25/09/2024

Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de você!

A infância é a etapa inicial da vida, compreendida entre o nascimento e os 12 anos de idade. Na pratica, esse termo é empregado em síntese para designar a fase da vida do ser humano que antecede e ou precede a fase da adolescência.

A infância não é um tempo perdido, continua a existir e reverberar ao longo da existência, como afirma o romancista, poeta e crítico belga Franz Hellens ao dizer: “A infância não é uma coisa que morre em nós e seca uma vez cumprido o seu ciclo. Não é uma lembrança. É o mais vivo dos tesouros e continua a nos enriquecer sem que o saibamos”.

Não tenho dúvida, que ela é fundamento, base da vida, terreno sob o qual erguemos nossa existência, daí sua relevância.

Há quem diga que recordar é viver mas recordar não é viver. Recordar é sentir! No sentir palpitante do que essa recordação nos traz. De tudo o que nos deixa. E do quanto, intensamente, em espaço e memória, habita em nós.

A nostalgia de recordar não está na tristeza do tempo que não volta mais. Nem tão pouco na impossibilidade de o voltar a viver. Está na saudade das pessoas, com quem partilhamos esse tempo. No reviver dos sentimentos, que isso nos deixa sentir o que nos faz renascer.

Vivemos de recordações e memórias. De lembranças presas e soltas dentro de nós. Que nos aprisionam. E outras que nos libertam. Somos memória de um passado, fio condutor do nosso presente. E dessas memórias, em recordações nos vamos deliciando e transmutando.

Recordar nossas brincadeiras favoritas, as histórias que ouvíamos, o que gostávamos de comer, é uma fonte inesgotável de prazer e alegria. Infância faz parte da gente e deve estar sempre à mão para ser lembrada.

Talvez se políticos, pais, educadores, toda a sociedade, tivessem a consciência da sua importância, daríamos maior atenção ao começo da vida, haveria maior investimento por parte dos governos para o cuidado com a primeira infância.

Dentro desse contexto, posso afirmar que sou um colecionador da minha infância. Isso mesmo, coleciono primeiras memórias.

Para algumas pessoas que tiveram uma infância difícil, é difícil se lembrar desse período de suas vidas, por isso costumam dizer que não tiveram uma infância. Elas podem ter algumas lembranças soltas, mas nada que seja relevante o suficiente para construir uma memória significativa.

Mas, graças a Deus, minha infância foi marcada e rodeada de muitas coisas boas. Foi um laboratório de experimentos para a minha vida.

Existe uma música do memorável cantor Ataulfo Alves que traduz muito bem esse meu pensamento, onde ele diz: “Eu daria tudo que eu tivesse. Pra voltar aos dias de criança. Eu não sei pra que que a gente cresce. Se não sai da gente essa lembrança.”

Apesar de vivenciarmos milhares de eventos durante a nossa infância, infelizmente, como adultos, lembramos apenas de alguns.

Alguns podem ser “primeiros” (nosso primeiro sorvete, nosso primeiro dia na escola) ou eventos significativos da vida (comemoração aniversário, presentes). Outros são surpreendentemente triviais.

Bem, voltando para meu passado, pro meu tempo de criança, alguns fatos sempre me foram latentes. Nasci no Rio de Janeiro em 1959, porém em 1962 fui morar em João Pessoa na Paraíba. Uma lembrança que ficou na minha memória era de um cachorro que tínhamos em nossa casa, chamado Rex. Infelizmente morreu atropelado. Outro fato foi quando levei uns puxões de orelha de minha mãe, após uma senhora reclamar com ela que eu a tinha atingido com uma pedra. Na verdade, esse fato foi uma das primeiras injustiças que aconteceu na minha vida. Inocentemente, estava retirando umas pequenas pedras que tinham no jardim de nossa casa, e jogando por cima do muro. Merece uma reflexão. Trago também boas lembranças dos momentos que brincávamos, eu e minha irmã com uma garota de nossa idade (vizinha) que chamava-se Wilma, quando andava de velocípede e depois em uma pequena bicicleta de rodinhas na calçada de nossa casa e de assistir os desenhos do Pica Pau na televisão.

Essa minha primeira vivência em solos paraibanos na cidade de João Pessoa, durou até 1964. Fomos então morar na cidade de Umbuzeiro de Natuba. Terra que nasceu grandes paraibanos como Epitácio Pessoa, João Pessoa e Assis Chateaubriand. Foi nesse período que comecei a assistir na televisão o programa “As aventuras de Rim Tim Tim”. O seriado se desenvolvia em um posto de cavalaria, dos EUA, conhecido como Fort Apache, onde um garoto órfão chamado Rusty, era criado pelos soldados deste posto de cavalaria. Ele tinha um cachorro, pastor alemão, que se chamava Rim Tim Tim. Podemos dizer era o protagonista do filme.

