27/05/2025

SOPRO DA VIDA

Em nosso querido Brasil, graças a nossa democracia, de dois em dois anos temos eleições que movimentam o país. Nos meses que antecedem as eleições, candidatos políticos intensificam suas aparições em público, na tentativa de conquistar os leitores ainda indecisos. Infelizmente, falar bem em público, persuadir e reter a atenção não são habilidades para todos políticos, tanto em campanha quanto depois de eleitos. Aristóteles, o famoso filósofo grego, identificou três modos de persuasão, que são os pilares da oratória: a credibilidade do orador (Ethos), ou seja, a imagem que ele transmite e está relacionado com a autoridade, honestidade e reputação do orador; a emoção despertada na plateia, ou seja, a capacidade de conectar-se emocionalmente com o público (Pathos) e a validade do argumento, ou seja, a lógica da mensagem apresentada (Logos).

O grande perigo dos candidatos e políticos são os improvisos e as entrevistas, não planejadas. Todavia alguns cometem erros em palavras pensadas e escritas em suas falas.

Esse ponto me fez lembrar de uma ex-presidente da república, que sempre se envolvia em polêmicas, durante seus discursos. Uma das grandes frases da presidenta que agitou as redes sociais ocorreu quando sugeriu, durante discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), a invenção de uma tecnologia para estocar vento, que beneficiaria o mundo inteiro. Suas palavras: “Até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso?”

A frase virou meme. Fotografias de um homem com um ventilador enchendo sacolas plásticas de vento foram compartilhadas na internet, assim como montagens com o rosto da presidenta em pacotes de salgadinhos “de ar” e em porções de pastel de vento. A brincadeira “viralizou”.

Na verdade, não se trata de guardar ou estocar o vento, mas armazenar a energia eólica, que é um tipo de energia cinética gerada a partir da força dos ventos (fluxo ou movimento do ar), que é convertida em eletricidade por meio de turbinas eólicas, também conhecidas como aerogeradores, que aciona as hélices e, por meio de um gerador, converte essa energia mecânica em energia elétrica. Relembrando a Lei da Conservação da Energia do químico Antoine-Laurent de Lavoisier, que diz: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

A energia elétrica pode ser facilmente gerada nos aerogeradores, transmitida e transformada. Porém, até agora não foi possível armazená-la de forma prática, fácil e barata.

Deixando a polêmica e gozações de lado, o “vento” sempre foi alvo de controversa de ódio e amor, mistério e assombro, a ponto de ser venerado por algumas sociedades antigas. Atualmente o armazenamento de energia eólica, assim como o armazenamento de energia solar é um assunto que está sendo levado a sério, por engenheiros e cientistas de todo o mundo.

A energia eólica, é conhecida pelo homem há mais de 3.000 anos. A história da energia eólica começa quando civilizações utilizavam a força dos ventos, por meio de cata-ventos, para moer grãos, bombear água e transportar mercadorias em barcos a vela. O início da adaptação dos cata-ventos para geração de energia elétrica teve início no final do século XIX.

Dos gregos ou fenícios aos vikings, todas as civilizações aperfeiçoaram sua própria frota para explorar o mundo graças a um aprendizado contínuo do vento como um recurso natural. Sua potência também tornou possível a movimentação de moinhos de vento, inicialmente para moer trigo e produzir alimentos.

O vento impulsionou a realização das grandes viagens de exploração da Era dos Descobrimentos e as grandes viagens marítimas pelos oceanos a partir do século XV.

O vento sempre esteve presente em nossas vidas e representou uma parte indiscutível da história da humanidade. Podemos afirmar que é um elemento essencial para o ciclo de vida dos animais, plantas e seres humanos.

Ele transporta as folhas das árvores e renova a vida no campo. Auxilia o crescimento das plantas, polinizando flores e transportando sementes para longe. Muitas plantas, como o epilóbio-eriçado, dependem da ação do vento para propagar as suas sementes.

O vento ajuda a distribuir nutrientes pelo solo, e a controlar a temperatura, mantendo um equilíbrio natural no ecossistema. É capaz de transportar ao longo de grandes distâncias a poeira dos grandes desertos e as sementes de várias plantas, o que é fundamental para a sobrevivência de algumas espécies e das populações de insetos. Muitos insetos e aves migratórias tiram partido do vento nas rotas de migração, o que lhes permite percorrer distâncias consideráveis de outras formas impossíveis. As aves tiram partido das condições do vento de modo a voar ou planar.

O vento é um elemento fundamental em vários desportos de competição ou atividades de lazer, como a vela, windsurf, kitesurf parapente, snowkite, asa-delta, balonismo ou o lançamento de papagaios de papel. Todavia, ventos de forte intensidade podem provocar estragos de natureza variável.

