125,6 bilhões para a Saúde. Isso corresponde à 3,5% do total, enquanto que a média mundial é de 11,7%. Atualmente, 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS, o restante da população utiliza a saúde privada.

Fonte: SOU + SUS

Durante esta pandemia do coronavirus ficaram ainda mais evidentes alguns dos problemas do sistema de saúde do Brasil. Como por exemplo: a falta de profissionais, leitos, aparelhos, etc. Inclusive a atitude de nossos políticos. Talvez estes sejam o grande vírus da saúde brasileira.

“Um país onde falta saúde, educação, segurança e ainda pagamos os impostos mais altos do mundo, precisa ser repensado.” Marcos Ferreira.

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12/10/2021

Quando vamos revogar a “Lei de Gérson”?

Fonte: Acarlosoliveira

O Filósofo Sócrates (470-399 a.C) foi condenado a beber veneno por acusação de corromper a juventude, não honrar os deuses da cidade e violar as leis. Ele dizia: “Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são”.

A maior investigação criminal sobre corrupção no Brasil (Lava Jato), derrubou, dentre tantos outros, um dos mitos mais aceitos pelo ingênuo senso comum: o de que os responsáveis pela corrupção são apenas os funcionários e agentes do demoníaco Estado, destacando-se os políticos. Os números e as provas, demonstram que muitas fortunas (boa parcela delas) foram construídas por força da compra de favores e privilégios junto ao poder público. A corrupção jamais se tornaria sistemática nas proporções a que chegou sem a participação efetiva, a conivência e o estímulo dos agentes do mercado (econômico e financeiro). É praticamente impossível medir a proporção de efetividade de cada parte (Estado e mercado) na medonha corrupção brasileira.

A corrupção no Brasil tem se transformado numa espécie de luta dos bons contra os maus. Corrupto é sempre o outro. Temos que lembrar que é um ato corrupto quando alguém desafia a honestidade e ganha vantagem em cima de outra pessoa. Parar em fila dupla é corrupção também. “Quem é que garante que quando você para em uma fila de mão dupla não vai prejudicar alguém que está em estado grave numa ambulância?”. É honesto o cidadão pegar atestados médicos sem estar doente ou saquearcargas de veículos acidentados nas estradas?

As práticas designadas como corruptas e corruptoras não são idênticas, elas sofrem uma variação significativa no tempo e espaço, isto é, o fenômeno possui uma dimensão legal, histórica e cultural. No Brasil, em razão do nosso passado colonial, isso ficou bem evidente.

Segundo os historiadores, a corrupção chegou ao Brasil com as caravelas portuguesas. Para estimular um fidalgo português a deixar o conforto da Corte e se aventurar no território selvagem recém-descoberto, a coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância, para não abrir mão do Brasil. A concessão de cargos foi o mecanismo usado por Portugal para garantir seu domínio e explorar as riquezas da nossa colônia. Esses cargos trariam não somente prestígio social, mas, principalmente, vantagens financeiras.

Ressaltamos ainda o estimulo da coroa portuguesa para pessoas irem para o interior, dizia: “vão para o interior e podem mandar à vontade por lá”. Esses locais só eram acessíveis após meses de caminhada, o que exigia ainda mais “incentivos” para os “fidalgos-desbravadores”.

A escravidão também contribuiu para o desenvolvimento da corrupção no país. Isso porque era a única relação de trabalho existente, deixando o trabalho livre sem qualquer tipo de norma para regê-lo. A corrupção encontrou, desta maneira, em solo brasileiro, condições propícias para sobreviver e se difundir na cultura de novo país durante a sua formação. Propinas a governantes e funcionários reais era uma prática tolerada e até regulamentada por lei.

D. João VI, nos oito primeiros anos em terras brasileiras, distribuiu mais títulos de nobreza do que em 700 anos de monarquia portuguesa. O historiador Pedro Calmon uma vez disse que, para ganhar título de nobreza em Portugal, eram necessários 500 anos, mas, no Brasil, bastava 500 conto. O Banco do Brasil foi fundado e refundado várias vezes. A primeira delas foi em 1808, por Dom João VI. Ao voltar para Portugal, em 1821, Dom João VI pegou todo o dinheiro depositado no banco.

