27/08/2025

A Importância do Atributo Coerência

Não tenho dúvida que a coerência é uma característica ou um atributo extraordinário, muito valorizada e indispensável para conquistar a confiança da sociedade.  Lembro que quando era pequeno, devia ter 8 ou 9 anos, que tomei a decisão de torcer pelo Fluminense em vez de torcer pelo Vasco, que era time do meu pai, ou pelo Flamengo que era o time de minha mãe.

Algumas pessoas, podem interpretar que fui bastante “habilidoso” em escolher um time diferente dos meus pais, para não desagradá-los. Porém, chamo a minha decisão de ter sido coerente. São pequenos fatos de nossa infância que aprendemos desde pequenos a importância da coerência.

Coerência, do latim cohaerentia, é aquilo que tem relação entre uma coisa e outra. É um conceito que é usado se referindo a algo que é lógico. Tudo em nossa vida deve ter coerência. Pensamentos e suas ações têm de ter, necessariamente, sentido lógico, para que às coisas caminhem bem.

Quem é coerente é lógico, diz e faz com nexo, com ligação, de uma forma que será esperada e mantida no futuro, como uma promessa de ser o mesmo

Claro que este exemplo do futebol é um exemplo sem muita importância (a não ser para quem ama o esporte). Porém, é importante manter o princípio de identidade, de ser lógico em nossas afirmações. Ou seja, ser coerente é pensar, falar e agir de maneira que nossas ações sejam harmônicas, que nossas ações reflitam verdadeiramente quem somos.

As pessoas coerentes costumam gerar confiança nos demais, já que não mostram uma cara diferente da que sentem, nem se esforçam para fingir ou dissimular seu estado interno. Sabem ouvir o que elas sentem internamente e são capazes de aceitar, sem enganar a si ou aos demais.

Quantas vezes eu não ouvi meus pais dizerem que "antigamente as pessoas tinham palavra" e "o nosso contrato era a nossa palavra".

Quem se propõe a escrever um texto, ou uma redação, deve ficar atento ao que se chama coerência textual. A falta de coerência afeta a significação do texto, prejudica a relação com o interlocutor, a continuidade dos sentidos e compreensão. A incoerência, que é o oposto da coerência, ocorre quando dentro do texto existem ideias que se contradizem.

Um ponto extremamente importante a ser tratado em relação a esse tema é que, para ser coerente, não precisamos nos manter pensando e agindo da mesma forma durante toda a sua vida. Melhor esclarecendo. Se você tomou uma decisão errada no passado e hoje sofre as consequências da decisão, porque não se permitir ser livre e mudar?

Um exemplo: imagine alguém que sempre sonhou em ser dentista. Disse isso publicamente para todos (o que aumenta a sua probabilidade de continuar mantendo a coerência). Porém, logo no primeiro ano, esta pessoa entende que não quer ser mais dentista. Dizer para todos que não quer ser mais dentista significaria ser incoerente. Como vimos, a sociedade não valoriza a incoerência.

O que quero mostrar apenas é que a coerência, principalmente a pública, faz com que sejamos vítimas fáceis da opinião alheia. É como colocar a possibilidade de decidir nas mãos dos outros.

Bem, quem não é considerado coerente é denominado incoerente. A incoerência, é um termo utilizado para descrever a falta de lógica ou consistência em um argumento, discurso ou ação. É quando há contradição entre as ideias ou informações apresentadas, gerando confusão e dificultando a compreensão do assunto em questão.

Em algum momento devemos ter ouvido o seguinte comentário “Você é muito incoerente! Fala uma coisa e faz outra. Ninguém te entende!”. Tem um ditado que os representa muito bem os incoerente, e que diz – “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Apesar de se falar muito nesse ditado popular, é impossível encontrar alguém que assuma ser assim. Em muitos casos, isto é desnecessário porque suas obras falam mais que suas palavras

Existe também uma expressão que diz “fulano é uma pessoa de palavra” e ela se refere a aqueles indivíduos que mantêm o que falam, pois o fazem com convicção, com base no que acreditam e em seus valores morais.

Já em relação aos incoerentes, as pessoas costumam dizer “o que fulano fala não se escreve”, ou seja, dificilmente cumprem o que prometem e, por isso, nunca são levados a sério.

O problema de ser incoerente reside principalmente na desconfiança que acabamos gerando nas outras pessoas. É difícil confiar em alguém que age de forma diferente do que pensa, e é muito difícil também confiar em alguém que se mostra de forma diferente do que realmente sente.

É desagradável termos ao nosso lado pessoas que dizem uma coisa hoje e, em outro dia, ao se referir ao mesmo tema, dizem outra completamente diferente. A incoerência gera desconfiança e enfraquece as relações, pois lança dúvidas entre a verdade e a mentira, o real e a ficção.

Quem é incoerente além de não cumprir o que planeja, desconhece o valor e o peso da sua palavra. Acredite, cada vez que sua palavra não é cumprida às pessoas vão perdendo a fé em você e sua credibilidade vai para o espaço.

Um exemplo claro da vida cotidiana, você está ensinando seu filho de que na mesa, durante as refeições, não podemos atender ao celular. De repente, no meio do jantar, seu telefone toca e você atende. Qual mensagem você acabou de passar para seu filho?

A coerência é um valor que se transmite com o exemplo. Os pais devem ser coerentes com o que dizem e fazem. Se existem contradições entre suas palavras e suas ações, eles estarão criando confusão e dificuldade no seio familiar. Na educação das crianças, o valor da coerência se entende como uma característica da autenticidade na vida.

Há muitas situações que acontecem na escola que poderiam ser evitadas, se os pais tivessem coerência em suas atitudes diante dos filhos.

Tomar muito cuidado para dar bom exemplo. A coerência nas próprias atitudes é muito importante, pois as crianças tendem a valorizá-las como boas quando veem isso nos adultos, com os quais tem compromisso afetivo.

É importante cultivar o sentido de justiça e de responsabilidade e deixar que as crianças formem seus próprios critérios. Responder às perguntas das crianças com argumentos racionais e não somente afetivos.

Não se pode ter falta de consenso entre os pais. Quando um pai diz “não” para algo, mas a mãe diz “sim”, a incoerência pode atrapalhar a aquisição de valores e conhecimentos por parte dos filhos.

O mais importante que às crianças devem entender para serem coerentes é que não se pode fazer o contrário do que se pensa ou se diz.

Seja no âmbito social, pessoal ou profissional, o mundo precisa cada vez mais de pessoas assim, que agem de acordo com o que dizem e que inspirem confiança. Ser coerente é ser honesto, consigo mesmo e com os outros. O mercado está cada vez mais em busca de profissionais coerentes, que vivem na prática todas as características que descrevem no currículo e na entrevista de emprego.

Inclusive, os recrutadores costumam fazer perguntas específicas para detectar aqueles candidatos que têm ideias e atitudes incoerentes e que estejam em desacordo com os valores da empresa.

Um comportamento coerente no trabalho se torna ainda mais necessário em cargos de gerência, em que o profissional irá liderar uma equipe de pessoas. Um líder que age de forma diferente daquilo que prega, além de estar dando um mau exemplo, poderá desmotivar o grupo, que não terá confiança nele e, também, se sentirá inferiorizado.

Se olharmos para o nosso cenário político e econômico atual perceberemos que a falta de coerência é o principal ou um dos mais relevantes motivos para a crise que vivemos atualmente.

Na política dos tempos atuais, o que vemos são incoerências gritantes, quase sempre movidas a interesses e disfarçadas com palavras bonitas. O que é dito durante os discursos de campanha para angariar votos é muito diferente das ações tomadas durante o mandato. Diferente de outrora, quando existiam homens públicos de posição firme, hoje o que se percebe é que a política virou tão somente um negócio.

A democracia é um sistema de transmissão de poder que se concretiza pela eleição de representantes. No entanto, é comum votar e logo perceber que alguns representantes eleitos atuam na contramão das necessidades e interesses da maioria daqueles que os elegeram.

A cada eleição, o povo brasileiro se mostra cansado, desiludido, inconformado. Alguns candidatos se aproveitam desses momentos,  para se apresentarem como “salvadores da pátria”, mas, depois de quatro anos, o que se constata são novas desilusões.

Os políticos, com algumas exceções, vendem a si mesmo e os seus princípios por poder, status, influência, dinheiro e outras coisas. Não há como negar que a maior parte dos discursos encampados pelos partidos políticos e seus candidatos é populista.

No nosso País, tornou-se comum partidos políticos com ideologias e programas completamente antagônicos acabarem se juntando. Não é incomum se deparar com agremiações com um programa partidário esquerda coligados a partidos com programa partidário conservador (ou vice versa), por exemplo.

O que temos visto na política é uma verdadeira degradação ética e moral. O sujeito combate um modelo de gestão hoje, mas amanhã se abraça a ele.

A única coisa que pode derrubar o Brasil, é a ignorância da nossa elite política, se ela persistir por muito tempo ela pode derrubar o Brasil, mas eu acredito que não vá acontecer. Afinal, até para a burrice há limites! E essa é a beleza da democracia.

Não podemos esquecer, dentro desse contexto de coerência ou incoerência, das lideranças religiosas que têm um compromisso inegociável com o bem-estar comum e com a prosperidade de todos. O Brasil é um país laico e, por isso, tem como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos, sem discriminar nenhuma das crenças.

Por exemplo, um Cristão que defende a humildade, mas, briga por cargo maior. Cristão que se diz "cheio do Espírito Santo", mas, não perde oportunidade para se descontrolar. Cristão que condena a arrogância, mas, pela graduação que possui, considera o "desgraduado" um inferior; gente que condena a vaidade, mas, não perde uma chance de chamar a atenção com vestes extravagantes. Bem, talvez não tenham lido com atenção o que Cristo nos ensinou em Mateus 23:1-11: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles dizem a vocês. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los”. Em resumo, são incoerente.

A coerência exigida para os cristãos, principalmente líderes, é que suas atitudes estejam de acordo com os princípios encontrados na Palavra de Deus (sem acrescentar, modificar, nem tirar coisa alguma). Quando nossas atitudes na igreja, no trabalho, na família, na escola, enfim, na sociedade, não estão de acordo com estes enunciados, Somos incoerentes! Jesus chamava de hipócritas!

Em várias sociedades, a religião chegou a ser mais importante do que o próprio Estado, até mesmo se confundindo com ele. O resultado foram numerosas perseguições, massacres e guerras sangrentas sob o pretexto da fé.

Não podemos esquecer das incoerência da Igreja Católica no começo do século XVI. Alguns princípios teológicos praticados pela Igreja provocaram a insatisfação do monge alemão Martinho Lutero, como por exemplo a venda de indulgências. Lutero também criticava a venda de cargos eclesiásticos e a venda de relíquias sagradas, ambas conhecidas como simonia.

Ainda que haja coerência intelectual nos argumentos que utilizamos para dizer que conhecemos a Deus, somos incoerentes quando não andamos sobre as palavras daquele que chamamos de Senhor.

A bíblia relata que nenhuma outra coisa provocou mais a ira do Messias do que os hipócritas religiosos de sua época (incoerência nas ações).

Papa Francisco em 23/02/2017, durante um sermão improvisado em missa privada matinal em casa, disse: “É um escândalo dizer uma coisa e fazer outra. Isto é uma vida dupla”.

Sabemos que não é fácil alinhar valores, princípios e condutas. É preciso querer se aperfeiçoar constantemente, sair do piloto automático, mudar hábitos ruins e melhorar a comunicação, para que os nossos pensamentos, falas e ações sejam coerentes. A mudança de ideias e atitudes faz parte do processo de evolução humana, então, permitamos se transformar e buscar ser uma pessoa melhor a cada dia.

Enfim, entendo que devemos procurar sempre viver em harmonia com o que pensamos, sentimos e acreditamos. Sendo coerentes em nossas atitudes, ideias e ideais, contribuiremos assim para o bom relacionamento familiar, social ou profissional. Isso nos dará o suporte para conquistar os nossos objetivos, inspirar confiança e ser mais feliz.

Concluímos lembrando de uma fábula sobre a coerência: Uma raposa era perseguida por caçadores, quando viu um lenhador e suplicou-lhe que a escondesse. O homem permitiu que ela entrasse em sua cabana. Logo chegaram os caçadores e perguntaram ao lenhador se havia visto a raposa. Com a voz ele disse que não, mas com sua mão, disfarçadamente, ele apontava aonde ela havia se escondido.

Sem compreender os sinais do lenhador, os caçadores confiaram apenas no que ele dissera e se foram. Assim que a raposa os viu ir embora, saiu da casa, sem nada dizer. O lenhador a reprovou por ter saído sem agradecer, já que ele a salvara. Ao que a raposa respondeu: “Eu te seria eternamente grata se as tuas mãos e a tua boca tivessem dito o mesmo”.