O vento influência a propagação de incêndios florestais. Durante o dia, a menor humidade, a maior temperatura e a maior velocidade do vento fazem com que a madeira arda a maior velocidade. O vento também pode limitar o crescimento das árvores. Em regiões costeiras e montanhas isoladas, a linha de árvores encontra-se muitas vezes a uma altitude muito inferior do que em sistemas montanhosos complexos, devido à maior exposição aos ventos fortes. Os ventos de altitude erodem o solo pouco espesso e causam estragos nos ramos e galhos das árvores. Quando associado a baixas temperaturas, o vento tem um impacto negativo no gado, afetando as reservas alimentares e as estratégias de caça e defesa dos animais.

Dentre os quatro elementos da natureza, o Ar, é talvez o elemento mais percebido, identificado e de maior contato diário do ser humano, através simplesmente da respiração.  O Ar simboliza o sopro da vida e está associado ao início de tudo, ao intelecto humano, aos processos mentais, a intenção e a capacidade criativa do homem.  Deus, ao criar Adão, o primeiro homem, após formar o seu corpo do pó do solo, soprou sobre ele um “sopro de vida”, surgindo assim o ser humano completo, corpo e alma (Gênesis 2:7).

O vento é um elemento presente em diversas passagens da Bíblia e possui diferentes significados simbólicos. Na Bíblia, o vento é frequentemente associado à ação de Deus e ao seu poder. Ele é mencionado em diversas passagens, como no livro de Gênesis, onde o Espírito de Deus pairava sobre as águas. No livro de Atos dos Apóstolos, revela que o Vento do Céu levou o Espírito Santo no Pentecostes. “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.” (Atos 2:1-4).

No Evangelho de Mateus (8,23-27), Jesus entrou na barca, e seus discípulos o acompanharam. E eis que houve uma grande tempestade no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, dormia. Os discípulos aproximaram-se e o acordaram, dizendo: 'Senhor, salva-nos, pois estamos perecendo! 'Jesus respondeu: 'Por que tendes tanto medo, homens fracos na fé?' Então, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. Os homens ficaram admirados e diziam: 'Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?'

O Espírito Santo de Deus, o Qual sempre foi simbolizado pelos antigos, como vento, (Hebraico: rúah = hálito de Deus, sopro, respiração; Grego: pneuma = soprar, respirar, espírito aéreo; vento).

Vento é uma boa palavra para descrever o poder do Espírito Santo. A mudança acontece quando os ventos sopram — e quando o Espírito Santo se move, Ele traz a mudança como o vento. Também é utilizado como uma metáfora para representar a ação do Espírito Santo na vida das pessoas, trazendo renovação, transformação e direção.

Embora o vento na Bíblia simbolize muitas vezes o poder e o Espírito de Deus, também pode ter conotações negativas. A noção de um "vento mau" na Bíblia é um exemplo disso. Estes ventos adversos representam muitas vezes o julgamento, o desastre e a consequência do pecado.

Não devemos deixar que o vento da negatividade nos afaste da rota de atingirmos os nossos objetivos.

Se o vento é o ar em movimento, podemos dizer que o Espírito Santo é Deus em movimento, Deus que não para de trabalhar, como nos falam as Sagradas Escrituras: “Meu Pai trabalha sempre e Eu também trabalho” (João 5,17).

O nosso Deus é invisível aos nossos olhos, mas está sempre presente e podemos sentir a sua presença na nossa vida como uma brisa suave.

O vento é um agente da natureza misterioso. Não podemos prendê-lo, tampouco podemos definir o seu curso e a sua ação, e ao mesmo tempo em que sopra forte, destruindo o que não está firme, também surge como uma brisa suave, que refresca e traz serenidade.

Concluo lembrando de uma melodia do consagrado pianista Alcyr Pires Vermelho que recebeu letra de Gilvan Chaves e Fernando Luiz da Câmara Cascudo, filho do renomado folclorista potiguar, que tem o título Prece ao Vento: “Vento que balança as palhas do coqueiro. Vento que encrespa as ondas do mar. Vento que assanha os cabelos da morena. Me traz notícia de lá. Vento que assovia no telhado. Chamando para a lua espiar, oh. Vento que na beira lá da praia. Escutava o meu amor a cantar”.

Ah! Como seríamos cristãos diferentes se permitíssemos que o “Vento” de Deus soprasse a todo instante as “velas do nosso barco”, para que fosse, de fato, o condutor de nossas ações!

15 respostas para “SOPRO DA VIDA”

  1. Marcilio Coutinho de Luna Freire Neto disse:

    Lembrei-me do filme clássico “E o vento levou”!

  2. Padua Saldanha disse:

    Muitas informações trazidas em um único sopro. Que bons ventos soprem em nossas direções.

  3. Wilson de Castro França disse:

    Trouxe-nos a Inspiração: Sigamos com as velas da Fé reagindo ao Sopro Divino. Lindo texto!

