18/02/2022

NOSSA VIDA É UM CARNAVAL

Em 1961 meus pais saíram do Rio de Janeiro e foram morar no Estado da Paraíba. Eu tinha apenas 02 (dois) anos de idade. Inicialmente fomos morar em João Pessoa mas devido a profissão do meu pai, residimos nas cidades de Umbuzeiro, Solânea e Monteiro.
Em 1971 fomos morar na cidade de Sapé. Na época, esta cidade era a maior produtora de abacaxi do Brasil. Nessa cidade passei grande parte da minha adolescência e juventude. Nesse período, vários acontecimentos foram marcantes na história de minha vida. Destaco os eventos que ocorriam no Clube Atlético Sapeense, principalmente os bailes, as festas juninas e a festa do Abacaxi. Também ocorriam nesse mesmo clube, jogos de futebol de salão. Pois bem, foi exatamente quando terminou um dos jogos que participei, que iniciei o namoro com uma jovem Sapeense que anos depois tornou-se minha esposa. Porém, não posso deixar de lembrar dos eventos carnavalescos que ocorriam na cidade de Sapé. Nessa época a cidade de Sapé se transformava em um palco de alegria. Vários blocos, durante o dia, animavam a cidade. Eu, por exemplo, fiz parte do Bloco Balança mas não cai e também do Bloco dos Inocentes. Era tradição o envio de convites para residência de amigos e também para residência dos familiares dos componentes do bloco, para que em hora marcada, o bloco visitasse e fizesse uma festa carnavalesca naquela residência. Esse evento ocorria em todos os dias do carnaval. A noite, todos participavam das festas carnavalescas dos clubes da cidade.
Anos depois, já morando em Natal-RN, conversando com o amigo Roberto Rabelo, descobri que por volta dos anos 60, 70, ou até antes disso, esses eventos também faziam parte do período de carnaval de Natal, apenas tinham a denominação de “assaltos de carnaval”.
Bem, deixando as minhas histórias de lado, lembramos que o Brasil em 2021 vivenciou algo inédito. Em decorrência da pandemia de covid-19, as festividades de Carnaval foram canceladas em todos os estados brasileiros.
Desde que os festejos carnavalescos começaram por aqui, eles nunca deixaram de ser celebrados no período que antecede a Quaresma, em fevereiro ou no começo de março.
Este fato derrubou uma citação do escritor Graciliano Ramos que disse: “Se a única coisa que o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano”.
Importante lembrar, que as tentativas de cancelamento ou adiamento do Carnaval ocorreram duas vezes na história do Brasil, porém a população não acatou a mudança e comemorou a festa nas duas datas: a oficial e a nova que havia sido determinada.
A primeira ocorreu também por questões sanitárias, em 1892, quando o país lidava com uma série de doenças, como a febre-amarela. O ministro do interior decidiu mudar a data para 26 de junho. Para o ministro, junho era um mês “mais saudável” do que fevereiro. Porém, não foi respeitado pelos foliões e houve comemoração nas duas datas de Carnaval, um carnaval em fevereiro e outro em junho.
A segunda tentativa de adiamento da festa popular foi em 1912, devido à morte do Barão do Rio Branco, então ministro do Exterior e tido como herói nacional. Ele faleceu uma semana antes das festas. O governo decretou o adiamento do Carnaval para 6 de abril, dois meses depois da data oficial. Em princípio, parecia algo sensato, mas quando chegou o sábado de carnaval, o povo foi para a rua afogar as mágoas e acabou o luto. Mais uma
vez ocorreram dois carnavais no Brasil, em fevereiro e abril. Os registros históricos trazem até uma marchinha que o povo cantava na rua dizendo que, “se o barão morreu e a gente teve duas festas, imagina quando morrer o general”.
As duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) também não impediram a realização do carnaval no Brasil, a despeito de tentativas das autoridades.
Além do fim da Primeira Guerra, 1918 ficou marcado pela gripe espanhola. É fácil presumir que, diante da tragédia, o carnaval não fosse realizado. Mas aconteceu exatamente o contrário. A festa de 1919 é tida, até hoje, como a maior de todos os tempos.
Interessante que o Carnaval não é uma invenção brasileira. Não se sabe exatamente como o Carnaval surgiu. Segundo alguns historiadores, sua origem remonta à Antiguidade.
O Carnaval é uma tradicional festa popular realizada em diferentes locais do mundo, sendo a mais celebrada no Brasil.
A palavra Carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de controlar os desejos dos fiéis.
O Carnaval brasileiro começou com o entrudo, festa popular trazida pelos portugueses por volta do século XVII, onde, no passado, as pessoas jogavam uma nas outras, água, ovos e farinha. Também foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. O entrudo manifestou-se no período do Brasil colônia e também no Império. Em Recife existe até hoje. Nesta festa, os foliões jogavam uns nos outros água, ovos, farinha, pós de vários tipos, como o cal, etc. Como as comemorações fossem ficando cada vez mais violentas, o entrudo acabou sendo proibido. O entrudo acontecia num período anterior a quaresma e, portanto, tinha um significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje.

Entrudo


Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias.
No Brasil, no final do século XIX, começaram a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos “corsos”. Estes últimos, tornaram-se populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está aí a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. Composta em 1899, a marchinha “Ó Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga foi a primeira música feita exclusivamente para uma agremiação carnavalesca.
O carnaval é uma festa que traz um grande sentido de liberdade, uma vez que permite às pessoas reencontrarem suas raízes ancestrais. O fato de se fantasiar nessa ocasião torna a experiência ainda mais interessante. Fantasias são sempre simbólicas e, por isso, dão condições para que as pessoas se expressem através delas, realizando um sonho, se
apresentando como a personagem de um tempo perdido na história, prontas para desempenhar papéis muito distantes de sua realidade existencial. A escolha de uma determinada fantasia desvenda a personalidade e até a intimidade dos indivíduos. Vejamos por exemplo a fantasia de palhaço. Revela alguém que gosta de agradar os demais, muito sociável e extrovertido, acredita que sempre há um jeito de melhorar as dificuldades. Solidário, se identifica com as preocupações dos amigos, gosta de ajudar a quem necessita.
Enquanto parte dos brasileiros ama se fantasiar, sambar e curtir a festa, muitos fazem de tudo para fugir do agito. Quem não gosta de carnaval aproveita o momento para ficar em casa, visitar parentes ou acampar.
Culturalmente o carnaval é percebido como uma festa onde tudo pode. É justamente esse tipo de pensamento presente no carnaval que faz com que muitos romances carnavalescos não continuem quando a festa acaba. Tem pessoas que terminam seu namoro apenas para ficarem livre no carnaval e, depois dos cinco dias de festa, procurarem a ex (ou o ex) para voltar. É claro que existe gente que faz isso e se comporta de maneira descompromissada o ano inteiro, mas durante o carnaval as chances de isso acontecer parecem ser maiores. Estes tipos de situações podem trazer muita decepção para quem criou expectativas de que o relacionamento possa continuar depois da folia.
Quando o Carnaval se aproxima, é hora de se lembrar das boas e velhas marchinhas. As músicas de Carnaval que nunca saem de moda. Algumas delas foram escritas há mais de 100 anos e mesmo assim, elas continuam sendo cantadas pelas novas gerações com o mesmo frescor de antigamente.
Lembrando das emoções no período de carnaval, podemos cantar: “Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando. Pelo amor da Colombina. No meio da multidão”. Mas não só choram os Arlequins, os Pierrôs também: “Um pierrô apaixonado, que vivia só cantando. Por causa de uma colombina, acabou
chorando, acabou chorando”. Nesse momento vem à lembrança de alguém: “Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero. Mamãe, eu quero mamar”. Porém, outros afogam as mágoas de outras formas: ”As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar. Eu passo a mão na saca-saca-saca rolha. E bebo até me afogar”. Desesperadamente alguém diz:
“Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim. Oh! meu bem, não faz assim comigo não. Você tem, você tem que me dar seu coração”. Mas, talvez o problema tenha sido outro: “Se você fosse sincera. Ô, ô, ô, ô, Aurora”. Também existem os liberais ou sabidos: “Este ano não vai ser igual àquele que passou. Eu não brinquei, você também não brincou. Aquela
fantasia que eu comprei, ficou guardada e a sua também, ficou pendurada. Este ano tá combinado, nós vamos brincar separados”. Para diminuir a culpa, sempre tem uma palavra de conforto: "Vem Jardineira, vem meu amor. Não fique triste que este mundo é todo teu. Tu és muito mais bonita que a Camélia que morreu”. Mas, a festa está terminando e
alguém diz: “Ai, ai, ai, ai. Está chegando a hora. O dia já vem raiando meu bem, eu tenho que ir embora”. E ainda complementa: “Moro, em Jaçana. Se eu perder esse trem, que saia agora às onze horas. Só amanhã de manhã”. Quem fica só pode cantar: “Quem parte leva saudade de alguém, que fica chorando de dor. Por isso não quero lembrar, quando partiu, meu grande amor”.
Resumido as emoções do carnaval podemos dizer: “A nossa vida é um carnaval. A gente brinca escondendo a dor. E a fantasia do meu ideal. É você, meu amor”.
Uma observação interessante foi feita por um fotógrafo chamado Adilson Santos: “Quando o carnaval acaba, muitos políticos continuam com suas máscaras”.
Enfim, existem os que amam e os que odeiam Carnaval. De que lado você está? Se dos que amam. Bora pular Carnaval porém não esqueçam: “Se beber não dirija”.

07/02/2022

CANTA CANTA MINHA GENTE DEIXA A TRISTEZA PRA LÁ

Desde criança gosto de música, de instrumentos musicais e de cantar. Com sete anos de idade, residi na cidade de Solânea na Paraíba. Na frente da minha casa, tinha um centro Pastoral onde um conjunto musical da cidade fazia seus ensaios. Sempre que eu podia, ia ver os ensaios. De todos os instrumentos o que eu mais gostava de ver tocar era a bateria. Durante muitos anos de minha vida, disse que ainda compraria uma bateria e aprenderia a tocar, mas ficou apenas em sonho. Aos 10 anos de idade, num evento para comemoração do Dias das Mães no Clube Municipal de Monteiro-Pb, tive a oportunidade de cantar em público. Por incrível que pareça, dentro de determinada categoria, fui o vencedor. Fiquem certos que tinha mais de um concorrente. O melhor foi o prêmio: uma lata de doce. Passados bons anos, já residindo na cidade do Natal –RN, junto com mais dois grandes amigos, Manu e Raimundinho, montamos um trio chamado “Os Teimosos”. O repertório era composto principalmente por músicas de forro de cantores como Luiz Gonzaga, Genival Lacerda, Trio Nordestino e Três do Nordeste, e algumas músicas de cantores nordestinos que gostavam de fazer letras de duplo sentido. Nesse trio, eu era o vocalista. Na verdade, as apresentações eram apenas para nos divertirmos nas festas juninas que eu e minha esposa sempre fazíamos em nossa residência. Importante lembrar que as únicas fãs que tive como cantor, foram minha mãe e minha avó paterna. Como para as mães os filhos são sempre perfeitos e para os avós, os netos são a sua coroa de glória, fica difícil considerar essa opinião. Vocês não acham?

Bem, independentemente de meus dons artísticos, há um ditado popular que diz que “quem canta, seus males espanta”.

O filósofo Platão já dizia “primeiro, devemos educar a alma através da música e, a seguir, o corpo através da ginástica”, destacando a importância dessa arte para a manutenção do conhecimento e da vida.

A música é uma das formas de arte mais apreciadas no mundo. É reconhecida por muitos pesquisadores como uma modalidade que desenvolve a mente humana, promove o equilíbrio, proporciona um estado agradável de bem-estar, influencia no humor, reduz a depressão, tensão e fadiga, facilita a concentração e o desenvolvimento do raciocínio.

Mas, por incrível que pareça tem pessoas que não gostam de música. Na verdade, a ciência criou até um nome para qualificar sua condição; anedonia musical. É uma condição em que o indivíduo é incapaz de sentir prazer ao ouvir música. É um sintoma típico da depressão, também encontrado em alguns tipos de esquizofrenias e no transtorno de personalidade. Quanto ao gosto musical, é algo difícil de ser discutido. Afinal cada um tem o seu. Seja por moda, por influência da família, dos amigos ou qualquer outra coisa, o importante é sentir-se bem ouvindo o seu som.

O nosso Brasil é muito diverso e heterogêneo culturalmente, e apresenta distintos estilos musicais dependendo da região. Cada um deles tem uma história e revelou artistas importantes para a história da música e do Brasil.

Infelizmente nos últimos tempos a música brasileira começou a ficar carente de conteúdo, de mensagens, de poesias ou de rebeldia com justa causa.

Lembramos, por exemplo, da Música Popular Brasileira (MPB), um dos gêneros musicais mais apreciados no Brasil, surgiu em meados da década de 60 como um desdobramento da bossa nova e apresentava influência de diversos estilos musicais, na busca de criar um genuinamente nacional. Com o Golpe Militar de 1964, esse tipo de música também se constitui como um forte instrumento de luta contra a repressão. Com um conteúdo contestador, os músicos se posicionavam de maneira contrária às injustiças sociais e à ditadura imposta no país.

Nesse período muitos artistas viram suas músicas na lista de censura da repressão, mas nem por isso eles pararam de produzir suas canções. Em outras palavras, eles utilizaram a arte para mascarar sua militância contra a política da época.

Muitas dessas músicas tornaram-se um marco de uma época que o Brasil não pode esquecer. Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré) tornou-se um hino de resistência dos movimentos contra à ditadura militar brasileira. Porém, por conta do enorme sucesso, a canção foi proibida pelos militares. A letra da música incitava o povo a resistir, unir forças contra a violência e opressão de um governo: “Nas escolas, nas ruas, campos e construções. Somos todos soldados, armados ou não. Caminhando e cantando e seguindo a canção. Somos todos iguais. Braços dados ou não”.

A música Cálice, lançada por Chico Buarque em 1973 é uma das músicas mais fortes e significativas do período da ditadura militar. A letra faz alusão a oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. Contudo, para quem lutava pela democracia, o silêncio também era uma forma de morte. Muitas pessoas foram caladas e mortas, por pensarem diferente do governo e por lutarem para serem escutadas.

Saindo desta área de músicas de protesto, podemos ressaltar algumas músicas de cantores da MPB com letras e mensagens belíssimas, tais como: Como uma Onda no Mar e É preciso saber viver. Na música Como uma Onda, há uma verdade que sempre pulsa em frente a nossa visão, mas que insistimos em menosprezar: a de que tudo é efêmero e tem prazo de validade. A metáfora do oceano e da onda tem sido muito utilizada para ilustrar a verdade do ciclo de nascimento, vida e morte em que tudo na natureza está submetido. Uma primeira interpretação da onda no oceano vem no sentido da sua curta duração. Lulu Santos, inspirado, escreveu sua música com os seguintes versos: “Nada do que foi será do jeito que já foi um dia; tudo passa e tudo sempre passará; a vida vem em ondas como um mar; num indo e vindo infinito; tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo; tudo muda o tempo todo no mundo...”.

Os versos da música “É preciso saber viver”, retratam a importância da persistência, principalmente quando pedras surgem em nosso caminho. Para os compositores, viver é saltar e não ter medo da queda, é não sofrer, mas aceitar a dor: “Quem espera que a vida. Seja feita de ilusão. Pode até ficar maluco. Ou morrer na solidão. É preciso ter cuidado. Pra mais tarde não sofrer. É preciso saber viver. Toda pedra no caminho. Você pode retirar. Numa flor que tem espinhos. Você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem. Você pode escolher. É preciso saber viver”.

Assim como a MPB, o forró que é um nome utilizado para descrever diferentes estilos musicais, como o xote, o baião, o arrasta-pé e o xaxado, no início dos anos 70, também buscando fugir da censura da ditadura de 64, vários compositores lançaram músicas de forró com duplo sentido. Eram letras maliciosas e, quase sempre, com cunho sexual, ainda que de forma disfarçada, mas cujas rimas deixavam claro o objetivo das composições.

As primeiras músicas representantes dessa “moda”, duplo sentido, mas não escancaradas, foram “Ovo de codorna” e “Capim Novo”, gravadas por Luiz Gonzaga, além de “Procurando tu” e “Você tá boa”, grandes sucessos do repertório do Trio Nordestino.

Neste período o cantor compositor e sanfoneiro pernambucano José Nilton Veras, mais conhecido pelo apelido Zenilton, ganhou fama pelo teor humorístico de suas letras. “Capim Canela” iniciou a série de músicas de sucesso: “é só capim canela, é só capim canela". Depois veio, Bacalhau à Portuguesa: “Eu quero cheirar seu bacalhau/ Maria, quero cheirar seu bacalhau”. Em 1982, Zenilton lança o LP com o nome Grilo dela, com a música Cri-Cri: “Peguei, peguei, peguei o grilo dela”.

A alagoana Clemilda, foi um dos ícones do Forró de duplo sentido. Um dos principais sucessos foi: Prenda o Tadeu, “Seu delegado prenda o Tadeu. Ele pegou a minha irmã e... crau”.

