Observar é bronze, falar é prata e calar é ouro

Ninguém tem dúvida que a linguagem humana é um dos meios mais importantes para a comunicação. Para fazer seu papel, ela utiliza um conjunto finito de elementos, como gestos, sons e palavras. Porém, um meio ambíguo, já que pode construir ou destruir. Um estudo recente, afirma que a complexidade da nossa linguagem não demorou milhares de anos para ser atingida, como afirmam algumas correntes de estudos na área. Os humanos passaram a falar como hoje de forma muito rápida, combinando dois sistemas de comunicação pré-existentes na natureza, encontrados nos pássaros e nos macacos.
Se formos bem específico a linguagem verbal, que consiste no uso de palavras escritas ou faladas, podemos dizer que elas têm um grande poder, sendo capazes de motivar, levantar, emocionar, aproximar, decepcionar, magoar, afastar e derrubar. As palavras são capazes de expressar vontades e emoções.
Quando usadas de forma correta, geram reflexões e opiniões, que podem ser de grande valia para quem as ouve. Ao contrário, quando não se mede o impacto que a palavra pode ter, elas podem ser responsáveis por grandes decepções, frustrações e agressões.
A Bíblia, nos dá alguns enfoques a respeito da questão do "falar", isto é, da linguagem verbal que sai de nossa boca. Na verdade boca e lábios são sempre figuras bíblicas para a fala. Não poderíamos então deixar de começar a discorrer sobre o assunto mencionando algo importante dito por Jesus: "Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto sim, contamina o homem" (Mateus 15. 11). O livro de Provérbios por inúmeras vezes adverte a respeito do perigo de nossas bocas e lábios. Na verdade o ensino é simples: o homem que guarda a sua boca controla a sua fala; “aquele que guarda as suas palavras salva a si mesmo, enquanto que aquele que fala sem discernimento destrói a si mesmo” (Provérbios capítulo 13:3).
Quase sempre que estou lendo a Bíblia, Palavra de Deus, gosto de reler a Epístola de Tiago, principalmente o capítulo 3, versículo 1-5, onde ele diz: "Meus irmãos, não se façam todos de mestres. Vocês bem sabem que seremos julgados com maior severidade, pois todos nós estamos sujeitos a muitos erros.
Aquele que não comete falta no falar é homem perfeito, capaz de pôr freio ao corpo todo. Quando colocamos freio na boca dos cavalos para que nos obedeçam, nós dirigimos todo o corpo deles. Vejam também os navios: são tão grandes e empurrados por fortes ventos! Entretanto, por um pequenino leme são conduzidos para onde o piloto quer levá-los. A mesma coisa acontece com a língua: é um pequeno, membro e, no entanto, se gaba de grandes coisas”.
Tiago usa dois exemplos interessantes: Freio na boca: um pequeno instrumento para controlar o animal e conduzi-lo todo, não só a boca. Leme do navio: comparando ao navio ele é muito pequeno, mas uma vez que o capitão direciona o leme, todo o navio vai para o lugar desejado. Se controlarmos a nossa língua, toda a nossa vida vai estar sob controle.
A carta de Tiago é pouco conhecida dos cristãos de hoje. Paulo afirma que a
justificação vem pela fé, e não pelas obras. Tiago diz que a fé sem as obras é cadáver. Em geral é relegada a segundo plano, como se fosse um retrocesso em relação aos escritos de Paulo.
Lutero e a tradição bíblica protestante em geral rejeitam essa carta. Numa frase infeliz, Martinho Lutero no prefácio à tradução do Novo Testamento, em 1522, chamou a carta de Tiago de “carta de palha”, porque não servia para ilustrar sua exaltação da fé e da graça contra as obras da Lei, que supostamente mereceriam a salvação. Na segunda edição, Lutero retirou este comentário.

