23/07/2022

Doce e Clemente, Mãe da graça e do perdão

Em 1996, eu e minha Maria, juntamente com nossos compadres Manu e Vera, tivemos a oportunidade de viajar pela primeira vez para a cidade de Caicó, no interior da Rio Grande do Norte, para participar da festa de Sant’Ana, que é uma das mais tradicionais festas religiosa desse estado.

A festa de Sant’Ana de Caicó acontece anualmente sempre a partir da quinta-feira que antecede o dia 26 de julho, dia de Sant’Ana no calendário litúrgico, e se encerra com uma grande procissão no domingo subsequente, totalizando 10 dias de comemorações.  Em 2010 foi tombada como patrimônio imaterial do Brasil. É o maior evento sócio-religioso do Rio Grande do Norte. A festa é uma mistura de sagrado e profano que atrai turistas de todos os cantos do RN.

Em 1584, uma bula do papa Gregório XIII instituiu uma festa, comemorada no dia 26 de julho, mês que passou a ser denominado “Mês de Santa Ana”.

Desde os primórdios da história, as lendas são utilizadas para explicar fatos desconhecidos. Os gregos como os romanos já explicavam suas origens através de lendas. Herdamos esse gênero literário. A origem de Caicó não foi diferente. Não sabendo ao certo explicar sua origem, os literatos ou historiadores utilizaram-se das lendas do vaqueiro e do poço de Santana que se descrevem de várias formas, para expressar o surgimento da cidade de Caicó.

As lendas do vaqueiro e do poço de Santana são tão antigas quanto a própria história da velha Caicó. Fruto da fantasia humana, ela relata a cidade na sua origem e, mais importante ainda, cultua o que mais caracteriza o local na época. A história das lendas de Caicó não foi apenas um capitulo a mais na história da cidade. Se não e o mais importante, possui seu valor pelo pioneirismo e o relato descritivo de seu meio geográfico, fatos que enriquecem a história da cidade.

A celebração da Festa de Sant’Ana remete, constantemente, à lenda de fundação da cidade, encenando uma luta dos primeiros moradores contra a adversidade da natureza ainda não “domesticada”. Entre as diferentes versões existentes, escolhemos a escrita pelo jornalista, jurista, educador e estudioso das tradições populares Manoel Dantas (falecido em 1924), conta no seu livro “Homens de Outrora” que: Quando o Sertão era virgem, a tribo dos “Caicos”, celebre por sua Ferocidade, julgava-se invencível, porque Tupã vivia ali, encarnado num Touro bravio que habitava um intrincado mofumbo, existente no local onde está, hoje, situada a cidade do Caicó. Certo dia, um vaqueiro experto, penetrando no mofumbo, viu-se, de repente, atacado pelo touro sagrado, que iria, indubitavelmente, matá-lo. Rapidamente inspirado, o vaqueiro fez o “voto” a N.S. Santana de construir ali uma capela, se o livrasse de tamanho perigo. Como por encanto, o touro desapareceu. O vaqueiro destruiu a mata e iniciou, logo, a construção da capela. O ano era seco e a única aguada existente era de um poço do rio Seridó. O vaqueiro fez novo “voto” a S. Anna para o poço não secar antes de concluída a construção da capela. O “Poço de Santana”, como ficou, desde então, denominado, nunca mais secou. Reza a lenda que o espirito do deus dos índios, expulso do mofumbo, foi se abrigar no poço, encarnando-se no corpo de uma serpente enorme que destruirá a cidade, ou quando o poço secar, ou quando as águas do rio, numa cheia pavorosa, chegarem até o altar-mor da matriz do Caicó onde se venera a imagem da mãe de Nossa Senhora.

A narrativas lendária, mostra que a devoção a Sant’Ana, padroeira de Caicó, tornou-se um elemento fundamental para a construção da identidade caicoense. A construção da primitiva capela, em 1695, e a história de alguns milagres creditados a santa motivou a relação de devoção que o povo de Caicó e de toda região do Seridó nutre por Sant’Ana. O culto a Sant’Ana em suas “famosas” e “tradicionais” festas religiosas promovem uma verdadeira transformação no que se refere a cultura local.

A festa de Santana significa o momento em que as famílias seridoenses voltam a se encontrar restabelecendo os antigos laços que o tempo e a distância cortaram, com a partida de muitas pessoas para outras regiões do pais, reafirmar valores cristãos e acionar registros específicos da cultura seridoense, sobretudo no que diz respeito à sociabilidade fundada no interconhecimento.

Inspirados no amor materno da santa, os caicoenses aplicam os princípios da hospitalidade e da generosidade irrestrita. As casas de família acolhem os visitantes, aplicando sem restrição os preceitos cristãos.

Em junho de 2012, o Blog de Kleber Nóbrega, publicou um artigo com o nome “Caicó, cidade Servidora!”, que retrata bem o povo Caicoense: “Pode um cidade inteira ter comportamento servidor? Você conhece alguma cidade em que as pessoas parece terem verdadeiro prazer em servir bem? Você conhece algum lugar onde as pessoas parecem estar, sempre, de bom humor e felizes?  Pois é esta a sensação que tenho sempre que vou a Caicó, no Rio Grande do Norte”. E continuou:  “Um dia ainda faço uma pesquisa científica sobre isto”.

Para alguns, a festa de hoje não é a mesma de outrora, pois, naquela época, assim diziam, por volta de 1940, era só novena. Quando terminava, o povo ia para a praça andar, não havia nada de barracas de Comidas ao redor. Era também proibido bailes. Após as novenas, sempre havia um leilão (atualmente realizado nas noites de novena). Começaram a aparecer os Parques, pois antes só existiam os carrosséis que eram empurrados a mão. Era uma Casa de jogo, um barzinho, a banda de música tocando no coreto até as 10 horas, devido à luz a motor apagar nesse horário.