Independentemente do período da história, as músicas de forro sempre se destacaram pelo sucesso regional apresentado em suas letras, principalmente mostrando a realidade da vida do sofrido povo nordestino. O chamado forró tradicional ou forró pé-de-serra, terá sempre como seus maiores representantes os pernambucanos Luiz Gonzaga e Dominguinhos, os paraibanos Jackson do Pandeiro e Sivuca. Não tenho dúvida que a música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga deva ser considerada o Hino dos Nordestinos.

Quero destacar a música de forro “A natureza das coisas”, lançada em 2007 pelo pernambucano Accioly Neto. Essa música me chamou atenção por representar o cotidiano da vida de todos: “Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada. Se avexe não. A lagarta rasteja até o dia em que cria asas. Se avexe não. Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa. Se avexe não. Amanhã ela para na porta da sua casa”. A natureza não tem pressa. Sem pressa, calma! Tudo a seu tempo. A natureza é sábia e não há nada por acaso. É preciso que façamos a nossa parte e o resto virá no seu tempo devido. A música termina dizendo: “Se avexe não. Toda caminhada começa no primeiro passo. A natureza não tem pressa, segue seu compasso. Inexoravelmente chega lá. Se avexe não. Observe quem vai subindo a ladeira. Seja princesa ou seja lavadeira. Pra ir mais alto, vai ter que suar”.

Um dos cantores e compositores mais conhecidos no Brasil, o Rei Roberto Carlos, mostrou em diversas músicas que a sensualidade pode existir nas músicas, sem precisar da apelação. Roberto Carlos, possui músicas carregadas de um romantismo erótico, que falam sobre a intimidade de casais na cama (ou em outros cantos da casa), que passaram a proliferar em seu repertório a partir dos anos 1970.

 Com “Proposta”, ele inaugurou sua face “cantor de motel”. Feita em parceria com Erasmo, a música descreve um convite tentador à amada: “Eu te proponho/ Te dar meu corpo/ Depois do amor/ O meu conforto…”.

Dois anos depois, Roberto voltou ao tema erótico com “Seu Corpo”. A música, ainda mais sensual que “Proposta”, descreve uma viagem quase cinematográfica pelo corpo nu da amada, no qual ele se perde para se encontrar: “No seu corpo é que eu encontro/ Depois do amor o descanso/ E essa paz infinita/ No seu corpo minhas mãos/ Se deslizam e se firmam/ Numa curva mais bonita...”

Apesar de todas essas sugestões líricas e imagéticas, Roberto percebeu que nunca havia usado a palavra “sexo” em nenhuma de suas músicas. Decidiu, então, dar esse passo à frente na canção “O Côncavo e o Convexo”, que relata o encaixe perfeito entre os corpos de dois amantes. E nela finalmente, aparecia a palavra tabu: “Cada parte de nós, tem a forma ideal/ Quando juntas estão, coincidência total/ Do côncavo e o convexo/ Assim é nosso amor no sexo”.

Quanto ao samba, entendo que vale o que dizia Dorival Caymmi, “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”.

A história do samba se mistura com a história do Brasil de diversas maneiras e gerou vertentes e mais vertentes, como a Bossa Nova, o pagode e muitos outros, o que faz com que ele seja muito popular até hoje e uma parte da identidade nacional brasileira. Diversos músicos brasileiros foram responsáveis por popularizar o ritmo, tais como: Noel Rosa, Cartola, Pixinguinha, Martinho da Vila, etc.

Vamos dar ênfase aos compositores Cartola e Gonzaguinha. Cartola que ficou conhecido por grandes sucessos como ‘As Rosas Não Falam’ e ‘O Mundo é um Moinho’, que trazem a essência de suas dores e questões existenciais da época, traduzidas da realidade em forma de versos poéticos que são acompanhados por combinações harmoniosas e expressivas de sons e samba raiz.

“Queixo-me às rosas, mas que bobagem! As rosas não falam!” A história desta canção é muito curiosa. Um dia Dona Zica, esposa de Cartola, recebeu de presente um ramalhete de rosas. Plantou no fundo de seu jardim e no dia seguinte ficou surpresa ao ver que muitas rosas já haviam desabrochadas. Chamou Cartola e perguntou para ele sobre o fato. O poeta respondeu que não sabia, afinal, as rosas não falam! Após dizer isso, Cartola percebeu que poderia fazer uma letra e ficou com aquela frase na cabeça. Pegou seu violão e em poucos minutos a música já estava pronta.

A letra da canção não tem muito a ver com a história que inspirou o compositor. Na canção, um homem está desconsolado por não ter o amor de sua amada. Resolve queixar-se para as rosas, entretanto as queixas não adiantam em nada, afinal as rosas não falam.

A canção “O que é o que é”, do compositor Gonzaguinha, reflete sobre a forma como cada um pode encarar seu dia a dia, sobre os prazeres e as dores de se estar e de se sentir vivo, além da esperança por dias melhores. Fala que a felicidade está na maneira como se vê a vida, como as crianças, que, em sua pureza, dizem: “é bonita, é bonita e é bonita”. A música é toda cheia de significados e reflexões. Isso porque Gonzaguinha também era poeta e tinha o dom das palavras. Ele sabia dizer muito de forma simples: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita. E é bonita. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar, e cantar, e cantar. A beleza de ser um eterno aprendiz. Ah, meu Deus!” Encontramos facilmente o mesmo mote de sofrimento de amor em basicamente todos os gêneros da música popular brasileira, como nas canções de axé, samba, bossa-nova, forró e rock. Contudo, apesar da liberdade exercida pelo tema entre os gêneros musicais brasileiros, o sertanejo atual abraçou a sofrência como a tábua de salvação do momento. As músicas de sofrência, em geral, falam de histórias de amor que já terminaram – e não foi de uma boa maneira – e de pessoas que sofrem com saudade de ex. Esse estilo não agrada a todas as pessoas, mas é bastante popular e suas letras sempre se encaixam na vida de alguém que está passando por um término.

Na análise das relações entre as antigas canções de amor e as atuais vem da expressão cunhada por Lupicínio Rodrigues: dor de cotovelo. Tal expressão tem sua origem exatamente na posição de abandono que aqueles que sofrem de amor ficam quando estão no bar. Ao se apoiar sobre a mesa, enquanto consome alguma bebida alcoólica, os cotovelos são castigados pelas longas horas em tal atividade. Hoje, esse termo cedeu espaço ao termo sofrência. É mais comum entre a juventude, principalmente, ouvir que alguém “está na sofrência” do que está com dor de cotovelo.

 Contudo, o termo cunhado por Lupicínio não foi excluído totalmente pela geração “sofrente”. Nela, ele se encontra sob nova versão: a dança. Muito característica, a dança “sofrente” é um tanto contida, com passos curtos, sem se deslocar muito do lugar. No entanto, o que é mais singular na dança é a posição dos braços.

Em nosso passeio musical, colocamos apenas alguns estilos musicais e fizemos algumas interpretações de canções. Mas como existem muitos gêneros musicais, possivelmente cada brasileiro tenha seu gosto e sua lembrança. A música nos conecta a momentos. Quando ouvimos uma canção, automaticamente ela nos lembra alguém, algum lugar ou situação. E isso nos traz proximidade, mesmo que em pensamento. Poucos acordes são suficientes para iniciar uma viagem no tempo e trazer ao presente lembranças já esquecidas.

Hoje em dia temos músicas que não passam sentimento ou admiração alguma, vivemos numa época em que o ridículo é muito bem aceito. O problema é que atualmente muitas músicas não têm a intenção de tocar a alma do homem. Independentemente dessa tortuosa situação que a música brasileira está passando, a música brasileira tem uma bela história e continua revelando importantes artistas.

O surgimento exato da música ainda é um mistério entre os historiadores e cientistas que debatem até hoje quando os primeiros instrumentos musicais foram criados. Mas se há um consenso entre todos, é de que a música existe há tanto tempo que não conseguimos imaginar nossas vidas sem ela. Imaginem um mundo sem festivais, shows, bares com uma boa banda, ou baladas para dançar até clarear o dia? Agora imaginem um filme ou série favorita sem a trilha sonora para acompanhar?

Segundo a poetiza Neusa Marilda Muxxi, a primeira nota musical que ouvimos foi no ventre de nossa mãe. O tum...tum...tum...do coração dela era a canção especial com que a vida nos brindava naquele momento.

O mundo é nosso palco. A vida é nossa arte, nossa música. Nós somos os músicos. Protagonistas que somos, devemos escolher o que queremos tocar e apresentar sempre um show inesquecível! Ouça... faça da vida um belo espetáculo musical! (Maykira).

Assim sendo, e lembrando de uma música do cantor Martinho da Vila, podemos dizer: “Canta canta, canta minha gente, deixa a tristeza pra lá. Canta forte, canta alto. Que a vida vai melhorar!”

20/01/2022

Estes seus cabelos brancos, bonitos

Em dezembro de 1979, o cantor e compositor Roberto Carlos lançou seu vigésimo LP (Long Play). Um dos carros chefes do álbum era a música “Meu querido, meu velho, meu amigo”. Segundo o próprio Roberto Carlos essa música foi feita para homenagear seu pai. Nas primeiras estrofes, ele escreveu: “Esses seus cabelos brancos, bonitos; esse olhar cansado, profundo; me dizendo coisas num grito; me ensinando tanto do mundo. E esses passos lentos de agora; caminhando sempre comigo; já correram tanto na vida. Meu querido, meu velho, meu amigo”.

Nesta época, estava no auge de minha juventude. Tinha vinte anos de idade. Mas o tempo não para. Hoje estou quase o retrato da poesia “Retrato” de Cecília Meireles que diz: “Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho ficou perdida a minha face?”.

Em 1907, o jornalista Cândido Jucá escreveu no Correio da Manhã um artigo com o título “As características visíveis da velhice”, onde dizia: “Os olhares sobre a velhice ressaltam diferentes aspectos. Os fios prateados começam a aparecer no alto da cabeça. Depois alvejam nas têmporas e após a canície costuma vir a calvície. A ruga, que é o estigma da pele, não se faz esperar. Os sentidos embotam-se. A vista diminui. O ouvido endurece-se”.

Mas, o que é a velhice? As vezes, fala-se dela como do outono da vida (tempo de transformação) seguindo a analogia sugerida pelas estações e pelo andamento das fases da natureza. Basta olhar, ao longo do ano, para a mudança da paisagem nas montanhas e nas planícies, nos prados, nos vales, nos bosques, nas árvores e nas plantas. Há uma estreita semelhança entre o biorritmo do homem e os ciclos da natureza, à qual ele pertence.

O envelhecimento é um fenômeno biológico e inerente a toda espécie. No entanto, ele, também, tem uma dimensão existencial, pois modifica-se conforme a relação do indivíduo com o tempo, com o mundo e com a própria história. Na sociedade capitalista, a velhice está vinculada à ideia de produtividade. Em alguns povos a velhice é estimada e valorizada, como por exemplo na China e no Japão. Ela é sinônimo de sabedoria. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada.

O surgimento da “terceira idade” pode ser considerado como uma tentativa de rompimento com as imagens negativas da velhice que predominavam no início do século XX. Os termos são importantes: a “velhice” é substituída pela “terceira idade”, e os “velhos” tornam-se “idosos”. Diferentemente da “velhice”, a “terceira idade” se caracterizaria por ser uma fase da vida em que as pessoas aproveitariam intensamente o seu tempo, na busca de realizações pessoais. O lazer, os cuidados com o corpo e a saúde, a ampliação do círculo social, parecem estar presentes nessas novas representações sociais do envelhecimento.

Em 1º de outubro de 1999, o então papa João Paulo II escreveu a Carta aos Anciãos, dentre tantas coisas importantes ele disse: "A terceira idade é uma dádiva de Deus e chegar a ela é um privilégio". Quem teve o privilégio de viver muito, sabe que o tempo, é um mestre muito caprichoso, por isso, aprende a olhar com serenidade o turbilhão da vida.

O Brasil, que por tanto tempo foi considerado jovem, caminha rapidamente para se consolidar como o país de uma população envelhecida. Infelizmente, por falta de planejamento, o Brasil passa a ter grandes dificuldades para lidar com seus cabelos brancos. Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que quase um quinto da população brasileira é composta por pessoas com 60 anos ou mais. O levantamento aponta que 40,3% dos brasileiros serão idosos daqui a aproximadamente 90 anos. Lembramos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso aquele indivíduo que tem 60 anos ou mais de vida.

Ficar vivo por mais tempo, o que deveria ser uma boa notícia para todos, virou um desafio econômico pessoal para os brasileiros. Na parte baixa da pirâmide, onde estão os mais pobres, começa a ser sentido o aumento no número de idosos desamparados pela família. Os albergues públicos estão lotados e a demanda por vagas entre pessoas de mais de 60 anos não para de crescer, segundo estudo do Ministério do Desenvolvimento Social. Para piorar, há também o problema do enfraquecimento dos laços familiares na nova sociedade. A família, agora, não é mais aquela tradicional que sempre destacava alguém para cuidar dos mais velhos. A oferta de cuidadores familiares já apresenta evidências de redução, dadas as mudanças na família, seja com a redução do seu tamanho ou a participação maior das mulheres no mercado de trabalho. Importante ressaltar, que se o idoso tiver alguns problemas de saúde ou doenças como Alzheimer se faz necessário, em muitos casos, a recorrer a espaços para hospedar o paciente.

Entre as alternativas não familiares para o cuidado do idoso, a mais antiga é a instituição asilar, cuja origem remonta à Grécia Antiga. No Brasil e no resto do mundo, embora os asilos constituam a modalidade mais antiga de atendimento ao idoso fora do convívio familiar, ainda não há um consenso sobre o que sejam as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Essas instituições têm como objetivo garantir a atenção integral ao idoso, garantindo condições de bem-estar físico, emocional e social.

Pesquisa feita pela GPED-ILPI (Grupo de estudos, Pesquisas e Diagnóstico – Instituição de Longa Permanência para Idosos (GPED-ILPI), vinculado à Universidade de São Paulo (USP), mostrou que houve um crescimento acentuado do número de ILPIs no Brasil na última década. Tínhamos 3548 unidades em 2010 e em 2021 passamos para 7292. Sejam públicas, privadas ou filantrópicas.  A grande maioria das instituições brasileiras são filantrópica, incluindo neste conjunto, as religiosas e leigas. Vindo em seguida as instituições privadas com fins lucrativos e por último, em menor número, as instituições públicas.

Interessante diferenciar asilo, de abrigo e de casa de repouso. A palavra asilo na maioria das vezes remete aquele espaço velho e mal cuidado onde as famílias deixavam um idoso com quem não queriam mais a convivência. Mas isso não é bem assim. Têm bons asilos como também existem os não tão bons. Muitos asilos são municipais, alguns gratuitos, outros pedem uma contribuição mensal (próprio salário do idoso), e neste caso podem não ter todas as melhores condições para o idoso. Mas para quem não tem condições financeiras de pagar outro espaço, acaba escolhendo este tipo de instituição. Por lá, podem ser contemplados além dos idosos, dependentes químicos ou órfãos.

Os abrigos costumam proporcionar boa estrutura, com profissionais e equipamentos. Também é indispensável o pagamento para o idoso ficar neste espaço. Costumam oferecer um espaço com boas condições e infraestrutura. É cobrada taxa mensal para a hospedagem.

As casas de repouso oferecem atendimento personalizado ao paciente, com equipes especializadas e à disposição para realizar o tratamento e cuidados específicos para cada idoso. Com infraestrutura completa, esse local permite a sociabilização do paciente e conta com atividades para a distração do idoso. É o espaço que mais se assemelha à casa do paciente. Também é cobrado valor pela estadia.

Atualmente muitos idosos garantem o sustento e a manutenção de sua família com o pouco de recurso que dispõe (aposentadoria, pensões e atividades remuneradas). Esse perfil é conhecido como os idosos arrimo de família. Assim, o idoso vem tornando uma figura essencial em seu meio, não exercendo apenas a função de cuidador, mas como chefe de família, responsável pela sobrevivência de seus componentes

Segundo estimativa do Valor Econômico avalizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a morte de idosos (60 anos ou mais) por COVID retirou R$ 3,8 bilhões da economia.  Conforme o instituto, em 25,4 milhões de domicílios no país vivem idosos, dos quais 15,4 milhões, mais de 50% da renda vêm do idoso. “Em muitos casos, quando o idoso morre, a família entra na pobreza”, declara a economista do Ipea Ana Amélia Camarano, especializada na 3ª idade. “No Brasil, ainda se entende a Previdência Social como gasto e não como elemento estrutural do Estado de bem-estar social”.

A Previdência Social mudou a estrutura dos lares, que viam os idosos como um peso. Muitas vezes, o aposentado não é o mantenedor da casa, mas ajuda na criação ou na educação de netos. A crise econômica, responsável pelo alto nível de desemprego, explica o aumento do número de aposentados que vivem hoje como arrimo de família. À medida que o mercado de trabalho demora para se recuperar, as aposentadorias acabam ganhando espaço no orçamento familiar. A geração que hoje depende dos pais pode ter dificuldade para se aposentar. Em breve, serão eles os idosos. E sem renda.

Em um terço dos lares brasileiros, vive pelo menos um idoso. Neles, 43% dos adultos com menos de 60 anos não trabalham, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O impacto da morte de um idoso aposentado ou pensionista, pode levar a uma queda de metade da renda familiar. Para o futuro, teremos um cenário mais difícil para quem ainda está na juventude. Temos maior informalidade hoje. Os idosos de agora viveram um momento melhor na economia e puderam se aposentar, mas vai chegar um momento em que as pessoas vão envelhecer sem aposentadoria.

