Publicado em
Em
23 de dezembro de 2025 • 10 min de leituraO Homem de Nazaré
Por José Viana
É natural do Rio de Janeiro. Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Paraíba e Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trabalhou 30 anos na Petróleo Brasileiro S.A. Atualmente aposentado.

No ano de 1973, foi lançada em todo Brasil, à música “O Homem de Nazaré” de autoria do compositor Cláudio Fontana. A canção foi um grande sucesso na voz do cantor Antônio Marcos. A música é uma homenagem a Jesus Cristo, focando em seus ensinamentos de humildade e amor. No início da letra da música temos a seguinte parte: “Mil novecentos e setenta e três. Tanto tempo faz que ele morreu. O mundo se modificou. Mas ninguém jamais o esqueceu. E eu, sou ligado no que ele falou. Sou parado no que ele deixou. O mundo só será feliz. Se a gente cultivar o amor. Hei, irmão, vamos seguir com fé. Tudo que ensinou. O Homem de Nazareth”.
Em outro trecho da música ele diz: “Ele era um rei. Mas foi humilde o tempo inteiro. Ele foi filho de carpinteiro. E nasceu em uma manjedoura. Não saiu jamais. Muito longe de sua cidade. Não cursou nenhuma faculdade. Mas na vida Ele foi doutor”.
Focando nessa parte final, a música diz que Jesus não cursou nenhuma faculdade mas na vida Ele foi “Doutor”. Este termo é derivado do grego didáskalos ((διδάσκαλος) que significa também, “mestre” ou “instrutor”.
Em latim a palavra “Mestre” (magister) significa aquele que concluiu o curso de pós graduação ” strictu sensu” de mestrado, defendendo uma dissertação aprovada perante banca examinadora composta de doutores.
Em resumo, o título de mestre é um grau acadêmico de pós-graduação stricto sensu e é comum em uma ampla gama de profissões, especialmente naquelas que envolvem ensino superior, pesquisa científica e posições de alta qualificação no mercado de trabalho. É um requisito comum ou um diferencial importante para lecionar em faculdades e universidades.
Em sentido amplo, essa palavra evoluiu para indicar alguém que domina profundamente uma arte, profissão ou ciência, ou que tem a capacidade de ensinar. Exemplos notáveis incluem: Mestre de Obras, Mestre-Mecânica, Mestre em artes marciais, Mestre-Cuca, Mestre-Sala, etc. De forma geral, “mestre” pode ser usado para se referir a qualquer pessoa que seja uma autoridade ou perita em sua ciência, arte ou atividade, no sentido de professor ou instrutor.
Na Bíblia, “mestre” (ou “rab”) refere-se a alguém com autoridade em ensino, que guia e instrui outros, especialmente em assuntos espirituais e religiosos. Nela encontramos abundantemente Jesus sendo chamado de Rabi e Senhor, evidenciando que o povo o respeitava como mestre. Na tradição judaica, os rabinos eram os mestres religiosos responsáveis por ensinar a lei de Moisés e interpretar as Escrituras.
Provavelmente a maioria das pessoas viam Jesus, mais como mestre do que como Messias. Fica claro que Jesus foi amplamente reconhecido e chamado de “Mestre” pelos que o rodeavam, tanto por sua sabedoria quanto por seu papel de líder espiritual. Foi reconhecido como mestre até pelos escribas e fariseus como podemos ver nessa passagem do evangelho Marcos 12:14: “Mestre, sabemos que és sincero e que, porque não olhas à aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus seguindo a verdade; é permitido que se pague o imposto a César, ou não? Devemos, ou não pagá-lo?
Importante lembrar que Jesus Cristo não frequentou os bancos de uma escola, nem cresceu aos pés dos intelectuais da época, dos escribas e fariseus, mas frequentou a escola da existência, a escola da vida. Nessa escola, conheceu profundamente o pensamento, as limitações e as crises da existência humana.
Ele não tinha para si “uma” escola ou “um” púlpito, onde ensinava, Ele fazia isso junto nas Sinagogas, à beira do mar, em embarcações, em montes, pelos caminhos por onde andava. Percorria ensinando em várias cidades e as multidões sempre o acompanhavam, andando como ovelhas atrás de seu pastor, ao final de tarde. Todas as referências que podemos verificar mostram Jesus ensinando em vários lugares, sendo constantemente, chamado de “Mestre” ou “Rabino.