Na praça dessa cidade, que ficava perto de minha casa, uns altos falantes, em determinado horário do dia, tocava músicas.  Não sei explicar mas de tanto escutar, algumas músicas ficaram na minha memória. Passados alguns bons anos, descobri que aquelas músicas eram italianas.

Naquela época, para ir de Umbuzeiro para João Pessoa, precisava ir para Recife. Ainda não tinha estrada de Umbuzeiro para João Pessoa. Nossa viagem era em um ônibus que as bagagem eram colocadas na parte externa superior do mesmo. Foi numa dessas viagens que conheci a galera das Ligas Camponesas. Pararam o ônibus e fizeram todo mundo descer. Armados de foice e facão. Ainda bem que nada de mal aconteceu. Mas isso ficou na minha memória.

Um ano e meio depois, voltamos para João Pessoa. A partir daí comecei a ser alfabetizado por minha querida mãe. Só que em 1966 fui morar na cidade de Solânea-PB. Não posso dizer que saudade da professorinha, que me ensinou o bê-á-bá, pois como disse, foi minha mãe que me ensinou o bê-á-bá (não deixou de ser professora a minha vida toda) todavia me lembro muito bem do local onde assisti minhas primeiras aulas junto de outros coleguinhas. A professora se chamava Dona Dulce. A minha segunda professora chamava-se Livramento.

Outro memória que coleciono diz respeito a uma banda musical que ensaiava em frente de minha casa em Solânea. Gostava de ir ver eles tocando. O que mais me atraia era a bateria. Infelizmente nunca aprendi a tocar e nem ter uma.

Depois fui morar em Monteiro-PB. Posso afirmar que foi ai onde comecei a gostar de jogar futebol e passei a torcer pelo Fluminense. Em Monteiro tive meu primeiro vestibular, pois tive que fazer o Exame de Admissão. Graças a Deus fui bem sucedido

Em julho de 1969 fui morar na cidade de Sapé. Tive muitos amigos.  Novas brincadeiras e uma delas que me traz boas lembranças era o jogo de botão na residência dos meus amigos vizinhos Marcílio Coutinho e Ricardo Coutinho (já falecido), assim como jogar pião e bola de gude (os participantes vão se revezando e tentando “matar” as bolinhas dos adversários).

Posso dizer que por fazer parte das pessoas que tiveram infância na década de 60, faço parte de um grupo abençoado. A nossa vida é uma prova viva. Não tivemos internet, computadores, celulares, play station, videogames, o querido facebook e outras tecnologias atuais.

Naquele tempo as crianças podiam brincar nas ruas e praças de nossa cidade e do mundo, o tempo era outro. Podíamos dizer que íamos brincar na rua, com uma única condição: voltar para casa ao anoitecer! Não havia celulares e nossos pais não sabiam onde estávamos.

Brincávamos com amigos de verdade, não amigos da internet. Costumávamos criar os nossos próprios brinquedos e brincar com eles.  Posso afirmar, que nesse tempo, a infância era muito mais desafiadora do que é hoje. A imaginação e a criatividade eram bem maiores.

A gente andava de bicicleta para lá e para cá, sem capacete, joelheiras, caneleiras e cotoveleiras. Jogávamos futebol na rua, com a trave sinalizada por duas pedras. Ralei joelho, arranquei a tampa do dedão, furei o pé com prego enferrujado. Brinquei de pega-pega, esconde-esconde, passa-anel, morto-vivo, batata-quente, cobra-cega e pulei corda. Meus machucados foram curados com Mertiolate que ardia muito.

Não se falava de obesidade e nem de uso de drogas: maconha, cocaína, crack, etc., era praticamente zero pelas crianças e jovens de todas as classes sociais.

Não se conhecia a palavra bullying, e essas perseguições vergonhosas ainda não era coisa que traumatizava tanto.

Fui um menino dos anos 60 que viajei de Jeep e de Rural. Dentro de uma Rural viajei com meu pai (dirigindo) de João Pessoa para o Rio de Janeiro. Imaginem as estradas em 1967. Brinquei de Forte Apache, em que me sentia o verdadeiro dono de Rim Tim Tim.

É possível que tenhamos estado em fotos a preto e branco, mas não tenham dúvida, são lembranças muito coloridas nessas fotos.

Brincar na rua não impedia que as crianças se divertissem dentro de casa assistindo à televisão, cantando músicas que passavam nas TVs e nos rádios. E o mais importante, somos uma geração única e mais compreensiva, pois somos a última geração que ouviu seus pais.