Para piorar essa situação, existe um senso comum que coloca o idoso como incapaz e, por isso, é um grupo marginalizado socialmente. O Estado brasileiro valoriza quem trabalha, quem produz renda. Então, a terceira idade é associada àquela que vai quebrar a Previdência, um tema em destaque na atual crise econômica. Isso torna o idoso ainda mais exposto a abusos e violência.

Embora existam leis de proteção a esse grupo, como o Estatuto do Idoso e o artigo 230 da Constituição Federal, falta a conscientização por parte da sociedade para o respeito ao direito à autonomia e à expressão da vontade da terceira idade.

Também não podemos esquecer que as condições urbanas afetam profundamente a saúde de seus moradores, principalmente dos idosos. Muitos dos idosos nasceram em áreas rurais, mas estão envelhecendo em áreas urbanas que são precariamente equipadas para encorajá-los a continuarem ativos. A habilidade em se manter ativo ao longo da vida pode ser crucial para conservar a independência, ter acesso a serviços locais, se manter em forma e criar oportunidades importantes para a sociabilidade. Pequenas intervenções urbanas, tais como: posicionamento de faixas para pedestres, pontos de ônibus e banheiros públicos podem estimular idosos a caminharem e serem mais ativos.

Infelizmente, em um mundo em que os únicos valores são a juventude e o sucesso profissional, o declínio de ambos faz com que as pessoas não encontrem mais seu lugar neste universo e ainda se tornam vítimas de atendimento de saúde precário e de outros tipos de violência urbana e até familiar.

Segundo um ranking da organização não governamental Help Age International, o Brasil é um dos piores países da américa do Latina para se envelhecer. Ficamos apenas a frente da Venezuela e do Paraguai. No mundo, ocupamos a posição número 56 entre 96 nações referidas. Esse é mais um grande desafio dos governos do Brasil.  Nosso país precisa avançar rapidamente, nas políticas públicas de prevenção, acompanhamento e zelo dos idosos. O país envelheceu.

Enquanto muitos de nós evitamos pensar sobre os desafios de envelhecer (o que seria muito melhor do que desviar do assunto), o envelhecimento vai inevitavelmente nos confrontar. Deve, portanto, ser uma prioridade para cada um de nós.

É preciso encarar a velhice como um processo absolutamente natural, como a infância ou adolescência. Hoje, vivemos mais do que há 30, 40 anos. Então é preciso parar e pensar o que se quer construir e quais são as possibilidades para a própria vida, levando em conta esse tempo a mais que temos para viver. Alguém já disse um dia, "envelhecer é o único meio que temos de viver mais tempo”. Segundo o célebre escritor e cineasta sueco Ingmar Bergman, falecido em 2007, "envelhecer é como escalar uma grande montanha: enquanto escala, as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a visão mais ampla e mais serena".

Respeitar as pessoas idosas é tratar o próprio futuro com respeito. Os idosos têm direito a esse respeito. Não seremos pessoas dignas ou um país digno se não dignificarmos nossos idosos. Segundo o Papa Francisco, "abandonar um idoso é um pecado mortal" e você pode encontrar na sua trajetória o que você perdeu, mas nunca encontrará o que você abandonou!

É importante reforçar, que a presença do grupo familiar na vida da pessoa idosa é de extrema importância, pois pode significar apoio e ajuda, contribuindo na restauração de forças para lidar com as perdas advindas do processo de envelhecimento. É preciso cuidar da fragilidade de quem cuidou da nossa. De preferência com e por amor, mas também porque é nossa obrigação. Tenho certeza se perguntarmos a maioria dos idosos se ele deseja ir para qualquer tipo de instituição, ele vai dizer que pretende ficar em casa.

Concluímos, com algumas orientações para vivermos mais e melhor, nessa fase da vida, que chamamos “terceira idade”: não se apegar às normas e "tabus", ignorar os preconceitos, ser "autêntico", não viver em função do que os outros pensam, valorizar você mesmo, evitar sempre que possível fazer o que não gosta, ter um "hobby" e dedicar parte do seu tempo a ele, conviver com outras pessoas, amigos e familiares, fugir do isolamento e da solidão, ter sempre algo para fazer, nunca ficar totalmente ocioso,  ter sempre um "ideal" para ser conquistado ou pelo menos mantido, o homem começa a morrer quando não tem mais ideal. Os anos enrugam a pele, a falta de atividade e de ideal enrugam o espírito.

O poeta grego Focílides advertia: “Respeita os cabelos brancos: presta ao velho sábio aquelas mesmas homenagens que tributas a teu pai”.

08/01/2022

DÁDIVA DE DEUS

Antes de entrar em uma nova fase da minha vida, denominada aposentado, eu trabalhava na Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC).

Durante um determinado período, tivemos um gerente Recursos Humanos que todas as vezes que a equipe comemorava o aniversário de um colega, na sua mensagem para o aniversariante, lembrava dos acontecimentos históricos daquela data.

Copiando a ideia colega Guilherme Poetzscher, relembro de alguns eventos históricos que ocorreram alguns anos atrás na data de 08 de janeiro. Em 1935 nasce o cantor e ator norte-americano Elvis Presley e em 1976 tivemos o nascimento do cantor e compositor brasileiro Alexandre Pires. Também podemos lembrar que nessa mesma data, sendo em 1959, ano que eu nasci, Fidel Castro chega a Havana, a capital de Cuba, depois de derrubar Fulgêncio Batista e assumir o poder. Talvez esses acontecimentos sejam importantes para os fãs clubes e os analista políticos. Não para mim.

Bem, da mesma forma que destaquei a aposentadoria como uma nova fase da minha vida, posso afirmar que em 08 de janeiro de 1986, também iniciei uma nova fase. Não como profissional, mas como pai.

O jornalista Hélio Fraga no seu livro “Ser pai”, escreveu: “Não se brinca de casar e nem de ser pai e mãe. O casamento tem de ser assumido na plenitude de sua dignidade, de seu compromisso e de sua responsabilidade. Filhos não são objetos descartáveis. São seres humanos, gerados com amor e por amor. Não para serem usados e manipulados, mas para serem valorizados e amados. Entre todas as graves e sérias responsabilidades que um homem pode assumir, ao longo de sua existência, a maior delas é a de ser pai.

Ser pai é muito mais importante (nobre e relevante) que ser ministro do Supremo, CEO da mais poderosa multinacional, general de 4 estrelas, secretário de Estado, governador, prefeito, conselheiro ou diretor de qualquer entidade. Mais importante até que a Presidência da República. Na hora de gerar um filho, todo homem deveria tremer em seus alicerces, não de prazer, mas de viva emoção diante da responsabilidade que está assumindo naquele momento, porque é um ato de múltiplas repercussões presentes e futuras”.

Nanda, minha filha. Não tenho dúvida que ser pai é descobrir que o amor incondicional existe, o maior e mais sincero de todos está bem diante de nós. E foi assim que me senti, quando vi você pela primeira vez, logo após o parto, nos braços de uma enfermeira. Branquinha e vermelhinha. Que emoção. Principalmente quando lhe segurei no colo pela primeira vez sabendo que você chegou ao mundo perfeita e cheia de saúde. Senti naquele momento que você seria uma das pessoas mais especiais que eu teria na minha vida.

Naquela manhã de 08 de janeiro de 1986, eu e Maria José, deixávamos de ser apenas um casal para sermos pais. Uma verdadeira família. Nunca podemos esquecer que os filhos são uma dádiva de Deus.

Mas, os como bem definiu o escritor libanês Khalil Gibran, nossos filhos não são nossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de nós, mas não de nós. E embora vivam conosco, não nos pertencem. Somos apenas os arcos dos quais nossos filhos são arremessados como flechas vivas nesse mundo de Deus.

Já faz algum tempo minha pequena Nanda, que você também está numa nova fase da vida. Não sozinha, mas com o jovem Thiago que através da aliança matrimonial começaram uma vida conjugal.

Há três anos atrás essa caminhada conjugal, gerou o pequeno Lucas -  a coroa dos avós como citado na Bíblia em Provérbios 17:6.

A escritora Raquel na sua crônica “A arte de ser avó”, que mais parece uma declaração de amor do que uma crônica, diz que os netos são como heranças: “você os ganha sem merecer”.

Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

Filha, hoje você completa mais um ano de vida. É um dia muito especial e cheio de felicidade!  

Parabéns, filha querida! Obrigado pelo eterno privilégio de ser o seu pai e por me dar mais orgulho a cada ano que passa porque é um exemplo de pessoa íntegra, e se comporta de maneira digna em todas as áreas da sua vida.

Que a cada manhã Jesus abençoe seus passos e que nunca lhe falte o brilho do sol para os dias difíceis, a luz da lua para as noites inquietas e o fulgor das estrelas iluminando o seu caminho. Eu estarei sempre aqui, torcendo muito por você e para você, auxiliando os seus dias no que for preciso enquanto nosso Deus me mantiver nessa terra no cumprimento de minha missão.

Um balde de amor, saúde, paz, sucesso e uma chuva de felicidade é o que mais lhe desejo! Não importa a idade que você complete. Você será para sempre a minha pequena Nanda. Feliz aniversário, filha querida!

20/12/2021

Meus amigos

Estamos chegando ao final de mais um Ano e com ele muitas lembranças, muitas histórias para contar, muitos sonhos realizados e outros que ficaram por realizar.

A pandemia da Covid-19 surpreendeu o mundo inteiro e, como disse o Papa Francisco, “deixou a descoberto as nossas falsas seguranças’.  Esse período virou nossa sociedade pelo avesso e mostrou suas entranhas de desigualdades e contradições.

Essa revirada desarrumou o habitual, estacionou o contínuo progredir, fechou empresas e comércios, desempregou. Acentuou algo que nos últimos cinco anos já contaminava o país e nossa gente: polarizações agressivas em todas as áreas, inclusive a religiosa. Há os envenenados por ideologias negacionistas da realidade e, contaminados, recusam a busca da unidade e do desfazer-se do ódio rancoroso.

Mas, tudo isso não impediu que as pessoas continuassem a se comunicar com familiares e amigos, mesmo que não fosse fisicamente, considerando que nos tempos atuais o que não falta é meios de comunicação. 

Nunca podemos esquecer que a amizade é um fio invisível a interligar pessoas num círculo, onde a convivência fraterna faz desabrochar virtudes trazidas pelas forças do amor. O Apostolo Pedro, quando disse: “Granjeai novos amigos”, provavelmente, tinha em mente que essa corrente pudesse se espalhar como um rastilho abraçando a todos os seres.

Para cada fase da nossa longa jornada do berço ao tumulo, são colocadas em nosso caminho pessoas diversas que aparentemente são saídas do nada e que passam a representar um papel importante em nosso viver. São os amigos que suavemente, vão trazendo sua confiança em nosso desempenho, seu apoio para os nossos projetos de vida, sua alegria para os nossos momentos de melancolia, sua reserva e discrição para com os nossos mais íntimos segredos, de tal maneira que, de um momento para outro eles passam a ser imprescindíveis. Um sentimento de mutua satisfação é a tônica que coroa essa convivência. A alegria em estar junto e partilhar aqueles pontos em comum.

A vida, entretanto, não mantém os mesmos amigos em etapas diferentes. De repente essa página é virada em nossa existência e passamos para uma outra fase de vida. Por algum motivo perdemos o contato com aquela amizade que parecia ser eterna.

Nessa nova etapa, novos amigos vão surgindo, outras amizades vão aparecendo, e aquelas antigas se vão e às vezes nem notamos sua ausência. Mas tudo isso faz parte da nossa caminhada nesse mundo de Deus.

Segundo o poeta Drummond, o tempo em anos, meses, semanas e dias foi uma divisão generosa, para nos dar fôlego. Temos sempre planos que pretendemos implantar no próximo ano, tarefas que deixamos para o dia seguinte e por aí vai, sem nos lembrarmos do famoso ditado que diz que "vida é aquilo que acontece enquanto estamos ocupados fazendo planos".

E assim, influenciados por esses princípios, somos inclinados a sentir e pensar coisas típicas desta época de final de ano: sentimentos de angústia, de lamento pelo que deixamos de fazer, de tempo perdido. Tudo isso mesclado com promessas e esperanças de futuras realizações, de melhores tempos e de sonhadas conquistas. Enfim, tempo de reflexão.

Mas, jamais poderemos deixar que o Sol Nascente, que é Jesus Cristo, não brilhe sobre nós. Ora a luz de Jesus é o amor! Quando permitimos que o amor ilumine nossa vida, todas as trevas são dissipadas. Mesmo os momentos difíceis e dolorosos que passamos ganham um sentido novo quando sabemos que Deus nos ama.

A vida como ela é requer de nossa inteligência amorosa e espiritual a disponibilidade, chave para que o melhor aconteça a partir dos sustos, medos e ansiedades.

Maria e José nos apontam um caminho para evitar que, nas surpresas da vida e no inesperado tenhamos a consciência de estar em Deus e não permaneçamos ora superficiais, ora agressivos.

Se nossa busca de serenidade, equilíbrio, saúde mental, em meio às tristezas geradas sem cessar pela pandemia, se inspirar no exemplo da família de Nazaré, ganharemos resiliência, um tanto bom de coragem, de alegria, de crescimento na gestão de nossas emoções.

Jesus, nasce pobre e no meio dos pobres para realizar uma missão de bondade e de amor de modo que todo o mundo se converta para uma vida nova e marcada pela simplicidade.

A criança do presépio, Jesus, nosso Senhor, manifesta o cuidado de Deus Pai para com todas as pessoas do mundo, especialmente as mais abandonadas. Por isso que é importante as famílias manterem a bela tradição de preparar o Presépio, nos dias que antecedem ao Natal.

O Presépio é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo templo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade daquele que se fez homem a fim de se encontrar com todo homem, e a descobrimos que ele nos ama tanto que se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a ele.

A origem do Presépio, nos leva a mente a Gréccio, na Valada de Rieti. As Fontes Franciscanas narram, detalhadamente, o que aconteceu em Gréccio. Quinze dias antes do Natal, Francisco (que na época ainda não era São Francisco) chamou João, um homem da região, para lhe pedir que ajudasse a concretizar um desejo:” Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos de que ele padeceu pela falta do necessário a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha de uma manjedoura, entre o boi e o burro”. Mal acabou de ouvi-lo, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era preciso segundo o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de vários lugar, e também homens e mulheres das casas da região. Trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também, desse modo, a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Assim nasceu a nossa tradição.

Já que Natal significa: nascer, nasçamos então dia 25, e peçamos ao Deus Menino nos conceda o perdão dos nossos atos praticados e que possamos deixar de lado toda mágoa, tristeza, discórdia, desunião, inveja e todo qualquer sentimento negativo que possa nos distanciar do espírito de natal. Mas é importante, que renasça em cada um de nós o orgulho de olhar para o espelho e ver a imagem refletida de uma pessoa ética, honesta, limpa, cristalina que respeite os outros em sua integridade. Renasça aquela pessoa que todos sentem prazer em ter ao seu lado. Renasça o firme propósito de cuidar mais das coisas permanentes e definitivas da vida – família, amigos, saúde.

Lembrando a mensagem do professor e Gestor Educacional Geziel Moreira Jordão, que diz: “Quisera, neste Natal, armar uma árvore dentro do meu coração e nela pendurar em vez de presentes, os nomes de todos os meus amigos. Os amigos de longe e de perto. Os antigos e os mais recentes. Os que vejo a cada dia e os que raramente encontro. Os sempre lembrados e os que às vezes ficam esquecidos”.

Meus amigos, que o nosso aniversariante, “Jesus”, nos permita realizar seu aniversário com muito amor, paz, alegria e muita fraternidade, e amizade entre nós continue eterna e tenha sempre um lugar especial em nossos corações.

Para finalizar, transcrevemos a letra da canção “Quero Ver”: Quero ver, você não chorar, não olhar para trás, nem se arrepender do que faz. Quero ver, o amor vencer, mas se a dor nascer, você resistir, e sorrir. Se você, pode ser assim, tão enorme assim, eu vou crer.  Que o Natal existe, e ninguém é triste.  Que no mundo há sempre amor. Bom Natal, um Feliz Natal, muito amor e paz, pra você, pra vocês!

Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegria, saúde e paz !!!

06/12/2021

Tempo bom, não volta mais. Saudade… de outros tempos iguais!

1970, 1991, 2008 Analfabetismo, evasão, baixo nível. Fonte: Veja

De vez enquanto, numa roda de amigos, escuto alguém pronunciar as seguintes afirmações: "antigamente as coisas eram melhores", "as músicas tinham mais poesia", "as pessoas eram mais românticas", "a vida era mais fácil", "as pessoas se olhavam nos olhos", "brincávamos na rua, não havia essa violência de hoje em dia", "era melhor a educação escolar e a saúde pública", "eu era feliz e não sabia", etc.

Elas são expressões de nostalgia. Muitas pessoas fazem confusão entre nostalgia e saudade, mas segundo Carolina Falcão, professora de psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), não são sentimentos iguais. "Somos sujeitos atravessados por saudades, já que ao longo da vida vamos deixando experiências, pessoas e prazeres para trás". A diferença dos nostálgicos, ela diz, "é que além de sentirem saudade, entendem que o que tinham ou viviam no passado era melhor do que o que têm e vivem hoje".

