04/04/2022

O Exemplo do Mar

No Brasil, convencionou-se dizer que o ano começa depois do Carnaval. Máxima que se tornou quase um ditado popular. Cultura enraizada no nosso país. Entendo que tem um pouco de lógica, pelas datas comemorativas, que temos a partir do Natal até a Quarta-feira de Cinzas.

Oficialmente o Carnaval termina na quarta-feira de cinzas, data que foi criada pela religião católica para celebrar o início da Quaresma, ou seja, os 40 dias que antecedem a Páscoa.

Como sabemos, a origem da Quarta-feira de Cinzas é puramente religiosa. A tradição católica, diz que, se deve fazer jejum e não comer carne. Isso já existe há muitos anos e tem como intuito fazer com que os fiéis se identifiquem com o sacrifício de Jesus, se privando de uma coisa de que gostam, neste caso, a carne.

A Quarta-feira de Cinzas representa o primeiro dia da Quaresma no calendário gregoriano. Neste dia, é celebrada a tradicional missa das cinzas, quando temos a imposição de cinzas cuja ideia é lembrar a todos que nós, humanos, somos finitos. A concepção da celebração, remete à mitologia egípcia, especificamente ao mito da Fênix, um pássaro que não morre, é queimado, mas ressurge das cinzas.

O tempo da Quaresma é um tempo de reflexão e de penitência. Tempo de conversão e da mudança de vida, para recordar a passageira fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A Quaresma é uma prática realizada por fiéis de tradição católica, assim como por devotos da Igreja Ortodoxa, anglicanos e luteranos.

Na última semana do período da Quaresma, temos a Semana Santa, que inicia no Domingo de Ramos. É um período religioso do Cristianismo e do Judaísmo que celebra a subida de Jesus Cristo ao Monte das Oliveiras. Temos a crucificação de Jesus, na sexta-feira da Semana Santa e a sua ressurreição, que ocorre no domingo de Páscoa.

As tradições envolvendo a Sexta-feira Santa, conhecida também como Sexta-feira da Paixão, eram bem mais arraigadas no passado. A Igreja Católica sempre aconselhou os fiéis a fazerem algum tipo de penitência, como jejum, abstinência de carne e exclusão de coisas que dê prazer a eles. Pessoas mais velhas, ainda seguem às tradições a risca. No entanto, muitos jovens não conhecem muito bem esses costumes.

A única carne permitida é a de peixe. O Peixe é uma das representações que simbolizam a vida e a fé das pessoas em Jesus Cristo.

Na Sexta-feira da Paixão, também não se deve ouvir música alta e nem dançar. Mas, você pode ouvir músicas religiosas para refletir sobre esse dia.  Nada de consumo de bebidas alcoólicas. Não convém nem mesmo vinho. As pessoas devem evitar brigar e falar palavrões.

Na atualidade, a Igreja mostra mais flexibilidade e tolerância quanto a ações dos fiéis na data. Antigamente, os familiares evitavam fazer qualquer tipo de limpeza no lar. A mãe cobria as imagens de santos, quadros e fotografias com panos roxos, para simbolizar o luto, pela morte de Jesus. 

Um lamentável costume antigo, que ainda pode ser localizado em algumas cidades brasileiras, com maior força na região Nordeste, é o ato de roubar galinhas durante a Semana Santa.

Na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia, jovens e adultos saíam pelas ruas da vizinhança em que moravam em busca de casas em que eram criadas galinhas para assim poder roubá-las.

Uma das explicações para essa prática, se deve a crença de que como Jesus estava morto (ressuscitaria no Domingo de Páscoa), este não poderia ver os pecados dos ladrões de galinhas, que praticavam seus “crimes” sem “culpa”.

O fato, é que é uma prática cultural controversa. O crime muitas vezes levado em tom de brincadeira pode parar na Justiça, resultando em condenação.

Pelo fato, de ter nascido no seio de uma família católica, minha formação religiosa foi toda dentro da doutrina do catolicismo. Quando chegamos a uma certa idade, as influências externas ou outros fatores, podem fazer as pessoas seguirem outra religião, diferente da qual fomos catequizados, mas no meu caso posso afirmar que isso não ocorreu, pelo contrário, consegui fortalecer ainda mais minha convicção religiosa, a católica.