Segundo o filósofo Bertrand Arthur William Russell, nascido no País de Gales temos dois tipos de moralidade: uma que pregamos, mas não praticamos, e outra que praticamos, mas raramente pregamos.

30/07/2025

Escrevemos nosso nome em apenas alguns segundos, mas para construí-lo levamos a vida toda

Se pararmos para pensar sobre todas às coisas que de alguma forma escolhemos na vida, tais como: religião, profissão, clube de futebol, parceira matrimonial, amigos, instituições, etc., podemos lembrar que o nosso nome e sobrenome, que ganhamos antes mesmo de nascer e carregamos para depois de nossa morte, não fomos nós que escolhemos. Porém, situações envolvendo nome e sobrenome sempre afetam a nossa personalidade, seja positivamente ou negativamente. Podemos dizer que o nome é a primeira referência de um ser humano. É o que antecipa, precede e aparece anunciando a pessoa, é o que identifica e torna conhecido o ser humano. Não tenhamos dúvida que o nosso nome é importante para nossa dignidade e cidadania.

O que responderíamos se alguém nos perguntasse se gostamos do nosso nome? Muitas pessoas vão responder com um sonoro NÃO!  Na verdade muitas pessoas não se sentem bem com os nomes que foram escolhidos no registro de nascimento.

Os brasileiros já são conhecidos pela criatividade e com os nomes das crianças que nascem aqui não seria diferente. Seja por excesso de imaginação, erros de digitação, combinações inusitadas ou ruídos de comunicação, o país acabou por reunir uma série de nomes que são, no mínimo, originais. Alguns exemplos: Agrícola Beterraba Areia, Amin Amou Amado, Aricléia Café Chá, Chevrolet da Silva Ford, Restos Mortais de Catarina, Remédio Amargo, Otávio Bundasseca, Maria-você-me-mata, Janeiro Fevereiro de Março Abril,etc. A relação é bastante longa.

Lembrando que, um dos fundamentos do direito civil, a dignidade da pessoa, é um dos principais motivos para a solicitação da mudança de nome ou sobrenome.

O Brasil, adota o princípio da Imutabilidade, relativa do nome, ou seja, o nome pode ser modificado em casos previstos na lei ou por decisão judicial. Isto porque entende-se que este deve ser escolhido pelo titular, mas todos sabemos que não é bem assim que funciona. São nossos pais ou responsáveis que, no momento do registro de nascimento, escolhem nosso nome.

Algumas situações a Justiça brasileira permite a alteração do nome, podemos citar como exemplos: a correção de erros de grafia (letras trocadas ou repetidas; alteração de nome para indivíduos transexuais, nomes inusitados feita pelos pais, que pode acarretar transtornos no âmbito moral para vida de um indivíduo, nomes que expõem as pessoas ao ridículo, ao vexame, constrangimento ou que seja exótico.

Em Portugal, alguns nomes que são comuns no Brasil, são proibidos de serem colocados nos bebês, se tiverem algumas modificações. Por exemplo, Thiago, é recusado em Portugal, pois a letra “h” não tem valor fonético na língua portuguesa e é considerada uma grafia estrangeira, A forma aceita é Tiago. Outro exemplo é Izabella. A grafia “z” e o uso “ll” são considerados estrangeiros. Todavia Isabela é permitido usar. Também não é aceito Matheus, com “th”.

A fim de evitar que as pessoas passem por situações vexatórias, alguns nomes são impedidos por lei de serem registrados em alguns países. Adolf Hitler é proibido, por exemplo na Alemanha e Portugal, por motivos históricos.  Nenhuma Sarah é registrada no Marrocos. Pela cultura local, a presença da letra H ao fim do nome dá a ele um aspecto hebraico, o que não é permitido no país.

Mas todo mundo precisa, além do nome, de um sobrenome. Segundo alguns pesquisadores, temos de agradecer aos romanos por isso. Foi esse povo, que há mais de dois mil anos ergueu um império com a conquista de boa parte das terras banhadas pelo Mediterrâneo, o inventor da moda. Eles tiveram a ideia de juntar ao nome comum, ou prenome (do latim praenomen), um nome (ou nomen), tendo em vista que o Império Romano crescia e eles precisavam indicar o clã a que a pessoa pertencia ou o lugar onde tinha nascido. Com a decadência do Império Romano, essa prática foi se enfraquecendo até que, na Idade Média, os sobrenomes caíram em desuso e às pessoas passaram a ser chamadas apenas pelo seu prenome. Somente no século 11 que os sobrenomes voltaram a ser usados e passaram a ser obrigatórios.

No entanto, o primeiro grande passo em direção a um sistema de sobrenomes de massa se deu por uma disposição do Concílio de Trento (1564), que tornava imutável, obrigatório e transmissível o sobrenome. Isso para facilitar a cobrança de impostos, mas principalmente para evitar casamentos e uniões entre consanguíneos. Como poderia repassar uma propriedade a um herdeiro sem que sua descendência fosse comprovada?

Novamente, os sobrenomes não foram inventados do nada. Os homens passaram a escolher sobrenomes que tinham a ver com seu lugar de nascimento ou moradia. Alguns portugueses ganharam o sobrenome de Coimbra, Lisboa, Resende ou Alcântara (cidades do país). Um sobrenome poderia também ser originado através de questões de natureza geográfica.  Nesse caso, o “João da Rocha” teve o seu nome criado pelo fato de morar em uma região cheia de pedregulhos ou morar próximo de um grande rochedo. O sobrenome Fernandes, ou por exemplo, significa ‘filho do Fernando’. Outros escolheram sobrenomes que se referiam a características físicas e de personalidade, como Louro, Calvo e Severo. Também tiveram; houve aqueles que adotaram sobrenomes ligados a atividades desenvolvidas pela família, como é o caso de Ferreira que, provavelmente, é uma referência à profissão de ferreiro.

Outros estudiosos do assunto também acreditam que alguns sobrenomes apareceram por conta da fama de um único sujeito. Sobrenomes como “Severo”, “Franco” ou “Ligeiro” foram criados a partir da fama de alguém que fizesse jus à qualidade relacionada a esses adjetivos. Sem dúvida, muitas pessoas já tiveram a oportunidade de desenvolver um diálogo como esses: “Ei! você conhece o fulano?”; “Que fulano?”; “Fulano de Sousa, Guimarães ou Rocha?”.

Lembramos que antigamente, era costume os filhos serem registrados apenas com o sobrenome paterno. O meu pai foi um exemplo disso, todavia o que pude historiar, parece que foi esquecimento do meu avô.

Temos um terceiro elemento que faz parte, do dueto nome e sobrenome. Chama-se “Apelido”. Etimologicamente falando, apelido vem do latin, appelitare, colocar pêlo sobre algo. Apelido significa por sinonímia, alcunha – denominação ou qualificativo. Não se sabe ao certo quando surgiram, mas acredita-se que existam há centenas de anos. Possivelmente, estão ligados à origem dos sobrenomes. No passado, eram os apelidos que ajudavam a diferenciar o nome das pessoas. Havia os que recebiam um apelido por causa da profissão, como por exemplo, Barbeiro. Um lenhador podia ser chamado de Pinheiro e um caçador de Raposo ou Lobo. Na França, eram comuns nomes como Fritier, que significa vendedor de peixe frito.

A característica física e a personalidade eram outras formas de nomear. O rei Pepino, o Breve, que governou os francos dos anos 751 a 768, era baixinho; por isso, o apelido. Ricardo I, que reinou na Inglaterra no século 12, foi chamado de Coração de Leão, pois era considerado muito corajoso.

Para os portugueses e espanhóis, a palavra apelido é o que no Brasil chamamos de sobrenome.

No Brasil é comum chamar as pessoas com apelidos. Esse é mais um costume herdado da escravidão. As relações familiares dos escravos não eram reconhecidas pela lei. O casamento, o pátrio poder eram institutos exclusivo da população branca. Assim, não havia nome de família para escravos. Não havia uma regra explícita para se colocar os nomes nos escravos. O senhor colocava formalmente um nome português, quase sempre em homenagem a um santo de devoção, ou o santo do dia do nascimento. Mas eles eram conhecidos na comunidade pelos nomes que as mães lhes davam. Era muito comum que as pessoas se referissem aos negros como o "negro José", o "negro Antônio", para distinguir do nome de outro José ou outro Antônio

Outro fato interessante era realmente mais comum antigamente às pessoas serem chamadas por apelidos do que hoje no Brasil. Você, muita vez, conhecia a pessoa pelo apelido: Mazzaropi, por exemplo, era um cara que tinha a cara de caipira de queixo grande, Braço de manivela, Pelezinho, Careca, Cabeleira, Magrão, Galego, Boneco da Michelan, Vassourinha, etc. O gozado era que a gente não sabia o nome de certidão de nascimento. Já o hipocorístico é uma forma carinhosa de apelidar as pessoas: Nanda (Fernanda), Bastinho (Sebastião), Bia (de Beatriz), Leninha (Helena), Quinzinho (Joaquim), Bel (Isabel), Betinho (Roberto, Adalberto).

Nos países de língua espanhola em geral, Francisco tem o apelido de Paco ou Paquito. Chico, em espanhol, significa pequeno.

Infelizmente, praticamente todas as pessoas já receberam, pelo menos uma vez na vida, algum tipo de apelido, esses podem ter origem na família, no trabalho, porém o lugar onde mais acontece é na escola. Reconhecido popularmente como brincadeira de criança, o apelido circula em todos os ambientes onde existem relações humanas, na família, na escola, na rua, nos ambientes de trabalho, nos clubes, nos grupos de amigos e em muitos outros meios.

Geralmente nas escolas, os apelidos surgem nos primeiros contatos, especialmente quando entra um aluno novo oriundo de outra cidade, estado que apresentam características distintas como o modo de falar, o que gera piadinhas e situações constrangedoras.

É preciso tomar muito cuidado ao criar apelido para alguém. Quando está ligado às características físicas, por exemplo, pode ser bullying (conjunto de agressões repetitivas que humilham e magoam). Bullying é uma expressão inglesa usada para designar atitudes de violência de caráter físico ou psicológico, de forma intencional e repetitiva, geralmente o ato é executado pelo “valentão” ou um grupo que tem como intuito agredir outra pessoa.
Os casos de bullying começam muito mais silenciosos e, por isso, são mais graves. Quem sofre a agressão não conta nem na escola nem na família, mas começa a mudar o comportamento, como por exemplo: queda no rendimento escolar, faltas na escola, e inclusive isolamento.

É importante os pais conversarem com seus filhos para saber se está dando apelidos pros colegas. Pergunte pra ele se o colega gosta do apelido. Dê algum exemplo pra fazê-lo exercitar a empatia, colocar-se no lugar do outro, todos os pais deveriam fazer isso.

Um em cada dez estudantes brasileiros é vítima de bullying – anglicismo que se refere a atos de intimidação e violência física ou psicológica, geralmente em ambiente escolar.

Entre o consentimento e o não consentimento em receber o apelido existe uma linha tênue que torna esta forma de tratamento repleta de indefinições nos sentimentos de quem recebe o apelido.

O bullying não é caracterizado pela frequência, mas pela covardia. Os agressores escolhem pessoas que dificilmente revidarão. Brincadeira em que só você pode rir, ou que o outro nunca terá a chance de dar o troco não é brincadeira. É bullying.

Sensações de mal-estar ocorrem quando o apelido vem carregado de sentido pejorativo, torpe, depreciativo com a intenção de desprezar, desvalorizar, menosprezar, desdenhar, zombar, ridicularizar, rebaixar o apelidado. Se acatado pelo grupo, seus efeitos se agigantam exponencialmente.

Nunca podemos esquecer que o apelido pejorativo caracteriza alguém, descaracterizando-o. O apelido pejorativo fere, magoa e humilha.

Dentro desse contexto entendemos que é importante chamar as pessoas pelo nome e não pelo apelido. Apesar de ser um gesto simples, chamar alguém pelo nome é algo muito poderoso, pois faz com que as pessoas se sintam bem e valorizadas pelo outro. Essa, nada mais é do que uma maneira de demonstrar ao interlocutor que ele é único e que você se importa.

Um nome não serve apenas para que se distinga um elemento dos demais. É, acima de tudo, um traço de identidade, de individualidade, de unicidade.

Finalizamos lembrando de uma frase de Diego C. Maia:  "Escrevemos nosso nome em apenas alguns segundos, mas para construí-lo levamos a vida toda”.

