De dois em dois anos, somos convocados, para não dizer obrigado, pela Constituição, a sufragar nas eleições, sendo facultativo para os maiores de 16 anos e menores de 18, assim como para os maiores de 70 anos e analfabetos. Pessoalmente, questiono a faixa etária permitida a votar, isto é, jovens maiores de 16 anos e menores de 18. Nessa faixa eles não podem ser responsabilizados criminalmente pelos seus atos, mas podem ser responsáveis em eleger aqueles que serão governantes do país. Muitos adolescentes, não estão preocupados com o rumo que o resultado eleitoral pode acarretar ao país. Alguns votam em candidatos por influência dos pais ou amigos. Acabam tirando o título de eleitor pressionados pela família, mesmo se sentindo despreparados em relação à política para escolher um candidato.
Uma das frases mais conhecida de Aristóteles, um dos grandes filósofos gregos, é justamente onde ele diz que o homem é um animal político. O homem é um animal político pois ele não pode viver sozinho. Necessita da comunidade, ou seja, viver junto com outros seres humanos, para se tornar completo. A vida em comum pressupõe a política, então o homem é um ser político. Aristóteles também levanta a tese de que o ser humano é o único ser com capacidades discursivas. Dono da palavra (logos), o homem é capaz de, através de uma linguagem complexa, transmitir aos outros homens aquilo que pensa para alcançarem objetivos comuns. A palavra, porém, está destinada a manifestar o útil e o nocivo e, em consequência, o justo e o injusto.
O que não se pode perder de vista, é aquilo como a política foi pensada antes de Cristo: “A política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça.” (Aristóteles).
Tive um professor de Ciência Política no Curso de Graduação de Ciência Contábeis, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que dizia que política fazemos em todos momentos de nossa vida. Seja na família, no trabalho e na vida social.
O escritor João Ubaldo Ribeiro lembra que a política já foi chamada de arte, pois requer um talento especial, uma sensibilidade, um jeito especial de quem a pratica. Já foi chamada de ciência, pois é possível sistematizar o que se observa a respeito de como os homens se comportam em relação ao poder. De filosofia, porque sempre há indagações do tipo: por que alguém tem que mandar e outros obedecer? O homem é mau ou a vida em sociedade o faz assim? O homem precisa de um governo forte ou não? A política também é uma profissão, através da qual ordenamos a nossa vida em coletividade, é a profissão dos que se dedicam a influenciar os rumos da sociedade em que vivem.
Infelizmente, mesmo chamada de arte, ciência, de filosofia e de profissão, no caso específico da política brasileira, sempre foi pródiga em meias verdades, passadas de perna, falsas promessas e também em trapaças, fraudes, falácias – algo que nós, eleitores, aprendemos a resumir simplesmente como mentiras.
A primeira razão para se ressentir de ouvir mentiras é que é uma forma de desrespeito. Quando você mente para mim, você me trata como uma coisa a ser manipulada e usada para seus propósitos.
De uma eleição para outra, aumenta cada vez mais o número de políticos enganadores e eleitores enganados. Eles têm uma capacidade extraordinária de serem atores de primeiríssima qualidade.
O fato de muitos políticos de carreira serem mentirosos descarados e compulsivos, não é apenas uma característica inerente à classe política; é também um reflexo do eleitorado.
Uma pequena pergunta, você acredita no que os políticos dizem, ou melhor, no que prometem?
Desde criança que conheço uma crença popular que diz: “Quem mente, rouba” e “Quem rouba, mente”. A filosofia popular é profunda e está correta; pois quando alguém mente está roubando a confiança do outro. É plenamente aceitável a mentira folclórica, como a do pescador; aquela proferida na mesa de um bar para o mentiroso se vangloriar de algum feito, todavia quando praticada pelos políticos a mentira rouba a confiança de um país.
O brasileiro é bonzinho. Fala com humor, raramente com raiva, dos grandes mentirosos. E adotou figuras e provérbios inocentes, como o do título, para falar de mentirosos que muitos prejuízos deram e dão ao povo. Em outras culturas, a mentira é punida com mais rigor, inclusive na memória popular.