Os populares santos de pau oco são mais representativos da contradição entre a fé e cobiça do que da prática do contrabando de ouro e diamante. Fonte: Revistadehistória

O famoso “jeitinho brasileiro” já era notado nessa época. Basta lembrar da famosa expressão “Santo do pau oco”. Pedras preciosas e ouro eram contrabandeados para a Europa, dentro de imagens de santos católicos para escaparem dos altos tributos. Nem a padroeira do Brasil escapou da corrupção. Entre a colônia e o Império, a devoção a Nossa Senhora Aparecida foi explorada e doações foram surrupiadas. Durante o Império, padres foram afastados pela Coroa e civis foram nomeados para comandar a diocese e usufruir do poder político.,

No primeiro Reinado, a Marquesa de Santos, amante de Dom Pedro I, cobrava dinheiro para fazer indicações a cargos públicos. O imperador, segundo jornais da época, era suspeito de estar envolvido. O jornalista Borges da Fonseca chamava D. Pedro I, ironicamente, de ‘Caríssimo`, não por considera-lo um ‘Prezado` monarca, mas em referência às enormes verbas que a Casa Imperial consumia dos cofres público”.

 “Quem furta pouco é ladrão, quem furta muito é barão e quem furta e esconde passa de barão a visconde” (adágio do século 19). Uma indicação da permanente suspeita de corrupção no Império.

Durante o reinado de D. Pedro II, Ângelo Agostini, um importante cartunista da época, desenhou ratazanas gordas usurpando do Tesouro Nacional. A casa Imperial também possuía grandes verbas, como o chamado “Bolsinho do Imperador”, de caráter pessoal, do qual o monarca era dispensado de prestar contas. Cartão Corporativo da época.



A charge acima, publicada na revista Ilustrada, mostra os ratos que comiam o Tesouro Nacional (Segundo Reinado). Um detalhe curioso para os paranaenses: dois ratos levantam suspeitas sobre a construção da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá e da obra do ramal ferroviário para Antonina (Fonte: Gazeta do Povo)

Com a proclamação da república (1889), cenário de corrupção pouco mudou. Fontes históricas sugerem, por exemplo, a continuidade da prática de pagamentos de propina, como no caso de concessões para construção de ferrovias durante a Primeira República.

Fonte: HH Magazine

Na República Velha não tínhamos sequer eleições para valer. O que tínhamos era o regime “café com leite”, o regime dos governadores, onde os governadores se reuniam e decidiam: “Essa é a vez daquele, aquela é a vez do outro”. Destacamos ainda o “voto de cabresto”, em que os coronéis locais determinavam em quem os eleitores tinham de votar. No dia da eleição o votante ganhava um pé do sapato e somente após a apuração das urnas o coronel entregava o outro pé. Caso o candidato não ganhasse o eleitor ficaria sem o produto completo.

A expressão “mar de lama” foi popularizada na segunda gestão do governo Getúlio Vargas. O Inquérito do Branco Brasil, Cexim (antigo CACEX) e Jornal Última Hora, foram três casos de corrupção envolvendo órgãos e agentes do governo, que contribuíram por fixar certa concepção social do que seja corrupção na sociedade brasileira nos anos 50.

O Regime Militar (1964) se firmou sob o pretexto de lutar contra a subversão e a corrupção porém não estava imune à corrupção. Embora não haja nenhuma denúncia de corrupção envolvendo diretamente os generais-presidentes, muitos outros militares e civis foram alvo de denúncias durante o regime. Mais de 1.100 processos foram instaurados pela Comissão Geral de investigações, ligado ao Ministério da Justiça, mas desse montante apenas 99 casos chegaram ao fim, com o confisco de bens aos envolvidos. Como a imprensa era censurada, muitos escândalos nem sequer chegavam aos jornais.



Fonte: Brasilefragilrepublica

Em 1974, o “Pasquim”, deu uma “cutucada” e publicou uma foto da ponte Rio-Niterói, com uma legenda mais ou menos assim: “Ilusão de ótica: onde vocês veem uma ponte, são onze pontes”.

Segundo a pesquisadora Heloísa Starling, o Presidente Castello Branco descobriu depressa que esconjurar a corrupção era fá­cil; prender corrupto era outra con­versa: “O problema mais grave do Brasil não é a subversão. É a corrup­ção, muito mais difícil de caracteri­zar, punir e erradicar”.

A redemocratização não impediu que o país continuasse a ser palco de grandes escândalos de corrupção. Afloraram principalmente por três fatores: maior liberdade de imprensa (sem censuras dos governos), atuação mais energética do Ministério Público e Promotores de Justiça e maior participação da população na política. O ex-presidente Fernando Collor sofreu impeachment em 1992 por denúncias de que tinha suas despesas pagas por meio de um esquema de corrupção. Anos depois, a emenda constitucional que garantiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso foi alvo de outra grande suspeita: os votos favoráveis no Congresso teriam sido comprados. Em 2005, o governo Lula foi palco do escândalo do mensalão. Pouco depois veio a Lava Jato, que criou a pressão popular para o impeachment de Dilma Rousseff. Ressaltamos ainda os escândalos corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (RJ), do ex-presidente da Câmara Deputado Eduardo Cunha e outros políticos.

