Durante o período que trabalhei no antigo Polo Industrial de Guamaré-RN (quando ainda pertencia a PETROBRAS), semanalmente fazíamos um apresentação para os colegas de trabalho sobre Segurança, Meio Ambiente ou Saúde Ocupacional. Normalmente utilizávamos como recurso Power Point para ajudar na apresentação e no último slide gostávamos de colocar a frase “É proibido Cochilar”. Esse ditado tem origem na música “É proibido Cochilar” de autoria dos compositores paraibano Antônio Barros e Ceceu, gravada pelo conjunto Os Três do Nordeste. Reforça uma frase que diz: “Um piscar de olhos ou uma distração de segundos põe em risco sua vida e a dos outros”. Uma pura verdade em todos momentos de nossa vida, seja na familiar, nos momentos de lazer, profissional, etc.
Imaginemos essa realidade dentro de uma empresas do setor petrolífero, onde riscos potenciais existem tais como incêndios e explosões. Por isso, deve ser obrigação, compromisso, responsabilidade dos gestores desses corporações que, todos os risco que os colaboradores estão expostos, seja agentes químicos, físicos e biológicos potencialmente nocivos para a saúde humana, sejam devidamente analisados e que ações preventivas e medidas de segurança sejam implementadas, para evitar qualquer tipo de acidente. Infelizmente, em diversas vezes, mesmo com toda execução desse gerenciamento de risco, os acidentes ocorrem, sendo importantíssimo a análise criteriosa de todas as causas que levaram a ocorrência do acidente, de modo a se tomar ações corretivas e preventivas. Fomos específico ao setor petrolífero mas essa ação vale para todos os setores da nossa economia, assim como em nosso cotidiano.
Bem, depois que me aposentei, posso dizer que esses riscos, inerentes ao setor petrolífero, não corro mais. Mas, a vida continua no meu dia a dia e infelizmente o cotidiano fica a cada ano que se passa com riscos ameaçadores e violentos.
A história da humanidade sempre foi a história do perigo, da violência, das guerras e das tentativas crescentes de proteção e de defesa. Talvez seja impossível medir-se hoje a violência para saber se ela é menor ou maior do que no passado.
A preocupação em relação aos acidentes pode ser encontrada nas fases mais remotas da história da sociedade humana. Do mesmo modo pode-se dizer do acidente do trabalho, que está relacionado com o desenvolvimento das relações de trabalho. Desde os primórdios do mundo do trabalho, o acidente fez parte do cotidiano dos trabalhadores. No entanto, ganha visibilidade a partir do século XIX, com o avanço do processo de industrialização.
Ao buscar historicamente os fatos, observa-se que os problemas e as preocupações com a saúde dos trabalhadores foram objetos de estudo bem antes de Cristo. Hipócrates (460-355 a.C.) descreveu sobre a verminose em mineiros bem como as cólicas intestinais dos que trabalhavam com chumbo e também sobre as propriedades tóxicas do metal.
A modernidade ocidental fez crescer a consciência do risco e a dedicação das pessoas às atividades previsíveis e preventivas. Até o final da Idade Média, associava-se à fatalidade, a dogmas e ao determinismo todos os eventos: pouco se explicava como acidental ou fruto do acaso. Via-se o risco como parte de eventos naturais incontroláveis ou atos de Deus: excluía-se a interferência humana, inclusive o erro, a culpa e a responsabilidade. Inclusive, por um longo período, após a industrialização, ainda se consideravam os acidentes no processo produtivo, simplesmente como involuntários e de certa forma inevitáveis.
Acredito que todos nós já pronunciamos ou escutamos alguém dizer: "faça sua parte que Deus te ajudará", "esforça-te que Deus te ajudará" e "ajuda-te que o céu te ajudará". Essas frases são populares no meio cristão. Embora conhecidas - até bem intencionadas - não estão na Bíblia e não têm fundamento bíblico. Encontramos, por exemplo no Livro de Josué (1:9): Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar".