O mais engraçado, é gente que talvez nem viveu esse passado, fica superestimando algo que nem sabe como realmente funcionava.

Por exemplo, em 2013 a Banda Paulo Mesquita & Os Brancos fizeram uma música com o título “Em Meu Tempo Era Melhor”. Nas duas primeiras estrofes ele escreveram: Os antigos me diziam "Em meu tempo era melhor". Atuais dizem "Hoje nada presta". Os jovens falam alto que seu tempo é melhor. Atuais dizem "Hoje é o que resta".

No final dos anos 60, o humorista Lilico (Olivio Henrique da Silva Fortes), estreou no programa "A Praça da Alegria", onde lançou seu personagem mais famoso: o homem do bumbo. Lilico entrava em cena cantando ‘Tempo bom, não volta mais, saudade de outros tempos iguais’. Por que será que nessa época da nossa história ela já dizia esse bordão?

A falta de informação de antigamente se transformou no excesso de informação e informações falsas que aparecem o tempo inteiro a nossa frente. Muitas pessoas, quando dizem 'antigamente' apenas se referem à sua infância e/ou juventude e não, de fato, ao passado longínquo.

Por que as pessoas sempre acham que as coisas antigas são sempre melhores que as coisas atuais? Talvez a solução para descobrir se realmente elas estão certas é colocar duas pessoas numa máquina para voltar ao passado, assim como ocorrido no filme "Túnel do Tempo". O ideal que uma das pessoas tenham nascido na década de 60 e outra na década de noventa.

Como essa máquina ainda não existe, vamos passear um pouco nas décadas de 50, 60, 70 e 80 para conhecer os fatos marcantes.

Os anos 50, década de 50 ou “Anos Dourados” ficou conhecido como a época das transições. É uma década de revoluções tecnológicas com evidentes implicações sociais, especialmente quando consideramos o ponto de vista comunicacional. O rádio cresceu no início dos anos 50, tendo ocorrido um aumento da publicidade. As populares radionovelas, por exemplo, tinham como complemento propagandas de produtos de limpeza e toalete.  Houve um aumento da tiragem dos jornais e revistas, e popularizaram-se as fotonovelas, lançadas no início da década. Em setembro de 1950, é inaugurada a TV Tupi, sendo este o primeiro canal de televisão da América Latina.

As mudanças que aconteceram na moda, música, fotografia, cultura, arquitetura e na arte em geral, influenciam até os dias atuais.

A moda dos anos 50 foi marcada pela sofisticação e luxo. As mulheres se mostravam cada vez mais femininas e delicadas, e por vezes excêntricas. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido. As saias e os vestidos alcançavam um comprimento abaixo do joelho e marcavam a cintura. O uso da luva também foi característico. O penteado era composto por um coque ou rabo de cavalo. Já os homens foram influenciados pelo estilo da moda colegial, inspirada no sportswear. Usavam calça, cintos e topetes bem definidos.

Com muito rock e um estilo dançante, Elvis Presley começa a fazer sucesso em 1956. O estilo musical brasileiro Bossa Nova começa a fazer sucesso. Os maiores representantes deste movimento foram: Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto. No final da década de 1950, é formada a banda de rock Beatles.

Houve um aumento da população urbana, sendo que 24% da população rural migraram para as cidades na década de 1950. Este processo ocorreu, devido ao aumento da intensificação das indústrias brasileiras.

Nos anos 1950 cerca de 50% dos brasileiros eram analfabetos, mesmo assim começou a ter um aumento em escala da escolarização, sendo que na década subsequente o número de analfabetismo cai para 39%.

Há violência tinha outra cara. Os jornais noticiavam, por exemplo, jovens que estavam tendo aulas sobre como assaltar turistas no Aeroporto Santos Dumont. Foram presos quando aprendiam a dizer “Hands up”, ou seja, mãos ao alto. Ou então, a prisão de uma quadrilha que dopava cavalos no Jockey para ganhar as apostas.

No fim dos anos 50, a revista “Cruzeiro”, importante publicação da época, estampava na capa a manchete: “O Rio enfrenta o crime noite e dia”. A reportagem dizia que se matava mais no Rio em um mês do que em Londres no ano todo. O tráfico de drogas ainda não era um desafio para a segurança pública. O tráfico era localizado. Havia pequenas bocas de fumo nas favelas, geralmente gerenciadas por senhoras, moradoras que atendiam ao consumidor típico. Na época era o chamado maconheiro e era geralmente o malandro, ou o artista, ou um marginal já nesse sentido que se dava ao bandido dos anos 60. Mas, mesmo em menor escala, a violência, na época, já era uma preocupação.

Consolidava-se a chamada sociedade urbano-industrial, sustentada por uma política desenvolvimentista que se aprofundaria ao longo da década.

Os anos 50 também trouxe mudanças no papel da mulher na sociedade, passando a desempenhar funções de esposa, mãe e dona de casa mais consciente e ativa. 

A década de 1960 pode ser dividida em duas etapas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1968 (porque 1969 já apresenta o estado de espírito que definiria os anos 70), em um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos.

Na política, os anos 60 no Brasil não foram anos de orgulho. Foi uma época de revoluções, lutas, repressões e censura. No ano de 68 o Ato Constitucional Nº5 é decretado. Com este ato, considerado um dos mais repressivos da ditadura militar, juízes foram aposentados, o habeas corpus foi cancelado, manifestações políticas foram proibidas, a censura aumentou e a violência da polícia e do exército também.

Antes do regime militar, as forças militares serviam para proteger o Estado. O policiamento de rua era feito por corporações não militarizadas. Ela era utilizada em momentos específicos, como em manifestações e greves. As ações do cotidiano eram feitas por forças menores e civis. O governo do regime militar foi quem passou essa atividade de policiamento ostensivo à Força Pública. A partir daquele momento, os militares estavam responsáveis pela atividade de policiamento. O governo militar extinguiu a guarda civil, os membros foram incorporados à Força Pública e isso deu origem à PM.

Pra molecada que não sabe, o slogan ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’ era usado pelos militares para justificar a repressão aos movimentos sociais contrários a ditadura.

Nesta época teve início uma grande revolução comportamental como a Segunda Onda do feminismo. O surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher [women's lib]. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.

O Rock and Roll ganha crescente popularidade no mundo, associando-se ao final da década à rebeldia política.

A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking. As moças bem comportadas já começavam a abandonar as saias rodadas e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade. A minissaia, entretanto, é a principal marca da década de 60. Nas praias, um modelo muito usado nos anos 60 era o chamado "engana-mamãe", que de frente parecia um maiô, com uma espécie de tira no meio ligando as duas partes, e, por trás, um perfeito biquíni.

No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa. A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".

Surge o Tropicalismo. Movimento cultural que misturava influências do pop, rock e cultura brasileira. As letras criticavam a ditadura e muitos dos representantes desse movimento foram presos e exilados.

Os anos de 1967-1968 tornam-se o auge dos festivais da canção, no Brasil, que eram uma forma alternativa de expressão político-ideológica da juventude, diante da repressão do regime militar. Em 1968, Geraldo Vandré lança a histórica música "Pra não dizer que não falei das flores", sendo logo depois censurada pelo AI-5.

No Brasil, a TV Tupi faz a primeira transmissão experimental a cores no dia 1 de maio de 1963. No entanto, quase ninguém pode ver a transmissão colorida. Não havia produção de aparelhos receptores de transmissão a cores, e a importação custava caro. Isso fez com que a implantação da TV a cores fosse adiada por cerca de uma década. Em 26 de abril de 1965 é inaugurada a Rede Globo de Televisão no Rio de Janeiro.

A década de 1970 foi marcada por um abalo das ideias dos ícones existentes nos anos 60, levando ao surgimento de diversas manifestações mais desregradas, como festivais de rock ao ar livre, pregando amor, drogas e vida alternativa. Os jovens eram embalados pelo lema sexo, drogas e Rock and Roll. Toda a sua busca por êxtase em métodos físicos e químicos eram incansáveis. Muitos cantores tiveram mortes prematuras devido ao excesso de drogas.

Foi neste período que o regime militar no Brasil atingiu seu auge popular, graças ao ‘milagre econômico’, coincidindo com o momento que aplicava censura em todos os meios de comunicação, torturava e exilava. Muitos jovens idealistas levaram a cabo sua luta política por meio do combate armado, na clandestinidade, para combater o regime militar.

Na Economia, as crises do petróleo foram os eventos econômicos que mais marcaram e desestabilizaram os países durante os anos 70. Triplicou o preço do barril de petróleo, elevando, o que provocou uma escassez de combustíveis no mercado mundial, inclusive levando os EUA a entrarem em recessão. O Brasil não passou impune pelas crises que se sucederam, pois queimara suas reservas oriundas do “milagre econômico”. O aumento dos preços dos combustíveis descontrolou o índice de inflação do País.

A década de 70 é também conhecida como a década da discoteca, devido ao surgimento da dance music. Surgia também o movimento punk com suas calças rasgadas, rebites, alfinetes, jaquetas de couro e cabelos com cortes e cores diferenciadas.

Uma das fortes heranças da moda dos Anos 70 foi a calça boca de sino (estampadas). Cabelos longos e barba longa fizeram parte do estilo da população da década de 1970.

Os biquínis começaram a ganhar popularidade entre os anos 60 e 70. E ele não parou por ai, com mais e mais avanços, a peça se tornou cada vez mais ousada.

Na esfera musical, deve-se destacar o surgimento uma nova geração, com Belchior, Gonzaguinha, Djavan e Ivan Lins, todos influenciados pelos festivais da década anterior.

Nos esportes destacamos o tricampeonato mundial do Brasil no Futebol (21 de junho de 1970) e a conquista do campeonato mundial de Formula 1 pelo piloto Emerson Fittipaldi.

Dentro da estrutura da família nos anos 70, a educação dada aos filhos seguia a estrutura que o Brasil teve desde sempre, o homem como centro. Os meninos eram educados para serem futuros chefes de família e as meninas para a serem donas de casa.

Quanto a saúde, os serviços de saúde no Brasil atendiam basicamente às necessidades dos grupos sociais de maior poder aquisitivo. As pessoas que não tinham carteira assinada não tinham acesso a consultas, exames, cirurgias. Mas, na verdade, as coisas eram um pouco mais complexas. Isso porque embora a classe média tivesse carteira assinada e pudesse usar a medicina previdenciária, ela pagava. “Era totalmente natural”, diz a pesquisadora Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “A classe média nunca foi atendida pelo setor público. Ela pagava consulta particular, pagava os procedimentos, que eram muito mais baratos. As pessoas pagavam parto, cirurgia”.

A situação da saúde no Brasil na década de 70 foi muito bem colocada pelo professor de filosofia Eurivaldo Tavares no seu livro “Subsídios para o Estudo de Problemas Brasileiros” em 1979: “Infelizmente temos que constatar o baixo nível sanitário de nossa população, em geral. Pelo elevado índice de doenças infecciosas parasíticas e pelo alarmante índice de mortalidade infantil.  A esses problemas, junta-se um enorme déficit de médicos, de enfermeiras e de leitos hospitalares, além do alto custo da medicina e produtos farmacêuticos”.

Os anos 80 foram uma época de muitas mudanças. Uma das décadas mais importantes do século XX. Foi palco de complexos acontecimentos tão acelerados em seus movimentos contínuos de violências, esvaziamentos, sentidos desconhecidos, que se for contada com rigor apresentará expressões velozes de um século em dez anos. Década de importantes movimentos na política e na sociedade. Tecnologias que hoje são tão naturais começavam a dar seus primeiros passos. Transição de um tempo lento para um tempo acelerado.

A moda nos anos 80 foi marcada pelos excessos. As misturas de estampas, a cintura alta, maquiagem carregada, bandanas, croppeds e a inesquecível pochete eram marcas registradas do estilo da época. Os cortes de cabelo mais comuns eram o blunt cut e pixie. Os cabelos com bastante volume e tamanhos variados eram moda entre os jovens.

Durante os anos 80 surgiram os biquínis, como o provocante enroladinho, o asa-delta e o de lacinho nas laterais, além do sutiã cortininha. E quando o biquíni já não podia ser menor, surgiu o imbatível fio-dental, ainda o preferido entre as mais jovens.

Diversos cantores e bandas nacionais fizeram sucesso nos anos 80, tais como: Ney Matogrosso, Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Roberto Carlos, RPM, Cazuza, Engenheiros do Havai, Biquine Cavadão, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho, Leo Jaime, Legião Urbana, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil.

A população brasileira, se comparada à década de 1960, praticamente dobrou. Passou de cerca de 70 milhões para quase 120 milhões. Na educação, o número de analfabetos caiu de 43% da população em 1960 para 33,6% em 1980.

Entre os diversos ensinamentos da década de 1980 esteve presente o tema do endividamento familiar. Os salários eram corroídos pela inflação e pelos respectivos planos econômicos que, para conter os danos, eram severos com os trabalhadores.

A geração 80 cresceu e começou a se preocupar com o emprego, o consumo e o estudo. O primeiro, com mais centralidade do que os outros dois. Eu sou testemunha viva dessa falta de empregos. Foi justamente no início dos anos 80 que terminei meu curso universitário. Oportunidades de emprego era no Iraque para trabalhar em Campos de Petróleo ou fazer concurso para Petrobras, Banco do Brasil ou Caixa Econômica.

As escolas técnicas exerciam fascínio e produziam possibilidades reais sobre o futuro explicitamente incerto.

Ser adolescente nos anos 80 também não era tarefa fácil. As câmeras fotográficas não eram digitais. Você tirava a foto e esperava o filme acabar para revelar todas e saber se alguma ficou boa. Celular também ainda não existia. Só telefone. Pra piorar, a maioria das casas tinha só um telefone, de uso comum, ou seja, conversar com amigos e amigas, a família toda ouvia a conversa.

Nos anos 80, a internet ainda era discada, os programas simples e os fóruns e bate-papos online já eram moda. Já as contas poderiam ser uma surpresa. E ainda reclamam quando a internet cai hoje em dia.

Para ouvir o seu ídolo era preciso ter um toca-discos e comprar um vinil, ou apostar no acessório mais moderno de todos: um toca-fitas.

As comunicações era feitas através de cartas enviadas pelos correio e sem notificação de recebimento. Uma carta chegar ao destinatário e voltar com a resposta, passavam-se no mínimo uns 10 ou 15 dias. Pelo menos não tínhamos as fakenews.

As baladas de hoje eram os “assustados” de anos atrás, que aconteciam nas garagens de algum amigo. Para os que já podiam consumir bebida alcoólica, não podia faltar o velho Rum Montilla com Coca-Cola. Não havia convite impresso. Bastava dizer: “vai ter um assustado na casa de fulano. Bora?” E lá ia a turma toda, pouco importando se o dono da festa era conhecido ou não.

Os álbuns de figurinha foram uma febre dessa década, reunindo principalmente crianças e jovens com o objetivo de completar todas as figurinhas.

Os anos 1980 foram de despedidas das cadeiras na rua, portas abertas, puladas de muros, escritas no chão e muito convívio em diversos espaços do bairro. As ruas ainda eram o palco do verbo conviver, transitar, dialogar. Mas existia também a presença real de nomináveis fantasmas que reiteravam suas presenças para nos tirar das ruas.

Assim como nas ruas e nas casas, algo foi mudando na escola. Em meio à rigidez dos hinos, à uniformização dos corpos e dos saberes. Abriam-se as portas para a poesia, a prosa e o verso presentes no verbo.

A geração nascida entre as duas primeiras décadas de ditadura cresceu. Da infância à juventude nossa geração vivenciou mudanças substantivas sem conseguir ver os bastidores que compunham o palco da aparente ordem e progresso. A impressão que eu tenho, que essa geração sobreviveu a todo esse autoritarismo, mas não necessariamente nada aprendeu.

O envelhecer é um processo bastante desafiador porque envolve uma reconfiguração da vida diante de perdas que são contundentes e inerentes este momento do ciclo vital. Muitas vezes, esse passado fica idealizado como um tempo no qual existia muita felicidade. Numa oposição muito desleal com o presente que, certamente, impõe frustrações. Esse olhar distorcido atrapalha algumas pessoas de verem a época lembrada exatamente como ela era. Os aspectos bons são valorizados e os maus simplesmente desaparecem.

Acredito que nunca tenha havido épocas melhores ou piores do que a atual. Há pontos negativos e pontos positivos. Sempre há uma espécie de equilíbrio entre coisas boas e ruins. É apenas uma opinião pessoal de quem começou sua vida no fim da década de 50.

A grande maioria das coisas que dizem que eram melhores ou que hoje estão perdidas, na verdade só mudaram. Muita coisa evoluiu do que existia no passado, e outras são simplesmente diferentes. Muitos problemas novos surgiram, mas isso não quer dizer que sejam problemas maiores ou piores que os antigos.