26/04/2025

A CONFIANÇA É COMO UM CRISTAL

Da mesma forma que existem os “Causos” que são narrativas populares em que une os costumes do povo e o prazer de contar história temos também piadas que são narrativas breve e direta que tem como objetivo provocar o riso em quem a ouve.  No caso das piadas só se deve ter cuidado para não serem preconceituosas, racistas, homofóbicas, machistas etc. Piadas de judeu, turco, árabe, português, baiano, mineiro, paulista, carioca, etc., sempre correm esse risco. Mas tem muito português que gosta de contar piada de português, assim como tem muito judeu que conta piada de judeu, tem muito mineiro que se diverte com as piadas de mineiro, bem como turco que gosta contar piada de turco. Eu tinha um Tio, que era português, que gostava de contar piadas de português.

Há muito tempo atrás escutei uma piada sobre turco, meio inocente mas com um ensinamento interessante. Pois bem, um turco (que um povo quase sempre muito desconfiado), desejava ensinar ao filho, desde pequeno, que ele também deveria desconfiar de tudo e de todo o mundo, especialmente quando o assunto fosse emprestar dinheiro pros outros, ou vender fiado na “lujinha”. Arranjou um jeito bem traumático de ensinar ao filho que ele não deveria confiar em ninguém, de modo que o menino nunca mais esquecesse a lição. Assim, colocou o filho sobre a mesa e disse: – Bula, vilhinho, bula golinho babai, bula. O menino hesitou. O pai insistiu. E quando, depois de alguma insistência, o garotinho finalmente venceu o medo e pulou na direção do colo do pai, o turco tirou o corpo e pumba! – deixou a criança se estatelar no chão. Era para o próprio bem do filho; para não ter problemas no futuro. Diante do choro inconsolável do menino, o turco ensinou-lhe a lição: Isso é pra você aprender a não confiar em ninguém, ninguém, viu?

Apesar de ser uma piada, entendemos que a confiança é a base de todos os tipos de relacionamentos humanos, incluindo familiares, amorosos, de amizade, sociedade e, até mesmo, profissionais.

Confiança é um daqueles termos que todos sabem o que é, mas raramente conseguem descrever com palavras. Para alguns, trata-se de um sentimento, um ato de amizade, algo intrínseco a cada pessoa. Para outros, seria um processo racional de prever o comportamento da outra pessoa. Seja qual for a sua compreensão, sabemos que a confiança é algo que todos nós queremos dar e receber. Mas que as circunstâncias da vida acabam nos demonstrando que devemos ter cautela.

No início do nosso desenvolvimento, confiamos em nossos pais amplamente e dependemos dessa crença para nos desenvolver e aproveitar todas as oportunidades que o mundo nos oferece. É uma confiança infantil, que por vezes chamamos até de ingenuidade.

Imaginemos a redução na confiança dos pais quando as crianças passaram a duvidar da existência do Papai Noel. É como se sentissem traídos pelos pais, pois aqueles que o ensinaram a não mentir estavam mentindo. Os pais são espelhos para os filhos, a fonte de maior confiança e autoridade. Porém, na adolescência, é normal que haja uma sensação de liberdade e de descoberta mais aflorada, fazendo com que eles se tornem mais questionadores.

Essa descoberta, me fez lembrar da música Traumas de Roberto Carlos: “Meu pai um dia me falou pra que eu nunca mentisse mas ele também se esqueceu, de me dizer a verdade. Da realidade do mundo que eu ia saber. Dos traumas que a gente só sente, depois de crescer”.

Será que podemos confiar em alguém que já mentiu antes para nós? Bem, o que tenho certeza que a mentira abala um dos pilares mais importantes dos relacionamentos: a confiança!

A confiança, é um pilar fundamental em todas as relações humanas, sejam elas pessoais, amorosas ou profissionais. Ela é vital em relações amorosas. Sem ela, a base do relacionamento fica comprometida. A falta de confiança pode levar à desconfiança constante, ciúmes, inseguranças e, eventualmente, à ruptura do relacionamento. A confiança sustenta a fidelidade e a lealdade, essenciais para a longevidade do relacionamento. Sentir-se seguro e apoiado pelo parceiro é um dos maiores benefícios de um relacionamento baseado na confiança.

A confiança é essencial para relações saudáveis e produtivas, tanto pessoais quanto profissionais. Construí-la exige esforço, comunicação e consistência, mas os benefícios são imensuráveis. Quando perdemos a confiança, a mais pura verdade vira mentira saída da boca de quem não merece uma gota de credibilidade.

Na vida profissional, é comum ouvirmos frases do tipo "ninguém é confiável", "você não deve confiar em ninguém", "mantenha sempre um pé atrás com qualquer pessoa", "não seja ingênuo", "não seja bobo", "fique esperto", dentre muitas outras. Isto acontece mas o importante que tenhamos em mente que todas as pessoas com quem nos relacionamos no ambiente de trabalho ou na vida cotidiana, merecem, em menor ou maior grau, a nossa confiança.

Funcionários que confiam na liderança da empresa tendem a ser mais leais e a permanecer por mais tempo na organização.  Um ambiente de confiança encoraja a criatividade e a inovação, pois os funcionários se sentem seguros para propor novas ideias sem medo de críticas.

O importante é reconhecer os limites da confiança que você deposita em cada pessoa, de acordo com o contexto, é parte essencial para a construção de uma confiança autêntica. A capacidade e a disposição de confiar estão entre as mais importantes virtudes humanas. A base da confiança é a comunicação transparente. Falar a verdade, mesmo que seja difícil, cria um ambiente de segurança e autenticidade.

Dificilmente as pessoas confiarão em alguém que não cumpre suas promessas. Indivíduos assim são vistos com descrença pelos demais, pois sabem que são grandes as chances de que o que eles prometem não se concretize. E dificilmente alguém vai confiar numa pessoa que não guarda os segredos que lhe confiarem e evite manter segredos das pessoas próximas.

Por muito tempo, a confiança e a verdade foram interligadas, onde pessoas que parecem mais confiantes em sua fala transparecem a verdade nos outros. É comum ouvir que, durante um discurso, a confiança é chave para que o público confie em você e associe suas palavras com a verdade.

Hoje em dia, temos ferramentas nos meios de comunicação, que fazem a difusão de não verdades que atraem milhões de pessoas. Estou falando das fakenews que se tornaram um fenômeno global de grandes proporções e dados alarmantes. Será que podemos confiar em pessoas que divulgam fakenews, principalmente por cunhos de ideologias política ou religiosas?

Na verdade estou me referindo as pessoas que mesmo tendo conhecimento que uma “notícia” não é verdadeira, porém interessadas no resultado, fazem a divulgação sabendo que a disseminação pode interferir negativamente no em vários setores da sociedade, como política, saúde e segurança.

As fake news chamam tanto a atenção que acabam viralizando por conta de um fenômeno sociológico conhecido como pós-verdade. Segundo o conceito de pós-verdade, cada indivíduo tem uma tendência maior a acreditar na informação que lhe agrada, ou esteja mais relacionada com seus direcionamentos morais e crenças. Assim, esse indivíduo passa a excluir as possibilidades de crítica e análise para confiar cegamente na informação recebida, apenas porque ela concorda com suas crenças.

Assim, para que o erro não acabe se tornando um grande pesadelo, é importante que haja um esforço coletivo e contínuo de análise das informações. É fundamental saber filtrar as mensagens recebidas, analisar com calma o tipo de fonte, o que o conteúdo propõe e quem escreveu.

Não podemos esquecer, que o pior efeito da mentira, é perder a confiança em quem você acreditava. Nas relações onde a confiança foi quebrada, as verdades viram dúvidas.

Conta uma parábola de origem judaica que a Mentira e a Verdade, em um dia de sol, saíram a caminhar no campo. E resolveram banhar-se nas águas de um rio que se apresentava muito convidativo. Cada uma tirou a sua roupa e caíram na água. Mas, a um dado momento a Mentira aproveitou-se da distração da Verdade, saiu da água e vestiu as roupas da Verdade. Quando esta saiu da água, negou-se a usar as vestes da Mentira. Saiu nua a perseguir a Mentira. As pessoas que as viam passar acolhiam a Mentira com as vestes da Verdade, mas proferiam impropérios e condenações contra a atitude despudorada da Verdade. Moral da parábola: as pessoas estão mais dispostas a aprovar a Mentira com vestes de Verdade do que enfrentar a Verdade nua e crua.

Diz o Evangelho: “a verdade liberta”. O mundo da aparência traz consigo o peso da escravidão.

Importante ressaltar que a confiança está intimamente associada ao caráter porque o caráter de uma pessoa reflete seus valores, princípios e a consistência com que age em conformidade com esses valores.  O caráter de uma pessoa determina suas ações e atitudes em diversas situações, influenciando diretamente a percepção de confiança. Pessoas de bom caráter são responsáveis e confiáveis. Elas assumem a responsabilidade por suas ações e estão dispostas a admitir erros e corrigi-los. Agem de maneira consistente com suas palavras. Essa congruência entre o que se diz e o que se faz é fundamental para estabelecer e manter a confiança. Se alguém promete algo e cumpre, ou age de acordo com suas declarações, isso demonstra integridade, que é uma componente central do caráter.

Lembramos que caráter não se compra, confiança e respeito se conquistam. Caráter, ao ter, nunca perde. A confiança, quando perdida, nunca se terá de volta.

Na verdade, a confiança é como um cristal, uma vez quebrado, nunca mais volta a ser o mesmo. Você pode juntar os cacos e tentar colar, mas as marcas serão evidentes (Priscilla Rodighiero). A quebra de confiança é uma ferida profunda nas relações, e a reconstrução dessa confiança exige tempo, esforço e comprometimento de ambas as partes envolvidas. 

Para mim, uma relação de confiança não se baseia em dar ao outro garantias ou previsibilidade. Para mim, uma relação de confiança se baseia na Verdade - mesmo que isso gere frustração. 

De qualquer forma não podemos esquecer que um indivíduo que não confia em ninguém leva uma vida vazia, sem amizades verdadeiras, pessoas com quem compartilhar seus medos, angústias e, até mesmo, as alegrias. Só recebemos aquilo que oferecemos aos outros, portanto, se deseja confiança, a ofereça.

“A verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água (Miguel de Cervantes)”.

05/12/2024

Máscaras invisíveis

Não posso dizer que sou fascinado por publicidade e marketing, mas gosto de parabenizar a criatividade de vários profissionais do ramo, principalmente quando usada de forma humorística. Um dos slogans que tem cadeira cativa na memória de muitos brasileiros, e na minha também, foi criado no final dos anos 1970. Estamos falando do famoso slogan “Bombril tem 1001 utilidades”. O slogan transformou a marca em sinônimo de esponja de aço. Para completar o sucesso, a marca começou a ganhar enorme visibilidade pelas atuações do famoso garoto-propaganda ator Carlos Moreno, sendo denominado do Garoto Bombril. Se realmente o Bombril tem 1001 utilidade, não sei, pois nunca foi provado mas a lista é grande de utilização.

Assim como o famoso “Bombril tem 1001 utilidades”, diversos produtos também tem várias utilidades. Podemos citar por exemplo as “Máscaras”. Nesse caso temos que dividir em máscaras físicas e máscaras invisíveis da vida real, do cotidiano.

As máscaras estão no convívio do ser humano, de acordo com alguns estudos, desde o ano 9000 ac, sob as mais diversas formas, de diferentes materiais e com intuitos distintos, e por algum motivo, nos acompanham desde então.

No mundo ocidental os antigos gregos foram pioneiros no uso das máscaras teatrais durante as festividades de Dionísio, deus do vinho e da fertilidade. Nessas ocasiões, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença do deus através do emprego da máscara.  Também na Grécia, eram utilizadas nas suas cerimônias religiosas e era comum os atores se utilizarem de máscaras para interpretar seus personagens.

Na necessidade do homem de se embelezar e de se transformar, surge em Veneza na Itália, no século XV, o primeiro baile de máscaras, “Ball Masquê”, onde o uso da máscara também se fazia necessário devido aos constantes conflitos políticos. Os Cortesãos mascarados faziam brincadeiras, confiantes no anonimato, extravasando todos os seus impulsos reprimidos, libertando-os das normas sociais. Todavia, em Veneza, no século XVIII, as máscaras transformaram-se em itens de consumo cotidiano por todos os seus habitantes, velando apenas o nariz e os olhos. Logo foram proibidas, pois dificultava a ação da polícia na identificação de criminosos, muito comuns nesta cidade naquela época.

Na China, as máscaras eram utilizadas para afugentar os maus espíritos, enquanto que no Antigo Egito, as máscaras eram colocadas no rosto do falecido de modo a orientá-lo na passagem para a vida eterna.

