24/10/2024

A política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça

De dois em dois anos, somos convocados, para não dizer obrigado, pela Constituição, a sufragar nas eleições, sendo facultativo para os maiores de 16 anos e menores de 18, assim como para os maiores de 70 anos e analfabetos. Pessoalmente, questiono a faixa etária permitida a votar, isto é, jovens maiores de 16 anos e menores de 18. Nessa faixa eles não podem ser responsabilizados criminalmente pelos seus atos, mas podem ser responsáveis em eleger aqueles que serão governantes do país. Muitos adolescentes, não estão preocupados com o rumo que o resultado eleitoral pode acarretar ao país. Alguns votam em candidatos por influência dos pais ou amigos. Acabam tirando o título de eleitor pressionados pela família, mesmo se sentindo despreparados em relação à política para escolher um candidato.

Uma das frases mais conhecida de Aristóteles, um dos grandes filósofos gregos, é justamente onde ele diz que o homem é um animal político. O homem é um animal político pois ele não pode viver sozinho. Necessita da comunidade, ou seja, viver junto com outros seres humanos, para se tornar completo. A vida em comum pressupõe a política, então o homem é um ser político. Aristóteles também levanta a tese de que o ser humano é o único ser com capacidades discursivas. Dono da palavra (logos), o homem é capaz de, através de uma linguagem complexa, transmitir aos outros homens aquilo que pensa para alcançarem objetivos comuns. A palavra, porém, está destinada a manifestar o útil e o nocivo e, em consequência, o justo e o injusto.

O que não se pode perder de vista, é aquilo como a política foi pensada antes de Cristo: “A política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça.” (Aristóteles).

Tive um professor de Ciência Política no Curso de Graduação de Ciência Contábeis, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que dizia que política fazemos em todos momentos de nossa vida. Seja na família, no trabalho e na vida social.

O escritor João Ubaldo Ribeiro lembra que a política já foi chamada de arte, pois requer um talento especial, uma sensibilidade, um jeito especial de quem a pratica. Já foi chamada de ciência, pois é possível sistematizar o que se observa a respeito de como os homens se comportam em relação ao poder. De filosofia, porque sempre há indagações do tipo: por que alguém tem que mandar e outros obedecer? O homem é mau ou a vida em sociedade o faz assim? O homem precisa de um governo forte ou não? A política também é uma profissão, através da qual ordenamos a nossa vida em coletividade, é a profissão dos que se dedicam a influenciar os rumos da sociedade em que vivem.

Infelizmente, mesmo chamada de arte, ciência, de filosofia e de profissão, no caso específico da política brasileira, sempre foi pródiga em meias verdades, passadas de perna, falsas promessas e também em trapaças, fraudes, falácias – algo que nós, eleitores, aprendemos a resumir simplesmente como mentiras.

A primeira razão para se ressentir de ouvir mentiras é que é uma forma de desrespeito. Quando você mente para mim, você me trata como uma coisa a ser manipulada e usada para seus propósitos.

De uma eleição para outra, aumenta cada vez mais o número de políticos enganadores e eleitores enganados. Eles têm uma capacidade extraordinária de serem atores de primeiríssima qualidade.

O fato de muitos políticos de carreira serem mentirosos descarados e compulsivos, não é apenas uma característica inerente à classe política; é também um reflexo do eleitorado.

Uma pequena pergunta, você acredita no que os políticos dizem, ou melhor, no que prometem?

Desde criança que conheço uma crença popular que diz: “Quem mente, rouba” e “Quem rouba, mente”. A filosofia popular é profunda e está correta; pois quando alguém mente está roubando a confiança do outro. É plenamente aceitável a mentira folclórica, como a do pescador; aquela proferida na mesa de um bar para o mentiroso se vangloriar de algum feito, todavia quando praticada pelos políticos a mentira rouba a confiança de um país. 

O brasileiro é bonzinho. Fala com humor, raramente com raiva, dos grandes mentirosos. E adotou figuras e provérbios inocentes, como o do título, para falar de mentirosos que muitos prejuízos deram e dão ao povo. Em outras culturas, a mentira é punida com mais rigor, inclusive na memória popular.

Quando um pai ou uma mãe, quer educar um filho para dizer quais as consequências da mentira, o símbolo da mentira é o Pinóquio. O boneco Pinóquio, criado por seu dono, Gepeto, tinha um nariz que crescia à medida que mentia. Nos Pinóquios Políticos nada cresce, além da justa revolta que provoca nos brasileiros dignos. Mas, não podemos esquecer que na história escrita por Carlo Collodi em 1883, Pinóquio detestava se esforçar para qualquer coisa, adorava facilidades. Quando foi enganado por uma raposa que se fingia de manca e um gato que, como a raposa, se fingia de cego, foi bater numa cidade nomeada de “Engana Trouxas”. Era terrível o lugar! Tinha muita sujeira, pobreza, destruição e muitas outras “ruindades”, era mesmo um lugar horrível. Mas mesmo assim Pinóquio não conseguiu perceber nada.

Essa raposa e esse gato não lembram os políticos brasileiros enganando o povo na terra dos “Engana Trouxas”?  E o Pinóquio não parece o povo que não percebe que está sendo enganado com as promessas dos políticos?

O economista estadunidense, crítico social, filósofo político Thomas Sowell disse a seguinte frase: “O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos podem satisfazê-lo”.

Muitos eleitores dizem priorizar as propostas e as ideias defendidas pelos candidatos. Outros o passado político do candidato, o partido a que pertence o candidato, indicação de amigos e familiares. Mas na verdade, o que me parece é que o voto ideológico predomina entre os eleitores. Infelizmente vivemos em um momento “polarização política” – a palavrinha da moda. Isso fica bem claro nas ferramentas da internet. De uma hora para outra, você é desafiado por algum “intelectual” de esquerda ou direita tentando lhe enfiar goela abaixo a posição dele, e já de antemão desrespeitando a sua opinião. Temos sempre que nos lembrar que, política é manter saudável uma amizade, independentemente da posição “política partidária” ou ideológica. É estar presente no dia a dia da família. É respeitar o voto do amigo. Do pai. Da mãe. Do vizinho. Do colega de serviço.

Uma coisa é fazer acordos políticos para governar bem. Outra, e bem diferente, é fazer promessas, muitas vezes até milagrosas, para conquistar o voto do eleitor e depois não cumprir nem mesmos as viáveis, o que não deixa de ser um “estelionato eleitoral”.

Muitos políticos prometem mundos e fundos na hora em que precisam se eleger, se dizendo até amigos das pessoas das quais necessitam para obter êxito nos seus pleitos. Após a vitória, as promessas não são cumpridas e os tais amigos das horas difíceis são esquecidos.

Frequentemente deparamos com algumas promessa de candidatos inviáveis de serem realizadas ou melhor, impossível de ser realizada. E até promessas feitas por candidatos estão fora das atribuições desses cargos. 

Um fato político bastante folclórico ocorreu numa eleição para prefeito da cidade de Natal. Um candidato teve como sua principal proposta a construção de uma ponte para ligar Natal a Fernando de Noronha. Mesmo não tendo sido eleito, o candidato teve uma votação que foi considerada expressiva na época.

Não se pode negar que o eleitor também tem culpa nesse contexto. Mesmo porque quando “a promessa é grande, o santo desconfia” ou deveria desconfiar.

No passado, o voto de cabresto no Brasil estava relacionado ao domínio direto, "uma força de superioridade direta dos antigos proprietários de fazendas com os seus subordinados". Com o voto aberto, eleitores eram obrigados a votar em quem o grande fazendeiro quisesse, sujeitos à violência ou fiscalização de capangas. O chamado voto de cabresto ainda existe, apenas passou de forma rudimentar e virulenta para um modelo moderno e sofisticado.

Os “velhos coronéis continuam em ação, mas a vontade do eleitor também é violada por traficantes e milícias. As milícias, nas comunidades pobres, obrigam os moradores locais a votar em quem eles querem. Se a população não cumpre o que deseja a milícia, esta pode abusar do poder, causar mortes ou parar de ‘ajudar’ os moradores.

Temos atualmente o chamado ‘voto de cajado’. Religiosos “impõem” aos fiéis um certo candidato, ou como diriam os próprios, os ‘candidatos oficiais da igreja’.

Sabemos que não é fácil escolher um candidato nos tempos atuais. Com o crescimento populacional da maioria das cidades brasileiras, pouco se conhece de um candidato. Antes, no interior sabíamos de qual família era um candidato. Chegamos a dizer: fulano filho de beltrano. Hoje, quem não está envolvido diretamente na política, conhece os candidatos pelos programas eleitorais. Às vezes parece até um circo de horrores. Da impressão que não sabem nem qual será a sua função no cargo que são candidatos. Mas, a forma tradicional é muito mais atacar os adversários, do que qual será o seu plano de governo. O que vemos é um falar do outro. Campanha política se faz falando de soluções e não de erros.

É muito importante procurarmos conhecer bem os nossos candidatos. Não por ideologia política. Os que já assumiram cargos públicos fica mais fácil, pois podemos buscarmos conhecer como foi sua atuação. Durante o mandato, lutou pelos projetos que beneficiavam a população ou passou a maioria do tempo votando contra para prejudicar os adversários políticos ou fazendo coligações para tirar vantagens pessoais? Por isso, entendo que devemos estar atento à atuação de cada candidato. Aqueles que possam tentar comprar votos, ou oferecer alguma vantagem em troca de apoio político, certamente continuarão a promover a corrupção se forem eleitos.

Pessoas que se recusam a aceitar verdades desagradáveis, quando estas são ditas em épocas de bonança não têm direito de, no futuro, reclamar que os políticos mentiram e que elas foram enganadas. Qualquer um pode ser candidato, mas a política positiva se faz com respeito, humildade, boas práticas e sem fakenews, a começar pela campanha.

Às vezes fico pensando, se eu fosse candidato a prefeito será que meus amigos votariam em mim? Já tenho a minha fala para o primeiro discurso: “Vote no futuro que você quer ver. Juntos, podemos transformar nossa cidade em um lugar melhor para todos, e principalmente para nossos filhos. Uma cidade mais justa e igualitária. Honestidade, trabalho e compromisso serão minha bandeira. Juntos vamos transformar ideias em realidade. Para resolver o problema da seca no munícipio, farei um projeto para trazer água dos Rio Araguaia, Tocantins, Amazonas e o Nilo todos para dentre do rio São Francisco e entrar com um criatório de peba (tipo de tatu) para cavar poços artesianos.  Para a agricultura, trarei da China enxadas de controle remoto. Uma maravilha para o homem do campo. Ele vai ficar no alpendre da casa numa rede ortopédica, só programando a plantação. Teremos em nosso governo um programa social inédito: “Minha vaca minha vida”. Nesse projeto toda família carente que tiver cinco crianças ganhará uma vaca. Se tiver dez ganhará duas. Cinquenta criança são dez vacas. A partir daí já se torna um fazendeiro. Na área industrial, traremos uma fábrica de roupa para jumento. É ridículo andarem nu no meio da rua. De noite todos com colete colorido para evitar acidente. Farei também um dutoleite. Trarei leite encanado para todas as residências. Na área da saúde teremos um projeto de cura para o coração. O Santo remédio é fechar os olhos. Aquilo que os olhos não veem o coração não sente. Criaremos o projeto Bolsa Cachaceiro, onde vai beneficiar todos cachaceiros lisos da nossa cidade. Promulgaremos um decreto com vínculo religioso. Os enterros só aconteceram nos domingos, tendo em vista que quem morre de segunda a sábado, como está todo mundo trabalhando, os velórios perdem aquela folia por falta de plateia. Depois desse discurso, será que vou ser eleito? Fiquem tranquilos. Não serei candidato.

Na verdade, a política deveria ser um instrumento de transformação da sociedade e o sentido da democracia está na possibilidade de o cidadão exercer a soberania popular, que se concretiza pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto na escolha dos governantes. Daí o eleitor tem em suas mãos um importante instrumento de mudança política e social: o voto.

Apesar de toda essa “sujeira” que existe na política, nós não podemos deixar de sonhar. É crucial não perder a esperança em dias melhores, mantendo a resiliência, o patriotismo e a fé em Deus. Sabemos que a campanha eleitoral é uma grande comédia, onde depois que termina se transforma no drama de muita gente, mas temos que esperança de melhores dias ou cair no abismo da desilusão. Como afirmava Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.