Nossa Senhora de Santana é venerada ao redor do mundo. Dentro da igreja católica é uma das personalidades mais respeitada. A sua história envolve muita luta, sofrimento e também milagres. Apesar de muitas pessoas não fazerem ideia de quem ela foi, sua figura está no centro da Igreja Católica.

As primeiras referências a ela vêm do Protoevangelho de Tiago, também foi chamado de ¨Natividade de Maria¨, um texto que não consta na Bíblia, e em outros textos apócrifos. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes.

O Evangelho Apócrifo de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro esposo, José.

São Joaquim era uma pessoa de grande influência, principalmente na região de Jerusalém, onde moravam. Além da influência, era pertencente à família real de Davi. Apesar do grande prestígio, o casal passaria por grandes dificuldades pelo caminho, em razão de uma dificuldade para gerar filhos.

Mesmo tentando durante anos, São Joaquim não foi capaz de engravidar sua esposa Ana. Na época, a culpa pela infertilidade era automaticamente atribuída à mulher. O homem nunca era culpado por falta de fertilidade. Quando as pessoas da comunidade notaram esse fato, passaram a criticar Sant'Ana.

Acreditava-se que a falta de fertilidade era um castigo de Deus. São Joaquim também sofreu na pele os julgamentos, principalmente por parte dos sacerdotes. Eles criticavam o fato de ele não ter filhos. Apesar de todo o sofrimento, tanto Sant’Ana quanto São Joaquim permaneceram crentes, orando a Deus e pedindo por um milagre. Atendidos em suas orações, foram agraciados com uma filha, a qual deram o nome de Maria, mãe de Jesus. Sendo mãe de Maria, é portanto avó de Jesus Cristo. Por isso foi designada padroeira dos avós. Venerada ainda como padroeira das mulheres casadas, especialmente as grávidas, protetora das viúvas, dos navegantes e marceneiros.

Bem, uma das coisas que sempre ouvi as pessoas dizerem é que não havia nada melhor do que ter netos. Deus que, nessa vida, foi sempre muito generoso comigo, me fez avô aos 59 anos. Devo confessar que desde que o vi pela primeira vez passei a desfrutar de um sentimento que julgava nunca ter experimentado antes. Eu nunca havia experimentado isso antes ou havia esquecido do que sentia quando do nascimento dos meus filhos. Passei então a levantar as razões, por que sempre que o tenho por perto ou que vejo as suas fotos e pequenos filmes, o meu olhar brilha e o ar de felicidade fica estampado em minha face.

Quando meu neto invade a minha casa, sinto que o meu coração se enche da mais plena alegria proporcionada por Deus.

Quando somos pais estamos num período de nossa vidas em que ficamos absorvidos pelo nosso trabalho. Os filhos dividem o espaço com essas grandes preocupações. As inquietações de então hoje não existem mais. Hoje, temos um melhor entendimento do que seja a vida e do valor que ela tem e, sendo assim, ao olharmos aquela criança constatamos a maravilha do que foi o seu nascimento e quão magnífico é cada progresso conquistado.

Nesta altura da vida somos orientados menos pela razão e mais pela emoção e a nossa emotividade aflora.

Ser avó e avô é como amar o filho pela segunda vez, é ter uma segunda oportunidade de participar na criação de crianças na família, mas, desta vez, de forma mais leve e tranquila.

Ser avó ou avô é uma das coisas mais fantásticas que pode acontecer na vida de uma pessoa. Especialmente porque, em geral, a surpresa vem na terceira idade. Quando a vida parecia ter sossegado. Um serzinho vem iluminar a casa.

Cena mais comum na casa da avó é crianças correndo. Se você não tiver o mínimo de equilíbrio, não consegue acompanhar. Aquele dia entediante, sem graça e silencioso é completamente transformado no momento em que os netos pisam na casa. Ter um neto é sinônimo de vitalidade emocional. A casa simples torna-se um parque de diversões imenso.

Netos têm a capacidade de imaginar coisas incríveis e levar avós a viagens inéditas. Ser avó é retornar a infância, em viagem de primeira classe.

Muitas vezes, papais ou mamães exigentes e rigorosos, quando se tornam avós, o coração amolece, prontos para a próxima brincadeira ou para mais uma historinha antes de dormir.

Nos dias de hoje, o papel dos avós vão além do agrado aos netos, eles participam ativamente da rotina das crianças e são personagens importantes na educação compartilhada com os pais. Todavia devem procurar respeitar as regras familiares, especialmente quando participam em grande frequência da rotina da criança, já que a discordância gera inconsistências e insegurança para os netos, bem como pode resultar em conflitos e desrespeito das crianças e adolescentes aos pais.

Ser avó também traz responsabilidade, por, até sem perceber, exercermos influência na vida dos netos. Ensinando, estamos influenciando na formação de seu caráter e de valores. Até quando nos divertimos com eles, nossa postura e linguajar estão sendo observados e assimilados. Conosco eles aprendem a dar valor à família, quando lhes falamos a respeito do nosso passado, de sua árvore genealógica, mostramos-lhes fotos de seus antepassados e transmitimos-lhes tradições familiares e culturais. Outra responsabilidade, é de transmitir aos netos também e, acima de tudo, a fé cristã.