Quem, como eu, foi criança nos idos dos anos 60 haverá de se lembrar do nosso Super-Herói (muito antes de qualquer Super-Homem, Batman ou Homem-Aranha): National Kid (o primeiro super-herói japonês). Ter curtido filmes de Jerry Lewis e os Três Patetas.

Nos anos 60, tínhamos que ficar acordado até tarde e assistir Bat Masterson para dormir cantando “No velho oeste ele nasceu/ e entre bravos se criou/seu nome lenda se tornou/Bat Masterson/Bat Masterson…”

Infelizmente, os programas infantis foram sepultados nas TV abertas. Isso ocorreu devido a uma portaria Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que, com o objetivo de pregar o bom samaritanismo em favor das crianças, proibiu toda e qualquer propaganda direcionada à publicidade infantil. Com isso, as principais emissoras não viam mais viabilidade financeira de transmitir desenhos animados para o público infantil.

Só quem viveu a infância é capaz de concordar que ela nunca será substituída pela tecnologia.

Agora paro e pergunto o que será feito das crianças que tiveram suas infâncias negadas roubadas? como elas ficam emocionalmente diante das injustiças e da falta de amor e reconhecimento para com elas?

Infância é uma época de muita inocência e pureza e quando bem vivida vai nos acompanhar e nos ajudar positivamente para o resto da vida e quando mal vivida, também vamos levar seus sintomas para sempre! Como diz um Provérbio Chinês: “O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância”.

Jesus demonstrou para nós sua preocupação pelas crianças com uma abordagem própria. Ele insistiu que seus discípulos recebessem as crianças e que não as atrapalhasse a se aproximarem dele. “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais; porque o Reino dos céus pertence aos que se tornam semelhantes a elas.” (Mateus 19:14). As palavras de Jesus em Mateus 19:14 nos lembram da importância das crianças no plano divino. As crianças são preciosas aos olhos de Deus. Elas representam pureza, humildade e fé genuína.

Tem um momento de nossa vida que voltamos a ser criança. Quando tornamos idosos. Não em um sentido literal, mas em termos de certas semelhanças emocionais e comportamentais que podem ser observadas, tais como, a vulnerabilidade e dependência, assim como toda criança é dependente dos adultos para suas necessidades básicas, os idosos podem se tornar mais dependentes à medida que forem envelhecendo.

Apesar de ter 65 anos, ainda não estou nessa fase da vida mas me sinto criança quando estou brincando com meu neto Luquinha e se Deus quiser com meu neto Daniel que ainda está com quatro meses.

Não podemos fugir da realidade. O mundo vem evoluindo e a cada dia, surgem novas tecnologias destinadas à infância. O importante é se divertir e aproveitar essa fase da vida, independentemente de como seja.

Para quem já é adulto e acha que não é mais hora de se divertir, Augusto Cury sugere que: “Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de você!”

Oh! Que saudades que tenho. Da aurora da minha vida. Da minha infância querida. Que os anos não trazem mais! (Casimiro de Abreu).

Viva o dia 12 de outubro quando comemoramos o dia das crianças.

19 respostas para “Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de você!”

  1. Marco Morais disse:

    Como sempre, excelente texto! 👏🏻👏🏻👏🏻

  2. Frankileide Ferreira disse:

    Maravilhosa reflexão e excelente texto!

  3. Lúcio de Souza Viana disse:

    Meu irmão Viana você teve uma infância muito rica como criança eu ainda Malheiros dar minha estou entrando de novo com 77 anos meus parabéns

  4. Lúcio de Souza Viana disse:

    Rua Rio Grajau 104

  5. elion disse:

    excelente artigo. parabrns

  6. Gibson Santos disse:

    Parabéns pela Brilhante Peça. Devo acrescentar: Os aromas, as trocas e descobertas nessa fase da vida….algo que anda bastante superficial hoje.
    Abraço Fraterno!

  7. Paulo Sérgio e Silva disse:

    Meu caro Viana, parabéns! Que texto belo, cheio de recordações. Que se confundem com as minhas lembranças de criança, visto que também compartilhamos da mesma idade. Um grande abraço!!

  8. JOÃO WILSON DE LUNA FREIRE disse:

    Boa noite Zé!
    Cara com essa bela explanação nesse primoroso texto,voltei aos meus tempos de criança,com pequenas diferenças, parece até uma cópia xerox, ou um print da época atual seu relato sobre passagens de sua infância, parecem serem meus.
    Nós fomos privilegiados, em termos vivenciados uma época de ouro onde éramos felizes e não sabíamos
    Parabéns por nos presentearmos com tão belo relato.
    SAUDAÇÕES TRICOLORES! 🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬

  9. Luiz Humberto M. Feliciano disse:

    Bom dia Zé Antônio, também tive a felicidade de viver essa época. Infância simples, sadia, segura e muito respeito para com nossos semelhantes. Um abraço ao grande amigo.

