Durante meus anos de Petrobras, sempre escutei serem chamados de “pelegos” os empregados que não participam de movimentos sindicais. Nos dicionários formais da nossa língua brasileira, pelego pode significar: subserviente, traidor, capacho, puxa-saco, fura greve, frouxo, submisso, bajulador, dedo-duro, traíra, etc. É vasta a lista de sinônimo. Nunca tive interesse em saber a origem dessa palavra mas lendo sobre a Era Vargas, descobri que o termo pelego foi popularizado neste período.
No início da Era Vargas, foi colocado em andamento um conjunto de medidas destinadas a mudar o padrão das relações de trabalho no país. Partiu-se do pressuposto de que apenas com intervenção direta do poder público seria possível amortecer os conflitos entre o capital e trabalho.
Essa intervenção concreta ganhou expressão quando Getúlio Vargas assinou o decretou Decreto n° 19.770 em março de 1931 criando à Lei de Sindicalização.
A Lei obrigava que os estatutos dos sindicatos deveriam ser submetidos ao Ministério do Trabalho. Ressaltamos que essa Lei foi uma imitação da Carta Del Lavora, do fascista italiano Mussoline.
Esta Lei rompia com pluralidade sindical existente até então. Essa proibição foi reafirmada pela Constituição de 1934. E, em 1939, a legislação sobre a sindicalização tornou-se taxativa no que referiu à representação sindical única. Pela nova legislação, apenas um sindicato por categoria profissional era reconhecido pelo governo. A sindicalização não era obrigatória, mas a lei estabelecia que apenas as agremiações reconhecidas pelo governo poderiam ser beneficiadas pela legislação social.
A estratégia governamental surtiu efeito. Centenas de sindicatos de trabalhadores tornaram-se legais nos anos 1933 e 1934 para poder gozar dos benefícios previstos.
A Lei da Sindicalização impunha que os sindicatos só entrariam em funcionamento a partir da aprovação oficial. Além disso, esses espaços de organização da causa trabalhista deveriam contar 2/3 de filiados nascidos no Brasil. Essa decisão afastaria a participação dos vários trabalhadores imigrantes que disseminavam os ideais socialistas e anarquistas de tais instituições.
Nesse instante, já podemos ver os interesses de controle do Estado junto aos trabalhadores. Além de proibir a representação de mais de um sindicato por categoria de trabalhadores, a legislação trabalhista da época também vetou a possibilidade de alianças entre sindicatos. Essas medidas dificultavam a organização independente e autônoma dos trabalhadores nos sindicatos, e o engajamento em greves.
Os sindicatos arregimentados por Vargas ficaram conhecidos como “pelegos”, em menção à pele de carneiro utilizada para amortecer a cavalgada em cavalos, assim, metaforicamente, o sindicato amainaria o peso sobre o trabalhador cavalgado pelo patrão.
“Pelego” era o líder sindical de confiança do governo que garantia o atrelamento da entidade ao Estado e que fingia representar a classe operária, mas na verdade manipula essa massa em nome dos patrões, representando na verdade esses.
Décadas depois, o termo voltou à tona com a ditadura militar. “Pelego” passou a ser o dirigente sindical indicado pelos militares sendo o representante máximo do chamado “sindicalismo marrom”.
Concluímos, concordando com o pensamento do filósofo Heráclito (540 a.C. - 470 a.C.). Segundo o filósofo “A única coisa que não muda é que tudo muda”. No início da Era Vargas a palavra “pelego” estava atrelado aos líderes sindicais quando manipulavam aos trabalhadores em nome dos patrões. Nos tempo atuais, diz respeito aos trabalhadores que não concordam em participar dos movimentos sindicais. Enfim, a única coisa certa é a mudança.