A política tem suas características "exóticas"; na época de campanha eleitoral, candidatos mudam de nome, mudam de aparência e até o discurso, mas a essência (caráter) não muda! (Claudinei Ferreira Soares).

25/09/2024

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de você!

A infância é a etapa inicial da vida, compreendida entre o nascimento e os 12 anos de idade. Na pratica, esse termo é empregado em síntese para designar a fase da vida do ser humano que antecede e ou precede a fase da adolescência.

A infância não é um tempo perdido, continua a existir e reverberar ao longo da existência, como afirma o romancista, poeta e crítico belga Franz Hellens ao dizer: “A infância não é uma coisa que morre em nós e seca uma vez cumprido o seu ciclo. Não é uma lembrança. É o mais vivo dos tesouros e continua a nos enriquecer sem que o saibamos”.

Não tenho dúvida, que ela é fundamento, base da vida, terreno sob o qual erguemos nossa existência, daí sua relevância.

Há quem diga que recordar é viver mas recordar não é viver. Recordar é sentir! No sentir palpitante do que essa recordação nos traz. De tudo o que nos deixa. E do quanto, intensamente, em espaço e memória, habita em nós.

A nostalgia de recordar não está na tristeza do tempo que não volta mais. Nem tão pouco na impossibilidade de o voltar a viver. Está na saudade das pessoas, com quem partilhamos esse tempo. No reviver dos sentimentos, que isso nos deixa sentir o que nos faz renascer.

Vivemos de recordações e memórias. De lembranças presas e soltas dentro de nós. Que nos aprisionam. E outras que nos libertam. Somos memória de um passado, fio condutor do nosso presente. E dessas memórias, em recordações nos vamos deliciando e transmutando.

Recordar nossas brincadeiras favoritas, as histórias que ouvíamos, o que gostávamos de comer, é uma fonte inesgotável de prazer e alegria. Infância faz parte da gente e deve estar sempre à mão para ser lembrada.

Talvez se políticos, pais, educadores, toda a sociedade, tivessem a consciência da sua importância, daríamos maior atenção ao começo da vida, haveria maior investimento por parte dos governos para o cuidado com a primeira infância.

Dentro desse contexto, posso afirmar que sou um colecionador da minha infância. Isso mesmo, coleciono primeiras memórias.

Para algumas pessoas que tiveram uma infância difícil, é difícil se lembrar desse período de suas vidas, por isso costumam dizer que não tiveram uma infância. Elas podem ter algumas lembranças soltas, mas nada que seja relevante o suficiente para construir uma memória significativa.

Mas, graças a Deus, minha infância foi marcada e rodeada de muitas coisas boas. Foi um laboratório de experimentos para a minha vida.

Existe uma música do memorável cantor Ataulfo Alves que traduz muito bem esse meu pensamento, onde ele diz: “Eu daria tudo que eu tivesse. Pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que que a gente cresce. Se não sai da gente essa lembrança.”

Apesar de vivenciarmos milhares de eventos durante a nossa infância, infelizmente, como adultos, lembramos apenas de alguns.

Alguns podem ser “primeiros” (nosso primeiro sorvete, nosso primeiro dia na escola) ou eventos significativos da vida (comemoração aniversário, presentes). Outros são surpreendentemente triviais.

Bem, voltando para meu passado, pro meu tempo de criança, alguns fatos sempre me foram latentes. Nasci no Rio de Janeiro em 1959, porém em 1962 fui morar em João Pessoa na Paraíba. Uma lembrança que ficou na minha memória era de um cachorro que tínhamos em nossa casa, chamado Rex. Infelizmente morreu atropelado. Outro fato foi quando levei uns puxões de orelha de minha mãe, após uma senhora reclamar com ela que eu a tinha atingido com uma pedra. Na verdade, esse fato foi uma das primeiras injustiças que aconteceu na minha vida. Inocentemente, estava retirando umas pequenas pedras que tinham no jardim de nossa casa, e jogando por cima do muro. Merece uma reflexão. Trago também boas lembranças dos momentos que brincávamos, eu e minha irmã com uma garota de nossa idade (vizinha) que chamava-se Wilma, quando andava de velocípede e depois em uma pequena bicicleta de rodinhas na calçada de nossa casa e de assistir os desenhos do Pica Pau na televisão.

Essa minha primeira vivência em solos paraibanos na cidade de João Pessoa, durou até 1964. Fomos então morar na cidade de Umbuzeiro de Natuba. Terra que nasceu grandes paraibanos como Epitácio Pessoa, João Pessoa e Assis Chateaubriand. Foi nesse período que comecei a assistir na televisão o programa “As aventuras de Rim Tim Tim”. O seriado se desenvolvia em um posto de cavalaria, dos EUA, conhecido como Fort Apache, onde um garoto órfão chamado Rusty, era criado pelos soldados deste posto de cavalaria. Ele tinha um cachorro, pastor alemão, que se chamava Rim Tim Tim. Podemos dizer era o protagonista do filme.

Na praça dessa cidade, que ficava perto de minha casa, uns altos falantes, em determinado horário do dia, tocava músicas.  Não sei explicar mas de tanto escutar, algumas músicas ficaram na minha memória. Passados alguns bons anos, descobri que aquelas músicas eram italianas.

Naquela época, para ir de Umbuzeiro para João Pessoa, precisava ir para Recife. Ainda não tinha estrada de Umbuzeiro para João Pessoa. Nossa viagem era em um ônibus que as bagagem eram colocadas na parte externa superior do mesmo. Foi numa dessas viagens que conheci a galera das Ligas Camponesas. Pararam o ônibus e fizeram todo mundo descer. Armados de foice e facão. Ainda bem que nada de mal aconteceu. Mas isso ficou na minha memória.

Um ano e meio depois, voltamos para João Pessoa. A partir daí comecei a ser alfabetizado por minha querida mãe. Só que em 1966 fui morar na cidade de Solânea-PB. Não posso dizer que saudade da professorinha, que me ensinou o bê-á-bá, pois como disse, foi minha mãe que me ensinou o bê-á-bá (não deixou de ser professora a minha vida toda) todavia me lembro muito bem do local onde assisti minhas primeiras aulas junto de outros coleguinhas. A professora se chamava Dona Dulce. A minha segunda professora chamava-se Livramento.

Outro memória que coleciono diz respeito a uma banda musical que ensaiava em frente de minha casa em Solânea. Gostava de ir ver eles tocando. O que mais me atraia era a bateria. Infelizmente nunca aprendi a tocar e nem ter uma.

Depois fui morar em Monteiro-PB. Posso afirmar que foi ai onde comecei a gostar de jogar futebol e passei a torcer pelo Fluminense. Em Monteiro tive meu primeiro vestibular, pois tive que fazer o Exame de Admissão. Graças a Deus fui bem sucedido

Em julho de 1969 fui morar na cidade de Sapé. Tive muitos amigos.  Novas brincadeiras e uma delas que me traz boas lembranças era o jogo de botão na residência dos meus amigos vizinhos Marcílio Coutinho e Ricardo Coutinho (já falecido), assim como jogar pião e bola de gude (os participantes vão se revezando e tentando “matar” as bolinhas dos adversários).

Posso dizer que por fazer parte das pessoas que tiveram infância na década de 60, faço parte de um grupo abençoado. A nossa vida é uma prova viva. Não tivemos internet, computadores, celulares, play station, videogames, o querido facebook e outras tecnologias atuais.

Naquele tempo as crianças podiam brincar nas ruas e praças de nossa cidade e do mundo, o tempo era outro. Podíamos dizer que íamos brincar na rua, com uma única condição: voltar para casa ao anoitecer! Não havia celulares e nossos pais não sabiam onde estávamos.

Brincávamos com amigos de verdade, não amigos da internet. Costumávamos criar os nossos próprios brinquedos e brincar com eles.  Posso afirmar, que nesse tempo, a infância era muito mais desafiadora do que é hoje. A imaginação e a criatividade eram bem maiores.

A gente andava de bicicleta para lá e para cá, sem capacete, joelheiras, caneleiras e cotoveleiras. Jogávamos futebol na rua, com a trave sinalizada por duas pedras. Ralei joelho, arranquei a tampa do dedão, furei o pé com prego enferrujado. Brinquei de pega-pega, esconde-esconde, passa-anel, morto-vivo, batata-quente, cobra-cega e pulei corda. Meus machucados foram curados com Mertiolate que ardia muito.

Não se falava de obesidade e nem de uso de drogas: maconha, cocaína, crack, etc., era praticamente zero pelas crianças e jovens de todas as classes sociais.

Não se conhecia a palavra bullying, e essas perseguições vergonhosas ainda não era coisa que traumatizava tanto.

Fui um menino dos anos 60 que viajei de Jeep e de Rural. Dentro de uma Rural viajei com meu pai (dirigindo) de João Pessoa para o Rio de Janeiro. Imaginem as estradas em 1967. Brinquei de Forte Apache, em que me sentia o verdadeiro dono de Rim Tim Tim.

É possível que tenhamos estado em fotos a preto e branco, mas não tenham dúvida, são lembranças muito coloridas nessas fotos.

Brincar na rua não impedia que as crianças se divertissem dentro de casa assistindo à televisão, cantando músicas que passavam nas TVs e nos rádios. E o mais importante, somos uma geração única e mais compreensiva, pois somos a última geração que ouviu seus pais.

Quem, como eu, foi criança nos idos dos anos 60 haverá de se lembrar do nosso Super-Herói (muito antes de qualquer Super-Homem, Batman ou Homem-Aranha): National Kid (o primeiro super-herói japonês). Ter curtido filmes de Jerry Lewis e os Três Patetas.

Nos anos 60, tínhamos que ficar acordado até tarde e assistir Bat Masterson para dormir cantando “No velho oeste ele nasceu/ e entre bravos se criou/seu nome lenda se tornou/Bat Masterson/Bat Masterson…”

Infelizmente, os programas infantis foram sepultados nas TV abertas. Isso ocorreu devido a uma portaria Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que, com o objetivo de pregar o bom samaritanismo em favor das crianças, proibiu toda e qualquer propaganda direcionada à publicidade infantil. Com isso, as principais emissoras não viam mais viabilidade financeira de transmitir desenhos animados para o público infantil.

Só quem viveu a infância é capaz de concordar que ela nunca será substituída pela tecnologia.

Agora paro e pergunto o que será feito das crianças que tiveram suas infâncias negadas roubadas? como elas ficam emocionalmente diante das injustiças e da falta de amor e reconhecimento para com elas?

Infância é uma época de muita inocência e pureza e quando bem vivida vai nos acompanhar e nos ajudar positivamente para o resto da vida e quando mal vivida, também vamos levar seus sintomas para sempre! Como diz um Provérbio Chinês: “O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância”.

Jesus demonstrou para nós sua preocupação pelas crianças com uma abordagem própria. Ele insistiu que seus discípulos recebessem as crianças e que não as atrapalhasse a se aproximarem dele. “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais; porque o Reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes a elas.” (Mateus 19:14). As palavras de Jesus em Mateus 19:14 nos lembram da importância das crianças no plano divino. As crianças são preciosas aos olhos de Deus. Elas representam pureza, humildade e fé genuína.

Tem um momento de nossa vida que voltamos a ser criança. Quando tornamos idosos. Não em um sentido literal, mas em termos de certas semelhanças emocionais e comportamentais que podem ser observadas, tais como, a vulnerabilidade e dependência, assim como toda criança é dependente dos adultos para suas necessidades básicas, os idosos podem se tornar mais dependentes à medida que forem envelhecendo.

Apesar de ter 65 anos, ainda não estou nessa fase da vida mas me sinto criança quando estou brincando com meu neto Luquinha e se Deus quiser com meu neto Daniel que ainda está com quatro meses.

Não podemos fugir da realidade. O mundo vem evoluindo e a cada dia, surgem novas tecnologias destinadas à infância. O importante é se divertir e aproveitar essa fase da vida, independentemente de como seja.

Para quem já é adulto e acha que não é mais hora de se divertir, Augusto Cury sugere que: “Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de você!”