Pelo exposto, evidenciamos que as práticas que vemos hoje na política brasileira já remontam ao século XVI. O sistema político brasileiro (com raríssimas exceções) sempre foi um balcão de negócios e predominantemente um escritório de gerenciamento dos interesses das classes dominantes. Não devemos esperar que a corrupção seja suprimida da noite para o dia. A atitude de conformismo, passividade e alienação do cidadão alimenta a proliferação de maus políticos. Precisamos urgentemente, mudar nossos valores e atitudes. Vamos revogar a “Lei de Gérson”. Chega de levar vantagem em tudo!

Em meados dos anos 70, em pleno regime militar e o Brasil tricampeão mundial de futebol, um infame comercial de cigarro (Vila Rica) teve como garoto propaganda o nosso Gérson, o Canhotinha de Ouro, que protagonizou uma campanha publicitária e sem querer descreveu em uma frase o brasileiro e sua essência, Gérson finalizava o comercial dizendo: “gosto de levar vantagem em tudo”.

Quem não se comunica, se trumbica

Discoteca do Chacrinha foi um programa de variedades da televisão brasileira apresentado por Abelardo "Chacrinha" Barbosa em várias emissoras (Fonte: observatoriodatv)

O escritor e jornalista macauense (RN) Vicente Serejo, escreveu um artigo com o título “Vesgos”. Segundo ele, o fenômeno “vesgos” nasce de polarização que divide brasileiros e impede a visão correta do Brasil; os que apoiam candidato “A” não enxergam erros do seu candidato e os que apoiam o candidato “B” olham em seu candidato o exemplo da virtude. O efeito imediato é a vesguice, um verdadeiro vício “vesgueiro”, que acaba por fomentar uma visão política brasileira atual completamente distorcida, cheia de intolerância e sem limites, jogada num fosso profundo.

As recentes manifestações de rua, por todo país, reforçam o pensamento do jornalista Vicente Serejo. Podemos até entender a indignação e frustração do povo com os descaminhos da política, mas fazer manifestação pedindo intervenção militar e, pior, retorno do AI 5 (Ato Institucional 5) é desconhecer totalmente a história do Brasil. Acredito que a maioria destas pessoas nem eram nascidas na década de 60 e 70.  Há muito tempo ouvimos a frase: “O brasileiro tem memória curta!”. Vou mais longe, a memória do brasileiro não dura sequer seis meses.

Ao longo de mais de 150 anos, a postura do poder constituído frente às ideias dissonantes que emergiam da sociedade variou de uma repressão ferrenha à relativa liberalização, por vezes centrando fogo nas questões políticas, outras posicionando-se em defesa de uma suposta moral da família brasileira. 

A censura no Brasil, tanto cultural como política, ocorreu durante todo o período após a colonização do país. A imprensa brasileira, por exemplo, teve um nascimento tardio, como tardios foram o ensino superior, a própria independência política e a abolição da escravatura. As três primeiras tentativas de surgimento da imprensa no Brasil, tanto em Pernambuco (1706), Rio de Janeiro (1747) e Vila Rica – Minas Gerais (1807) foram suprimidas por ordem do governo português.

O objetivo da Coroa era manter a Colônia ainda em seu domínio, nas trevas e na ignorância. Era coibida toda e qualquer atividade de imprensa (jornais, livros ou panfletos). A Coroa proibia circular em seus territórios e suas colônias todas as obras de teor iluminista ou que criticassem a  Igreja Católica e a monarquia absolutista instituída em Portugal.

A Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal publicado em território nacional. Começou a circular em 10 de setembro de 1808. Infelizmente, pouco mais de um mês depois, uma série de medidas renovou os dispositivos referentes à censura e à vigilância sobre os impressos. A situação da imprensa só se alterou em março de 1821, quando D. João ordenou por decreto a suspensão da prévia censura, mas sob a condição de que dois exemplares de cada impresso seriam obrigatoriamente remetidos ao Diretor de Estudos, para análise das provas que se tinham de cada folha na imprensa. Em 28 de agosto de 1821, D. Pedro alterou a Lei da Imprensa, determinando a liberdade de imprensa, porém foram caracterizados os chamados crimes de imprensa com punições.

A censura foi em tese abolida com a lei de imprensa de outubro de 1823, assinada por D. Pedro I. Esse decreto estipulou que nenhum escrito estaria sujeito a censura, mas não impedia que o imperador fizesse uso de outras prerrogativas para perseguir aqueles que o atacavam nos jornais.