Por onde passava, atuava como mestre e iniciava sua escola. Nela não havia mesa, carteira, lousa, giz, computador ou técnica pedagógica. Então que práticas pedagógica Jesus utilizava para conseguir prender a atenção de multidões? Sua técnica eram suas próprias palavras, seus gestos e seus pensamentos. Sua pedagogia era sua história e a maneira como abria as janelas da inteligência dos seus discípulos.
Na verdade, Jesus sabia que tinha que levar o seu ensino para todos quantos pudesse alcançar, mas que no momento sozinho era, humanamente, impossível, então, Ele começou a doutrinar os seus discípulos na arte da oratória e da comunicação e de como transmitir com amor, utilizando-se somente deste recurso. Para realizar o seu ensinamento com extrema qualidade e perfeição, seu segredo era a prática das suas palavras, pois seu ensino falava para a experiência do coração, onde levava o homem a edificação da razão. A atuação de Jesus como educador, foi notória para todos que estavam a sua volta na época.
Ele não só ensinava, mas também demonstrava com sua vida o que pregava, incluindo humildade e serviço. Destacou por sua capacidade de ensinar com clareza, simplicidade e autoridade, usando parábolas e histórias para transmitir verdades espirituais complexas.
Ele compreendia a forma de pensar das pessoas. Ele foi um dos maiores professores da história porque sabia que cada pessoa só pode compreender as coisas a partir da sua perspectiva pessoal. Por isso ele ensinava por meio de parábolas. “E não lhes falava nada a não ser em parábolas; a sós, porém, explicava tudo a seus discípulos.” (Marcos 4:34). A parábola é uma história que nos ajuda a compreender a realidade. Podemos extrair dela as verdades que formos capazes de entender e aplicá-las em nossas vidas, à medida que crescemos e evoluímos, podemos rever as parábolas para descobrir novos significados que nos guiem em nossos caminhos.
Alguns dos discípulos do mestre de Nazaré tinham um comportamento pior do que muitos alunos rebeldes da atualidade, mas ele os amava independentemente dos seus erros. O semeador da Galileia estava preocupado com o desafio de transformá-los. Ele era tão cativante que despertou a sede do saber naqueles jovens, em cujas mentes não havia mais do que peixes, aventura no mar, impostos e preocupação com a sobrevivência.
Quando Jesus falava, todos ouviam e tremiam. Ficavam atônitos, e o coração deles derretia, porque ele falava com autoridade. “Chegando à sua cidade, começou a ensinar o povo na sinagoga. Todos ficaram admirados e perguntavam: De onde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes milagrosos?”. Mateus (13, 54).
Ao analisarmos os evangelhos, percebemos que Jesus conhecia profundamente as Escrituras Sagradas. Fazia citações de memória. Jesus compreendia profundamente a natureza humana. Interessava-se mais pelo ser humano do que pelos credos, cerimônias, ritos e organizações, e sempre buscava fazer algo para ajudar as pessoas. Atitudes como essas, sempre caracterizaram os grandes mestres que passaram por este mundo.
Jesus sabia que seu ensino transformava vidas. Não admira que tantos o seguissem, porque seus ensinamentos mudavam vidas. Ele conclamava as pessoas a um compromisso radical e a tomar atitudes drásticas. Depois de ouvi-lo, as pessoas nunca mais seriam as mesmas.
Tinha grande paciência para educar, mas não era um mestre passivo, e sim provocador. Não apreciava uma plateia passiva de alunos. Por isso, gostava de instigar e provocar continuamente a inteligência deles, e, para isso, aproveitava todas às oportunidades.
Embora fosse eloquente, expunha e não impunha suas ideias. Não persuadia e nem procurava convencer as pessoas a crer nas suas palavras. Não as pressionava para que o seguissem, apenas as convidava. Ele era tão sofisticado em sua inteligência que fazia psiquiatria e psicologia preventiva quando essas nem ensaiavam existir.
A intrepidez de Cristo era tão impressionante que ele se colocava acima das leis físico-químicas. Chegou a expressar que “os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”
O mestre de Nazaré era um maestro da vida. Ele usava seus momentos de silêncio, suas parábolas, suas reações para estimular seus incultos discípulos a se tornarem um grupo de pensadores, capazes de tocar juntos a mais bela sinfonia de vida.