A expectativa de vida hoje é bem mais longa do que foi na história, por causa da melhor alimentação, dos cuidados médicos, do progresso da Medicina e do saneamento básico. Quantas doenças hoje erradicadas mesmo nos países mais pobres e que, no passado, faziam milhares, até milhões de vítimas. Milhões de pessoas vivem graças ao surgimento de vacinas, antibióticos e práticas de higiene básica. Podemos considerar também, à maior oferta de alimentos, de atendimento médico (mesmo em condições que, hoje em dia, possamos considerar ruins) e a uma maior consciência em relação à própria saúde.

Durante muito tempo, as mães eram as grandes e principais responsáveis pela saúde e educação dos filhos. Por conta de uma relação cultural, não era conveniente que as mulheres participassem do mercado de trabalho, dessa forma, o tempo para se dedicarem à educação dos filhos era maior. Com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a educação das crianças passou a ser da responsabilidade de toda a família.

Antigamente, era difícil o acesso à educação por parte de famílias pobres. Essas famílias que dependiam do ensino público, esperavam em filas enormes para conseguir efetuar a matricula de seus filhos. Atualmente, sobram vagas para o ensino básico.

Imaginem quem habitava, por exemplo, no meio da Caatinga. Sendo trabalhador ou dono de terra, o acesso aos serviços ficava longe, tinha que mandar os filhos para estudar na capital. Se havia um problema de doença, não tinha serviço de saúde disponível. Energia elétrica nem pensar.

Quanto a saúde, na década de 90 tivemos a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS). Único sistema público de saúde do mundo que atende uma população com mais de 200 milhões de pessoas gratuitamente, universal (para todos). Atualmente, 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS, o restante da população utiliza a saúde privada. Antes da implantação do SUS, o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) só atendia as pessoas que tinham carteira assinada e contribuíam para a Previdência. Mas, como tudo no Brasil, o SUS ainda sofre desafios do mau gerenciamento e a insuficiência de investimentos financeiros.

Hoje, as estradas são melhores, há novas escolas rurais e urbanas, há postos de saúde espalhados pelo território. Infelizmente, a qualidade dos serviços ainda deixa muito a desejar. Novos problemas surgem. Temos cidades grandes, com novos tipos de problemas de deslocamento e de infraestrutura urbana.

Tudo bem, as crianças não brincam mais na rua de pular elástico, brincar de barbante com os dedos, andar de carrinho de rolimã, trocar figurinhas, etc. Mas possuem outras diversões que são do seu tempo. Não temos mais os orelhões alimentados por fichas de latão ou cobre usadas para fazer contato com os bares da cidade em busca dos fujões, mas temos os celulares que tiram fotos, mandam mensagens (verdadeiros correios), tocam músicas e nos mostram inclusive a localização desses fujões. Não temos mais o cheiro da nicotina impregnada no corpo, na roupa e na alma toda vez que a gente entrava em ambientes fechados como restaurantes, escritórios e casas noturnas, todavia tivemos um aumento significativo do consumo de drogas (maconha, cocaína, crack, LSD…) entre principalmente adolescentes e jovens.

No centro das discussões sobre a segurança pública no Brasil e no mundo está a relação entre a violência e o tráfico de drogas. O comércio de drogas alimenta o crime organizado e as facções. Comunidades vulneráveis controladas por traficantes se transformam em áreas de alta criminalidade. Pobreza, pouca educação e marginalização social continuam sendo fatores importantes que aumentam o risco de ocorrência de transtornos associados ao aumento da violência dos dias de hoje.

Nos dias atuais é difícil acreditar que a televisão era um artigo de luxo e que a imagem não passava de alguns chuviscos difíceis de decifrar. Mas, o tempo passou. A tecnologia evoluiu. A partir de 1990, a Internet começou a ser usada pela população em geral, através de serviços de empresas que começaram a oferecer conexão de Internet empresarial e residencial. Ela mudou nossa vida, dando a cada pessoa a oportunidade de ser escutada e permitindo acesso a um conhecimento antes restrito a enciclopédias caras e livros inacessíveis. Nem tudo são flores, a Internet através das ferramentas de relacionamento (redes sociais) conseguem aproximar pessoas com pensamentos em comum em qualquer lugar do mundo, todavia em muitas vezes distanciam pessoas próximas.

No âmbito geral, e que talvez seja nossa maior vitória, nos tornamos menos ignorantes e começamos a questionar sempre que não achamos algo correto.

Continuamos na luta, a vida continua sendo injusta quando permite que uns poucos tenham muito mais do que os muitos. Ainda temos muitos problemas, mas cada época da História tem os seus impasses e suas demandas de compreensão. Os sofrimentos contemporâneos estão de alguma forma ligados à velocidade e à ansiedade comuns do mundo hoje, e ainda estamos tentando lidar com isso.

O segredo é aceitar o que se foi. Não anular ou esquecer. É usar aquilo como riqueza, como ganho. Somos produtos da nossa história, com seus aspectos felizes e desafiadores. Fazer o alinhavo de todas essas experiências é, sem dúvida, o maior desafio de qualquer pessoa.

No meu tempo, era diferente. Aliás, 'no meu tempo' não, porque hoje, agora, também é meu tempo. "O mundo é assim agora e não vai voltar atrás. Você vai ficar lá ou aqui?".

22/11/2021

“Meus concidadãos! Eu tenho um sonho”

Pastor Martin Luther King em um de seus discursos
Fonte: Estante Virtual.

No dia 28 de agosto de 1963, milhares de negros e negras Estadunidenses marcharam em Washington para exigir direitos. O ato foi convocado por organizações religiosas, sindicatos e movimentos populares pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos. E foi nesse ato que o reverendo Batista Martin Luther King, liderança e referência da resistência pacífica contra o racismo, proferiu seu discurso mais famoso: "Eu tenho um sonho", repetiu, por diversas vezes em sua fala, ao profetizar uma terra de liberdade e oportunidade em que "nossos filhos não serão julgados pela cor de suas peles, mas pelo conteúdo de seu caráter".

Luther King sabia que seu discurso era um grande passo em nome da união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos. O que ele não sabia era que o famoso sonho seria eleito o melhor discurso dos Estados Unidos no século XX.

A história política confirma que tanto o carisma quanto um bom poder argumentativo são capazes de produzir líderes autênticos das massas.

O sociólogo alemão Max Weber classificou o carisma como sinônimo de autoridade, ou seja, um tipo de influência legítima através do reconhecimento das virtudes do líder por seus governados. O carisma é uma característica descrita como determinante para um bom orador.

Independente das intenções, os grandes oradores são capazes de mobilizar pessoas até onde suas vozes alcançam. E a poesia da fala inspira e faz sonhar.  Se Martin Luther King tivesse afirmado que possuía uma ideia e não um sonho, seu desejo teria sido esquecido.

O século XX assistiu à ascensão de um dos mais exitosos oradores da história da política. Os discursos de Adolf Hitler, na Alemanha, foram responsáveis pela fanática adesão à causa nazista. Ainda que tenha reinventado a propaganda política, o führer liderou os alemães sob o poder hipnótico da oratória, considerado uma de suas principais qualidades. Os objetivos do nazismo são considerados insanos atualmente, mas pouco foi contestado pela maioria alemã na época.

A arte de falar em público é tão ancestral que remonta à era clássica da Grécia Antiga, quando era confundida como uma parte da retórica. De fato, oratória e retórica se combinaram ao longo da história e dos discursos. Para os gregos, a oratória valorizava o conteúdo e o apelo à razão. Era um meio de persuadir pessoas e obter influência. Os dois termos são semelhantes, mas não idênticos. Enquanto retórica designa, para nós, a arte de falar bem, de maneira eloquente e precisa, com capacidade de convencer. A oratória significa falar em público.

Apesar de não discursar, o filósofo grego Aristóteles, em Retórica, a definiu como forma de convencer o ouvinte, mesmo que em detrimento da verdade. Infelizmente, em se tratando da política brasileira, a definição de retórica do grego Aristóteles, é uma pura verdade.

Em 24 de janeiro 1973, a rede Globo de Televisão, estreou a novela “O Bem Amado”, obra de Dias Gomes. Primeira telenovela em cores da televisão brasileira e a primeira a ser exportada. Criticava com humor o Brasil da ditadura militar. A trama conta a história do político corrupto Odorico Paraguaçu e de suas estratégias nada ortodoxas para manter seu cargo como prefeito da cidade de Sucupira, no litoral baiano, com seus discursos inflamados e verborrágicos.

O político cria o slogan: "Vote em um homem sério e ganhe um cemitério" para ser eleito para o maior cargo executivo da cidade. A estratégia dá certo, e ele ganha a confiança do povo ao assegurar que todos terão acesso a uma moradia digna de conforto eterno. Interessante, que em determinado momento, O Bem-Amado retratou uma epidemia na ficção. A cidade de Sucupira se torna alvo de uma onda de tifo e, focado em sua estratégia de deixar alguém morrer no local para inaugurar o cemitério, Odorico faz vistas grossas para vacinar todos. “Meus concidadãos! Este momento há de ficar para sempre gravado nos anais e menstruais da História de Sucupira!” (Prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu).

Retornando a realidade, sabemos que a palavra é o reflexo do que se pensa e deseja, e que ela tem impacto direto na vida, seja para agradar ou agredir alguém. E não é só quem não tem papas na língua que se atropela ao falar demais, da forma ou na hora errada. Na maioria das vezes, não se mede o impacto que uma palavra pode ter.

Pois bem, isso se aplica totalmente aos políticos. Tudo que um político diz fica registrado nos anais da história. Muitas vezes fazem promessas milagrosas, para conquistar o voto do eleitor e depois não cumprir nem mesmos as viáveis, o que não deixa de ser um “estelionato eleitoral”. Não se pode negar que o eleitor também tem culpa nesse contexto. Mesmo porque quando “a promessa é grande, o santo desconfia” ou deveria desconfiar.

Faremos então, uma viagem no tempo relatando alguns impropérios que políticos brasileiros tiveram a ousadia de proferir nas mais diversas situações, seja em discursos, declarações ou entrevistas. Impropérios que de alguma forma demonstram nas mãos de quem o Brasil foi e está sendo entregue.  Interessante é que os fatos, em alguns momentos, parecem muito similares.

Nessa viagem, vamos focar em alguns presidentes da nossa república, que sem dúvida, influenciaram e continuam influenciando significativamente a história política do Brasil.

Iniciando pelo presidente da república que mais permaneceu no poder (1930/1945 e de 1951/1954), o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas. Considerado um dos mais importantes estadistas brasileiros.

Vargas não se manifestava muito afeto a legalidade. Em abril de 1936, uma triste, infeliz e malvada frase foi dita por Getúlio Vargas: “A Constituição é como as virgens. Foi feita para ser violada”.

No dia 1° de maio de 1951, Getúlio Vargas proferiu um discurso que pode não ter mudado o mundo, mas certamente alterou o rumo do Brasil. À frente de um estádio de São Januário (RJ) lotado, o então presidente do país fez sua homenagem aos trabalhadores do Brasil, enfatizando suas políticas públicas de regularização do trabalho. Pela primeira vez no pais, os brasileiros podiam contar com uma carteira assinada. A maneira de se dirigir ao povo foi determinante na construção da popularidade de Getúlio Vargas. A oratória era uma das ações populistas que o ex-presidente utilizou para se aproximar de seu eleitorado.

No dia 23 de agosto de 1954, Getúlio redige uma carta-testamento, de natureza fundamentalmente política, e suicida-se com um tiro no peito. Dois dias antes do trágico final, os militares exigiram a renúncia e, novamente, Vargas não a aceita, respondendo “daqui só saio morto”. Sua carta-testamento, na qual dá suas razões para o gesto extremo, é um dos mais conhecidos documentos históricos.

Na sua Carta Testamento, escreveu: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.

Entre 1956 e 1961 governou o Brasil, o médico Juscelino Kubitschek de Oliveira. Durante seu mandato tivemos a construção de Brasília. Algumas das principais frases que marcaram sua vida política:

-  Hoje é o dia mais feliz da minha vida. O Congresso acaba de aprovar o projeto para a construção de Brasília. Sabe por quê o projeto foi aprovado? Eles pensam que não vou conseguir executá-lo.

-  Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental.

-  O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.

-  Não nasci para ter ódio, nem rancores, nasci para construir.

-  Costumo voltar atrás, sim. Não Tenho compromisso com o erro.

-  O perdão é a marca da grandeza, sobretudo quando se tem em vista um objetivo mais alto.

 - Meu sonho é viver e morrer em um país em liberdade.

Em outubro de 1960 foi eleito presidente da república o sul mato-grossense Jânio da Silva Quadros. Um dos políticos mais controvertidos que o Brasil já teve. Ficou conhecido pelas polêmicas e pelos discursos moralizantes. Foi presidente do Brasil durante sete meses, renunciando em 1961.

O “homem da vassoura” assumiu a Presidência da República prometendo “varrer” toda a sujeira da vida pública brasileira. Não varreu. Um dos seus hábitos era mandar “bilhetinhos” para seus auxiliares. Em 206 dias de governo, rabiscou mais de mil e quinhentos bilhetes.

Outras babaquices do Presidente: proibição de uso de biquínis nas praias, corridas de cavalo nos dias úteis, brigas de galo e desfile de “misses” com maiôs cavados.

Professor de Português e de Geografia. Respeitava a norma culta de nossa língua em declarações, bilhetes, cartas, documentos, em tudo o que dizia e escrevia. Muitas de suas tiradas ficaram célebres, como por exemplo: " Fi-lo porque qui-lo". Jânio a proferiu quando ainda ocupava o Palácio do Planalto, durante uma reunião com governadores e outras autoridades.

Entre um sem-número de tiradas tão sarcásticas quanto ácidas do velho político, cito as seguintes:

-  Os servidores públicos são mulher de César (a quem não basta ser honesta, é preciso parecer honesto). A frase representou o pensamento de Júlio César, ditador absoluto ou pretor máximo romano, no ano de 63 antes de Cristo.

-  O senhor sabe que a família interiorana é moralista e conservadora. Gostaria de lhe perguntar: por que o senhor bebe. A resposta veio bem ao estilo de Jânio: “Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia”.

O primeiro Presidente do Brasil depois do golpe militar de março de 1964 foi o Marechal Humberto Castelo Branco. Nomeado pelo Congresso, ficou no poder de 15 de abril de 1964 até 15 de março de 1967.  Citações de destaque:

- O exército não é um partido político para apresentar solidariedade ao governo ou a quem quer que seja. Quem tem o direito de apresentar solidariedade tem o direito de apresentar também desaprovação.

- Forças Armadas não fazem democracia, mas garantem-na. Não é possível haver democracia sem Forças Armadas que a garantam.

- A esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de rua e desorganizar a economia.

Entre os anos de 1967 e 1969, através de eleições indiretas, o General Artur da Costa e Silva foi eleito o 27º Presidente do Brasil Republica. Foi o “Pai” do Ato Institucional n.º5, o AI-5. O ato concedia poderes totais ao presidente, como fechar o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais, etc.

Podemos citar como principais frases:

-  Nunca seria um ditador, inclusive porque no Brasil não há lugar para ditaduras.

-  Salvamos o nosso programa de governo e salvamos a democracia, voltando às origens do poder revolucionário (Discurso do presidente transmitido, no final de 1968, por rádio e televisão sobre o Ato Institucional Nº 5 - AI-5).

-  "O poder é como um salame, toda vez que você o usa bem, corta só uma fatia, quando o usa mal, corta duas, mas se não o usa, cortam-se três e, em qualquer caso, ele fica sempre menor". Não sei a interpretação dessa frase, talvez tem tomado como base a do economista e filósofo Austríaco Friedrich Von Hayek, que disse: “A liberdade não se perde de uma vez, mas em fatias, como se corta um salame”.

Entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974, foi presidente do Brasil, o General-de-Exército Emílio Garrastazu Médici. No seu governo tivemos Campanhas oficiais para incentivar o povo. Foram criados slogans como: “Ninguém mais segura este país”, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, “Pra frente, Brasil”.

Algumas de suas principais citações:

-  Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho.

-  A economia vai bem, mas o povo vai mal.

-  A eleição direta é uma piada.

De 1974 a 1979 o Brasil foi governado pelo General Ernesto Beckmann Geisel. Principais citações:

 -  Eu sou um sujeito profundamente democrático (Em entrevista a Maria Celina D'Araujo justificando que a falta de liberdade durante o seu governo não era fruto de convicções pessoais).

-  Se é a vontade do povo brasileiro eu promoverei a Abertura Política no Brasil. Mas chegará um tempo que o povo sentirá saudade do Regime Militar. Pois muitos desses que lideram o fim do Regime não estão visando o bem do povo, mas sim seus próprios interesses.

-  É muita pretensão do homem inventar que Deus o criou à sua imagem e semelhança. Será possível que Deus seja tão ruim assim?

-  O Brasil vem conseguindo evitar a recessão e a estagnação, que nos estão sendo exportadas pelo mundo desenvolvido lá de fora, com o seu corolário do desemprego a atingir, sempre, as classes mais pobres.

-  Nosso mal foi ter durado tanto tempo (Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em agosto de 1987, a respeito do regime militar).

-  Ao longo da minha vida eu fui um infeliz.

O último presidente militar, antes da Constituição de 1988, foi o General João Batista Figueiredo. Assumiu a presidência em março de 1979 para dar prosseguimento ao já traçado processo de abertura política. Ele era curto e grosso em diversas falas. Uma ao ser questionado por um garoto sobre o que faria se seu pai ganhasse apenas um salário mínimo, respondeu: “eu dava um tiro na cuca”.