Oh! Que saudades que tenho. Da aurora da minha vida. Da minha infância querida. Que os anos não trazem mais! (Casimiro de Abreu).

Viva o dia 12 de outubro quando comemoramos o dia das crianças.

25/08/2024

É PROIBIDO COCHILAR

Durante o período que trabalhei no antigo Polo Industrial de Guamaré-RN (quando ainda pertencia a PETROBRAS), semanalmente fazíamos um apresentação para os colegas de trabalho sobre Segurança, Meio Ambiente ou Saúde Ocupacional. Normalmente utilizávamos como recurso Power Point para ajudar na apresentação e no último slide gostávamos de colocar a frase “É proibido Cochilar”. Esse ditado tem origem na música “É proibido Cochilar” de autoria dos compositores paraibano Antônio Barros e Ceceu, gravada pelo conjunto Os Três do Nordeste. Reforça uma frase que diz: “Um piscar de olhos ou uma distração de segundos põe em risco sua vida e a dos outros”. Uma pura verdade em todos momentos de nossa vida, seja na familiar, nos momentos de lazer, profissional, etc.

Imaginemos essa realidade dentro de uma empresas do setor petrolífero, onde riscos potenciais existem tais como incêndios e explosões. Por isso, deve ser obrigação, compromisso, responsabilidade dos gestores desses corporações que, todos os risco que os colaboradores estão expostos, seja agentes químicos, físicos e biológicos potencialmente nocivos para a saúde humana, sejam devidamente analisados e que ações preventivas e medidas de segurança sejam implementadas, para evitar qualquer tipo de acidente. Infelizmente, em diversas vezes, mesmo com toda execução desse gerenciamento de risco, os acidentes ocorrem, sendo importantíssimo a análise criteriosa de todas as causas que levaram a ocorrência do acidente, de modo a se tomar ações corretivas e preventivas.  Fomos específico ao setor petrolífero mas essa ação vale para todos os setores da nossa economia, assim como em nosso cotidiano.

Bem, depois que me aposentei, posso dizer que esses riscos, inerentes ao setor petrolífero, não corro mais. Mas, a vida continua no meu dia a dia e infelizmente o cotidiano fica a cada ano que se passa com riscos ameaçadores e violentos.

A história da humanidade sempre foi a história do perigo, da violência, das guerras e das tentativas crescentes de proteção e de defesa. Talvez seja impossível medir-se hoje a violência para saber se ela é menor ou maior do que no passado.

A preocupação em relação aos acidentes pode ser encontrada nas fases mais remotas da história da sociedade humana. Do mesmo modo pode-se dizer do acidente do trabalho, que está relacionado com o desenvolvimento das relações de trabalho. Desde os primórdios do mundo do trabalho, o acidente fez parte do cotidiano dos trabalhadores. No entanto, ganha visibilidade a partir do século XIX, com o avanço do processo de industrialização.

Ao buscar historicamente os fatos, observa-se que os problemas e as preocupações com a saúde dos trabalhadores foram objetos de estudo bem antes de Cristo. Hipócrates (460-355 a.C.) descreveu sobre a verminose em mineiros bem como as cólicas intestinais dos que trabalhavam com chumbo e também sobre as propriedades tóxicas do metal.

A modernidade ocidental fez crescer a consciência do risco e a dedicação das pessoas às atividades previsíveis e preventivas. Até o final da Idade Média, associava-se à fatalidade, a dogmas e ao determinismo todos os eventos: pouco se explicava como acidental ou fruto do acaso. Via-se o risco como parte de eventos naturais incontroláveis ou atos de Deus: excluía-se a interferência humana, inclusive o erro, a culpa e a responsabilidade. Inclusive, por um longo período, após a industrialização, ainda se consideravam os acidentes no processo produtivo, simplesmente como involuntários e de certa forma inevitáveis.

Acredito que todos nós já pronunciamos ou escutamos alguém dizer: "faça sua parte que Deus te ajudará", "esforça-te que Deus te ajudará" e "ajuda-te que o céu te ajudará". Essas frases são populares no meio cristão. Embora conhecidas - até bem intencionadas - não estão na Bíblia e não têm fundamento bíblico. Encontramos, por exemplo no Livro de Josué (1:9): Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar".

Quantas vezes já ouvimos essas expressões ou crenças: "Tinha que acontecer" quando se está diante de um evento trágico, ou no mínimo, indesejado. Em caso de morte, há sempre quem diga "cada um tem sua hora". Para quem sofreu acidente grave e sobreviveu, o que aconteceu foi um grande susto: "Eu andei muito perto de morrer, mas acho que não chegou à hora ainda".

Na verdade, muitas vezes buscamos transferir a causa do acontecimento indesejado a algo que está fora do nosso controle, de preferência bem distante de nós, consequentemente atribuindo ao Criador do Mundo a responsabilidade sobre o trágico. Deste modo que o fatalismo ganha forma e expressão.

Em outras palavras, o que tem que acontecer, simplesmente acontecerá e não há como escapar do fato. Dentro dessa teoria, acidentes se explicam pela intervenção de Deus ou do destino. Sinceramente, esse negócio de "entregar nas mãos do Senhor", não me parece a atitude mais sensata.

Por que algumas pessoas preferem obedecer ao sinal de pedestre para cruzar a rua com segurança e outras preferem cruzar a rua driblando os carros? Por que alguns pedestres são impacientes para esperar a mudança do sinal para atravessar a rua com segurança?

No ambiente industrial é a mesma coisa, alguns trabalhadores preferem trabalhar com segurança, outros preferem driblar os riscos e perigos e outros são impacientes para utilizar os procedimentos de segurança, pois atrasam as etapas de serviços. Não podemos deixar de ressaltar o descaso de muitas empresas em relação à segurança.

Por que apesar de sabermos que utilizar o aparelho celular enquanto dirigimos põe a própria vida em risco, como a dos pedestres e demais condutores, e mesmo assim muitos utilizam? Os médicos comparam o uso do celular ao efeito do álcool. “É como se a pessoa tivesse dois copos de cerveja ou uma dose de destilado. É como se estivesse dirigindo ligeiramente embriagado. Interessante é a desculpa de quem é pego falando ao celular: estou desligando o celular porque está acabando a bateria; estou vendo se tem recado; o farol está fechado, aproveitei pra usar só um pouquinho só.

A maioria das pessoas sabem que o uso do capacete é obrigatório para motociclistas e que pilotar moto sem capacete é algo extremamente perigoso e imprudente, todavia é a principal causa de morte em acidentes de trânsito com motociclistas. O argumento de muitos motociclistas flagrados conduzindo o veículo sem esse equipamento essencial, é que o trajeto seria curto. Contudo, um “é logo ali” pode ser fatal.

O que será que pensam os motorista que dirigem sob efeito do álcool? Acredito que seja: “Não tem risco pois Deus está comigo”. Infelizmente ao optar dirigir alcoolizado, não é apenas a vida de quem tomou essa decisão que está em risco, mas das pessoas que compartilham a via com o mesmo.

Há alguns anos conheci um provérbio chinês que diz o seguinte: “Antes de mudar o mundo, dê três voltas em redor de sua casa”. Será que nós observamos com bastante critérios os riscos que corremos em nossa própria casa? Pois bem riscos de acidentes domésticos estão nos mais diversos ambientes e situações, desde o contato com altas temperaturas na cozinha até o caminhar do quarto para o banheiro durante a noite. Este último é um dos casos mais comuns de acidentes que acomete os idosos. Basta um piso molhado ou um tapete solto para provocar uma queda, que causa ferimentos ou, no mínimo, um grande susto. O banheiro é o local com maior ocorrência de acidentes graves, por causa da umidade que torna o ambiente escorregadio.

A sala de estar costuma conter muitos móveis e objetos de decoração. Um idoso com dificuldade de locomoção ou mesmo uma pessoa distraída pode bater ou tropeçar em um desses itens, se ele estiver bloqueando a passagem.

As panelas de pressão e de fritura são uma das principais causas de incêndio em residência. No caso das panelas de pressão se faz necessário uma manutenção sistemática dos sistemas de alívio. No caso de panelas de frituras e a panela pegar fogo, nunca jogue água.  Desligar o fogão ou a fritadeira, se é mais seguro fazer isso. Nunca devemos deixar as panelas em fogo aceso, desacompanhadas (sem ninguém por perto). Importante tomar cuidado com os cabos das panelas que ficam na beirada do fogão, que podem ser resvalados ou alcançados por crianças.

No caso de produtos de limpeza, temos o hábito de ler as recomendações no rótulo do produto? Devemos lembrar que além de nos ensinar como manipular o produto, nos mostra os equipamentos de proteção individual necessários para manipulação.

Muitos produtos de limpeza contêm amônia – solução aquosa de amoníaco. Outro produto químico frequentemente utilizado em nossas casas é a água sanitária, ou lixívia – solução aquosa de hipoclorito de sódio.  A água sanitária não deve ser misturada a outros produtos, em especial àqueles com amoníaco. A mistura, que pode explodir e causar queimaduras graves, exala gases muito tóxicos que provocam sérios danos à saúde.

Quanto mais conscientes estivermos de um risco, melhor é a nossa percepção e maior a nossa preocupação.  Não há dúvida de que consciência, informação, conhecimento e trocas de experiências são meios que podem favorecer a aprendizagem para a prevenção. Por isso, é importante que todos nós devemos estar cientes dos perigos que nos rodeiam, assim como de tudo o que podemos fazer para corrigir as condições inseguras. Por exemplo, qual deve ser sempre a nossa atitude quando um carona não coloca o cinto de segurança ao entrar no seu carro? Os comportamentos considerados como sendo “de risco” são aqueles que contribuem para que os acidentes aconteçam. Assim como as condições inseguras, a maioria das causas de acidentes estão relacionadas com práticas inseguras e a desatenção a fatores de riscos porque acreditamos que nada de adverso nos acontecerá, como por exemplo dirigir alcoolizado ou falando com o celular. Em matéria de segurança não há mais ou menos.

A vida tende a punir os teimosos e reprova quem não aprende as lições. Quando falamos de segurança essa frase se encaixa muito bem. Devemos aprender com nossos erros, com o que sofremos. Um dos exemplo claros é a aviação. A evolução da história da aviação sempre foi marcada pela ocorrência de muitos acidentes mas o estudo das causas contribuintes para a ocorrência de acidentes e incidentes aeronáuticos, tornaram um dos meios mais seguros nos transportes, apesar de sua complexidade.

O comportamento humano nem sempre é constante e racional, e, portanto não segue padrões rígidos pré-estabelecidos. No entanto, mesmo que todos os riscos sejam conhecidos, ainda persistirá a possibilidade de falha humana, pois cada indivíduo organiza e interpreta as situações de maneira diferente.

Enaltecemos a cultura de modo geral, mas esquecemos da cultura de segurança. O ideal seria uma reflexão coletiva que viesse a contaminar as consciências com a cultura da segurança. Mas isso é utopia; consciências não se contaminam; consciências são formadas por meio de um lento processo: educação. Os conceitos básicos de prevenção de acidentes - no trânsito, no trabalho, em casa - precisam ser semeados a partir dos bancos escolares e cultivados nos cursos técnicos e universidades. Se assim for feito, os seus frutos - ambientes seguros e saudáveis - serão colhidos durante a vida de todos os cidadãos.

O risco sempre esteve e sempre estará presente em toda e qualquer atividade humana e, ao longo de sua evolução, o homem continuará a ser agredido pelas suas próprias descobertas, principalmente nas áreas tecnológica. Por isso é importante priorizar a segurança e a saúde do ser humano em todos os empreendimentos seja público ou privado. Na verdade é um direito e dever de todos nós.

Não tenho dúvida que nossa vida está nas mão de Deus. Nosso criador. Mas se faz necessário que cada um de nós realmente façamos a nossa parte, principalmente quando se trata de prevenções de acidentes. Caso contrário, continuarão ocorrendo e continuaremos atribuindo a Deus ou ao destino.

Quando um pássaro está vivo, ele come as formigas, mas quando o pássaro morre, são as formigas que o comem. Tempo e circunstâncias podem mudar a qualquer minuto. Por isso, “É proibido cochilar”.