Estudos mostram que crianças que têm relacionamentos fortes com os avós são mais bondosas, generosas e com menores taxas de ansiedade e depressão no futuro. O envolvimento dos netos com os avós, de acordo com o mesmo estudo, também aumenta o desempenho escolar, a autoestima, a inteligência emocional e a fazer ou manter amigos. Assim como, que avós que têm a oportunidade de estar com os netos, não apenas emocionalmente, mas também em contribuir com suporte funcional – como buscar de vez em quando na escola, ajudar com algo financeiro ou ainda cuidar das crianças para que os pais possam sair – demonstram ter mais saúde psicológica e menos depressão do que aqueles que não fazem isso.

Enfim, muitos netos não chegam a conhecer seus avós. Poucos têm a felicidade que eu tive. A realidade é que, pertinho ou de longe, os vovôs são pessoas que marcam nossas vidas de um jeito único, deixando deliciosas lembranças para sempre…

Viva Sant’Ana. Viva todos Avós do mundo!

“Doce e Clemente. Mãe da graça e do perdão. Abrigai-nos docemente. Dentro em vosso coração! Salve, Sant’Ana gloriosa.  Nosso amparo e nossa luz. Salve, Sant’Ana ditosa. Terno afeto de Jesus. Vossos filhos desta terra. Vos suplicam que sejais.  O seu refúgio na guerra. E sua alegria na paz”. (Hino de Sant’Ana – letra de Palmyra e Carolina Wanderley e Música de Manoel Fernandes).

06/05/2022

Mãe, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba

O mês de maio é recheado de celebrações importantes que chamam as pessoas a refletir sobre diversos temas. As datas comemorativas revestem-se de importância por representarem o esforço de se manter vivo na memória coletiva algum acontecimento ou homenagem com certa relevância social. Nesse nosso artigo vamos lembrar de quatro datas, ou melhor, acontecimentos, com destaque para um deles.

Primeiramente, o dia 1°de maio, que é marcado como o Dia Mundial do Trabalho ou o Dia Nacional e Internacional do Trabalhador. Uma greve da classe operária nos Estados Unidos em 1886, deu início ao que hoje é comemorado o Dia do Trabalho em muitos países.

Segundo acontecimento, a data da abolição da escravatura, que foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil, após a Proclamação da Independência, em 1822. No dia 13 de maio de 1888, após seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país. Sobre este dia, Machado de Assis escreveu anos depois na coluna “A Semana”, no jornal carioca Gazeta de Notícias: “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto”.

Neste mesmo dia da assinatura da Lei Áurea, os católicos recordam a primeira das aparições de Nossa Senhora aos três Pastorinhos - Jacinta, Francisco e Lúcia - que ocorreu na cidade de Fátima, em Portugal, no ano de 1917. Sendo, portanto, comemorado o dia de Nossa Senhora de Fátima.

Por último, o dia das mães que é uma data comemorativa celebrada, no Brasil, no segundo domingo do mês de maio, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento, no sentido da bondade e da solidariedade humana.

Considera-se que o Dia das Mães surgiu nos Estados Unidos, bem no começo do século XX. Apesar disso, os historiadores enxergam algumas semelhanças entre essa data comemorativa e algumas celebrações realizadas na Antiguidade clássica, isto é, na Grécia e Roma antigas. Não existe uma associação direta, entre a celebração moderna e a realizada na Antiguidade, mas os historiadores pontuam-nas em diálogo para demonstrar que festivais em homenagem à figura materna não são uma exclusividade do mundo contemporâneo. Na Grécia, por exemplo, celebrava-se Reia, a mãe dos deuses. Podemos observar então que, desde tempos muito remotos, as mães são enxergadas como figuras importantes dentro da família e da sociedade.

A norte-americana Anna Maria Jarvis (1864-1948) é considerada a idealizadora do modelo contemporâneo do Dia das Mães. Em 1905, ela perdeu a mãe, que também se chamava Ann Jarvis, e entrou em depressão.

Preocupadas com ela, suas amigas resolveram dar uma festa, para perpetuar a memória da mãe de Anna e, ao mesmo tempo, tentar animá-la. Anna quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, independentes de estarem vivas ou mortas, e em pouco tempo a comemoração se propagou por todo país. Em 1914, a data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson, e passou a ser comemorada no dia 9 de maio. Aos poucos, a homenagem foi se espalhando para outros países.

Sua mãe era reconhecida como uma "grande mãezona" na comunidade onde vivia, no Estado americano da Virgínia Ocidental.  Conhecida por realizar trabalho social, com outras mães, sobretudo no período da Guerra Civil Americana. Participante da Igreja Metodista, dedicou sua vida ao ativismo social.

A popularização dessa data nos Estados Unidos fez com que ela fosse exportada para o Brasil. Os historiadores falam que a primeira celebração do tipo aconteceu aqui em 12 de maio de 1918, quando uma organização cristã realizou essa comemoração em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. O Dia das Mães só foi oficializado no Brasil na década de 1930, quando o presidente Getúlio Vargas emitiu o Decreto nº 21.366, em 5 de maio de 1932. Por meio desse documento, determinou-se o segundo domingo de maio, como momento para comemorar os sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento no sentido da bondade e da solidariedade humana.

Interessante, que a data só se consolidou anos depois, durante o regime militar (1964 a 1985).

Já pensaram o que seria o mundo sem as mães? Um caos total. As mães são essenciais para a sociedade, possuem uma tarefa árdua de ensinar, cuidar e amar. Elas possuem forte influência sobre seus filhos e seu amor é incomparável.

Ser mãe, é gerenciar diariamente crises, ser enfermeira, professora, psicóloga, chefe de cozinha, economista e uma série de outras profissões

Muitos estudiosos afirmam que durante a primeira infância, isto é, até seis anos, o caráter da criança já está moldado em 75%. Por isso, seu modo de amar, de agir, de repreender e falar, têm grande interferência em seus filhos e uma mãe sábia, cria filhos sábios e que são motivo de orgulho para ela e não de vergonha. Como está escrito em Provérbios 22:6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele”.

