Em algum momento de nossa vida devemos ter escutado alguém associar a ideia de cultura à erudição ou intelectualidade. Afirmar que alguém “não tem cultura”, geralmente, é o mesmo que dizer que a pessoa é ignorante ou não possui conhecimentos que são considerados de maior refino. Esse é um engano que todos nós já cometemos algum dia.
A cultura, é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Uma cultura não pode existir fora de uma sociedade, da mesma maneira, uma sociedade não pode existir sem cultura.
Todos os indivíduos, todos os seres humanos tem cultura, no entanto, cada cultura é diferente da outra, mesmo povos ditos incivilizados tem cultura, pois a cultura não baseia-se somente na linguagem escrita, e, como é herança social é transmitida de geração em geração. Cultura compreende uma série de elementos, como costumes, crenças religiosas, vestimenta, língua, objetos, rituais etc.
Dos quatro pilares nos quais alicerça a cultura humana – Arte, Mística, Filosofia e Ciência, a Arte é, muito provavelmente, a mais antiga a ser regularmente praticada pela Humanidade.
Na Grécia Antiga, surgiu a divisão entre as artes superiores, criadas para serem apreciadas com os olhos e os ouvidos, e as menores relacionadas com o tato. E dessas, seis vêm das que conhecemos hoje como Belas Artes: Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Literatura e Dança. O Cinema foi considerado como a sétima arte apenas no século XX, por Ricciotto Canudo, teórico e crítico de cinema, que queria distanciar a ideia de que o cinema era um espetáculo de massa, aproximando-o e integrando-o às Belas Artes. Para ele, o cinema é a arte síntese, que concilia todas as outras. Hoje, é um dos mais populares meios de expressão artística no mundo.
O cinema tem papel importante para a transformação da sociedade, pois através dele é possível chamar a atenção para diversas questões e realidades. Os filmes geram impacto nas pessoas, além de emoções e sentimentos. É possível, por meio deles, retratar, demonstrar, e até vivenciar diversas situações e problemas, que possuem relevância para o mundo.
Assistir um filme, é fazer uma grande viagem pelo imenso mundo do imaginário humano. Nas personagens apresentadas nos projetamos e nos sentimos como os heróis ou vilões, dependendo somente de quem você quer ser.
Dentro desse contexto, tenho certeza que todos nós, claro que existem exceções, devemos ter assistido um filme, seja no cinema, televisão ou em alguma plataforma de streaming, que de alguma forma marcou a nossa vida, ou pelo menos consideramos inesquecível. No meu caso esse filme se chama “Papillon”. Assisti esse filme em 1974 (cento e cinquenta minutos de projeção). Filme intenso do começo ao fim, não há momento para desatinar da cadeira. “Papillon” conta a história real do ladrão de jóias. Interpretado por Henry Charrière (Steve McQueen), apelidado de "Papillon" por causa da tatuagem de borboleta em seu peito, é injustamente condenado pelo assassinato de um cafetão. Em 1933, é condenado à prisão perpétua na temível colónia penal da Guiana Francesa (Île du Diable). Enclausurados e agrilhoados em celas minúsculas, escuras e sobrelotadas como cães miseráveis à mercê da morte, Henry, não se deixa vergar pelo infortúnio do seu fado, imiscuindo-se, desde logo, na venda de um arriscado plano de fuga ao abastado falsificador de dinheiro, Louis Dega (Dustin Hoffman) que há muito tempo perdeu todas às esperanças de ser libertado. É famosa a cena em que Papillon come baratas para sobreviver. Depois de 11 anos nesse “inferno”, de um alto penhasco, Papillon observa uma pequena enseada, onde descobre que as ondas são fortes o suficiente para carregar um homem para o mar e para o continente próximo. Papillon pede a Dega para se juntar a ele em outra fuga, e os homens fazem dois flutuadores com cocos ensacados. Enquanto eles estão no lado do penhasco, Dega decide não escapar e implora a Papillon que não o faça. Papillon abraça Dega uma última vez e depois salta do penhasco. Agarrando seu flutuador, ele é levado com sucesso para o mar.
O filme, mostra de maneira crua a crueldade que é vivida nesse lugar, e toda a desumanização, que acaba se tornando um trunfo para o protagonista após anos na solitária. Aflorar o sentimento de que é o instinto de sobrevivência e a vontade de ser livre, que são cativantes. O Papillon não perde a esperança de se ver livre. Um homem que não se deixou vencer. O filme, tem seu pico quando ressalta toda gana humana em busca da liberdade.
Papillon é “borboleta” em francês, e bem simboliza esse homem, real, que por várias vezes tenta sair do casulo que o meteram injustamente, para alçar vôo de volta à França. Sim ela mesma, a mãe da liberdade. De lagarta à borboleta é praticamente uma ressurreição!
Em 2018 tivemos um remake de “Papillon”. Não conseguiu no Brasil alcançar o reconhecimento que teve o primeiro, e isso talvez se deva à época em que foi lançado (no Brasil, o original chegou em 1974, em plena ditadura militar, e fez sucesso devido ao tema abordado).
A arte, por vezes se confunde com a vida, o que nos leva a questão sobre quem imita quem. Seria a arte inspirada pelo nosso cotidiano, ou seria a vida baseada nas influências da arte? Se a arte for um retrato da vida, vivemos então como prisioneiros? Se a vida é reflexo da arte, somos condenados a fugir das cordas impostas pelos autores? E se formos nós esses autores?
Quem algum dia não pensou que a própria vida poderia tornar-se um bom filme? Que “happy end” podemos imaginar para o filme da nossa vida?
Bem, para fazermos um filme de nossa vida precisamos escrever o roteiro. Que tal iniciarmos escrevendo o Livro de nossa vida?
O livro da vida somos nós mesmo que escrevemos dia após dia. As pessoas à nossa volta partilham continuamente às páginas e capítulos do nosso livro.
O poeta chileno Pablo Neruda certa vez afirmou: “Escrever é fácil. Você começa com letra maiúscula, termina com ponto final e no meio coloca as ideias”. Quem dera, colocar as ideias no papel fosse algo tão simples como parece na citação acima! Porém, o grande desafio da arte da escrita está justamente no recheio.
Em algum momento da vida acumulamos uma mala cheia de histórias que poderiam facilmente ser transformadas em livro.
Nossa história vai sendo escrita durante nossa vida, as decisões que tomamos e tudo o que realizamos vão completando as páginas que estão em branco, todo dia escrevemos uma parte dessa história e somos nós que decidimos que tipo de história de nossa vida vamos contar nesse livro.
Alguns já têm muita coisa para contar aos 25, 30, 40 anos. Outros, consideram-se experientes apenas aos 70. O tempo, não passa da mesma forma para todo mundo, afinal, vivemos vidas diferentes e sentimos de formas únicas. E é justamente isso que torna cada história interessante.
Quando criança, por exemplo, não temos tantas memórias nítidas, então talvez seja preciso reconstruir algo.
Quando voltamos no tempo conseguimos identificar momentos felizes, outras vezes conseguimos identificar relacionamentos imaturos, estresse com discussões familiares ou mesmo ficamos olhando mais para fora, para o outro, do que para nós mesmos.
Todos sabemos o que vivemos e pelo menos os fatos que para nós foram mais importantes ou intensos estão em nossa memória, mas quando paramos para olhar mais de perto e tiramos um tempo, para avaliar os capítulos da nossa própria história, podemos criar um desfecho melhor e mais positivo, desconstruindo e reinterpretando uma cena aqui e ali, alterando o resultado dos capítulos seguintes.
Em certos momentos vivemos numa Comédia, depois passamos por um drama, há quem viva até mesmo um terror, mas em toda boa história tem seus momentos românticos, alegres, e de muita esperança, por isso, nos cabe apenas viver intensamente e deixar que o autor maior Deus, defina quais serão os próximos capítulos.
Devemos sempre ter em mente que o livro que escrevemos não pode ser reescrito, os acontecimentos passados não podem ser mudados. Por isso, não podemos nunca esquecer que plantamos hoje o que vamos colher no futuro, a vida é uma sucessão de consequências de nossas ações, não é como uma lavoura que no plantio já sabemos quando será a colheita, a colheita da vida pode ser imediata ou demorar longos anos, mas é preciso que seja cultivada, assim como as plantas, que precisam de cuidados, devemos cuidar de nossa vida com sabedoria. O futuro ainda não sabemos o enredo, mas sabemos quais são nossos objetivos e devemos lutar para que se realizem.