Um fato interessante sobre D. Pedro I era que gostava de publicar artigos inflamados contra seus adversários no jornal “O Espelho”. Era considerado um jornalista panfletário, irreverente e polêmico. Utilizava vários pseudônimos: “Simplício Maria das Necessidades”, “O Inimigo dos Marotos”, “Derrete Chumbo a Cacete”, “Piolho Viajante”, etc.

A constituição brasileira de 1824 estabeleceu a liberdade de imprensa como norma, mas incluía limitações suficientemente vagas para aplicações de restrições e represálias.

Importante lembrar que o jornalista João Soares Lisboa, editor do Correio do Rio de Janeiro, foi o primeiro a defender, através da imprensa, a convocação de uma constituinte brasileira e a primeira pessoa processada no Brasil por abuso da liberdade de imprensa (1822), do mesmo modo que o jornalista Líbero Badaró foi o primeiro jornalista a ser assassinado no Brasil em virtude do que escrevia. Era um crítico em relação ao autoritarismo do Imperador e defensor de que a imprensa deveria ser tanto livre quanto responsável. Morreu em novembro de 1830, em consequência de um atentado a bala.

Do ponto de vista da liberdade de imprensa, o Reinado de Pedro II é incomparável, principalmente decorrente da postura tolerante do monarca frente às críticas escritas e ao deboche das caricaturas. Os jornais que pregavam a mudança da forma de governo nunca foram reprimidos por isso.

Com a proclamação da República (1889), ocorreu a volta aos tempos de cerceamento da liberdade e dos atos de violência, no início, sobretudo, contra os poucos jornais que se mantinham monarquistas, por parte de agentes e simpatizantes do governo.

No fim de 1889, surge a primeira lei de censura republicana, ou seja, a junta militar passa a ter o direito de processar jornalistas e puni-los. Ocorreu o fechamento de diversos jornais. Além da repressão, não foram poucos os casos em que recursos públicos foram utilizados para corromper jornais e jornalistas, em especial sob o governo Campos Salles (1898-1902).

No governo Arthur Bernardes (1923) foi criada a Lei de Imprensa Brasileira (lei de censura) para estabelecer limites de atuação da imprensa.

Um dos exemplos de censura mais conhecidos é o do Barão de Itararé. Em 1932, após mais de cinco anos de implacáveis sátiras à sociedade e à política em geral, Aparício é sequestrado e espancado por policiais da marinha, nunca identificados. O episódio não o fez abandonar seu ofício. Mantendo o espírito satírico, afixou o seguinte aviso na porta de seu escritório: “Entre sem bater”.

O nascimento do Estado Novo, em 1937 (Era Vargas), além de haver uma grande censura aos meios de comunicação, exilio e tortura de jornalistas e intelectuais que faziam críticas ao regime, foi também instituído uma espécie de culto à personalidade ao ditador Getúlio Vargas, semelhante à adoração que havia à Adolfo Hitler (Alemanha) e à Benito Mussolini (Itália).

Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que era encarregado do aparato de censura e da propaganda oficial. Objetivos principais: fazer censura do teatro, do cinema, das funções recreativas e esportivas, da radiodifusão, da literatura social e política e da imprensa.

Em março de 1940, registrou-se um dos casos mais notórios de intervenção em jornais com a invasão pela polícia de “O Estado de S. Paulo”; o jornal permaneceu sob intervenção do DIP até o final do Estado Novo (1945).

No período democrático entre 1946 e 1964, a censura centrou-se em questões morais e atuava em grande medida em função da pressão de setores conservadores da sociedade, preocupados especialmente com o cinema (decreto 20493), que experimentava uma popularização sem precedentes e começava a ousar em cenas e enredos.

O período de 1964 a 1985 foi sombrio para o exercício da liberdade de imprensa. A princípio, embora as lideranças políticas identificadas com o antigo governo e à esquerda dele tenham sido perseguidas, não houve maior repressão à imprensa, entretanto, em pouco tempo a censura ganhou força multiplicadora e se voltou para questões políticas. Era considerada subversivas e perigosas para a unidade nacional quaisquer manifestações que envolvessem algum tipo de crítica ao regime vigente, ao cotidiano nacional e às “tradições brasileiras”. O endurecimento do regime militar com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), no dia 13 de dezembro de 1968, reintroduziu a censura direta e indireta em níveis só comparáveis ao período mais duro do Estado Novo (1937-1945).

Parecer da censura recomendando a proibição da canção "Partido Alto", de Chico Buarque (Fonte Arquivo Nacional).