Não tenho dúvidas que essa catequese religiosa que tive, influenciou significativamente na formação do meu caráter. Assim sendo, dentro dessa influência religiosa, desde criança, aprendi que devemos vivenciar a Semana Santa. Por isso, é bom lembrar que a Semana Santa, assim como outros momentos de Festa da Igreja, não é nenhum tipo de feriado, onde podemos simplesmente viajar para descansar ou realizar passeios turísticos, pelo contrário é momento de viver intensamente a celebração, meditando o sofrimento de Cristo por amor à humanidade.

Vivemos numa época de mudanças. Os costumes de duas ou três décadas atrás apresentam tendência a se diluírem. A sociedade era marcada pelo cristianismo e pelo catolicismo, hoje não é mais assim. Conforme pesquisa da Data Folha, realizada no Brasil em 2020, a população brasileira católica atingiu 50%. Ressaltamos que no censo demográfico de 1940, totalizava 95%.

Ao contrário, do que ocorre entre os católicos, a Igreja Evangélica não altera sua programação devido ao período de Páscoa, nem estabelece um cronograma específico para a Semana Santa.

Dessa forma, a Semana Santa não é tão enfatizada, sendo lembrada nas celebrações como os dias que antecedem o sacrifício de Jesus na cruz. Já o domingo de Páscoa, costuma ser o dia mais importante na tradição reformada, uma vez que simboliza a redenção da humanidade. Portanto, os evangélicos enxergam esse período como um momento para refletir e levar a palavra de Cristo para mais pessoas.

Para os membros da Igreja Evangélica, não é proibido comer nada. Segundo os pastores, o que prejudica o homem não é o que entra pela boca, mas sim, o que sai dela. No entanto, os evangélicos não condenam os membros que só comem peixe, nos Dias Santos.

Para a Doutrina Espírita, não existe a chamada Semana Santa, nem tão pouco à Sexta-feira Santa. A Sexta-feira Santa, para o espiritismo é um feriado nacional e uma prática católica.

Os espíritas, veem Jesus como um mestre por excelência, um educador, que ensina como agir rumo ao sumo bem. Não seria o derramamento do sangue do Cristo que teria significado, mas toda sua trajetória.

Na Doutrina Espírita, não há restrição à carne vermelha, na Sexta-feira Santa ou em qualquer outra data. Eles consideram essa restrição uma prática de outra religião que eles respeitam, mas não adotam.

Para o Espiritismo, a Páscoa significa libertação. “A passagem representa a libertação, desde que sigamos os ensinamentos. Comemoramos a festa da Páscoa, com muito empenho e alegria, porque Jesus vivenciou a morte e nos mostrou que somos espíritos mortais”.

Os rituais da Umbanda também acompanham a Quaresma. Na Quarta-feira de cinzas, por exemplo, os Orixás da casa são vestidos e cada filho de santo lhes oferece a sua comida preferida. Os atabaques são lavados e guardados, e só são acordados no Sábado de Aleluia.

Para a Umbanda, a Semana Santa representa a criação do mundo, por isso, durante esse período, os Umbandistas se vestem de branco, principalmente na Sexta-feira Santa. Além da roupa branca, eles se alimentam somente com comidas dessa cor, como a canjica, arroz doce e pães. Esse é o dia em que os Orixás descem do Orún (mundo espiritual), para conhecer a grande criação de Olorum (Grande Criador, Divino, Deus criador de tudo).

Os seguidores da religião judaica, não celebram a Semana Santa como os católicos, comemoram apenas a Páscoa judaica (do hebraico Pessach = passagem). A Páscoa significa para a comunidade judaica, a libertação do povo judeu do cativeiro do Egito. É comemorado no mundo inteiro. Oferecem um jantar especial na Páscoa Judaica. Um cerimonial, ritual diferente com alimentos como manda a tradição judaica.

Importante ressaltar a missa realizada no Sábado de Aleluia, o primeiro dia depois da crucificação e morte de Jesus Cristo e o dia anterior ao Domingo de Páscoa. A missa de Lava-Pés, celebra humildade com fiéis, relembrando o gesto de Jesus. Ao lavar os pés dos seus discípulos, Jesus tinha como objetivo deixar mais um exemplo de amor ao próximo e de humildade.