Deus nos dá uma nova chance todos os dias de escrever a nossa própria história. Cabe a nós, escolhermos o que vamos escrever hoje, e por isso temos que construir cada detalhe com total convicção de que estamos fazendo o nosso melhor, pois amanhã não terá como voltar atrás e fazer diferente. E o que foi escrito por nós hoje, borracha nenhuma será capaz apagar no amanhã.
Porém, chega uma hora em que Deus nos tira o lápis e escreve ''FIM''. Por esse motivo, devemos aproveitar bem hoje, pois cada momento é único, o passado não voltará e o futuro pode não chegar. Não devemos desperdiçar tempo com mágoas, ódios, rancor e brigas. Assim como nos filmes, também temos um tempo limite, assim como os heróis e heroínas dos filmes. Afinal é por isso que gostamos e torcemos por eles.
Será que após escrevermos o livro de nossa vida e transformá-lo em um filme, vamos ter coragem de assistir ou até mesmo projetá-lo para nossos familiares e amigos? Bem, apenas para fazermos uma reflexão.
Porém, não podemos esquecer que o maior leitor da história de nossa Vida é Deus. Ele lê as linhas, mas também conhece as entrelinhas da história da nossa vida.
“Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta” (Chico Xavier).
Em um dos versos do nosso querido Hino Nacional nos diz: “Gigante pela própria natureza. És belo, és forte, impávido colosso. E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada[...]. Esse verso ressalta muito bem a variedade de riquezas naturais do Brasil. Acredito que possamos complementar dizendo não só gigante pela própria natureza mas também gigante pela riqueza cultural que temos em todas regiões do Brasil. Por exemplo podemos citar as festas juninas que costumam ser dedicadas aos três santos - Santo Antônio, São João e São Pedro – principalmente no Nordeste do Brasil. Entretanto, apesar das comemorações estarem tão entranhadas na cultura brasileira, é interessante destacar que algumas dessas práticas são heranças absorvidas da tradição portuguesa, em especial os aspectos religiosos.
As festas juninas são conhecidas popularmente por serem de caráter alegre, com brincadeiras, comidas típicas, simpatias, e muito forró. Fogueiras, bandeirolas, quadrilha, fogos de artifício e bandeiras dos santos são alguns dos símbolos de uma festa junina.
A fogueira é um dos elementos de mais destaque nas festas juninas e tem especial ligação com o dia de São João, pois foi por meio de uma fogueira que sua mãe, Santa Isabel, avisou Maria, mãe de Jesus, que o filho tinha nascido. Cada santo junino tem um tipo diferente de fogueira, sendo a de santo Antônio quadrada, a de são João redonda e a de são Pedro triangular. Os balões foram criados para lembrar as pessoas do início da festa. As bandeirolas surgiram por causa dos três santos: são João, santo Antônio e são Pedro, onde estes eram pregados nas bandeiras para serem admirados durante a festa. Os fogos de artifício são usados para espantar os sentimentos ruins, os maus espíritos. A quadrilha é uma forma de agradecimento pelas boas colheitas, feita aos santos juninos. A origem desse tipo de dança é o bailado trazido da França entre o século 18 e 19 e popularizado na sociedade rural. A origem francesa da dança é perceptível através de alguns termos comuns, que são usados nesses momentos pelos narradores das quadrilhas, como “anarriê”, por exemplo, que em tradução livre significa “para trás”.
As simpatias são uma forma de trazer maiores crenças, como sorte na vida e no amor. A maior parte dessas simpatias era de adivinhações, principalmente relacionada com o casamento.
O folcloristas Câmara Cascudo, em seu livro Superstições no Brasil, diz o seguinte: Em noite de São João passa-se sobre a fogueira um copo contendo água, mete-se no copo sem que atinja a água um anel de aliança preso por um fio, e fica-se a segurar o fio; tantas são as pancadas dados no anel nas paredes do copo quantos os anos que o experimentado terá de esperar pelo casamento. (p. 148).
Quem não se lembra da música “Brincadeira Na Fogueira” (1967), do compositor paraibano Antônio Barros: Tem tanta fogueira, tem tanto balão. Tem tanta brincadeira, todo mundo no terreiro faz adivinhação. Meu são João, eu Não. Meu são João, eu Não. Eu não tenho alegria. Só porque não vem. Só porque não vem. Quem tanto eu queria. Danei a faca no tronco da bananeira. Não gostei da brincadeira, Santo Antônio me enganou. Sai correndo lá pra beira da fogueira, vê meu rosto na bacia a água se derramou”. Nessas simpatias, normalmente o coitado do Santo Antônio sempre é sacrificado, sendo colocado de cabeça para baixo até que a pessoa arrume um companheiro.
Segundo a doutora Zulmira Nóbrega em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia o São João é uma festa completa. Ele não é uma festa como o carnaval. No Carnaval você vai, você dança, você se diverte e acabou. O São João tem todo um conjunto de símbolos ali dentro (…) que é a comida típica, a comida de milho, as bandeirinhas, as quadrilhas, o forró, o vestir, as brincadeiras.
Bem, não tem como falar sobre festa junina, é não lembrar de imediato de forró. O forró é uma expressão artística nordestina. Trata-se de uma manifestação cultural bem ampla e que se consagrou como ritmo musical, mas também como um estilo de dança,
Chamado em sua origem de “forrobodó”, o surgimento do forró pode estar relacionado a bailes populares que aconteciam no final do século XIX. Na época, era necessário molhar o piso do local onde essas festas aconteciam, pois era feito de "chão batido", não tendo revestimento, e a dança acontecia na própria terra. Durante a dança, as pessoas costumavam arrastar os pés para evitar que a poeira levantasse. Foi então que surgiu a expressão “rastapé” ou “arrasta-pé”. O ritmo também teve influência de ritmos holandeses e portugueses e das danças de salão europeias.
Uma conhecida anedota diz que a palavra forró teria surgido de uma corruptela de "for all" ("para todos", em inglês) em bailes abertos ao público promovidos por trabalhadores gringos no Nordeste. O mais provável é que seja apenas uma lenda, verossímil por causa do espírito popular do ritmo, e a verdadeira origem tenha a ver com a expressão francesa faux-bourdon (algo como "falso bordão", uma técnica de harmonização musical).
Como um ritmo típico da região nordeste do país, o forró acrescenta a dança e vários instrumentos musicais de forma única em sua composição que são: a sanfona, a zabumba e o triangulo. Podemos ser taxativa ao afirmar que não existe forró sem sanfona, zabumba e o triangulo.
A sanfona não é um instrumento brasileiro, mas foi adotado por nós. Faz parte da cultura brasileira. Lembramos que o mais primitivo ancestral da sanfona hoje conhecida, segundo pesquisadores, surgiu na China, em 2700 a.C., com a denominação de “Cheng”. Suas primeiras características eram de um instrumento de sopro, pois, além de ter um recipiente de ar, canudo de sopro e tubos feitos de bambu, esse instrumento transmitia sons a partir do sopro emitido pela boca.
De acordo com o padre jesuíta Amiot, o Cheng foi levado da China para São Petersburgo, na Rússia. Da Rússia, passou para a Europa, tendo na Alemanha, esse intrigante invento chamado a atenção de muitos curiosos, entre eles o fabricante de instrumentos europeu Friedrich Ludwig Buschman e o austríaco Cyrillus Demien. Em 1822, Ludwig criou um instrumento de sopro um pouco mais elaborado, utilizando ainda o sistema de palhetas; e, sete anos depois, Demien acrescentou o fole àquela engenhoca, patenteando a sua invenção com o nome de acordeão, devido aos acordes obtidos através da manipulação de seus quatro botões. O acordeão foi patenteado por Demian em 06 de maio de 1829 na cidade de Viena.
Os primeiros acordeões italianos foram construídos em 1863 em Castelfidardo, em Ancona, surgindo depois Paolo Soprani e Stradella-Dellapé.
Somente no final do século XIX é que o acordeão aportou no Brasil, trazida por imigrantes alemães e italianos. O primeiro acordeão n a chegar ao Rio grande do Sul veio com uma família de imigrantes alemães no ano de 1846 na cidade de São Leopoldo.