Quantas vezes já ouvimos essas expressões ou crenças: "Tinha que acontecer" quando se está diante de um evento trágico, ou no mínimo, indesejado. Em caso de morte, há sempre quem diga "cada um tem sua hora". Para quem sofreu acidente grave e sobreviveu, o que aconteceu foi um grande susto: "Eu andei muito perto de morrer, mas acho que não chegou à hora ainda".
Na verdade, muitas vezes buscamos transferir a causa do acontecimento indesejado a algo que está fora do nosso controle, de preferência bem distante de nós, consequentemente atribuindo ao Criador do Mundo a responsabilidade sobre o trágico. Deste modo que o fatalismo ganha forma e expressão.
Em outras palavras, o que tem que acontecer, simplesmente acontecerá e não há como escapar do fato. Dentro dessa teoria, acidentes se explicam pela intervenção de Deus ou do destino. Sinceramente, esse negócio de "entregar nas mãos do Senhor", não me parece a atitude mais sensata.
Por que algumas pessoas preferem obedecer ao sinal de pedestre para cruzar a rua com segurança e outras preferem cruzar a rua driblando os carros? Por que alguns pedestres são impacientes para esperar a mudança do sinal para atravessar a rua com segurança?
No ambiente industrial é a mesma coisa, alguns trabalhadores preferem trabalhar com segurança, outros preferem driblar os riscos e perigos e outros são impacientes para utilizar os procedimentos de segurança, pois atrasam as etapas de serviços. Não podemos deixar de ressaltar o descaso de muitas empresas em relação à segurança.
Por que apesar de sabermos que utilizar o aparelho celular enquanto dirigimos põe a própria vida em risco, como a dos pedestres e demais condutores, e mesmo assim muitos utilizam? Os médicos comparam o uso do celular ao efeito do álcool. “É como se a pessoa tivesse dois copos de cerveja ou uma dose de destilado. É como se estivesse dirigindo ligeiramente embriagado. Interessante é a desculpa de quem é pego falando ao celular: estou desligando o celular porque está acabando a bateria; estou vendo se tem recado; o farol está fechado, aproveitei pra usar só um pouquinho só.
A maioria das pessoas sabem que o uso do capacete é obrigatório para motociclistas e que pilotar moto sem capacete é algo extremamente perigoso e imprudente, todavia é a principal causa de morte em acidentes de trânsito com motociclistas. O argumento de muitos motociclistas flagrados conduzindo o veículo sem esse equipamento essencial, é que o trajeto seria curto. Contudo, um “é logo ali” pode ser fatal.
O que será que pensam os motorista que dirigem sob efeito do álcool? Acredito que seja: “Não tem risco pois Deus está comigo”. Infelizmente ao optar dirigir alcoolizado, não é apenas a vida de quem tomou essa decisão que está em risco, mas das pessoas que compartilham a via com o mesmo.
Há alguns anos conheci um provérbio chinês que diz o seguinte: “Antes de mudar o mundo, dê três voltas em redor de sua casa”. Será que nós observamos com bastante critérios os riscos que corremos em nossa própria casa? Pois bem riscos de acidentes domésticos estão nos mais diversos ambientes e situações, desde o contato com altas temperaturas na cozinha até o caminhar do quarto para o banheiro durante a noite. Este último é um dos casos mais comuns de acidentes que acomete os idosos. Basta um piso molhado ou um tapete solto para provocar uma queda, que causa ferimentos ou, no mínimo, um grande susto. O banheiro é o local com maior ocorrência de acidentes graves, por causa da umidade que torna o ambiente escorregadio.
A sala de estar costuma conter muitos móveis e objetos de decoração. Um idoso com dificuldade de locomoção ou mesmo uma pessoa distraída pode bater ou tropeçar em um desses itens, se ele estiver bloqueando a passagem.
As panelas de pressão e de fritura são uma das principais causas de incêndio em residência. No caso das panelas de pressão se faz necessário uma manutenção sistemática dos sistemas de alívio. No caso de panelas de frituras e a panela pegar fogo, nunca jogue água. Desligar o fogão ou a fritadeira, se é mais seguro fazer isso. Nunca devemos deixar as panelas em fogo aceso, desacompanhadas (sem ninguém por perto). Importante tomar cuidado com os cabos das panelas que ficam na beirada do fogão, que podem ser resvalados ou alcançados por crianças.