A humildade é um sentimento de extrema importância, porque faz a pessoa reconhecer suas próprias limitações, com modéstia e ausência de orgulho. Humildade é ter um conceito equilibrado de si mesmo, sem buscar honra para si. A justiça não se pode praticar sem humildade, porque o orgulho exagera os seus direitos em detrimento dos do próximo.

A pessoa humilde sabe que todos os seus talentos e sucessos vêm de Deus. O humilde trabalha e se esforça, mas nunca se esquece que foi Deus quem lhe deu a vida e todas as coisas melhores que tem. A pessoa humilde não faz as coisas para ganhar tratamento especial nem para parecer melhor que outras pessoas. Faz o que é certo, porque é certo, não porque vai parecer “santo”. A pessoa humilde, reconhece que não é perfeita nem faz tudo certo. Não fica cheia de orgulho por se achar melhor que os outros.

Madre Teresa nos ensinou que “a humildade consiste em calar as nossas virtudes e deixar que os outros as descubram”, e assim, sendo tolerante com as diferenças, respeitando os nossos limites, podemos então trilhar o caminho do crescimento.

O escritor e blogueiro brasileiro Paulo Roberto Gaefke (1961, no livro “Quando é preciso Viver” página 29), escreveu: “Você sabe por que o mar é tão grande? Tão imenso? Tão poderoso? É porque teve a humildade de colocar-se alguns centímetros abaixo de todos os rios. Sabendo receber, tornou-se grande. Se quisesse ser o primeiro, centímetros acima de todos os rios, não seria mar, mas sim uma ilha. Toda sua água iria para os outros e estaria isolado”.

Antes de concluir, quero lembrar a origem da palavra humildade. Humildade tem origem no Latim humus, “terra fértil”, derivado por sua vez do Indo-Europeu ghyom-, “terra”. 

Assim, precisamos nos questionar, não só no período da Quaresma, mas em todos momentos de nossa vida, se temos vivido uma vida produtiva, uma vida fértil em fazer o bem, em aprender, evoluir e partilhar, ou se estamos pelo contrário, vivendo de forma improdutiva, de forma a não fertilizarmos nada de positivo no convívio com os outros. Essa é uma reflexão, que carrego comigo sempre e creio que seja esse o significado que devemos reconhecer e buscar, incorporar em nosso dia a dia, alguém humilde, é alguém que é capaz de produzir bons frutos, de fertilizar o bem e fazer a diferença nesse mundo.

Independente de religião, a Quaresma é um período em que todos são convidados a refletir, a repensar na vida, no modo de encarar o cotidiano, de como pode ser melhor dentro de casa, com o próximo no trabalho e na comunidade.

E que a Páscoa seja um período para agradecermos a Jesus, pelo sacrifício e também para pensar em todos os nossos atos e renovar os votos perante Deus, para sermos cada vez melhores e dignos desse ato tão nobre para nos libertar e nos dar a vida.

Viva uma Semana Santa de paz, de tranquilidade e de novos tempos. Seja gentil, reflita, respire. A mudança em sua vida, para melhor, deve começar por você mesmo! Sempre!