As máscaras sempre fizeram parte da cultura africana, e imaginamos que elas fossem vistas como objetos místicos. Sua função era a de disfarçar a pessoa que usa, para que ela pudesse entrar em contato com os espíritos, absorver sua força, e usar em benefício da comunidade. Assim, as máscaras podiam ser vistas em todos os tipos de ritual: da cura ao casamento, da iniciação aos funerais.

Na América do Sul, sabemos que muitos povos indígenas usavam máscaras em suas cerimônias, que simbolizavam animais, pássaros e insetos.

Ao longo dos séculos houve sempre a necessidade que o ser humano protege-se as vias respiratórias, por meio de uma barreira física. Essa necessidade levou o homem a criar diferentes tipos de máscaras de proteção, com características diferentes, para atender às necessidades específicas de diferentes atividades e ambientes, seja para utilização em hospitais, laboratórios, industrias, construção civil, agricultura, gastronomia, etc.

Apesar de muita gente não querer usar, durante a pandemia foi bastante utilizado as máscaras de tecido, também conhecidas como máscaras de pano.

Mas nem só para proteção servem as máscaras. Temos também as máscaras tipicamente usadas em bailes, festas e outros eventos. Alguns usam máscaras para esconderem da própria face e permitir diminuir as repressões sociais e assumir os mais diversos personagens e fantasias, de modo a se livrarem daquilo que consideram amarras sociais, éticas e até religiosas.

Não podemos esquecer das máscaras que são utilizadas pelos bandidos como disfarce, para que não sejam reconhecidos ao cometerem seus delitos.

Bem, assim como “Bombril”, temos máscaras que podem ser utilizadas em várias situações da vida, ou melhor de todos os tipos e gosto. Todavia algumas máscaras temos que evitar. São as chamadas máscaras invisíveis da vida real.

Diferentemente do teatro, no palco da vida nossas máscaras são invisíveis, mas facilmente percebidas por aqueles que possuem olhos para ver. Quando falo de máscaras invisíveis, me refiro as que usamos para nos proteger, disfarçar, coagir, amedrontar e tantas outras utilidades. Essas máscaras podem ser apresentadas de diversas formas, seja por uma postura que adotamos habitualmente, a forma em que nos limitamos a comunicar ou até mesmo um sorriso sem motivo para tentar causar alguma boa impressão.

Poderíamos dizer que temos em nosso armário várias máscaras guardadas e em todo momento corremos o risco de recorrermos a estas, de acordo os locais que frequentamos, as pessoas com quem conversamos

No futebol, o jogador considerado mascarado é aquele que “se acha”. Quando se ouve dizer de alguém que “a máscara caiu”, sabemos que suas falsidades foram descobertas e suas reais intenções reveladas.

Tem pessoas que se escondem atrás da máscara de interesseira. Nunca terá ou fará amigos, apenas aliados, mas, quando seus interesses forem supridos e ela perceber que a pessoa não é mais útil, irá dispensá-la, porque ela apenas usa as pessoas.

Temos a máscara da mentira. Uma pessoa que usa a máscara da mentira é a mais perigosa de todas, porque a mentira não possui limites, ela é a chave que abre as portas para os outros tipos de males citados acima.  Podemos ter ainda a máscara da inveja. O indivíduo que usa a máscara do invejoso vive na escuridão e deseja a qualquer custo a luz do próximo. Se não puder ter para si, ele prefere apagar, mesmo que essa luz seja de um membro de sua família ou de seu melhor amigo.

A máscara da timidez esconde, na verdade, a busca por uma eterna punição por alguma culpa a qual se atribuem, em grande parte dos casos, injustamente. Como por exemplo, pessoas que passam por perdas significativas dos pais ou que são abandonados por eles tendem a crescer com o sentimento de que não merecem ser amados.

Uma máscara comum a quem sente que, de alguma forma, foi injustiçado pela vida e que passa a acreditar que seu dever é buscar pela justiça é a máscara da injustiça.  Pessoas que se encaixam nesse perfil costumam ser solitárias e infelizes.  Passar por uma grande dor pode fazer com que uma pessoa se torne alimentada pelo ódio, pode levar essas pessoas a usarem a máscara da traição.  Aqueles que usam essas máscara têm sempre o medo de que novamente serão enganados e enfrentarão grande dor.

Parece que existem mais máscaras invisíveis que físicas, Vejamos mais algumas: Máscaras de pureza em vidas sem compromisso com a santidade; máscaras de amor em relacionamentos marcados pelos interesses pessoais; máscaras de compromisso em casamentos internamente destruídos; máscaras de tolerância, que escondem planos vingativos; máscaras de espiritualidade em decisões puramente políticas e interesseiras; máscaras de exortação em sermões que não correspondem com a própria vida; máscaras de misericórdia, sem coração compassivo ou qualquer interesse em aliviar a dor do aflito.

Interessante foi a explicação de um dos atores que fez o papel de Superman quando perguntado qual o motivo pelo qual o herói não usava uma máscara. Respondeu que tinha haver com confiança.  Se tivesse uma, daria às pessoas uma razão para não confiar nele.

É importante lembrar que as crianças não têm máscaras, porém, conforme convivem com os adultos e passam por reveses, vão descobrindo ser mais útil parecer diferente do que realmente se é.

Se formos para o lado político, talvez sejam os políticos que mais usam máscaras, principalmente da honestidade. A pergunta que não nos deixa calar:

Como nos protegermos dos bacilos (bactérias) das grandes pestes da democracia (políticos)? Esses bacilos não desaparecem nunca. E cada dia inventam mais uma máscara invisível para enganar o povo. Segundo o teólogo, monge e mestre espiritual indiano Swami Shankara, políticos sempre usam muitas máscaras, uma para cada ocasião. A máscara mais usada é a de cara-de-pau.

Segundo a Bíblia, o uso de máscaras pode ser associado à hipocrisia e à falta de autenticidade. A Bíblia enfatiza ainda a importância de ser verdadeiro consigo mesmo e com os outros, evitando a adoção de personas falsas.

No espiritismo, as máscaras são vistas como representações das diferentes personalidades e experiências que uma pessoa pode ter em diferentes encarnações. No tarot, numerologia, horóscopo e estudos dos signos, as máscaras são vistas como representações das diferentes energias e influências que afetam uma pessoa em sua vida. No Candomblé e na Umbanda, as máscaras são vistas como representações dos orixás e entidades espirituais que podem se manifestar através dos praticantes.

Bem, podemos perceber que geralmente usamos máscaras diante das pessoas mas esquecemos não conseguimos enganar a Deus. Diante do Senhor, não há máscara capaz de esconder quem somos e o que fazemos. Ingenuamente esquecemos que Deus nos vê como de fato somos, é Ele quem nos vê sob e através das máscaras, é Ele quem vê o que ninguém mais pode ver, o nosso interior e sabe tudo o que fazemos. Como muito bem nos ensina a bíblia em 1 Samuel 16.7b: “O homem vê o exterior, porém o Senhor o coração.”

O tempo passa, as coisas mudam, as máscaras caem. A máscara, com o passar do tempo, torna-se um fardo pesado e, já não teremos força para segurá-la. Os disfarces não resistem e a mentira aparece.  Às máscaras sempre caem à luz da verdade. Toda maquiagem sai, toda máscara cai e toda mentira se revela. Seria bom que alguns hipócritas soubessem disso.

Pessoas que usam máscaras acabam se perdendo de quem realmente são e perdem o amor de Deus em seus corações, pois não sabem como canalizar este amor e nem como expressá-lo. Porém, antes de você julgar essas pessoas mascaradas, procure antes saber o que foi que motivaram a elas a usarem tais máscaras.

Concluímos recordando a música “Turbilhão”, interpretada por Moacyr Franco. Uma obra que utiliza a alegoria do carnaval para descrever a complexidade das emoções humanas e a efemeridade da vida. A letra menciona elementos típicos do Carnaval, como colombinas, serpentinas, confetes e palhaços, mas os utiliza para ilustrar sentimentos mais profundos. “Sopraram cinzas no meu coração” e “caiu a máscara da ilusão” sugerem desilusão e tristeza, contrastando com a imagem festiva do Carnaval. A repetição do refrão “a nossa vida é um Carnaval” reforça a ideia de que, assim como no Carnaval, a vida é feita de momentos de alegria e tristeza, e que muitas vezes a realidade é mascarada.

Que vençamos a tentação de usar destes artefatos, seja por qualquer motivo, e nos apresentemos como somos, diante das pessoas e diante do nosso Deus.

24/07/2024

Pela porta aberta, de um coração descuidado

Nesses meus sessenta e cinco anos de vida posso afirmar que a década de 80 foi para mim a década das conquistas, ou melhor, das portas abertas na minha vida.

Tudo começou no início do ano de 1980 quando consegui meu primeiro estágio como estudante de engenharia. O primeiro estágio é uma barreira para muitos estudantes. Sabemos que o conhecimento adquirido em sala de aula é apenas uma parte de um todo que define o engenheiro. Também é primordial que o profissional saiba aplicar tudo que foi estudado na faculdade. Dessa forma, os estágios são uma ótima alternativa, para os alunos, desenvolverem melhor a relação entre teoria e prática. No entanto, conseguir o primeiro estágio pode ser uma tarefa bem complicada. Os motivos mais conhecidos que levam a esse problema são a baixa oferta de oportunidades dadas pelas empresas, a grande concorrência por essas vagas e a exigência de experiência na área.

Bem, na verdade, essa minha “conquista” foi através do famoso “QI” (Quem Indica). Nessa época, uma prima minha estagiava numa construtora de João Pessoa e teve conhecimento dessa necessidade de um estagiário. Me indicou e fui bem-sucedido na entrevista. A partir desse momento às portas se abriram para mim, e logo depois fui trabalhar na implantação de uma Indústria de Bentonita em Boa Vista-PB.

Na área amorosa, foi nessa década que me casei e tive o nascimento dos meus filhos. Para encerrar as conquistas e portas abertas na década de 80, passei no Concurso da Petrobras em 1987.

É importante ressaltar que a década de 1980 foi palco de complexos acontecimentos tão acelerados em seus movimentos contínuos de violências, esvaziamentos, sentidos desconhecidos, que se for contada com rigor apresentará expressões velozes de um século em dez anos.  Podemos até definir que a década de 1980 foi a de transição de um tempo lento para um tempo acelerado. A crise dos anos 80, provocou uma queda aproximada de 25% na Produção Industrial, acompanhada por uma redução semelhante do nível de emprego industrial. Foi uma novidade para o país a ocorrência de um desemprego em massa oriundo da Indústria de Transformação. Nos anos de 1981 e 1982, o desemprego transformou-se em uma nova realidade para o país. Nesse contexto eu me inseri, pois em 1981 conclui o meu curso de engenharia Mecânica. Mesmo com todos os problemas da época, Deus me permitiu ter um espaço no mercado de trabalho.

Uma das coisas que aprendi ao longo da vida, é que devemos aproveitar as oportunidades que nos são oferecidas. Como dizia um velho amigo, quando alguém se dispõe a abrir uma porta, precisamos passar logo por ela, todavia é importante lembrar que as portas do mundo nem sempre são verdadeiras. Há muita propaganda enganosa por aí.

A nossa vida é um constante abrir e fechar de portas. Tantas vezes elas se fecham na nossa frente e nos sentimos cegos, nos falta o chão, perdemos a referência. Existem ainda portas que precisam ser fechadas e outras que estão esperando para serem abertas. Algumas, no entanto, conduzem aos vícios, prostituição, criminalidade e morte. Algumas portas precisam ser reconstruídas.

Os dicionários atribuem à palavra "porta" diversos significados, sendo o mais evocado aquele que se refere à estrutura espacial móvel. Entretanto, em todas as definições, assim como em várias expressões em que a palavra "porta" é utilizada, seja qual for o campo de aplicação ao qual ela se refira, percebe-se que existe um núcleo comum de significação que permanece e que é imutável.

Estamos continuamente atravessando ou abrindo portas, sejam elas materiais como a porta de entrada de nossa casa, armários, carros e etc., ou, sejam elas imateriais. Nem sempre a porta que abrimos tem o que procuramos e por isso devemos continuar batendo em outras portas até encontrar. Depois de uma porta sempre há outras portas.

Na Bíblia, a palavra “porta” é citada mais de 300 vezes e representa segurança e proteção. O próprio Jesus Cristo diz que Ele é a porta que dá acesso ao Pai.

A palavra “porta”, na língua grega é “yura – thura”, cujo significado é: “uma entrada”, “lugar de passagem”, “abertura de acesso”.

A palavra que define o primeiro mês do ano (Janeiro) vem do latim: Ianua. Traduzido para o português significa ‘porta’. Atravessamos a porta do primeiro dia do ano para trilharmos mais de 50 semanas ao longo do ano que chegou. Ao longo do ano, teremos de abrir muitas outras portas, ninguém escapa disso!

Há pessoas que têm o dom de abrir portas. A forma empática, alegre, com um transparente espírito de servir faz com que essas pessoas nunca encontrem portas fechadas e quando as encontram elas se abrem para elas como por milagre. Em compensação há pessoas que fecham portas. A forma egoísta, desconfiada, interesseira, dissimulada e invejosa com que agem, faz com que às portas se fechem diante delas e quando, por acaso, encontram alguma porta aberta, logo elas se fecham. Em todos os lugares há pessoas que abrem portas e, infelizmente, pessoas que fecham portas.

A passagem por uma porta consiste sempre em uma mudança, seja de ambiente, seja de nível, de domínio ou de vida. Já dizia Heráclito de Efeso “A única constante é a mudança”. Todos temos bem presente como de um dia para a noite sentimos a nossa vida virada do avesso. Com maior ou menor intensidade, isso significa que, de tempos em tempos, as coisas mudam.  Albert Einstein já dizia: “No meio da dificuldade é que se encontra a oportunidade!”.

É tempo de crise, de desemprego, de muita incerteza no ar e de angústias, onde boa parte das pessoas só enxerga as portas se fecharem. E isso gera um ciclo vicioso de desânimo. É como levantar todos os dias para “matar um leão” e encontrar as portas cerradas. Nesse momento que devemos lembrar de um dito popular que costuma ser reproduzido com algumas variações. Para alguns, a frase original é: “Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela”. Para outros, é: “Quando o mundo fecha uma porta, Deus abre outra”. Uma terceira versão ensina: “Quando o mundo fecha as portas e as janelas, Deus derruba as paredes”.

Muitas vezes não paramos para pensar se as portas que se abrem ou as que se fecham em nossa vida são realmente vontade de Deus. Enfrentamos situações difíceis, de longas esperas e ficamos tristes, decepcionados e, logo, vem o sentimento de derrota, porque não conseguimos aquele emprego, aquele namorado, enfim, aquela “bênção” que tanto esperávamos. E muitas vezes, a nossa reação é de achar que Deus se esqueceu da gente ou acreditar que é mais uma artimanha do inimigo, para nos roubar a bênção e até o propósito de Deus.

Não é porque uma porta se fecha que não existem mais saídas. A primeira coisa que se deve fazer é não perder as esperanças, deve-se ter fé em Deus. A porta se fechou, mas Deus vai abrir uma janela para iluminar a sua vida.

Quando uma porta se fecha, pode ser que uma etapa da sua vida tenha chegado ao fim. Pode ser um emprego, uma carreira, um relacionamento, um estilo de vida, e por aí vai. É sinal de que o que você poderia aprender ali já foi aprendido. É a vida dizendo a você que é preciso abrir outras portas, pois a sua felicidade já não está mais naquele corredor em que você estava. É um chamado para sair do comodismo.

Pergunte para um rio se ele se incomoda de ter uma pedra colocada em seu fluxo. Ele diz, “não, vou fluir em volta da pedra.” “Ah, e se eu colocar um monte de pedras?”. Ele diz, “sem problemas! Vou fluir por cima delas!”. Então, quando as portas se fecharem, deixe de lado o desespero, a raiva e a tristeza. Pergunte-se: “que sou eu mesmo, lá no fundo? Do que realmente eu preciso?”.

Só quem já atravessou uma porta de um quarto de hospital, deparando-se com um enfermo em estado terminal, pode realmente saber agradecer o dom da vida e da saúde. Só quem já atravessou a porta de uma cadeia, olhando nos olhos de um presidiário condenado pode realmente compreender como é maravilhoso viver a liberdade como consequência das próprias escolhas. Só quem já entrou num casebre muito pobre, sem sofá ou cama, apenas colchão estendido no chão de terra pode realmente valorizar as coisas que já foi capaz de adquirir com o salário sofrido. Todos nós precisamos atravessar portas.

Sair e deixar a porta aberta é uma frase da área de gestão profissional, que significa, mostrar gratidão pela sua antiga empresa ao ponto que não haja empecilhos para um possível retorno. Como é bom ouvir: "As portas estão abertas para você", não é mesmo?

Recentemente recebi um texto denominado “Quando a casa dos avós se fecha” (autor desconhecido) do qual  retirei alguns trechos que traduz bem o fechamento de determinadas portas em nossas vidas: “Acho que um dos momentos mais tristes das nossas vidas é quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre, ou seja, quando essa porta se fecha, encerramos os encontros com todos os membros da família que, em ocasiões especiais, quando se reúnem, exaltam os sobrenomes como se fossem uma família real e eles (os avós) são culpados e cúmplices de tudo.

Quando fechamos a casa dos avós também terminamos as tardes felizes com tios, primos, netos, sobrinhos, pais, irmãos e até recém-casados que se apaixonam pelo ambiente que ali se respira. Não precisa nem sair de casa, estar na casa dos avós é o que toda família precisa para ser feliz.

Fechar a casa dos avós é dizer adeus às canções com a avó e aos conselhos do avô, ao dinheiro que te dão secretamente dos teus pais como se fosse uma ilegalidade, chorar de rir por qualquer bobagem, ou chorar a dor daqueles que partiram cedo demais.

Aproveite bem a casa dos avós, aproveite cada segundo. Pois chegará um tempo em que, na solidão de suas paredes e recantos, se fechar os olhos e se concentrar, você poderá ouvir talvez o eco de um sorriso ou de um grito, preso no tempo”.

Entendamos que além de não existir um caminho ideal, nenhuma porta tem a chave da felicidade eterna ou da solução de todos os nossos problemas. É a própria viagem que nos dá as respostas, e as alegrias vêm e vão. A única coisa que precisamos é ser mais receptivos e, antes de tudo, corajosos para cruzar os caminhos desconhecidos maravilhosos que estão aí para serem descobertos por nós.

É importante lembrar que a mais importante porta, porém, é a do nosso coração. E essa porta tem a fechadura do lado de dentro. Só nós podemos abri-la. Infelizmente, várias vezes Nosso Senhor Jesus Cristo, bate à porta do nosso coração trazendo a oportunidade de felicidade verdadeira, através da vivência da fé e obediência à Sagrada Escritura, mas nós não queremos abrir. Essa situação é tão bem descrita na música “A chave do Coração”: Qual é a chave? Qual é o segredo? Que abre às portas do teu coração... Deixa Jesus te consolar. Deixa Jesus te abençoar. Deixa Jesus te dar a tua salvação.

Lembrando as palavras de Jesus relatada no Evangelho de Mateus (7:13-14):  " “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”.

Tem uma frase da Advanced Coach Karla Corrêa que diz: “Se uma porta se fecha aqui. Outras portas se abrem ali. Assim é a vida! Deus nunca nos deixa sem saída! Há de ter sempre uma porta aberta...E com a fé e a direção de Deus a encontramos”.

Na verdade podemos afirmar que a vida está cheia de oportunidades, só precisamos saber colher as nossas.

Bem, como a música está presente em muitos momentos de nossa vida e eu não consigo imaginar a música sem que ela esteja associada a alguns dos acontecimentos mais importantes de nossas vidas, concluímos lembrando e plagiando um trecho da música Porta Aberta, que diz: “Pela porta aberta, de um coração descuidado. Entrou um amor na hora certa, que já deveria ter entrado. Chegou, tomou conta da casa. Fez o que bem quis e não saiu. Bateu a porta do meu coração. Pra me fazer feliz”.

25/05/2024

Cegueira ideológica

De tempos em tempos, algumas palavras ou frases aparecem com maior frequência na mídia, ou até mesmo, em palestras e comunicações sociais, como por exemplo, a palavra “resiliência”, que tem sido utilizada para descrever o comportamento humano. A resiliência demonstra a capacidade que cada pessoa tem de lidar com seus próprios problemas, de sobreviver e ainda superar os momentos difíceis, sem ceder à pressão dos pessimistas ou dos que acham que quanto pior, melhor (para eles). Podemos até dizer que a resiliência do povo brasileiro é surpreendente. Nosso país tinha tudo para dar errado, afinal foi colonizado como colônia de exploração, foi refúgio da família imperial portuguesa, e é sinônimo de escândalos desde então. Mas de tudo isso, surgiu um povo arrojado, criativo e que tem algo muito importante na essência humana, a resiliência. A pena é que um povo tão lindo, tão verdadeiro e tão esperançoso, é tão mal representado nas esferas do poder.

Assim como resiliência, no Brasil, em decorrência da conturbada política brasileira, regida por políticos corruptos e descomprometidos com o povo, as citações a expressão “Estado Democrático de Direito”, passou a ser falado e debatido por vários segmentos da sociedade.

O Estado Democrático de direito é definido juridicamente pelo respeito aos direitos humanos fundamentais. É um Estado no qual os direitos individuais, coletivos, sociais e políticos são garantidos através do direito constitucional. Quando o Estado de direito democrático sofre ameaças, existe um grande risco de ruptura da democracia. As democracias podem ser subvertidas por dentro, pela atuação de líderes e atores, com tendências autoritárias ou populistas, que acabam por sufocar a liberdade.

Agora, temos também uma dobradinha que sempre está na boca de muitos brasileiros. Me refiro as palavras Direita e Esquerda.

A origem dos termos “esquerda” e “direita”, como um posicionamento político-ideológico, surgiu durante as Assembleias Constituintes francesas do século XVIII. Havia grupos organizados, os girondinos e os jacobinos. Os termos "direita" e "esquerda" referiam-se ao lugar onde políticos se sentavam no parlamento francês. Os girondinos que faziam parte de camadas mais ricas da sociedade, eram moderados e conciliadores. Sentavam-se à direita do orador, ou seja, do presidente que conduzia a assembleia. À esquerda sentavam-se os simpatizantes da revolução, os jacobinos. Eram adeptos ao revolucionismo e buscavam mudanças (especialmente a queda dos privilégios da nobreza e do clero) e mais igualdade.

Debatia-se sobre a revolução, sobre uma nova Constituição, destronar o rei, acabar com a monarquia e resolver a crise em que a França se encontrava. Os girondinos à direita não queriam uma mudança drástica, eram favoráveis ao rei e queriam conservar as coisas com prudência. Mas os jacobinos queriam uma revolução radical, mudar totalmente a forma como a sociedade se organizava, esperando melhorar tudo por meio de seus ideais realizados.

Foi em 1789 que o jornalista e revolucionário Camille Desmoulins, usou pela primeira vez os termos "direita" e "esquerda" para descrever o posicionamento político e ideológico, daqueles que participavam da Assembleia. Vale ressaltar que a Revolução Francesa foi um processo conduzido pela burguesia. Mulheres e pessoas pobres não participavam dos debates da época e as questões que dividiram os participantes, entre direita ou esquerda, não são as mesmas que hoje dividem essas visões políticas.

Atualmente, nos Estados Unidos, os termos "de esquerda" e "de direita", muitas vezes, têm sido usados como sinônimos para o "democrata" e "republicano" ou como sinônimos do Liberalismo social e conservadorismo, respectivamente. O Partido Republicano pode ser denominado de um partido de “direita”. Já o Partido Democrata possui um viés associado à tradição da “esquerda democrática”, que se diferencia da esquerda revolucionária, isto é, defende políticas sociais assistencialistas, a intervenção estatal na economia, leva em conta bandeiras de movimentos sociais, como a dos negros afro-americanos, dos gays, dos imigrantes latinos etc.

Na política brasileira tradicional, direita e esquerda têm tido noções difíceis de captar. A questão é simples: nunca foi habitual prestar atenção ao quadrante ocupado por políticos. O que notamos é que a conceituação de esquerda e direita é usada pelos grupos que atuam para se auto definir e enquadrar seus adversários políticos dentro de um espectro. Assim, vemos esquerda e direita, usados como conceitos fluidos com conteúdo vazio, mas ainda com força histórica atuante.

O fato é que não existe um consenso quanto a uma definição comum e única de esquerda e direita. Existem “várias esquerdas e direitas”. Isso porque esses conceitos são associados a uma ampla variedade de pensamentos políticos.

Atualmente, o espectro político que é um sistema para caracterizar e classificar diferentes posições políticas, também conhecido como régua ideológica, podem ir de extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, direita até extrema-direita.

Convenhamos que quando paramos para definir quem é de direita ou esquerda no Brasil ficamos bastante confusos. Por conta das alianças, algumas vezes pouca diferença encontra-se entre Direita e Esquerda eleitoral. Com relação aos eleitores, temos realmente um segmento da população que podem ser considerados eleitores de “carteirinha’ de candidatos de “direita”. Da mesma forma que temos eleitores de “carteirinha” de candidatos de esquerda. E uma parte da população que não se enquadra nem de “direita” e nem de “esquerda”.