Com o aumento de sua popularidade nas regiões nordeste, centro-oeste e sul, o instrumento passou a ser chamado de sanfona.
Particularmente no Nordeste, a sanfona se tornou maestrina do então novo ritmo do forró no início do século XX.
Quando se fala em sanfona, é comum que o termo “acordeão” logo venha à mente. Em muitos lugares, um nome é mais famoso que o outro e, então, surgem as dúvidas sobre quais são as suas diferenças.
Se modelos equivalentes forem comparados, o acordeão e a sanfona são o mesmo instrumento. Trata-se, apenas, de uma distinção regional no nome do instrumento e que está relacionada ao sotaque. Para algumas pessoas, o acordeão emite o mesmo som em qualquer movimento, enquanto a sanfona traz opções diferentes entre abrir e fechar. Contudo, isso está muito mais ligado ao modelo que à nomenclatura.
Na região sul do Brasil, o mesmo instrumento é conhecido como gaita. Quando o termo é usado nesse contexto, entende-se que não se trata da gaita de boca, e sim de um nome regional para a sanfona.
Os Acordeões ou sanfonas possuem diferenças quanto ao número de baixos, podendo ser de 8, 12, 24, 48, 60, 72, 80 ou 120 baixos. Os baixos são botões tocados com a mão esquerda que exercem função de acompanhamento, tocando notas e acordes num ritmo determinado pelo estilo de música.
A sanfona de oito baixos, também conhecida como pé-de-bode, fole de 8 baixos, fole, harmônica ou simplesmente 8 baixos, faz parte da memória musical e afetiva do Nordeste, verdadeiro patrimônio cultural sertanejo. Considerada pelos sanfoneiros como um dos instrumentos de mais difícil execução, pelo jogo de fole obrigatório, a tradição do fole de 8 baixos é uma arte que atualmente é dominada por poucos. Importante lembrar que a sanfona de Oito Baixos, foi a primeira sanfona aquisição do Rei do Baião Luiz Gonzaga.
É possível dividir a história do forró em duas partes: antes e depois de Luiz Gonzaga. Antes, as matrizes forrozeiras se dispersavam pelos sertões na forma de baiões, xaxados, xotes e outros ritmos, tocados e dançados nos forrós (ou forrobodós). Luiz Gonzaga, o brilhante intérprete e compositor pernambucano, com seu acordeão, suas criações geniais, seus trajes de vaqueiro e seu carisma, ao se tornar um sucesso no Rio de Janeiro, a partir da década de 1940, divulgou como ninguém os ritmos nordestinos – até então desconhecidos por grande parte dos brasileiros – consagrando-os em um único gênero musical que se popularizou como forró. Na década de 1950, Luiz Gonzaga se tornou ícone pela música ‘Forro de Mané Vito’ — desde então, seu nome tem sido lembrado por amantes de forró.
A partir da atuação pioneira de Gonzaga, o forró foi abraçado por diversos outros artistas importantes, como Genival Lacerda, Trio Nordestino, Dominguinhos, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Marinês, e consolidado como gênero musical nacional, que evolui, se moderniza, se transforma e cativa – seja na forma de forró tradicional, forró pé de serra, forró universitário ou forró eletrônico – brasileiros de diversas origens e gerações.
Infelizmente, nos últimos anos, as festas juninas pelo país revelou um movimento que vem crescendo e preocupa quem luta para manter vivas as culturas regionais: o crescimento dos shows sertanejos em festas populares que não nada tem a ver com essa modalidade. Isto é, estamos tendo uma descaracterização na festas juninas, principalmente do Nordeste.
Quem vem para o Nordeste em junho vem para ver e ouvir as tradições desse povo que passa a vida inteira alimentando suas raízes em sua poesia, sua música, sua culinária, suas crenças, suas vestimentas. Nada contra os outros gêneros que já têm o ano inteiro à disposição deles, mas é preciso respeito para com o que é nosso.
Festa junina do passado eram momentos ternos de união entre os vizinhos, ruas e até bairros, enquanto que atualmente é uma congregação de interesses comerciais e políticos. Vizinhos se reuniam, dividindo as tarefas. Cada família participava com aquilo que podia. Escolhía-se o vizinho que tivesse o quintal maior para ser montado o arraial. Começava então a preparação da festa. Balões, bandeirinhas, lanternas eram confeccionadas em diversas noites de reuniões. Decidía-se então quem seria o noivo, a noiva, padrinhos, padre etc. Atualmente, vizinho não conhece vizinho. Nas ruas não se pode mais fazer fogueira. Balões, só em sonhos. As festas são organizadas por clubes, escolas e entidades assistenciais. Faz-se shows de pagode, convidam-se grandes astros para incrementarem as festas e assim ganharem mais dinheiro. São festas comerciais. Não há mais inocência, romantismo, cooperação e fraternidade.
As quadrilhas juninas estão se transformando em escolas de samba. As tradicionais roupas de matuto foram substituídas por vestimentas que lembram mais as escolas de samba desfilando na Sapucaí, no Rio de Janeiro. Uma modernização que descaracteriza sua essência cultural. A modernidade tá eliminando a tradição.
Só no Brasil é que a palavra "evoluir" pode significar algo pior, medíocre, algo que perde a qualidade existente. E é exatamente isso que está acontecendo com as festividades de São João no Nordeste do Brasil.
Cada dia que passa vão empurrando o nosso forró para mais longe do lugar que ele merece. O forró é nossa identificação cultural, é o eco do canto do povo desse lugar.
Temos pelo menos uma luz no fim do túnel. Em junho de 2023, o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou em regime de urgência a lei Luiz Gonzaga 3083/2023. O projeto prevê destinar 80% de recursos públicos para as festividades juninas em todo o território nacional, visando a valorização do forró, que em 2021 foi declarado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com o projeto aprovado na câmara, o próximo passo é a votação
A cultura é dinâmica. As coisas vão evoluir, tomar novos caminhos ao longo dos anos. Não há problema nisso. Mas é evidente que algumas tradições precisam ser preservadas para que não se percam.
O mês de junho é sempre e sempre será vinculado as festividades juninas e consequentemente as música do forró, então, pelo menos nesse momento deixem o nosso verso desfilar pelas ruas, pelos arraiais, pelos espaços de grandes e pequenos polos destinados à verdadeira festa junina.
Lembramos que o Dia Nacional do Forró é comemorado em 13 de dezembro. A data escolhida faz referência ao nascimento do seu principal representante, o cantor, compositor e sanfoneiro Luiz Gonzaga.
Plagiando à música de Luiz Gonzaga “Sanfoninha Choradeira”, digo: “Chora sanfoninha, chora, chora. Chora sanfoninha minha dor. Sanfoninha que toca a alma da gente que permaneça viva nas festas juninas dos nordestinos e no coração de quem lhe tem amor”.
Durante cinco anos de minha vida de labuta, tive a oportunidade de ensinar em colégios Estaduais, da rede de ensino da Paraíba. Sem sombra de dúvida foram grandes experiências e desafios que tive, principalmente por ter ensinado a matéria de Física a muitos estudantes com pouco conhecimento em matemática. Mas isso não me desanimava, pelo contrário, era um incentivo de continuar com minha missão. Apesar da minha vida profissional paralela, a minha presença em sala de aula, além de obrigação, era mais uma forma de ensinar que a responsabilidade com os compromissos assumidos faz parte de nossa vida. Confesso que, nesse período de ensino, não me lembro quantas vezes fiquei ausente da sala de aula. Era para mim uma grande alegria quando nos dias que tinha que cumprir minha missão, no ultimo horário, encontrava a sala cheia de alunos, mesmo quando nos primeiros horários os mesmos não tivessem tido aula.
Gostava sempre de dizer aos alunos que a Física era a ciência da natureza, pois se dedica a estudar a natureza e os elementos que a compõe, buscando compreender as interações exercidas entre as forças presentes no universo e o resultado produzido nessas relações.
Na minha opinião, pelo fato do professor ter o papel de formador de cidadãos, torna-se a mais importantes profissão para a sociedade. Desde que o mundo é mundo, o professor é o único profissional que forma todas as outras profissões. Ninguém é médico, dentista, advogado, engenheiro, doutor, sem passar pelo carinho, pela atenção e pelo amor de um professor.