 

24/07/2024

Pela porta aberta, de um coração descuidado

Nesses meus sessenta e cinco anos de vida posso afirmar que a década de 80 foi para mim a década das conquistas, ou melhor, das portas abertas na minha vida.

Tudo começou no início do ano de 1980 quando consegui meu primeiro estágio como estudante de engenharia. O primeiro estágio é uma barreira para muitos estudantes. Sabemos que o conhecimento adquirido em sala de aula é apenas uma parte de um todo que define o engenheiro. Também é primordial que o profissional saiba aplicar tudo que foi estudado na faculdade. Dessa forma, os estágios são uma ótima alternativa, para os alunos, desenvolverem melhor a relação entre teoria e prática. No entanto, conseguir o primeiro estágio pode ser uma tarefa bem complicada. Os motivos mais conhecidos que levam a esse problema são a baixa oferta de oportunidades dadas pelas empresas, a grande concorrência por essas vagas e a exigência de experiência na área.

Bem, na verdade, essa minha “conquista” foi através do famoso “QI” (Quem Indica). Nessa época, uma prima minha estagiava numa construtora de João Pessoa e teve conhecimento dessa necessidade de um estagiário. Me indicou e fui bem-sucedido na entrevista. A partir desse momento às portas se abriram para mim, e logo depois fui trabalhar na implantação de uma Indústria de Bentonita em Boa Vista-PB.

Na área amorosa, foi nessa década que me casei e tive o nascimento dos meus filhos. Para encerrar as conquistas e portas abertas na década de 80, passei no Concurso da Petrobras em 1987.

É importante ressaltar que a década de 1980 foi palco de complexos acontecimentos tão acelerados em seus movimentos contínuos de violências, esvaziamentos, sentidos desconhecidos, que se for contada com rigor apresentará expressões velozes de um século em dez anos.  Podemos até definir que a década de 1980 foi a de transição de um tempo lento para um tempo acelerado. A crise dos anos 80, provocou uma queda aproximada de 25% na Produção Industrial, acompanhada por uma redução semelhante do nível de emprego industrial. Foi uma novidade para o país a ocorrência de um desemprego em massa oriundo da Indústria de Transformação. Nos anos de 1981 e 1982, o desemprego transformou-se em uma nova realidade para o país. Nesse contexto eu me inseri, pois em 1981 conclui o meu curso de engenharia Mecânica. Mesmo com todos os problemas da época, Deus me permitiu ter um espaço no mercado de trabalho.

Uma das coisas que aprendi ao longo da vida, é que devemos aproveitar as oportunidades que nos são oferecidas. Como dizia um velho amigo, quando alguém se dispõe a abrir uma porta, precisamos passar logo por ela, todavia é importante lembrar que as portas do mundo nem sempre são verdadeiras. Há muita propaganda enganosa por aí.

A nossa vida é um constante abrir e fechar de portas. Tantas vezes elas se fecham na nossa frente e nos sentimos cegos, nos falta o chão, perdemos a referência. Existem ainda portas que precisam ser fechadas e outras que estão esperando para serem abertas. Algumas, no entanto, conduzem aos vícios, prostituição, criminalidade e morte. Algumas portas precisam ser reconstruídas.

Os dicionários atribuem à palavra "porta" diversos significados, sendo o mais evocado aquele que se refere à estrutura espacial móvel. Entretanto, em todas as definições, assim como em várias expressões em que a palavra "porta" é utilizada, seja qual for o campo de aplicação ao qual ela se refira, percebe-se que existe um núcleo comum de significação que permanece e que é imutável.

Estamos continuamente atravessando ou abrindo portas, sejam elas materiais como a porta de entrada de nossa casa, armários, carros e etc., ou, sejam elas imateriais. Nem sempre a porta que abrimos tem o que procuramos e por isso devemos continuar batendo em outras portas até encontrar. Depois de uma porta sempre há outras portas.

Na Bíblia, a palavra “porta” é citada mais de 300 vezes e representa segurança e proteção. O próprio Jesus Cristo diz que Ele é a porta que dá acesso ao Pai.

A palavra “porta”, na língua grega é “yura – thura”, cujo significado é: “uma entrada”, “lugar de passagem”, “abertura de acesso”.

A palavra que define o primeiro mês do ano (Janeiro) vem do latim: Ianua. Traduzido para o português significa ‘porta’. Atravessamos a porta do primeiro dia do ano para trilharmos mais de 50 semanas ao longo do ano que chegou. Ao longo do ano, teremos de abrir muitas outras portas, ninguém escapa disso!

Há pessoas que têm o dom de abrir portas. A forma empática, alegre, com um transparente espírito de servir faz com que essas pessoas nunca encontrem portas fechadas e quando as encontram elas se abrem para elas como por milagre. Em compensação há pessoas que fecham portas. A forma egoísta, desconfiada, interesseira, dissimulada e invejosa com que agem, faz com que às portas se fechem diante delas e quando, por acaso, encontram alguma porta aberta, logo elas se fecham. Em todos os lugares há pessoas que abrem portas e, infelizmente, pessoas que fecham portas.

A passagem por uma porta consiste sempre em uma mudança, seja de ambiente, seja de nível, de domínio ou de vida. Já dizia Heráclito de Efeso “A única constante é a mudança”. Todos temos bem presente como de um dia para a noite sentimos a nossa vida virada do avesso. Com maior ou menor intensidade, isso significa que, de tempos em tempos, as coisas mudam.  Albert Einstein já dizia: “No meio da dificuldade é que se encontra a oportunidade!”.

É tempo de crise, de desemprego, de muita incerteza no ar e de angústias, onde boa parte das pessoas só enxerga as portas se fecharem. E isso gera um ciclo vicioso de desânimo. É como levantar todos os dias para “matar um leão” e encontrar as portas cerradas. Nesse momento que devemos lembrar de um dito popular que costuma ser reproduzido com algumas variações. Para alguns, a frase original é: “Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela”. Para outros, é: “Quando o mundo fecha uma porta, Deus abre outra”. Uma terceira versão ensina: “Quando o mundo fecha as portas e as janelas, Deus derruba as paredes”.

Muitas vezes não paramos para pensar se as portas que se abrem ou as que se fecham em nossa vida são realmente vontade de Deus. Enfrentamos situações difíceis, de longas esperas e ficamos tristes, decepcionados e, logo, vem o sentimento de derrota, porque não conseguimos aquele emprego, aquele namorado, enfim, aquela “bênção” que tanto esperávamos. E muitas vezes, a nossa reação é de achar que Deus se esqueceu da gente ou acreditar que é mais uma artimanha do inimigo, para nos roubar a bênção e até o propósito de Deus.

Não é porque uma porta se fecha que não existem mais saídas. A primeira coisa que se deve fazer é não perder as esperanças, deve-se ter fé em Deus. A porta se fechou, mas Deus vai abrir uma janela para iluminar a sua vida.

Quando uma porta se fecha, pode ser que uma etapa da sua vida tenha chegado ao fim. Pode ser um emprego, uma carreira, um relacionamento, um estilo de vida, e por aí vai. É sinal de que o que você poderia aprender ali já foi aprendido. É a vida dizendo a você que é preciso abrir outras portas, pois a sua felicidade já não está mais naquele corredor em que você estava. É um chamado para sair do comodismo.

Pergunte para um rio se ele se incomoda de ter uma pedra colocada em seu fluxo. Ele diz, “não, vou fluir em volta da pedra.” “Ah, e se eu colocar um monte de pedras?”. Ele diz, “sem problemas! Vou fluir por cima delas!”. Então, quando as portas se fecharem, deixe de lado o desespero, a raiva e a tristeza. Pergunte-se: “que sou eu mesmo, lá no fundo? Do que realmente eu preciso?”.

Só quem já atravessou uma porta de um quarto de hospital, deparando-se com um enfermo em estado terminal, pode realmente saber agradecer o dom da vida e da saúde. Só quem já atravessou a porta de uma cadeia, olhando nos olhos de um presidiário condenado pode realmente compreender como é maravilhoso viver a liberdade como consequência das próprias escolhas. Só quem já entrou num casebre muito pobre, sem sofá ou cama, apenas colchão estendido no chão de terra pode realmente valorizar as coisas que já foi capaz de adquirir com o salário sofrido. Todos nós precisamos atravessar portas.

Sair e deixar a porta aberta é uma frase da área de gestão profissional, que significa, mostrar gratidão pela sua antiga empresa ao ponto que não haja empecilhos para um possível retorno. Como é bom ouvir: "As portas estão abertas para você", não é mesmo?

Recentemente recebi um texto denominado “Quando a casa dos avós se fecha” (autor desconhecido) do qual  retirei alguns trechos que traduz bem o fechamento de determinadas portas em nossas vidas: “Acho que um dos momentos mais tristes das nossas vidas é quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre, ou seja, quando essa porta se fecha, encerramos os encontros com todos os membros da família que, em ocasiões especiais, quando se reúnem, exaltam os sobrenomes como se fossem uma família real e eles (os avós) são culpados e cúmplices de tudo.

Quando fechamos a casa dos avós também terminamos as tardes felizes com tios, primos, netos, sobrinhos, pais, irmãos e até recém-casados que se apaixonam pelo ambiente que ali se respira. Não precisa nem sair de casa, estar na casa dos avós é o que toda família precisa para ser feliz.

Fechar a casa dos avós é dizer adeus às canções com a avó e aos conselhos do avô, ao dinheiro que te dão secretamente dos teus pais como se fosse uma ilegalidade, chorar de rir por qualquer bobagem, ou chorar a dor daqueles que partiram cedo demais.

Aproveite bem a casa dos avós, aproveite cada segundo. Pois chegará um tempo em que, na solidão de suas paredes e recantos, se fechar os olhos e se concentrar, você poderá ouvir talvez o eco de um sorriso ou de um grito, preso no tempo”.

Entendamos que além de não existir um caminho ideal, nenhuma porta tem a chave da felicidade eterna ou da solução de todos os nossos problemas. É a própria viagem que nos dá as respostas, e as alegrias vêm e vão. A única coisa que precisamos é ser mais receptivos e, antes de tudo, corajosos para cruzar os caminhos desconhecidos maravilhosos que estão aí para serem descobertos por nós.

É importante lembrar que a mais importante porta, porém, é a do nosso coração. E essa porta tem a fechadura do lado de dentro. Só nós podemos abri-la. Infelizmente, várias vezes Nosso Senhor Jesus Cristo, bate à porta do nosso coração trazendo a oportunidade de felicidade verdadeira, através da vivência da fé e obediência à Sagrada Escritura, mas nós não queremos abrir. Essa situação é tão bem descrita na música “A chave do Coração”: Qual é a chave? Qual é o segredo? Que abre às portas do teu coração... Deixa Jesus te consolar. Deixa Jesus te abençoar. Deixa Jesus te dar a tua salvação.

Lembrando as palavras de Jesus relatada no Evangelho de Mateus (7:13-14):  " “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”.

Tem uma frase da Advanced Coach Karla Corrêa que diz: “Se uma porta se fecha aqui. Outras portas se abrem ali. Assim é a vida! Deus nunca nos deixa sem saída! Há de ter sempre uma porta aberta...E com a fé e a direção de Deus a encontramos”.

Na verdade podemos afirmar que a vida está cheia de oportunidades, só precisamos saber colher as nossas.

Bem, como a música está presente em muitos momentos de nossa vida e eu não consigo imaginar a música sem que ela esteja associada a alguns dos acontecimentos mais importantes de nossas vidas, concluímos lembrando e plagiando um trecho da música Porta Aberta, que diz: “Pela porta aberta, de um coração descuidado. Entrou um amor na hora certa, que já deveria ter entrado. Chegou, tomou conta da casa. Fez o que bem quis e não saiu. Bateu a porta do meu coração. Pra me fazer feliz”.

24/06/2024

Deus escreve certo por linhas tortas

No nosso dia a dia, quase sempre falamos ou escutamos gírias, expressões populares e ditados populares. Uma característica que diferencia as expressões populares das gírias é a duração. Enquanto a gíria vive durante cerca de cinco anos em uma comunidade, a expressão popular pode se manter por muito tempo, talvez décadas.