Os católicos a veem com suspeita, e só se lembram que nela se encontram os textos mais fortes contra os ricos. Na verdade, na minha opinião, a carta é um verdadeiro tesouro da tradição cristã primitiva, e os cristãos de hoje têm muito a aprender com ela, principalmente com as situações que ela espelha.
Conta-se que certa vez um mercador grego, rico, ofereceu um banquete com comidas especiais. Chamou seu escravo e ordenou-lhe que fosse ao mercado comprar a melhor iguaria. O escravo retornou com belo prato. O mercador removeu o pano e assustado disse: -Língua ?!! Este é o prato mais delicioso? O escravo, sem levantar a cabeça, respondeu: - A língua é o prato mais delicioso, sim senhor. É com a língua que pedimos água… …dizemos "mamãe", fazemos amigos, perdoamos. Com a língua reunimos pessoas, dizemos "meu Deus", oramos, cantamos, dizemos "eu te amo"…
O mercador, não muito convencido, quis testar a sabedoria de seu escravo, e o mandou de volta ao mercado, desta vez para trazer o pior alimento. O escravo voltou com um lindo prato, coberto por fino tecido. O mercador, ansioso, retirou o pano para conhecer o pior alimento. - Língua, outra vez?!!, disse, espantado. - Sim, língua, respondeu o escravo. É com a língua que condenamos, separamos, provocamos intrigas e ciúmes, blasfemamos. É com ela que expulsamos, isolamos, enganamos nosso irmão, xingamos pai e mãe…
Não há nada pior que a língua; não há nada melhor que a língua. Depende do modo que a usamos.
Na maioria das vezes não medimos o impacto que uma palavra pode ter. Às vezes não conseguimos controlar o que falamos, mas tem horas que parece que a nossa boca funciona sozinha, sem a ajuda do nosso cérebro.