Segundo historiadores, na história da humanidade, os sufistas foram os primeiros professores profissionais do Ocidente. Neles está a origem da docência. Eles recebiam essa denominação porque percorriam as cidades, se deslocando de um lugar para o outro, Atuaram durante a Grécia Antiga, em um período em que os cidadãos estavam muito interessados em aspectos da vida pública e política. Por isso, seus ensinos, que envolviam a argumentação pública, retórica e oratória, encontrou tantos adeptos. É importante ressaltar que o trabalho realizado pelos sufistas não era gratuito. Todas as aulas eram concedidas mediante pagamento.
Em nosso amado Brasil, o jesuíta português Vicente Rijo, foi o primeiro professor. Nascido no ano de 1528 às margens do Rio Tejo, com o nome de Vicente Rodrigues, ingressou na Companhia de Jesus e fez parte do primeiro grupo de jesuítas enviados ao Brasil, chegando à Bahia em 29 de março de 1549. Na literatura educacional brasileira, poucas referências encontramos referente a figura de Vicente Rijo Rodrigues, primeiro mestre da escola do Brasil. Primeiro sacerdote da Companhia de Jesus a ser ordenado em terras brasileiras e igualmente primeiro a instalar uma escola jesuítica no continente americano.
Por este tríplice pioneirismo, cabe a Vicente Rodrigues honroso lugar de destaque, tanto na História da Educação Brasileira, quanto na própria História da Igreja, em nosso país.
As poucas referências a sua pessoa vamos encontrar em três obras do historiador Serafim Leite: Novas Páginas de História do Brasil, História da Companhia de Jesus no Brasil e Monumenta Brasiliae.
Em 1553, chegava ao Brasil o padre José de Anchieta. Sua missão foi ensinar aos índios sobre o cristianismo. No entanto, ele também aprendeu o guarani, língua falada na época e que fazia parte da cultura indígena. Foi o primeiro dramaturgo, o primeiro gramático e o primeiro poeta nascido nas Ilhas Canárias. Foi o autor da primeira gramática da língua tupi, e um dos primeiros autores da literatura brasileira, para a qual compôs inúmeras peças teatrais e poemas de teor religioso e uma epopeia.
Existe uma profunda diferença, entre dar aula e ser professor. Dar aula é uma atividade, mas ser professor é muito mais do que isso. Ser professor é, muito antes de ser uma profissão, uma das formas mais genuínas do amor. Como já dizia o grande mestre Paulo Freire, “eu nunca poderia pensar em educação sem amor." Em outras palavras: Ser professor é mais que um trabalho, é um ato de amor. Além da transmissão de conhecimento, o professor desenvolve a função de educador, ou seja, educar para a vida, sempre buscando que o aluno reconheça o seu lugar no mundo.
Ser professor é partir do princípio de ter amor pela profissão e estar engajado em ser um semeador da transformação em parceria com o aluno, inseridos na leitura do mundo, cujos objetivos são: despertar a criatividade; desenvolver o senso crítico e incentivar o ato de reflexão através do conhecimento. Ser professor é posicionar-se perante o mundo, despir-se de títulos e honrarias e desenvolver relações horizontais, criando vínculos e identidade com seus educandos, problematizando o saber no contexto social, no qual o grupo está incluído, exercitando o uso público da razão, a mais inofensiva de todas as liberdades.
Estar em uma sala de aula para ensinar e educar requer criatividade, pois muitas vezes o conhecimento não basta. É preciso entreter os alunos, se comunicar com eles, compartilhar ideias e estimulá-los a pensar, imaginar e fugir do senso comum. Igualmente, é necessário buscar por atualizações, principalmente considerando às mudanças constantes que o mundo sofre e que precisam ser compartilhados em sala de aula.
Professor acaba por viver muitas vidas além da sua. Vivencia o crescimento, os obstáculos, as crises, os começos de namoro, as brigas entre amigos, problemas de casa, a conjuntivite alheia, as angústias, etc.
Paulo Freire dizia: “A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo”.
Lembramos que a primeira comemoração de um dia inteiramente dedicado ao profissional da educação, ocorreu em São Paulo, numa pequena escola da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, por iniciativa de alguns professores, em 15 de outubro de 1947. A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963.
Infelizmente, a profissão está ameaçada. Nossos jovens estão cada vez menos atraídos pela profissão de professor. De cem alunos que entram no curso de pedagogia, apenas 51 se formam e só 27 tem interesse em trabalhar na área.
Não é fácil ser docente neste nosso país. Se fossem instaladas câmeras em algumas escolas, de Norte a Sul do país, para registrar o dia a dia de alunos e professores em sala de aula, o resultado mostraria, de forma inconteste, uma realidade que, em muitos casos, gostaríamos de não assistir. A indisciplina amedronta os próprios alunos e tem atingido, sobremaneira, muitos professores, obrigando-os, inclusive, a se afastarem do magistério. A violência, que tem tomado as ruas de nossas cidades, vem também se repetindo com mais intensidade dentro das nossas escolas.
Para a pedagoga e catedrática sueca, Inger Enkvist é impossível aprender bem sem disciplina. “Não se é bom professor apenas pelo que se sabe sobre a matéria, nem só porque sabe conquistar os alunos. É preciso combinar ambos os elementos: atrair os alunos para a matéria para ensiná-la adequadamente. É preciso recrutar professores excelentes, nos quais alunos, pais e autoridades possam confiar. E a menos que haja uma situação grave, devemos deixá-los trabalhar”, afirma a pedagoga.
É preciso que as autoridades públicas se conscientizem e reconheçam a importância de se reestruturar a rede pública de ensino, de oferecer condições dignas de trabalho e, principalmente, melhores salários para o corpo docente.
São anos de estudos e dedicação, para que finalmente, o professor consiga ocupar o espaço de mestre dentro de uma sala de aula. Mas muito mais do que estudar ou se preparar intelectualmente para ensinar e educar os alunos. É necessário ter vocação para enfrentar os melhores momentos e as piores dificuldades em realizar sua tarefa.
Etimologicamente, a palavra “mestre”, deriva do latim magister, que significa professor, ou seja, aquele que professa algo, que se dedica à arte de ensinar. Todavia, nos dias atuais, esse vocábulo tem apresentado outros inúmeros sentidos, tais como: alguém que concluiu um curso de mestrado em alguma área do saber e/ou que exerce a profissão de: mestre-escola, mestre de obras, mestre-cuca, mestre-sala, mestre de cerimônias etc.
Ser mestre não é apenas lecionar, transmitir aos alunos determinados conteúdos curriculares programáticos. É também saber caminhar com os educandos passo a passo, desvelando aos mesmos os segredos e percalços da caminhada da escola da vida e da vida na escola.
Sendo assim, pode-se dizer que mestre não é aquele que simplesmente apresenta um caminho novo, mas aquele que mostra como algo novo o jeito de caminhar. Por isso que o nosso Mestre dos Mestre foi Jesus Cristo. Seus ensinos, seus sermões ou discursos e suas aulas eram eloquentes e profundamente convincentes aos que o ouviam. Jesus era o Mestre perfeito. Além de Pastor, pregador, missionário e evangelista, exercia com excelência a missão de ensinar.
O ensino do Mestre Jesus, não teve nem tem paralelo em qualquer instrução, discurso ou filosofia dos homens. São ensinamentos para serem vividos, e não apenas pregados. Seu ensino era bem recebido pelas multidões, porque Ele vivia o que ensinava e ensinava o que vivia.
Jesus conseguia ensinar desde o mais simples dos homens até o mais culto e estudado. Escribas, fariseus, autoridades judaicas e romanas, homens e mulheres de alta posição, mendigos e as mais tenras criaturas eram alcançadas por ele, em meio a uma multidão eclética e diversificada.
O Mestre dos Mestres deixou-nos grandes exemplos de sua pedagogia: conhecia a matéria que ensinava (Lc 24:27); conhecia seus alunos (Mt 13; Lc 15:8-10; Jo 21); reconhecia o que havia de bom em seus alunos (Jo 1:47); ensinava as verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc 5:17-26; Jo 14:6). Jesus foi o Mestre dos Mestre numa escola onde muitos intelectuais se comportam como fracos alunos.