Em 1970 uma portaria formalizou esta prática em caráter mais duradouro e enfatizava a censura sobre publicações consideradas “subversivas” ou “obscenas.” Nesse período, censores foram colocados nas redações dos jornais, com uma lista de tópicos que não deveriam ser abordados, e até mesmo palavras que não poderiam ser faladas. A partir do governo Geisel a atuação da censura começou a arrefecer, mas não cessou, estendendo-se até mesmo além do governo Figueiredo.

Entretanto, graças a constituição de 1988, a proteção à liberdade de expressão e de pensamento foi firmada com tamanha amplitude. Afirma: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Apesar de transcorridos apenas 35 anos (1985-2020), este é o maior período da Era Republicana em que houve plena vigência das instituições democráticas, principalmente após a Constituição 1988. Com o retorno à democracia, conseguimos reaver os nossos direitos fundamentais, entre eles, o da liberdade de expressão que é vital para o próprio funcionamento da sociedade democrática, haja vista que a imprensa (escrita, televisiva ou virtual) tem o poder de fiscalizar o exercício da atividade pública, bem como supervisionar e denunciar abusos de autoridade e crimes que venham a ser praticados por membros de instituições públicas. Liberdade de expressão é um dos “pulmões” da democracia.

Fonte: mekstein.blogspot

A Democracia outorga liberdade, mas a mesma não significa permissividade ou licenciosidade, pela qual se pode abusar da liberdade para a prática do mal e de tudo o que é proibido, e sim, traduz-se pelo uso responsável dos direitos e o exercício consciente dos deveres. Nesse aspecto todos nós temos que nos policiarmos, principalmente em decorrência das redes sociais disponíveis nos tempos atuais (facebook, whatsApp, twitter, Messenger, etc). 

Já dizia o grande pernambucano Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Quem não se comunica se trumbica”. Se Chacrinha fosse vivo, faria um complemento: “porém sem fakenews”.         

11/10/2021

A única coisa que não muda é que tudo muda

Fonte: Revista Berro

Durante meus anos de Petrobras, sempre escutei serem chamados de “pelegos” os empregados que não participam de movimentos sindicais. Nos dicionários formais da nossa língua brasileira, pelego pode significar: subserviente, traidor, capacho, puxa-saco, fura greve, frouxo, submisso, bajulador, dedo-duro, traíra, etc. É vasta a lista de sinônimo. Nunca tive interesse em saber a origem dessa palavra mas lendo sobre a Era Vargas, descobri que o termo pelego foi popularizado neste período.

No início da Era Vargas, foi colocado em andamento um conjunto de medidas destinadas a mudar o padrão das relações de trabalho no país. Partiu-se do pressuposto de que apenas com intervenção direta do poder público seria possível amortecer os conflitos entre o capital e trabalho.

Essa intervenção concreta ganhou expressão quando Getúlio Vargas assinou o decretou Decreto n° 19.770 em março de 1931 criando à Lei de Sindicalização.

A Lei obrigava que os estatutos dos sindicatos deveriam ser submetidos ao Ministério do Trabalho. Ressaltamos que essa Lei foi uma imitação da Carta Del Lavora, do fascista italiano Mussoline.  

Esta Lei rompia com pluralidade sindical existente até então. Essa proibição foi reafirmada pela Constituição de 1934. E, em 1939, a legislação sobre a sindicalização tornou-se taxativa no que referiu à representação sindical única. Pela nova legislação, apenas um sindicato por categoria profissional era reconhecido pelo governo. A sindicalização não era obrigatória, mas a lei estabelecia que apenas as agremiações reconhecidas pelo governo poderiam ser beneficiadas pela legislação social.

A estratégia governamental surtiu efeito. Centenas de sindicatos de trabalhadores tornaram-se legais nos anos 1933 e 1934 para poder gozar dos benefícios previstos.

A Lei da Sindicalização impunha que os sindicatos só entrariam em funcionamento a partir da aprovação oficial. Além disso, esses espaços de organização da causa trabalhista deveriam contar 2/3 de filiados nascidos no Brasil. Essa decisão afastaria a participação dos vários trabalhadores imigrantes que disseminavam os ideais socialistas e anarquistas de tais instituições.

Nesse instante, já podemos ver os interesses de controle do Estado junto aos trabalhadores. Além de proibir a representação de mais de um sindicato por categoria de trabalhadores, a legislação trabalhista da época também vetou a possibilidade de alianças entre sindicatos. Essas medidas dificultavam a organização independente e autônoma dos trabalhadores nos sindicatos, e o engajamento em greves.

Os sindicatos arregimentados por Vargas ficaram conhecidos como “pelegos”, em menção à pele de carneiro utilizada para amortecer a cavalgada em cavalos, assim, metaforicamente, o sindicato amainaria o peso sobre o trabalhador cavalgado pelo patrão.