08/03/2022

HERÓI DOS HERÓIS

Na década de 60 a televisão tornou-se um meio de comunicação em massa. Sem dúvida, a televisão revolucionou o mundo, influenciou comportamentos, marcou décadas e hoje é o meio de comunicação com maior penetração e importância no mundo, mesmo depois da popularização da Internet.
Foi a década da minha infância. Nos meus primeiros contatos com esse meio de comunicação, gostava de assistir um série que fez grande sucesso no Brasil, denominada “As aventuras de Rin Tin Tin. Narrava a história de Rin Tin Tin , o cachorro que acompanhava uma unidade da Cavalaria dos Estados Unidos no final do século XIX, sediada no Forte Apache. Seu melhor amigo era o Cabo Rusty (Lee Aaker, nascido em 1943), um garoto que perdeu os pais em um ataque dos índios e foi adotado pela corporação, se tornando uma espécie de mascote. Sempre que havia algum problema e Rusty necessitava da ajuda de seu amigo canino, gritava Yo ho Rinty! e Rin Tin Tin aparecia para ajudar. Nessa época, fazia também sucesso, a série Zorro que narrava a história de um justiceiro mascarado, que usava o chicote e a espada para defender o povo, e também o faroeste ''Bat Masterson''. O herói desta série da televisão, raramente apelava para a força das armas, preferindo derrotar seus rivais lutando. Todavia, naquela época, foi o cachorro da série Rin Tim Tim, que adotei como meu herói. Interessante que meu neto Lucas, atualmente com três anos, passou a adotar os pequenos filhotes de cachorro do desenho “A Patrulha Canina” como seus heróis. O desenho lúdico usa uma linguagem próxima das crianças, com mensagens que representam bem a intenção de incentivar nos pequenos a habilidade de resolução de problemas, assim como a coragem e o trabalho em equipe. Um menino de 10 anos comanda um time de filhotes muito espertos, para resolver problemas e salvar a cidade.
Fui crescendo e passei a gostar cada vez mais de futebol. No início da década de 70, o Brasil ganhou a Copa do Mundo. Não teve por onde, alguns craques como o Rei Pelé, Rivelino, Gerson, Jairzinho, Tostão e tantos outros, passaram a fazer parte da galeria de ídolos da garotada daquela época. Todos queriam jogar com o número desses jogadores, estampado nas costas. Importante diferenciar um herói de um ídolo. A maioria das pessoas pensam que "herói" e "ídolo" são usados ​no mesmo contexto. Mas o fato é que os dois são diferentes. “Herói" é uma palavra que foi cunhada do grego "heróis", que significa "guerreiro, protetor, herói ou defensor". Também é semelhante a Hera, uma deusa, conhecida como guardiã do casamento. "Herói" é atribuído a uma pessoa por sua coragem, nobreza e realizações extraordinárias. Um verdadeiro guerreiro. Aquele que fez algo de bom para a sociedade ou arriscou sua vida pela sociedade. O herói será tipicamente guiado por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz.
Através das histórias em quadrinhos, do cinema e de outras mídias, a cultura de massa popularizou a figura do super-herói, que são indivíduos dotados de atributos físicos extraordinários, como corpo à prova de balas, capacidade de voar, etc.
Fora das telas, os heróis da vida real têm reconhecimentos mais discretos (sem holofotes), que são sentidos dia a dia, ao lograr sucesso em cada missão. Eles não têm superpoderes, mas usam todas as suas habilidades, com coragem e destemor. Podemos, por exemplo, lembrar dos Bombeiros, que arriscam as suas vidas para proteger as pessoas, as cidades e as florestas do risco de incêndios, desastres naturais, desabamentos, também ajudam a socorrer animais em perigo e auxiliar pessoas que enfrentam situações de grande stress, como tentativas de suicídio, afogamentos, desaparecimentos e traumas provocados por acidentes. Além de desenvolverem vários projetos sociais e educativos, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Não podemos esquecer de considerarmos heróis os policias civis e militares que, buscando proteger a sociedade, se colocam em situações de risco, sejam investigando crimes ou na captura de criminosos. Acrescentamos as ações de solidariedade e salvamentos.
No início de 2020, ano do grande teste sanitário da humanidade, os profissionais de saúde foram autênticos anjos da guarda. Foram verdadeiros heróis da pandemia. Com resiliência e coragem, colocaram a própria saúde em risco para salvar vidas, se isolando de suas famílias, dedicando uma atenção extrema. Incessantes guerreiros.
Além desses profissionais, outros profissionais como os cientistas e pesquisadores, que têm trabalhado incansavelmente em busca de remédios e vacinas, merecem ser chamados de heróis.
Assim como os bombeiros, profissionais da saúde, policiais civis e militares, não podemos esquecer de personagens que ultrapassaram barreiras sociais e antropológicas de uma época, lutaram contra políticos e culturas e até arriscaram suas vidas para romper dogmas, preconceitos, políticas antiquadas e formas de administrar atrasadas, desrespeitosas e cruéis, para tornar nosso país e nosso mundo um lugar melhor para se viver, como Mahatma Ghandi, Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama e Malala.
"Ídolo" é uma palavra derivada do antigo "ídolo" francês, que significa "uma imagem de uma divindade como um objeto de adoração". Pessoa a quem se atributa grande admiração, demasiado respeito, excessivo afeto ou pessoa pela qual se tributam louvores excessivos ou que se ama apaixonadamente. Personalidade que desfruta de grande popularidade (artistas populares, esportistas e etc).
Bem, quanto aos ídolos, diferente dos heróis reais, influenciam significativamente tanto as crianças, como jovens e adultos. Por exemplo, as crianças tendem a imitar os seus ídolos. Os ídolos normalmente lhes ensina um padrão a seguir, lhes transmite uma série de valores (positivos ou negativos) e incentivam sua imaginação. Muitas crianças podem criar uma imagem falsa do seu ídolo. É então que os pais devem agir. Uma obsessão pelo seu ídolo pode gerar nas crianças falsas expectativas e muita frustração.
No caso das crianças e jovens, diante da enorme diversidade de canais de TV e YouTube, chegamos a um ponto em que mal sabemos quem são os ídolos de nossos filhos. Durante nossa infância era comum que compartilhássemos com irmãos e amigos a admiração pelos mesmos personagens e artistas. Dividíamos a mesma televisão em casa. O canal que um membro da família assistia era a única opção para todos.
Não podemos esquecer, que às crianças pequenas, só têm um ídolo que admiram diariamente: os seus pais. Para elas, os seus pais são como super-heróis e não há quem consiga vencê-los.
Às crianças prestam bastante atenção na postura dos pais. Dentro de casa, o pai é visto como um modelo masculino mais importante. Instintivamente, o pequeno se limita a comportamentos que agradem o pai. Ao enxergar o pai como referência, a criança faz dele seu espelho, um modelo a ser seguido. O pai será a primeira pessoa que a criança amará no plano abstrato e espiritual, pois nunca esteve ligada fisicamente ao pai como esteve à mãe. Infelizmente, temos a paternidade inadequada. Aquela cujo pai está ausente ou, quando está presente, atua nos extremos: autoritária ou passiva.
Considero marcante aquela imagem, muito comum em nosso meio, a do pai retirando as rodinhas laterais da bicicleta e, segurando no banquinho, empurrando a criança para que ela, ao pedalar, consiga o equilíbrio por si mesma. Esta atitude simbólica, da bicicleta, é uma representação muito concreta da função paterna no nosso desenvolvimento, onde o pai é quem “empurra” a criança para o mundo concreto e real, promovendo o seu equilíbrio e autonomia. Neste sentido, dizemos que o pai é uma figura de referência no que se refere ao desenvolvimento social da criança.
A adolescência é uma fase de intensidade em todos os sentidos, em grande parte provocada pelos hormônios em ebulição. Na prática, os indivíduos nessa etapa da vida comumente têm comportamentos hiperbólicos: ora amam muito, algo que parece trivial aos olhos dos adultos, ora odeiam com todas as forças. O mesmo acontece em relação às personalidades da música, do esporte, da televisão e da internet. Quase sempre os os jovens demonstram uma admiração desmedida por pessoas que mal conhecem.
O devoção, que alguns adolescentes desenvolvem por celebridades, pode ser explicada por duas características tradicionais da adolescência: busca de referências fora da família e também como uma tentativa de pertencer a um grupo (dos geeks, dos roqueiros, dos populares). Esse comportamento, faz parte do processo de construção da identidade, e a tendência é que com o tempo diminua naturalmente.
Sob o olhar do adolescente, os ídolos são como “espelhos estruturantes” nos quais se reconhece refletido e a quem transfere o que entende como suas características ideais: beleza, rebeldia, glamour, inteligência, habilidade no esporte, sex appeal. Essa admiração exagerada a uma personalidade, é comum e geralmente não apresenta qualquer perigo, exceto quando o adolescente realmente desenvolve um comportamento de idolatria, um fanatismo que atrapalha seus relacionamentos e os rendimentos nos estudos. Como os adolescentes, ainda não têm o senso crítico plenamente desenvolvido, podem acreditar que se trata de um ser humano sem defeitos, que já acorda de maquiagem e sorrindo. É papel dos pais mostrar que “nem tudo que reluz é ouro”, e que pode ser que aquela pessoa não seja tão perfeita ou feliz quanto aparenta nas redes sociais.
