Em 1996, eu e minha Maria, juntamente com nossos compadres Manu e Vera, tivemos a oportunidade de viajar pela primeira vez para a cidade de Caicó, no interior da Rio Grande do Norte, para participar da festa de Sant’Ana, que é uma das mais tradicionais festas religiosa desse estado.
A festa de Sant’Ana de Caicó acontece anualmente sempre a partir da quinta-feira que antecede o dia 26 de julho, dia de Sant’Ana no calendário litúrgico, e se encerra com uma grande procissão no domingo subsequente, totalizando 10 dias de comemorações. Em 2010 foi tombada como patrimônio imaterial do Brasil. É o maior evento sócio-religioso do Rio Grande do Norte. A festa é uma mistura de sagrado e profano que atrai turistas de todos os cantos do RN.
Em 1584, uma bula do papa Gregório XIII instituiu uma festa, comemorada no dia 26 de julho, mês que passou a ser denominado “Mês de Santa Ana”.
Desde os primórdios da história, as lendas são utilizadas para explicar fatos desconhecidos. Os gregos como os romanos já explicavam suas origens através de lendas. Herdamos esse gênero literário. A origem de Caicó não foi diferente. Não sabendo ao certo explicar sua origem, os literatos ou historiadores utilizaram-se das lendas do vaqueiro e do poço de Santana que se descrevem de várias formas, para expressar o surgimento da cidade de Caicó.
As lendas do vaqueiro e do poço de Santana são tão antigas quanto a própria história da velha Caicó. Fruto da fantasia humana, ela relata a cidade na sua origem e, mais importante ainda, cultua o que mais caracteriza o local na época. A história das lendas de Caicó não foi apenas um capitulo a mais na história da cidade. Se não e o mais importante, possui seu valor pelo pioneirismo e o relato descritivo de seu meio geográfico, fatos que enriquecem a história da cidade.
A celebração da Festa de Sant’Ana remete, constantemente, à lenda de fundação da cidade, encenando uma luta dos primeiros moradores contra a adversidade da natureza ainda não “domesticada”. Entre as diferentes versões existentes, escolhemos a escrita pelo jornalista, jurista, educador e estudioso das tradições populares Manoel Dantas (falecido em 1924), conta no seu livro “Homens de Outrora” que: Quando o Sertão era virgem, a tribo dos “Caicos”, celebre por sua Ferocidade, julgava-se invencível, porque Tupã vivia ali, encarnado num Touro bravio que habitava um intrincado mofumbo, existente no local onde está, hoje, situada a cidade do Caicó. Certo dia, um vaqueiro experto, penetrando no mofumbo, viu-se, de repente, atacado pelo touro sagrado, que iria, indubitavelmente, matá-lo. Rapidamente inspirado, o vaqueiro fez o “voto” a N.S. Santana de construir ali uma capela, se o livrasse de tamanho perigo. Como por encanto, o touro desapareceu. O vaqueiro destruiu a mata e iniciou, logo, a construção da capela. O ano era seco e a única aguada existente era de um poço do rio Seridó. O vaqueiro fez novo “voto” a S. Anna para o poço não secar antes de concluída a construção da capela. O “Poço de Santana”, como ficou, desde então, denominado, nunca mais secou. Reza a lenda que o espirito do deus dos índios, expulso do mofumbo, foi se abrigar no poço, encarnando-se no corpo de uma serpente enorme que destruirá a cidade, ou quando o poço secar, ou quando as águas do rio, numa cheia pavorosa, chegarem até o altar-mor da matriz do Caicó onde se venera a imagem da mãe de Nossa Senhora.
A narrativas lendária, mostra que a devoção a Sant’Ana, padroeira de Caicó, tornou-se um elemento fundamental para a construção da identidade caicoense. A construção da primitiva capela, em 1695, e a história de alguns milagres creditados a santa motivou a relação de devoção que o povo de Caicó e de toda região do Seridó nutre por Sant’Ana. O culto a Sant’Ana em suas “famosas” e “tradicionais” festas religiosas promovem uma verdadeira transformação no que se refere a cultura local.