Ser mãe, é sonhar com o filho antes mesmo dele existir no ventre. Ser mãe, é se desdobrar em cuidados e atenção aos filhos. Ser mãe, é ver o perigo antes mesmo dele existir. Ser mãe, é dormir tarde e acordar cedo para conciliar todas as suas outras atividades. Ser mãe, é amar incondicionalmente. Ser mãe, é amar sem esperar nada em troca.

Ser mãe, é ter seu ventre abençoado por Deus e a incumbência de educar, ensinar, amar, cuidar, zelar e se doar. Educar não apenas oferecendo uma boa escola e atividades extracurriculares. Educar, vai muito além disso, nos leva a refletir no espiritual também, ensinar o Caminho da Verdade. Essa é a responsabilidade das mães, ensinar que os filhos não estarão sozinhos, após a nossa partida, eles sempre terão a companhia de Deus.

Enfim: “Ser mãe é dom de Deus!”. 

Nesse momento não tenho como não falar em Maria, mãe de Jesus. Mulher escolhida soberanamente por Deus pela qual nosso Senhor e Salvador veio ao mundo. Ela também é conhecida como Maria de Nazaré. Pouco se sabe sobre quem foi Maria, e sobre seus pais, especialmente com respeito a detalhes biográficos. Mas a história de Maria, conforme narrada nos Evangelhos, já é suficiente para entendermos a importância dessa mulher.

Ela foi uma mulher bem-aventurada e digna de ser imitada, pelo seu exemplo de humildade, fidelidade e abnegação diante dos planos de Deus. Infelizmente algumas pessoas, que criticam a teologia católica, menosprezam e subestimam completamente a mulher a quem Deus escolheu soberanamente para receber a incalculável honra de dar à luz a Jesus Cristo.

Depois desse passeio na história, sobre a criação do dia das mães e a importância dessa homenagem, quero exaltar três mulheres em minha vida.

Primeiramente minha mãe Ruth que me colocou no mundo pela graças de Deus. Me ensinou o caminho do bem, da gratidão e da justiça. O seu coração é tão grande e generoso quanto a imensidão do universo. Tem uma expressão popular que ela sempre gosta de me dizer: “se a vida te der um limão, faça uma limonada”. Esse frase carrega um sentido muito forte, que podemos utilizar como uma filosofia para superar as adversidades em nossa vida. Enfim, sempre tem uma palavra que acalma e orienta.

A segunda mulher, minha querida Maria José, minha companheira. Uma mãe guerreira sempre disposta a lutar pela felicidade de seus filhos e agora seu neto. Uma mãe fenomenal. Exemplo de força e dedicação.

A terceira mulher, minha filha Nanda. Uma mãe amorosa, carinhosa, atenta. Posso dizer, uma mãe recente mas que desde cedo carrega no coração e traduz em ações o que é ser mãe.

Concluindo, quero celebrar o dia das mães, agradecendo a todas as mães pela dedicação, amor e carinho que dão aos seus filhos diariamente, lembrando de um pequeno trecho da música “Mãe, um pedacinho do céu, composta pela dupla de compositores da Jovem Guarda Ed Wilson e Carlos Colla, gravada originalmente pelo pernambucano Leonardo Sullivan:

“Para mim sou grande.  Mas pra ela pequenino.  Sou adulto mas pra ela sou menino

Quando olha pra mim seus olhos brilham.  Um amor feito de sonho. De alegria e de esperança.

Se estou junto dela sou criança.  O mundo é muito mais bonito.  Sem pecado e sem perigo.

E ninguém no mundo vai gostar de mim.  Como ela gosta.

Se eu estou errado ou certo não importa. Na alegria ou na tristeza ela está sempre comigo.

Na hora do prazer me lembro dela.  Mas na hora da tristeza e da saudade é meu abrigo.

Por mim ela não mede sacrifícios.  Pode parecer difícil que alguém ame desse jeito.

Acontece que ela é a minha mãe.  E mãe é sempre assim.

Mãe, palavra que Deus inventou.  Um anjo que à Terra chegou.  Voando nas asas do amor.

Mãe, palavra mais doce que o mel.  Talvez um pedacinho do céu. Que Deus transformou em mulher”.

17/03/2022

Duas vezes trinta

Nos meus primeiros anos escolares, após a fase de alfabetização, uma das matérias que eu mais gostava era “História do Brasil”.  Possivelmente, se alguém naquela época me perguntasse a razão, eu não saberia dizer. Hoje responderia que essa ciência que estuda a vida do homem através do tempo, investigando o que os homens fizeram, pensaram e sentiram enquanto seres sociais, nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer em nosso tempo.

Em resumo, a história é a ciência do passado e do presente. Todavia, o estudo do passado e a compreensão do presente não acontecem de uma forma perfeita, pois não temos o poder de voltar ao passado e ele não se repete. Por isso, o passado tem que ser recriado, levando em consideração as mudanças ocorridas no tempo.

De qualquer forma, ao estudarmos história, as datas relacionadas a fatos históricos passam a ter uma importância significativa, pois fazem a gente viajar no tempo em determinado ponto específico do passado.

Não tenho dúvida que a minha primeira viagem no tempo foi quando me ensinaram sobre o descobrimento do Brasil. Assim sendo a data de 22 de abril de 1500, ficou sendo uma data marcante em minha infância,

Mas na nossa trajetória terrestre, vamos mudando de fase, passamos de criança para adolescente e depois adolescente-jovem, até atingirmos a fase de adulta e em complemento as datas relacionadas a fatos históricos, outras datas começam a marcar ou ter uma importância significativa em nossas vidas. Sejam datas de aniversários de familiares, de pessoas que passamos a conviver em nosso ciclo de amizade ou datas que marcam nossa existência.