As gírias brasileiras da mesma forma que revelam o diálogo das gerações atuais, são, também, uma viagem no tempo para gerações passadas. Quando compreendidas, são um espelho das diversas culturas e regiões que encontramos aqui no Brasil.

Em 1985, a partir da observação diária do que era falado nos jornais e rádios populares, o professor e jornalista brasileiro João Bosco Serra e Gurgel do Rio de Janeiro escreveu o “Dicionário das Gírias”.

As expressões populares, também chamadas expressões idiomáticas são um recurso de escrita ou fala por meio do qual uma frase ou expressão ganha outro significado, indo além do significado literal das palavras que a formam. Por exemplo: na expressão “pode tirar seu cavalinho da chuva”, o objetivo não é aconselhar alguém a colocar o animal em um lugar coberto, no qual não caia chuva. Quando uma pessoa diz isso, ela quer informar que se deve desistir de determinada ideia.

Enquanto os ditados populares, também chamados de provérbios, são frases curtas que transmitem ensinamentos retirados de experiências de vida, ou seja, transmitem conhecimentos e sabedoria popular. Também atravessam gerações e passam por nós todos os dias durante anos a fio. Fazem parte do nosso cotidiano e expressam importantes lições, mas para isso é fundamental que possamos parar para refletir sobre eles. Por exemplo: “Entre marido e mulher não se mete a colher” ou ainda “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.

Diversas expressões populares antigas contam com origens curiosas, que vão da chegada da coroa portuguesa ao Brasil, passando por jogos populares, entre outros motivos.

É importante lembrar que falar português no Brasil é diferente de falar português em Portugal. Até porque existem inúmeras expressões do português que têm um significado totalmente diferente aqui no Brasil. Por exemplo, a expressão “Porras recheadas”. Esse aqui é sempre motivo de muitas risadas e piadas nas redes sociais. Isso porque esse nome, para os brasileiros é bem sugestivo, mas em Portugal significa churros. É isso mesmo, a porra recheada é nada mais, nada” menos que churros.

Algumas expressões como “quebrar o gelo” e “puxar o saco”, algumas pessoas pensam que são coisas da atualidade, estão muito enganadas. A maioria desses dizeres tem pelo menos um século de idade, com vários datando do Brasil colonial e até da Idade Média.

Recentemente estava assistindo um programa de auditório na televisão quando o apresentado perguntou a um jovem da plateia se ele sabia o que era a gíria “é uma brasa mora” ou “é uma brasa, mora! A resposta foi negativa. Para quem não se lembra, na década de 60, ouvia-se essa gíria, principalmente pronunciada pelo Rei Roberto Carlos, que seria falar de algo bom ou de alguém legal. Nessa fase, as mocinhas diziam que o rapaz que achavam bonito era “um pão”.

Ainda nesta década tínhamos: Borogodó (significa charme, sensualidade), Bulhufas (significa o mesmo que nada, coisa nenhuma), Papo furado (o mesmo que conversa fiada).

Entrando em nossa máquina do tempo, podemos relembrar de algumas gírias da década de 50, tais como:  Chá de cadeira (é o mesmo que ter que ficar esperando por muito tempo), Marcar touca (perder uma oportunidade, dar bobeira). Da década 70: Grilado (estar desconfiado de alguma coisa), Patota (é uma turma de amigos). Da década 80: Viajar na maionese (ficar imaginando coisas absurdas), Pentelho (pessoa muito chata, irritante). Da década 90: Xavecar (significa paquerar, flertar), Queimar o filme (estragar a imagem, passar por algo vergonhoso). Da Década 2000: Passar o rodo (é o mesmo que beijar com muitas pessoa), Tá dominado (significa que está tudo sob controle).

Quem não se lembra do ditado popular atual “Cada um no seu quadrado”, originário da dança do quadrado se tornou um fenômeno de internet. Esse ditado popular é muito utilizado para referir sobre a importância de cada um cuidar de seus próprios assuntos, sem intrometer-se em coisas que não são de sua alçada ou para as quais não tem competência. Tem o mesmo sentido “Cada macaco no seu galho”. A origem desse ditado nos remete ainda ao século XIX, onde países como o Brasil, Argentina e Uruguai se uniram em uma guerra contra o Paraguai. Em uma estrutura racista de época, os negros que participavam do embate eram denominados macacos. Assim, na tentativa de surpreender os inimigos ao avistar os mesmos, Duque de Caxias gritou: Cada macaco no seu galho! Nesse momento, a expressão fazia a referência de que os homens negros do exército se organizassem de forma devida, tendo se tornado famosa a partir de então.

Atualmente, no Brasil, temos um ditado que traduz bem a ideologia política de muitos brasileiros, que diz: “O pior cego é o que não quer ver”. Esse ditado diz respeito à pessoa que não quer enxergar o que está na sua frente, àquele que se nega a ver a verdade. Consta que, em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D`Argent fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos pra Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou pra história como o cego que não quis ver.

Pra quem gosta de viajar ou se aventurar, um ditado bastante utilizado é “Quem tem boca vai a Roma”. Essa expressão é utilizada para destacar o poder da comunicação. Interessante que a frase correta não tem nada a ver com a que conhecemos; nem com o fato de usarmos nossa capacidade de comunicação para ir a qualquer parte. Pesquisas indicam que com o tempo essa expressão foi sendo modificada da original que seria “Quem tem boca vaia Roma” (do verbo vaiar).  A frase correta é, sim, uma crítica política. Isso porque a plebe e os escravos acreditavam que a cidade de Roma merecia vaias por causa de seu imperador, Júlio Cesar, cuja opinião ninguém podia contrariar.

Quanto ao campo de “expressões”, podemos dizer é bastante vasto tanto na cultura nacional quanto internacional. Por exemplo, a expressão “Vitória de Pirro”. Em 279 antes de Cristo, Pirro - rei e general do Epiro - travou contra os romanos a Batalha de Ásculo e conquistou a vitória. Porém, com um elevado número de baixas de oficiais e soldados, obteve prejuízos irreparáveis para o seu exército, o que comprometeu a continuidade da guerra contra Roma. Ao observar os saldos da batalha, Pirro teria dito: “outra vitória como esta e estamos acabados”. O episódio ficou conhecido como a “Vitória de Pirro”, termo que hoje é utilizado, para descrever uma vitória com efeitos prejudiciais ao vencedor.

Diversas das expressões brasileiras tiveram sua origem atrelada à monarquia portuguesa, por exemplo, “vá tomar banho!”. Nos dias de hoje, utilizamos essa expressão para mostrar a alguém que essa pessoa está nos irritando e pedir para que pare de fazer isso imediatamente. Já no passado, essa expressão tinha um significado muito mais literal. Os nativos brasileiros sempre tomaram muito mais banhos que os membros da corte portuguesa, que muitas vezes passavam dias sem se banharem e muitas vezes utilizavam as mesmas vestimentas sujas. O mau cheiro obviamente incomodava os indígenas e outros brasileiros que já estavam acostumados a tomar mais banhos, de modo que uma expressão comum quando estes eram importunados pelos nobres portugueses era mandá-los tomar banho.

Outra expressão popular da língua portuguesa bastante conhecida é a “Casa da mãe Joana” que define um lugar sem regras, onde tudo é permitido, não há limites, com muita bagunça e confusão. A mulher que deu nome a tal casa viveu no século 14. Joana era condessa de Provença e rainha de Nápoles (Itália). Teve a vida cheia de confusões. Em 1347, aos 21 anos, regulamentou os bordéis da cidade de Avignon, onde vivia refugiada. Uma das normas dizia: "o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar". "Casa da mãe Joana" virou sinônimo de prostíbulo, de lugar onde impera a bagunça.

No sistema de transito temos outro exemplo bem interessante. No Brasil o sistema de trânsito utiliza o que chamamos de “mão francesa” e na Inglaterra assim como outras localidades que outrora foram colônias inglesas, utilizam o denominado de “mão inglesa”. No caso de mão francesa adotamos o sistema de transito onde dirigimos ao lado direito da via e fazemos as ultrapassagens pelo lado esquerdo. Por outro lado, a Inglaterra se mantem com o fluxo à esquerda e consequentemente a ultrapassagem é pelo lado direito.

Até o final do século 18, era hábito para os cavaleiros e cocheiros viajarem pelo lado esquerdo das estradas. O motivo disso é bem simples: a maioria das pessoas era destra, usando sua espada com a mão direita. Para que ela ficasse livre e do lado certo para um eventual duelo (o que não era raro naquele tempo), era preciso andar desse lado. Se a pessoa viajasse do lado direito, seu lado esquerdo estaria totalmente exposto.

Existe ainda uma outra versão para explicar como surgiu a mão inglesa. Alguns dizem que se os cocheiros ficassem do lado direito das ruas e estradas, eles podiam acertar um pedestre na calçada quando açoitassem seus animais, o que geralmente também era feito com a mão direita. Mas a primeira versão é mais aceita (e tem mais sentido).

Quanto a “mão francesa” utilizada no Brasil, a resposta a essa pergunta tem nome e sobrenome: Napoleão Bonaparte. Esse imperador era canhoto, por isso ele precisava ficar do lado direito duma via para estar preparado num duelo, já que empunhava sua espada com a mão esquerda. Com isso, o imperador francês deu ordens para que todos se adequassem, passando a estabelecer o que chamamos de mão francesa, ou seja, andar pelo lado direito duma via. A influência nas América ocorreu devido ao fato que todos os colonizadores (além dos franceses, os holandeses, espanhóis e portugueses) foram dominados por Napoleão em algum período, não tendo outra opção a não ser adotar seu sistema. Quando dominaram outros países, o costume simplesmente foi passado adiante.

Na política, uma expressão que pelo andar da carruagem nunca vai sair de modo é “Terminar em pizza”. O termo, que denota que algo errado deve acabar sem nenhuma punição, surgiu no futebol. Na década de 1960, alguns dirigentes do Palmeiras já estavam há 14 horas reunidos discutindo assuntos do clube, quando a fome bateu. A solução foi terminar a reunião em uma pizzaria, onde a paz reinou depois de muita mussarela. O jornalista Milton Peruzzi, que acompanhava o imbróglio, registrou a seguinte manchete no Gazeta Esportiva: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. A expressão voltou a ganhar força na época do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Collor de Mello, em 1992. Como muitos duvidavam que Collor fosse mesmo punido, em vez de “terminar em impeachment”, dizia-se que o caso “terminaria em pizza” (até a sonoridade é parecida). Por isso, até hoje, o termo segue muito associado a escândalos políticos. 

Continuando na política, podemos lembrar da expressão “colocar a mão no fogo”. Como os políticos brasileiros estão cada vez mais desacreditados pelos brasileiros, dificilmente alguém coloca a mão no fogo por eles. Essa expressão popular é utilizada quando temos total confiança em alguém e, por isso, faríamos algo tão absurdo como “colocar a mão no fogo”, confirmando que acreditamos que aquela pessoa não nos decepcionará. Significa confiar muito em alguém, a ponto de jurar pela sua inocência. A expressão pode ter se originado na prova do ferro caldo, utilizada durante a Idade Média na época da Inquisição. Uma pessoa acusada de heresia tinha sua mão envolvida em uma estopa e era obrigada a andar alguns metros segurando uma barra de ferro aquecida. Três dias depois, a estopa era retirada e a mão do suposto herege era checada: se estivesse queimada, o destino era a forca; se estivesse ilesa, era provada sua inocência. Daí, botar a mão no fogo virou sinônimo de atestar confiança quase cega em alguém. Bem, seria uma boa prova para nossos políticos se submeterem. O problema era que iria encher os hospitais de queimados.

Bem, são muitas as expressões repetimos sem sequer percebermos aquilo que significam. Essas pequenas frases fazem parte da tradição oral da sabedoria popular e sintetizam ideias sobre a convivência em sociedade, trazendo muitas vezes conselhos valiosos a respeito das relações humanas.

Concluindo, imaginem dois amigos conversando sentados num banco de praça utilizando de ditados populares, será que entenderíamos tudo se tivéssemos ao lado?

- (Fulano) Amigo, como está aquele seu negócio?