Bem, os heróis e ídolos sempre farão parte da sociedade humana. Todavia, de vez enquando surgem dois segmentos que muito preocupa o crescimento dessa sociedade e a paz mundial. Estamos falando dos Salvadores da Pátria e dos Mitos. Na crise mundial ocorrida entre 1929 e 1932, que ficou conhecida pela “Grande Depressão”, a Alemanha, chegou a ter seis milhões de desempregados, em junho de 1932. As dificuldades econômicas, contribuíram para um aumento vertiginoso de apoio popular ao Partido Nazista, fazendo com que o austríaco Adolfo Hitler aparecesse no cenário político como o “salvador da pátria”, conquistando a simpatia de milhões de alemães, e levando a assumir o poder com a morte do presidente Hindenburg em 1934. Na Alemanha, Hitler implantou uma das mais cruéis ditaduras da história da humanidade. Livros proibidos eram queimados, democratas e comunistas eram demitidos, aos judeus eram impostas várias proibições e uma forte perseguição.
Pousando em nosso país, podemos afirmar, o Brasil continua sendo um país messiânico. A história política nacional é repleta de exemplos de personalidades que chegaram ao poder prometendo "salvar a pátria". Foi assim desde Getúlio Vargas, o pai dos pobres, até os nossos dias.
O Brasil acostumou-se a ser um país de salvadores da pátria, de soluções milagrosas, isso é típico de uma monarquia. Mas, numa democracia republicana quem resolve nossos problemas somos nós. Existe a ilusão de que quem constrói cidadania é o Estado. O Estado é reflexo da sociedade. Precisa haver uma mudança de cultura da sociedade através da educação e promoção de valores democráticos.
Ao longo de sua história, o Brasil falhou na tarefa de realizar coisas importantes, como prover educação para todos, reduzir a pobreza e formar cidadãos capazes de conduzir os seus próprios destinos, em um ambiente de democracia.
As pessoas participam pouco da atividade política, não vão a reuniões de condomínio ou de pais e mestres, desprezam os partidos políticos, não ligam a mínima para os sindicatos e associações de bairro, ou seja, são totalmente ausentes das decisões que afetam a sua vida. Mas cobram muito do Estado. Possivelmente, essa falta de interesse, é uma herança da época da monarquia, em que um rei ou um imperador teria a missão de cuidar do bem estar geral.
Sabemos que, em momentos de crise econômica, política ou religiosa, aparecem lideranças que oferecem a esperança, muitas vezes enganosa de segurança do cotidiano. O “são todos iguais”, ou seja, ladrões e corruptos, leva indevidamente à busca do santo, do mago, do salvador capaz de tirar o país do poço onde se encontra afundado.
Mas, o Brasil não precisa de um santo, mito, mago ou novo salvador da pátria, precisa de pessoas que valorizem às instituições e tenha um projeto de país sério. Que saiba liderar a enorme potencialidade do nosso povo, com suas inúmeras riquezas. Que seja presidente de todos e não apenas de seus eleitores. Que busque juntar pedaços de sensatez e de ideias não viciadas pela paixão.
Está na hora de superar a política de uns contra os outros, e partir para o todo, contra os problemas do Brasil. De aclamar por combate à corrupção e aplaudir aqueles que lutam contra isso, mas ao mesmo tempo, deixar de está sempre a procura de oportunidade de "ser esperto". Se queremos um país melhor, se queremos mudança, ela tem que começar por nós mesmos e por nossas famílias. Temos que entender que o Salvador da Pátria, é afinal, a cidadania, que depende de cada um, e não de um ou outro candidato ou governante. Nosso desafio atual é educar as pessoas para que se tornem cidadãos de pleno direito, capazes de romper com essa herança histórica.
Sei que não é nada fácil, colocar em prática essas ações, porém, jamais poderemos parar lutar por elas. Lembrando da célebre lição de Winston Churchill: "a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela".
Lembrando da música “Pra não dizer que não falei de flores”, vamos escrever um pouco sobre “Mito”. Mito, é uma narrativa fantástica, criada pelos gregos com o objetivo de explicar a existência de coisas, que as pessoas não conseguiam explicar cientificamente, tal como, a origem das coisas, fenômenos da natureza, entre outros. Através da referência a alguns fatos reais, às pessoas eram levadas a acreditar nessas histórias. Podemos definir ainda como uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida.