Para mim, essa data ocorreu no dia 03 de dezembro de 1977. Já se passaram quarenta e cinco anos. Esse foi o dia que começou minha caminhada com a minha alma gêmea. A conclusão desse ciclo ocorreu em 10 de dezembro de 1982 quando através da Lei dos Homens e os Mandamentos de Deus estabelecemos nosso vínculo matrimonial. Lembrando do Livro do Gênesis (2:24): “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”.

A partir do início de um novo ciclo, novas datas relevantes passaram a fazer parte de nossas vidas. Primeiro ocorreu em 08 de janeiro de 1986 no nascimento de nossa primogênita Nanda. Depois em 26 de maio de 1989, nascimento do nosso filho Ewerton.

Outros fatos relevantes ocorreram nessa caminhada, como por exemplo as formaturas de Nanda e Ewerton, o casamento de Nanda com Thiago e por último nascimento do nosso neto Lucas.

Mas a vida continua, as vezes marcada por eventos felizes, outras vezes eventos tristes, mas isso está na mão de Deus. Enquanto isso vamos comemorando as vitórias em nossas vidas e também os aniversários dos nossos entes queridos.

Pois bem, hoje tenho uma data importantíssima para comemorar, a passagem de minha alma gêmea Maria José para uma nova fase da vida. Nesse 19 de março de 2022 (Dia de São José), minha Maria completa sessenta anos.

Desses sessenta anos, participei de sua vida quarenta e cinco anos como namorado, noivo e amante a moda antiga. Quantas cartas escritas recheadas de muito paixão na fase de namoro. Quantos sonhos que se tornaram realidades na fase de noivado. Quantos desafios e conquistas passamos juntos principalmente no início do nosso casamento e nos primeiros anos de vida de nossos filhos. Em muitas vezes você foi mãe e pai em decorrência da minha vida laboral. Teve uma participação ativa na vida escolar dos nossos pequenos, indo levá-los e busca-los na escola no nosso velho Buggy Tropical. Uma torcedora vibrante nos jogos escolares de nossos filhos. Um mulher guerreira sempre disposta a lutar pela felicidade de seus filhos e agora seu neto. Uma mãe fenomenal!

Quero reforçar e lembrar a importância da nossa fé cristã durante toda essa caminha, sem nunca esquecer que o casamento foi criado por Deus, trata-se de uma instituição sagrada entre um homem e uma mulher e que deve ser tratada com respeito e reverência. O segredo para um casamento feliz é convidar que Jesus faça parte do relacionamento, para que o casal possa ser usado para a glória de Deus, sendo uma bênção para outras pessoas. “Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe" (Mateus 19:6).

Hoje você completa sessenta anos, e que linda idade, que lindo número é esse, principalmente com este seu espírito jovem. Você demonstra todos os dias como a idade não passa de um número, e que a juventude se sente no coração e não na carteira de identidade.

Fique certa que fazer 60 anos deixa a vida leve. Parece que passamos por todas as fases complicadas e agora estamos com o poder de ressignificar nossa história.

Os japoneses consideram fazer 60 anos uma honra, e chamam à celebração é “Kanreki”. Essa etapa da vida é vista como um renascimento. Eles acreditam que quando uma pessoa completa 60 anos, ela já passou pelo ciclo do zodíaco chinês cinco vezes e agora está de volta ao seu zodíaco original.  O significado da palavra “Kanreki” deriva das palavras kan (retorno) e reki (calendário). Simplificando, fazer 60 anos é visto como sua chance de começar de novo.

Assim, lembre-se que a idade, em si, é o menos importante. O que importa é o seu momento de vida, que é um caderno em branco pronto para ser escrito.

Enfim, feliz aniversário, minha querida esposa. Que você continue sendo sempre essa mulher apaixonante e iluminada, com quem aprendi a amar. Que Deus ilumine seus passos, aonde quer que você vá. Que Ele encha seus caminhos de alegrias, te dê muitas felicidades e continue renovando seu espírito com fé, alegria e esperança, ano após ano. Que o Senhor te acompanhe todas as horas. Que Ele nunca solte a sua mão e lhe proteja contra tudo e todos.

Feliz aniversário, minha querida amada Maria!

20/01/2022

Estes seus cabelos brancos, bonitos

Em dezembro de 1979, o cantor e compositor Roberto Carlos lançou seu vigésimo LP (Long Play). Um dos carros chefes do álbum era a música “Meu querido, meu velho, meu amigo”. Segundo o próprio Roberto Carlos essa música foi feita para homenagear seu pai. Nas primeiras estrofes, ele escreveu: “Esses seus cabelos brancos, bonitos; esse olhar cansado, profundo; me dizendo coisas num grito; me ensinando tanto do mundo. E esses passos lentos de agora; caminhando sempre comigo; já correram tanto na vida. Meu querido, meu velho, meu amigo”.

Nesta época, estava no auge de minha juventude. Tinha vinte anos de idade. Mas o tempo não para. Hoje estou quase o retrato da poesia “Retrato” de Cecília Meireles que diz: “Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho ficou perdida a minha face?”.

Em 1907, o jornalista Cândido Jucá escreveu no Correio da Manhã um artigo com o título “As características visíveis da velhice”, onde dizia: “Os olhares sobre a velhice ressaltam diferentes aspectos. Os fios prateados começam a aparecer no alto da cabeça. Depois alvejam nas têmporas e após a canície costuma vir a calvície. A ruga, que é o estigma da pele, não se faz esperar. Os sentidos embotam-se. A vista diminui. O ouvido endurece-se”.