Enfim, ser um mestre é exercer um dos mais dignos papéis intelectuais da sociedade, embora um dos menos reconhecidos. Os alunos que não conseguem avaliar a importância dos seus mestres na construção da inteligência nunca conseguirão ser mestres na sinuosa arte de viver.
Um bom mestre é valorizado e lembrado durante o tempo de escola, enquanto um excelente mestre jamais é esquecido, marcando para sempre a história dos seus alunos.
Não tenho dúvida que investir em educação é o principal caminho para transformar às pessoas, que construirão este país mais justo e igualitário em oportunidades.
Lembrando novamente Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda às pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Os tempos mudaram, principalmente quando se trata de tecnologia. Essa revolução tecnológica, principalmente nos meios de comunicação, atingiu em cheio as relações interpessoais, de forma a mudar inclusive, os relacionamentos. Referimo-nos, especificamente, a uma carta escrita à mão. Alguns bons anos atrás, uma conquista amorosa exigia trabalho, esforço, romantismo e um pouco de sorte. E para isso não havia Internet, redes sociais e todas as facilidades de que dispomos hoje em dia.
Os meios de comunicação passaram por grandes transformações. A invenção da internet modificou tudo aquilo que conhecíamos a respeito das formas de comunicação. Essa rede que integra mundialmente, milhares de computadores foi capaz de aproximar pessoas, diminuindo longas distâncias e reduzindo o tempo de transmissão de uma informação. Atualmente, os celulares são um dos meios de comunicação mais utilizados no mundo.
Longe de mim de ser contra as mudanças ou o progresso. Nada disso! Mas é sempre positivo podermos lembrar ou recuperar os costumes do passado e aplicá-los, por exemplo, aos nossos relacionamentos, a fim de recuperar os gestos românticos.
O romantismo era mais atenuado em anos anteriores, não era como hoje que as pessoas agem diferente. Quando alguém se apaixonava por uma pessoa, elas escreviam uma carta, perfumavam e mandavam uma lembrancinha. Um ato bem romântico que deixou de existir com a chegada da tecnologia.
A mudança da escrita é tão clara que atualmente, em vista da evolução da tecnologia, a caligrafia que tinha tanta relevância, acabou perdendo o primor por conta do acesso aos computadores.
Um pedaço de papel com palavras escritas a caneta ou a lápis, era responsável por manter as pessoas informadas sobre a vida de amigos e de familiares.
Hoje em dia estamos tão acostumados com a comunicação instantânea que parece perda de tempo só pensar em usar uma caneta. Porque dá mais trabalho: escrever, envelopar, selar, postar, esperar. É muito mais fácil enviar um e-mail ou conversar por vídeo.
A comunicação surgiu da necessidade do ser humano de passar informação uns aos outros. Após o surgimento da escrita, a carta tornou-se um meio de comunicação bastante utilizado para enviar informações, estabelecendo uma comunicação interpessoal.
A história da escrita começou no período da pré-história, quando os homens faziam desenhos nas paredes das cavernas como uma forma de se comunicar. Esses desenhos, chamados de pinturas rupestres, consistiam na transmissão de ideias desses povos, pois representavam seus desejos e necessidades. A arte rupestre foi o início da comunicação entre os seres humanos. As primeiras formas de escrita eram diferentes e surgiram na Mesopotâmia, China, Egito e América Central.
Durante sua história, a carta foi escrita em muitos tipos de materiais e muitos foram os canais pelos quais era enviada. Assim, as primeiras cartas foram escritas com um material chamado de papiro, um tipo de papel feito com uma planta chamada papiro, 3.000 anos antes de Jesus nascer. Muitos anos depois, no século 2 antes de Cristo, em uma região na Turquia chamada de Pérgamo, foi inventado o pergaminho, um tipo de papel feito de pele de carneiros e bezerros. O papel que utilizamos nos dias atuais foi inventado 100 anos depois do nascimento de Cristo por um chinês chamado T’sai Lun.
Outro importante fato histórico, a ser observado, se refere ao modo como as cartas chegavam até seu destinatário. Os pombos foram utilizados por muito tempo como meio de envio de mensagens. Os cavalos foram também uma outra forma de envio postal utilizada. Já no Egito, mais de 4 mil anos antes da Era Cristã, já existiam os sigmanacis, mensageiros que levavam recados escritos a pé ou montados em cavalos e camelos.
Através dos séculos a troca de informações define impérios, governos e até mesmo guerras. Enviar mensagens para longas distâncias em pouco tempo sempre foi um desafio. Por isso, o telégrafo foi uma revolução no século 18. Com essa máquina, era possível digitar uma mensagem que chegava em poucos instantes no local desejado através de código.
No Brasil, as cartas chegaram junto com os primeiros portugueses. Assim que a esquadra de Cabral aportou, Pero Vaz de Caminha enviou uma correspondência ao rei, comunicando o descobrimento das novas terras. Na carta, Pero Vaz de Caminha mostra como foi o primeiro encontro entre os portugueses e os indígenas. Um pequeno trecho: “Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel.”
“A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência.”
A história epistolar está cheia de cartas abertas, aqueles que são escritos com a intenção de serem lidos por um grande público.
Por exemplo, a carta escrita por Martin Luther King Júnior destinada aos Companheiros Clérigos, conhecida com a Carta da prisão de Birmingham. King escreveu: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar”. “'Qualquer pessoa que vive dentro dos Estados Unidos nunca pode ser considerada um estranho em qualquer lugar dentro de seus limites”.
Temos a carta de Gandhi para Adolf Hitler: “É evidente que, no momento, o senhor é a única pessoa do mundo capaz de impedir uma guerra que pode reduzir a humanidade ao estado de barbárie. O senhor pagaria esse preço, por mais valioso que lhe pareça o objetivo que tem em mente?” A carta, datada de 23 de julho de 1939, pedia que o ditador evitasse conflitos armados. O escrito nunca chegou ao destinatário por uma intervenção do governo britânico. Poucos meses depois, em setembro, a Alemanha invadiu a Polônia no episódio que marcou o início da Segunda Guerra Mundial.
Não podemos esquecer, entre os livros que formam a Bíblia, as 21 cartas escritas por Paulo e outros seguidores de Cristo, direcionadas aos povos, como os romanos e os habitantes da cidade de Corinto, na Grécia Antiga.
Algumas cartas marcam a história do nosso país, como por exemplo, as escritas por Princesa Isabel, Getúlio Vargas e Jânio Quadros.
Por uma carta, mais especificamente uma carta de lei, a Princesa Isabel, em 1888, extinguiu a escravidão do Brasil. O documento, escrito com caligrafia rebuscada, brasão imperial e tinta em tons de preto, azul, vermelho e dourado, ficou conhecido como Lei Áurea.
Ressaltamos, também, as duas cartas deixadas por Getúlio Vargas, horas antes do suicídio, em 24 de agosto de 1954, e dirigida ao povo brasileiro. Uma carta escrita e outra datilografada, que a imprensa divulgou como oficial. Há controvérsias quanto a autoria, mas nunca conseguiu-se provar quem realmente teria escrito se não o próprio Vargas. Em ambas, destaca-se o final contundente: “... lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história. ”
E dentro do mesmo contexto, a carta melancólica de despedida de Jânio Quadros. Getúlio Vargas, está longe de ser o único presidente a usar cartas para justificar ou tomar decisões. O ex-presidente do Brasil Jânio Quadros (1917-1992) usou o recurso para anunciar sua renúncia, depois de sete meses no comando do país. “Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores”, escreveu.
Importante lembrar, o filme “Central do Brasil”, obra cinematográfica de Walter Salles. No filme, a personagem de Fernanda Montenegro, através da personagem Dora, uma amargurada ex-professora, escreve cartas para pessoas que não aprenderam a ler e escrever. Infelizmente, para não fugir da regra, ela embolsa o dinheiro sem sequer postar as cartas. No filme, conhecemos fragmentos de histórias de um povo sofrido, mas cheio de sonhos e esperança. Nesse contexto, se apresenta o problema do analfabetismo, falta de oportunidades, desigualdade no país e a desonestidade brasileira. Esse filme, recebeu diversas premiações em Festivais no mundo todo, sendo indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte de sua estreia.