O mito também faz presente em diversas áreas do conhecimento. Na Ciência Política ele perde suas características de história, sobre um passado ou origem gloriosos e passa a ser sinônimo de mentira. Mesmo que a ideia de enganar os cidadãos possa ser considerada uma prática repudiada, Platão justificava, “o uso da mentira, pelos governantes, como forma de guiar melhor seus comandados”.
De acordo com o historiador francês Raoul Girardet, no livro Mitos e Mitologias Políticas, originalmente publicado em 1986, a presença de mitos e mitologias políticas sempre foi uma constante na história humana, principalmente em momentos de crise. Girardet, escreve que às pessoas ficam mais suscetíveis a acreditarem em figuras mitológicas em períodos de instabilidade social, econômica ou política.
Usando finalmente a definição do Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Michaelis, podemos dizer que, o mito é uma pessoa ou um fato, cuja existência, presente na imaginação das pessoas, não pode ser comprovada, ficção.
Temos vária histórias de Mitos no Brasil. Uma delas é do Lobisomem. Este mito não é exclusivamente brasileiro. Conta a história de um homem, que por algum motivo foi mordido por um lobo, e ao invés de morrer adquiriu a capacidade de transformar-se em um ser monstruoso, com características de lobo e de homem, e que ataca às pessoas nas noites de lua cheia.
Entre os anos 385 e 380 a.c, Platão escreveu seu livro “A República”, nele o filósofo apresenta o conhecido Mito da Caverna, uma história sobre um grupo de pessoas acorrentadas, que passam o tempo inteiro olhando para sombras projetadas, em uma parede. Para eles aquilo era o mundo real, e não havia nada e ninguém que pudesse convencê-los do contrário. Nessa lenda, um prisioneiro, que insatisfeito com sua condição, rompe as correntes e sai do local pela primeira vez na vida. Esse prisioneiro, agora livre, depois de contemplar o mundo no exterior da caverna, sente compaixão pelos demais prisioneiros e decide regressar para tentar libertá-los. Ao tentar se comunicar com os outros prisioneiros, ele é desacreditado, tido como louco e finalmente, morto por seus colegas de aprisionamento.
Com essa metáfora, Platão buscou demonstrar o papel do conhecimento, que para ele seria o responsável por libertar os indivíduos da prisão, imposta pelos preconceitos e pela mera opinião. A saída da caverna representa a busca pelo conhecimento, e o filósofo é aquele que mesmo após se libertar das amarras e alcançar o conhecimento, não fica satisfeito. Assim, ele sente a necessidade de libertar os outros da prisão da ignorância, mesmo que isso possa causar a sua morte. Desde que foi escrita, o Mito da Caverna serviu para ilustrar uma das mais antigas discussões da história do pensamento humano: será que realmente percebemos a realidade?
Enfim, esquecendo dos mitos e salvadores da pátria, os nossos verdadeiros heróis/ídolos são pessoais reais vivem no meio de seu povo. Estou falando dos pais heróis e mães heroínas do lar, que dedicam sua vida aos filhos realizando atos de amor/heroísmo e que fazem parte dos chamados heróis da labuta nacional. Esses heróis, abrangem todos os trabalhadores brasileiros, os grandes heróis da labuta nacional, por sobrepujarem com garra e força de vontade, todas as intempéries, dificuldades e injustiças da vida de trabalhadores brasileiros. Que acordam de madrugada todos os dias, que trabalham à noite, que apanham dois ou três transportes coletivos, para chegar aos empregos. Por conseguirem sobreviver com um salário mínimo, que nem de longe passa perto de cobrir metade das suas necessidades, enquanto existem muitas pessoas nos plenários estaduais e federal ganhando muito sem suar as camisas.
Há momentos que, creio ser necessário, nos perguntarmos, porquê? Afinal, por que esperarmos por mudanças grandiosas, que virão de uma única pessoa, quando poderíamos agir conforme uma das frases mais conhecidas de Mahatma Gandhi “seja a mudança que você quer ver no mundo”. Ou melhor ainda, como diria o poeta Sérgio Vaz: “Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo e tem a coragem de começar por si mesmo.”
Depois de muito escrever sobre herói, ídolo, salvador da pátria e mito, me vem em mente a música “Pai” do compositor e cantar Fábio Junior: “Pai, me perdoa essa insegurança. É que eu não sou mais aquela criança. Que um dia morrendo de medo. Nos teus braços você fez segredo. Nos teus passos você foi mais eu. Pai, você foi meu herói, meu bandido. Hoje é mais, muito mais, que um amigo. Nem você, nem ninguém tá sozinho. Você faz parte desse caminho. Que hoje eu sigo em paz. Pai…”
Se ser é Herói é arriscar a própria vida, ou morrer por um ato nobre, posso afirmar que o maior Herói da Humanidade foi Jesus Cristo. Herói dos heróis