Mas, o que é a velhice? As vezes, fala-se dela como do outono da vida (tempo de transformação) seguindo a analogia sugerida pelas estações e pelo andamento das fases da natureza. Basta olhar, ao longo do ano, para a mudança da paisagem nas montanhas e nas planícies, nos prados, nos vales, nos bosques, nas árvores e nas plantas. Há uma estreita semelhança entre o biorritmo do homem e os ciclos da natureza, à qual ele pertence.

O envelhecimento é um fenômeno biológico e inerente a toda espécie. No entanto, ele, também, tem uma dimensão existencial, pois modifica-se conforme a relação do indivíduo com o tempo, com o mundo e com a própria história. Na sociedade capitalista, a velhice está vinculada à ideia de produtividade. Em alguns povos a velhice é estimada e valorizada, como por exemplo na China e no Japão. Ela é sinônimo de sabedoria. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada.

O surgimento da “terceira idade” pode ser considerado como uma tentativa de rompimento com as imagens negativas da velhice que predominavam no início do século XX. Os termos são importantes: a “velhice” é substituída pela “terceira idade”, e os “velhos” tornam-se “idosos”. Diferentemente da “velhice”, a “terceira idade” se caracterizaria por ser uma fase da vida em que as pessoas aproveitariam intensamente o seu tempo, na busca de realizações pessoais. O lazer, os cuidados com o corpo e a saúde, a ampliação do círculo social, parecem estar presentes nessas novas representações sociais do envelhecimento.

Em 1º de outubro de 1999, o então papa João Paulo II escreveu a Carta aos Anciãos, dentre tantas coisas importantes ele disse: "A terceira idade é uma dádiva de Deus e chegar a ela é um privilégio". Quem teve o privilégio de viver muito, sabe que o tempo, é um mestre muito caprichoso, por isso, aprende a olhar com serenidade o turbilhão da vida.

O Brasil, que por tanto tempo foi considerado jovem, caminha rapidamente para se consolidar como o país de uma população envelhecida. Infelizmente, por falta de planejamento, o Brasil passa a ter grandes dificuldades para lidar com seus cabelos brancos. Um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostrou que quase um quinto da população brasileira é composta por pessoas com 60 anos ou mais. O levantamento aponta que 40,3% dos brasileiros serão idosos daqui a aproximadamente 90 anos. Lembramos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera idoso aquele indivíduo que tem 60 anos ou mais de vida.

Ficar vivo por mais tempo, o que deveria ser uma boa notícia para todos, virou um desafio econômico pessoal para os brasileiros. Na parte baixa da pirâmide, onde estão os mais pobres, começa a ser sentido o aumento no número de idosos desamparados pela família. Os albergues públicos estão lotados e a demanda por vagas entre pessoas de mais de 60 anos não para de crescer, segundo estudo do Ministério do Desenvolvimento Social. Para piorar, há também o problema do enfraquecimento dos laços familiares na nova sociedade. A família, agora, não é mais aquela tradicional que sempre destacava alguém para cuidar dos mais velhos. A oferta de cuidadores familiares já apresenta evidências de redução, dadas as mudanças na família, seja com a redução do seu tamanho ou a participação maior das mulheres no mercado de trabalho. Importante ressaltar, que se o idoso tiver alguns problemas de saúde ou doenças como Alzheimer se faz necessário, em muitos casos, a recorrer a espaços para hospedar o paciente.

Entre as alternativas não familiares para o cuidado do idoso, a mais antiga é a instituição asilar, cuja origem remonta à Grécia Antiga. No Brasil e no resto do mundo, embora os asilos constituam a modalidade mais antiga de atendimento ao idoso fora do convívio familiar, ainda não há um consenso sobre o que sejam as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI). Essas instituições têm como objetivo garantir a atenção integral ao idoso, garantindo condições de bem-estar físico, emocional e social.

Pesquisa feita pela GPED-ILPI (Grupo de estudos, Pesquisas e Diagnóstico – Instituição de Longa Permanência para Idosos (GPED-ILPI), vinculado à Universidade de São Paulo (USP), mostrou que houve um crescimento acentuado do número de ILPIs no Brasil na última década. Tínhamos 3548 unidades em 2010 e em 2021 passamos para 7292. Sejam públicas, privadas ou filantrópicas.  A grande maioria das instituições brasileiras são filantrópica, incluindo neste conjunto, as religiosas e leigas. Vindo em seguida as instituições privadas com fins lucrativos e por último, em menor número, as instituições públicas.

Interessante diferenciar asilo, de abrigo e de casa de repouso. A palavra asilo na maioria das vezes remete aquele espaço velho e mal cuidado onde as famílias deixavam um idoso com quem não queriam mais a convivência. Mas isso não é bem assim. Têm bons asilos como também existem os não tão bons. Muitos asilos são municipais, alguns gratuitos, outros pedem uma contribuição mensal (próprio salário do idoso), e neste caso podem não ter todas as melhores condições para o idoso. Mas para quem não tem condições financeiras de pagar outro espaço, acaba escolhendo este tipo de instituição. Por lá, podem ser contemplados além dos idosos, dependentes químicos ou órfãos.

Os abrigos costumam proporcionar boa estrutura, com profissionais e equipamentos. Também é indispensável o pagamento para o idoso ficar neste espaço. Costumam oferecer um espaço com boas condições e infraestrutura. É cobrada taxa mensal para a hospedagem.

As casas de repouso oferecem atendimento personalizado ao paciente, com equipes especializadas e à disposição para realizar o tratamento e cuidados específicos para cada idoso. Com infraestrutura completa, esse local permite a sociabilização do paciente e conta com atividades para a distração do idoso. É o espaço que mais se assemelha à casa do paciente. Também é cobrado valor pela estadia.