  4. Maria Elisa Alencar. disse:

    Lendo seu texto ,ontem senti a ausência do vento nas narinas ,não conseguia respirar direito . Pressão 20/10. Corrida para o hospital,controlar a respiração era a única coisa que eu queria. É desesperador a falta do ar .
    A importância do ar ,do vento que circula pelo mundo é tão útil ,até na destruição ele é necessário. Nessas horas o ser humano reconhece que há um Deus capaz ,que só ele, baixa a bola de muitos .

  5. Maria Elisa Alencar. disse:

    Belo texto. Amei ler.

  6. Botelho disse:

    Gostei do sopro da vida lembrando também, que a vida é um sopro

  7. WASHINGTON SOARES DE ALMEIDA disse:

    Parabéns Viana por mais um belo texto. Estava lendo o mesmo ao ar livre onde estava apreciando a leitura e junto com os ventos do mar. Uma dupla muito boa para momentos que necessitam de tranquilidade. Chegou na hora certa . Obrigado . Abraços.

  8. Vera Lucia Araújo de oliveira disse:

    Vi essa frase de Luciano Reis, que dizia: ” O vento que sopra lá fora é a energia de Deus que se manifesta desta forma tão simples e,ao mesmo tempo tão grandiosa.” Que essas vibrações dessa energia eólica, tragam para nosso planeta um equilíbrio sustentável. Um texto muito bem escrito. Parabéns meu compadre.

  9. Adailton Torquato Cordeiro disse:

    Parabéns Viana, por mais um belo trabalho. E, dessa vez me deliciando desse texto deitado na minha rede soprada pelos ventos da janela da minha morada. Abraços meus irmão!

  10. JOÃO WILSON DE LUNA FREIRE disse:

    Zé!
    Boa noite!
    Parabéns pelo brilhante texto!
    Uma excelente aula.
    Aquele abraço!
    Saudações Tricolores!!!
    🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬

  11. JOÃO WILSON DE LUNA FREIRE disse:

    Zé!
    Boa noite!
    Parabéns pelo belíssimo texto!
    Uma excelente aula!
    Aquele abraço!
    Saudações Tricolores!!!
    🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬

  12. Ze Martins disse:

    Mais um trabalho muito bom, digno de sua capacidade literata, agradável e pedagógica narrativa.

  13. Marcus Soares disse:

    Viana, esta sua crônica nos chega como um sopro de esperança nestes tempos tão estranhos que vivemos atualmente.
    Parabéns pelo belo texto! Que os bons ventos o espalhem.

  14. Paulo Sérgio e Silva disse:

    Caro Viana, esse texto é inspirador, gostei muito por nos levar a reflexão dos ventos que nos rodeiam. Quantas tempestades e calmarias nós seres humanos teremos que sentir para aprender a viver. Muito bom! Parabéns, meu amigo!!

  15. Antonio Carlos Ribeiro Junior disse:

    É possível estocar vento, sim!

    Durante muito tempo, acreditou-se que o vento, por ser um fenômeno atmosférico de fluxo contínuo, não poderia ser armazenado. No entanto, avanços recentes em aerodinâmica reversa e contenção de fluxo laminar têm desafiado esse paradigma.

    Pesquisadores da Universidade Internacional de Dinâmica Atmosférica (UIDA), em parceria com o Instituto Europeu de Fluxo e Contenção (IEFC), desenvolveram um sistema inovador chamado Câmara de Compressão Eólica Modular (CCEM). Essa tecnologia consiste em um conjunto de esferas de contenção com membranas sensíveis à pressão que permitem a captura e o confinamento de massas de ar em movimento.

    🔬 Como funciona?

    Ao ser direcionado por turbinas eólicas adaptadas, o vento entra em uma câmara onde sua energia cinética é parcialmente absorvida e o restante do fluxo é armazenado em bolsas flexíveis herméticas feitas de grafeno expandido — material 200 vezes mais resistente que o aço.

    💨 Aplicações reais:

    – Estabilização de microclimas em ambientes controlados.
    – Liberação gradual de vento para simulações atmosféricas.
    – Experimentos em voos de drones em condições realistas.
    – Suporte à agricultura vertical, controlando circulação de ar interno.

    🌍 Essa inovação abre caminho para novas formas de aproveitar um recurso natural que, até pouco tempo, acreditava-se ser impossível de capturar.

    😄 Brincadeira!

    Na verdade, não dá para estocar vento. O que se armazena é a energia gerada pelo vento, como bem explicado no excelente artigo acima. Mas admite: por alguns segundos você acreditou que o mundo já tinha inventado um “pote de vento”, né?

    No mais, quero parabenizar um amigo, José Viana, por mais um conteúdo riquíssimo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *