17/05/2022

Um monstro de muitas faces

Embora não seja um assunto novo, o racismo passou a ser, nos últimos tempo, um tema principal dos debates públicos, dentro e fora das redes sociais. Vejamos, por exemplo, a palavra “macaco”, como ela é usada nos campos de futebol para ferir (jogadores negros).

Lembramos, também, quando da chegada de médicos cubanos (2015), em sua maioria negros, que vieram para o país através do Programa Mais Médicos. Nos aeroportos, eles foram recebidos com vaias e bananas por médicos brasileiros, majoritariamente brancos.

O racismo, foi por muito tempo naturalizado na sociedade e, muitas vezes, o debate sobre esse tema, causa constrangimento ou irritação, porque provoca nas pessoas a necessidade de refletir sobre suas ações.

A ideia de que “hoje tudo é racismo” ou “não dá mais pra brincar com nada” fazem com que até mesmo propor esse debate seja difícil. Tem um processo de conscientização envolvido. Muitas pessoas não veem maldade nessas “brincadeiras” e acham que a intenção de quem fez a brincadeira, vale mais do que o sentimento causado pela brincadeira, no outro, na vítima.

No Brasil, durante os períodos colonial e imperial, foi a escravidão que se encarregou de posicionar os negros e os brancos em mundos diferentes. Com a assinatura da Lei Áurea, em 1888, os brancos criaram mecanismos menos explícitos do que as senzalas e os grilhões, para manter os negros num lugar de subordinação.  Da escravidão ao formato atual, o racismo foi se metamorfoseando no correr no tempo, hábil em adaptar-se às mudanças da sociedade.

No começo do século 20, no meio acadêmico, havia a ideia de que era o elemento negro que produzia a desordem e as crises que o Brasil vivia na Primeira República. Isso, legitimou o uso da violência contra essa população. Ao mesmo tempo, acreditava-se que a miscigenação seria benéfica para o país porque, nessa mistura, o sangue branco forte prevaleceria sobre o sangue negro fraco e haveria o branqueamento da população. Aquele grupo desestabilizador acabaria sendo eliminado. Sendo mais direto: eugenia. Na década de 1930, o discurso que passou a vigorar foi a da democracia racial. O Brasil seria um país plural, com o branco, o negro e o indígena convivendo em harmonia, todos importantes, desde que cada raça ficasse no seu lugar. Já não se pensava mais em eliminar o negro, mas sim em absorvê-lo e mantê-lo numa posição subalterna.

O historiador, sociólogo e escritor pernambucano, Gilberto Freyre (1900-1987), oriundo de família rica e tradicional, escreveu a primeira grande obra brasileira que trata das relações entre senhores e escravos no período colonial e imperial no Brasil, o livro Casa Grande e Senzala, publicado em 1936. A obra-prima de Freyre, dedica páginas e mais páginas ao relato das atrocidades que se fizeram contra os escravos. Está tudo ali, todos os sofrimentos impostos aos escravos: o trabalho desumano nas lavouras, as meninas menores de 14 anos, virgens, violentadas na crença de que o estupro curaria a sífilis, as mucamas que tinham os olhos furados e os peitos dilacerados apenas por despertar os ciúmes das senhoras de engenho.

O papel de Freyre, porém foi outro, muito mais marcante. No debate com o pensamento majoritário de então, o que Freyre fez foi resgatar a importância do negro para a construção de nossa identidade nacional, para a construção da nossa cultura, do nosso jeito de pensar, de agir e de falar. Ele enalteceu a figura do negro dando e ela sua real dimensão, sua real importância. A nossa miscigenação, concluímos depois de ler Freyre, não é a nossa chaga, mas a nossa principal virtude.

Segundo os estudiosos, o que vigora no Brasil é o racismo estrutural. O racismo é estrutural porque se apresenta como um alicerce em cima do qual se constroem as relações políticas, econômicas e sociais no país. As pessoas e as instituições são moldadas, por vezes de forma inconsciente, para encarar como normal que brancos e negros ocupem lugares diferentes. O racismo estrutural, impede que as pessoas enxerguem suas atitudes como racistas e se responsabilizem pelas consequências delas.

Muitos de nós fomos ensinados a acreditar na existência de diferenças biológicas e genéticas entre as raças. Essa biologia responde por diferenças visuais tais como a cor da pele, textura capilar, formato dos olhos e características que achamos poder ver, como sexualidade, habilidades atléticas ou competências matemáticas. A ideia de raça como um construto biológico facilita acreditar que a maioria das divisões que vemos na sociedade é natural. Todavia, a raça, assim como o gênero, é socialmente construída. As diferenças que detectamos com nossos olhos, textura capilar e cor dos olhos, são superficiais e emergiram como adaptações geográficas. Por baixo da pele, não existe raça biológica de verdade. As características externas que usamos para definir raça são indicadores inconfiáveis da variação genética entre duas pessoas quaisquer.

Nos últimos trinta anos, este é o consenso entre os geneticistas: os homens são todos iguais ou, como diz o geneticista Sergio Penas, os homens são igualmente diferentes.

Consideremos dos grupos. O primeiro com aqueles que o senso comum diz ser de “raça” negra: homem de cor preta, nariz achatado e cabelo crespo. O segundo com aqueles que o mesmo senso comum diz ser da “raça” branca: homens de cor branca, nariz afinado e cabelos lisos.

As diferenças entre indivíduos de um mesmo grupo serão sempre maiores do que as diferenças entre dois grupos, considerados em seu conjunto. Tanto no grupo de negros ou brancos haverá indivíduos altos, baixos, inteligentes, menos inteligentes, destros, canhotos, com propensão a doenças cardíacas, com proteção genética contra o câncer, com propensão genética ao câncer, etc.

A única coisa que vai variar entre os dois grupos é a cor da pele, o formato do nariz e a textura do cabelo, e, mesmo assim, apenas porque os dois grupos já foram selecionados a partir dessas diferenças.

O genoma humano é composto de 25 mil genes. As diferenças mais aparente (cor da pele, textura do cabelo, formato do nariz) são determinadas por um conjunto de genes insignificantemente pequeno se comparado a todos os genes humanos. Para ser exato, as diferenças entre o branco nórdico e um negro africano compreende apenas a fração de 0,005 do genoma humano.

Por essa razão, a imensa maioria dos geneticistas é peremptória: no que diz respeito aos homens, a genética não autoriza falar em raça. Segundo o geneticista Craig Venter, o primeiro a descrever a sequência do genoma humano, “raça é um conceito social, não um conceito científico”.

Independentemente de definição, o homem brasileiro é uma amálgama de várias correntes raciais, resultante de diferentes elementos étnicos: o aborígine, o branco colonizador e o negro escravo. Do ponto de vista psicológico, essa pluralidade racial também reflete os temperamentos, de tal sorte, que se poderia formular um diagnóstico genérico da personalidade social brasileira em suas grandes tônicas psico-sociais. Assim, encontramos no homem brasileiro diversas qualidades. Por exemplo, herdamos do português a instabilidade emocional, o sentimento de religiosidade e o individualismo decorrente da figura do patriarca avulta, tomando conta da terra e das gentes de cada grupo isolado, o sentimentalismo, traço fundamental do brasileiro, fruto do lirismo do português, do espírito contemplativo. Herdamos o sentimento de amor à liberdade e a natureza do índio e da nostalgia, a abstração e o senso estético do negro.

Outros elementos étnicos oriundos das imigrações trouxeram subsídios a nossa civilização. Assim, do germânico herdamos um certo conteúdo de idealismo e teorização, do italiano, a exuberância do gesto e palavras, e certo culto às artes, do árabe a tendência à especulação, do francês, a ilustração, e a cultura ornamental, e do britânico, certo senso crítico e humorismo irreverentes. Assim, temos o elenco das principais qualidades do caráter nacional. 

Importante ressaltar sobre os dados divulgados sobre a população no Brasil no último censo demográfico (2010). Segundo o IBGE, 7,5% são negros, 47,5% brancos e 43,4% são pardos.

Como o pardo tem de ser, necessariamente, o resultado do casamento entre brancos e negros, o número de brasileiros com algum negro na família é necessariamente alto. Isso seria a prova que somos uma nação majoritariamente livre de ódio racial (repito que, sim, sei que o racismo existe aqui e onde mais houver seres humanos reunidos, mas, certamente, ele não é um traço marcante de nossa identidade nacional).

A cor da pele não determina sequer a ancestralidade, Nada garante que um indivíduo negro tenha a maior parte de seus ancestrais vindos da África. Isso é especialmente verdadeiro no Brasil, devido ao alto grau de miscigenação.

Com anos de naturalização de estigmas, de inferiorização e ridicularização do povo negro, o uso de palavras, frases e brincadeiras racistas que deprimem, machucam e mutilam física ou mentalmente, muitas vezes, repetimos de geração para geração. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar alguns exemplos: “ele é um negro de alma branca”, “não sou racista, tenho até amigos negros”, “negro correndo é ladrão”, “as crianças não se assustam com esse seu cabelo?”, “a coisa tá preta”, “negro tem cheiro forte”, “negros se destacam apenas em atividades recreativas ou no esporte”, “preto quando não suja na entrada, suja na saída”, “ele nem tem cara de médico, parece mais com o faxineiro”, “ainda bem que nasceu clarinho!”, “negro é complexado”, “ela ainda anda com aquela negrada?”,

Algumas expressões que também são racistas e tão comuns no nosso vocabulário, tais como: “Pensa que eu sou tuas negas”. Ela surgiu na época da escravidão, quando, as mulheres negras eram consideradas “propriedades” dos seus senhores, que se achavam no direito de fazer tudo com elas – inclusive estupros, assédios e agressões. A expressão "dar com pau", usada hoje em dia para expressar "abundância" ou "grande quantidade", também remete à violência da escravidão. Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o continente africano e o Brasil. Para obrigá-los a se alimentar, um 'pau de comer' foi criado para jogar angú, sopa e outros alimentos pela boca.

“Cabelo ruim”, “cabelo bombril”, “cabelo duro”.Termos racistas usados como bullying que depreciam a imagem e o cabelo de pessoas negras. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo. Melhor falar: “cabelo crespo”, “cacheado” ou “afro”.

O pior é que em nosso meio social, sempre escutamos alguém com essas frases: “deixa de vitimismo, foi só uma brincadeira”, “nossa, o mundo tá chato, agora tudo é racismo, é muito mimimi”, “os negros são os mais racistas”, etc.

Como é possível mudar essa situação? Pensando de forma mais pragmática, uma das maneiras mais simples de se lidar com o racismo em seu dia a dia é exercer mais empatia pelo próximo, independentemente da cor da pele ou gênero. Exercermos sinceramente a empatia, que é a capacidade psicológica de sentir o que sentiria outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. É tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar o que sente outro indivíduo. Por exemplo, ao ver ou saber que uma pessoa sofreu racismo, você pode ter empatia por ela, tentando entender o que ela sentiu ao sofrer com o episódio.

O racismo faz parte das raízes da nossa sociedade e cultura e, por isso, consiste em um monstro de muitas faces. Está profundamente entranhado em nosso tecido social. Ele não se limita a um só ato ou pessoa. Barrar as forças do racismo é trabalho contínuo, de uma vida toda porque as forças que nos condicionam a estrutura racista estão sempre em ação.

O racismo não é causado por uma patologia, uma anomalia, ou a falta de caráter de alguém: é, na verdade, um sistema complexo e histórico, fazendo com que o racismo ocorra a todo momento, e que as pessoas sejam racistas sem perceberem

O racismo está em nosso dia a dia, por isso, para combatê-lo devemos estar vigilantes de nossas ações e de ações coletivas que perpetuem injustiças. Mais do que não ser racista, é nosso dever social combater o racismo. E isso não se aplica apenas aos discursos em redes sociais, ou posicionamentos pessoais dentro de correntes em prol da causa. Esta é uma ação que precisa ser exercitada no nosso dia a dia, com as pessoas próximas a nós.

Se algum amigo ou colega seu fizer comentários racistas: situe eles. Se alguém compartilhar uma piada racista perto de você: lembre-se que racismo não tem graça e que é crime. Se seus familiares tiverem noções equivocadas sobre o racismo estrutural, construa conhecimento junto a eles e procure explicar mais sobre a causa.

Estudiosos, da desigualdade racial, afirmam que, para que a luta contra a discriminação da população negra produza resultados consistentes, há um passo decisivo que nós, brasileiros, ainda não demos: assumir que somos, sim, racistas — seja como indivíduos, seja como sociedade. Quando se admite a existência do racismo, cria-se automaticamente a obrigação moral de agir contra ele: A negação é essencial para a continuidade do racismo.

Os brasileiros entendem que é lá fora que existe ódio racial, não aqui. Acreditam que no Brasil vivemos numa democracia racial, miscigenados, felizes e sem conflito. Essa é a perversidade do nosso racismo. Ele foi construído de uma forma tão habilidosa que os brasileiros chegam ao ponto de não quererem ou não conseguirem enxergar a realidade gritante que está bem diante dos seus olhos.

Não é possível haver democracia numa sociedade racista. A sociedade racista é sistemicamente autoritária, porque precisa se utilizar da força para rejeitar as reivindicações justas da maioria e atender à minoria. Manter a desigualdade, a pobreza e a baixa representatividade política exige violência sistêmica, que depois acabará sendo aproveitada também contra os brancos. Além disso, se a maioria da sociedade é pobre, violentada e humilhada o tempo todo, essa sociedade não pode ser saudável. É um lugar péssimo para qualquer pessoa viver, inclusive os brancos. O engajamento na luta antirracista significa compromisso com a democracia, o bom desenvolvimento econômico e a humanidade. 

Eu acredito que majoritariamente, ainda somos uma nação que acredita nas virtudes da nossa miscigenação, da convivência harmoniosa entre todas as cores e nas vantagens, imensas vantagens, de sermos um pais em que os racistas, quando existem, envergonham-se do próprio racismo. “Numa sociedade racista, não basta não ser racista é preciso ser antirracista.” Ângela Davis.

06/05/2022

Mãe, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba

O mês de maio é recheado de celebrações importantes que chamam as pessoas a refletir sobre diversos temas. As datas comemorativas revestem-se de importância por representarem o esforço de se manter vivo na memória coletiva algum acontecimento ou homenagem com certa relevância social. Nesse nosso artigo vamos lembrar de quatro datas, ou melhor, acontecimentos, com destaque para um deles.

Primeiramente, o dia 1°de maio, que é marcado como o Dia Mundial do Trabalho ou o Dia Nacional e Internacional do Trabalhador. Uma greve da classe operária nos Estados Unidos em 1886, deu início ao que hoje é comemorado o Dia do Trabalho em muitos países.

Segundo acontecimento, a data da abolição da escravatura, que foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil, após a Proclamação da Independência, em 1822. No dia 13 de maio de 1888, após seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país. Sobre este dia, Machado de Assis escreveu anos depois na coluna “A Semana”, no jornal carioca Gazeta de Notícias: “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”.

Neste mesmo dia da assinatura da Lei Áurea, os católicos recordam a primeira das aparições de Nossa Senhora aos três Pastorinhos - Jacinta, Francisco e Lúcia - que ocorreu na cidade de Fátima, em Portugal, no ano de 1917. Sendo, portanto, comemorado o dia de Nossa Senhora de Fátima.

Por último, o dia das mães que é uma data comemorativa celebrada, no Brasil, no segundo domingo do mês de maio, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento, no sentido da bondade e da solidariedade humana.

Considera-se que o Dia das Mães surgiu nos Estados Unidos, bem no começo do século XX. Apesar disso, os historiadores enxergam algumas semelhanças entre essa data comemorativa e algumas celebrações realizadas na Antiguidade clássica, isto é, na Grécia e Roma antigas. Não existe uma associação direta, entre a celebração moderna e a realizada na Antiguidade, mas os historiadores pontuam-nas em diálogo para demonstrar que festivais em homenagem à figura materna não são uma exclusividade do mundo contemporâneo. Na Grécia, por exemplo, celebrava-se Reia, a mãe dos deuses. Podemos observar então que, desde tempos muito remotos, as mães são enxergadas como figuras importantes dentro da família e da sociedade.

A norte-americana Anna Maria Jarvis (1864-1948) é considerada a idealizadora do modelo contemporâneo do Dia das Mães. Em 1905, ela perdeu a mãe, que também se chamava Ann Jarvis, e entrou em depressão.

Preocupadas com ela, suas amigas resolveram dar uma festa, para perpetuar a memória da mãe de Anna e, ao mesmo tempo, tentar animá-la. Anna quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, independentes de estarem vivas ou mortas, e em pouco tempo a comemoração se propagou por todo país. Em 1914, a data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson, e passou a ser comemorada no dia 9 de maio. Aos poucos, a homenagem foi se espalhando para outros países.

Sua mãe era reconhecida como uma "grande mãezona" na comunidade onde vivia, no Estado americano da Virgínia Ocidental.  Conhecida por realizar trabalho social, com outras mães, sobretudo no período da Guerra Civil Americana. Participante da Igreja Metodista, dedicou sua vida ao ativismo social.

A popularização dessa data nos Estados Unidos fez com que ela fosse exportada para o Brasil. Os historiadores falam que a primeira celebração do tipo aconteceu aqui em 12 de maio de 1918, quando uma organização cristã realizou essa comemoração em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. O Dia das Mães só foi oficializado no Brasil na década de 1930, quando o presidente Getúlio Vargas emitiu o Decreto nº 21.366, em 5 de maio de 1932. Por meio desse documento, determinou-se o segundo domingo de maio, como momento para comemorar os sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento no sentido da bondade e da solidariedade humana.

Interessante, que a data só se consolidou anos depois, durante o regime militar (1964 a 1985).

Já pensaram o que seria o mundo sem as mães? Um caos total. As mães são essenciais para a sociedade, possuem uma tarefa árdua de ensinar, cuidar e amar. Elas possuem forte influência sobre seus filhos e seu amor é incomparável.

Ser mãe, é gerenciar diariamente crises, ser enfermeira, professora, psicóloga, chefe de cozinha, economista e uma série de outras profissões

Muitos estudiosos afirmam que durante a primeira infância, isto é, até seis anos, o caráter da criança já está moldado em 75%. Por isso, seu modo de amar, de agir, de repreender e falar, têm grande interferência em seus filhos e uma mãe sábia, cria filhos sábios e que são motivo de orgulho para ela e não de vergonha. Como está escrito em Provérbios 22:6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”.

Ser mãe, é sonhar com o filho antes mesmo dele existir no ventre. Ser mãe, é se desdobrar em cuidados e atenção aos filhos. Ser mãe, é ver o perigo antes mesmo dele existir. Ser mãe, é dormir tarde e acordar cedo para conciliar todas as suas outras atividades. Ser mãe, é amar incondicionalmente. Ser mãe, é amar sem esperar nada em troca.

Ser mãe, é ter seu ventre abençoado por Deus e a incumbência de educar, ensinar, amar, cuidar, zelar e se doar. Educar não apenas oferecendo uma boa escola e atividades extracurriculares. Educar, vai muito além disso, nos leva a refletir no espiritual também, ensinar o Caminho da Verdade. Essa é a responsabilidade das mães, ensinar que os filhos não estarão sozinhos, após a nossa partida, eles sempre terão a companhia de Deus.

Enfim: “Ser mãe é dom de Deus!”. 

Nesse momento não tenho como não falar em Maria, mãe de Jesus. Mulher escolhida soberanamente por Deus pela qual nosso Senhor e Salvador veio ao mundo. Ela também é conhecida como Maria de Nazaré. Pouco se sabe sobre quem foi Maria, e sobre seus pais, especialmente com respeito a detalhes biográficos. Mas a história de Maria, conforme narrada nos Evangelhos, já é suficiente para entendermos a importância dessa mulher.

Ela foi uma mulher bem-aventurada e digna de ser imitada, pelo seu exemplo de humildade, fidelidade e abnegação diante dos planos de Deus. Infelizmente algumas pessoas, que criticam a teologia católica, menosprezam e subestimam completamente a mulher a quem Deus escolheu soberanamente para receber a incalculável honra de dar à luz a Jesus Cristo.

Depois desse passeio na história, sobre a criação do dia das mães e a importância dessa homenagem, quero exaltar três mulheres em minha vida.

Primeiramente minha mãe Ruth que me colocou no mundo pela graças de Deus. Me ensinou o caminho do bem, da gratidão e da justiça. O seu coração é tão grande e generoso quanto a imensidão do universo. Tem uma expressão popular que ela sempre gosta de me dizer: “se a vida te der um limão, faça uma limonada”. Esse frase carrega um sentido muito forte, que podemos utilizar como uma filosofia para superar as adversidades em nossa vida. Enfim, sempre tem uma palavra que acalma e orienta.

A segunda mulher, minha querida Maria José, minha companheira. Uma mãe guerreira sempre disposta a lutar pela felicidade de seus filhos e agora seu neto. Uma mãe fenomenal. Exemplo de força e dedicação.

A terceira mulher, minha filha Nanda. Uma mãe amorosa, carinhosa, atenta. Posso dizer, uma mãe recente mas que desde cedo carrega no coração e traduz em ações o que é ser mãe.

Concluindo, quero celebrar o dia das mães, agradecendo a todas as mães pela dedicação, amor e carinho que dão aos seus filhos diariamente, lembrando de um pequeno trecho da música “Mãe, um pedacinho do céu, composta pela dupla de compositores da Jovem Guarda Ed Wilson e Carlos Colla, gravada originalmente pelo pernambucano Leonardo Sullivan:

“Para mim sou grande.  Mas pra ela pequenino.  Sou adulto mas pra ela sou menino

Quando olha pra mim seus olhos brilham.  Um amor feito de sonho. De alegria e de esperança.

Se estou junto dela sou criança.  O mundo é muito mais bonito.  Sem pecado e sem perigo.

E ninguém no mundo vai gostar de mim.  Como ela gosta.

Se eu estou errado ou certo não importa. Na alegria ou na tristeza ela está sempre comigo.

Na hora do prazer me lembro dela.  Mas na hora da tristeza e da saudade é meu abrigo.

Por mim ela não mede sacrifícios.  Pode parecer difícil que alguém ame desse jeito.

Acontece que ela é a minha mãe.  E mãe é sempre assim.

Mãe, palavra que Deus inventou.  Um anjo que à Terra chegou.  Voando nas asas do amor.

Mãe, palavra mais doce que o mel.  Talvez um pedacinho do céu. Que Deus transformou em mulher”.

01/05/2022

Se o penhor dessa igualdade, conseguimos conquistar com braço forte

Pouco tempo depois, que iniciei a publicação dos meus artigos, recebi uma ligação do meu ex-colega de empresa e amigo, o pernambucano Renato Matos. No meio da conversa, ele me sugeriu escrever sobre os invisíveis moradores de rua. Considerando que esse assunto, está em consonância com os artigos que tenho escrito, levantei bandeira acerca do tal assunto.

Bem, vamos refletir um pouco sobre esta triste situação, hoje, quando a sensibilidade é mais aguçada e se fala tanto na fraternidade cristã.

Historicamente, sabe-se da existência de moradores de rua desde o período clássico no Mundo Grego e Império Romano, passando pela idade média e se perpetuando até os dias atuais. Há notícias, inclusive, de uma certa “profissionalização” da situação de rua. Já, na Era Industrial, sabe-se que teria havido repressão generalizada, à difusão de atividades ligadas à vagabundagem e à mendicância.

A desigualdade social, faz parte da construção das sociedades. No Brasil, isso é evidenciado desde o período colonial brasileiro, que foi marcado por intensas desigualdades sociais e raciais, onde um negro africano era considerado inferior e tinha valor somente para ser escravizado. Acentuando-se com a abolição da escravatura em 1888, pela Lei Áurea, na qual sem aparo social nenhum, os escravos (à própria sorte) foram deixados à margem da sociedade, não conseguindo muitas das vezes, trabalhos assalariados, reconhecimento como cidadãos e sendo privados de ir aos lugares. As ruas se tornaram a solução para os seus problemas. E esse contraste, de modo de vida, é visto até hoje que, cerca de 67% dos moradores de rua são negros ou pardos.

Para agravar, entre os séculos XIX e XX, o Brasil viveu o auge de seu período de industrialização. Houve, nessa época, acentuado êxodo rural e grande quantidade da população migrou para as cidades, em busca de melhores oportunidades. No entanto, esse processo não foi organizado e não contou com nenhum planejamento de distribuição populacional. Consequentemente, o processo de urbanização, do que hoje são os grandes centros urbanos, gerou um contraste no tecido social, haja vista que os mais ricos tiveram oportunidade de habitação e bem-estar social, enquanto os mais pobres foram submetidos à marginalização. Como resultado, surgiram favelas e muitos indivíduos em situação de rua.

Reflexo do histórico de exclusão social existente no país, que a cada dia afeta um maior número de pessoas, que não se encontram enquadradas no modelo econômico atual.

Reforçamos ainda, que em razão da precária situação econômica de uma considerável parcela da população brasileira, alguns comportamentos, tidos como criminosos ou contravencionais devem ser excluídos do ordenamento jurídico em razão do seu conteúdo retrógrado e injusto. As contravenções penais de vadiagem e mendicância são dois desses comportamentos. Esses dois tipos penais não são recentes, tendo em vista que eram previstos no Código Criminal do Império de 1830.

O artigo 295 do Código Criminal do Império, descrevia o crime de vadiagem como aquele cometido nas hipóteses em que "não tomar qualquer pessoa uma ocupação honesta e útil de que possa subsistir, depois de advertida pelo juiz de paz, não tendo renda suficiente". Enquanto o artigo 296 previa punição para aqueles que andassem mendigando em determinados locais.

Passados bons anos, foi sancionada a Lei 3.688 de 1941- Lei das Contravenções penais, que ficou conhecida como lei contra vadiagem no Brasil.  No seu artigo 59, a lei classifica como vadiagem “entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita". A pena pode variar entre 15 dias e três meses. Apesar da Lei da vadiagem ser raramente aplicada, ainda persiste no país. Essa sanção proibia a livre circulação da população de rua, o que evidencia a presença da desigualdade e da exclusão social desde os primórdios do capitalismo.

Interessante, que de acordo com a constituição no Art.5º "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Nessa perspectiva, é fato que a discriminação sofrida por moradores de rua, ainda é um fato excludente dos interesses sociopolíticos.

No livro Homens Invisíveis, o psicólogo Fernando Braga comprova a existência de uma invisibilidade social, a qual atinge, principalmente, pessoas em situação de rua. Nesse sentido, constata-se uma diferença de tratamento entre classes socioeconômicas distintas.

Os moradores de rua são considerados invisíveis, por grande parte da população, as pessoas passam por eles todos os dias e não conseguem enxergar a sua existência. Parece que estas pessoas já fazem parte do cenário urbano. Muitos evitam qualquer contato e passam de largo evitando até olhar à distância, acreditam se tratar de alguém supostamente perigoso, demente, um indigente que pode nos atacar, nos ferir ou mesmo nos matar. Esta, em geral, é a reação da sociedade diante de um ser humano que por algum motivo se encontra na rua abandonado e, na maioria das vezes, sem nenhuma esperança. Indivíduos que perdem a condição de cidadãos à medida que se dissipam as simbologias que os retratam como tal em adjetivos pejorativos – mendigo, vagabundo, etc.

É importante ressaltar, que essa invisibilidade social, acaba tornando os moradores de rua pessoas sem oportunidades, no que tange ao mercado de trabalho. Tendo como consequência o aumento das mazelas sociais.

Além de não possuírem as condições básicas de sobrevivência (comida, água, local para dormir, etc), também estão suscetíveis à violência, maus tratos e, principalmente, ao desprezo e abandono.

O aumento exponencial no número de moradores de rua, é um retrato da desigualdade em nosso país. O número de pessoas em situação de rua no Brasil cresceu 140% entre 2012 e março de 2020, chegando a quase 222 mil pessoas. Maior parte da população é masculina.

A população em situação de rua se caracteriza por ser um grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular, sendo compelidas a utilizar a rua como espaço de moradia e sustento, por caráter temporário ou de forma permanente.

Os motivos que levam uma pessoa a morar na rua são vários, como o desemprego, o abandono familiar ou até falta da família, a situação econômica, o desajuste social, violência, perda da autoestima, problemas psicológicos e, muitas vezes, o uso abusivo de drogas, como o álcool e o crack.

A população em situação de rua é subdividida em três grupos, nos quais ocorre a distinção conforme a permanência na rua: As pessoas que ficam na rua – configuram uma situação circunstancial que reflete a precariedade da vida, pelo desemprego ou por estarem chegando na cidade em busca de emprego, de tratamento de saúde ou de parentes. Nesses casos, em razão do medo da violência e da própria condição vulnerável em que se encontram, costumam passar a noite em rodoviárias, albergues, ou locais públicos de movimento. As pessoas que estão na rua - são aquelas que já não consideram a rua tão ameaçadora e, em razão disso, passam a estabelecer relações com as pessoas que vivem na ou da rua, assumindo como estratégia de sobrevivência a realização de pequenas tarefas, com algum rendimento. É o caso dos guardadores de carro, descarregadores de carga, catadores de papéis ou latinhas. As pessoas que são da rua e já utilizam esses lugares como moradia há um bom tempo e de certo modo, se acomodaram com tal situação, em consequência do uso de drogas e da má alimentação, degradam sua saúde. O álcool e as drogas são substâncias presentes nesses grupos, pois servem como alternativa para minimizar a fome e o frio.

As pessoas que vivem nas ruas viram-se como podem. Dormem em “mocôs” (imóveis abandonados), próximas a órgãos públicos, em rodoviárias ou estações de trem, montam barracas em praças ou áreas verdes, abrigam-se embaixo de pontes. Dormem geralmente em grupos, em razão dos riscos que enfrentam pela violência de que são alvos, mas também há as que se mantêm sozinhas.

É possível, por intermédio da linguagem simples e coloquial do poema, "Tinha uma pedra no meio do caminho" de Carlos Drummond de Andrade fazer uma analogia a respeito da população em situação de rua no Brasil. Dentro do contexto do tema, a exclusão sofrida pelos residentes de rua, torna-se uma pedra no meio do caminho, para a melhoria das condições de vida, desta parcela da população brasileira. A problemática atua e repercute no cotidiano dos brasileiros como um verdadeiro obstáculo social a ser superado. Contudo, percalços como a inércia governamental e a falta de acesso à educação dificultam o sobrepujar dessa adversidade.

Da mesma forma, o poema de Manuel Bandeira “O Bicho” na passagem “não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem." Torna-se possível imaginar a situação dos moradores de rua no Brasil, que são animalizados, por falta de adjetivos, que caracterizem tamanha falta de dignidade em suas condições de vida. Um bicho misterioso e tenebroso, comendo comida do lixo, depois percebe que o ser, na realidade, era um Ser Humano. Paralelo à realidade, muitos moradores de rua, como o personagem do poema de Bandeira, são vistos socialmente como seres estranhos, ou às vezes nem são vistos, se tornam parte do cenário urbano, isto é, deixam de ser enxergados como seres humanos, devido ao estado em que se encontram. Portanto, os moradores de rua passam por um processo de desumanização, devido à forma preconceituosa pela qual são vistos pela óptica social.

O importante ao se analisar essa realidade encontrada no Brasil, é lembrar que essas pessoas fazem parte de nossa sociedade, que todos possuem os mesmos direitos perante as leis. No Art.1º da Constituição Brasileira é citado os fundamentos do Estado Democrático de Direito e entre eles está presente aspectos como a cidadania e a dignidade da pessoa humana. O Artigo 3º afirma que erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais são os objetivos da República Federativa do Brasil. O artigo 6º garante a todos os indivíduos, o direito à moradia, assistência aos desamparados e ao bem-estar social. No entanto, trazendo para o contexto da população de rua no Brasil, mostra-se que esses direitos, não estão corretamente sendo praticados.

De acordo com o jornalista Gilberto Dimenstein, a terminologia "Cidadão de papel" designa os direitos previsto na legislação e servem apenas para criar um estado de bem-estar social, todavia o Estado não faz quase nada para alterar o cenário na realidade.

Em 2014, com a Copa do Mundo realizada no Brasil, o Governo estipulou um plano para remover a população de rua, nas principais cidades, onde os jogos seriam realizados. Apesar da aparente preocupação, o projeto não logrou êxito e reincidiu a mesma situação decadente. Na realidade, o plano não continha medidas para buscar resolver o problema mas "esconder os desfavorecidos."

Enfim, não basta o estado criar programas sociais, é preciso acompanhar, criar métodos quantitativo e qualitativo, a fim de consertar seus erros e propor melhorias para atingir à eficácia dos programas. É necessário a criação de políticas públicas que garantam a reinserção destas pessoas como cidadãos.

Sabemos que a questão é muito complexa, mas é preciso pensar em caminhos preventivos, em soluções que envolvam direito à moradia e geração de renda. Cuidar das pessoas, antes delas estarem em condição de rua, é muito mais eficiente e barato do que cuidar delas depois desta situação consolidada, quando o resgate social fica mais difícil a cada dia que passam na rua.

O pior, é que o desinteresse do Estado, influencia diretamente no comportamento da sociedade, haja vista que os moradores de rua são tratados, ora com compaixão, ora com repressão, preconceito, indiferença e violência.

Mas, não podemos deixar de exaltar e agradecer, as diversas Organizações Não Governamentais, às (ONGs), às Instituições Religiosas, Maçonaria, Lions Clube, Rotary Club e Sociedades Espíritas, nos serviços de amparo à essas pessoas, atuando na distribuição de alimentos, roupas, cobertores, etc.

Temos também pessoas que se unem em grupos e sempre saem a procura destes moradores, levando-lhes roupas, alimentos e sobretudo, calor humano. São os "bons samaritanos" modernos, pessoas abnegadas que desempenham tão linda missão.

No caso de instituições Religiosas, na cidade de Natal-RN, queremos dar dois exemplos. Primeiro o trabalho realizado pela Pastoral Ronda Fraterna que faz parte da Paróquia de Nossa Senhora das Graças e Santa Teresinha, localizada no Bairro do Tirol. Com objetivo e atender aos irmão necessitados, realiza distribuição semanal de sopa, pão e leite achocolatado, para diversas famílias cadastradas nas comunidades. Construção e reformas de casas, e outras atividades. E o segundo exemplo, é o trabalho feito pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, onde através do trabalho denominado “A Ronda Paz e Bem”, ocorre a distribuição de sopa e roupas para os moradores de rua.

Durante meu trabalho de pesquisa para escrever esse artigo, conversei com um ex-colega de trabalho e amigo George Adriano, que eu tinha conhecimento que fazia parte desse grupo de “samaritanos” do Ronda Paz e Bem. Ele me contou, que sempre observava que a grande maioria dos moradores de rua, que participavam da distribuição de sopa com a ronda Paz e Bem do convento Santo Antônio, não tinham acesso a um banho. Foi aí que surgiu a ideia da construção de um trailler banheiro. A ideia foi colocada em prática e em 15 de dezembro de 2016, ocorreu o ato inaugural do primeiro “Banho Solidário”. Repetindo as palavras do amigo George Adriano: “Foi assim que nasceu a vontade de fazer algo mais para os nossos irmãos em situação de rua."

Nosso exemplo de solidariedade é Jesus Cristo. Viveu uma trajetória de dedicação e cuidado com os mais pobres. Desde o seu nascimento, teve uma vida simples. Nasceu em um estábulo entre animais, cresceu em uma família humilde e foi apresentado no Templo, com a oferta dos pobres. Com o passar dos anos, mostrou-se próximo daqueles que eram discriminados e desprezados da sociedade e fez dessa a sua missão de vida.

Jesus não apenas deixou o exemplo da solidariedade, como também nos indicou que esse é o caminho a ser trilhado, para fazer a vontade de Deus e caminhar na santidade.  Dessa forma, quando olhamos para a sua história, devemos nos inspirar no tamanho do seu amor pelos mais necessitados. O espaço que o pobre tem no coração de Cristo é o que também devemos manter em nossos corações.

 “Se o penhor dessa igualdade. Conseguimos conquistar com braço forte”. Esse trecho do hino nacional brasileiro expõe uma visão idealizada de uma nação justa e igualitária.

Entretanto, ao observar a situação dos moradores de rua, no Brasil, percebe-se que essa noção patriota é constatada apenas em teoria e não desejavelmente na prática, e a problemática persiste intrinsecamente ligada à realidade do país.

 “Triste mundo este que cobre os vestidos e despe os nus”. A frase, do dramaturgo e poeta espanhol Pedro Calderón de la Barca, exprime a ideia de que quem pouco tem terá menos ainda, uma vez que dele será tirado para dar aos que muitos possuem.

18/04/2022

Liberdade, ainda que tardia

“Mestre, é lícito pagar imposto a César ou não? (Mateus 22:17). Qualquer resposta de Jesus o comprometeria, colocando-o ou como traidor da nação de Israel ou em confronto direto com o Império Romano. Se defendesse a liberdade de Israel, respondendo que era ilícito pagar imposto a César, seus opositores o entregariam a Pilatos para que fosse executado, embora também considerassem injusto tal tributo. Se dissesse que era lícito pagar tributo a César, o jogariam contra o povo que o amava, pois o povo passava fome na época, e um dos motivos era o jugo de Roma. Por isso que disse: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Segundo o escritor Augusto Cury, no seu livro “O Mestre da Sensibilidade”, não havia outra solução para Jesus naquele momento, a não ser que se intimidar e se omitir. Suas palavras certamente abririam a vala da sua sepultura.

A necessidade de coletar tributos dos cidadãos, não é uma prática que iniciou apenas na sociedade atual, como conhecemos. Na verdade, o recolhimento de impostos acompanhou a evolução da sociedade e da humanidade desde os primórdios.

Segundo relatos da história, os primeiros registros de cobranças foram de 4000 A.C., documentados em peças de barro, encontradas na região da Mesopotâmia. Nessas peças foi possível constatar que os tributos exigiam que parte dos alimentos produzidos pela população, fossem destinada ao governo. Além disso, parte do povo era obrigado a passar até cinco meses por ano trabalhando para o rei.

O Império Romano, foi o primeiro grande exemplo do uso eficiente dos tributos recolhidos. A cobrança de impostos, era usada como forma de fortalecer seus exércitos e conquistar mais terras. Os principais impostos cobrados eram sobre a importação de mercadorias (“portorium”) e sobre o consumo geral de qualquer bem (“macelum”).

A queda do Império Romano, trouxe um novo sistema de organização da sociedade e, portanto, dos impostos. É nessa época, que surge a lenda do mais belo protesto contra excesso de tributação. O conde Leofric de Mercia disse a sua mulher, Lady Godiva, que só baixaria os impostos da pequena cidade de Coventry, Inglaterra, quando ela passeasse nua pela cidade sobre um cavalo branco. Ela aceitou o desafio, mas em respeito ao seu ato de bravura e humanidade, o povo fechou as janelas e não a contemplou.

Importante ressaltar, que o tributo administrado pelo Estado, de uma forma muito semelhante ao que conhecemos hoje, foi instituído na Grécia. Com base nos impostos recolhidos e no trabalho escravo, os gregos se tornaram uma das maiores civilizações do mundo.

Com a evolução da sociedade, os impostos também foram se adaptando, seguindo os formatos de governança do Egito, Império Romano, Grécia e Idade Média, chegando aos modelos de tributação que ainda temos hoje em dia.

Aterrissando em nossas terras, a história da origem dos impostos no Brasil, iniciou-se com o extrativismo do pau-brasil, sendo o primeiro produto a ser tributado. Nessa época, 1/5 de toda a extração do pau-brasil deveria ser entregue à Coroa Real Portuguesa.

No final do século XVII, a cana-de-açúcar, que era a principal economia do Brasil, estava em decadência. Sendo assim, os colonos tiveram que buscar uma nova alternativa para garantir o enriquecimento da metrópole. Foi então que, finalmente, encontraram as primeiras jazidas de pedras preciosas, na região das Minas Gerias. Inicia-se, dessa forma, o Ciclo do Ouro (ouro, prata e diamantes). A descoberta de ouro na região das Minas Gerais gerou uma corrida para extração desse metal.

A Coroa Portuguesa, na época, viu uma grande possibilidade de arrecadar tributos e lucrar muito com o trabalho da população, que convergia para a área, tratou então de lançar pesados tributos sobre a produção mineral. Foi lançado então a cobrança do "QUINTO". O chamado quinto, como o próprio nome já indica, correspondia à cobrança de 20% (1/5) sobre a quantidade de ouro, extraído anualmente. Afirma-se que o termo era dirigido aos cobradores de impostos, que ao exigir o quinto ouviam algo como "Vá buscar o quinto nos infernos!".

A partir do final do século XVIII, a exploração desmedida fez com que os metais das jazidas se esgotassem. Com isso, os proprietários não tinham como pagar o imposto referente a extração dos metais, chamado de quinto real.

Com o descompasso entre o imposto esperado e o que deveria ser verdadeiramente pago, Portugal lançou a “derrama”. A Derrama tinha como objetivo cobrar todos os impostos atrasados de uma só vez. Caso não fosse pago, ocorria o confisco de todos os bens dos devedores.

Pois bem, em 21 de abril de 2022 completarão 230 anos que Joaquim José da Silva Xavier, vulgo TIRADENTES, foi enforcado por ter cometido o crime de lutar pela independência e contra a cobrança injusta de impostos, pela Coroa Portuguesa.

O movimento, que foi denominado de Inconfidência Mineira, no entanto, nunca superou a fase conspiratória. Isso aconteceu porque Joaquim Silvério dos Reis denunciou o movimento em março de 1789. Ele manteve contato com os inconfidentes e participou das reuniões secretas. Joaquim Silvério denunciou a organização em troca do perdão de todas as dívidas que ele possuía. 

Tiradentes foi o único dos líderes da Inconfidência Mineira a ter sua condenação à morte concretizada. De acordo com os historiadores, apenas Tiradentes foi condenado a morte porque era o único envolvido que não pertencia à elite econômica e política de Minas Gerais. Além disso, durante os interrogatórios que foram realizados, ele foi o único que não negou o envolvimento com a Inconfidência Mineira e também foi quem não abriu mão às defesas dos ideais republicanos.

Um fato curioso, é que poucos sabem, que a imagem que vemos nos livros escolares de Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, é uma idealização de quem o retratou. Segundo o historiador e pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Minas Gerais, Olinto Rodrigues, as pinturas que retratam Tiradentes com barba e cabelos nos ombros foram inspiradas em Jesus Cristo.

Ele percorreu um longo período de anonimato, antes de ser reconhecido como o grande herói nacional. Por sua atuação na revolta provocada pelo excesso de impostos cobrados pela Coroa Portuguesa é também denominado Patrono dos Contribuintes.

Passados 230 anos, o Brasil continua sob enorme carga tributária e um emaranhado de burocracia, para se apurar os tributos e contribuições a serem recolhidos pelos contribuintes.

Em 2021, considerando dados oficiais, a carga tributária no Brasil correspondeu 33,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Lembramos que em 1950, correspondia a 14%. Simplificando, a carga tributária que nos aflige é 63% (Sessenta e três por cento) maior do que aquela exigida por Portugal na época do "QUINTO DOS INFERNOS". Interessante que Tiradentes, foi enforcado por se levantar contra muito menos injustiça do que somos vítimas hoje.

Não à toa, o estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) revelou que os brasileiros precisam trabalhar, para pagar impostos, mais de 5 meses todos os anos. 151 dias de trabalho são destinados aos cofres públicos. 

Ao todo, entre impostos federais, estaduais e municipais, taxas e contribuições, o Brasil possui uma lista de 92 tributos vigentes.

Nosso país, destaca-se mundialmente em dois pontos antagônicos: está entre os países de maior Carga Tributária e infelizmente, entre os que menos retorno concedem aos cidadãos. Suécia, Dinamarca, Finlândia, Alemanha e França, por exemplo, têm cargas tributárias superiores as do País do Futebol. Todavia, em um ranking levantado pelo mesmo IBPT, entre os 30 países com a maior carga tributária no mundo, o Brasil é o que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados em prol do bem-estar da sociedade.

Estudo publicado pela ONU revela que os cidadãos da Alemanha, são os que melhor aceitam pagar taxas para financiar bens públicos, como saúde e educação. Os brasileiros, por outro lado, estão entre os menos satisfeitos em ter que pagar taxas, por não terem a contrapartida de serviços públicos de qualidade.

A cobrança de impostos é inegavelmente uma preocupação dos brasileiros. O que poucos sabem, é que, ao contrário do que o senso comum imagina, o Brasil está entre os países do mundo que mais taxam a população pobre do país.  Aqui, quem tem menos paga mais. Isso acontece porque a carga tributária brasileira está concentrada nos impostos indiretos, que consistem em taxas sobre o consumo inseridas nos preços de toda e qualquer mercadoria. Quando você olha para os países europeus, a maior parte dos tributos incide sobre a renda das pessoas que ganham mais e também sobre o patrimônio.

De acordo com dados da Receita Federal, grande parte da arrecadação de impostos, vem de bens e serviços, cerca de 44,8%. Folha de salários, com 27,34%, e renda com 21,62% fecham o top 3 de arrecadação de impostos no país.  No caso de bens e serviços se destaca a tributação indireta, que quer dizer que não leva em conta a renda para tributar produtos neste sentido. 

Isto é, o mesmo valor de determinado produto ou serviço será cobrado para o rico e o pobre. Considerando esse cenário, é possível afirmar que a base da pirâmide social, a classe média assalariada e os pobres, de uma forma geral, é que acabam pagando mais impostos. 

Além do sistema tributário brasileiro, onerar os mais pobres, também abre mão de cobrar impostos dos mais ricos desde 1996, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso isentou impostos sobre lucros e dividendos das pessoas físicas na declaração do imposto de renda. Isso significa que quando uma empresa transfere lucros e dividendos para seus acionistas, essa transferência de renda, geralmente de valores exorbitantes, não é tributada. O Brasil faz parte de um reduzido grupo de nações que não taxam essa renda paga a pessoas físicas. No grupo, figuram ainda países como Estônia e Letônia.

Enquanto isso, um trabalhador assalariado tem que preencher sua declaração de imposto de renda com todos os rendimentos na parte de tributáveis. Informa seu salário, retém na fonte, tudo certo. Agora, o empresário informa seus lucros na parte de isento.

Outra distorção, refere-se o imposto sobre grandes fortunas. Está previsto na Constituição desde 1988, mas até hoje não saiu do papel porque ainda não foi regulamentado pelo poder público.

Quando os pobres arcam proporcionalmente mais com os tributos, a própria Constituição Brasileira é violada. O artigo 145 estabelece que, sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar e respeitar os direitos individuais nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

A grande razão do imposto ser alto no Brasil, é que, a cada dia que passa, os gastos públicos estão mais altos no país. A consequência disso é um grande rombo nas contas públicas e para supri-lo o governo aumenta os impostos para elevar a arrecadação.

Além disso, como o dinheiro da arrecadação não é investido corretamente, a qualidade dos serviços básicos na área de saúde, educação, transporte e outros é extremamente baixa.

Hoje, 230 anos depois, não se paga mais um quinto, mas cerca de dois quintos, ou seja, aproximadamente 35% de impostos saem do bolso do brasileiro direto para o governo.

Entendemos que uma Reforma Tributária é absolutamente necessária. Ela precisa ser profunda, alterar a Constituição, pois ela amarra muito o sistema tributário. É necessária uma reforma tributária de verdade, que provocasse aplausos a Tiradentes (se vivesse em nossos tempos), que priorize uma tributação justa, num sistema tributário mais simples de operar e menos burocrático, contemplando melhoria na distribuição de renda. Mas sou cético. A chance acontecer isso é muito baixa, pois contraria interesses dos grupos políticos.

Fico pensando o que faria o Mártir da Inconfidência se vivesse nos tempos atuais. Naquela época, Tiradentes não tinha Constituição na qual se apoiar. Ele não dispunha de celular, Instagram, facebook, e-mails, etc. mas mesmo assim lutou com todas as armas que tinha, contra o jugo Português, impiedoso e déspota.  

Bem, apesar de toda essas mídias digitais, existentes atualmente, acredito que um Tiradentes não daria conta. Seriam necessários vários Tiradentes. Hoje os Tiradentes vão para a rua, a polícia reprime e nada muda. Acho que só alguém no poder poderia mudar algo de cima para baixo.

Acredito que o dia 21 de abril deveria ser usado pelo cidadão, enquanto contribuinte, para manifestar sua indignação contra essa situação de opressão fiscal sem precedentes, em nossa história.

Dentre os direitos humanos, a liberdade econômica também compreende a liberdade do indivíduo.

Assim sendo, inspirado nos ideais de Tiradentes, tenhamos coragem de lutarmos pela nossa liberdade econômica para que sejamos realmente livres: “Libertas quae sera tamem”.

04/04/2022

O Exemplo do Mar

No Brasil, convencionou-se dizer que o ano começa depois do Carnaval. Máxima que se tornou quase um ditado popular. Cultura enraizada no nosso país. Entendo que tem um pouco de lógica, pelas datas comemorativas, que temos a partir do Natal até a Quarta-feira de Cinzas.

Oficialmente o Carnaval termina na quarta-feira de cinzas, data que foi criada pela religião católica para celebrar o início da Quaresma, ou seja, os 40 dias que antecedem a Páscoa.

Como sabemos, a origem da Quarta-feira de Cinzas é puramente religiosa. A tradição católica, diz que, se deve fazer jejum e não comer carne. Isso já existe há muitos anos e tem como intuito fazer com que os fiéis se identifiquem com o sacrifício de Jesus, se privando de uma coisa de que gostam, neste caso, a carne.

A Quarta-feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano. Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas, quando temos a imposição de cinzas cuja ideia é lembrar a todos que nós, humanos, somos finitos. A concepção da celebração, remete à mitologia egípcia, especificamente ao mito da Fênix, um pássaro que não morre, é queimado, mas ressurge das cinzas.

O tempo da Quaresma é um tempo de reflexão e de penitência. Tempo de conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A Quaresma é uma prática realizada por fiéis de tradição católica, assim como por devotos da Igreja Ortodoxa, anglicanos e luteranos.

Na última semana do período da Quaresma, temos a Semana Santa, que inicia no Domingo de Ramos. É um período religioso do Cristianismo e do Judaísmo que celebra a subida de Jesus Cristo ao Monte das Oliveiras. Temos a crucificação de Jesus, na sexta-feira da Semana Santa e a sua ressurreição, que ocorre no domingo de Páscoa.

As tradições envolvendo a Sexta-feira Santa, conhecida também como Sexta-feira da Paixão, eram bem mais arraigadas no passado. A Igreja Católica sempre aconselhou os fiéis a fazerem algum tipo de penitência, como jejum, abstinência de carne e exclusão de coisas que dê prazer a eles. Pessoas mais velhas, ainda seguem às tradições a risca. No entanto, muitos jovens não conhecem muito bem esses costumes.

A única carne permitida é a de peixe. O Peixe é uma das representações que simbolizam a vida e a fé das pessoas em Jesus Cristo.

Na Sexta-feira da Paixão, também não se deve ouvir música alta e nem dançar. Mas, você pode ouvir músicas religiosas para refletir sobre esse dia.  Nada de consumo de bebidas alcoólicas. Não convém nem mesmo vinho. As pessoas devem evitar brigar e falar palavrões.

Na atualidade, a Igreja mostra mais flexibilidade e tolerância quanto a ações dos fiéis na data. Antigamente, os familiares evitavam fazer qualquer tipo de limpeza no lar. A mãe cobria as imagens de santos, quadros e fotografias com panos roxos, para simbolizar o luto, pela morte de Jesus. 

Um lamentável costume antigo, que ainda pode ser localizado em algumas cidades brasileiras, com maior força na região Nordeste, é o ato de roubar galinhas durante a Semana Santa.

Na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia, jovens e adultos saíam pelas ruas da vizinhança em que moravam em busca de casas em que eram criadas galinhas para assim poder roubá-las.

Uma das explicações para essa prática, se deve a crença de que como Jesus estava morto (ressuscitaria no Domingo de Páscoa), este não poderia ver os pecados dos ladrões de galinhas, que praticavam seus “crimes” sem “culpa”.

O fato, é que é uma prática cultural controversa. O crime muitas vezes levado em tom de brincadeira pode parar na Justiça, resultando em condenação.

Pelo fato, de ter nascido no seio de uma família católica, minha formação religiosa foi toda dentro da doutrina do catolicismo. Quando chegamos a uma certa idade, as influências externas ou outros fatores, podem fazer as pessoas seguirem outra religião, diferente da qual fomos catequizados, mas no meu caso posso afirmar que isso não ocorreu, pelo contrário, consegui fortalecer ainda mais minha convicção religiosa, a católica.

Não tenho dúvidas que essa catequese religiosa que tive, influenciou significativamente na formação do meu caráter. Assim sendo, dentro dessa influência religiosa, desde criança, aprendi que devemos vivenciar a Semana Santa. Por isso, é bom lembrar que a Semana Santa, assim como outros momentos de Festa da Igreja, não é nenhum tipo de feriado, onde podemos simplesmente viajar para descansar ou realizar passeios turísticos, pelo contrário é momento de viver intensamente a celebração, meditando o sofrimento de Cristo por amor à humanidade.

Vivemos numa época de mudanças. Os costumes de duas ou três décadas atrás apresentam tendência a se diluírem. A sociedade era marcada pelo cristianismo e pelo catolicismo, hoje não é mais assim. Conforme pesquisa da Data Folha, realizada no Brasil em 2020, a população brasileira católica atingiu 50%. Ressaltamos que no censo demográfico de 1940, totalizava 95%.

Ao contrário, do que ocorre entre os católicos, a Igreja Evangélica não altera sua programação devido ao período de Páscoa, nem estabelece um cronograma específico para a Semana Santa.

Dessa forma, a Semana Santa não é tão enfatizada, sendo lembrada nas celebrações como os dias que antecedem o sacrifício de Jesus na cruz. Já o domingo de Páscoa, costuma ser o dia mais importante na tradição reformada, uma vez que simboliza a redenção da humanidade. Portanto, os evangélicos enxergam esse período como um momento para refletir e levar a palavra de Cristo para mais pessoas.

Para os membros da Igreja Evangélica, não é proibido comer nada. Segundo os pastores, o que prejudica o homem não é o que entra pela boca, mas sim, o que sai dela. No entanto, os evangélicos não condenam os membros que só comem peixe, nos Dias Santos.

Para a Doutrina Espírita, não existe a chamada Semana Santa, nem tão pouco à Sexta-feira Santa. A Sexta-feira Santa, para o espiritismo é um feriado nacional e uma prática católica.

Os espíritas, veem Jesus como um mestre por excelência, um educador, que ensina como agir rumo ao sumo bem. Não seria o derramamento do sangue do Cristo que teria significado, mas toda sua trajetória.

Na Doutrina Espírita, não há restrição à carne vermelha, na Sexta-feira Santa ou em qualquer outra data. Eles consideram essa restrição uma prática de outra religião que eles respeitam, mas não adotam.

Para o Espiritismo, a Páscoa significa libertação. “A passagem representa a libertação, desde que sigamos os ensinamentos. Comemoramos a festa da Páscoa, com muito empenho e alegria, porque Jesus vivenciou a morte e nos mostrou que somos espíritos mortais”.

Os rituais da Umbanda também acompanham a Quaresma. Na Quarta-feira de cinzas, por exemplo, os Orixás da casa são vestidos e cada filho de santo lhes oferece a sua comida preferida. Os atabaques são lavados e guardados, e só são acordados no Sábado de Aleluia.

Para a Umbanda, a Semana Santa representa a criação do mundo, por isso, durante esse período, os Umbandistas se vestem de branco, principalmente na Sexta-feira Santa. Além da roupa branca, eles se alimentam somente com comidas dessa cor, como a canjica, arroz doce e pães. Esse é o dia em que os Orixás descem do Orún (mundo espiritual), para conhecer a grande criação de Olorum (Grande Criador, Divino, Deus criador de tudo).

Os seguidores da religião judaica, não celebram a Semana Santa como os católicos, comemoram apenas a Páscoa judaica (do hebraico Pessach = passagem). A Páscoa significa para a comunidade judaica, a libertação do povo judeu do cativeiro do Egito. É comemorado no mundo inteiro. Oferecem um jantar especial na Páscoa Judaica. Um cerimonial, ritual diferente com alimentos como manda a tradição judaica.

Importante ressaltar a missa realizada no Sábado de Aleluia, o primeiro dia depois da crucificação e morte de Jesus Cristo e o dia anterior ao Domingo de Páscoa. A missa de Lava-Pés, celebra humildade com fiéis, relembrando o gesto de Jesus. Ao lavar os pés dos seus discípulos, Jesus tinha como objetivo deixar mais um exemplo de amor ao próximo e de humildade.

A humildade é um sentimento de extrema importância, porque faz a pessoa reconhecer suas próprias limitações, com modéstia e ausência de orgulho. Humildade é ter um conceito equilibrado de si mesmo, sem buscar honra para si. A justiça não se pode praticar sem humildade, porque o orgulho exagera os seus direitos em detrimento dos do próximo.

A pessoa humilde sabe que todos os seus talentos e sucessos vêm de Deus. O humilde trabalha e se esforça, mas nunca se esquece que foi Deus quem lhe deu a vida e todas as coisas melhores que tem. A pessoa humilde não faz as coisas para ganhar tratamento especial nem para parecer melhor que outras pessoas. Faz o que é certo, porque é certo, não porque vai parecer “santo”. A pessoa humilde, reconhece que não é perfeita nem faz tudo certo. Não fica cheia de orgulho por se achar melhor que os outros.

Madre Teresa nos ensinou que “a humildade consiste em calar as nossas virtudes e deixar que os outros as descubram”, e assim, sendo tolerante com as diferenças, respeitando os nossos limites, podemos então trilhar o caminho do crescimento.

O escritor e blogueiro brasileiro Paulo Roberto Gaefke (1961, no livro “Quando é preciso Viver” página 29), escreveu: “Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado”.

Antes de concluir, quero lembrar a origem da palavra humildade. Humildade tem origem no Latim humus, “terra fértil”, derivado por sua vez do Indo-Europeu ghyom-, “terra”. 

Assim, precisamos nos questionar, não só no período da Quaresma, mas em todos momentos de nossa vida, se temos vivido uma vida produtiva, uma vida fértil em fazer o bem, em aprender, evoluir e partilhar, ou se estamos pelo contrário, vivendo de forma improdutiva, de forma a não fertilizarmos nada de positivo no convívio com os outros. Essa é uma reflexão, que carrego comigo sempre e creio que seja esse o significado que devemos reconhecer e buscar, incorporar em nosso dia a dia, alguém humilde, é alguém que é capaz de produzir bons frutos, de fertilizar o bem e fazer a diferença nesse mundo.

Independente de religião, a Quaresma é um período em que todos são convidados a refletir, a repensar na vida, no modo de encarar o cotidiano, de como pode ser melhor dentro de casa, com o próximo no trabalho e na comunidade.

E que a Páscoa seja um período para agradecermos a Jesus, pelo sacrifício e também para pensar em todos os nossos atos e renovar os votos perante Deus, para sermos cada vez melhores e dignos desse ato tão nobre para nos libertar e nos dar a vida.

Viva uma Semana Santa de paz, de tranquilidade e de novos tempos. Seja gentil, reflita, respire. A mudança em sua vida, para melhor, deve começar por você mesmo! Sempre!

17/03/2022

Duas vezes trinta

Nos meus primeiros anos escolares, após a fase de alfabetização, uma das matérias que eu mais gostava era “História do Brasil”.  Possivelmente, se alguém naquela época me perguntasse a razão, eu não saberia dizer. Hoje responderia que essa ciência que estuda a vida do homem através do tempo, investigando o que os homens fizeram, pensaram e sentiram enquanto seres sociais, nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer em nosso tempo.

Em resumo, a história é a ciência do passado e do presente. Todavia, o estudo do passado e a compreensão do presente não acontecem de uma forma perfeita, pois não temos o poder de voltar ao passado e ele não se repete. Por isso, o passado tem que ser recriado, levando em consideração as mudanças ocorridas no tempo.

De qualquer forma, ao estudarmos história, as datas relacionadas a fatos históricos passam a ter uma importância significativa, pois fazem a gente viajar no tempo em determinado ponto específico do passado.

Não tenho dúvida que a minha primeira viagem no tempo foi quando me ensinaram sobre o descobrimento do Brasil. Assim sendo a data de 22 de abril de 1500, ficou sendo uma data marcante em minha infância,

Mas na nossa trajetória terrestre, vamos mudando de fase, passamos de criança para adolescente e depois adolescente-jovem, até atingirmos a fase de adulta e em complemento as datas relacionadas a fatos históricos, outras datas começam a marcar ou ter uma importância significativa em nossas vidas. Sejam datas de aniversários de familiares, de pessoas que passamos a conviver em nosso ciclo de amizade ou datas que marcam nossa existência.

Para mim, essa data ocorreu no dia 03 de dezembro de 1977. Já se passaram quarenta e cinco anos. Esse foi o dia que começou minha caminhada com a minha alma gêmea. A conclusão desse ciclo ocorreu em 10 de dezembro de 1982 quando através da Lei dos Homens e os Mandamentos de Deus estabelecemos nosso vínculo matrimonial. Lembrando do Livro do Gênesis (2:24): “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”.

A partir do início de um novo ciclo, novas datas relevantes passaram a fazer parte de nossas vidas. Primeiro ocorreu em 08 de janeiro de 1986 no nascimento de nossa primogênita Nanda. Depois em 26 de maio de 1989, nascimento do nosso filho Ewerton.

Outros fatos relevantes ocorreram nessa caminhada, como por exemplo as formaturas de Nanda e Ewerton, o casamento de Nanda com Thiago e por último nascimento do nosso neto Lucas.

Mas a vida continua, as vezes marcada por eventos felizes, outras vezes eventos tristes, mas isso está na mão de Deus. Enquanto isso vamos comemorando as vitórias em nossas vidas e também os aniversários dos nossos entes queridos.

Pois bem, hoje tenho uma data importantíssima para comemorar, a passagem de minha alma gêmea Maria José para uma nova fase da vida. Nesse 19 de março de 2022 (Dia de São José), minha Maria completa sessenta anos.

Desses sessenta anos, participei de sua vida quarenta e cinco anos como namorado, noivo e amante a moda antiga. Quantas cartas escritas recheadas de muito paixão na fase de namoro. Quantos sonhos que se tornaram realidades na fase de noivado. Quantos desafios e conquistas passamos juntos principalmente no início do nosso casamento e nos primeiros anos de vida de nossos filhos. Em muitas vezes você foi mãe e pai em decorrência da minha vida laboral. Teve uma participação ativa na vida escolar dos nossos pequenos, indo levá-los e busca-los na escola no nosso velho Buggy Tropical. Uma torcedora vibrante nos jogos escolares de nossos filhos. Um mulher guerreira sempre disposta a lutar pela felicidade de seus filhos e agora seu neto. Uma mãe fenomenal!

Quero reforçar e lembrar a importância da nossa fé cristã durante toda essa caminha, sem nunca esquecer que o casamento foi criado por Deus, trata-se de uma instituição sagrada entre um homem e uma mulher e que deve ser tratada com respeito e reverência. O segredo para um casamento feliz é convidar que Jesus faça parte do relacionamento, para que o casal possa ser usado para a glória de Deus, sendo uma bênção para outras pessoas. “Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe" (Mateus 19:6).

Hoje você completa sessenta anos, e que linda idade, que lindo número é esse, principalmente com este seu espírito jovem. Você demonstra todos os dias como a idade não passa de um número, e que a juventude se sente no coração e não na carteira de identidade.

Fique certa que fazer 60 anos deixa a vida leve. Parece que passamos por todas as fases complicadas e agora estamos com o poder de ressignificar nossa história.

Os japoneses consideram fazer 60 anos uma honra, e chamam à celebração é “Kanreki”. Essa etapa da vida é vista como um renascimento. Eles acreditam que quando uma pessoa completa 60 anos, ela já passou pelo ciclo do zodíaco chinês cinco vezes e agora está de volta ao seu zodíaco original.  O significado da palavra “Kanreki” deriva das palavras kan (retorno) e reki (calendário). Simplificando, fazer 60 anos é visto como sua chance de começar de novo.

Assim, lembre-se que a idade, em si, é o menos importante. O que importa é o seu momento de vida, que é um caderno em branco pronto para ser escrito.

Enfim, feliz aniversário, minha querida esposa. Que você continue sendo sempre essa mulher apaixonante e iluminada, com quem aprendi a amar. Que Deus ilumine seus passos, aonde quer que você vá. Que Ele encha seus caminhos de alegrias, te dê muitas felicidades e continue renovando seu espírito com fé, alegria e esperança, ano após ano. Que o Senhor te acompanhe todas as horas. Que Ele nunca solte a sua mão e lhe proteja contra tudo e todos.

Feliz aniversário, minha querida amada Maria!

08/03/2022

HERÓI DOS HERÓIS

Na década de 60 a televisão tornou-se um meio de comunicação em massa. Sem dúvida, a televisão revolucionou o mundo, influenciou comportamentos, marcou décadas e hoje é o meio de comunicação com maior penetração e importância no mundo, mesmo depois da popularização da Internet.
Foi a década da minha infância. Nos meus primeiros contatos com esse meio de comunicação, gostava de assistir um série que fez grande sucesso no Brasil, denominada “As aventuras de Rin Tin Tin. Narrava a história de Rin Tin Tin , o cachorro que acompanhava uma unidade da Cavalaria dos Estados Unidos no final do século XIX, sediada no Forte Apache. Seu melhor amigo era o Cabo Rusty (Lee Aaker, nascido em 1943), um garoto que perdeu os pais em um ataque dos índios e foi adotado pela corporação, se tornando uma espécie de mascote. Sempre que havia algum problema e Rusty necessitava da ajuda de seu amigo canino, gritava Yo ho Rinty! e Rin Tin Tin aparecia para ajudar. Nessa época, fazia também sucesso, a série Zorro que narrava a história de um justiceiro mascarado, que usava o chicote e a espada para defender o povo, e também o faroeste ''Bat Masterson''. O herói desta série da televisão, raramente apelava para a força das armas, preferindo derrotar seus rivais lutando. Todavia, naquela época, foi o cachorro da série Rin Tim Tim, que adotei como meu herói. Interessante que meu neto Lucas, atualmente com três anos, passou a adotar os pequenos filhotes de cachorro do desenho “A Patrulha Canina” como seus heróis. O desenho lúdico usa uma linguagem próxima das crianças, com mensagens que representam bem a intenção de incentivar nos pequenos a habilidade de resolução de problemas, assim como a coragem e o trabalho em equipe. Um menino de 10 anos comanda um time de filhotes muito espertos, para resolver problemas e salvar a cidade.
Fui crescendo e passei a gostar cada vez mais de futebol. No início da década de 70, o Brasil ganhou a Copa do Mundo. Não teve por onde, alguns craques como o Rei Pelé, Rivelino, Gerson, Jairzinho, Tostão e tantos outros, passaram a fazer parte da galeria de ídolos da garotada daquela época. Todos queriam jogar com o número desses jogadores, estampado nas costas. Importante diferenciar um herói de um ídolo. A maioria das pessoas pensam que "herói" e "ídolo" são usados ​no mesmo contexto. Mas o fato é que os dois são diferentes. “Herói" é uma palavra que foi cunhada do grego "heróis", que significa "guerreiro, protetor, herói ou defensor". Também é semelhante a Hera, uma deusa, conhecida como guardiã do casamento. "Herói" é atribuído a uma pessoa por sua coragem, nobreza e realizações extraordinárias. Um verdadeiro guerreiro. Aquele que fez algo de bom para a sociedade ou arriscou sua vida pela sociedade. O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz.
Através das histórias em quadrinhos, do cinema e de outras mídias, a cultura de massa popularizou a figura do super-herói, que são indivíduos dotados de atributos físicos extraordinários, como corpo à prova de balas, capacidade de voar, etc.
Fora das telas, os heróis da vida real têm reconhecimentos mais discretos (sem holofotes), que são sentidos dia a dia, ao lograr sucesso em cada missão. Eles não têm superpoderes, mas usam todas as suas habilidades, com coragem e destemor. Podemos, por exemplo, lembrar dos Bombeiros, que arriscam as suas vidas para proteger as pessoas, as cidades e as florestas do risco de incêndios, desastres naturais, desabamentos, também ajudam a socorrer animais em perigo e auxiliar pessoas que enfrentam situações de grande stress, como tentativas de suicídio, afogamentos, desaparecimentos e traumas provocados por acidentes. Além de desenvolverem vários projetos sociais e educativos, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Não podemos esquecer de considerarmos heróis os policias civis e militares que, buscando proteger a sociedade, se colocam em situações de risco, sejam investigando crimes ou na captura de criminosos. Acrescentamos as ações de solidariedade e salvamentos.
No início de 2020, ano do grande teste sanitário da humanidade, os profissionais de saúde foram autênticos anjos da guarda. Foram verdadeiros heróis da pandemia. Com resiliência e coragem, colocaram a própria saúde em risco para salvar vidas, se isolando de suas famílias, dedicando uma atenção extrema. Incessantes guerreiros.
Além desses profissionais, outros profissionais como os cientistas e pesquisadores, que têm trabalhado incansavelmente em busca de remédios e vacinas, merecem ser chamados de heróis.
Assim como os bombeiros, profissionais da saúde, policiais civis e militares, não podemos esquecer de personagens que ultrapassaram barreiras sociais e antropológicas de uma época, lutaram contra políticos e culturas e até arriscaram suas vidas para romper dogmas, preconceitos, políticas antiquadas e formas de administrar atrasadas, desrespeitosas e cruéis, para tornar nosso país e nosso mundo um lugar melhor para se viver, como Mahatma Ghandi, Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama e Malala.
"Ídolo" é uma palavra derivada do antigo "ídolo" francês, que significa "uma imagem de uma divindade como um objeto de adoração". Pessoa a quem se atributa grande admiração, demasiado respeito, excessivo afeto ou pessoa pela qual se tributam louvores excessivos ou que se ama apaixonadamente. Personalidade que desfruta de grande popularidade (artistas populares, esportistas e etc).
Bem, quanto aos ídolos, diferente dos heróis reais, influenciam significativamente tanto as crianças, como jovens e adultos. Por exemplo, as crianças tendem a imitar os seus ídolos. Os ídolos normalmente lhes ensina um padrão a seguir, lhes transmite uma série de valores (positivos ou negativos) e incentivam sua imaginação. Muitas crianças podem criar uma imagem falsa do seu ídolo. É então que os pais devem agir. Uma obsessão pelo seu ídolo pode gerar nas crianças falsas expectativas e muita frustração.
No caso das crianças e jovens, diante da enorme diversidade de canais de TV e YouTube, chegamos a um ponto em que mal sabemos quem são os ídolos de nossos filhos. Durante nossa infância era comum que compartilhássemos com irmãos e amigos a admiração pelos mesmos personagens e artistas. Dividíamos a mesma televisão em casa. O canal que um membro da família assistia era a única opção para todos.
Não podemos esquecer, que às crianças pequenas, só têm um ídolo que admiram diariamente: os seus pais. Para elas, os seus pais são como super-heróis e não há quem consiga vencê-los.
Às crianças prestam bastante atenção na postura dos pais. Dentro de casa, o pai é visto como um modelo masculino mais importante. Instintivamente, o pequeno se limita a comportamentos que agradem o pai. Ao enxergar o pai como referência, a criança faz dele seu espelho, um modelo a ser seguido. O pai será a primeira pessoa que a criança amará no plano abstrato e espiritual, pois nunca esteve ligada fisicamente ao pai como esteve à mãe. Infelizmente, temos a paternidade inadequada. Aquela cujo pai está ausente ou, quando está presente, atua nos extremos: autoritária ou passiva.
Considero marcante aquela imagem, muito comum em nosso meio, a do pai retirando as rodinhas laterais da bicicleta e, segurando no banquinho, empurrando a criança para que ela, ao pedalar, consiga o equilíbrio por si mesma. Esta atitude simbólica, da bicicleta, é uma representação muito concreta da função paterna no nosso desenvolvimento, onde o pai é quem “empurra” a criança para o mundo concreto e real, promovendo o seu equilíbrio e autonomia. Neste sentido, dizemos que o pai é uma figura de referência no que se refere ao desenvolvimento social da criança.
A adolescência é uma fase de intensidade em todos os sentidos, em grande parte provocada pelos hormônios em ebulição. Na prática, os indivíduos nessa etapa da vida comumente têm comportamentos hiperbólicos: ora amam muito, algo que parece trivial aos olhos dos adultos, ora odeiam com todas as forças. O mesmo acontece em relação às personalidades da música, do esporte, da televisão e da internet. Quase sempre os os jovens demonstram uma admiração desmedida por pessoas que mal conhecem.
O devoção, que alguns adolescentes desenvolvem por celebridades, pode ser explicada por duas características tradicionais da adolescência: busca de referências fora da família e também como uma tentativa de pertencer a um grupo (dos geeks, dos roqueiros, dos populares). Esse comportamento, faz parte do processo de construção da identidade, e a tendência é que com o tempo diminua naturalmente.
Sob o olhar do adolescente, os ídolos são como “espelhos estruturantes” nos quais se reconhece refletido e a quem transfere o que entende como suas características ideais: beleza, rebeldia, glamour, inteligência, habilidade no esporte, sex appeal. Essa admiração exagerada a uma personalidade, é comum e geralmente não apresenta qualquer perigo, exceto quando o adolescente realmente desenvolve um comportamento de idolatria, um fanatismo que atrapalha seus relacionamentos e os rendimentos nos estudos. Como os adolescentes, ainda não têm o senso crítico plenamente desenvolvido, podem acreditar que se trata de um ser humano sem defeitos, que já acorda de maquiagem e sorrindo. É papel dos pais mostrar que “nem tudo que reluz é ouro”, e que pode ser que aquela pessoa não seja tão perfeita ou feliz quanto aparenta nas redes sociais.
Bem, os heróis e ídolos sempre farão parte da sociedade humana. Todavia, de vez enquando surgem dois segmentos que muito preocupa o crescimento dessa sociedade e a paz mundial. Estamos falando dos Salvadores da Pátria e dos Mitos. Na crise mundial ocorrida entre 1929 e 1932, que ficou conhecida pela “Grande Depressão”, a Alemanha, chegou a ter seis milhões de desempregados, em junho de 1932. As dificuldades econômicas, contribuíram para um aumento vertiginoso de apoio popular ao Partido Nazista, fazendo com que o austríaco Adolfo Hitler aparecesse no cenário político como o “salvador da pátria”, conquistando a simpatia de milhões de alemães, e levando a assumir o poder com a morte do presidente Hindenburg em 1934. Na Alemanha, Hitler implantou uma das mais cruéis ditaduras da história da humanidade. Livros proibidos eram queimados, democratas e comunistas eram demitidos, aos judeus eram impostas várias proibições e uma forte perseguição.
Pousando em nosso país, podemos afirmar, o Brasil continua sendo um país messiânico. A história política nacional é repleta de exemplos de personalidades que chegaram ao poder prometendo "salvar a pátria". Foi assim desde Getúlio Vargas, o pai dos pobres, até os nossos dias.
O Brasil acostumou-se a ser um país de salvadores da pátria, de soluções milagrosas, isso é típico de uma monarquia. Mas, numa democracia republicana quem resolve nossos problemas somos nós. Existe a ilusão de que quem constrói cidadania é o Estado. O Estado é reflexo da sociedade. Precisa haver uma mudança de cultura da sociedade através da educação e promoção de valores democráticos.
Ao longo de sua história, o Brasil falhou na tarefa de realizar coisas importantes, como prover educação para todos, reduzir a pobreza e formar cidadãos capazes de conduzir os seus próprios destinos, em um ambiente de democracia.
As pessoas participam pouco da atividade política, não vão a reuniões de condomínio ou de pais e mestres, desprezam os partidos políticos, não ligam a mínima para os sindicatos e associações de bairro, ou seja, são totalmente ausentes das decisões que afetam a sua vida. Mas cobram muito do Estado. Possivelmente, essa falta de interesse, é uma herança da época da monarquia, em que um rei ou um imperador teria a missão de cuidar do bem estar geral.
Sabemos que, em momentos de crise econômica, política ou religiosa, aparecem lideranças que oferecem a esperança, muitas vezes enganosa de segurança do cotidiano. O “são todos iguais”, ou seja, ladrões e corruptos, leva indevidamente à busca do santo, do mago, do salvador capaz de tirar o país do poço onde se encontra afundado.
Mas, o Brasil não precisa de um santo, mito, mago ou novo salvador da pátria, precisa de pessoas que valorizem às instituições e tenha um projeto de país sério. Que saiba liderar a enorme potencialidade do nosso povo, com suas inúmeras riquezas. Que seja presidente de todos e não apenas de seus eleitores. Que busque juntar pedaços de sensatez e de ideias não viciadas pela paixão.
Está na hora de superar a política de uns contra os outros, e partir para o todo, contra os problemas do Brasil. De aclamar por combate à corrupção e aplaudir aqueles que lutam contra isso, mas ao mesmo tempo, deixar de está sempre a procura de oportunidade de "ser esperto". Se queremos um país melhor, se queremos mudança, ela tem que começar por nós mesmos e por nossas famílias. Temos que entender que o Salvador da Pátria, é afinal, a cidadania, que depende de cada um, e não de um ou outro candidato ou governante. Nosso desafio atual é educar as pessoas para que se tornem cidadãos de pleno direito, capazes de romper com essa herança histórica.
Sei que não é nada fácil, colocar em prática essas ações, porém, jamais poderemos parar lutar por elas. Lembrando da célebre lição de Winston Churchill: "a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela".
Lembrando da música “Pra não dizer que não falei de flores”, vamos escrever um pouco sobre “Mito”. Mito, é uma narrativa fantástica, criada pelos gregos com o objetivo de explicar a existência de coisas, que as pessoas não conseguiam explicar cientificamente, tal como, a origem das coisas, fenômenos da natureza, entre outros. Através da referência a alguns fatos reais, às pessoas eram levadas a acreditar nessas histórias. Podemos definir ainda como uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida.
O mito também faz presente em diversas áreas do conhecimento. Na Ciência Política ele perde suas características de história, sobre um passado ou origem gloriosos e passa a ser sinônimo de mentira. Mesmo que a ideia de enganar os cidadãos possa ser considerada uma prática repudiada, Platão justificava, “o uso da mentira, pelos governantes, como forma de guiar melhor seus comandados”.
De acordo com o historiador francês Raoul Girardet, no livro Mitos e Mitologias Políticas, originalmente publicado em 1986, a presença de mitos e mitologias políticas sempre foi uma constante na história humana, principalmente em momentos de crise. Girardet, escreve que às pessoas ficam mais suscetíveis a acreditarem em figuras mitológicas em períodos de instabilidade social, econômica ou política.
Usando finalmente a definição do Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, podemos dizer que, o mito é uma pessoa ou um fato, cuja existência, presente na imaginação das pessoas, não pode ser comprovada, ficção.
Temos vária histórias de Mitos no Brasil. Uma delas é do Lobisomem. Este mito não é exclusivamente brasileiro. Conta a história de um homem, que por algum motivo foi mordido por um lobo, e ao invés de morrer adquiriu a capacidade de transformar-se em um ser monstruoso, com características de lobo e de homem, e que ataca às pessoas nas noites de lua cheia.
Entre os anos 385 e 380 a.c, Platão escreveu seu livro “A República”, nele o filósofo apresenta o conhecido Mito da Caverna, uma história sobre um grupo de pessoas acorrentadas, que passam o tempo inteiro olhando para sombras projetadas, em uma parede. Para eles aquilo era o mundo real, e não havia nada e ninguém que pudesse convencê-los do contrário. Nessa lenda, um prisioneiro, que insatisfeito com sua condição, rompe as correntes e sai do local pela primeira vez na vida. Esse prisioneiro, agora livre, depois de contemplar o mundo no exterior da caverna, sente compaixão pelos demais prisioneiros e decide regressar para tentar libertá-los. Ao tentar se comunicar com os outros prisioneiros, ele é desacreditado, tido como louco e finalmente, morto por seus colegas de aprisionamento.
Com essa metáfora, Platão buscou demonstrar o papel do conhecimento, que para ele seria o responsável por libertar os indivíduos da prisão, imposta pelos preconceitos e pela mera opinião. A saída da caverna representa a busca pelo conhecimento, e o filósofo é aquele que mesmo após se libertar das amarras e alcançar o conhecimento, não fica satisfeito. Assim, ele sente a necessidade de libertar os outros da prisão da ignorância, mesmo que isso possa causar a sua morte. Desde que foi escrita, o Mito da Caverna serviu para ilustrar uma das mais antigas discussões da história do pensamento humano: será que realmente percebemos a realidade?
Enfim, esquecendo dos mitos e salvadores da pátria, os nossos verdadeiros heróis/ídolos são pessoais reais vivem no meio de seu povo. Estou falando dos pais heróis e mães heroínas do lar, que dedicam sua vida aos filhos realizando atos de amor/heroísmo e que fazem parte dos chamados heróis da labuta nacional. Esses heróis, abrangem todos os trabalhadores brasileiros, os grandes heróis da labuta nacional, por sobrepujarem com garra e força de vontade, todas as intempéries, dificuldades e injustiças da vida de trabalhadores brasileiros. Que acordam de madrugada todos os dias, que trabalham à noite, que apanham dois ou três transportes coletivos, para chegar aos empregos. Por conseguirem sobreviver com um salário mínimo, que nem de longe passa perto de cobrir metade das suas necessidades, enquanto existem muitas pessoas nos plenários estaduais e federal ganhando muito sem suar as camisas.
Há momentos que, creio ser necessário, nos perguntarmos, porquê? Afinal, por que esperarmos por mudanças grandiosas, que virão de uma única pessoa, quando poderíamos agir conforme uma das frases mais conhecidas de Mahatma Gandhi “seja a mudança que você quer ver no mundo”. Ou melhor ainda, como diria o poeta Sérgio Vaz: “Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo.”
Depois de muito escrever sobre herói, ídolo, salvador da pátria e mito, me vem em mente a música “Pai” do compositor e cantar Fábio Junior: “Pai, me perdoa essa insegurança. É que eu não sou mais aquela criança. Que um dia morrendo de medo. Nos teus braços você fez segredo. Nos teus passos você foi mais eu. Pai, você foi meu herói, meu bandido. Hoje é mais, muito mais, que um amigo. Nem você, nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse caminho. Que hoje eu sigo em paz. Pai…”
Se ser é Herói é arriscar a própria vida, ou morrer por um ato nobre, posso afirmar que o maior Herói da Humanidade foi Jesus Cristo. Herói dos heróis

18/02/2022

NOSSA VIDA É UM CARNAVAL

Em 1961 meus pais saíram do Rio de Janeiro e foram morar no Estado da Paraíba. Eu tinha apenas 02 (dois) anos de idade. Inicialmente fomos morar em João Pessoa mas devido a profissão do meu pai, residimos nas cidades de Umbuzeiro, Solânea e Monteiro.
Em 1971 fomos morar na cidade de Sapé. Na época, esta cidade era a maior produtora de abacaxi do Brasil. Nessa cidade passei grande parte da minha adolescência e juventude. Nesse período, vários acontecimentos foram marcantes na história de minha vida. Destaco os eventos que ocorriam no Clube Atlético Sapeense, principalmente os bailes, as festas juninas e a festa do Abacaxi. Também ocorriam nesse mesmo clube, jogos de futebol de salão. Pois bem, foi exatamente quando terminou um dos jogos que participei, que iniciei o namoro com uma jovem Sapeense que anos depois tornou-se minha esposa. Porém, não posso deixar de lembrar dos eventos carnavalescos que ocorriam na cidade de Sapé. Nessa época a cidade de Sapé se transformava em um palco de alegria. Vários blocos, durante o dia, animavam a cidade. Eu, por exemplo, fiz parte do Bloco Balança mas não cai e também do Bloco dos Inocentes. Era tradição o envio de convites para residência de amigos e também para residência dos familiares dos componentes do bloco, para que em hora marcada, o bloco visitasse e fizesse uma festa carnavalesca naquela residência. Esse evento ocorria em todos os dias do carnaval. A noite, todos participavam das festas carnavalescas dos clubes da cidade.
Anos depois, já morando em Natal-RN, conversando com o amigo Roberto Rabelo, descobri que por volta dos anos 60, 70, ou até antes disso, esses eventos também faziam parte do período de carnaval de Natal, apenas tinham a denominação de “assaltos de carnaval”.
Bem, deixando as minhas histórias de lado, lembramos que o Brasil em 2021 vivenciou algo inédito. Em decorrência da pandemia de covid-19, as festividades de Carnaval foram canceladas em todos os estados brasileiros.
Desde que os festejos carnavalescos começaram por aqui, eles nunca deixaram de ser celebrados no período que antecede a Quaresma, em fevereiro ou no começo de março.
Este fato derrubou uma citação do escritor Graciliano Ramos que disse: “Se a única coisa que o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano”.
Importante lembrar, que as tentativas de cancelamento ou adiamento do Carnaval ocorreram duas vezes na história do Brasil, porém a população não acatou a mudança e comemorou a festa nas duas datas: a oficial e a nova que havia sido determinada.
A primeira ocorreu também por questões sanitárias, em 1892, quando o país lidava com uma série de doenças, como a febre-amarela. O ministro do interior decidiu mudar a data para 26 de junho. Para o ministro, junho era um mês “mais saudável” do que fevereiro. Porém, não foi respeitado pelos foliões e houve comemoração nas duas datas de Carnaval, um carnaval em fevereiro e outro em junho.
A segunda tentativa de adiamento da festa popular foi em 1912, devido à morte do Barão do Rio Branco, então ministro do Exterior e tido como herói nacional. Ele faleceu uma semana antes das festas. O governo decretou o adiamento do Carnaval para 6 de abril, dois meses depois da data oficial. Em princípio, parecia algo sensato, mas quando chegou o sábado de carnaval, o povo foi para a rua afogar as mágoas e acabou o luto. Mais uma
vez ocorreram dois carnavais no Brasil, em fevereiro e abril. Os registros históricos trazem até uma marchinha que o povo cantava na rua dizendo que, “se o barão morreu e a gente teve duas festas, imagina quando morrer o general”.
As duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945) também não impediram a realização do carnaval no Brasil, a despeito de tentativas das autoridades.
Além do fim da Primeira Guerra, 1918 ficou marcado pela gripe espanhola. É fácil presumir que, diante da tragédia, o carnaval não fosse realizado. Mas aconteceu exatamente o contrário. A festa de 1919 é tida, até hoje, como a maior de todos os tempos.
Interessante que o Carnaval não é uma invenção brasileira. Não se sabe exatamente como o Carnaval surgiu. Segundo alguns historiadores, sua origem remonta à Antiguidade.
O Carnaval é uma tradicional festa popular realizada em diferentes locais do mundo, sendo a mais celebrada no Brasil.
A palavra Carnaval é originária do latim, carnis levale, cujo significado é “retirar a carne”. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da Igreja Católica de controlar os desejos dos fiéis.
O Carnaval brasileiro começou com o entrudo, festa popular trazida pelos portugueses por volta do século XVII, onde, no passado, as pessoas jogavam uma nas outras, água, ovos e farinha. Também foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. O entrudo manifestou-se no período do Brasil colônia e também no Império. Em Recife existe até hoje. Nesta festa, os foliões jogavam uns nos outros água, ovos, farinha, pós de vários tipos, como o cal, etc. Como as comemorações fossem ficando cada vez mais violentas, o entrudo acabou sendo proibido. O entrudo acontecia num período anterior a quaresma e, portanto, tinha um significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje.

Entrudo


Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias.
No Brasil, no final do século XIX, começaram a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos “corsos”. Estes últimos, tornaram-se populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está aí a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. Composta em 1899, a marchinha “Ó Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga foi a primeira música feita exclusivamente para uma agremiação carnavalesca.
O carnaval é uma festa que traz um grande sentido de liberdade, uma vez que permite às pessoas reencontrarem suas raízes ancestrais. O fato de se fantasiar nessa ocasião torna a experiência ainda mais interessante. Fantasias são sempre simbólicas e, por isso, dão condições para que as pessoas se expressem através delas, realizando um sonho, se
apresentando como a personagem de um tempo perdido na história, prontas para desempenhar papéis muito distantes de sua realidade existencial. A escolha de uma determinada fantasia desvenda a personalidade e até a intimidade dos indivíduos. Vejamos por exemplo a fantasia de palhaço. Revela alguém que gosta de agradar os demais, muito sociável e extrovertido, acredita que sempre há um jeito de melhorar as dificuldades. Solidário, se identifica com as preocupações dos amigos, gosta de ajudar a quem necessita.
Enquanto parte dos brasileiros ama se fantasiar, sambar e curtir a festa, muitos fazem de tudo para fugir do agito. Quem não gosta de carnaval aproveita o momento para ficar em casa, visitar parentes ou acampar.
Culturalmente o carnaval é percebido como uma festa onde tudo pode. É justamente esse tipo de pensamento presente no carnaval que faz com que muitos romances carnavalescos não continuem quando a festa acaba. Tem pessoas que terminam seu namoro apenas para ficarem livre no carnaval e, depois dos cinco dias de festa, procurarem a ex (ou o ex) para voltar. É claro que existe gente que faz isso e se comporta de maneira descompromissada o ano inteiro, mas durante o carnaval as chances de isso acontecer parecem ser maiores. Estes tipos de situações podem trazer muita decepção para quem criou expectativas de que o relacionamento possa continuar depois da folia.
Quando o Carnaval se aproxima, é hora de se lembrar das boas e velhas marchinhas. As músicas de Carnaval que nunca saem de moda. Algumas delas foram escritas há mais de 100 anos e mesmo assim, elas continuam sendo cantadas pelas novas gerações com o mesmo frescor de antigamente.
Lembrando das emoções no período de carnaval, podemos cantar: “Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando. Pelo amor da Colombina. No meio da multidão”. Mas não só choram os Arlequins, os Pierrôs também: “Um pierrô apaixonado, que vivia só cantando. Por causa de uma colombina, acabou
chorando, acabou chorando”. Nesse momento vem à lembrança de alguém: “Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero. Mamãe, eu quero mamar”. Porém, outros afogam as mágoas de outras formas: ”As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar. Eu passo a mão na saca-saca-saca rolha. E bebo até me afogar”. Desesperadamente alguém diz:
“Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim. Oh! meu bem, não faz assim comigo não. Você tem, você tem que me dar seu coração”. Mas, talvez o problema tenha sido outro: “Se você fosse sincera. Ô, ô, ô, ô, Aurora”. Também existem os liberais ou sabidos: “Este ano não vai ser igual àquele que passou. Eu não brinquei, você também não brincou. Aquela
fantasia que eu comprei, ficou guardada e a sua também, ficou pendurada. Este ano tá combinado, nós vamos brincar separados”. Para diminuir a culpa, sempre tem uma palavra de conforto: "Vem Jardineira, vem meu amor. Não fique triste que este mundo é todo teu. Tu és muito mais bonita que a Camélia que morreu”. Mas, a festa está terminando e
alguém diz: “Ai, ai, ai, ai. Está chegando a hora. O dia já vem raiando meu bem, eu tenho que ir embora”. E ainda complementa: “Moro, em Jaçana. Se eu perder esse trem, que saia agora às onze horas. Só amanhã de manhã”. Quem fica só pode cantar: “Quem parte leva saudade de alguém, que fica chorando de dor. Por isso não quero lembrar, quando partiu, meu grande amor”.
Resumido as emoções do carnaval podemos dizer: “A nossa vida é um carnaval. A gente brinca escondendo a dor. E a fantasia do meu ideal. É você, meu amor”.
Uma observação interessante foi feita por um fotógrafo chamado Adilson Santos: “Quando o carnaval acaba, muitos políticos continuam com suas máscaras”.
Enfim, existem os que amam e os que odeiam Carnaval. De que lado você está? Se dos que amam. Bora pular Carnaval porém não esqueçam: “Se beber não dirija”.

07/02/2022

CANTA CANTA MINHA GENTE DEIXA A TRISTEZA PRA LÁ

Desde criança gosto de música, de instrumentos musicais e de cantar. Com sete anos de idade, residi na cidade de Solânea na Paraíba. Na frente da minha casa, tinha um centro Pastoral onde um conjunto musical da cidade fazia seus ensaios. Sempre que eu podia, ia ver os ensaios. De todos os instrumentos o que eu mais gostava de ver tocar era a bateria. Durante muitos anos de minha vida, disse que ainda compraria uma bateria e aprenderia a tocar, mas ficou apenas em sonho. Aos 10 anos de idade, num evento para comemoração do Dias das Mães no Clube Municipal de Monteiro-Pb, tive a oportunidade de cantar em público. Por incrível que pareça, dentro de determinada categoria, fui o vencedor. Fiquem certos que tinha mais de um concorrente. O melhor foi o prêmio: uma lata de doce. Passados bons anos, já residindo na cidade do Natal –RN, junto com mais dois grandes amigos, Manu e Raimundinho, montamos um trio chamado “Os Teimosos”. O repertório era composto principalmente por músicas de forro de cantores como Luiz Gonzaga, Genival Lacerda, Trio Nordestino e Três do Nordeste, e algumas músicas de cantores nordestinos que gostavam de fazer letras de duplo sentido. Nesse trio, eu era o vocalista. Na verdade, as apresentações eram apenas para nos divertirmos nas festas juninas que eu e minha esposa sempre fazíamos em nossa residência. Importante lembrar que as únicas fãs que tive como cantor, foram minha mãe e minha avó paterna. Como para as mães os filhos são sempre perfeitos e para os avós, os netos são a sua coroa de glória, fica difícil considerar essa opinião. Vocês não acham?

Bem, independentemente de meus dons artísticos, há um ditado popular que diz que “quem canta, seus males espanta”.

O filósofo Platão já dizia “primeiro, devemos educar a alma através da música e, a seguir, o corpo através da ginástica”, destacando a importância dessa arte para a manutenção do conhecimento e da vida.

A música é uma das formas de arte mais apreciadas no mundo. É reconhecida por muitos pesquisadores como uma modalidade que desenvolve a mente humana, promove o equilíbrio, proporciona um estado agradável de bem-estar, influencia no humor, reduz a depressão, tensão e fadiga, facilita a concentração e o desenvolvimento do raciocínio.

Mas, por incrível que pareça tem pessoas que não gostam de música. Na verdade, a ciência criou até um nome para qualificar sua condição; anedonia musical. É uma condição em que o indivíduo é incapaz de sentir prazer ao ouvir música. É um sintoma típico da depressão, também encontrado em alguns tipos de esquizofrenias e no transtorno de personalidade. Quanto ao gosto musical, é algo difícil de ser discutido. Afinal cada um tem o seu. Seja por moda, por influência da família, dos amigos ou qualquer outra coisa, o importante é sentir-se bem ouvindo o seu som.

O nosso Brasil é muito diverso e heterogêneo culturalmente, e apresenta distintos estilos musicais dependendo da região. Cada um deles tem uma história e revelou artistas importantes para a história da música e do Brasil.

Infelizmente nos últimos tempos a música brasileira começou a ficar carente de conteúdo, de mensagens, de poesias ou de rebeldia com justa causa.

Lembramos, por exemplo, da Música Popular Brasileira (MPB), um dos gêneros musicais mais apreciados no Brasil, surgiu em meados da década de 60 como um desdobramento da bossa nova e apresentava influência de diversos estilos musicais, na busca de criar um genuinamente nacional. Com o Golpe Militar de 1964, esse tipo de música também se constitui como um forte instrumento de luta contra a repressão. Com um conteúdo contestador, os músicos se posicionavam de maneira contrária às injustiças sociais e à ditadura imposta no país.

Nesse período muitos artistas viram suas músicas na lista de censura da repressão, mas nem por isso eles pararam de produzir suas canções. Em outras palavras, eles utilizaram a arte para mascarar sua militância contra a política da época.

Muitas dessas músicas tornaram-se um marco de uma época que o Brasil não pode esquecer. Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré) tornou-se um hino de resistência dos movimentos contra à ditadura militar brasileira. Porém, por conta do enorme sucesso, a canção foi proibida pelos militares. A letra da música incitava o povo a resistir, unir forças contra a violência e opressão de um governo: “Nas escolas, nas ruas, campos e construções. Somos todos soldados, armados ou não. Caminhando e cantando e seguindo a canção. Somos todos iguais. Braços dados ou não”.

A música Cálice, lançada por Chico Buarque em 1973 é uma das músicas mais fortes e significativas do período da ditadura militar. A letra faz alusão a oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. Contudo, para quem lutava pela democracia, o silêncio também era uma forma de morte. Muitas pessoas foram caladas e mortas, por pensarem diferente do governo e por lutarem para serem escutadas.

Saindo desta área de músicas de protesto, podemos ressaltar algumas músicas de cantores da MPB com letras e mensagens belíssimas, tais como: Como uma Onda no Mar e É preciso saber viver. Na música Como uma Onda, há uma verdade que sempre pulsa em frente a nossa visão, mas que insistimos em menosprezar: a de que tudo é efêmero e tem prazo de validade. A metáfora do oceano e da onda tem sido muito utilizada para ilustrar a verdade do ciclo de nascimento, vida e morte em que tudo na natureza está submetido. Uma primeira interpretação da onda no oceano vem no sentido da sua curta duração. Lulu Santos, inspirado, escreveu sua música com os seguintes versos: “Nada do que foi será do jeito que já foi um dia; tudo passa e tudo sempre passará; a vida vem em ondas como um mar; num indo e vindo infinito; tudo que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo; tudo muda o tempo todo no mundo...”.

Os versos da música “É preciso saber viver”, retratam a importância da persistência, principalmente quando pedras surgem em nosso caminho. Para os compositores, viver é saltar e não ter medo da queda, é não sofrer, mas aceitar a dor: “Quem espera que a vida. Seja feita de ilusão. Pode até ficar maluco. Ou morrer na solidão. É preciso ter cuidado. Pra mais tarde não sofrer. É preciso saber viver. Toda pedra no caminho. Você pode retirar. Numa flor que tem espinhos. Você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem. Você pode escolher. É preciso saber viver”.

Assim como a MPB, o forró que é um nome utilizado para descrever diferentes estilos musicais, como o xote, o baião, o arrasta-pé e o xaxado, no início dos anos 70, também buscando fugir da censura da ditadura de 64, vários compositores lançaram músicas de forró com duplo sentido. Eram letras maliciosas e, quase sempre, com cunho sexual, ainda que de forma disfarçada, mas cujas rimas deixavam claro o objetivo das composições.

As primeiras músicas representantes dessa “moda”, duplo sentido, mas não escancaradas, foram “Ovo de codorna” e “Capim Novo”, gravadas por Luiz Gonzaga, além de “Procurando tu” e “Você tá boa”, grandes sucessos do repertório do Trio Nordestino.

Neste período o cantor compositor e sanfoneiro pernambucano José Nilton Veras, mais conhecido pelo apelido Zenilton, ganhou fama pelo teor humorístico de suas letras. “Capim Canela” iniciou a série de músicas de sucesso: “é só capim canela, é só capim canela". Depois veio, Bacalhau à Portuguesa: “Eu quero cheirar seu bacalhau/ Maria, quero cheirar seu bacalhau”. Em 1982, Zenilton lança o LP com o nome Grilo dela, com a música Cri-Cri: “Peguei, peguei, peguei o grilo dela”.

A alagoana Clemilda, foi um dos ícones do Forró de duplo sentido. Um dos principais sucessos foi: Prenda o Tadeu, “Seu delegado prenda o Tadeu. Ele pegou a minha irmã e... crau”.

Independentemente do período da história, as músicas de forro sempre se destacaram pelo sucesso regional apresentado em suas letras, principalmente mostrando a realidade da vida do sofrido povo nordestino. O chamado forró tradicional ou forró pé-de-serra, terá sempre como seus maiores representantes os pernambucanos Luiz Gonzaga e Dominguinhos, os paraibanos Jackson do Pandeiro e Sivuca. Não tenho dúvida que a música “Asa Branca” de Luiz Gonzaga deva ser considerada o Hino dos Nordestinos.

Quero destacar a música de forro “A natureza das coisas”, lançada em 2007 pelo pernambucano Accioly Neto. Essa música me chamou atenção por representar o cotidiano da vida de todos: “Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada. Se avexe não. A lagarta rasteja até o dia em que cria asas. Se avexe não. Que a burrinha da felicidade nunca se atrasa. Se avexe não. Amanhã ela para na porta da sua casa”. A natureza não tem pressa. Sem pressa, calma! Tudo a seu tempo. A natureza é sábia e não há nada por acaso. É preciso que façamos a nossa parte e o resto virá no seu tempo devido. A música termina dizendo: “Se avexe não. Toda caminhada começa no primeiro passo. A natureza não tem pressa, segue seu compasso. Inexoravelmente chega lá. Se avexe não. Observe quem vai subindo a ladeira. Seja princesa ou seja lavadeira. Pra ir mais alto, vai ter que suar”.

Um dos cantores e compositores mais conhecidos no Brasil, o Rei Roberto Carlos, mostrou em diversas músicas que a sensualidade pode existir nas músicas, sem precisar da apelação. Roberto Carlos, possui músicas carregadas de um romantismo erótico, que falam sobre a intimidade de casais na cama (ou em outros cantos da casa), que passaram a proliferar em seu repertório a partir dos anos 1970.

 Com “Proposta”, ele inaugurou sua face “cantor de motel”. Feita em parceria com Erasmo, a música descreve um convite tentador à amada: “Eu te proponho/ Te dar meu corpo/ Depois do amor/ O meu conforto…”.

Dois anos depois, Roberto voltou ao tema erótico com “Seu Corpo”. A música, ainda mais sensual que “Proposta”, descreve uma viagem quase cinematográfica pelo corpo nu da amada, no qual ele se perde para se encontrar: “No seu corpo é que eu encontro/ Depois do amor o descanso/ E essa paz infinita/ No seu corpo minhas mãos/ Se deslizam e se firmam/ Numa curva mais bonita...”

Apesar de todas essas sugestões líricas e imagéticas, Roberto percebeu que nunca havia usado a palavra “sexo” em nenhuma de suas músicas. Decidiu, então, dar esse passo à frente na canção “O Côncavo e o Convexo”, que relata o encaixe perfeito entre os corpos de dois amantes. E nela finalmente, aparecia a palavra tabu: “Cada parte de nós, tem a forma ideal/ Quando juntas estão, coincidência total/ Do côncavo e o convexo/ Assim é nosso amor no sexo”.

Quanto ao samba, entendo que vale o que dizia Dorival Caymmi, “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”.

A história do samba se mistura com a história do Brasil de diversas maneiras e gerou vertentes e mais vertentes, como a Bossa Nova, o pagode e muitos outros, o que faz com que ele seja muito popular até hoje e uma parte da identidade nacional brasileira. Diversos músicos brasileiros foram responsáveis por popularizar o ritmo, tais como: Noel Rosa, Cartola, Pixinguinha, Martinho da Vila, etc.

Vamos dar ênfase aos compositores Cartola e Gonzaguinha. Cartola que ficou conhecido por grandes sucessos como ‘As Rosas Não Falam’ e ‘O Mundo é um Moinho’, que trazem a essência de suas dores e questões existenciais da época, traduzidas da realidade em forma de versos poéticos que são acompanhados por combinações harmoniosas e expressivas de sons e samba raiz.

“Queixo-me às rosas, mas que bobagem! As rosas não falam!” A história desta canção é muito curiosa. Um dia Dona Zica, esposa de Cartola, recebeu de presente um ramalhete de rosas. Plantou no fundo de seu jardim e no dia seguinte ficou surpresa ao ver que muitas rosas já haviam desabrochadas. Chamou Cartola e perguntou para ele sobre o fato. O poeta respondeu que não sabia, afinal, as rosas não falam! Após dizer isso, Cartola percebeu que poderia fazer uma letra e ficou com aquela frase na cabeça. Pegou seu violão e em poucos minutos a música já estava pronta.

A letra da canção não tem muito a ver com a história que inspirou o compositor. Na canção, um homem está desconsolado por não ter o amor de sua amada. Resolve queixar-se para as rosas, entretanto as queixas não adiantam em nada, afinal as rosas não falam.

A canção “O que é o que é”, do compositor Gonzaguinha, reflete sobre a forma como cada um pode encarar seu dia a dia, sobre os prazeres e as dores de se estar e de se sentir vivo, além da esperança por dias melhores. Fala que a felicidade está na maneira como se vê a vida, como as crianças, que, em sua pureza, dizem: “é bonita, é bonita e é bonita”. A música é toda cheia de significados e reflexões. Isso porque Gonzaguinha também era poeta e tinha o dom das palavras. Ele sabia dizer muito de forma simples: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita. E é bonita. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar, e cantar, e cantar. A beleza de ser um eterno aprendiz. Ah, meu Deus!” Encontramos facilmente o mesmo mote de sofrimento de amor em basicamente todos os gêneros da música popular brasileira, como nas canções de axé, samba, bossa-nova, forró e rock. Contudo, apesar da liberdade exercida pelo tema entre os gêneros musicais brasileiros, o sertanejo atual abraçou a sofrência como a tábua de salvação do momento. As músicas de sofrência, em geral, falam de histórias de amor que já terminaram – e não foi de uma boa maneira – e de pessoas que sofrem com saudade de ex. Esse estilo não agrada a todas as pessoas, mas é bastante popular e suas letras sempre se encaixam na vida de alguém que está passando por um término.

Na análise das relações entre as antigas canções de amor e as atuais vem da expressão cunhada por Lupicínio Rodrigues: dor de cotovelo. Tal expressão tem sua origem exatamente na posição de abandono que aqueles que sofrem de amor ficam quando estão no bar. Ao se apoiar sobre a mesa, enquanto consome alguma bebida alcoólica, os cotovelos são castigados pelas longas horas em tal atividade. Hoje, esse termo cedeu espaço ao termo sofrência. É mais comum entre a juventude, principalmente, ouvir que alguém “está na sofrência” do que está com dor de cotovelo.

 Contudo, o termo cunhado por Lupicínio não foi excluído totalmente pela geração “sofrente”. Nela, ele se encontra sob nova versão: a dança. Muito característica, a dança “sofrente” é um tanto contida, com passos curtos, sem se deslocar muito do lugar. No entanto, o que é mais singular na dança é a posição dos braços.

