Em decorrência da pandemia, chegamos à conclusão que o direito à liberdade não é absoluto e pode ser relativizado, sob pena de cometimento de crime, visto que em momento de pandemia, o interesse público se sobrepõe ao interesse privado. Isto mostra a fragilidade da nossa liberdade. O lockdown que consiste na obrigação de manter-se em isolamento social, bate de frente com o direito constitucional de ir e vir (artigo 5° inciso XV da Constituição Federal), fundamental para a liberdade de locomoção dos cidadãos. Enfim, ficamos proibidos de ir a um bar, fazer reunião com amigos, sair do estado ou do pais, visitar familiares e etc. Desrespeitando a política de isolamento e quarentena passamos a cometer crime. A população fica nesses momentos privada de liberdade.
Independentemente da pandemia, há muito tempo que a violência cresce no campo e nas cidades, já não temos mais liberdade de ir e vir como antes, nos trancamos a cada dia mais em nossos lares. Instalamos equipamentos de vigia externa, colocamos cadeado nos portões, mais fechadura na porta, isolamos o quarto da sala e do resto da casa.
Mas, o que é a liberdade? Segundo a filosofia, liberdade é definida como a independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. De acordo com a ética, a liberdade está relacionada com responsabilidade, uma vez que um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não desrespeite ninguém, não passe por cima de princípios éticos e legais.
Podemos afirmar que este vocábulo, representa o bem mais sagrado da vida. É o bem maior que repousa no coração do homem. Como pressuposto do lema revolucionário francês a “Liberdade” representava a identidade democrática, que não privilegiava interesses particulares em prejuízo do bem público e do cidadão.
Os povos antigos, sábios e sacerdotes, agrupavam-se em templos que diziam ser proibidos ao Vulgo (a classe popular, a plebe, o povão), a fim de estudarem os fatos científicos que originaram as divisões da ciência em várias disciplinas. Ao lado dos estudos científicos, técnicos realizavam o estudo dos fatos sociais com a preocupação de dar aos seres humanos, condições de vivência justa.
Após dotar a sociedade de estruturas que permitiram a vivência do homem em agrupamento, passou a sociedade a dedicar-se à libertação dos povos, à extirpação da inquisição e da escravatura.
Se ontem a luta era contra a prepotência, os dominadores, o absolutismo e as leis injustas, hoje se tem pela sua frente o monstro da corrupção para ser enfrentado. Deve-se a pobreza moral do ser humano, a implantação desse mal, que oriundo do orgulho e do egoísmo, elimina vidas, desagrega famílias. Vemos em pleno século XXI atos brutais de terrorismos, atentados, ditaduras, sequestros, assaltos, enfim, a violência campeia em todos os seguimentos sociais.
Será que está tudo perdido? Não, basta analisarmos os preceitos morais que nortearam, norteiam e hão de nortear a sociedade humana para que possamos nos posicionar em guardar contra o monstro voraz dos inescrupulosos, dos corruptos, etc.
Cabe agora à nossa Sociedade libertar o homem. Trabalho árduo, mas, necessário. Não mais a libertação física, mas libertação moral, libertação do seu interior, numa certeza que existe uma vida futura.
Para Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Da mesma forma, o homem nasce livre, mas por toda parte se encontrará acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração. O indivíduo se torna escravo de suas necessidades e daqueles que o rodeiam, o que em certo sentido refere-se a uma preocupação constante com o mundo das aparências, do orgulho, da busca por reconhecimento e status.
Para se conquistar um maior grau de liberdade é fundamental o fortalecimento da paciência e da tolerância frente às frustações em geral. É poder ver cada novo dia uma nova esperança brotar. É acreditar que as pessoas podem mudar, se delas partir essa decisão. Liberdade é olhar para o céu, mas em toda a parte se vê acorrentado.
Não podemos esquecer que os vícios limitam os nossos atos livres. São, portanto, uma forma de escravidão, pois nos tornam dependentes deles.
A verdadeira liberdade não é fazermos tudo o que queremos como: depredar o bem público, como se ele não fosse nosso, jogar detritos pela janela da casa ou do carro, quebrar os ônibus da cidade, ligar o rádio no máximo, pois quer ouvir música alta, bater e ferir emocionalmente as pessoas ou mesmo ter vícios para fugir da realidade. Isso não é liberdade, é falta de domínio próprio, é ser escravo. Ter a capacidade de escolher e seguir qual o melhor caminho, ainda que tenha todas as possibilidades ao seu alcance, é a cereja do bolo. É controlar-se mesmo em situações adversas, escolher as atitudes que lhe farão bem.
Haverá necessariamente conflitos de liberdades. A liberdade de uns necessariamente estará impactada pela liberdade dos outros. Imagine-se que, no exercício de sua liberdade de ir e vir, uma boa parte da humanidade decidisse, simultaneamente, estar no mesmo momento no Pico do Everest. A liberdade de ir e vir de muitos estaria limitada. Ou imagine que, em uma assembleia de cem pessoas, todas resolvessem simultaneamente exercer a liberdade de discursar.
A Liberdade não é só poder sair por aí, caminhando, respirando, vivendo, amando, partindo, voltando, e sim estar bem com seu espírito, seguir sua vontade sem obstáculos, sem amarras. É poder olhar as pessoas e ver o lado bom deles, é olhar a vida com os olhos da alma e poder alçar voos mais altos em busca da evolução. É meditar, ouvir, é sentir sua verdadeira essência, é sempre querer ser alguém melhor, e também querer que os outros sejam. Ser livre é poder escolher o que você quer para a vida, mesmo que para os outros não seja a escolha certa.
Enfatizo que a liberdade deve sempre vir acompanhada de responsabilidade. Assim, “ser livre” é também não se vincular a compromissos para os quais não estamos preparados.
Liberdade é desenvolver a criatividade, descobrindo sempre novas possibilidades. É ser inocente, sem ser ingênuo. É aumentar a cada dia a sensação de vitalidade. É sentir-se desobrigado a agradar constantemente os outros. É não precisar justificar-se a todo momento.
Liberdade é sermos nós – plenos de defeitos e imperfeições – devotados para poder talhar a pedra pela construção contínua de uma sociedade mais justa e perfeita.
Para terminar lembramos do Hino da Proclamação da República do Brasil, escrito por Medeiros de Albuquerque, que apresenta um importante conceito de liberdade: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!". E de uma frase do livro “O Fio da Navalha” de W. Somerset Maugham: “Difícil é caminhar sobre o aguçado fio de uma navalha. Árduo, dizem os sábios, é o caminho da Salvação”.