Atualmente muitos idosos garantem o sustento e a manutenção de sua família com o pouco de recurso que dispõe (aposentadoria, pensões e atividades remuneradas). Esse perfil é conhecido como os idosos arrimo de família. Assim, o idoso vem tornando uma figura essencial em seu meio, não exercendo apenas a função de cuidador, mas como chefe de família, responsável pela sobrevivência de seus componentes

Segundo estimativa do Valor Econômico avalizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a morte de idosos (60 anos ou mais) por COVID retirou R$ 3,8 bilhões da economia.  Conforme o instituto, em 25,4 milhões de domicílios no país vivem idosos, dos quais 15,4 milhões, mais de 50% da renda vêm do idoso. “Em muitos casos, quando o idoso morre, a família entra na pobreza”, declara a economista do Ipea Ana Amélia Camarano, especializada na 3ª idade. “No Brasil, ainda se entende a Previdência Social como gasto e não como elemento estrutural do Estado de bem-estar social”.

A Previdência Social mudou a estrutura dos lares, que viam os idosos como um peso. Muitas vezes, o aposentado não é o mantenedor da casa, mas ajuda na criação ou na educação de netos. A crise econômica, responsável pelo alto nível de desemprego, explica o aumento do número de aposentados que vivem hoje como arrimo de família. À medida que o mercado de trabalho demora para se recuperar, as aposentadorias acabam ganhando espaço no orçamento familiar. A geração que hoje depende dos pais pode ter dificuldade para se aposentar. Em breve, serão eles os idosos. E sem renda.

Em um terço dos lares brasileiros, vive pelo menos um idoso. Neles, 43% dos adultos com menos de 60 anos não trabalham, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O impacto da morte de um idoso aposentado ou pensionista, pode levar a uma queda de metade da renda familiar. Para o futuro, teremos um cenário mais difícil para quem ainda está na juventude. Temos maior informalidade hoje. Os idosos de agora viveram um momento melhor na economia e puderam se aposentar, mas vai chegar um momento em que as pessoas vão envelhecer sem aposentadoria.

Para piorar essa situação, existe um senso comum que coloca o idoso como incapaz e, por isso, é um grupo marginalizado socialmente. O Estado brasileiro valoriza quem trabalha, quem produz renda. Então, a terceira idade é associada àquela que vai quebrar a Previdência, um tema em destaque na atual crise econômica. Isso torna o idoso ainda mais exposto a abusos e violência.

Embora existam leis de proteção a esse grupo, como o Estatuto do Idoso e o artigo 230 da Constituição Federal, falta a conscientização por parte da sociedade para o respeito ao direito à autonomia e à expressão da vontade da terceira idade.

Também não podemos esquecer que as condições urbanas afetam profundamente a saúde de seus moradores, principalmente dos idosos. Muitos dos idosos nasceram em áreas rurais, mas estão envelhecendo em áreas urbanas que são precariamente equipadas para encorajá-los a continuarem ativos. A habilidade em se manter ativo ao longo da vida pode ser crucial para conservar a independência, ter acesso a serviços locais, se manter em forma e criar oportunidades importantes para a sociabilidade. Pequenas intervenções urbanas, tais como: posicionamento de faixas para pedestres, pontos de ônibus e banheiros públicos podem estimular idosos a caminharem e serem mais ativos.

Infelizmente, em um mundo em que os únicos valores são a juventude e o sucesso profissional, o declínio de ambos faz com que as pessoas não encontrem mais seu lugar neste universo e ainda se tornam vítimas de atendimento de saúde precário e de outros tipos de violência urbana e até familiar.

Segundo um ranking da organização não governamental Help Age International, o Brasil é um dos piores países da américa do Latina para se envelhecer. Ficamos apenas a frente da Venezuela e do Paraguai. No mundo, ocupamos a posição número 56 entre 96 nações referidas. Esse é mais um grande desafio dos governos do Brasil.  Nosso país precisa avançar rapidamente, nas políticas públicas de prevenção, acompanhamento e zelo dos idosos. O país envelheceu.

Enquanto muitos de nós evitamos pensar sobre os desafios de envelhecer (o que seria muito melhor do que desviar do assunto), o envelhecimento vai inevitavelmente nos confrontar. Deve, portanto, ser uma prioridade para cada um de nós.

É preciso encarar a velhice como um processo absolutamente natural, como a infância ou adolescência. Hoje, vivemos mais do que há 30, 40 anos. Então é preciso parar e pensar o que se quer construir e quais são as possibilidades para a própria vida, levando em conta esse tempo a mais que temos para viver. Alguém já disse um dia, "envelhecer é o único meio que temos de viver mais tempo”. Segundo o célebre escritor e cineasta sueco Ingmar Bergman, falecido em 2007, "envelhecer é como escalar uma grande montanha: enquanto escala, as forças diminuem, mas o olhar é mais livre, a visão mais ampla e mais serena".

Respeitar as pessoas idosas é tratar o próprio futuro com respeito. Os idosos têm direito a esse respeito. Não seremos pessoas dignas ou um país digno se não dignificarmos nossos idosos. Segundo o Papa Francisco, "abandonar um idoso é um pecado mortal" e você pode encontrar na sua trajetória o que você perdeu, mas nunca encontrará o que você abandonou!

É importante reforçar, que a presença do grupo familiar na vida da pessoa idosa é de extrema importância, pois pode significar apoio e ajuda, contribuindo na restauração de forças para lidar com as perdas advindas do processo de envelhecimento. É preciso cuidar da fragilidade de quem cuidou da nossa. De preferência com e por amor, mas também porque é nossa obrigação. Tenho certeza se perguntarmos a maioria dos idosos se ele deseja ir para qualquer tipo de instituição, ele vai dizer que pretende ficar em casa.