Quando observamos os discursos dos políticos de ideologia de direita, em geral, fica claro que acreditam em um melhor funcionamento da sociedade quando o governo é limitado.  O Estado deve restringir-se às necessidades mais absolutas das pessoas. Busca favorecer a liberdade de mercado, defender os direitos individuais e os poderes sociais intermediários contra a intervenção do Estado e coloca o patriotismo e os valores religiosos e culturais tradicionais acima das propostas de reforma da sociedade. Enquanto os discursos dos políticos de ideologia de esquerda, defendem o controle estatal da economia e a interferência ativa do governo em todos os setores da vida social, é a solução para existir igualdade entre os cidadãos, além de ser responsável por proporcionar educação, saúde, trabalho, moradia e outros direitos básicos aos cidadãos. Defendem, principalmente, as classes sociais menos favorecidas na sociedade, ou seja, aquelas que necessitam de mais atenção e serviços públicos. O ideal igualitário está acima das questões de ordem moral, cultural, patriótica e religiosa.

A partir deste cenário, o termo “esquerda” passou a simbolizar o ideal de luta pelos direitos populares e pelos trabalhadores e a “direita” virou sinônimo de conservadorismo e elitismo. Essa divisão no Brasil, se fortaleceu no período da Ditadura Militar, onde quem apoiou o golpe dos militares era considerado da direita, e quem era contrário, de esquerda.

Independente de ideologia política, muitas vezes o termo esquerda também é usado para se referir a um grupo partidário que se opõe ao partido político no poder. Assim, muitas vezes, direita pode ser o nome dado para grupos partidários que apoiam o grupo político no governo.

Muito antes de Cazuza, o filósofo francês Conde de Tracy apresentou o conceito de ideologia. Seu objetivo era desenvolver uma ciência para compreender como ocorre a formação das ideias na cabeça das pessoas. Essa ciência seria chamada de ideologia.  Muitas outras figuras atribuíram significado à palavra. Mas, basicamente, a ideologia pode ser resumida como a maneira em que um conjunto de pessoas pensam. E, mesmo sem parar para refletir sobre isso, os grupos sociais carregam, em sua formação, algum tipo de ideologia. Como ideologia é uma forma de pensar, ser de direita ou de esquerda está ligado a forma como a pessoa pensa a sociedade.

As palavras, enquanto conceitos que identificam ideologias e práticas políticas, também possuem conteúdo histórico e expressam significados diferentes com a evolução do tempo.

Infelizmente, mais grave do que a cegueira biológica é a cegueira ideológica. Uma impede o homem de ver, a outra o impede de pensar.

Parece que hoje vivemos a síndrome de Emaús conforme narrado no Evangelho de Lucas (24.13–16).  Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho da aldeia de Emaús que ficava a uns 11 quilómetros de distância de Jerusalém. E comentavam entre si tudo o que acontecera após a morte de Jesus. De repente Jesus apareceu e juntou-se a eles, caminhando ao seu lado. Mas os seus olhos estavam impossibilitados de o reconhecer. Aqueles discípulos tinham como maior expectativa Israel ser libertada da subjugação romana. Esse anseio guiava-os e muitos outros que olhavam Jesus como o grande libertador político. Na verdade essa era a ideologia que os movia.

A ideologia cega, mata e faz enxergar imaginários, muito longe do que é real. Da mesma forma, hoje em dia, Jesus é de direita, de esquerda, conservador, revolucionário, tudo o que as ideias façam brotar e as ideologias tentam encaixar nas cabeças e corações tardios para entender quem é Jesus.

Modelos de intolerância política e ideológica permeiam todas as civilizações, em todos os meridianos e paralelos. A cegueira ideológica tem provocado convulsões aqui e por este imenso mundo de Deus.

Tanto o radicalismo de esquerda como o de direita são responsáveis por destruir as bases da sociedade (bases que Aristóteles identificava, tanto na família como na pólis, com o conceito de phylia, uma força unificadora das relações sociais baseada num sentimento próximo ao da amizade). Se alguém quer ser de esquerda ou de direita, que seja, é um direito básico de cidadania, porém precisam compartilhar as mesmas ideias de excelência. Após a disputa eleitoral, vencedores e derrotados devem enviar sinais da amizade e não de inimizade. Como dizia John Kennedy: “É muito mais fácil ficar com o conforto da opinião do que com o desconforto da reflexão”.

A cegueira ideológica é uma praga que não para de crescer. Funciona segundo a lógica de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Mesmo que ele seja um canalha.

A longevidade tem algumas vantagens. Uma delas é o aprendizado sobre tolerância. Por exemplo, respeitar as individualidades, as crenças particulares e as peculiaridades (tão distintas) desse animal complexo e estranho que é o homem. Incluindo neste pacote a consciência política. Sem elas, a convivência ideológica seria uma missão impossível.

Antigamente, a maioria dos ideólogos acreditavam no que defendiam, sem interesses, outros além da fidelidade as suas crenças. Hoje, a imensa maioria joga um jogo decepcionante. Parecem terem feito pacto irremediável com a imoralidade. Não importa o que (nem quem) defendam, porque, no final das contas, estão defendendo seus próprios interesses. Vale mitificar deuses enlameados. Vale beatificar criminosos. Vale beijar as vestes imundas da corrupção. Vale misturar o fanatismo religioso e a polarização política. Vale criar Mitos. Vale Criar Salvadores da Pátria e Caçadores de Marajás.

O que leva esses “ideólogos”, a maioria supostamente possuidores de embasamento moral e intelectual, abraçarem personagens políticas comprovadamente envolvidas em tudo quanto é desmando descortinado nos bastidores do poder público? Um boa reflexão.

Bem, a ideologia política é cega como o amor é cego. A pessoa apaixonada está bioquimicamente focada no objeto de sua paixão. O apaixonado, não só não olha para outra pessoa, como não percebe se tem alguém olhando para ele. Com o fim da paixão, a pessoa percebe que o que ela imaginava não era real e acaba olhando para o lado. A paixão deixa a pessoa tão obcecada quanto uma droga. Ela fica num estado de torpor, de encantamento. Por isso não consegue ver nada à sua volta.

O escritor, jornalista e romancista Nelson Rodrigues, nos deixou a seguinte famosa frase: “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”. Nelson Rodrigues tem razão porque, de fato, quando há unanimidade ninguém precisa pensar, mas há unanimidades e unanimidades. Bem, se todos concordarem que toda unanimidade é burra ela será de fato burra, mas não podemos deixar de reconhecer a existência da unanimidade inteligente. O que nos falta é unanimidade na tomada de algumas posições, defesa de certas ideias ou valores que nos levarão a agir ou repensar nossas condutas.

Como disse o escritor jornalista Vicente Serejo em um dos seus artigos: “O fenômeno “vesgos” nasce de polarização que divide brasileiros e impede a visão correta do Brasil; os que apoiam candidato “A” (seja de direita ou esquerda) não enxergam erros do seu candidato e os que apoiam o candidato “B” (seja de direita ou esquerda) olham em seu candidato o exemplo da virtude. O efeito imediato é a vesguice, um verdadeiro vício “vesgueiro”, que acaba por fomentar uma visão política brasileira atual completamente distorcida, cheia de intolerância e sem limites, jogada num fosso profundo”.

Concluímos parafraseando trechos da música “Tocando a frente” de Almir Sater: “Ser resiliente é andar devagar porque já se teve pressa, carregando um sorriso, porque já se chorou demais, sem esquecer que cada um de nós traz em si a capacidade e o dom de ser feliz!”.

S.M.J (Salvo melhor Juízo)

24/08/2023

Somos protagonista do Filme de nossas vidas

Em algum momento de nossa vida devemos ter escutado alguém associar a ideia de cultura à erudição ou intelectualidade. Afirmar que alguém “não tem cultura”, geralmente, é o mesmo que dizer que a pessoa é ignorante ou não possui conhecimentos que são considerados de maior refino. Esse é um engano que todos nós já cometemos algum dia.

A cultura, é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Uma cultura não pode existir fora de uma sociedade, da mesma maneira, uma sociedade não pode existir sem cultura.

Todos os indivíduos, todos os seres humanos tem cultura, no entanto, cada cultura é diferente da outra, mesmo povos ditos incivilizados tem cultura, pois a cultura não baseia-se somente na linguagem escrita, e, como é herança social é transmitida de geração em geração. Cultura compreende uma série de elementos, como costumes, crenças religiosas, vestimenta, língua, objetos, rituais etc.

Dos quatro pilares nos quais alicerça a cultura humana – Arte, Mística, Filosofia e Ciência, a Arte é, muito provavelmente, a mais antiga a ser regularmente praticada pela Humanidade.

Na Grécia Antiga, surgiu a divisão entre as artes superiores, criadas para serem apreciadas com os olhos e os ouvidos, e as menores relacionadas com o tato. E dessas, seis vêm das que conhecemos hoje como Belas Artes:  Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Literatura e Dança. O Cinema foi considerado como a sétima arte apenas no século XX, por Ricciotto Canudo, teórico e crítico de cinema, que queria distanciar a ideia de que o cinema era um espetáculo de massa, aproximando-o e integrando-o às Belas Artes. Para ele, o cinema é a arte síntese, que concilia todas as outras. Hoje, é um dos mais populares meios de expressão artística no mundo.

O cinema tem papel importante para a transformação da sociedade, pois através dele é possível chamar a atenção para diversas questões e realidades. Os filmes geram impacto nas pessoas, além de emoções e sentimentos. É possível, por meio deles, retratar, demonstrar, e até vivenciar diversas situações e problemas, que possuem relevância para o mundo.

Assistir um filme, é fazer uma grande viagem pelo imenso mundo do imaginário humano. Nas personagens apresentadas nos projetamos e nos sentimos como os heróis ou vilões, dependendo somente de quem você quer ser.

Dentro desse contexto, tenho certeza que todos nós, claro que existem exceções, devemos ter assistido um filme, seja no cinema, televisão ou em alguma plataforma de streaming, que de alguma forma marcou a nossa vida, ou pelo menos consideramos inesquecível. No meu caso esse filme se chama “Papillon”. Assisti esse filme em 1974 (cento e cinquenta minutos de projeção). Filme intenso do começo ao fim, não há momento para desatinar da cadeira.  “Papillon” conta a história real do ladrão de jóias. Interpretado por Henry Charrière (Steve McQueen), apelidado de "Papillon" por causa da tatuagem de borboleta em seu peito, é injustamente condenado pelo assassinato de um cafetão. Em 1933, é condenado à prisão perpétua na temível colónia penal da Guiana Francesa (Île du Diable). Enclausurados e agrilhoados em celas minúsculas, escuras e sobrelotadas como cães miseráveis à mercê da morte, Henry, não se deixa vergar pelo infortúnio do seu fado, imiscuindo-se, desde logo, na venda de um arriscado plano de fuga ao abastado falsificador de dinheiro, Louis Dega (Dustin Hoffman) que há muito tempo perdeu todas às esperanças de ser libertado. É famosa a cena em que Papillon come baratas para sobreviver.  Depois de 11 anos nesse “inferno”, de um alto penhasco, Papillon observa uma pequena enseada,  onde descobre que as ondas são fortes o suficiente para carregar um homem para o mar e para o continente próximo. Papillon pede a Dega para se juntar a ele em outra fuga, e os homens fazem dois flutuadores com cocos ensacados. Enquanto eles estão no lado do penhasco, Dega decide não escapar e implora a Papillon que não o faça. Papillon abraça Dega uma última vez e depois salta do penhasco. Agarrando seu flutuador, ele é levado com sucesso para o mar.

O filme, mostra de maneira crua a crueldade que é vivida nesse lugar, e toda a desumanização, que acaba se tornando um trunfo para o protagonista após anos na solitária. Aflorar o sentimento de que é o instinto de sobrevivência e a vontade de ser livre, que são cativantes. O Papillon não perde a esperança de se ver livre. Um homem que não se deixou vencer. O filme, tem seu pico quando ressalta toda gana humana em busca da liberdade.

Papillon é “borboleta” em francês, e bem simboliza esse homem, real, que por várias vezes tenta sair do casulo que o meteram injustamente, para alçar vôo de volta à França. Sim ela mesma, a mãe da liberdade. De lagarta à borboleta é praticamente uma ressurreição!

Em 2018 tivemos um remake de “Papillon”. Não conseguiu no Brasil alcançar o reconhecimento que teve o primeiro, e isso talvez se deva à época em que foi lançado (no Brasil, o original chegou em 1974, em plena ditadura militar, e fez sucesso devido ao tema abordado).