O plano original do governo militar era o de transformar Figueiredo numa figura popular, conhecida como João do Povo. Mas isso foi muito difícil, afinal, o presidente não colaborava. Às vezes escapavam frases tão sinceras e honestas, surgidas da mais profunda introspecção, que soltas acariciavam ouvidos como esporas. Praticante do hipismo, foi questionado uma vez sobre o “cheiro do povo” numa entrevista sobre a cavalaria. Sem dó, ele respondeu: “Eu prefiro o cheiro do cavalo”.

O apreço pelo povo era praticamente negativo para Figueiredo. Várias vezes de forma ofensiva, ele culpava os mais pobres por diversos problemas do país. Uma vez, ele afirmou que “um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar”.

Algumas de suas principais citações:

-  Estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo o que gosto mesmo é de clarim e de quartel.

-  A solução para as favelas é jogar uma bomba atômica.

-  É um vagabundo sem vergonha. Sobre o cantor, compositor e diplomata Vinícius de Moraes.

-  Eu cheguei e as baianas já vieram me abraçando. Ficou um cheiro insuportável, cheguei no hotel tomei 3, 5, 7 banhos e aquele cheiro de preto não saía

-  Também já declarou que “durante muito tempo o gaúcho foi gigolô de vaca".

Em 1985 tivemos o primeiro presidente civil após o movimento militar de 1964. O cargo foi exercido pelo político maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa Sarney. Como era vice presidente, assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves que não chegou a tomar posse.

Algumas de suas principais citações:

-  Consultei um futurólogo e ele previu que o Brasil só terá outro presidente nordestino daqui a 1.900 anos. Então, acho que mereço ficar os seis anos.

-  Durante o meu mandato a história se contorceu, mas a democracia não murchou na minha mão.

-  Quando há perigo iminente para os povos reunidos em Estados, cabe à inteligência política encontrar, e com decisão, a resposta certa.

-  A inflação é o pior inimigo da sociedade. Ela castiga os mais pobres, os que não têm instrumento de defesa contra seus terríveis efeitos. Ela não confisca apenas o salário: confisca o pão.

-A educação é o primeiro e o mais rentável dos investimentos públicos.

-  Herdei para administrar a maior crise política da história brasileira, a maior dívida externa do mundo, a maior dívida interna, a maior inflação que já tivemos, a maior dívida social e a maior dívida moral.

-  No Maranhão, depois dos 50 anos não se pergunta a alguém como está de saúde. Pergunta-se onde é que dói.

-  Realmente, estamos importando alimentos, mas isso é ótimo, porque significa que quem não comia está comendo.

- Governo é como violinha: você toma com a esquerda e toca com a direita (José Sarney mostrando porque sobrevive há tantos anos no poder).

Em 15 de março de 1990, assume a presidência da república, o carioca Fernando Collor de Melo. Primeiro presidente eleito pelo voto popular depois da ditadura militar. Também foi o primeiro presidente do Brasil a sofrer um processo de impeachment após denúncias de corrução e crime de responsabilidade. Ficou conhecido pelo congelamento da conta poupança da população.

Collor se elegeu presidente da República apoiado em uma campanha de moralização do serviço público em que se apresentava como "caçador de marajás". Conseguiu se projetar na campanha presidencial valendo-se da sua imagem de boa-pinta e o discurso de ser uma renovação na política. Durante o seu governo, na tentativa de dar mostras da sua jovialidade, Collor se deixava fotografar fazendo cooper, praticando esportes e pilotando jet-ski. Também tentava passar uma imagem de virilidade e, num desses arroubos, falou a notória frase: "Tenho aquilo roxo", após uma manifestação de protesto contra o governo.

Algumas de suas principais citações que ficaram para os anais da história:

-  O meu primeiro ato como presidente será mandar para a cadeia um bocado de corruptos.

-  Vamos dar um não à desordem, à bagunça, à baderna, à bandeira vermelha. Vamos dar um sim à bandeira do Brasil, verde, amarela, azul e branca (Collor de Mello referindo-se a Lula, no último debate dos presidenciáveis antes do segundo turno, em 14 de dezembro de 1989).

-  A poupança é sagrada.

-  Não temos mais alternativas. O Brasil não aceita mais derrotas. Agora, é vencer ou vencer. Que Deus nos ajude, declarou Fernando Collor de Mello, em rede nacional, na manhã do dia 16, após a ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, anunciar as medidas de um novo plano econômico.

- Minha gente! Não me deixem só! Eu preciso de vocês (Pronunciamento feito durante o processo de impeachment).

Após afastamento do Presidente Collor, devido ao processo de impeachment, assumiu a presidência do Brasil o engenheiro, militar e político brasileiro Itamar Augusto Cautiero Franco (1992 – 1994). O presidente tinha algumas esquisitices, mas não colecionou deslizes morais e nem acusações de corrupção. Todavia no seu mandato, um fato que ocorreu durante o desfile de Carnaval em 1993, gerou muita repercussão na impressa. Um fotógrafo oportunista documentou a alegria do presidente no palanque ao lado da modelo Lílian Ramos. A moça não usava a mais íntima das peças íntimas da indumentária feminina. E sua genitália ilustrou a foto mais badalada daquele carnaval, foi capa de revista e muitos veículos da mídia impressa em todo o mundo a divulgou. Interessante como os grandes escândalos também se modificam conforme a época.

Algumas de suas principais citações:

-  Como vou fazer para saber se as pessoas estão de calcinha preta, verde, vermelha ou sem calcinha?

-  Quando reajo, dizem que sou temperamental, teimoso. Quando demonstro serenidade, falam que sou omisso. Não sei o que essa gente quer. 

-  Nós devemos aos nossos credores dinheiro. Dinheiro se paga com dinheiro. Não se paga dinheiro com a fome, a miséria e o desemprego dos cidadãos brasileiros. 

-  Se não saio de Brasília, reclamam. Se vou para o Rio, reclamam. Se vou para Juiz de Fora, reclamam do mesmo jeito. Se falar em ir para qualquer lugar, reclamam. “

-  Do jeito que as coisas vão, FHC vende a Bandeira Nacional até 2002 (Itamar já não era mais presidente quando pronunciou essa frase).

De 1995 a 2002, ocupou a presidência da república o sociólogo e professor universitário Fernando Henrique Cardoso. Foi o primeiro presidente brasileiro a se reeleger para um segundo mandato.

Algumas de suas principais citações que ficaram para os anais da história:

- O nosso vizinho não foi capaz de apurar tão depressa os votos como nós aqui (Frase dita por Fernando Henrique em 2000, ironizando a confusão da eleição presidencial nos Estados Unidos).

-  É demagógico. Alertar contra a fome é bom, mas falar e não resolver é gravíssimo.

- Saco de bondade à custa do povo eu não faço (Frase dita em 2001, ao afirmar que não permitiria que os gastos públicos estourassem em 2002, ano eleitoral).

-  Logo que eu iniciei o governo, eu disse que era fácil governar o Brasil. Talvez tivesse que refazer o que disse.

-  A pior guerra é a guerra contínua contra a natureza, que é silenciosa, que destrói ao longo do tempo.

- Eu sou o presidente da República, mas quem manda em mim é o Marco Aurélio. Você precisa parar de mandar em mim, Marco Aurélio (Fernando Henrique, dirigindo-se, em tom bem-humorado, ao presidente do STF, Marco Aurélio de Mello, durante jantar oferecido pelo presidente do Senado, Ramez Tebet - 2001).

- Não posso aceitar o pressuposto de que abafei um crime. A leviandade da imprensa e o golpismo sem armas da oposição estão criando um clima de fascismo e terror insuportável (Em 2001, sobre o envolvimento do governo no caso do banco Marka).

-  Graças ao meu estilo de governar, pouco a pouco as oligarquias, os caciques foram perdendo centralidade na política (Em 2002, dizendo, em balanço sobre as eleições, que, no seu governo, as oligarquias perderam o peso e a centralidade que tiveram no passado).

Fernando Henrique, homem muito culto e poliglota não escapou de gafes, ainda que fora do campo da linguagem. Durante cerimônia de abertura do 10º Fórum Nacional, em 1988, ele afirmou que as pessoas aposentadas com menos de 50 anos eram vagabundos porque se locupletariam de um país de pobres e miseráveis.

No discursar em homenagem ao Dia Internacional da Mulher em 1998, indagou: “Aqui nós estamos assistindo a ministros e vice-ministras aqui presentes; quem sabe um dia ministros e ministras, não é?”. Continuou: “Essa diretriz e para que, havendo qualificações iguais, as mulheres assumam, não o poder (risos), mas participem, coparticipem do poder”. Depois afirmou que muitas são “cabeças de cavalo”, corrigindo, em seguida, para “cabeça do casal”.

O Trigésimo quinto presidente do Brasil foi o metalúrgico, líder sindical e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como o Fernando Henrique Cardoso, foi reeleito para um segundo mandato.

Os dois mandatos do presidente Lula foram marcados por grandes avanços, mas também por grandes escândalos. Lula teve condições de passar para a história como o presidente que realizou grandes feitos e priorizou políticas que beneficiaram os mais pobres, mas a corrução se infiltrou no poder.

Em diversas solenidades, Lula jogou para escanteio os discursos produzidos pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e partiu para o improviso.

Frases que marcaram seu período como presidente da república:

- Ontem, o Brasil votou para mudar. O brasileiro votou sem medo de ser feliz, e a esperança venceu o medo (No seu primeiro pronunciamento como presidente eleito).

-  Se no final de meu mandato cada brasileiro puder comer três vezes ao dia, terei cumprido a missão de minha vida.

-  Não é o Bolsa-Família que vai resolver o problema do povo brasileiro. O que vai resolver são as mudanças estruturais que nós queremos que aconteçam no Brasil: a economia tem de voltar a crescer e temos de gerar empregos.

-  Você pode fazer seu discurso político na hora em que quiser. Você pode ter suas definições ideológicas quando quiser, mas, na hora de governar, é pão, pão, queijo, queijo. Você nem sempre faz o que você quer.

-  Na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: “Sou torneiro mecânico”.

-  O salário mínimo nunca será o ideal porque ele é mínimo.

-  São privilegiados aqueles que podem pagar Imposto de Renda, porque ganham um pouco mais (em discurso a metalúrgicos do ABC que cobravam mudança na tabela do Imposto de Renda, em 2004).

-  Nunca fiz concessão política. Faço acordo… Se Jesus viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizã.

-  Resolveram fazer um estudo para saber se a perereca estava em extinção. Aí teve que contratar gente para procurar perereca, e procure perereca, procure perereca, perereca, perereca... (em maio de 2009, ao eleger o bichinho como inimigo do desenvolvimento; por causa dele, houve atraso de sete meses na construção de viaduto entre Brasil e Argentina.

-  Uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida. Tem que ser submissa a um parceiro porque gosta dele e quer viver junto com ele.

-  Lá, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar (em 4 de outubro de 2008, garantindo que os efeitos da crise econômica não seriam sentidos no Brasil).

-  Tem gente que não gosta do meu otimismo, mas eu sou corintiano, católico, brasileiro e ainda sou presidente do País. Como eu poderia não ser otimista?

-  Quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que se encontra (em maio de 2009, ao garantir no Maranhão que suas obras de saneamento).

-  Ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para transformar a luta contra a corrupção não em bandeira, mas em uma prática cotidiana (em meio às denúncias do escândalo de pagamento de propina a parlamentares que ficou conhecido como mensalão).

- (A dor da escravidão) é como a de cálculo renal: não adianta dizer, tem que sentir (em abril de 2005, na Casa dos Escravos, em Dacar, capital do Senegal, ao pedir perdão ao povo africano pelo passado escravista brasileiro).

-  Aprendi a contar até dez, apesar de só ter nove dedos, que é para não cometer erros.

-  A coisa que eu mais queria na minha vida quando casei com a minha ‘galega’ (a primeira-dama, Marisa Letícia) era um filho. Ela engravidou logo no primeiro dia de casamento, porque pernambucano ‘não deixa por menos’”.

-  Espero que o Poder Judiciário tenha agilidade para que processos não sejam engavetados, para que processos não demorem, porque o povo não pode continuar sendo roubado (em 2003, cobrando do Judiciário agilidade para que processos contra administradores públicos acusados de corrupção não fiquem engavetados).

Algumas gafes do Luiz Inácio Lula da Silva a partir de seu primeiro mandato, em 2003:

-  No plano geográfico ele disse uma vez que o Brasil somente não tinha fronteira com o Chile, o Equador e a Bolívia.

-  No setor de suas pesquisas históricas elas mostraram que Napoleão havia estado na China: “Quando Napoleão foi à China, ele cunhou uma frase que ficou famosa. Ele disse: A China é um gigante adormecido que o dia que ele acordar, o mundo vai tremer.

-  Outra sobre a sua natureza humilde, quando afirmou em 2004, no dia internacional da mulher, que era “filho de uma mulher que nasceu analfabeta”.

-  Durante uma viagem a Londres, em 2006. Lula participou de um banquete oferecido pela rainha Elizabeth 2ª e, chamado para discursar, elogiou a “contribuição do inglês Charles Miller ao futebol brasileiro. Miller era paulista, filho de um inglês com uma brasileira.

Nas eleições de 2010 tivemos a primeira mulher eleita para presidir o país, a mineira Dilma Vana Rousseff. Seu primeiro mandato foi de 2011 a 2014. Reeleita em 2014 para o segundo mandato de 2015 a 2018, todavia no dia 31 de agosto de 2016 deixou o cargo devido a um processo de impeachment aprovado pelo Senado, tendo sido acusada de crime de responsabilidade fiscal. 

Ao longo dos mandatos da presidente Dilma Rousseff diversos de seus discursos se tornaram polêmicos devido as frases engraçadas e, sem uma boa conexão com as temáticas abordadas. Muitas de suas falas se tornaram meme nas redes sociais.

Frases de Dilma Rousseff que não fazem o menor sentido:

-  O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”

-  Se hoje é o dia das crianças, ontem eu disse que criança… o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.

-  Primeiro, eu queria te dizer que eu tenho muito respeito pelo ET de Varginha. E eu sei que aqui, quem não viu conhece alguém que viu, ou tem alguém na família que viu, mas de qualquer jeito eu começo dizendo que esse respeito pelo ET de Varginha está garantido.

-  Eu tô aqui saudando a mandioca. Acho [a mandioca] uma das maiores conquistas do Brasil (abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas).

-  Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.

-  A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, tudo isso abrindo o negócio.

-  Eu já entendi que você entende, pois se você não tivesse entendido não entenderia que você teria entendido para ser explicado antes de você entender.

Nem tudo foi cômico:

-  A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia.

-  A imprensa que constrói uma democracia é a imprensa que fala o que quer, dá opinião que quer e se manifesta do jeito que bem entende.

-  Nós acreditamos que, sempre, em qualquer situação, é muito melhor o diálogo, o consenso e a construção democrática do que qualquer outro tipo de ruptura institucional.

-  Temos muitos motivos para preservar e defender a Petrobras de predadores internos e inimigos externos.

-  Lamento a campanha absolutamente difamatória que fazem contra mim, dizendo que estou utilizando o nome de Cristo para falar que nem ele me derrotava na eleição. Eu acho isso um absurdo, uma calúnia e uma vilania contra mim. Como vocês sabem que sou cristã, eu jamais usaria o nome de Cristo em vão.

No dia 31 de agosto de 2016, após aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, toma pose como Presidente da República o advogado e político Michel Miguel Elias Temer Lulia. 

Nem mesmo o polido e cauteloso Michel Temer escapou das gafes. Algumas gafes:

-  Durante um encontro com a primeira-ministra norueguesa em 2017, Temer chamou Harald V, monarca norueguês, de “rei da Suécia”, país vizinho escandinavo, e se referiu ao “parlamento brasileiro”, em vez do norueguês.

-  Luiz Fernando Pezão, quando governador do Estado do Rio de Janeiro, teve que ouvir de Temer que o câncer lhe deixou mais bonito (por ter emagrecido), o que seria algo “útil”.

Algumas frases significativas:

-  Bons diálogos, boas conversas, sempre com vistas à pacificação absoluta.

-  Tenho feito esse diálogo com frequência. A raiva precisa acabar. Não se faz política com o fígado. Em política não se tem inimigo, mas adversário, aquele que adversa, está do outro lado. Não entender isso é comprometer as bases do sistema democrático”.

-  Quando nós nos desviamos dos limites do direito, nós criamos a instabilidade social e a instabilidade política.

-  Quando se tem esse tipo de movimento de rua, é preciso ouvir e dialogar muito, ter humildade e isso nós temos.

-  É uma rebelião, digamos assim, contra a classe política. Você pode me perguntar: mas isso é útil ou é inútil? Eu acho que é útil. Quando há uma queixa popular, você precisa verificar o que está acontecendo para melhorar as relações do poder institucional com a principal instituição do estado que é o povo.

Concluindo nossa viagem, chegamos ao 38º presidente do Brasil, eleito em 2018 para o mandato de 2019 a 2022, o capitão da reserva do Exército Jair Messias Bolsonaro. Se tornou um fenômeno eleitoral ao vencer as eleições, filiado a uma legenda sem grandes alianças com pouco tempo de TV e rádio e longe das ruas depois do atentado que sofreu no dia 3 de setembro de 2018. No seu discurso da vitória, Jair Bolsonaro declarou que seu governo seria um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade.