- (Beltrano) Acabou-se o que era doce. A vaca foi pro brejo. Infelizmente meus funcionários cuspiram no prato que comiam e transformaram meu negócio numa casa da mãe Joana. Minha empresa passou a ser um verdadeiro balaio de gatos. Na verdade, fui colocar o carro na frente dos bois e dei com os burros n’água.  Agora estou com a corda no pescoço. E o pior, com as mãos abanando e na rua da amargura. Mas, não vou lamber as botas de ninguém principalmente dos amigos da onça.

- (Fulano) Amigo, espere a poeira abaixar.  Sei que está de saco cheio e fulo da vida mas você não é de dar para trás. Além disso, entende do riscado. Mostre com quantos paus se faz uma canoa. Por enquanto você está com os bofes de fora e sentindo como um peixe fora d’água.

- (
Beltrano) Você sabe que não faço mal a uma mosca e nem passo a perna em ninguém. Não vou descer a lenha ou melhor quebrar o pau com ninguém. Vou dar tempo ao tempo. Bem, por enquanto só quero encher a lata e olhar para o próprio rabo. Como diz aquele provérbio: Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.

25/05/2024

Cegueira ideológica

De tempos em tempos, algumas palavras ou frases aparecem com maior frequência na mídia, ou até mesmo, em palestras e comunicações sociais, como por exemplo, a palavra “resiliência”, que tem sido utilizada para descrever o comportamento humano. A resiliência demonstra a capacidade que cada pessoa tem de lidar com seus próprios problemas, de sobreviver e ainda superar os momentos difíceis, sem ceder à pressão dos pessimistas ou dos que acham que quanto pior, melhor (para eles). Podemos até dizer que a resiliência do povo brasileiro é surpreendente. Nosso país tinha tudo para dar errado, afinal foi colonizado como colônia de exploração, foi refúgio da família imperial portuguesa, e é sinônimo de escândalos desde então. Mas de tudo isso, surgiu um povo arrojado, criativo e que tem algo muito importante na essência humana, a resiliência. A pena é que um povo tão lindo, tão verdadeiro e tão esperançoso, é tão mal representado nas esferas do poder.

Assim como resiliência, no Brasil, em decorrência da conturbada política brasileira, regida por políticos corruptos e descomprometidos com o povo, as citações a expressão “Estado Democrático de Direito”, passou a ser falado e debatido por vários segmentos da sociedade.

O Estado Democrático de direito é definido juridicamente pelo respeito aos direitos humanos fundamentais. É um Estado no qual os direitos individuais, coletivos, sociais e políticos são garantidos através do direito constitucional. Quando o Estado de direito democrático sofre ameaças, existe um grande risco de ruptura da democracia. As democracias podem ser subvertidas por dentro, pela atuação de líderes e atores, com tendências autoritárias ou populistas, que acabam por sufocar a liberdade.

Agora, temos também uma dobradinha que sempre está na boca de muitos brasileiros. Me refiro as palavras Direita e Esquerda.

A origem dos termos “esquerda” e “direita”, como um posicionamento político-ideológico, surgiu durante as Assembleias Constituintes francesas do século XVIII. Havia grupos organizados, os girondinos e os jacobinos. Os termos "direita" e "esquerda" referiam-se ao lugar onde políticos se sentavam no parlamento francês. Os girondinos que faziam parte de camadas mais ricas da sociedade, eram moderados e conciliadores. Sentavam-se à direita do orador, ou seja, do presidente que conduzia a assembleia. À esquerda sentavam-se os simpatizantes da revolução, os jacobinos. Eram adeptos ao revolucionismo e buscavam mudanças (especialmente a queda dos privilégios da nobreza e do clero) e mais igualdade.

Debatia-se sobre a revolução, sobre uma nova Constituição, destronar o rei, acabar com a monarquia e resolver a crise em que a França se encontrava. Os girondinos à direita não queriam uma mudança drástica, eram favoráveis ao rei e queriam conservar as coisas com prudência. Mas os jacobinos queriam uma revolução radical, mudar totalmente a forma como a sociedade se organizava, esperando melhorar tudo por meio de seus ideais realizados.

Foi em 1789 que o jornalista e revolucionário Camille Desmoulins, usou pela primeira vez os termos "direita" e "esquerda" para descrever o posicionamento político e ideológico, daqueles que participavam da Assembleia. Vale ressaltar que a Revolução Francesa foi um processo conduzido pela burguesia. Mulheres e pessoas pobres não participavam dos debates da época e as questões que dividiram os participantes, entre direita ou esquerda, não são as mesmas que hoje dividem essas visões políticas.

Atualmente, nos Estados Unidos, os termos "de esquerda" e "de direita", muitas vezes, têm sido usados como sinônimos para o "democrata" e "republicano" ou como sinônimos do Liberalismo social e conservadorismo, respectivamente. O Partido Republicano pode ser denominado de um partido de “direita”. Já o Partido Democrata possui um viés associado à tradição da “esquerda democrática”, que se diferencia da esquerda revolucionária, isto é, defende políticas sociais assistencialistas, a intervenção estatal na economia, leva em conta bandeiras de movimentos sociais, como a dos negros afro-americanos, dos gays, dos imigrantes latinos etc.

Na política brasileira tradicional, direita e esquerda têm tido noções difíceis de captar. A questão é simples: nunca foi habitual prestar atenção ao quadrante ocupado por políticos. O que notamos é que a conceituação de esquerda e direita é usada pelos grupos que atuam para se auto definir e enquadrar seus adversários políticos dentro de um espectro. Assim, vemos esquerda e direita, usados como conceitos fluidos com conteúdo vazio, mas ainda com força histórica atuante.

O fato é que não existe um consenso quanto a uma definição comum e única de esquerda e direita. Existem “várias esquerdas e direitas”. Isso porque esses conceitos são associados a uma ampla variedade de pensamentos políticos.

Atualmente, o espectro político que é um sistema para caracterizar e classificar diferentes posições políticas, também conhecido como régua ideológica, podem ir de extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, direita até extrema-direita.

Convenhamos que quando paramos para definir quem é de direita ou esquerda no Brasil ficamos bastante confusos. Por conta das alianças, algumas vezes pouca diferença encontra-se entre Direita e Esquerda eleitoral. Com relação aos eleitores, temos realmente um segmento da população que podem ser considerados eleitores de “carteirinha’ de candidatos de “direita”. Da mesma forma que temos eleitores de “carteirinha” de candidatos de esquerda. E uma parte da população que não se enquadra nem de “direita” e nem de “esquerda”.

Quando observamos os discursos dos políticos de ideologia de direita, em geral, fica claro que acreditam em um melhor funcionamento da sociedade quando o governo é limitado.  O Estado deve restringir-se às necessidades mais absolutas das pessoas. Busca favorecer a liberdade de mercado, defender os direitos individuais e os poderes sociais intermediários contra a intervenção do Estado e coloca o patriotismo e os valores religiosos e culturais tradicionais acima das propostas de reforma da sociedade. Enquanto os discursos dos políticos de ideologia de esquerda, defendem o controle estatal da economia e a interferência ativa do governo em todos os setores da vida social, é a solução para existir igualdade entre os cidadãos, além de ser responsável por proporcionar educação, saúde, trabalho, moradia e outros direitos básicos aos cidadãos. Defendem, principalmente, as classes sociais menos favorecidas na sociedade, ou seja, aquelas que necessitam de mais atenção e serviços públicos. O ideal igualitário está acima das questões de ordem moral, cultural, patriótica e religiosa.

A partir deste cenário, o termo “esquerda” passou a simbolizar o ideal de luta pelos direitos populares e pelos trabalhadores e a “direita” virou sinônimo de conservadorismo e elitismo. Essa divisão no Brasil, se fortaleceu no período da Ditadura Militar, onde quem apoiou o golpe dos militares era considerado da direita, e quem era contrário, de esquerda.

Independente de ideologia política, muitas vezes o termo esquerda também é usado para se referir a um grupo partidário que se opõe ao partido político no poder. Assim, muitas vezes, direita pode ser o nome dado para grupos partidários que apoiam o grupo político no governo.

Muito antes de Cazuza, o filósofo francês Conde de Tracy apresentou o conceito de ideologia. Seu objetivo era desenvolver uma ciência para compreender como ocorre a formação das ideias na cabeça das pessoas. Essa ciência seria chamada de ideologia.  Muitas outras figuras atribuíram significado à palavra. Mas, basicamente, a ideologia pode ser resumida como a maneira em que um conjunto de pessoas pensam. E, mesmo sem parar para refletir sobre isso, os grupos sociais carregam, em sua formação, algum tipo de ideologia. Como ideologia é uma forma de pensar, ser de direita ou de esquerda está ligado a forma como a pessoa pensa a sociedade.

As palavras, enquanto conceitos que identificam ideologias e práticas políticas, também possuem conteúdo histórico e expressam significados diferentes com a evolução do tempo.

Infelizmente, mais grave do que a cegueira biológica é a cegueira ideológica. Uma impede o homem de ver, a outra o impede de pensar.

Parece que hoje vivemos a síndrome de Emaús conforme narrado no Evangelho de Lucas (24.13–16).  Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho da aldeia de Emaús que ficava a uns 11 quilómetros de distância de Jerusalém. E comentavam entre si tudo o que acontecera após a morte de Jesus. De repente Jesus apareceu e juntou-se a eles, caminhando ao seu lado. Mas os seus olhos estavam impossibilitados de o reconhecer. Aqueles discípulos tinham como maior expectativa Israel ser libertada da subjugação romana. Esse anseio guiava-os e muitos outros que olhavam Jesus como o grande libertador político. Na verdade essa era a ideologia que os movia.

A ideologia cega, mata e faz enxergar imaginários, muito longe do que é real. Da mesma forma, hoje em dia, Jesus é de direita, de esquerda, conservador, revolucionário, tudo o que as ideias façam brotar e as ideologias tentam encaixar nas cabeças e corações tardios para entender quem é Jesus.

Modelos de intolerância política e ideológica permeiam todas as civilizações, em todos os meridianos e paralelos. A cegueira ideológica tem provocado convulsões aqui e por este imenso mundo de Deus.

Tanto o radicalismo de esquerda como o de direita são responsáveis por destruir as bases da sociedade (bases que Aristóteles identificava, tanto na família como na pólis, com o conceito de phylia, uma força unificadora das relações sociais baseada num sentimento próximo ao da amizade). Se alguém quer ser de esquerda ou de direita, que seja, é um direito básico de cidadania, porém precisam compartilhar as mesmas ideias de excelência. Após a disputa eleitoral, vencedores e derrotados devem enviar sinais da amizade e não de inimizade. Como dizia John Kennedy: “É muito mais fácil ficar com o conforto da opinião do que com o desconforto da reflexão”.

A cegueira ideológica é uma praga que não para de crescer. Funciona segundo a lógica de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Mesmo que ele seja um canalha.

A longevidade tem algumas vantagens. Uma delas é o aprendizado sobre tolerância. Por exemplo, respeitar as individualidades, as crenças particulares e as peculiaridades (tão distintas) desse animal complexo e estranho que é o homem. Incluindo neste pacote a consciência política. Sem elas, a convivência ideológica seria uma missão impossível.

Antigamente, a maioria dos ideólogos acreditavam no que defendiam, sem interesses, outros além da fidelidade as suas crenças. Hoje, a imensa maioria joga um jogo decepcionante. Parecem terem feito pacto irremediável com a imoralidade. Não importa o que (nem quem) defendam, porque, no final das contas, estão defendendo seus próprios interesses. Vale mitificar deuses enlameados. Vale beatificar criminosos. Vale beijar as vestes imundas da corrupção. Vale misturar o fanatismo religioso e a polarização política. Vale criar Mitos. Vale Criar Salvadores da Pátria e Caçadores de Marajás.

O que leva esses “ideólogos”, a maioria supostamente possuidores de embasamento moral e intelectual, abraçarem personagens políticas comprovadamente envolvidas em tudo quanto é desmando descortinado nos bastidores do poder público? Um boa reflexão.

Bem, a ideologia política é cega como o amor é cego. A pessoa apaixonada está bioquimicamente focada no objeto de sua paixão. O apaixonado, não só não olha para outra pessoa, como não percebe se tem alguém olhando para ele. Com o fim da paixão, a pessoa percebe que o que ela imaginava não era real e acaba olhando para o lado. A paixão deixa a pessoa tão obcecada quanto uma droga. Ela fica num estado de torpor, de encantamento. Por isso não consegue ver nada à sua volta.