As cartas sempre estiveram presentes em minha vida, na infância e pré-adolescência escrevia cartas para meus avós e quando cheguei na juventude, comecei escrever cartas de amor para minha amada Maria. Até hoje guardo as 34 cartas que escrevi no período, principalmente de namoro/noivado, sem contar as cartas também escritas por ela, nesse período. Todas elas me levam de volta ao passado. Considero meu “tesouro literário”. O ato de abrir o envelope e ler algumas palavras de quem a gente gosta, a quem queremos bem, tem um valor indizível, invisível, incomensurável. Eu me lembro de quando contava os dias para receber a resposta das cartas enviadas.
A escrita ajudava-nos muitas vezes a expressar de forma mais clara os sentimentos que palpitam no nosso interior. Para escrever uma boa carta de amor não era preciso ser um Pablo Neruda. Ele dedicava-se a esta arte.
Escrever uma carta, dedicar tempo a pensar em versos, em frases que encantam, ou mesmo, de maneira simples tentar traduzir sentimentos em palavras de amor, parece distante para muitas pessoas na correria dos dias atuais.
A carta manuscrita ainda é um meio carinhoso de comunicação com às pessoas amadas. A carta carrega coragem em suas linhas, e os “ecos vibrantes da saudade” nas entrelinhas. Ela tem singularidades incomparáveis. Sempre irá carregar um pouco de quem você é, de como está, como se sente. A carta escrita à mão carrega muito mais do que palavras. É troca de amor e de dor, de alegria e tristeza, de sabedoria e aprendizado, de mudança e permanência. Enfim, é veículo de sentimentos reais.
Conforme escreveu o professor português Vasco Botelho de Amaral, “As cartas amorosas imortalizam vivências e sentimentos do casal. Funcionam não apenas como um modo de comunicar, mas em especial de tornar presente, de substituir aquele que a escreveu – e que está ausente – pelo que está escrito”.
Em meio a tantas palavras é difícil não se emocionar, não se divertir, não se remeter a um mundo que quase não existe mais. É tão bom ler cartas! Não sei se meus filhos ou netos lerão cartas. Acho que só "e-mails" que possivelmente serão rapidamente deletados. É uma pena...
A carta é um abraço dado à distância. É a expressão do amor em silêncio. É por isso que o papel que contém palavras impressas do e-mail recebido nunca será a mesma coisa que a carta escrita de próprio punho.
Em um mundo onde tudo é tão rápido e instantâneo, dedicar tempo e emoção para escrever uma carta é realmente uma demonstração de apreço pelo destinatário da carta.
Hoje, só abrimos as seguintes correspondências: contas, propagandas, panfletos de ofertas. Só. Uma lástima.
Ainda bem que existe o período do Natal, pois é nessa época que aumenta a demanda de cartas pessoais, pois Papai Noel é o responsável por esse aumento.
O evangelho diz que o homem sábio sabe tirar do seu tesouro coisas velhas e coisas novas (Mateus 13, 52). Portanto, precisamos saber tirar lições do passado e do presente, para direcionar melhor o nosso futuro! Ter a coragem de enxergar aquilo que funciona e que não funciona, e fazer escolhas livres, conscientes e responsáveis.
Se por um lado é verdade que algumas coisas do passado não servem mais para hoje, também é verdade que precisamos resgatar muitas coisas, que deram e podem continuar dando certo hoje.
O tempo passas mas as lembranças ficam. É nesse contexto, que recordo dos meus primeiros ensinamentos sobre a história do Brasil, ainda no antigo primário (hoje ensino fundamental). Inicialmente, aprendemos que em 22 abril de 1500 os navegadores portugueses descobriram o Brasil. Hoje temos a consciência que na realidade Portugal não descobriu o Brasil, ele ocupou, invadiu, submetendo dessa maneira diversos nativos aqui existentes. Se o Brasil já possuía uma população, não se tratou de uma descoberta, e sim de uma conquista.
O primeiro documento escrito relatando a existência dos nativos é a Carta de Pero Vaz Caminha a El Rey D. Manuel. A primeira referência de Caminha ao gentio da terra é a seguinte "E dali houvemos vista de homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro". Informa ainda em sua Carta que os índios " ... não lavram, nem criam", o que contribui para a ideia do índio preguiçoso, que ainda hoje vive no imaginário de muitos. Também é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha.
Esses nativos trocaram presentes com os lusos sendo que entre os presentes dados pelos primeiros, estavam papagaios e araras que eram espécies de aves totalmente desconhecidos até o momento, pelos navegadores europeus. Ao chegar à Europa, a corte portuguesa ficou impressionada com a beleza das plumas daquelas aves. Por esse motivo, por algum tempo, chamaram a terra de onde aquelas aves haviam sido trazidas de "Terra dos Papagaios".
Que bela terra encontrada pelos irmãos portugueses. Podemos até comparar com o paraíso bíblico. Um verdadeiro jardim do Éden para cultivar, pescar e viver. Mas infelizmente, assim como relatado no Livro dos Gênesis, apareceram as serpentes em forma de portugueses e fizeram os reais brasileiros sentirem-se nus, e passaram a serem conhecedores do bem e do mal.
O primeiro contato entre nativos e portugueses foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Alguns historiadores, caracterizam esse momento como um “encontro de culturas” e outros como um “desencontro de culturas”, visto que as relações foram estabelecidas desde o início, pautadas numa hierarquia, a qual pressupunha a superioridade do homem branco (europeu) em relação ao “outro” dito selvagem/não “civilizado” (indígena).
É nesse cenário, e a partir desse choque de culturas, que se tem início a colonização portuguesa no Brasil, o qual corresponde a um processo massivo de extermínio de povos indígenas, invasões e conflitos entre portugueses e indígenas, doenças contagiosas oriundas de Portugal se espalhando no Brasil e exploração das terras brasileiras. Ou seja, o “descobrimento” do Brasil é um processo marcado pela violência colonial.
No primeiro século de contato, 90% dos indígenas foram exterminados, principalmente por meio de doenças trazidas pelos colonizadores, como a gripe, o sarampo e a varíola. Nos séculos seguintes, milhares de vítimas morreram ou foram escravizadas nas plantações de cana-de-açúcar e na extração de minérios e borracha.
Não podemos esquecer expedições realizadas no século XVIII, denominadas Entradas e Bandeiras, que tiveram como objetivo a captura de índios para o trabalho escravo e a procura por metais preciosos, como ouro, prata e diamante.
O bandeirantismo, foi responsável pela morte e exploração de um grande número de indígenas. Usualmente, livros didáticos, reconstituições históricas, meios de comunicação costumam ressaltar uma imagem heroica dos bandeirantes paulistas que desbravaram os sertões brasileiros. Um verdadeiro genocídio sem controle.
Declarada a independência do país e instalado o regime monárquico, pouco se fez em favor dos povos indígenas. Os Governos, imperial e provinciais, promoveram várias iniciativas no sentido de eliminar os contingentes indígenas, que viviam nas áreas de interesse para o estabelecimento de imigrantes europeus. Nas áreas de colonização europeia, a insegurança provocou diversas interpelações dos governos europeus ao governo brasileiro, reclamando segurança para seus súditos.
A Proclamação da República não alterou de imediato esse quadro. Pelo contrário, acentuou-o. A construção da estrada de ferro noroeste do Brasil, em São Paulo, no início do século, provocou a quase dizimarão a um grupo Kaingang. A violência foi tal que um relato da época informa que o divertimento dos trabalhadores da estrada, aos domingos era brincar de "passarinhar índio” ou seja, matavam os índios da mesma forma em que se caçavam pássaros. É nesse contexto que em 1910, o governo, por iniciativa do marechal Cândido da Silva Rondon, descendente de índios, em tarefa de demarcação das fronteiras, criou o Serviço de Proteção do Índio (SPI) e reservas florestais protegidas, para sobrevivência das aldeias. Em 1967, o SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A trajetória dessas duas organizações oscilava entre proteger os indígenas e favorecer os proprietários fundiários na expansão dos latifúndios.
Durante o Regime Militar, entre as décadas de 70 e 80, a Amazônia passou a ser povoada, por conta do lema “terra sem homens para homens sem-terra”. Também, na fase do “progresso” do Brasil, as regiões aldeadas por indígenas passaram a ser povoadas por fazendeiros, a fim de intensificar a agropecuária. Entretanto, este povoamento foi realizado sem nenhum controle ambiental. Hidrelétricas, rodovias e a agropecuária passaram a ser desenvolvidas, desmatando as florestas e matando indígenas. É a época da Transamazônica, da barragem de Tucuruí e da de Balbina, do Projeto Carajás.