No caso de produtos de limpeza, temos o hábito de ler as recomendações no rótulo do produto? Devemos lembrar que além de nos ensinar como manipular o produto, nos mostra os equipamentos de proteção individual necessários para manipulação.
Muitos produtos de limpeza contêm amônia – solução aquosa de amoníaco. Outro produto químico frequentemente utilizado em nossas casas é a água sanitária, ou lixívia – solução aquosa de hipoclorito de sódio. A água sanitária não deve ser misturada a outros produtos, em especial àqueles com amoníaco. A mistura, que pode explodir e causar queimaduras graves, exala gases muito tóxicos que provocam sérios danos à saúde.
Quanto mais conscientes estivermos de um risco, melhor é a nossa percepção e maior a nossa preocupação. Não há dúvida de que consciência, informação, conhecimento e trocas de experiências são meios que podem favorecer a aprendizagem para a prevenção. Por isso, é importante que todos nós devemos estar cientes dos perigos que nos rodeiam, assim como de tudo o que podemos fazer para corrigir as condições inseguras. Por exemplo, qual deve ser sempre a nossa atitude quando um carona não coloca o cinto de segurança ao entrar no seu carro? Os comportamentos considerados como sendo “de risco” são aqueles que contribuem para que os acidentes aconteçam. Assim como as condições inseguras, a maioria das causas de acidentes estão relacionadas com práticas inseguras e a desatenção a fatores de riscos porque acreditamos que nada de adverso nos acontecerá, como por exemplo dirigir alcoolizado ou falando com o celular. Em matéria de segurança não há mais ou menos.
A vida tende a punir os teimosos e reprova quem não aprende as lições. Quando falamos de segurança essa frase se encaixa muito bem. Devemos aprender com nossos erros, com o que sofremos. Um dos exemplo claros é a aviação. A evolução da história da aviação sempre foi marcada pela ocorrência de muitos acidentes mas o estudo das causas contribuintes para a ocorrência de acidentes e incidentes aeronáuticos, tornaram um dos meios mais seguros nos transportes, apesar de sua complexidade.
O comportamento humano nem sempre é constante e racional, e, portanto não segue padrões rígidos pré-estabelecidos. No entanto, mesmo que todos os riscos sejam conhecidos, ainda persistirá a possibilidade de falha humana, pois cada indivíduo organiza e interpreta as situações de maneira diferente.
Enaltecemos a cultura de modo geral, mas esquecemos da cultura de segurança. O ideal seria uma reflexão coletiva que viesse a contaminar as consciências com a cultura da segurança. Mas isso é utopia; consciências não se contaminam; consciências são formadas por meio de um lento processo: educação. Os conceitos básicos de prevenção de acidentes - no trânsito, no trabalho, em casa - precisam ser semeados a partir dos bancos escolares e cultivados nos cursos técnicos e universidades. Se assim for feito, os seus frutos - ambientes seguros e saudáveis - serão colhidos durante a vida de todos os cidadãos.
O risco sempre esteve e sempre estará presente em toda e qualquer atividade humana e, ao longo de sua evolução, o homem continuará a ser agredido pelas suas próprias descobertas, principalmente nas áreas tecnológica. Por isso é importante priorizar a segurança e a saúde do ser humano em todos os empreendimentos seja público ou privado. Na verdade é um direito e dever de todos nós.
Não tenho dúvida que nossa vida está nas mão de Deus. Nosso criador. Mas se faz necessário que cada um de nós realmente façamos a nossa parte, principalmente quando se trata de prevenções de acidentes. Caso contrário, continuarão ocorrendo e continuaremos atribuindo a Deus ou ao destino.
Quando um pássaro está vivo, ele come as formigas, mas quando o pássaro morre, são as formigas que o comem. Tempo e circunstâncias podem mudar a qualquer minuto. Por isso, “É proibido cochilar”.