O escritor, jornalista e romancista Nelson Rodrigues, nos deixou a seguinte famosa frase: “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Nelson Rodrigues tem razão porque, de fato, quando há unanimidade ninguém precisa pensar, mas há unanimidades e unanimidades. Bem, se todos concordarem que toda unanimidade é burra ela será de fato burra, mas não podemos deixar de reconhecer a existência da unanimidade inteligente. O que nos falta é unanimidade na tomada de algumas posições, defesa de certas ideias ou valores que nos levarão a agir ou repensar nossas condutas.

Como disse o escritor jornalista Vicente Serejo em um dos seus artigos: “O fenômeno “vesgos” nasce de polarização que divide brasileiros e impede a visão correta do Brasil; os que apoiam candidato “A” (seja de direita ou esquerda) não enxergam erros do seu candidato e os que apoiam o candidato “B” (seja de direita ou esquerda) olham em seu candidato o exemplo da virtude. O efeito imediato é a vesguice, um verdadeiro vício “vesgueiro”, que acaba por fomentar uma visão política brasileira atual completamente distorcida, cheia de intolerância e sem limites, jogada num fosso profundo”.

Concluímos parafraseando trechos da música “Tocando a frente” de Almir Sater: “Ser resiliente é andar devagar porque já se teve pressa, carregando um sorriso, porque já se chorou demais, sem esquecer que cada um de nós traz em si a capacidade e o dom de ser feliz!”.

S.M.J (Salvo melhor Juízo)

24/04/2024

O CANGAÇO CONTINUA

De vez enquanto escutamos, principalmente dos idosos, a seguinte frase: “Não há mal que não traga um bem”. O escritor Machado de Assis, na sua genialidade literária, fez um pequeno complemento, que na minha opinião foi perfeita: “Não há mal que não traga um pouco de bem, e por isso é que o mal é útil, muitas vez indispensável, algumas vezes delicioso”. Este pensamento me faz lembrar de duas vezes que minha residência foi assaltada quando morava no Bairro de Lagoa Nova, na cidade Natal-RN, na década de 90. Todas as duas vezes foi durante a semana Santa quando viajávamos para Paraíba. Na segunda vez, quando estava na delegacia para abrir um Boletim de Ocorrência, o delegado me deu o seguinte conselho: “Não viaje mais na Semana Santa”. Na oportunidade, fiquei muito chateado com aquele “conselho”, mas depois de uma profunda reflexão, eu e minha esposa tomamos a decisão de não mais viajarmos. Somos cristãos, e a Semana Santa é um período sagrado. É a ocasião em que é celebrada a paixão de Cristo, sua morte e ressurreição.

Ela deve ser um tempo de recolhimento, interiorização, oração e abertura do coração. É a hora de reconstruir a própria fé e abrir a mente e o coração para Deus. Enfim, significa fazer uma parada para reflexão e reconstrução da espiritualidade, essencial para o equilíbrio emocional e a segurança no caminho natural da história de vida com mais objetividade e firmeza.

É muito triste lembrar, quando falamos sobre assaltos, bandidagem, que Jesus Cristo morreu como um criminoso, com verdadeiros criminosos dos dois lados.  E o pior ainda, ter sido trazido para diante da multidão numa tentativa covarde de Pilatos de se livrar de um inocente. Pilatos sabia quem era o criminoso chamado Barrabás, o qual ele mesmo mandou prender por crimes hediondos. O Evangelista Mateus empregou o título “muito conhecido” para referenciar Barrabás (Mt 27:16), deixando claro que ele era alguém com certa fama entre o povo, talvez até reputado como uma espécie de herói, principalmente se seus delitos fossem por motivação nacionalista. Seja como for, as referências bíblicas descrevem Barrabás como sendo um salteador, perturbador da ordem pública e homicida. Porém acabou sendo solto por Pilatos a pedido da multidão.

Infelizmente os “salteadores” sempre fizeram parte da história da humanidade. Quem não se lembra da lenda de Robin Hood, o conhecido príncipe dos ladrões? Essa personagem criada no Reino Unido no século XIII, conhecido por ser hábil no arco e flecha, trajava verde e vivia escondido nos bosques de Sherwood, em Nottingham, se tornou o modelo do bandido justiceiro, que redistribuía a riqueza roubando dos ricos para dar aos mais pobres. No entanto, trata-se de uma versão fictícia do personagem, muito distante da realidade histórica de bandidos e foras-da-lei medievais.

Dentro desse contexto, podemos citar os “piratas”. Existem desde que o homem passou a transportar bens e mercadorias usando rios e mares. Os registros mais antigos contam que, por volta do século V antes de Cristo, no Golfo Pérsico (região do Oriente Médio), ladrões já investiam contra barcos de comerciantes. A pirataria ganhou força entre os séculos VXI e XVIII, quando houve um aumento importante do transporte de riquezas pelo mar. Países europeus, como Portugal e Espanha, encararam os oceanos, explorando novas terras e buscando recursos naturais e minerais.

Uma curiosidade da vida dos piratas é como viviam em navios, manter um animal de estimação grande, como um cachorro ou um macaco, era difícil. Uma opção muito mais sensata e estratégica era um papagaio.

Infelizmente, em pleno século XXI, os piratas “modernos” ainda atacam e roubam embarcações em muitos lugares. As estatísticas indicam um crescimento dessa modalidade de roubo em alguns pontos do planeta. No Brasil, os crimes de pirataria marítima são menos frequentes e os piratas menos audaciosos. A baía de Santos é considerada a área de maior perigo, de acordo com os boletins transmitidos aos navegadores europeus.

E os salteadores no Brasil? Quando começaram a existir? É muito comum escutar pessoas relacionando as mazelas do Brasil de hoje ao tipo de colonização que o país teve. Dizem uns que, colonizados por bandidos, assaltantes, enfim, pela escória portuguesa que veio aportar nas terras do pau-brasil, não poderia, mesmo, ser outro o resultado. Os historiadores do passado perpetuaram a ideia que o Brasil recebeu mais criminosos do que qualquer outro segmento da sociedade portuguesa nos seus primeiros tempos. Nos últimas décadas, documentos descobertos e estudados, tornou público novas facetas da colonização brasileira. A colonização brasileira levada a cabo por degredados é uma lenda já desfeita. O degredado era banido de sua terra de origem (no caso, a Metrópole portuguesa) por ter cometido algum tipo de crime. Os crimes cometidos pelos degredados variavam desde crimes comuns, como roubo, até crimes de ordem religiosa, condenados pelo Tribunal do Santo Ofício, como feitiçaria, rituais de bruxaria etc. A maioria dos degredados que chegaram ao Brasil foram condenados pela Santa Inquisição e as autoridades portuguesas se valiam disso para promover a exclusão social.

O historiador e professor do Departamento de História da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Geraldo Pieroni relata no seu livro “Os excluídos do reino” (2000) que mais de 50% das pessoas degredadas para o Brasil eram mulheres, acusadas, quase sempre, por feitiçaria, blasfêmia e bigamia. Devemos relembrar que os dois maiores poetas portugueses, Camões e Bocage, sofreram a pena de degredo na Índia.

No Brasil, as histórias mais conhecidas sobre banditismo organizado, são sobre Lampião e seu bando de cangaceiros. Porém, antes de falar sobre o Cangaço, vamos comentar um pouco sobre o Coronelismo, tendo em vista que foi durante o período do coronelismo, surgiu o fenômeno marcante na história brasileira: o Cangaço.

O Coronelismo tem suas raízes nas primeiras décadas do Brasil independente, durante o Período Regencial (1831-1842), nascendo para conter as revoltas e motins pelo país e assim proteger a postura centralizadora do governo.

O coronelismo estava intimamente ligado ao sistema latifundiário brasileiro, visto que os coronéis eram proprietários de grandes extensões de terra, ainda que fossem das capitais. Terras onde exerciam autoridade absoluta sobre os trabalhadores rurais, estabelecendo relações de subserviência e dependência.

Foi um sistema político e social que moldou profundamente a história do Brasil de forma extremamente exploratória e corrupta. Como diz o advogado e historiador Victor Nunes Leal, em sua obra “Coronelismo, Enxada e Voto”, os coronéis foram senhores do bem e do mal.

Quanto ao Cangaço, podemos afirmar que é um dos fenômenos mais controversos da história nacional, geralmente categorizado na seguinte dualidade: ou criminosos assassinos ou heróis populares.

Os cangaceiros, como eram conhecidos os integrantes do cangaço, eram ladrões e assassinos que andavam bastante armados, os quais se dividiam em três formas de banditismo: o de vingança, o puro e simples e o de justiça social.

O Cangaço foi um movimento criminoso que aconteceu na região Nordeste durante o período que abrangeu o final do século XIX e a metade do século XX que desafiaram a autoridade do Estado e principalmente a dos coronéis locais. Interessante que muitos dos jagunços (pistoleiros) dos próprios coronéis se bandearam para a vida de cangaceiros. Alguns cangaceiros vendiam seus serviços para coronéis, perseguindo e matando seus opositores em troca de dinheiro.

O primeiro cangaceiro de repercussão nacional foi Jesuíno Brilhante, que, a partir de 1871, formou um poderoso grupo que circulou pelo Sertão, atacando principalmente fazendas dos grandes coronéis da região. Todavia, o bando de cangaceiros mais famoso foi o comandado por Lampião. Foi por volta de 1918 que Virgulino se tornou cangaceiro para vingar de um conflito familiar.

Importante ressaltar, que desde a época do cangaço, a opinião pública sobre o movimento se dividia. Para alguns, eles eram heróis praticando o que é chamado de banditismo social, para outros, eles eram criminosos cruéis que agiam com violência, destruíam cidades, cometiam estupros e não respeitavam as leis. Não deveriam, portanto, ser alçados à condição de heróis e seus atos violentos não deveriam ser relativizados.

Independente de pensamentos, a vida dos cangaceiros influenciou em diversas manifestações artísticas no Brasil, basta ver o modo de vestir de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Quem nunca cantou a música "Olê mulher rendeira? Segundo o Padre Frederico Bezerra Maciel, regionalista pernambucano e biógrafo de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o cangaceiro teria escrito os versos da versão original desta canção. A ele se acrescenta Câmara Cascudo, segundo o qual Lampião teria escrito a letra em homenagem ao aniversário de sua avó Dona Maria Jocosa Vieria Lopes ("Tia Jacosa") que era uma rendeira.

No mundo atual, a criminalidade assumiu contornos diversos, e hoje é um mal que todos os países, tentam combater, e que infelizmente na maioria das vezes sem sucesso. 

Na atualidade ocorre no Brasil um fenômeno social conhecido como Neocangaço que são grupos de criminosos fortemente armados dominam pequenas e médias cidades, assaltando instituições financeiras. Entendo que não dá pra traçar uma analogia entre o cangaço e essas ações empreendidas atualmente. Claro que razões sociais estavam por trás do cangaço, assim como também estão por trás do crime organizado moderno, mas as situações históricas, lá atrás e agora, são completamente diferentes.

Hoje as organizações criminosas estão envolvidas com bingos, cassinos, lenocínio, narcotráfico, lavagem de dinheiro e jogos ilegais. Por exemplo, o Comando Vermelho (C.V.), tem atuação fortemente com o tráfico de armas, roubos, narcotráfico, entre outros. O Primeiro Comando da Capital (PCC), que é formado por todos os tipos de criminosos, com atuação vasta, que vai desde a proteção, até a assassinatos encomendados, sequestros, roubos, etc.

Da mesma forma que ao falarmos do Coronelismo temos que falar do Cangaço, quando citamos as organizações criminosas, tais como as ligadas ao tráfico de droga, vem em nossa mente as milícias brasileiras.

É provável que as milícias existam desde muitos séculos atrás. São diversos os relatos de grupos de mercenários, revolucionários e grupos armados que atuavam na sociedade, como a revolução de Espártaco e a milícia do senador romano Catilina.