  10. ABENILDO ALVES DE OLIVEIRA disse:

    Meu amigo Viana, que beleza de texto. Me faz viajar pra longe e traz lembranças muito gostosas. Parabéns.

  11. Maria Elisa Alencar. disse:

    Você com sempre , surpreende.
    Falar da infância ,e de uma época gloriosa, é falar de uma vida saudável, feliz ,essa que tivemos e vivemos.
    Minha infância saudosa, até hoje,habita em minhas memórias.
    É como voltar todos os dias ao passando, e ver o quanto as crianças de hoje se tornaram tristes. Algumas ainda ,tem o privilégio de terem avós com memórias infantis . Com o gosto da verdadeira infância.
    Lembro da minha cidade natal ,Sapé lá foi o berço da minha vida. Com meu pai tive a melhor das alegrias,o meu maior amigo era sem dúvidas nenhuma,MEU PAI. As maiores histórias que tenho gravadas ,foram contadas por ele. As quedas da bicicleta ,ele estava lá ,para me acarinhar e enxugar as lágrimas 😭 😭.
    Ainda passei muito do que vivi as minhas filhas e netas.
    Cantei pra elas músicas , fiz teatrinho , levei um pouco do muito que me resta .
    A tecnologia ,veio pra melhorar grandes acontecimentos,mais jamais poderá escrever ,dentro de cada um o que foi viver uma velha e amada infância.
    Somos e fomos privilegiados pela melhor época de todos os tempos

  12. Vera Lucia Araújo de oliveira disse:

    Seu blog nos faz regredir no tempo, brincadeiras de rodas,jogar com pedrinhas,e tantas coisas saudáveis e sem malícia,fomos crianças privilegiadas. Não tinha nenhuma tecnologia,éramos felizes. Hoje as crianças são escravisadas de tudo, aula de inglês, psicólogo, natação balé, ficam depressivas, com tanta coisa, até um celular para completar. Muitos pais tentam, segurar por um tempo, mas os coleguinhas da escola, ficam fazendo bullying . O que fazer, como educar?

  13. Marcus Soares disse:

    Lendo seu texto passou um filme das minhas memórias e o mais interessante é perceber como temos alguns lugares em comum. Solânea ficava relativamente perto de Serraria, onde passei parte da minha infância, Sapé é a terra da minha família e João Pessoa é onde nasci e vivi até os 39 anos de idade, depois mudei para Joinville onde estou até hoje e me preparando para voltar à minha terra, onde tive uma infância maravilhosa, semelhante àquela que você descreveu.
    Foi um deleite ler a sua crônica, arrisco dizer que às portas dos 70, nunca deixei morrer a criança moleque que se esconde em algum lugar de mim.
    Parabéns mais uma vez Viana.

  14. WASHINGTON SOARES DE ALMEIDA disse:

    Boa tarde ,Viana!
    Meus parabéns mais uma vez pelo belo texto. Com belas suas lembranças viajei também pela minha infância onde vive um tempo maravilhoso na minha infância. Muito bom . Excelentes lembranças de uma vida bem vivida .

  15. Marcilio Coutinho disse:

    Viva você meu amigo que me fez vir as lágrimas recordando nossa infância, nossa geração única como bem falaste é prova maior disso, mesmo depois de mais de cinco décadas, conseguimos extrair lágrimas de emoção, obrigado Deus por nos dar essa oportunidade e poder dizer você é meu amigo!!!

  16. Fernando Cassimiro disse:

    Todos temos uma criança dentro de nós mesmos. Esta criança define muito do que somos hoje.
    Como é bom ser criança!

  17. Aparecida Lima disse:

    Texto maravilhoso, fez voltar a melhor fase da vida na minha terrinha Natal , a qual não gostaria de ter saído , geração ouro posso dizer … mantido muda e evolui !!! Parabéns pelo texto que me emocionou bastante .

  18. JOSE VAMILSOM PINTO disse:

    Amigo Zé, excelente trabalho, sobre um tema tão bonito quanto a infância, parabéns amigo forte abraço fraterno

  19. Ivan Pereira Dantas disse:

    Maravilhoso texto, Viana! Nos remete a fazer muitas reflexões e viajar no tempo. Uma coisa é certa: há muito por fazer para propiciar uma boa infância para as novas gerações, em especial para as menos favorecidas, nesse mundo cada vez mais virtual e complexo. Parabéns!

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