O Presidente Jair Bolsonaro durante sua vida política sempre colecionou declarações polêmicas. Segundo o jornalista Noblat (30/08/2021), Jair Bolsonaro é um fio desencapado que ocasiona curtos circuitos e faíscas e pode produzir pequenos ou grandes incêndios.

Frases que marcaram sua histórica política:

-  Já vai tarde. (Quando Luís Eduardo Carlos Magalhães faleceu, filho de Antônio Carlos Magalhães -1998).

-  Se fuzilassem 30.000 corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o país estaria melhor (1999).

-  A atual Constituição garante a intervenção das Forças Armadas para a manutenção da lei e da ordem. Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que este Congresso dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo (Discurso na tribuna da Câmara em junho de 1999).

-  90% desses meninos adotados [por um casal gay] vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa com toda certeza (2012).

-  A escória do mundo está chegando ao Brasil como se nós não tivéssemos problemas demais para resolver (haitianos, senegaleses, bolivianos que pediam refúgio ao Brasil - 2015).

-  Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens” (2008). Se referia ao índio Jacinaldo Barbosa, que lhe jogou um copo de água durante uma audiência pública na Câmara para discutir a demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol.

-  O erro da ditadura foi torturar e não matar” (2008 e 2016).

-  Eu jamais ia estuprar você porque você não merece (A frase foi dirigida à deputada federal Maria do Rosário, primeiro durante uma discussão nos corredores da Câmara em 2003, diante de vários jornalistas, depois repetida em 2014, dessa vez na tribuna da Casa).

-  Fui num quilombola [sic] em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriadores servem mais (2017).

- [O policial] entra, resolve o problema e, se matar 10, 15 ou 20, com 10 ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado, e não processado (Em declarações anteriores, ele já havia dito que “policial que não mata não é policial” e que a “polícia brasileira tinha que matar é mais” – 2018).

-  Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim, ele vai ter morrido mesmo. 

-  Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Vamos acabar com isso (2018).

-  Como eu estava solteiro na época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente (2018).

- Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.

-  Eu acredito em Deus. Sou católico. Mas é coisa rara ir à Igreja. Eu já li a Bíblia inteirinha com atenção. Levei uns sete anos para ler. Você tem bons exemplos ali. Está escrito: "A árvore que não der frutos, deve ser cortada e lançada ao fogo". Eu sou favorável à pena de morte.

-  O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada.  

-  E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre (declaração quando o Brasil passava a marca de 5 mil mortes e acabava de ultrapassar a China em número de óbitos - 2020).

-  No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão (2020).

-  Até quando vão ficar chorando? (Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia e ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas – 2021).

-  Se você virar um jacaré, é problema seu. Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada a ver com isso.

-  Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?" (Resposta dada a um jornalista que perguntou sobre os números da covid-19 no Brasil).

-  Nada temeis, nem mesmo a morte, a não ser a morte eterna (esta frase passou a fazer parte dos pronunciamentos do presidente desde o dia 5 de agosto 2021).

- Por ser uma floresta úmida, a Amazônia não pega fogo (discurso feito para investidores árabes em Dubai - novembro/2021, repetindo o que disse em discurso na assembleia-geral da ONU, em 2020).

Nessa “amostragem política”, muitos ficarão para sempre, nos anais da história política brasileira, conhecidos pelos discursos moralizantes, declarações polémicas, frases infelizes e malvada, discursos com frases engraçadas e, sem uma boa conexão com as temáticas abordadas que se tornaram meme nas redes sociais, pelas respostas curtas e grossas em diversas falas, sem o menor senso de educação e responsabilidade, e por gafes memoráveis.

Lembramos que todo político, assim como todos nós, devemos ter cuidado com o que falamos. Tem um ditado que diz que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. Esse é um ditado antigo e que está em plena sintonia com o provérbio de Salomão que recomenda que moderemos nossos lábios. Falar menos é sinal de prudência. Falar menos é sinal de sabedoria. "As palavras podem ferir e causarem dor, por isso, só devem ser ditas para construir, para trazer esperança e para produzir otimismo e nunca para aniquilar, mas para ajudar, direcionar e enaltecer. Nunca para arrasar alguém, nem para humilhar e muito menos para entristecer. Se não tem algo bom para falar de alguém, o melhor é falar a verdade ou ficar em silêncio" (escritor Salomão Tavares).

Concluindo esse artigo, afirmamos que não tivemos a intenção de comparar nossos políticos com Luther King.  O mesmo era um líder com ideais bem definidos de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos. Falando do jeito que fez, ele conseguiu educar, inspirar e informar, não apenas as pessoas que ali estavam, mas também pessoas em todo os EUA e outras gerações que nem sequer haviam nascido. Mas, principalmente para dizer que assim como Luther King, eu também tenho um sonho: Que nossos descendentes vão um dia viver em uma nação onde elas terão todos os direitos inalienáveis a vida e que os nossos políticos, que transpiram com o calor da injustiça, que transpiram com o calor de opressão, transformem esse nosso Brasil em um oásis de liberdade, igualdade e humanidade.

Parece que, por enquanto, os nossos políticos são os Odoricos Paraguaçu, da novela Bem Amado.

 “Não prometa o que não pode cumprir. Não exija o que não pode oferecer. Não desdenhe do que não sabe fazer melhor. Não tente parecer ser o que jamais será” (escritora Lavínia Lins).

07/11/2021

Nem tudo que reluz é ouro


Em 15 de novembro de 1889, ocorria na cidade do Rio de Janeiro, capital à época, a Proclamação da República, fato histórico e emblemático da jovem Nação Brasileira.
Fonte: Educamaisbrasil
Primeira constituição republicana (1891).
Fonte: Arquivo Nacional

Em 2022, o Brasil comemora 200 anos de independência.  Durante o Regime Monárquico (1822-1889), o Brasil teve dois Imperadores, 33 Primeiros-Ministros (sempre com alternância de poder entre os Partidos Liberal e Conservador) e uma Constituição (1823). O Parlamento nunca foi fechado e funcionava a pleno vapor, com os parlamentares trabalhando de segunda a sexta e não, como é hoje na república, apenas de terça a quinta. Enquanto, o Regime Republicano, que iniciou em 1889, completará 133 (cento e trinta e três) anos. Todavia, durante o período republicano, já tivemos: 06 (seis) vezes o congresso fechado, seis golpes de Estado, 13 (treze) presidentes que não concluíram o mandato, 19 (dezenove) presidentes eleitos pelo voto popular e 20 (vinte) presidentes não eleitos diretamente, também considerando posse de vice e interinos. Um fato relevante é que nesse período republicano tivemos 06 (seis) Constituições Federais.

Por incrível que pareça, o Estados Unidos como república federativa, em 231 (duzentos e trinta e um) anos, tiveram 01 (uma) Constituição e 45 (quarenta e cinco) indivíduos foram eleitos ou sucedidos ao cargo de presidente.

Será que com base nesses dados, podemos questionar se a república foi a solução para os problemas do Brasil existentes no período monárquico? 

Nos anais da história está registrado que a queda da monarquia foi um golpe de Estado e não uma revolução. Veio do alto escalão do exército. Para ser uma revolução, teria de ser proveniente de quem está fora dos setores de poder do Estado. As pessoas sequer tomaram conhecimento. Sobre isso, disse Aristides Lobo: “os brasileiros não compreenderam e assistiram bestializados à Proclamação da República, pensando que era uma parada militar”.

A primeira fase do regime monárquico é chamado de Primeiro Reinado (1822 -1831). Termina com a abdicação de D. Pedro I. A segunda fase, conhecida como Regência (1831-1840). A última fase, denominada Segundo Reinado (1840 -1889), com D. Pedro II no poder.

Dom Pedro II era um intelectual sensível, valorizava as artes e era poliglota. Nunca aumentou o seu salário, do qual usava parte, para libertar escravos e financiar estudos de brasileiros no exterior. Dizia que a importância do debate democrático estava na liberdade de expressão. Uma vez indagado sobre essa questão, respondeu ao jornalista: “veja meu filho, imprensa é algo muito sério, é o pilar da democracia, e ela não deve ser combatida com ações estatais, deve ser combatida com mais imprensa.”

D. Pedro, d. Teresa Cristina e sua comitiva no Egito.
Acervo da Fundação/Biblioteca Nacional

Uma curiosidade era o famoso “caderninho preto” de D. Pedro II, onde ele anotava o nome dos políticos envolvidos em corrupção, e esses nunca mais conseguiam ocupar um cargo público.

Antes da queda da monarquia, a economia do Brasil era uma das mais estáveis do mundo. Era um exemplo de responsabilidade fiscal. Tinha uma diplomacia vibrante, usada para fins nacionais e não para fins políticos. Mesmo no período da guerra do Paraguai, não enfrentou nenhuma recessão na sua economia.

Ocorreu nesse período o surgimento de indústrias, bancos e usinas financiadas por empreendedores locais, bem como a construção de estradas de ferro, iluminação a gás, encanamento de esgoto e o desenvolvimento da indústria naval. Houve renovação urbana, com ruas largas, hospitais, prisões, pontes, elevadores e túneis. Já havia brasileiros mais ricos que a família imperial. Destacamos na época, a figura do Barão de Mauá: o maior empresário que o Brasil já conheceu.

Outro ponto a ser ressaltado era que as liberdades civis eram profundamente respeitadas: o Brasil, mesmo tendo a Religião Católica como oficial, assegurava constitucionalmente o direito de cada grupo religioso realizar seu culto, seja ele qual fosse.

Mas com o passar do tempo, a monarquia começou a entrar em crise. Essa crise foi gerada por um conjunto de fatores, tais quais: o movimento pelo fim da escravidão, choques com a igreja, o movimento republicano e conflitos com o exército.

O sistema de padroado instaurou uma grave crise entre D. Pedro II e os clérigos católicos brasileiros. Através do sistema padroado, o Imperador tinha o poder de nomear os bispos, exercendo controle sobre a Igreja. Ele ficava encarregado de sustentar o clero, pagando seus salários, patrocinando construções de Igrejas, etc. O estopim da crise foi quando em 1864 o papa Pio IX, através da bula “Syllabus”, proibiu a permanência de membros da maçonaria nos quadros da Igreja. O imperador rejeitou a decisão do papa. Alguns bispos permaneceram fiéis ao Imperador, porém os bispos de Olinda e de Belém expulsaram de suas dioceses os padres envolvidos com a maçonaria. O imperador reagiu com a condenação dos mesmos à reclusão e prestação de trabalhos forçados. Posteriormente, D. Pedro II anulou a decisão. Eles foram libertados e desculpados. Porém, perdeu o apoio fundamental da igreja.

A partir de 1870, o Brasil Imperial começaria a sofrer diversos tipos de oposição ao seu regime e a defesa da instalação de uma República em seu lugar. Os republicanos criticavam a centralização da Monarquia, seu caráter “hereditário”, o poder excessivo nas mãos de Pedro II, a vitaliciedade do Senado e o sistema político em geral. Preocupados com a questão do desenvolvimento e da modernização do país, acreditavam que a monarquia operava como o grande sustentáculo do escravismo.

Uma parcela dos republicanos era influenciada pelo “positivismo” que foi uma corrente filosófica que veio da França, no início do século XIX e entrou no Brasil pelos militares, ganhava espaço junto com o federalismo inspirado nos EUA. Defendiam o fim das tradições monárquicas, pois a sociedade tinha que ser racional, científica e planejada por tecnocratas. Interessante que tentavam disseminar suas ideias a qualquer custo, mas sem sucesso. A população não aceitava isso e eles raramente se elegiam. Destacamos que alguns textos influenciados pelo “socialismo utópico” abraçavam a causa republicana e seus preceitos democráticos como forma de atendimento aos anseios populares.

Com diretrizes confusas, prolixas e completamente utópicas, essa filosofia “positivista” foi a escolhida para representar os anseios de um povo que, até hoje, pouquíssimo ouviu falar sobre ela e o que ela exatamente defendia. O encantamento com essa utopia nas Forças Armadas era tamanho que uma abreviação do seu lema foi colocada na bandeira republicana do Brasil: “Ordem e Progresso”, retirando a esfera armilar, a cruz e os ramos de açúcar e tabaco, que de fato representavam o Brasil e tinham um profundo significado para o seu povo.

Os grandes fazendeiros, extremamente dependentes da mão de obra escrava, entenderam o fim da escravidão(1888) como um ato de traição do Império. Revoltados, fizeram um gigantesco lobby de financiamento ao Partido Republicano e buscaram influenciar a Maçonaria, na ajuda para depor o regime que libertou os escravos do Brasil.

Talvez, o motivo mais importante que determinou a queda definitiva da monarquia no Brasil foi o desgaste entre os militares e o Império. As ideias trazidas da Guerra do Paraguai (1870) só alimentaram a disposição militar em “purificar” os costumes políticos, consolidando a auto imagem do Exército, de salvador nacional. Os militares não sentiram retribuição da parte do governo pelos esforços que haviam prestado à nação. As reivindicações dos militares por melhores salários e maior influência na política resultou em conflitos com a coroa.

Fonte: Assembleia Legislativa SP

Em 14 de novembro de 1889, os republicanos fizeram circular o boato de que D. Pedro II havia mandado prender Deodoro e o tenente-coronel Benjamin Constant, líder dos oficiais republicanos. Os boatos (fakenews?) deram certo e as tropas se rebelaram. Na manhã seguinte Deodoro expulsou o primeiro ministro. O Imperador que estava em Petrópolis, ao receber um comunicado dos golpistas informando sobre a proclamação da República e pedindo que deixasse o pais, não ofereceu resistência e partiu para a Europa.

D. Pedro II cumpriu à risca o que lhe foi ensinado. Morreu em 1891, aos 66 anos. O obituário no jornal The New York Times afirmou que D. Pedro II "foi o mais ilustrado monarca do século”.

O Império Brasileiro era tão democrático, estável e respeitoso para com os seus cidadãos que o Presidente da Venezuela em 1889, Rojas Paul, ao saber do Golpe de 1889, disse: “foi-se a única República do Hemisfério Sul.”

O mais irônico de tudo é que no Hino da Proclamação da República, composto pelo maestro Leopoldo Miguez, existe um verso, que diz: “nós nem cremos que escravos outrora tenham havido em tão nobre País, hoje o rubro lampejo da aurora, acha irmãos não tiranos hostis”. Da a impressão de que os Republicanos foram os responsáveis por libertar os escravos e que instauraram, de imediato, uma república que livrou o Brasil de uma ditadura sanguinária.

Relembrando a frase de Shakespeare na sua obra “O mercador de Veneza: “All that glitters is not gold” (Nem tudo que reluz é ouro), podemos concluir, pelos registros históricos, que o regime monárquico do Brasil, teve no final do século XIX, seus “desencantos”. Afirma a historiador Laurentino Gomes que um dos grandes problemas para a continuidade da monarquia, seria a sucessão, disse: "A impressão que se tem, ao estudar a história do Segundo Reinado, é que D. Pedro nunca acreditou de fato que a filha pudesse assumir o trono. No Brasil, conservador e patriarcal, D. Pedro sabia que o exercício político de Isabel era tarefa difícil".

Independentemente o que poderia acontecer, após a morte de D. Pedro II, o que temos assistido, após o fim da monarquia, é uma sucessão de golpes e contragolpes, de revoluções e reacionarismos, da ascensão vertiginosa de oportunistas famintos de poder e, a depender das necessidades, de sangue, suor e lágrimas. A República pariu o populismo, regimes ditatoriais, os “coronéis nordestinos” e tantos outros que marcam a nossa história como um exemplo de autoritarismo e uso do poder público para fins pessoais ou partidários.

No tempo do Imperador D. Pedro II, éramos reconhecidos no mundo inteiro pela nossa Cristandade, o apego que o nosso governo tinha pela ciência, pela nossa estabilidade e pela sabedoria do nosso Imperador. Nos tempos atuais, somos reconhecidos pelo país da corrupção e de não preservar as suas florestas. Infelizmente, nem pelo futebol somos mais reconhecidos.

Enfim, a monarquia se foi em 1889. O Brasil passou a ser uma República Democrática. Como disse o poeta: um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Contemplado com longos quilômetros de praias paradisíacas, animais das mais variadas espécies, uma população pacífica e religiosa, com muitas manifestações artistas e culturais, uma diversidade de riquezas minerais e uma grandiosa Floresta Amazônica. Mas, infelizmente a nossa classe política que é eleita pelo povo, esquecem que eles têm que governar, num regime democrático, conforme foi dito por Péricles, estadista da democracia ateniense do século V a.C: “pelo povo e para o povo”. E não com interesses pessoais ou partidários.

Mas não é ponderável colocar a culpa apenas na classe política. A culpa é de todos nós, brasileiros eleitores e cidadãos, que por vezes nos ocupamos em apontar o dedo para os erros dos outros sem, contudo, consertar os próprios. Refiro-me as maracutaias, termo utilizado para explicar as malandragens e os esquemas praticados para levar vantagem sobre os outros, também conhecido como jeitinho brasileiro. Tais práticas ocorrem praticamente em todos os espaços de relações sociais nesse solo gigantesco de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados.