Fonte: Perito.Med

“Pelego” era o líder sindical de confiança do governo que garantia o atrelamento da entidade ao Estado e que fingia representar a classe operária, mas na verdade manipula essa massa em nome dos patrões, representando na verdade esses.

Fonte: Conexão Notícia

Décadas depois, o termo voltou à tona com a ditadura militar. “Pelego” passou a ser o dirigente sindical indicado pelos militares sendo o representante máximo do chamado “sindicalismo marrom”.

Concluímos, concordando com o pensamento do filósofo Heráclito (540 a.C. - 470 a.C.). Segundo o filósofo “A única coisa que não muda é que tudo muda”. No início da Era Vargas a palavra “pelego” estava atrelado aos líderes sindicais quando manipulavam aos trabalhadores em nome dos patrões. Nos tempo atuais, diz respeito aos trabalhadores que não concordam em participar dos movimentos sindicais. Enfim, a única coisa certa é a mudança.

11/10/2021

O brasileiro foi feito de qual argila?

Durante a chamada ‘Guerra da Lagosta’ as aeronaves de patrulha da FAB tiveram papel fundamental na vigilância dos navios franceses. Na foto, o contratorpedeiro da Marinha Francesa Tartu é sobrevoado por um RB-17G da FAB.”Imagem, www.naval.com.br.

Quando eu era criança em Barbacena me disseram que a frase “O Brasil não é um país sério” foi dita pelo General De Gaulle. Por diversas vezes, em conversas com amigos, dizia essa frase e imputava a autoria ao general De Gaulle.  Recentemente lendo sobre a “Guerra da Lagosta” descobrir que temos controvérsias.

Fonte: Plushistória

A “Guerra da Lagosta”, foi um conflito diplomático envolvendo o Brasil e a França, que se desenvolveu entre 1961 e 1963, denominado jocosamente pela imprensa de guerra da Lagosta. O episódio faz parte da História das Relações Internacionais do Brasil, e girou em torno da captura ilegal de lagosta, por parte de embarcações de pesca francesas, em águas territoriais no litoral da região Nordeste do Brasil.

Os franceses estavam pescando a 30 milhas da costa brasileira, onde constataram haver maior quantidade de lagostas. O presidente, provavelmente sem pensar nas consequências do seu ato, deu instruções às autoridades para suspender a licença que permitia a pesca pelos franceses. A embaixada do Brasil em Paris ignorava tais ações do governo brasileiro, conforme relatado por Carlos Alves de Souza, embaixador em Paris na época, em seu livro “Um embaixador em tempos de crise”. Quando pesqueiros franceses foram apreendidos pela Marinha brasileira, Souza ficou sabendo pelo governo francês.

Em decorrência de tais fatos, o embaixador Souza foi chamado para se encontrar com o presidente De Gaulle. O general fez um histórico sobre o caso da lagosta, a permissão do presidente Goulart para a pesca, o sequestro dos pesqueiros, as notícias inverídicas da imprensa brasileira e as críticas a ele e à França.

Foto: Capa do Livro Guerra da Lagosta - Editora Traça

Após esse encontro com o general De Gaulle, Souza encontrou-se com o jornalista Luiz Edgar de Andrade, ex editor-chefe da TV Globo. Preferiu não comentar sobre a entrevista com o general De Gaulle mas falou ao jornalista sobre o tal samba carnavalesco “A Lagosta é nossa”, as caricaturas do presidente De Gualle. Terminou a conversa dizendo: Luiz Edgar, “le Brésil n’est pas um pays sérieux, conta no livro. Segundo o embaixador, foi daí que a frase se popularizou.

“Na minha vivência de mais de 50 anos nos meios militares, diplomáticos, políticos e sociais, cheguei a duas conclusões melancólicas. A primeira é a de que a argila, da qual foi feita o brasileiro, não é de boa qualidade. E a outra, em que foi acertada minha frase, atribuída a De Gaulle: “o Brasil não é um país sério”, diz Souza ao encerrar o livro”.

Dificilmente vou saber se essa frase foi realmente dita pelo ex-embaixador Carlos Alves de Souza ou pelo General De Gaulle.  Todavia a leitura sobre “Guerra da lagosta” reforçou ainda mais meu cuidado com a divulgação do que leio e escuto. Uma coisa tenho certeza, é uma frase para que façamos duas boas reflexões. Não se a lagosta é um prato delicioso mas qual argila fomos feito e a seriedade dos governantes desse país. O que vocês acham?