A arte, por vezes se confunde com a vida, o que nos leva a questão sobre quem imita quem. Seria a arte inspirada pelo nosso cotidiano, ou seria a vida baseada nas influências da arte? Se a arte for um retrato da vida, vivemos então como prisioneiros? Se a vida é reflexo da arte, somos condenados a fugir das cordas impostas pelos autores? E se formos nós esses autores?

Quem algum dia não pensou que a própria vida poderia tornar-se um bom filme? Que “happy end” podemos imaginar para o filme da nossa vida?

Bem, para fazermos um filme de nossa vida precisamos escrever o roteiro. Que tal iniciarmos escrevendo o Livro de nossa vida?

O livro da vida somos nós mesmo que escrevemos dia após dia. As pessoas à nossa volta partilham continuamente às páginas e capítulos do nosso livro. 

O poeta chileno Pablo Neruda certa vez afirmou: “Escrever é fácil. Você começa com letra maiúscula, termina com ponto final e no meio coloca as ideias”. Quem dera, colocar as ideias no papel fosse algo tão simples como parece na citação acima! Porém, o grande desafio da arte da escrita está justamente no recheio.

Em algum momento da vida acumulamos uma mala cheia de histórias que poderiam facilmente ser transformadas em livro.

Nossa história vai sendo escrita durante nossa vida, as decisões que tomamos e tudo o que realizamos vão completando as páginas que estão em branco, todo dia escrevemos uma parte dessa história e somos nós que decidimos que tipo de história de nossa vida vamos contar nesse livro.

Alguns já têm muita coisa para contar aos 25, 30, 40 anos. Outros, consideram-se experientes apenas aos 70. O tempo, não passa da mesma forma para todo mundo, afinal, vivemos vidas diferentes e sentimos de formas únicas. E é justamente isso que torna cada história interessante.

Quando criança, por exemplo, não temos tantas memórias nítidas, então talvez seja preciso reconstruir algo.

Quando voltamos no tempo conseguimos identificar momentos felizes, outras vezes conseguimos identificar relacionamentos imaturos, estresse com discussões familiares ou mesmo ficamos olhando mais para fora, para o outro, do que para nós mesmos.

Todos sabemos o que vivemos e pelo menos os fatos que para nós foram mais importantes ou intensos estão em nossa memória, mas quando paramos para olhar mais de perto e tiramos um tempo, para avaliar os capítulos da nossa própria história, podemos criar um desfecho melhor e mais positivo, desconstruindo e reinterpretando uma cena aqui e ali, alterando o resultado dos capítulos seguintes.

Em certos momentos vivemos numa Comédia, depois passamos por um drama, há quem viva até mesmo um terror, mas em toda boa história tem seus momentos românticos, alegres, e de muita esperança, por isso, nos cabe apenas viver intensamente e deixar que o autor maior Deus, defina quais serão os próximos capítulos.

Devemos sempre ter em mente que o livro que escrevemos não pode ser reescrito, os acontecimentos passados não podem ser mudados. Por isso, não podemos nunca esquecer que plantamos hoje o que vamos colher no futuro, a vida é uma sucessão de consequências de nossas ações, não é como uma lavoura que no plantio já sabemos quando será a colheita, a colheita da vida pode ser imediata ou demorar longos anos, mas é preciso que seja cultivada, assim como as plantas, que precisam de cuidados, devemos cuidar de nossa vida com sabedoria. O futuro ainda não sabemos o enredo, mas sabemos quais são nossos objetivos e devemos lutar para que se realizem.

Deus nos dá uma nova chance todos os dias de escrever a nossa própria história. Cabe a nós, escolhermos o que vamos escrever hoje, e por isso temos que construir cada detalhe com total convicção de que estamos fazendo o nosso melhor, pois amanhã não terá como voltar atrás e fazer diferente. E o que foi escrito por nós hoje, borracha nenhuma será capaz apagar no amanhã.

Porém, chega uma hora em que Deus nos tira o lápis e escreve ''FIM''. Por esse motivo, devemos aproveitar bem hoje, pois cada momento é único, o passado não voltará e o futuro pode não chegar. Não devemos desperdiçar tempo com mágoas, ódios, rancor e brigas. Assim como nos filmes, também temos um tempo limite, assim como os heróis e heroínas dos filmes. Afinal é por isso que gostamos e torcemos por eles.

Será que após escrevermos o livro de nossa vida e transformá-lo em um filme, vamos ter coragem de assistir ou até mesmo projetá-lo para nossos familiares e amigos? Bem, apenas para fazermos uma reflexão.

Porém, não podemos esquecer que o maior leitor da história de nossa Vida é Deus. Ele lê as linhas, mas também conhece as entrelinhas da história da nossa vida. 

“Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta” (Chico Xavier).

19/03/2023

“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”

De todos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, acredito que a fé e o perdão (principalmente por assassinato de entes queridos), devam ser os mais difíceis de se praticar. Todavia, possivelmente para todos nós humanos, o perdão não é uma tarefa fácil. Nesse momento, me veio na memória uma frase de um amigo no dia do assassinato do seu filho: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Apenas substitui o termo chulo. O ditado popular quer dizer que o sofrimento alheio não dói na gente, que é fácil falar quando o problema é com outra pessoa.

No caso específico de ter “Fé”, entendo que todos tenhamos, nem que seja do tamanho de um grão de mostarda. Sobre esse aspecto, compartilho com o que o escritor potiguar Antônio Barnabé Filho, escreveu no seu livro “Buscai o Espírito Santo”: “Nossa fé pode ser comparada à construção de uma torre de concreto: começa o alicerce e, aos poucos e lentamente, vão crescendo tijolo a tijolo. A diferença é que na construção da fé parece que venta muito ou falta matéria-prima”.

Não podemos esquecer que ter fé é crer firmemente em algo, sem ter em mãos nenhuma evidência de que seja verdadeiro ou real o objeto da crença.  É a energia que alimenta todas as crenças e religiões do planeta, desde os primórdios da humanidade. Jesus, em seus ensinamentos, teóricos e práticos, demonstrou integralmente a importância da fé, e o seu potencial inquestionável.

Os próprios apóstolos, seguidores de Jesus, sofriam com a falta de fé. Lembrando do Evangelho de Mateus (8, 23-26): “E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram; E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo. E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! que perecemos. E ele disse-lhes: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma grande bonança”.

Não temos como não exaltar a grandeza da fé do povo do sertão nordestino. Seja na abundância da chuva ou na escassez da seca, o sertanejo não muda sua fé. A fé, por estas bandas, resiste a muito mais do que pequenas provações diárias: Resiste à fome, à sede, à tristeza de ver o rebanho morto. Mas, provavelmente, boa parte do Brasil tem ao menos uma gota do sangue nordestino. Sangue devoto.

Quanto ao perdão, repito, não é tarefa fácil e nunca foi. Por isso começamos escrever sobre o perdão lembrando que nós erramos o tempo inteiro, mas não aceitamos que errem conosco. Na verdade, fazemos dos erros dos outros uma justificativa para os nossos próprios.

Desde pequeno, temos vivido sistematicamente sob o princípio de que é preciso ser perfeito e nunca falhar, porque quem falha merece ser punido, repreendido e condenado, mas isso é exatamente o que não queremos para nós mesmos.

Já ouvi inúmeras histórias, de como fulano ou sicrano não perdoariam a ação dos outros. Mas sempre me pergunto, será que há algo que é inerentemente imperdoável? Em muitas circunstâncias, aquilo que tem um peso muito grande para você, pode ser pequeno para o outro e, às vezes, até insignificante. Traição, morte, dor, dor, injustiça, incompetência, falta de ética, perda de dinheiro, mentira, crueldade? Todo mundo tem uma lista negra. Muitas pessoas assumem claramente as suas dores e mágoas, abraçam seus ressentimentos e terminam reiterando sua incapacidade de oferecer perdão aos seus algozes. Tem pessoas que cultivam mágoas como alguém cultiva um jardim. “Não tenho como perdoar o que ele me fez”; “Ninguém nunca passou pelo o que eu passei”; “Eu quero perdoar, mas não consigo”; “Ele foi muito cruel comigo, então, tem que pagar por isso”; “Passe o tempo que passar, eu nunca vou me esquecer do que aconteceu”. Um verdadeiro círculo vicioso: relembrar a mágoa, ressentir a dor e voltar ao desejo de vingança.

Relembramos do atentado que São João Paulo II sofreu em 13 de maio de 1981, e poucos dias depois mostrou ao mundo a força do perdão. Quatro dias após o atentado, João Paulo II, por meio de uma gravação feita no leito do hospital, com voz fraca, disse: “Rezo pelo irmão que me atirou, a quem eu sinceramente perdoei. Unidos a Cristo, Sacerdote e Vítima, eu ofereço meus sofrimentos pela Igreja e pelo mundo”. Em 27 de dezembro de 1983, o Papa João Paulo II, foi até a prisão Rebíbia de Roma, entrou na cela de seu agressor, o jovem Mehmet Ali Agca, e o abraçou.

Não podemos esquecer das famílias judias que foram capazes de perdoar seus algozes nazistas, Historias iguais a essa se multiplicam pelo mundo afora e inadvertidamente nos levam a pensar que, de fato, oferecer perdão é um ato sobre-humano. É preciso ser uma espécie de super-humano para conseguir perdoar de verdade. E que perdão tem a ver com bondade ou superioridade. E que essas pessoas devem ser muito elevadas espiritualmente para não mais desejarem vingança ou justiça por tudo o que lhes aconteceu.

Todavia, perdoar não tem a ver como ser (ou não) bondoso; com ser (ou não) superior. Perdoar é, na realidade, uma questão de inteligência. No entanto, não como medida de proteção contra as pessoas e acontecimentos que foram “culpados” por seu sofrimento, mas por oferecer a você uma possibilidade única de conquistar uma vida mais leve, plena, saudável, feliz e bem-sucedida – pessoal e profissional.

Perdoar, diferentemente do que pode parecer à primeira vista, não é esquecer, mas deixar de se importar, mudar o foco dos seus pensamentos e ações. O perdão faz parte de um processo que, muitas vezes, é doloroso, mas extremamente necessário para a nossa libertação. É como mexer em uma ferida. Resistimos em mexer nela, em abrir e passar o remédio necessário. Mas é dessa forma que ela irá cicatrizar a não doer mais. Expor o ferimento da alma e tratá-lo, não é um ato confortável, mas crucial para que possamos alcançar a cura.

Quando perdoamos alguém, nós nos tornamos livres do passado e de mágoas que nos fazem mal. A falta de perdão desperta sentimentos pecaminosos em nosso coração contra quem fez algo contra nós. Quando perdoamos, somos livres destes pensamentos maus. Com a mente liberta, fica mais fácil nos aproximarmos de Deus e fica mais fácil também nos aproximarmos das pessoas

Estudos já demonstraram que, cada vez que nos recordamos dos acontecimentos que elegemos como imperdoáveis, nosso organismo reage quimicamente a essa lembrança como na primeira vez, aumentando a pressão arterial e os níveis de estresse. Em longo prazo, esse processo pode estar associado ao surgimento de doenças cardiovasculares, além de diabetes e câncer.

De acordo com pesquisadores da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, as pessoas tendem a se sentir menos hostis, irritadas e chateadas quando param de se vingar e perdoam, o que melhora a qualidade do sono, a tensão, a raiva, a fadiga e a depressão.

É importante separar o joio do trigo. Por exemplo. Esposas que sofrem algum tipo de violência doméstica. Qualquer mulher nessa situação deve recolher imediatamente às medidas legais para garantir que não mais seja vitimada por seu parceiro. No entanto, se possível, ela deve fazê-lo não por raiva ou vingança, mas porque foi efetivamente lesada e lesionada, e tem, em seu favor, uma legislação toda concebida para protegê-la.

As vítimas de violência doméstica também podem (se assim quiserem) perdoar seus parceiros a partir da compaixão, mas que isso não significa, necessariamente, retomar a relação. O que o perdão faz é nos dar a capacidade de deixar o passado para trás. Quando perdoamos, recuperamos nosso bem-estar, nossa autoestima, nosso amor próprio e nossa satisfação pessoal independentemente de fatos e pessoas. Passamos a viver uma vida mais leve, feliz e satisfeita, mesmo com e apesar de tudo o que nos aconteceu. E, principalmente, encontramos uma paz interior duradoura e indescritível.

O perdão é uma ação que requer prática constante. Ele não acontece como num passe de mágica. É preciso praticá-lo todos os dias. Ninguém acorda um belo dia e dirá: “Agora perdoei”. Trata-se de um caminho, uma escolha que só você pode tomar para se libertar do passado e construir um presente e um futuro plenos de amor e compaixão.