A festa de Santana significa o momento em que as famílias seridoenses voltam a se encontrar restabelecendo os antigos laços que o tempo e a distância cortaram, com a partida de muitas pessoas para outras regiões do pais, reafirmar valores cristãos e acionar registros específicos da cultura seridoense, sobretudo no que diz respeito à sociabilidade fundada no interconhecimento.
Inspirados no amor materno da santa, os caicoenses aplicam os princípios da hospitalidade e da generosidade irrestrita. As casas de família acolhem os visitantes, aplicando sem restrição os preceitos cristãos.
Em junho de 2012, o Blog de Kleber Nóbrega, publicou um artigo com o nome “Caicó, cidade Servidora!”, que retrata bem o povo Caicoense: “Pode um cidade inteira ter comportamento servidor? Você conhece alguma cidade em que as pessoas parece terem verdadeiro prazer em servir bem? Você conhece algum lugar onde as pessoas parecem estar, sempre, de bom humor e felizes? Pois é esta a sensação que tenho sempre que vou a Caicó, no Rio Grande do Norte”. E continuou: “Um dia ainda faço uma pesquisa científica sobre isto”.
Para alguns, a festa de hoje não é a mesma de outrora, pois, naquela época, assim diziam, por volta de 1940, era só novena. Quando terminava, o povo ia para a praça andar, não havia nada de barracas de Comidas ao redor. Era também proibido bailes. Após as novenas, sempre havia um leilão (atualmente realizado nas noites de novena). Começaram a aparecer os Parques, pois antes só existiam os carrosséis que eram empurrados a mão. Era uma Casa de jogo, um barzinho, a banda de música tocando no coreto até as 10 horas, devido à luz a motor apagar nesse horário.
Nossa Senhora de Santana é venerada ao redor do mundo. Dentro da igreja católica é uma das personalidades mais respeitada. A sua história envolve muita luta, sofrimento e também milagres. Apesar de muitas pessoas não fazerem ideia de quem ela foi, sua figura está no centro da Igreja Católica.
As primeiras referências a ela vêm do Protoevangelho de Tiago, também foi chamado de ¨Natividade de Maria¨, um texto que não consta na Bíblia, e em outros textos apócrifos. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes.
O Evangelho Apócrifo de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro esposo, José.
São Joaquim era uma pessoa de grande influência, principalmente na região de Jerusalém, onde moravam. Além da influência, era pertencente à família real de Davi. Apesar do grande prestígio, o casal passaria por grandes dificuldades pelo caminho, em razão de uma dificuldade para gerar filhos.
Mesmo tentando durante anos, São Joaquim não foi capaz de engravidar sua esposa Ana. Na época, a culpa pela infertilidade era automaticamente atribuída à mulher. O homem nunca era culpado por falta de fertilidade. Quando as pessoas da comunidade notaram esse fato, passaram a criticar Sant'Ana.
Acreditava-se que a falta de fertilidade era um castigo de Deus. São Joaquim também sofreu na pele os julgamentos, principalmente por parte dos sacerdotes. Eles criticavam o fato de ele não ter filhos. Apesar de todo o sofrimento, tanto Sant’Ana quanto São Joaquim permaneceram crentes, orando a Deus e pedindo por um milagre. Atendidos em suas orações, foram agraciados com uma filha, a qual deram o nome de Maria, mãe de Jesus. Sendo mãe de Maria, é portanto avó de Jesus Cristo. Por isso foi designada padroeira dos avós. Venerada ainda como padroeira das mulheres casadas, especialmente as grávidas, protetora das viúvas, dos navegantes e marceneiros.
Bem, uma das coisas que sempre ouvi as pessoas dizerem é que não havia nada melhor do que ter netos. Deus que, nessa vida, foi sempre muito generoso comigo, me fez avô aos 59 anos. Devo confessar que desde que o vi pela primeira vez passei a desfrutar de um sentimento que julgava nunca ter experimentado antes. Eu nunca havia experimentado isso antes ou havia esquecido do que sentia quando do nascimento dos meus filhos. Passei então a levantar as razões, por que sempre que o tenho por perto ou que vejo as suas fotos e pequenos filmes, o meu olhar brilha e o ar de felicidade fica estampado em minha face.