Em nosso passeio musical, colocamos apenas alguns estilos musicais e fizemos algumas interpretações de canções. Mas como existem muitos gêneros musicais, possivelmente cada brasileiro tenha seu gosto e sua lembrança. A música nos conecta a momentos. Quando ouvimos uma canção, automaticamente ela nos lembra alguém, algum lugar ou situação. E isso nos traz proximidade, mesmo que em pensamento. Poucos acordes são suficientes para iniciar uma viagem no tempo e trazer ao presente lembranças já esquecidas.

Hoje em dia temos músicas que não passam sentimento ou admiração alguma, vivemos numa época em que o ridículo é muito bem aceito. O problema é que atualmente muitas músicas não têm a intenção de tocar a alma do homem. Independentemente dessa tortuosa situação que a música brasileira está passando, a música brasileira tem uma bela história e continua revelando importantes artistas.

O surgimento exato da música ainda é um mistério entre os historiadores e cientistas que debatem até hoje quando os primeiros instrumentos musicais foram criados. Mas se há um consenso entre todos, é de que a música existe há tanto tempo que não conseguimos imaginar nossas vidas sem ela. Imaginem um mundo sem festivais, shows, bares com uma boa banda, ou baladas para dançar até clarear o dia? Agora imaginem um filme ou série favorita sem a trilha sonora para acompanhar?

Segundo a poetiza Neusa Marilda Muxxi, a primeira nota musical que ouvimos foi no ventre de nossa mãe. O tum...tum...tum...do coração dela era a canção especial com que a vida nos brindava naquele momento.

O mundo é nosso palco. A vida é nossa arte, nossa música. Nós somos os músicos. Protagonistas que somos, devemos escolher o que queremos tocar e apresentar sempre um show inesquecível! Ouça... faça da vida um belo espetáculo musical! (Maykira).

Assim sendo, e lembrando de uma música do cantor Martinho da Vila, podemos dizer: “Canta canta, canta minha gente, deixa a tristeza pra lá. Canta forte, canta alto. Que a vida vai melhorar!”

20/01/2022

Estes seus cabelos brancos, bonitos

Em dezembro de 1979, o cantor e compositor Roberto Carlos lançou seu vigésimo LP (Long Play). Um dos carros chefes do álbum era a música “Meu querido, meu velho, meu amigo”. Segundo o próprio Roberto Carlos essa música foi feita para homenagear seu pai. Nas primeiras estrofes, ele escreveu: “Esses seus cabelos brancos, bonitos; esse olhar cansado, profundo; me dizendo coisas num grito; me ensinando tanto do mundo. E esses passos lentos de agora; caminhando sempre comigo; já correram tanto na vida. Meu querido, meu velho, meu amigo”.

Nesta época, estava no auge de minha juventude. Tinha vinte anos de idade. Mas o tempo não para. Hoje estou quase o retrato da poesia “Retrato” de Cecília Meireles que diz: “Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho ficou perdida a minha face?”.

Em 1907, o jornalista Cândido Jucá escreveu no Correio da Manhã um artigo com o título “As características visíveis da velhice”, onde dizia: “Os olhares sobre a velhice ressaltam diferentes aspectos. Os fios prateados começam a aparecer no alto da cabeça. Depois alvejam nas têmporas e após a canície costuma vir a calvície. A ruga, que é o estigma da pele, não se faz esperar. Os sentidos embotam-se. A vista diminui. O ouvido endurece-se”.

Mas, o que é a velhice? As vezes, fala-se dela como do outono da vida (tempo de transformação) seguindo a analogia sugerida pelas estações e pelo andamento das fases da natureza. Basta olhar, ao longo do ano, para a mudança da paisagem nas montanhas e nas planícies, nos prados, nos vales, nos bosques, nas árvores e nas plantas. Há uma estreita semelhança entre o biorritmo do homem e os ciclos da natureza, à qual ele pertence.

O envelhecimento é um fenômeno biológico e inerente a toda espécie. No entanto, ele, também, tem uma dimensão existencial, pois modifica-se conforme a relação do indivíduo com o tempo, com o mundo e com a própria história. Na sociedade capitalista, a velhice está vinculada à ideia de produtividade. Em alguns povos a velhice é estimada e valorizada, como por exemplo na China e no Japão. Ela é sinônimo de sabedoria. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada.

O surgimento da “terceira idade” pode ser considerado como uma tentativa de rompimento com as imagens negativas da velhice que predominavam no início do século XX. Os termos são importantes: a “velhice” é substituída pela “terceira idade”, e os “velhos” tornam-se “idosos”. Diferentemente da “velhice”, a “terceira idade” se caracterizaria por ser uma fase da vida em que as pessoas aproveitariam intensamente o seu tempo, na busca de realizações pessoais. O lazer, os cuidados com o corpo e a saúde, a ampliação do círculo social, parecem estar presentes nessas novas representações sociais do envelhecimento.

Em 1º de outubro de 1999, o então papa João Paulo II escreveu a Carta aos Anciãos, dentre tantas coisas importantes ele disse: "A terceira idade é uma dádiva de Deus e chegar a ela é um privilégio". Quem teve o privilégio de viver muito, sabe que o tempo, é um mestre muito caprichoso, por isso, aprende a olhar com serenidade o turbilhão da vida.

O Brasil, que por tanto tempo foi considerado jovem, caminha rapidamente para se consolidar como o país de uma população envelhecida. Infelizmente, por falta de planejamento, o Brasil passa a ter grandes dificuldades para lidar com seus cabelos brancos. Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que quase um quinto da população brasileira é composta por pessoas com 60 anos ou mais. O levantamento aponta que 40,3% dos brasileiros serão idosos daqui a aproximadamente 90 anos. Lembramos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso aquele indivíduo que tem 60 anos ou mais de vida.

Ficar vivo por mais tempo, o que deveria ser uma boa notícia para todos, virou um desafio econômico pessoal para os brasileiros. Na parte baixa da pirâmide, onde estão os mais pobres, começa a ser sentido o aumento no número de idosos desamparados pela família. Os albergues públicos estão lotados e a demanda por vagas entre pessoas de mais de 60 anos não para de crescer, segundo estudo do Ministério do Desenvolvimento Social. Para piorar, há também o problema do enfraquecimento dos laços familiares na nova sociedade. A família, agora, não é mais aquela tradicional que sempre destacava alguém para cuidar dos mais velhos. A oferta de cuidadores familiares já apresenta evidências de redução, dadas as mudanças na família, seja com a redução do seu tamanho ou a participação maior das mulheres no mercado de trabalho. Importante ressaltar, que se o idoso tiver alguns problemas de saúde ou doenças como Alzheimer se faz necessário, em muitos casos, a recorrer a espaços para hospedar o paciente.

Entre as alternativas não familiares para o cuidado do idoso, a mais antiga é a instituição asilar, cuja origem remonta à Grécia Antiga. No Brasil e no resto do mundo, embora os asilos constituam a modalidade mais antiga de atendimento ao idoso fora do convívio familiar, ainda não há um consenso sobre o que sejam as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Essas instituições têm como objetivo garantir a atenção integral ao idoso, garantindo condições de bem-estar físico, emocional e social.

Pesquisa feita pela GPED-ILPI (Grupo de estudos, Pesquisas e Diagnóstico – Instituição de Longa Permanência para Idosos (GPED-ILPI), vinculado à Universidade de São Paulo (USP), mostrou que houve um crescimento acentuado do número de ILPIs no Brasil na última década. Tínhamos 3548 unidades em 2010 e em 2021 passamos para 7292. Sejam públicas, privadas ou filantrópicas.  A grande maioria das instituições brasileiras são filantrópica, incluindo neste conjunto, as religiosas e leigas. Vindo em seguida as instituições privadas com fins lucrativos e por último, em menor número, as instituições públicas.

Interessante diferenciar asilo, de abrigo e de casa de repouso. A palavra asilo na maioria das vezes remete aquele espaço velho e mal cuidado onde as famílias deixavam um idoso com quem não queriam mais a convivência. Mas isso não é bem assim. Têm bons asilos como também existem os não tão bons. Muitos asilos são municipais, alguns gratuitos, outros pedem uma contribuição mensal (próprio salário do idoso), e neste caso podem não ter todas as melhores condições para o idoso. Mas para quem não tem condições financeiras de pagar outro espaço, acaba escolhendo este tipo de instituição. Por lá, podem ser contemplados além dos idosos, dependentes químicos ou órfãos.

Os abrigos costumam proporcionar boa estrutura, com profissionais e equipamentos. Também é indispensável o pagamento para o idoso ficar neste espaço. Costumam oferecer um espaço com boas condições e infraestrutura. É cobrada taxa mensal para a hospedagem.

As casas de repouso oferecem atendimento personalizado ao paciente, com equipes especializadas e à disposição para realizar o tratamento e cuidados específicos para cada idoso. Com infraestrutura completa, esse local permite a sociabilização do paciente e conta com atividades para a distração do idoso. É o espaço que mais se assemelha à casa do paciente. Também é cobrado valor pela estadia.

Atualmente muitos idosos garantem o sustento e a manutenção de sua família com o pouco de recurso que dispõe (aposentadoria, pensões e atividades remuneradas). Esse perfil é conhecido como os idosos arrimo de família. Assim, o idoso vem tornando uma figura essencial em seu meio, não exercendo apenas a função de cuidador, mas como chefe de família, responsável pela sobrevivência de seus componentes

Segundo estimativa do Valor Econômico avalizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a morte de idosos (60 anos ou mais) por COVID retirou R$ 3,8 bilhões da economia.  Conforme o instituto, em 25,4 milhões de domicílios no país vivem idosos, dos quais 15,4 milhões, mais de 50% da renda vêm do idoso. “Em muitos casos, quando o idoso morre, a família entra na pobreza”, declara a economista do Ipea Ana Amélia Camarano, especializada na 3ª idade. “No Brasil, ainda se entende a Previdência Social como gasto e não como elemento estrutural do Estado de bem-estar social”.

A Previdência Social mudou a estrutura dos lares, que viam os idosos como um peso. Muitas vezes, o aposentado não é o mantenedor da casa, mas ajuda na criação ou na educação de netos. A crise econômica, responsável pelo alto nível de desemprego, explica o aumento do número de aposentados que vivem hoje como arrimo de família. À medida que o mercado de trabalho demora para se recuperar, as aposentadorias acabam ganhando espaço no orçamento familiar. A geração que hoje depende dos pais pode ter dificuldade para se aposentar. Em breve, serão eles os idosos. E sem renda.

Em um terço dos lares brasileiros, vive pelo menos um idoso. Neles, 43% dos adultos com menos de 60 anos não trabalham, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O impacto da morte de um idoso aposentado ou pensionista, pode levar a uma queda de metade da renda familiar. Para o futuro, teremos um cenário mais difícil para quem ainda está na juventude. Temos maior informalidade hoje. Os idosos de agora viveram um momento melhor na economia e puderam se aposentar, mas vai chegar um momento em que as pessoas vão envelhecer sem aposentadoria.

Para piorar essa situação, existe um senso comum que coloca o idoso como incapaz e, por isso, é um grupo marginalizado socialmente. O Estado brasileiro valoriza quem trabalha, quem produz renda. Então, a terceira idade é associada àquela que vai quebrar a Previdência, um tema em destaque na atual crise econômica. Isso torna o idoso ainda mais exposto a abusos e violência.

Embora existam leis de proteção a esse grupo, como o Estatuto do Idoso e o artigo 230 da Constituição Federal, falta a conscientização por parte da sociedade para o respeito ao direito à autonomia e à expressão da vontade da terceira idade.

Também não podemos esquecer que as condições urbanas afetam profundamente a saúde de seus moradores, principalmente dos idosos. Muitos dos idosos nasceram em áreas rurais, mas estão envelhecendo em áreas urbanas que são precariamente equipadas para encorajá-los a continuarem ativos. A habilidade em se manter ativo ao longo da vida pode ser crucial para conservar a independência, ter acesso a serviços locais, se manter em forma e criar oportunidades importantes para a sociabilidade. Pequenas intervenções urbanas, tais como: posicionamento de faixas para pedestres, pontos de ônibus e banheiros públicos podem estimular idosos a caminharem e serem mais ativos.

Infelizmente, em um mundo em que os únicos valores são a juventude e o sucesso profissional, o declínio de ambos faz com que as pessoas não encontrem mais seu lugar neste universo e ainda se tornam vítimas de atendimento de saúde precário e de outros tipos de violência urbana e até familiar.

Segundo um ranking da organização não governamental Help Age International, o Brasil é um dos piores países da américa do Latina para se envelhecer. Ficamos apenas a frente da Venezuela e do Paraguai. No mundo, ocupamos a posição número 56 entre 96 nações referidas. Esse é mais um grande desafio dos governos do Brasil.  Nosso país precisa avançar rapidamente, nas políticas públicas de prevenção, acompanhamento e zelo dos idosos. O país envelheceu.

Enquanto muitos de nós evitamos pensar sobre os desafios de envelhecer (o que seria muito melhor do que desviar do assunto), o envelhecimento vai inevitavelmente nos confrontar. Deve, portanto, ser uma prioridade para cada um de nós.

É preciso encarar a velhice como um processo absolutamente natural, como a infância ou adolescência. Hoje, vivemos mais do que há 30, 40 anos. Então é preciso parar e pensar o que se quer construir e quais são as possibilidades para a própria vida, levando em conta esse tempo a mais que temos para viver. Alguém já disse um dia, "envelhecer é o único meio que temos de viver mais tempo”. Segundo o célebre escritor e cineasta sueco Ingmar Bergman, falecido em 2007, "envelhecer é como escalar uma grande montanha: enquanto escala, as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a visão mais ampla e mais serena".

Respeitar as pessoas idosas é tratar o próprio futuro com respeito. Os idosos têm direito a esse respeito. Não seremos pessoas dignas ou um país digno se não dignificarmos nossos idosos. Segundo o Papa Francisco, "abandonar um idoso é um pecado mortal" e você pode encontrar na sua trajetória o que você perdeu, mas nunca encontrará o que você abandonou!

É importante reforçar, que a presença do grupo familiar na vida da pessoa idosa é de extrema importância, pois pode significar apoio e ajuda, contribuindo na restauração de forças para lidar com as perdas advindas do processo de envelhecimento. É preciso cuidar da fragilidade de quem cuidou da nossa. De preferência com e por amor, mas também porque é nossa obrigação. Tenho certeza se perguntarmos a maioria dos idosos se ele deseja ir para qualquer tipo de instituição, ele vai dizer que pretende ficar em casa.

Concluímos, com algumas orientações para vivermos mais e melhor, nessa fase da vida, que chamamos “terceira idade”: não se apegar às normas e "tabus", ignorar os preconceitos, ser "autêntico", não viver em função do que os outros pensam, valorizar você mesmo, evitar sempre que possível fazer o que não gosta, ter um "hobby" e dedicar parte do seu tempo a ele, conviver com outras pessoas, amigos e familiares, fugir do isolamento e da solidão, ter sempre algo para fazer, nunca ficar totalmente ocioso,  ter sempre um "ideal" para ser conquistado ou pelo menos mantido, o homem começa a morrer quando não tem mais ideal. Os anos enrugam a pele, a falta de atividade e de ideal enrugam o espírito.

O poeta grego Focílides advertia: “Respeita os cabelos brancos: presta ao velho sábio aquelas mesmas homenagens que tributas a teu pai”.