Pela geopolítica traçada pelo governo militar, a Amazônia tinha o papel de fornecedor de matérias-primas, para compensar o déficit do balanço de pagamentos gerado pela aquisição de petróleo, a descoberta aurífera tem papel significativo como garantia de pagamento dos juros da dívida externa do Brasil, bem como para lastrear compras à vista do petróleo importado, uma vez que as reservas cambiais brasileiras se encontravam praticamente esgotadas.
Vale ressaltar que a garimpagem sempre esteve presente na história do Brasil e, encontrou pela frente sociedades indígenas indefesas que constituíram presas fáceis a seu domínio avassalador. Na época das entradas e bandeiras e nas formas posteriores assumidas pela garimpagem, seus reflexos negativos sobre as sociedades indígenas nunca despertaram interesse ou protesto da opinião pública nacional e internacional. Todavia, a intensificação da garimpagem no Brasil no início da década de 80 (descoberta do garimpo de Serra Pelada), segundo ciclo do ouro amazônico e brasileiro, renovada e fortalecida em seu potencial de destruição do meio ambiente com a utilização de potentes equipamentos de extração, principalmente na Amazônia, trouxe, em avantajada escala, o martírio para várias sociedades indígenas; contudo, desta vez, a opinião pública, nacional e internacional, não deixou os índios sozinhos na dor e no infortúnio de que sempre foram vítimas na história do Brasil.
Espalhados por todo o Brasil, os Povos Indígenas têm fundamental importância na história e na cultura do nosso país. Infelizmente, muitas tribos, influenciadas pela cultura dos brancos, perderam muitos traços culturais. Podemos dizer que foram violentados em seus domínios pela introdução de doenças, que até então desconheciam, tais como o sarampo, a varíola, a gripe, a tuberculose, a sífilis, e a gonorreia. Os principais problemas que as comunidades indígenas enfrentam hoje são a consequência daqueles que surgiram há anos. Nos dias atuais há problemas como a miséria, o alcoolismo, o suicídio, a violência interpessoal, que afetam consideravelmente essa população.
Infelizmente, a discriminação sistêmica e estrutural contra os povos indígenas tem sido exacerbada em alguns seguimentos da sociedade brasileira. O pior, que alguns políticos alimentam essa discriminação. Relembrando algumas declarações: "Os índios estão cansados de serem índios. Eles querem beneficiar-se com os programas do Governo" (Ex. Ministro Mario Andreazza - 1973). Neste contexto, não é de estranhar a fanfarronice do Ex. Deputado Gastão Müller (1973): "Se os fazendeiros quisessem, poderiam ter partido para uma luta armada e seria muito fácil vencer os índios". Mas recentemente: “Se eleito, eu vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais" (2018); “Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios” (1998). Acredito que este parlamentar tenha feito alusão ao genocídio dos povos indígenas dos Estados Unidos durante o século XIX, que resultou no massacre de milhões e na destruição irreversível de várias culturas. Ou então assistia muitos filmes de bang-bang, também conhecidos como westerns, retratam muito bem este momento da história triste dos Estados Unidos, mostrando o conflito entre índios e colonos americanos. Afirmações como estas, talvez explique os fatos lamentáveis ocorridos com os Yanomamis em seu território. Uma verdadeira crise humanitária, um verdadeiro genocídio.
Lembramos que o tradicional Dia do Índio, comemorado todo 19 de abril, passou a ser chamado oficialmente de Dia dos Povos Indígenas (Lei 14.402, de 2022). A mudança do nome da celebração tem o objetivo de explicitar a diversidade das culturas dos povos originários. O termo ‘indígena’, que significa ‘originário’, ou ‘nativo de um local específico, é uma forma mais precisa pela qual podemos nos referir aos diversos povos que, desde antes da colonização, vivem nas terras que hoje formam o Brasil.
Será que temos motivo para a total celebração da data sabendo que o desaparecimento das línguas e da cultura indígena continua evoluindo no Brasil, principalmente na região da Amazônia? Possivelmente não. Mas é um espaço de reflexão, fazer uma autocrítica, e planejar estratégias de como avançar no total cumprimento da Constituição Federal promulgada em 1988 (primeira a trazer um capítulo sobre os povos indígenas), onde reconhece os "direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam". Eles não são proprietários dessas terras que pertencem à União, mas têm garantido o usufruto das riquezas do solo e dos rios.
Apesar dos defensores dos índios estarem vencendo brilhantemente a batalha ideológica, seus inimigos têm vencido a guerra real que se trava na sociedade brasileira contra os grupos indígenas, despojando-os de seus territórios e mesmo exterminando-os fisicamente. É tempo de transferir a luta do campo puramente ideológico para tentar alcançar alguma eficácia política.
Muito ainda precisa ser feito para amenizar as lutas dos povos indígenas no Brasil. Os direitos dos povos indígenas, ainda são desrespeitados e ignorados pelas forças do Estado, o que abre margem para grandes indústrias hidrelétricas, de mineração e do agronegócio explorarem terras que não as pertencem, reduzindo ainda mais as possibilidades de moradia e alimentação de milhares de indígenas.
Para além dos desafios territoriais, os povos indígenas enfrentam, ainda nos dias de hoje, problemas com racismo, preconceito, violação aos direitos das mulheres indígenas, falta de acesso à saúde e serviços públicos, além da alimentação escassa e pobre em nutrientes.
A terra é para os povos indígenas, fonte e mãe da vida. O espaço vital a garantia de sua existência e reprodução ou reconstituição enquanto povos. A terra não é, como na mentalidade capitalista, semente fator econômico-produtivo ou um bem comercial, de propriedade individual, que pode ser adquirido, transferido ou alienado, segundo as leis do mercado. A terra, na visão dos povos indígenas, é mais que um pedaço de chão. Não é apenas base de sustento, mas o lugar territorial onde jazem os ancestrais, onde se reproduz a cultura, a identidade e a organização social própria. Não é a terra que pertence ao homem, é o homem que pertence a terra.
É com os olhos fixos no veredito da História, tradução do julgamento de Deus, que o Brasil deve solucionar o problema dos indígenas. Não como problema de segurança nacional e economia, mas como imperativo da dignidade humana e da honra do povo brasileiro.
A preservação do meio ambiente, é uma condição fundamental para a reprodução da vida, nos moldes tradicionais, nas comunidades indígenas.
Há que se considerar então, que existe relação de respeito entre o índio e a natureza, podendo-se afirmar que o índio, para sua sobrevivência, dentro dos métodos tradicionais, não agride o meio ambiente, como faz o homem que vive na sociedade hegemônica. A terra para o indígena é o seu meio de sobrevivência. Sem ela não há vida.
O Marechal Rondo, em trágica profecia, já em 1916, dizia: "Mais tarde ou mais cedo, conforme lhes soprar o vento dos interesses pessoais, esses proprietários - coram Deum soboles (ante a face de Deus) – expelirão dali os índios que, por uma inversão monstruosa, dos fatos, da razão e da moral, serão considerados e tratados como se fossem eles os intrusos, salteadores e ladrões".
De todos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, acredito que a fé e o perdão (principalmente por assassinato de entes queridos), devam ser os mais difíceis de se praticar. Todavia, possivelmente para todos nós humanos, o perdão não é uma tarefa fácil. Nesse momento, me veio na memória uma frase de um amigo no dia do assassinato do seu filho: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Apenas substitui o termo chulo. O ditado popular quer dizer que o sofrimento alheio não dói na gente, que é fácil falar quando o problema é com outra pessoa.
No caso específico de ter “Fé”, entendo que todos tenhamos, nem que seja do tamanho de um grão de mostarda. Sobre esse aspecto, compartilho com o que o escritor potiguar Antônio Barnabé Filho, escreveu no seu livro “Buscai o Espírito Santo”: “Nossa fé pode ser comparada à construção de uma torre de concreto: começa o alicerce e, aos poucos e lentamente, vão crescendo tijolo a tijolo. A diferença é que na construção da fé parece que venta muito ou falta matéria-prima”.