A registros que no Brasil as atividades milicianas começaram na década de 60, no bairro Rio das Pedras, na cidade do Rio de Janeiro. Os objetivos inicial dos milicianos eram: lutar contra os narcotraficantes; impedir o uso e tráfico de drogas; ganhar dinheiro através do serviço de segurança privada. As milícias avançaram para as organizações criminosas que conhecemos hoje em dia, quando policiais enxergaram a oportunidade de exploração de atividades econômicas nas comunidades carentes, principalmente após a expulsão dos traficantes.

A diferença original entre milicianos e traficantes era simples: os milicianos cobravam para oferecer segurança; já os traficantes, por sua vez, vendiam drogas ilegais e dominavam territórios das favelas, tornando-se o governo desses locais. Contudo, atualmente a diferença entre os dois grupos tornou-se inexistente ou complexa.

Juntando a toda essa forma de bandidagem, que já existiram e continuam a existir, hoje em dia o banditismo organizado está no alto da cúpula política e econômica. Os chamados bandidos de colarinho branco. Na realidade sempre existiram, apenas hoje são mais sofisticados e manipuladores. Já é constatado que os criminosos do colarinho branco não estão presentes apenas no âmbito político e econômico do país. Profissionais de todas as áreas podem estar sujeitas a cometerem o crime de colarinho branco. O que irá diferenciar será os que decidirão enveredar pelo caminho do crime em busca de vantagens financeiras e pessoais muitas vezes valendo-se do seu poder econômico, intelectual e social. Infelizmente a prática criminosa não acaba, mas sim se adapta aos novos meios estruturais da sociedade.

Se hoje não existem mais os coronéis de patentes figurativas, conferidas pelo Estado, hoje temos, numa nova roupagem, políticos e empresários corruptos que ditam as regras. Se não temos mais cangaceiros de bornal espalhados pelas caatingas, assolando os sertões com suas ações criminosas, hoje temos milicianos, grileiros, traficantes e quadrilhas espalhando as mais diversas formas de miséria e degradação humana. O que podemos chamar poder paralelo ao do Estado.

Entraves da sociedade brasileira, como a desigualdade social, a pobreza e a falta de acesso à Justiça e a outros serviços fornecidos pelo Estado, foram fundamentais para o surgimento do cangaço e continuam sendo entraves na sociedade atual.

Diversas políticas sobre segurança pública são instauradas no Brasil, mas o problema continua. Não vejo o Estado desenvolver uma estratégia de recuperação dos territórios dominados pelas milícias e por traficantes. As ações contra os colarinhos brancos continuam sendo regidas e orquestrada para não prender ninguém.  O que vemos é o ciclo do mandonismo, favorecimentos e apadrinhamento, continuarem a regendo de forma orquestrada sobre as muitas vidas desfavorecidas e necessitadas nos quatro quantos do país. Em outras palavras, a velha cultura política do clientelismo e da dependência.

Em síntese, sem usar a lente de ideologias políticas, não podemos omitir ao menos o fato de que fazemos parte de um país que, mesmo tendo evoluído em algumas áreas, ainda somos uma nação atrasada, carente de “heróis” que realmente estejam dispostos dar a vida para sanar essa doença, visando a construção de uma sociedade mais igualitária, democrática e segura.

Bem, por enquanto só nos resta cantar: "Se gritar 'pega, ladrão'/ Não fica um, meu irmão".

25/03/2024

Pela obra se reconhece o autor

O escritor de Gênesis abre seu livro dizendo: “No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro (Gênesis 1,1- 5).

A criação do homem, versus a evolução do homem, é um dos maiores debates religiosos versus científicos. As religiões judaico-cristãs acreditam que Adão foi o primeiro homem na Terra e foi criado na forma atual do homem por Deus, e muitos cientistas acreditam que o primeiro homem na Terra, realmente evoluiu algumas centenas de milhares de anos antes.

Seguindo esse debate temos algumas perguntas que acompanham a humanidade há muito tempo, que são: De onde vim, para onde vou e o que estou fazendo aqui? Existe um Deus, um ser superior, um criador? Quem criou, quem nos criou?

Tem gente que não crê em Deus ou em qualquer "ser superior", é o que chamamos de “Ateu”. O ateísmo é uma "postura filosófica" dos ateus, que rejeita a ideia de existência de quaisquer deuses. Um ateu pode ter uma atitude ativa (quando defende de forma veemente a ausência de qualquer Deus) ou uma atitude passiva (quando nega apenas por não haver provas que demonstrem a existência da divindade).

Temos também os agnósticos que não negam a sua existência, mas tampouco podem confirmá-la. Os agnósticos, portanto, estão calcados na dúvida, pois não acreditam que podem afirmar a existência ou não existência de um deus. E temos os teístas que não seguem nenhuma religião, isto é, não participam de ritos, celebrações e rituais religiosos, mas eles acreditam na existência de um deus ou de deuses.

Uma das maiores religiões do mundo é o Budismo. A religião budista na sua forma clássica não é teísta, ou seja, não possui um Deus e não acredita em Deus. O Budismo é uma doutrina espiritual e filosófica criada pelo indiano Siddhartha Gautama, o Buda, que considera o poder da reencarnação humana, de animais e das plantas, e acredita que as escolhas para se chegar à libertação dos sofrimentos estão no autoconhecimento. Por isso o indivíduo deve ser bom a todos os seres.

A origem da vida é um tema bastante polêmico, e várias hipóteses tentam explicar como os primeiros seres vivos surgiram em nosso planeta. As principais são: a Biogênese, que segundo a mesma um ser vivo só pode ser originado a partir de um ser vivo preexistente; a Panspermia, cuja a hipótese é que a vida na Terra foi trazida do espaço por meteoros e cometas; da Evolução Química, cuja hipótese é que compostos simples presentes na Terra primitiva passaram por diversas reações e formaram compostos tão complexos ao ponto de conceber seres vivos; a Abiogênese que diz que alguns tipos de materiais possuem um tipo de “princípio ativo” capaz de gerar vida; e finalmente a Criacionista, que é a teoria de que a vida teria sido uma criação divina sendo embasada por escritos religiosos. As principais religiões que difundem suas versões criacionistas para explicar a origem dos seres na Terra são: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.

Para muitos físicos o conceito de Deus é uma necessidade teórica. Porque tudo tem que ter uma causa. Algo não pode ter origem do nada. Então você tem que ter sempre algo antes. A Teoria que tem sido aperfeiçoada é muito discutida sobre a origem do Universo, é a teoria do Big Bang. Ela sustenta que o Universo surgiu a partir da explosão de uma única partícula, o átomo primordial, causando um cataclismo cósmico inigualável a cerca de 13,8 bilhões de anos. De onde surgiram os elementos que provocaram o Big Bang? Então como vemos, a própria Ciência precisa de uma causa sempre. E aí o conceito de Deus entra como causa, causa primária de todas as coisas. Para os que não acreditam em Deus é mais fácil crer no acaso, que em um Ser Criador.

Tem um provérbio que diz: “Pela obra se reconhece o autor.” Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à humanidade.

A ciência requer prova, a crença religiosa requer fé. Os cientistas não tentam provar ou refutar a existência de Deus porque sabem que não existe um experimento que possa detectar Deus.

Deus, de diversas maneiras, pertence ao plano “invisível”, portanto, há um elemento de fé na crença. Não se trata, contudo, de uma fé cega e insensível.

Um dos fundadores da microbiologia, criador da pasteurização, Louis Pasteur (1822-1895), disse a seguinte frase: “Quanto mais eu estudo a natureza, mais me maravilho com a obra do Criador, a ciência me aproxima de Deus”

O universo não é somente funcional; ele é lindo! É difícil admirar as cachoeiras, lagos, montanhas, florestas, orlas marítimas, cânions e não acreditar que Deus existe. Por isso que o maçom denomina o Criador de Grande Arquiteto do Universo

Os sinais de Deus se manifestam em todas as ciências para que o indivíduo pensante os contemple. Basta olharmos a complexidade dos seres humanos e dos animais, com tantos detalhes e tanta perfeição, os diferentes tipos de solos, rochas e minerais, de Bacias hidrográficas espalhadas pelo mundo inteiro e os oceanos que removem carbono do ar, regulam o clima da Terra, fornecem alimentos, empregos e fornecem oxigênio, da variedade de vegetais que se adaptam em diferentes tipos de terras e em climas diversos.

Não há como explicar a nossa beleza e existência, a perfeição do ser humano, e de todos os seres belos e encantadores como o cosmo, as estrelas, as flores, os pássaros, as crianças, e toda a ordem da natureza sem Deus.

Tentar compreender e explicar Deus é como tentar enxergar a olho nu e descrever, toda a grandeza das galáxias do universo. Impossível! Deus é imensurável!

Santo Agostinho disse que “Ele não pode e não deve ser compreendido, mas adorado”. Se nós o compreendêssemos ele seria um Deus falso, muito pequeno, limitado, criatura e não criador. Um deus que cabe na nossa cabeça não é Deus.

Quanto mais tivermos dificuldade para entendê-Lo, tanto mais podemos estar certos de estar crendo no Deus verdadeiro, que não pode ser apreendido pela nossa humanidade. Caso contrário Ele não seria Deus.

Deus é Infinito em tudo: onisciente (sabe tudo), onipresente (está em toda parte); onipotente (pode tudo). Ele está fora do tempo e do espaço; para Ele não existe ontem e amanhã; Ele é “um instante que não passa!”, disse Karl Ranner (sacerdote católico jesuíta de origem germânica).

Na obra ‘O Livre Arbitro’ de Santo Agostinho, livro II, capítulo 1 a 14, fala sobre a prova da existência de Deus. Para chegar à prova da existência de Deus, ele demonstrou que elas são:  A Razão, porque é o que há de melhor no homem, ela diferencia o homem de todos os outros seres do mundo, principalmente dos animais; Os Números, porque possuem uma verdade universal, inalterável e imutável; A Sabedoria, porque é com ela que o homem é capaz de discernir o que é bom e o que é ruim; E a Fé, porque é através dela que ele chegou a verdade, que é Deus. O ponto principal do pensamento de Santo Agostinho é a fé, porque foi através dela que ele chegou à verdade, que procurava antes de converter-se ao cristianismo.

E se acreditamos em Deus, não importa o que os cientistas descubram sobre o Universo — qualquer cosmos pode ser considerado consistente com Deus.

Quanto as três perguntas: De onde viemos, para onde vamos e o que estamos fazendo aqui?

Viemos de Deus, ele é o criador de todas as coisas. Essas três perguntas não se encontram em teorias bem construídas, mas em uma pessoa: Jesus Cristo. Quando Ele estava para partir desse mundo, através de sua morte e ressurreição, Jesus se reuniu com seus discípulos e disse: “Não tenham medo, não fiquem perturbados nem apavorados. Eu vou agora, mas vocês não podem ir comigo, mas um dia vocês estarão comigo para sempre, pois vocês sabem o caminho”.  Nesse momento, um dos discípulos o interrompe e pergunta: “não sabemos para onde você vai, como saberemos o caminho?” A incompreensão do momento presente e a preocupação com o futuro fez com que os discípulos questionassem suas origens, seu futuro e sua missão. É nesse contexto que Jesus, de maneira simples e objetiva, apresenta a resposta para as três perguntas. Jesus diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.

O que estamos fazendo aqui? Nós estamos aqui para amadurecer diante de Deus, aprendendo a romper com as estruturas falidas deste mundo e se aproximar dos valores do reino de Deus, os valores e a maneira de viver ensinada por Jesus. Ele é o caminho. A vida com Deus não é um ponto de chegada somente. Mais do que isso, é uma estrada que precisa ser trilhada, obstáculos precisam ser superados, lições precisam ser aprendidas e você precisa amadurecer até parecer-se mais e mais com Cristo.

Quem criou Deus? Essa é uma pergunta que considera já de início que Deus foi criado. Que é um grande equívoco, considerando toda a complexidade do Universo criado. Daí a distinção fundamental que a Bíblia faz de todos os deuses das demais religiões e mitos. Deus é o Supremo Criador. Ele sempre existiu, nunca foi criado: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (...) Todas as coisas foram feitas por ele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. - João 1:1, 3.

"Pouca ciência afasta o homem de Deus, muita ciência a Deus conduz" (Francis - político, filósofo empirista, cientista, ensaísta inglês).

S.M.J