E na hora do voto? De quem nos lembramos quando digitamos os números na urna eletrônica? Seria de alguém que julgamos ser uma boa pessoa para nos representar? Ou votamos apenas por ideologia política? Ou pior, apenas por interesses pessoais?

"Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!" Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889.

26/10/2021

Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos

Em novembro de 1995, a Gazeta Mercantil publicou o seguinte artigo: “Quanto a Cuba, o poder de Castro não ameaça os Estados Unidos mais do que uma pulga ameaça um elefante. Ele prejudica os cubanos, contudo. Aqueles que apoiam o embargo gostam de basear seus argumentos no princípio, segundo o qual, não se deve manter intercâmbio comercial com países cujos governos não reconhecem os direitos políticos de seus cidadãos e, em alguns casos, também os direitos humanos. Esse é um princípio sempre válido? Os Estados Unidos proibiram o comércio com a China?” Por esse artigo parece que quando se trata de determinadas nações, não vale o dito popular: “o pau que dá em Chico, dá em Francisco”.

O desenvolvimento do comércio Brasil-China teve início em meados dos anos 1950, ainda informalmente e sem uma notável expressividade econômica. No entanto, no começo da década de 90, o comércio bilateral entre os países experimentou um boom em suas transações.

Ao longo deste século, a China tornou-se o maior investidor externo do país. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores divulgados em 2019, entre 2003 e 2019 os chineses colocaram por aqui US$ 72 bilhões, ou 37,3% do total investido por estrangeiros. Apesar de menores em número de projetos, os chineses já investem mais no Brasil do que americanos ou japoneses e canadenses, cuja presença no país já está estabelecida há décadas.

Após anos de marginalização internacional, a China conseguiu, em 1971, tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa aproximação deu-se, principalmente, com os Estados Unidos, com quem a China formou uma aliança tática contra a “hegemonia soviética”.

A partir de 1978, liderado por Deng Xiaoping, a China lançou uma política de reformas e modernização de longo prazo, que consistia na reestruturação da indústria, da agricultura, da defesa e da cultura. Deng Xiaoping entendeu que o mundo era comandado pelo dólar. As reformas econômicas visavam principalmente a integração da China ao mundo capitalista.  A China passaria a ser uma grande empresa, "fábrica do mundo", disposta a produzir de tudo com seu estoque de mão de obra ociosa.

Fonte: Internet

Depois de quinze anos como candidata, as mudanças permitiram que a China atingisse o seu objetivo, o que permitiu seu ingresso como membro da Organização Mundial do Comércio em 2001 e lhe abriu definitivamente as portas para a globalização e catalisou seu progresso econômico.

Em 2018, o então candidato à presidência da república Jair Bolsonaro, num dos seus discursos anti-China, fez a seguinte “observação”: “Os chineses não estão comprando no Brasil. Eles estão comprando o Brasil”. Tomou como exemplo a empresa China Molybdenum que comprou uma mina de nióbio por US$ 1,7 bilhão no ano de 2016. Segundo Bolsonaro, o próprio Brasil deveria desenvolver o empreendimento. Também registrou sua oposição à privatização planejada de alguns ativos da estatal Eletrobras, em razão do temor aos compradores chineses.

Entre 2007 e 2020, os chineses direcionaram 48% dos investimentos no setor de energia elétrica, em terras brasileiras, no qual há presença marcante de gigantes estatais como State Grid (maior transmissora de energia chinesa) e da China Three Gorges que arrematou hidrelétricas que pertenciam à estatal Cesp e comprou ativos da Duke Energy. Ambas as empresas são ainda fortes concorrentes em projetos de privatização, como os da Eletrobras e Cemig.

Após passar parte da campanha fazendo duras críticas à China, Bolsonaro mudou o discurso após tomar posse e passou a defender um reforço no comércio bilateral. No final de out/2019, Bolsonaro fez uma visita de Estado à Pequim e assinou 11 acordos de cooperação, principalmente nas áreas de energia e agronegócio. Durante a viagem, o presidente convidou Xi Jinping a participar do megaleilão do pré-sal.  Segundo o jornal Folha de São Paulo, já prevendo a possibilidade de fracasso dos leilões do pré-sal, o presidente brasileiro teria aproveitado a viagem à China para pedir a Xi Jinping que petroleiras chinesas participassem dos certames.

Essa mudança de atitude do presidente, se fosse algum tempo atrás, seria visto com preocupação pelos militares, alegando que essas cooperações poderiam trazer instabilidade das instituições do país. Quando Jânio Quadros renunciou à presidência (1961), o vice João Goulart estava na China em uma delegação responsável por aproximar economicamente a China ao Brasil. João Goulart foi comunicado que deveria retornar ao Brasil para assumir a presidência. No entanto, ministros militares formaram uma junta para impedir a posse de João Goulart, alegando que essa presidência ocasionaria instabilidade das instituições do país.

Faz cerca de 10 anos que a China passou a ter uma participação mais ativa em concorrências para exploração de campos de petróleo no Brasil. Em 2012, um consórcio com a presença das estatais China National Petroleum Corporation (CNPC) e a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) venceu o leilão do campo de Libra, um dos maiores do pré-sal. No leilão do pré-sal, realizado em 2019, no campo de Búzios, foi vencida por um consórcio formado pela Petrobras com as empresas chinesas CNOOC e CNODC. Dois dias depois, em um novo leilão, a chinesa CNDOC foi a única empresa estrangeira a fazer uma oferta em consórcio com a Petrobras. Foi arrematada na concorrência o bloco Aram, o mais nobre entre os cinco oferecidos. Importante ressaltar, que atualmente, a China é o maior importador do petróleo bruto brasileiro e que o Brasil avançou para o posto de terceiro maior fornecedor de petróleo bruto para China.

A área portuária é um dos setores que tem crescido em interesse por parte do governo chinês, a estatal China Communications Construction Company (CCCC), está investindo R$ 2 bilhões na construção do Terminal de uso privado no porto de São Luís, capital maranhense, formando assim duas rotas de escoamento da produção agrícola brasileira, ao sul e ao norte do país. A mesma CCCC está neste momento negociando um novo projeto, desta vez em Santa Catarina, também para a área de grãos, como em São Luís. O valor envolvido é da ordem de R$ 1 bilhão.

Em 2017 a China Merchants Group, uma companhia controlada pelo governo chinês listada em bolsa, pagou R$ 2,8 bilhões pelo Terminal de Contêineres do Porto de Paranaguá, o segundo maior do Brasil.

No ramo agrícola, os chineses são sócios majoritários com 53,4% da Belagrícola, produtora de máquinas e equipamentos paranaense com faturamento de R$ 2,8 bilhões. 

Outros investimentos incluem ainda: a Shangai Pengxin Group/Fiagril (insumos agrícolas e grãos), a Fosun/Guide (corretora investimentos) e a DIDI (Uber chinês) que comprou a brasileira 99.

Mas há outras companhias de grande porte que estão presentes ou investem no Brasil, tais como: BYD (maior produtora de baterias e veículos elétricos do mundo), Chery (montadora de automóveis), Lenova (computadores), Midea (fabricantes de eletrodomésticos) e a Petro China Company (maior petrolífera da China) que já comanda milhares de postos em solo brasileiro.

As empresas chinesas efetivaram 176 empreendimentos no Brasil, entre 2007 e 2020, com aportes que somam US$ 66,1 bilhões. Em 2019, pela primeira vez o Nordeste atraiu a maioria do número de projetos chineses no Brasil, com participação de 34%, seguido por Sudeste (27%), Sul (15%), Norte (12%) e Centro-Oeste (12%). O Nordeste também liderou a atração de aportes em termos de valor, com mais da metade do capital investido naquele ano.

Estima-se que 34,5 mil empregos foram criados no Brasil entre 2003 e 2020 por conta da entrada de novos projetos chineses (greenfield), ao mesmo tempo que as aquisições de ativos já existentes mantiveram 140,4 mil postos de trabalho no país.

Num período em que a economia foi prejudicada pela pandemia, os investimentos chineses no Brasil caíram de 74% em 2020, mas somam US$ 66,1 bi em 14 anos.  Entrada de capital chinês no País somou US$ 1,9 bilhão em 2020, o menor valor desde 2014, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, mas se consolida como principal destino de investimentos de Pequim na América do Sul. Apesar disso, a corrente de comércio (soma de exportações com importações) com a China bateu recorde em plena pandemia, chegando a US$ 101 bilhões em 2020.

Principais produtos exportados para China em 2019: soja, óleo bruto petróleo, minério de ferro, celulose, carne bovina, carne de frango, ferro ligas, algodão em bruto, carne de suíno e minério de cobre. Os principais produtos importados da China pelo Brasil em 2019 foram: manufaturados, circuitos impressos, motores, geradores, transformadores elétricos, circuitos integrados, tecidos de fibra têxteis/sintéticas/artificiais, peças para veículos, automóveis, tratores, inseticidas, formicidas, herbicidas, produtos laminados de ferro ou aço, bombas, compressores, ventiladores, aparelhos eletromecânicos ou térmicos para uso doméstico, e plataformas de perfuração ou exploração, etc.

A globalização abriu as fronteiras do comércio e tem gerado consequências de longo alcance. Parece que as nações idealizadoras do processo de globalização não se preocuparam com o que iria acontecer no seu país depois de certo tempo. É irônico, mas uma das características do processo de globalização é que ele concentrou a manufatura num pedaço da Ásia.

No caso específico do Brasil, essa avalanche de investimentos dos chineses em nosso território me fez lembrar do professor e jurista Celso Ribeiro de Bastos, ao analisar a soberania brasileira, concluiu: “Ter a soberania como fundamento do Estado brasileiro significa que dentro do nosso território não se admitirá força outra que não a dos poderes juridicamente constituídos, não podendo qualquer agente estranho à Nação intervir nos seus negócios.”

Não estou querendo dizer que essa “avalanche” possa ser um risco para a soberania brasileira mas entendo que a sociedade brasileira tenha que ter clareza de todo o processo que envolve a venda de ativos público, e até privados, porque os políticos passam e as consequências perpetuam para muitas gerações.

Por exemplo, podemos lembrar que no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu significativa venda de ações da Petrobras. Hoje, a União detém apenas 36,75% do capital total. O restante do capital ficou assim distribuído: 42,79% com investidores não-brasileiros e 20,46% com investidores brasileiros. Boa parte negociados na Bolsa de Nova York. Antes das vendas no governo tucano, a parte da União superava 80%.

Será que ainda temos a soberania sobre um dos nossos maiores patrimônio nacional? Já perdemos a maioria do capital total e agora estamos assistindo o desmanche da holding. Nos últimos dois anos, tivemos a venda da Petrobras Distribuidora, da rede de Gasodutos, de campos terrestre e marítimos, recentemente tivemos a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM). Outras vendas de Refinarias já estão encaminhadas. Imaginem o que pode acontecer com nosso Pré-Sal.

Outro ponto importante é a aquisição de terras no território brasileiro. É fato notório que a China precisa ter acesso a mais alimentos. Dos 7,7 bilhões de habitantes do mundo, a China é responsável por alimentar, sozinha, 1,43 bilhão dessas bocas. Consequentemente, ela precisa assegurar terras que garantam o alimento de sua enorme população e crescente classe média. Os chineses já são os estrangeiros que mais possuem terras rurais nos Estados Unidos e na Austrália. No Brasil, é diferente, eles estão apenas em 9º lugar no ranking de terras em posse de estrangeiros. Aqui, o apetite chinês é freado pelas diversas restrições impostas para a aquisição de terras por quem não é do país, geralmente relacionadas ao tamanho da área a ser adquirida ou arrendada e ao percentual do território do município que já está nas mãos dos estrangeiros. Mas isso pode mudar, caso o Projeto de Lei nº 2963/2019 que foi aprovado pelo Senado Federal e atualmente tramita na Câmara de Deputados, seja também aprovado pela Câmara e depois sancionado pelo Presidente da República. O projeto de lei facilita a compra, a posse e o arrendamento de propriedades rurais no Brasil por pessoas físicas ou empresas estrangeiras

Os escândalos revelados pela Operação Lava Jato envolvendo as maiores empreiteiras do Brasil estão longe de serem vistos como fator de preocupação econômica ou de instabilidade política pelos investidores chineses. Pelo contrário, têm ajudado, já que os preços dos ativos caíram.

Esta conclusão vai na direção da afirmação do diretor para a área de infraestrutura da A.T. Kearney, Cláudio Gonçalves, que afirmou: “Hoje, o Brasil é um país que está barato, por conta do cenário político e econômico. E isso é visto como uma grande oportunidade pelo investidor chinês".

Não tenho bola de cristal para dizer as consequências desse apetite desenfreado chinês. Por exemplo, o impacto causado por grandes projetos que facilitam a exploração de riquezas naturais brasileira. Como os vizinhos ao sul da China já sabem, o país não é exatamente o mais preocupado do mundo com danos ambientais. Que o digam aqueles que sofrem com secas e, consequentemente, com a fome, em função do controle de barragens chinesas sobre rios para geração de energia.

Lembrando da frase de Xiaoping: "Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos". Para ele, não importava se o sistema econômico chinês era comunista ou capitalista, mas se ele funcionava.

Possivelmente para Xiaopin, a conquista de uma Grande China, não será com a espada, mas com a importante carteira de investimentos internos e externos. Bem, parece que o apetite da China não é pequeno, o mundo é que se cuide.

26/10/2021

Melhor buscar a verdade e a preservação da harmonia

Fonte: depositphotos

Os últimos dezoito meses, na minha opinião, podem ser considerados um dos mais difíceis para a humanidade desde do fim da segunda guerra mundial em 12 de setembro de 1945, com vários pontos que precisamos fazer algumas reflexões. Em nosso artigo, vamos nos deter em dois pontos.

Com a avalanche de aplicativos de comunicação, por exemplo, o “whatsapp” que é utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão à internet ou mesmo o “facebook” que é um site e serviço de rede social em que os usuários postam comentários, compartilham fotos e links para notícias, e outros tais como: messenger, twitter, Youtube, etc, passamos a ter disponíveis ferramentas poderosíssimas de comunicação, que trazem notícias e informações em tempo real.  No entanto, como tudo na vida, seu mau uso ou seu excesso podem trazer problemas e provocar o inverso ao desejado. As pessoas terminam presas em suas bolhas tecnológicas, com verdadeira aversão aos contatos interpessoais mais próximos. Triste realidade, parece que estamos nos transformando em robôs.  Divulgamos notícias que as vezes nem sabemos a origem e veracidade. Imaginem nos deparássemos com uma divulgação falsa a nosso respeito, como reagiríamos? O pior é que muitos de nós que proclamamos ser Cristãos, esquecemos que Jesus deu testemunho da “Verdade”. Como discípulos de Jesus temos que dar testemunho da “Verdade”. Vocês não acham que vale uma reflexão?

O segundo ponto a refletir, começa com a seguinte pergunta: Qual é o preço de sempre se achar o dono da razão? Quais as consequências de sempre querer provar que se está certo? É claro que defender um ponto de vista é corriqueiro. Colocar nosso posicionamento ou nossas ideias perante um fato, de maneira sensata, é mesmo saudável.

Trocar ideias a respeito de um tema, argumentar a favor de um conceito no qual se acredita, são posturas naturais e comuns nas relações cotidiana. Porém, quando essa atitude supera todas as barreiras, está sempre como ponto de honra de nossa palavra, quando se torna fundamental ter a razão, pior ainda com ideologias políticas e religiosas, qual o preço a ser pago?

Quantas vezes nos aborrecemos com alguém pelo simples fato de querer convencê-lo de que ele está errado em sua forma de pensar? Quem de nós não se pegou transformando uma discussão tranquila em um afrontamento pessoal? Ou ainda, quantas vezes elevamos o tom da conversa, tornando ríspido o enfrentamento de ideias?

Não podemos esquecer que cada ser humano tem seu ponto de vista, sua percepção e capacidade de análise, conforme seus valores, conceitos e capacidades. Defender nosso ponto de vista como acreditamos ser o mais adequado, não quer dizer que estejamos errado. Porém não podemos esquecer de que o outro tem sua própria forma de ver, seus valores, suas ideias.

Enfrentar-se, nessas situações, será o duelo de ideias, a briga de argumentos, em que, quase sempre, o que existe, de verdade, é o desejo de impor nosso raciocínio, nossa argumentação.

Inúmeras vezes, em nome de desejarmos provar que a razão nos pertence, usamos nossa palavra como quem está numa batalha, não desejando nunca perder.

Ter sempre razão às vezes custa o preço de uma amizade ou pior, custa o preço de toda uma existência, de toda a imagem que se criou e se esvai pela prepotência de se achar “Estar Certo”.

Buscar impor aos outros nossos argumentos, repetidamente, pode ocasionar o desgaste da relação. Querer estar sempre certo, no campo das ideias e reflexões, pode causar fissuras nas relações Familiares e Sociais. Assim, antes de se buscar ter razão, melhor buscar a preservação da harmonia. Antes de querer ser vencedor em uma argumentação, melhor que se tenha paz de espírito.

Apesar de todas as dificuldades, temos a crença no povir e na capacidade de aprendizado do ser humano. Cada evento desgastante serviu de alicerce para o futuro. Com fé, esperança, união e amor, temos a certeza melhores dias virão.