Concluímos, com algumas orientações para vivermos mais e melhor, nessa fase da vida, que chamamos “terceira idade”: não se apegar às normas e "tabus", ignorar os preconceitos, ser "autêntico", não viver em função do que os outros pensam, valorizar você mesmo, evitar sempre que possível fazer o que não gosta, ter um "hobby" e dedicar parte do seu tempo a ele, conviver com outras pessoas, amigos e familiares, fugir do isolamento e da solidão, ter sempre algo para fazer, nunca ficar totalmente ocioso,  ter sempre um "ideal" para ser conquistado ou pelo menos mantido, o homem começa a morrer quando não tem mais ideal. Os anos enrugam a pele, a falta de atividade e de ideal enrugam o espírito.

O poeta grego Focílides advertia: “Respeita os cabelos brancos: presta ao velho sábio aquelas mesmas homenagens que tributas a teu pai”.

08/01/2022

DÁDIVA DE DEUS

Antes de entrar em uma nova fase da minha vida, denominada aposentado, eu trabalhava na Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC).

Durante um determinado período, tivemos um gerente Recursos Humanos que todas as vezes que a equipe comemorava o aniversário de um colega, na sua mensagem para o aniversariante, lembrava dos acontecimentos históricos daquela data.

Copiando a ideia colega Guilherme Poetzscher, relembro de alguns eventos históricos que ocorreram alguns anos atrás na data de 08 de janeiro. Em 1935 nasce o cantor e ator norte-americano Elvis Presley e em 1976 tivemos o nascimento do cantor e compositor brasileiro Alexandre Pires. Também podemos lembrar que nessa mesma data, sendo em 1959, ano que eu nasci, Fidel Castro chega a Havana, a capital de Cuba, depois de derrubar Fulgêncio Batista e assumir o poder. Talvez esses acontecimentos sejam importantes para os fãs clubes e os analista políticos. Não para mim.

Bem, da mesma forma que destaquei a aposentadoria como uma nova fase da minha vida, posso afirmar que em 08 de janeiro de 1986, também iniciei uma nova fase. Não como profissional, mas como pai.

O jornalista Hélio Fraga no seu livro “Ser pai”, escreveu: “Não se brinca de casar e nem de ser pai e mãe. O casamento tem de ser assumido na plenitude de sua dignidade, de seu compromisso e de sua responsabilidade. Filhos não são objetos descartáveis. São seres humanos, gerados com amor e por amor. Não para serem usados e manipulados, mas para serem valorizados e amados. Entre todas as graves e sérias responsabilidades que um homem pode assumir, ao longo de sua existência, a maior delas é a de ser pai.

Ser pai é muito mais importante (nobre e relevante) que ser ministro do Supremo, CEO da mais poderosa multinacional, general de 4 estrelas, secretário de Estado, governador, prefeito, conselheiro ou diretor de qualquer entidade. Mais importante até que a Presidência da República. Na hora de gerar um filho, todo homem deveria tremer em seus alicerces, não de prazer, mas de viva emoção diante da responsabilidade que está assumindo naquele momento, porque é um ato de múltiplas repercussões presentes e futuras”.

Nanda, minha filha. Não tenho dúvida que ser pai é descobrir que o amor incondicional existe, o maior e mais sincero de todos está bem diante de nós. E foi assim que me senti, quando vi você pela primeira vez, logo após o parto, nos braços de uma enfermeira. Branquinha e vermelhinha. Que emoção. Principalmente quando lhe segurei no colo pela primeira vez sabendo que você chegou ao mundo perfeita e cheia de saúde. Senti naquele momento que você seria uma das pessoas mais especiais que eu teria na minha vida.

Naquela manhã de 08 de janeiro de 1986, eu e Maria José, deixávamos de ser apenas um casal para sermos pais. Uma verdadeira família. Nunca podemos esquecer que os filhos são uma dádiva de Deus.

Mas, os como bem definiu o escritor libanês Khalil Gibran, nossos filhos não são nossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de nós, mas não de nós. E embora vivam conosco, não nos pertencem. Somos apenas os arcos dos quais nossos filhos são arremessados como flechas vivas nesse mundo de Deus.

Já faz algum tempo minha pequena Nanda, que você também está numa nova fase da vida. Não sozinha, mas com o jovem Thiago que através da aliança matrimonial começaram uma vida conjugal.

Há três anos atrás essa caminhada conjugal, gerou o pequeno Lucas -  a coroa dos avós como citado na Bíblia em Provérbios 17:6.

A escritora Raquel na sua crônica “A arte de ser avó”, que mais parece uma declaração de amor do que uma crônica, diz que os netos são como heranças: “você os ganha sem merecer”.

Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

Filha, hoje você completa mais um ano de vida. É um dia muito especial e cheio de felicidade!  

Parabéns, filha querida! Obrigado pelo eterno privilégio de ser o seu pai e por me dar mais orgulho a cada ano que passa porque é um exemplo de pessoa íntegra, e se comporta de maneira digna em todas as áreas da sua vida.

Que a cada manhã Jesus abençoe seus passos e que nunca lhe falte o brilho do sol para os dias difíceis, a luz da lua para as noites inquietas e o fulgor das estrelas iluminando o seu caminho. Eu estarei sempre aqui, torcendo muito por você e para você, auxiliando os seus dias no que for preciso enquanto nosso Deus me mantiver nessa terra no cumprimento de minha missão.

Um balde de amor, saúde, paz, sucesso e uma chuva de felicidade é o que mais lhe desejo! Não importa a idade que você complete. Você será para sempre a minha pequena Nanda. Feliz aniversário, filha querida!