Quando um pai ou uma mãe, quer educar um filho para dizer quais as consequências da mentira, o símbolo da mentira é o Pinóquio. O boneco Pinóquio, criado por seu dono, Gepeto, tinha um nariz que crescia à medida que mentia. Nos Pinóquios Políticos nada cresce, além da justa revolta que provoca nos brasileiros dignos. Mas, não podemos esquecer que na história escrita por Carlo Collodi em 1883, Pinóquio detestava se esforçar para qualquer coisa, adorava facilidades. Quando foi enganado por uma raposa que se fingia de manca e um gato que, como a raposa, se fingia de cego, foi bater numa cidade nomeada de “Engana Trouxas”. Era terrível o lugar! Tinha muita sujeira, pobreza, destruição e muitas outras “ruindades”, era mesmo um lugar horrível. Mas mesmo assim Pinóquio não conseguiu perceber nada.
Essa raposa e esse gato não lembram os políticos brasileiros enganando o povo na terra dos “Engana Trouxas”? E o Pinóquio não parece o povo que não percebe que está sendo enganado com as promessas dos políticos?
O economista estadunidense, crítico social, filósofo político Thomas Sowell disse a seguinte frase: “O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-lo”.
Muitos eleitores dizem priorizar as propostas e as ideias defendidas pelos candidatos. Outros o passado político do candidato, o partido a que pertence o candidato, indicação de amigos e familiares. Mas na verdade, o que me parece é que o voto ideológico predomina entre os eleitores. Infelizmente vivemos em um momento “polarização política” – a palavrinha da moda. Isso fica bem claro nas ferramentas da internet. De uma hora para outra, você é desafiado por algum “intelectual” de esquerda ou direita tentando lhe enfiar goela abaixo a posição dele, e já de antemão desrespeitando a sua opinião. Temos sempre que nos lembrar que, política é manter saudável uma amizade, independentemente da posição “política partidária” ou ideológica. É estar presente no dia a dia da família. É respeitar o voto do amigo. Do pai. Da mãe. Do vizinho. Do colega de serviço.
Uma coisa é fazer acordos políticos para governar bem. Outra, e bem diferente, é fazer promessas, muitas vezes até milagrosas, para conquistar o voto do eleitor e depois não cumprir nem mesmos as viáveis, o que não deixa de ser um “estelionato eleitoral”.
Muitos políticos prometem mundos e fundos na hora em que precisam se eleger, se dizendo até amigos das pessoas das quais necessitam para obter êxito nos seus pleitos. Após a vitória, as promessas não são cumpridas e os tais amigos das horas difíceis são esquecidos.
Frequentemente deparamos com algumas promessa de candidatos inviáveis de serem realizadas ou melhor, impossível de ser realizada. E até promessas feitas por candidatos estão fora das atribuições desses cargos.
Um fato político bastante folclórico ocorreu numa eleição para prefeito da cidade de Natal. Um candidato teve como sua principal proposta a construção de uma ponte para ligar Natal a Fernando de Noronha. Mesmo não tendo sido eleito, o candidato teve uma votação que foi considerada expressiva na época.
Não se pode negar que o eleitor também tem culpa nesse contexto. Mesmo porque quando “a promessa é grande, o santo desconfia” ou deveria desconfiar.
No passado, o voto de cabresto no Brasil estava relacionado ao domínio direto, "uma força de superioridade direta dos antigos proprietários de fazendas com os seus subordinados". Com o voto aberto, eleitores eram obrigados a votar em quem o grande fazendeiro quisesse, sujeitos à violência ou fiscalização de capangas. O chamado voto de cabresto ainda existe, apenas passou de forma rudimentar e virulenta para um modelo moderno e sofisticado.
Os “velhos coronéis continuam em ação, mas a vontade do eleitor também é violada por traficantes e milícias. As milícias, nas comunidades pobres, obrigam os moradores locais a votar em quem eles querem. Se a população não cumpre o que deseja a milícia, esta pode abusar do poder, causar mortes ou parar de ‘ajudar’ os moradores.
Temos atualmente o chamado ‘voto de cajado’. Religiosos “impõem” aos fiéis um certo candidato, ou como diriam os próprios, os ‘candidatos oficiais da igreja’.