26/10/2021

Melhor buscar a verdade e a preservação da harmonia

Fonte: depositphotos

Os últimos dezoito meses, na minha opinião, podem ser considerados um dos mais difíceis para a humanidade desde do fim da segunda guerra mundial em 12 de setembro de 1945, com vários pontos que precisamos fazer algumas reflexões. Em nosso artigo, vamos nos deter em dois pontos.

Com a avalanche de aplicativos de comunicação, por exemplo, o “whatsapp” que é utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão à internet ou mesmo o “facebook” que é um site e serviço de rede social em que os usuários postam comentários, compartilham fotos e links para notícias, e outros tais como: messenger, twitter, Youtube, etc, passamos a ter disponíveis ferramentas poderosíssimas de comunicação, que trazem notícias e informações em tempo real.  No entanto, como tudo na vida, seu mau uso ou seu excesso podem trazer problemas e provocar o inverso ao desejado. As pessoas terminam presas em suas bolhas tecnológicas, com verdadeira aversão aos contatos interpessoais mais próximos. Triste realidade, parece que estamos nos transformando em robôs.  Divulgamos notícias que as vezes nem sabemos a origem e veracidade. Imaginem nos deparássemos com uma divulgação falsa a nosso respeito, como reagiríamos? O pior é que muitos de nós que proclamamos ser Cristãos, esquecemos que Jesus deu testemunho da “Verdade”. Como discípulos de Jesus temos que dar testemunho da “Verdade”. Vocês não acham que vale uma reflexão?

O segundo ponto a refletir, começa com a seguinte pergunta: Qual é o preço de sempre se achar o dono da razão? Quais as consequências de sempre querer provar que se está certo? É claro que defender um ponto de vista é corriqueiro. Colocar nosso posicionamento ou nossas ideias perante um fato, de maneira sensata, é mesmo saudável.

Trocar ideias a respeito de um tema, argumentar a favor de um conceito no qual se acredita, são posturas naturais e comuns nas relações cotidiana. Porém, quando essa atitude supera todas as barreiras, está sempre como ponto de honra de nossa palavra, quando se torna fundamental ter a razão, pior ainda com ideologias políticas e religiosas, qual o preço a ser pago?

Quantas vezes nos aborrecemos com alguém pelo simples fato de querer convencê-lo de que ele está errado em sua forma de pensar? Quem de nós não se pegou transformando uma discussão tranquila em um afrontamento pessoal? Ou ainda, quantas vezes elevamos o tom da conversa, tornando ríspido o enfrentamento de ideias?

Não podemos esquecer que cada ser humano tem seu ponto de vista, sua percepção e capacidade de análise, conforme seus valores, conceitos e capacidades. Defender nosso ponto de vista como acreditamos ser o mais adequado, não quer dizer que estejamos errado. Porém não podemos esquecer de que o outro tem sua própria forma de ver, seus valores, suas ideias.

Enfrentar-se, nessas situações, será o duelo de ideias, a briga de argumentos, em que, quase sempre, o que existe, de verdade, é o desejo de impor nosso raciocínio, nossa argumentação.

Inúmeras vezes, em nome de desejarmos provar que a razão nos pertence, usamos nossa palavra como quem está numa batalha, não desejando nunca perder.

Ter sempre razão às vezes custa o preço de uma amizade ou pior, custa o preço de toda uma existência, de toda a imagem que se criou e se esvai pela prepotência de se achar “Estar Certo”.

Buscar impor aos outros nossos argumentos, repetidamente, pode ocasionar o desgaste da relação. Querer estar sempre certo, no campo das ideias e reflexões, pode causar fissuras nas relações Familiares e Sociais. Assim, antes de se buscar ter razão, melhor buscar a preservação da harmonia. Antes de querer ser vencedor em uma argumentação, melhor que se tenha paz de espírito.

Apesar de todas as dificuldades, temos a crença no povir e na capacidade de aprendizado do ser humano. Cada evento desgastante serviu de alicerce para o futuro. Com fé, esperança, união e amor, temos a certeza melhores dias virão.