Slogans que fizeram história na política brasileira

Fonte: Google

Em fevereiro de 1987 começou minha caminhada no Estado do Rio Grande do Norte. Na oportunidade o empresário Geraldo Melo tinha acabado de vencer as eleições para governador com o slogan “Novos tempo, Novos Ventos”. Normalmente os slogans usados nas campanhas eleitorais tornam-se gritos de guerra dos militantes partidários e, com certeza, não saem da cabeça de nenhum iluminado.

Embora a história da propaganda política no Brasil seja recente, a contribuição do slogan tem sido uma peça essencial de uma campanha política.

Os slogans eleitorais devem ser de fácil lembrança, com palavras simples. Rimas, trocadilhos e palavras bem humoradas ajudam no fator lembrança, como: “Não vote em branco, vote Negrão de Lima’ (Campanha no Rio de Janeiro para Governador); “Chega de malas, vote em Bouças”; “Não vote sentado, vote em Pé”; “Vote com prazer” (candidata stripper no Ceará); Vote em Difunto, porque político Bom é político Morto” (candidato chamado Difunto); “Seu voto? não chute... vote na Ruth?”; “Linguiça Neles” (candidato Linguiça de Cotia-SP). “Rouba mas faz” (Ademar de Barros/Paulo Maluf). Esse foi um slogan popular, que surgiu em épocas distintas para os dois candidatos.

Na eleição de 1920 para presidência da república, o candidato Artur Bernardes foi apelidado de “Seu Mé” pelos seus hábitos etílicos (imprimindo-lhe o rótulo de “Seu Mé”, para qualificar quem tomava aguardente em excesso).”

Alguns predicados foram exaltados no slogan do Brigadeiro Eduardo Gomes na eleição presidencial de 1945. “Vote no brigadeiro, ele é bonito e é solteiro”. Significando que ele poderia ser um bom presidente por estas razões.

Candidato Brigadeiro Eduardo Gomes

Nas eleições presidenciais de 1960, o candidato Jânio Quadro queria varrer a corrupção que assolava o país na época, então utilizou o slogan “Varre, varre vassourinha”. A vassoura era um objeto que a maioria da população possuía em sua própria casa, desta forma seria possível, com a autoridade moral do candidato, acabar com a corrupção no país.

A repetição deu ao “Meu nome é Enéas” (1989) a característica para que o candidato obtivesse com apenas 30 segundos diários, mais de um milhão de votos. O candidato Enéas repetia e interpretava este slogan, que beirava o ridículo, mas cujo resultado em termos de memorização e eficiência foi ótimo

Fonte: Capa da Veja

O slogan “Caçador de Marajás” foi usado pelo candidato Collor de Melo nas eleições presidenciais de 1989. Usando a imagem de que um “marajá” era um funcionário público que ganhava muito e não trabalhava direito, o então candidato, reprisando a mensagem da “vassoura” de Jânio, igualmente prometia limpar a corrupção do funcionalismo público no país.

“Sem medo de ser feliz”, slogan de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 1989. As pesquisas mostravam que a classe média tinha medo de votar em Lula para Presidente. Assim nasceu o slogan que combatia esse conceito.

Fonte: Centro Sérgio Buarque de Holanda

Fonte: Carta Maior

Na eleição presidencial de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro adotou o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Esse slogan é uma apropriação de brado da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército. Em artigo, o coronel Cláudio Tavares Casali, esclareceu que o lema foi muito questionado devido a semelhança com o brado nazista de “Alemanha acima de tudo” (no alemão, “Deutschland Über alles”) mas que a origem foi realmente o brado da Infantaria Paraquedista, surgido no final da década de 1960. 

Temos ainda slogans durante o regime militar (1970): “Brasil, ame-o ou deixe-o”; “Ninguém segura esse país”; “Este é um pais que vai pra frente”; “Eu te amo meu Brasil”.

Fonte: Propaganda Governo
Fonte: Jornal a Verdade

Não podemos esquecer do slogan “O Petróleo é nosso”. Segundo a médica e ativista política brasileira Maria Augusta Tibiriçá, a campanha do petróleo é nosso foi efetivamente, a maior e mais original contribuição de uma atitude nacionalista brasileira democrática. Talvez hoje esse slogan seja: “O petróleo ainda é nosso?”.

Pelo que evidenciamos, a criatividade não tem faltado na criação dos slogans. Infelizmente os candidatos não têm honrado com seus slogans, mas não devemos desanimar. Vamos continuar com a esperança que tenhamos Novos tempos, Novos ventos nesse nosso amado Brasil, afinal são apenas 132 anos de república.

Concluímos com a frase do Sir Winston Churchill: “O político precisa ter habilidade de prever o que vai acontecer amanhã, semana que vem, mês que vem e no ano que vem. E a habilidade de explicar porque não aconteceu”.