Não podemos esquecer que ter fé é crer firmemente em algo, sem ter em mãos nenhuma evidência de que seja verdadeiro ou real o objeto da crença. É a energia que alimenta todas as crenças e religiões do planeta, desde os primórdios da humanidade. Jesus, em seus ensinamentos, teóricos e práticos, demonstrou integralmente a importância da fé, e o seu potencial inquestionável.
Os próprios apóstolos, seguidores de Jesus, sofriam com a falta de fé. Lembrando do Evangelho de Mateus (8, 23-26): “E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram; E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo. E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! que perecemos. E ele disse-lhes: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma grande bonança”.
Não temos como não exaltar a grandeza da fé do povo do sertão nordestino. Seja na abundância da chuva ou na escassez da seca, o sertanejo não muda sua fé. A fé, por estas bandas, resiste a muito mais do que pequenas provações diárias: Resiste à fome, à sede, à tristeza de ver o rebanho morto. Mas, provavelmente, boa parte do Brasil tem ao menos uma gota do sangue nordestino. Sangue devoto.
Quanto ao perdão, repito, não é tarefa fácil e nunca foi. Por isso começamos escrever sobre o perdão lembrando que nós erramos o tempo inteiro, mas não aceitamos que errem conosco. Na verdade, fazemos dos erros dos outros uma justificativa para os nossos próprios.
Desde pequeno, temos vivido sistematicamente sob o princípio de que é preciso ser perfeito e nunca falhar, porque quem falha merece ser punido, repreendido e condenado, mas isso é exatamente o que não queremos para nós mesmos.
Já ouvi inúmeras histórias, de como fulano ou sicrano não perdoariam a ação dos outros. Mas sempre me pergunto, será que há algo que é inerentemente imperdoável? Em muitas circunstâncias, aquilo que tem um peso muito grande para você, pode ser pequeno para o outro e, às vezes, até insignificante. Traição, morte, dor, dor, injustiça, incompetência, falta de ética, perda de dinheiro, mentira, crueldade? Todo mundo tem uma lista negra. Muitas pessoas assumem claramente as suas dores e mágoas, abraçam seus ressentimentos e terminam reiterando sua incapacidade de oferecer perdão aos seus algozes. Tem pessoas que cultivam mágoas como alguém cultiva um jardim. “Não tenho como perdoar o que ele me fez”; “Ninguém nunca passou pelo o que eu passei”; “Eu quero perdoar, mas não consigo”; “Ele foi muito cruel comigo, então, tem que pagar por isso”; “Passe o tempo que passar, eu nunca vou me esquecer do que aconteceu”. Um verdadeiro círculo vicioso: relembrar a mágoa, ressentir a dor e voltar ao desejo de vingança.
Relembramos do atentado que São João Paulo II sofreu em 13 de maio de 1981, e poucos dias depois mostrou ao mundo a força do perdão. Quatro dias após o atentado, João Paulo II, por meio de uma gravação feita no leito do hospital, com voz fraca, disse: “Rezo pelo irmão que me atirou, a quem eu sinceramente perdoei. Unidos a Cristo, Sacerdote e Vítima, eu ofereço meus sofrimentos pela Igreja e pelo mundo”. Em 27 de dezembro de 1983, o Papa João Paulo II, foi até a prisão Rebíbia de Roma, entrou na cela de seu agressor, o jovem Mehmet Ali Agca, e o abraçou.
Não podemos esquecer das famílias judias que foram capazes de perdoar seus algozes nazistas, Historias iguais a essa se multiplicam pelo mundo afora e inadvertidamente nos levam a pensar que, de fato, oferecer perdão é um ato sobre-humano. É preciso ser uma espécie de super-humano para conseguir perdoar de verdade. E que perdão tem a ver com bondade ou superioridade. E que essas pessoas devem ser muito elevadas espiritualmente para não mais desejarem vingança ou justiça por tudo o que lhes aconteceu.
Todavia, perdoar não tem a ver como ser (ou não) bondoso; com ser (ou não) superior. Perdoar é, na realidade, uma questão de inteligência. No entanto, não como medida de proteção contra as pessoas e acontecimentos que foram “culpados” por seu sofrimento, mas por oferecer a você uma possibilidade única de conquistar uma vida mais leve, plena, saudável, feliz e bem-sucedida – pessoal e profissional.
Perdoar, diferentemente do que pode parecer à primeira vista, não é esquecer, mas deixar de se importar, mudar o foco dos seus pensamentos e ações. O perdão faz parte de um processo que, muitas vezes, é doloroso, mas extremamente necessário para a nossa libertação. É como mexer em uma ferida. Resistimos em mexer nela, em abrir e passar o remédio necessário. Mas é dessa forma que ela irá cicatrizar a não doer mais. Expor o ferimento da alma e tratá-lo, não é um ato confortável, mas crucial para que possamos alcançar a cura.
Quando perdoamos alguém, nós nos tornamos livres do passado e de mágoas que nos fazem mal. A falta de perdão desperta sentimentos pecaminosos em nosso coração contra quem fez algo contra nós. Quando perdoamos, somos livres destes pensamentos maus. Com a mente liberta, fica mais fácil nos aproximarmos de Deus e fica mais fácil também nos aproximarmos das pessoas
Estudos já demonstraram que, cada vez que nos recordamos dos acontecimentos que elegemos como imperdoáveis, nosso organismo reage quimicamente a essa lembrança como na primeira vez, aumentando a pressão arterial e os níveis de estresse. Em longo prazo, esse processo pode estar associado ao surgimento de doenças cardiovasculares, além de diabetes e câncer.
De acordo com pesquisadores da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, as pessoas tendem a se sentir menos hostis, irritadas e chateadas quando param de se vingar e perdoam, o que melhora a qualidade do sono, a tensão, a raiva, a fadiga e a depressão.
É importante separar o joio do trigo. Por exemplo. Esposas que sofrem algum tipo de violência doméstica. Qualquer mulher nessa situação deve recolher imediatamente às medidas legais para garantir que não mais seja vitimada por seu parceiro. No entanto, se possível, ela deve fazê-lo não por raiva ou vingança, mas porque foi efetivamente lesada e lesionada, e tem, em seu favor, uma legislação toda concebida para protegê-la.
As vítimas de violência doméstica também podem (se assim quiserem) perdoar seus parceiros a partir da compaixão, mas que isso não significa, necessariamente, retomar a relação. O que o perdão faz é nos dar a capacidade de deixar o passado para trás. Quando perdoamos, recuperamos nosso bem-estar, nossa autoestima, nosso amor próprio e nossa satisfação pessoal independentemente de fatos e pessoas. Passamos a viver uma vida mais leve, feliz e satisfeita, mesmo com e apesar de tudo o que nos aconteceu. E, principalmente, encontramos uma paz interior duradoura e indescritível.
O perdão é uma ação que requer prática constante. Ele não acontece como num passe de mágica. É preciso praticá-lo todos os dias. Ninguém acorda um belo dia e dirá: “Agora perdoei”. Trata-se de um caminho, uma escolha que só você pode tomar para se libertar do passado e construir um presente e um futuro plenos de amor e compaixão.
Perdoar não significa esquecer ou mesmo acolher de volta aqueles que o magoaram. Significa apenas seguir em frente, sem ressentir ou se vingar pela sua dor. A dor ficou no passado e, no presente positivo que você escolheu construir, não há mais espaço para que ela ecoe!
O perdão é importante para a vida espiritual porque envolve o amor. Quem não perdoa, atrofia a sua capacidade de amar. O perdão é uma das coisas mais libertadoras que alguém pode fazer. A falta de perdão é como uma pedra amarrada na perna de alguém, que a arrasta para o fundo do mar.
Segundo o Evangelho Mateus (18:21-22), Pedro, aproximando-se, de Jesus perguntou-lhe: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
Concluímos, reforçando que o perdão necessariamente não nos fará esquecer o que passou (não! o perdão não é Alzheimer!); apenas nos permitirá relembrar aquela história sem ressenti-la, ou seja, sem senti-la novamente.
Acredito que tudo que acontece em nossa vida sempre merece uma reflexão. Que esse artigo nos permita uma reflexão sobre o perdão e que possa ajudar a espalhar dentro de nós mesmos e entre nossos amigos, familiares, vizinhos e todos os seres humanos na Terra, o PERDÃO.