Sabemos que não é fácil escolher um candidato nos tempos atuais. Com o crescimento populacional da maioria das cidades brasileiras, pouco se conhece de um candidato. Antes, no interior sabíamos de qual família era um candidato. Chegamos a dizer: fulano filho de beltrano. Hoje, quem não está envolvido diretamente na política, conhece os candidatos pelos programas eleitorais. Às vezes parece até um circo de horrores. Da impressão que não sabem nem qual será a sua função no cargo que são candidatos. Mas, a forma tradicional é muito mais atacar os adversários, do que qual será o seu plano de governo. O que vemos é um falar do outro. Campanha política se faz falando de soluções e não de erros.
É muito importante procurarmos conhecer bem os nossos candidatos. Não por ideologia política. Os que já assumiram cargos públicos fica mais fácil, pois podemos buscarmos conhecer como foi sua atuação. Durante o mandato, lutou pelos projetos que beneficiavam a população ou passou a maioria do tempo votando contra para prejudicar os adversários políticos ou fazendo coligações para tirar vantagens pessoais? Por isso, entendo que devemos estar atento à atuação de cada candidato. Aqueles que possam tentar comprar votos, ou oferecer alguma vantagem em troca de apoio político, certamente continuarão a promover a corrupção se forem eleitos.
Pessoas que se recusam a aceitar verdades desagradáveis, quando estas são ditas em épocas de bonança não têm direito de, no futuro, reclamar que os políticos mentiram e que elas foram enganadas. Qualquer um pode ser candidato, mas a política positiva se faz com respeito, humildade, boas práticas e sem fakenews, a começar pela campanha.
Às vezes fico pensando, se eu fosse candidato a prefeito será que meus amigos votariam em mim? Já tenho a minha fala para o primeiro discurso: “Vote no futuro que você quer ver. Juntos, podemos transformar nossa cidade em um lugar melhor para todos, e principalmente para nossos filhos. Uma cidade mais justa e igualitária. Honestidade, trabalho e compromisso serão minha bandeira. Juntos vamos transformar ideias em realidade. Para resolver o problema da seca no munícipio, farei um projeto para trazer água dos Rio Araguaia, Tocantins, Amazonas e o Nilo todos para dentre do rio São Francisco e entrar com um criatório de peba (tipo de tatu) para cavar poços artesianos. Para a agricultura, trarei da China enxadas de controle remoto. Uma maravilha para o homem do campo. Ele vai ficar no alpendre da casa numa rede ortopédica, só programando a plantação. Teremos em nosso governo um programa social inédito: “Minha vaca minha vida”. Nesse projeto toda família carente que tiver cinco crianças ganhará uma vaca. Se tiver dez ganhará duas. Cinquenta criança são dez vacas. A partir daí já se torna um fazendeiro. Na área industrial, traremos uma fábrica de roupa para jumento. É ridículo andarem nu no meio da rua. De noite todos com colete colorido para evitar acidente. Farei também um dutoleite. Trarei leite encanado para todas as residências. Na área da saúde teremos um projeto de cura para o coração. O Santo remédio é fechar os olhos. Aquilo que os olhos não veem o coração não sente. Criaremos o projeto Bolsa Cachaceiro, onde vai beneficiar todos cachaceiros lisos da nossa cidade. Promulgaremos um decreto com vínculo religioso. Os enterros só aconteceram nos domingos, tendo em vista que quem morre de segunda a sábado, como está todo mundo trabalhando, os velórios perdem aquela folia por falta de plateia. Depois desse discurso, será que vou ser eleito? Fiquem tranquilos. Não serei candidato.
Na verdade, a política deveria ser um instrumento de transformação da sociedade e o sentido da democracia está na possibilidade de o cidadão exercer a soberania popular, que se concretiza pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto na escolha dos governantes. Daí o eleitor tem em suas mãos um importante instrumento de mudança política e social: o voto.
Apesar de toda essa “sujeira” que existe na política, nós não podemos deixar de sonhar. É crucial não perder a esperança em dias melhores, mantendo a resiliência, o patriotismo e a fé em Deus. Sabemos que a campanha eleitoral é uma grande comédia, onde depois que termina se transforma no drama de muita gente, mas temos que esperança de melhores dias ou cair no abismo da desilusão. Como afirmava Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.
A política tem suas características "exóticas"; na época de campanha eleitoral, candidatos mudam de nome, mudam de aparência e até o discurso, mas a essência (caráter) não muda! (Claudinei Ferreira Soares).