Perdoar não significa esquecer ou mesmo acolher de volta aqueles que o magoaram. Significa apenas seguir em frente, sem ressentir ou se vingar pela sua dor. A dor ficou no passado e, no presente positivo que você escolheu construir, não há mais espaço para que ela ecoe!

O perdão é importante para a vida espiritual porque envolve o amor. Quem não perdoa, atrofia a sua capacidade de amar. O perdão é uma das coisas mais libertadoras que alguém pode fazer. A falta de perdão é como uma pedra amarrada na perna de alguém, que a arrasta para o fundo do mar.

Segundo o Evangelho Mateus (18:21-22), Pedro, aproximando-se, de Jesus perguntou-lhe: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.

Concluímos, reforçando que o perdão necessariamente não nos fará esquecer o que passou (não! o perdão não é Alzheimer!); apenas nos permitirá relembrar aquela história sem ressenti-la, ou seja, sem senti-la novamente.

Acredito que tudo que acontece em nossa vida sempre merece uma reflexão. Que esse artigo nos permita uma reflexão sobre o perdão e que possa ajudar a espalhar dentro de nós mesmos e entre nossos amigos, familiares, vizinhos e todos os seres humanos na Terra, o PERDÃO.

O bom humor é como o sal

Em 1950, nosso rei do baião, Luiz Gonzaga, gravou a música “A dança da moda”, composta em parceria com o pernambucano Zé Dantas. Na primeira estrofe da música temos: “No Rio tá tudo mudado, nas noites de São João, em vez de polca e rancheira, o povo só dança e só pede o baião”. Fico imaginando como seria essa composição se fosse escrita nos dias atuais. Nem polca, rancheira, xaxado, xote e nem baião, atualmente as festas juninas, foram invadidas por músicas sertanejas e outros estilos músicas. Infelizmente mudanças desse tipo tem ocorrido, com muita intensidade, em vários segmentos de nossa sociedade. Por exemplo, até os programas humorísticos ou melhor dizendo, as formas de se trazer humor para as pessoas tiveram uma mudança radical. Estamos falando dos vídeos compartilhados, tanto pela rede TikTok ou Kwai, que permite a criação rápida de vídeos divertidos e facilitar o compartilhamento com outras plataformas como WhatsApp e Instagram.

Mas, quando se trata de humor, temos que lembrar que o humor está presente na civilização desde às sociedades mais primitivas. Ele é uma capacidade que o ser humano tem de olhar a realidade e ressignificá-la, tornando-a algo engraçado e conferindo-lhe olhar crítico. O humor é uma das formas mais universais de comunicação.

O tempo, provoca profundas transformações na sociedade. Alteram-se os hábitos, visões, valores e até mesmo as formas de governo. O humor acompanha essas mudanças. Ele é produzido historicamente, cada momento possui sua linguagem humorística. Piadas de sucesso, antigamente, dificilmente teriam o mesmo impacto hoje.

Se voltarmos no tempo, na Idade média, as cortes europeias, contratavam os bobos da corte, para divertir os reis e seu séquito. Como um palhaço, era considerado cômico e muitas vezes desagradável, por apontar de forma grotesca os vícios e as características da sociedade. Além de fazer a corte rir, ele também declamava poesias, dançava, tocava algum instrumento e era o cerimonialista das festas. Os bobos da corte não eram nada bobos. Eles possuíam várias habilidades. Alguns bobos, inclusive, sentavam-se à mesa de banquetes com o Rei e seus convidados, e tinham a liberdade de falar coisas aos monarcas que os demais membros da corte não ousariam.

Palhaços, figura popular conhecida por trazer diversão e muitas gargalhadas para seu público. Esse personagem, há muito tempo faz parte da infância das pessoas e até hoje marca presença na vida das crianças. Entretanto, a origem deles, costuma ser confundida com a história do circo. Por isso, não se sabe ao certo quando esse personagem surgiu. Talvez dos próprios bobos da corte, que também usavam máscaras divertidas e diferentes, roupas largas e sapatos engraçados.

Na década de 80, começaram a surgir grupos de palhaços que visitam hospitais e outras instituições de saúde, a fim de modificar o ambiente clínico. Hoje em dia, palhaços hospitalares, palhaços sociais, doutores palhaços ou senhores palhaços são profissionais já reconhecidos e diferenciados. No Brasil existem centenas de iniciativas. Aqui faço uma homenagem a três palhaços brasileiros que fizeram alegria do povo brasileiro: Benjamin de Oliveira (primeiro palhaço negro do Brasil), Arrelia e Carequinha.

Neste momento, um filme passa em minha mente. Um filme real, pois me faz lembrar do meu pai, quando no início da década de 60, levou eu e minha irmã para assistirmos no cinema, que ficava no Bairro de Jaguaribe em João Pessoa, um filme de Jerry Lewis, chamado “O Professor Aloprado”. Conhecido como "Rei da Comédia", ele é um dos maiores comediantes de todos os tempos. Tornou-se famoso por suas comédias estilo pastelão feita nos palcos, filmes, programas de rádio, de televisão e em suas músicas. Boas lembranças!

Nessa época, também fazia sucesso os atores Moe, Larry e Curley, grupo cômico norte-americano, conhecidos no Brasil como Os Três Patetas. Seus filmes estiveram em atividade de 1922 a 1970 com seus curtas e longa metragens. Suas comédias, caracterizavam-se pela farsa e pastelão.

Também tive, na minha infância e adolescência, alegria de assistir e consequentemente rir, com vários humoristas desse pais, tais como: Mazzaropi, Costinha, Golias, Dercy Gonçalves, Agildo Ribeiro, Grande Otelo, Roni Rios (interpretava a velha surda da Praça é Nossa), e não temos com não lembrar do quarteto dos Trapalhões (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias).

Nessa grande família de humoristas que surgiram no Brasil e fizeram seu nome na história desse pais, quero destacar Chico Anísio e Jô Soares. Não é exagero falar que Chico Anysio foi um dos maiores humoristas da história do Brasil, se não o maior. O comediante, com toda sua versatilidade, deu vida a diversos papeis e em programas distintos. Arrancou gargalhadas de gerações de brasileiros pobres, remediados e ricos, intelectuais e analfabetos. Sua postura crítica não conhecia limites. Na galeria de tipos cômicos criados por ele, é possível detectar vergonhas nacionais como o coronelismo, o populismo, o analfabetismo. Quem não se lembra do Pantaleão (“É mentira, Terta?”), do deputado Justo Veríssimo (“Quero que pobre se exploda!”), o pai de santo Painho (“Affe! Eu tô morta!), Bozó (“E-eu trabalho na Globo, tá legal?”), Bento Carneiro (vampiro brasileiro), o malandro Azambuja, o boleiro atrapalhado Coalhada, o funcionário público Nazareno, o Baiano, e sem esquecer do Professor Raimundo (“E o salário, ó...”).

Assim como Chico Anísio não temos como não lembrar e exaltar o nosso inesquecível Jô Soares. As novas gerações podem não lembrar, mas Jô Soares foi um dos expoentes da comédia brasileira. Detentor de um talento nato e versátil. Tudo ele acabava levando para o lado do humor, da alegria.

Na televisão, explorou os mais diversos caminhos e deu vida a mais de 200 personagens. As figuras apresentadas no programa Viva o gordo! como Capitão Gay, um super-herói gay que fazia críticas veladas à ditadura, Zé da Galera, torcedor fanático da seleção brasileira, ligava para Tele Santana pedindo alterações nas escalações do time e convocação de outros jogadores, Reizinho, um monarca sempre com problemas no reino, se destacaram nos anos 1980. Um frase do Jô ficou marcada nos últimos dias no hospital, antes de sua morte: "viver não é problemático, difícil é fazer humor".

Com certeza você já ouviu o ditado “rir é o melhor remédio para todos os males”. Se tem algum fundamento científico não posso afirmar mas uma função importante do humor é facilitar as relações sociais, sendo o primeiro passo para a aproximação das pessoas e o estabelecimento da confiança entre elas e dentro de um grupo. Por exemplo, o bom humor no trabalho é uma ferramenta para conectar pessoas, aliviar a tensão e incentivar um clima organizacional positivo. Ter um bom estado de ânimo é importante, principalmente, para quem desempenha cargo de liderança, pois ajuda a manter um ambiente descontraído, fortalecendo sua liderança perante sua equipe.

Alguns pensadores medievais julgavam o riso como demoníaco, sob o pretexto de que Jesus nunca havia rido, como forma de renúncia aos prazeres mundanos, porém para o filósofo grego Aristóteles, o riso seria “próprio do homem”, sinal da racionalidade humana, a necessária ligação do homem com os deuses através das ideias que elevam o espírito (teoria da felicidade). Assim, o riso é uma das poucas coisas que já vieram perfeitas no homem, em suma era (e é) a visão do criador, um presente que não deve ser maculado, pois contem em si, neste aspecto, como imagem e semelhança do Criador.

Na Inglaterra vitoriana, em meados do século XIX, as mulheres não riam. Elas escondiam a boca com o leque. A moça que ria em público era mal falada. Hoje, o sorriso feminino é usado como um instrumento de sedução.

O filósofo alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche, afirmou que o homem sofre tão profundamente que ele teve que inventar o riso. Nesse sentido, é um meio para tornar mais agradável, e gratificante, a existência humana.

Quem na vida cotidiana não gosta de escutar uma piada ou até mesmo contar? Quem nunca não escutou uma piada do Joãozinho (garotinho que faz perguntas ou comentários que provocam espanto em adultos) ou piadas sobre portugueses? Ou mesmo piadas consideradas de “tolerância zero” acerca de Seu Lunga? Personagem do interior do Ceará, famoso pela sua rispidez quando fazem perguntas estúpidas.

Todavia, saber contar piadas é um dom, uma arte que promove um contínuo exercício de memória. O mais chato dos chatos contadores de piada é aquele que, antes mesmo de começar a contá-la, já está rindo. As piadas não pertencem à cultura refinada, mas sim ao entretenimento e lazer de todas as classes.

Hoje não podemos mais brincar ou contar piadas com temas que brincávamos antigamente, e a gente precisa entender e se adequar a isso. Precisamos evoluir, por outro lado, o humor se democratizou bastante.

No século XII, Santo Tomás de Aquino já escrevia que "brincar é necessário para levar uma vida humana", defendendo que as piadas seriam importantes para repor as "forças do espírito".

O que seria da vida sem humor? O poder de uma boa gargalhada é inegável. Ela libera imediatamente hormônios que nos dão uma sensação de bem-estar. É daí que parte o clichê “rir é o melhor remédio”.

O humor é um dos principais sinalizadores das emoções humanas e naturalmente, é praticamente impossível estar sempre bem-humorado. Por mais que o indivíduo tente esconder seus conflitos internos, o humor sempre acaba transmitindo a verdade.

Rir faz a pressão sanguínea baixar, além de aumentar a quantidade de oxigênio no sangue, o que só faz bem ao coração. Como nessa hora de empolgação muito ar é inalado, os pulmões são ventilados e ficam mais limpos. Dar risada também ajuda a aumentar a quantidade de células protetoras no corpo. Assim, o risco de ficar doente é menor. Além disso, a endorfina produzida quando você está de bom humor faz sentir menos dor. Uma boa gargalhada movimenta os músculos do abdômen, do rosto, das pernas, das costas.

Há quem diga que o bom humor é como o sal: um pouco pode ser a medida certa. Um “muito” pode estragar tudo.

Quando nossos filhos eram menores, inclusive bebês, nós os ensinamos a rir fazendo carinhos, cócegas, massagens, etc. Pois nós somos os mesmos e eles também. Isso reforça a necessidade ou melhor, de lembrarmos que os filhos precisam de um ambiente no qual, habitualmente, está presente o bom humor. Quando isso não acontece, o lar mergulha pouco a pouco em um torpor parecido à tristeza, que nunca é produtiva nem diminui em nada os problemas.

Freud, o pai da psicanálise, define o humor como “o mais elevado grau de sofisticação do ser humano, a manifestação mais sofisticada do espírito humano”. Ele foi autor de dois grandes trabalhos sobre senso de humor, característica que atribuía a si mesmo. Nos trabalhos, falou sobre piadas, trocadilhos, sobre o cômico.

É preciso fazer um esforço para encarar a vida com mais leveza. Viver com leveza é praticamente um ideal de vida. Com tantos afazeres e perrengues na rotina, precisamos de momentos que aliviam a tensão e aumentam a descontração entre às pessoas. 

Então, devemos sempre lembrar e tomar como experiência a música “Emoções” de Roberto Carlos: “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.