Era um agradável contador de histórias. Todos sentiam o privilégio de estar ao lado dele. Paciente e carismático na arte de ensinar. Jesus também foi visto como um mestre revolucionário, que questionava as normas e tradições estabelecidas da sociedade da época.
Tinha uma característica que se destaca claramente em todas as suas biografias, mas que muitos não conseguem enxergar. Era tão sociável que participava continuamente de festas. Participou da festa em Caná da Galileia, da festa da Páscoa, do tabernáculo e muitas outras.
Há mais de dois mil anos Ele nos deu um exemplo, uma direção a seguir, uma posição a ser tomada. Os ensinamentos de Cristo se encontram não apenas em Suas parábolas e em Seus sermões, mas também no exemplo pessoal que Ele nos deu durante Sua vida, um exemplo de obediência, humildade e amor.
Para ele, o conhecimento devia se traduzir sempre nos atos e não nos discursos racionais. Foi isso que ele quis dizer quando falou: “A sabedoria é demonstrada pelas suas ações.” (Mateus 11:19).
Na escola de Cristo não há reis, políticos, intelectuais, iletrados, moralistas e imorais. Todos são apenas o que sempre foram, ou seja, seres humanos. Ninguém está um milímetro acima ou abaixo de ninguém. Todos possuem uma relação fraternal de igualdade.
Jesus conseguia ensinar desde o mais simples dos homens até o mais culto e estudado. Escribas, fariseus, autoridades judaicas e romanas, homens e mulheres de alta posição, mendigos e as mais tenras criaturas eram alcançadas por ele, em meio a uma multidão eclética e diversificada. Perturbou profundamente a inteligência dos homens mais cultos de sua época. Os escribas e fariseus, que eram intérpretes e mestres da lei, que possuíam uma cultura milenar rica, ficaram chocados com seus pensamentos.
Ele veio ao mundo para revelar o amor de Deus e ensinar como viver de acordo com Sua vontade. Nos chamou a amar, perdoar, servir com humildade, orar com fé, compartilhar o evangelho e confiar na salvação que Ele oferece.
A vida de Jesus é um modelo perfeito a ser seguido, e sua mensagem de amor, perdão e esperança continua relevante e poderosa. Ninguém tem dúvida Jesus sempre será o Maior Mestre desse mundo de Deus. Ou temos?
Concluímos lembrando do refrão da música “O Homem de Nazaré”: Hei, irmão, vamos seguir com fé. Tudo que ensinou. O Homem de Nazaré.
Leia também
Uma Aliança Sagrada
O casamento sempre foi uma questão central na vida humana. No projeto de Deus a vida humana nasce...
Quem nunca errou que atire a primeira pedra
Acredito que a maioria das pessoas tenham escutado a expressão “Quem nunca errou que atire a primeira pedra....
Todo nordestino é brasileiro mas nem todo brasileiro é nordestino
Já se passaram sessenta e três anos desde o dia em que pisei no solo Nordestino vindo da...
Deixe um comentário para JOSE VAMILSOM PINTO Cancelar resposta
Compartilhe sua opinião sobre este conteúdo.
Excelente, muito apropriado para essa época natalina mas principalmente como modelo para nossa vida !
Amigo, Zé não existe palavras ou dogmas para citar o que Jesus foi, ensinou, falou, o amor foi o maior bem deixado por ele, abraços fraterno
Boa tarde Zé!
Parabéns! Que aula fantástica sobre “JESUS DE NAZARÉ”, você conseguiu na sua explanação tecer um comentário fora do normal, espetacular, cara, nota mil.
Eu me delicie com cada palavra escrita, sinceramente voltei ao tempo, como se estivesse presente em todas as citações.
Você é o Cara!
Fiquei mais culto, aliás tudo que você escreve no seu Blog, nos deixa mais sábio.
Continue sempre! Você está no caminho certo!
FELIZ NATAL!
SAUDAÇÕES TRICOLORES!
🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬
Eita! Que texto lindo. Que nos transcede a dois mil anos atrás, e assim, refletir melhor sobre a autoridade e o amor Cristo. Exemplo a ser seguido fielmente.
Parabéns pelo texto.👏👏