Quando meu neto invade a minha casa, sinto que o meu coração se enche da mais plena alegria proporcionada por Deus.
Quando somos pais estamos num período de nossa vidas em que ficamos absorvidos pelo nosso trabalho. Os filhos dividem o espaço com essas grandes preocupações. As inquietações de então hoje não existem mais. Hoje, temos um melhor entendimento do que seja a vida e do valor que ela tem e, sendo assim, ao olharmos aquela criança constatamos a maravilha do que foi o seu nascimento e quão magnífico é cada progresso conquistado.
Nesta altura da vida somos orientados menos pela razão e mais pela emoção e a nossa emotividade aflora.
Ser avó e avô é como amar o filho pela segunda vez, é ter uma segunda oportunidade de participar na criação de crianças na família, mas, desta vez, de forma mais leve e tranquila.
Ser avó ou avô é uma das coisas mais fantásticas que pode acontecer na vida de uma pessoa. Especialmente porque, em geral, a surpresa vem na terceira idade. Quando a vida parecia ter sossegado. Um serzinho vem iluminar a casa.
Cena mais comum na casa da avó é crianças correndo. Se você não tiver o mínimo de equilíbrio, não consegue acompanhar. Aquele dia entediante, sem graça e silencioso é completamente transformado no momento em que os netos pisam na casa. Ter um neto é sinônimo de vitalidade emocional. A casa simples torna-se um parque de diversões imenso.
Netos têm a capacidade de imaginar coisas incríveis e levar avós a viagens inéditas. Ser avó é retornar a infância, em viagem de primeira classe.
Muitas vezes, papais ou mamães exigentes e rigorosos, quando se tornam avós, o coração amolece, prontos para a próxima brincadeira ou para mais uma historinha antes de dormir.
Nos dias de hoje, o papel dos avós vão além do agrado aos netos, eles participam ativamente da rotina das crianças e são personagens importantes na educação compartilhada com os pais. Todavia devem procurar respeitar as regras familiares, especialmente quando participam em grande frequência da rotina da criança, já que a discordância gera inconsistências e insegurança para os netos, bem como pode resultar em conflitos e desrespeito das crianças e adolescentes aos pais.
Ser avó também traz responsabilidade, por, até sem perceber, exercermos influência na vida dos netos. Ensinando, estamos influenciando na formação de seu caráter e de valores. Até quando nos divertimos com eles, nossa postura e linguajar estão sendo observados e assimilados. Conosco eles aprendem a dar valor à família, quando lhes falamos a respeito do nosso passado, de sua árvore genealógica, mostramos-lhes fotos de seus antepassados e transmitimos-lhes tradições familiares e culturais. Outra responsabilidade, é de transmitir aos netos também e, acima de tudo, a fé cristã.
Estudos mostram que crianças que têm relacionamentos fortes com os avós são mais bondosas, generosas e com menores taxas de ansiedade e depressão no futuro. O envolvimento dos netos com os avós, de acordo com o mesmo estudo, também aumenta o desempenho escolar, a autoestima, a inteligência emocional e a fazer ou manter amigos. Assim como, que avós que têm a oportunidade de estar com os netos, não apenas emocionalmente, mas também em contribuir com suporte funcional – como buscar de vez em quando na escola, ajudar com algo financeiro ou ainda cuidar das crianças para que os pais possam sair – demonstram ter mais saúde psicológica e menos depressão do que aqueles que não fazem isso.
Enfim, muitos netos não chegam a conhecer seus avós. Poucos têm a felicidade que eu tive. A realidade é que, pertinho ou de longe, os vovôs são pessoas que marcam nossas vidas de um jeito único, deixando deliciosas lembranças para sempre…
Viva Sant’Ana. Viva todos Avós do mundo!
“Doce e Clemente. Mãe da graça e do perdão. Abrigai-nos docemente. Dentro em vosso coração! Salve, Sant’Ana gloriosa. Nosso amparo e nossa luz. Salve, Sant’Ana ditosa. Terno afeto de Jesus. Vossos filhos desta terra. Vos suplicam que sejais. O seu refúgio na guerra. E sua alegria na paz”. (Hino de Sant’Ana – letra de Palmyra e Carolina Wanderley e Música de Manoel Fernandes).