10/10/2021

Aprendemos alguma lição com a Revolta da Vacina ocorrida em 1904?


A charge da revista O Malho, de 29 de outubro de 1904, parecia prever a revolta que se instalaria na cidade poucos dias depois: nem com um exército, o “Napoleão da Seringa e Lanceta”, como muitos se referiam a Oswaldo Cruz na época, conseguia conter a fúria da população contra a vacinação compulsória (Acervo Fiocruz)

Nos últimos tempos tenho intensificado minha leitura sobre História do Brasil e da Humanidade com objetivo de entender um pouco mais da política brasileira nos dias atuais, jogada num fosso profundo de uma crise de intolerância e sem líderes. “Um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la” (filósofo Edmund Burke). Em outras palavras: “Um povo sem história está fadado a cometer no presente e no futuro os mesmos erros do passado” (Historiadora Emília Viotti).

Os acontecimentos na saúde pública me trouxeram a lembrança os fatos ocorridos na Revolta da Vacina, uma insurreição popular ocorrida no Rio de Janeiro no período de 10 a 16 novembro de 1904 contra a vacina anti-varíola. Quando o presidente Rodrigues Alves assumiu o governo, nas ruas da cidade do Rio de Janeiro acumulavam-se toneladas de lixo. Desta maneira o vírus da varíola se espalhava. Proliferavam ratos e mosquitos transmissores de doenças fatais como a peste bubônica e a febre amarela que matavam milhares de pessoas anualmente.

Foto: MultiRio

Era necessário combater o mosquito e o rato, transmissores das principais doenças. Primeiro, o governo anunciou que pagaria a população por cada rato que fosse entregue às autoridades. O resultado foi o surgimento de criadores desses roedores a fim de conseguirem uma renda extra. Devido às fraudes, o governo suspendeu a recompensa pela apreensão dos ratos.

De forma a melhorar o saneamento precário e combater as doenças, o presidente Rodrigues Alves nomeou para diretor geral da Saúde Pública o médico sanitarista Oswaldo Cruz. Uma das propostas do médico para combater a doença foi a vacinação obrigatória contra a varíola, para todo brasileiro com mais de seis meses de idade. Oswaldo Cruz trouxe uma regulamentação ainda mais problemática. O governo passaria a exigir comprovantes de vacinação para que as pessoas pudessem matricular seus filhos nas escolas, começar em empregos, viajar, se hospedar na cidade e, até mesmo, se casar. Quem se negasse a ser vacinado seria multado.

Quando o conteúdo da proposta de Oswaldo Cruz chegou às mãos da imprensa, o povo iniciou a maior revolta urbana do Rio de Janeiro até então. Políticos, militares de oposição e a população da cidade se opuseram a vacina. A imprensa não perdoava Oswaldo Cruz dedicando-lhe charges cruéis ironizando a eficácia do remédio.

Espalhou-se por vários bairros da cidade, o conflito envolveu uma violenta repressão policial. Seis dias após ter sido iniciado, 945 pessoas foram presas, 100 feridos, 30 mortos e 461 deportadas para o Estado do Acre chegava ao fim a Revolta da Vacina. Em decorrência do conflito, o governo suspendeu a obrigatoriedade da vacinação, declarando estado de sítio. Exército, Marinha e Polícia foram para as ruas, repreendendo o conflito, e restabeleceram a ordem no Rio de Janeiro.

Foto: Wikipedia

É interessante observar que durante a Revolta, os militares tentaram usar a massa popular insatisfeita com um pretexto para a tentativa de um golpe, que não obteve sucesso contra o presidente Rodrigues Alves.

Outro ponto importante em ressaltar a falta de tato do governo no esclarecimento acerca da vacina. A grande maioria da população, formada por pessoas pobres e desinformadas, não conheciam o funcionamento de uma vacina e seus efeitos positivos. Numa sociedade onde as pessoas se vestiam cobrindo todo o corpo, mostrar os seus braços para tomar a vacina foi visto como “imoral”. 

Muitos estudiosos apontam que os motivos da Revolta da Vacina, em todas as classes sociais, foram a junção entre a política de tratamento com a população pobre e o sentimento de “invasão dos lares” das famílias mais ricas, obrigadas a se vacinarem.

Movimentos populares como a Revolta da Vacina ajudam a contar a história do Brasil, demonstrando o contexto em que estão inseridos e a maneira como esses conflitos se dão. Mais do que uma insatisfação contra a Lei da Vacina Obrigatória, a Revolta simboliza o período conturbado pelo qual passou o Rio de Janeiro, principalmente pelo caráter higienista e excludente adotado pelos governantes da época. Estes fatos ocorreram em 1904. Aprendemos a lição?