Quando estamos nervosos, falamos sem pensar. Às vezes, pensamos rápido e queremos ser engraçada, daí acabamos sendo sarcásticos. “Era só brincadeira.” Mas humilhar outros não tem graça.
Na verdade, nossas palavras possuem um poder maior do que conseguimos mensurar. Elas podem produzir vida ou morte! A palavra levanta ou derruba, emociona ou fere, traz felicidade ou decepção, aproxima ou afasta. Tem o poder de exprimir o amor, a alegria, o respeito, a admiração, a generosidade, mas também, da forma como é falada, pode carregar a inveja, o ódio, o ressentimento.
Quando falamos palavras que machucam, quem as ouve, jamais vai se esquecer de cada palavra dita por você, pode até lhe perdoar, mas ela vai lembrar de letra por letra dita por você.
É muito comum as pessoas se arrependeram de algo que falaram ou pior ainda, perceberem que não deveriam ter dito algo quando já era tarde demais. A palavra falada é como a flecha lançada, não tem volta
Quem se deixa guiar pelo sentimento também tem o péssimo hábito de falar sem pensar. Normalmente, a pessoa não tem a menor noção do que sai de sua boca (ou dos dedos, quando digita).
Nos tempo atuais, com a criação de aplicativos multiplataforma de mensagens instantâneas, como por exemplo “Whatsapp”, seja através de escrita ou vídeos que são enviados pelos usuários, aumentaram o risco de fofocas, acusações falsas, ou calúnias, denominados como fakenews. Infelizmente o que foi feito para melhorar as comunicações tem se tornado meio de intriga e discórdias entre amigos e familiares.
Outro ponto importante a se refletir, diz respeito a pessoas que a cada dez palavras dizem quase isso de palavrões, pornografia, obscenidade, etc. Isso demonstra que o coração está cheio de maldade, cheio de coisas de má reputação, cheio de comportamentos não aconselháveis aos nossos ouvidos, aos nossos corações. Não estamos com "puritanismo", mas tornam-se desconfortáveis para o nosso conviver conversas maliciosas, desrespeitosas, escarnecedoras, zombeteiras; que, via de regra, criam barreiras para um convívio diário.
Podemos afirmar que palavras de derrota são consideradas palavras torpe. A “palavra torpe” é muito mais do que palavrão ou palavras de baixo calão. Consideradas palavras de dúvida, palavras negativas, palavras maliciosas, palavras depreciativas.
É impressionante e lastimável quando escutamos palavras torpe de pessoas que ocupam cargos políticos ou culturais. Como por exemplo: "Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de bater." (Escritor Nelson Rodrigues). Temos ainda, uma declaração do ex-presidente João Batista Figueiredo: “Eu cheguei e as baianas já vieram me abraçando. Ficou um cheiro insuportável, cheguei no hotel tomei 3, 5, 7 banhos e aquele cheiro de preto não saía”.
Temos ainda falas do ex-presidente Bolsonaro, que podem ser consideradas torpe, como por exemplo: "Eu fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais”. Da mesma forma que a fala do Presidente Lula: “Cadê as mulheres do grelo duro do nosso partido”.
Dentro desse mesmo contexto, relembramos de uma das mais polêmicas declarações do cantor John Lenon no ano de 1966, disse: “O cristianismo vai acabar. Jesus era legal, mas suas disciplinas são muito simples. Hoje nós somos mais populares que Jesus Cristo”. Essa fala levou a um descontentamento enorme na Igreja Católica. Somente em 2010, o jornal oficial do Vaticano divulgou que a Igreja Católica perdoando os Beatles. John Lenon morreu em 1980 após receber 05 tiros de seu próprio fã.
Importante também refletir, acerca do que é falado pelos pais para seus filhos. Os pais devem sempre medir suas palavras diante dos seus filhos. Pensando melhor antes de dizê-las, principalmente em momentos de chateação, raiva, desgosto ou cansaço. Frases como: ‘Você é insuportável’; ‘Você é um chato’; ‘Só me dá desgosto’; ‘Você é um burro!’; ‘Você é um mentiroso’; ‘Não confio em você’, etc. Essas frases fazem com que as crianças se sintam inseguras e medrosas. As crianças sentem que não merecem a confiança dos seus pais e o pior, marcam sua autoestima ao longo da vida, incapacitando-as, inclusive, em algumas situações. Antes de dizer qualquer coisa aos seus filhos, mesmo se estiver num momento de raiva, cansaço ou de desgosto, o melhor é que respire fundo, conte até 10 ou 100.
O pensador romano Sêneca nos deixou essa bela sabedoria: "O que você vai dizer, antes de dizer à outra pessoa, diga a você mesmo.
Assim como esse ensinamento do pensador Sêneca, lembramos de alguns conselhos sábios para o bom uso das palavras: fale com prudência, reduza sua fala, fale somente o necessário, pondere e pense especificamente todas as vezes que você abrir sua boca, seja prudente e amoroso ao falar e discipline sua língua. Palavras que dizemos hoje são sementes que estão criando o nosso futuro.
Há momentos em que o silêncio é a maior expressão de sabedoria. Falar com o coração irado ou exasperado nunca fará bem a ninguém (nem ao que fala).
Erros podem ser perdoados, atitudes podem ser repensadas, mas algumas palavras nunca poderão ser esquecidas. Tentar apagar o que você falou é como apertar o tubo da pasta de dente e tentar colocar a pasta de volta. Não tem como! Diz um ditado que "falar é prata, calar é ouro". Complementando podemos dizer: "Observar é bronze, falar é prata e calar é ouro".
Concluímos, lembrando de dois Provérbios: “A língua calma é árvore de vida, mas a palavra perversa causa profunda tristeza.” (Provérbios 15:4). “Palavras impensadas são como os golpes de uma espada.” (Provérbios 12:18).

10 respostas para “Observar é bronze, falar é prata e calar é ouro”

  1. Beto Rabello disse:

    Zé, bom dia. Parabéns mais uma vez. Você discorreu maravilhosamente sobre boca e lábios. A palavra. Temos governante q necessitam ler seu texto. Abraços.

  2. Graça Torres disse:

    Talvez eu nunca tenha lido um texto tão verdadeiro. Parabéns Zeca . É como aquela velha história boca calada não entra mosca nem muito menos mosquito kkk.

  3. Adailton Torquato Cordeiro disse:

    Meu amigo Viana, você além de ser cauteloso em sua fala, tem cuidado, zelo e segurança quando escreve. Continue em busca da perfeição. Parabéns!

  4. WASHINGTON SOARES DE ALMEIDA disse:

    Bom dia, Viana !
    Parabéns por mais um maravilhoso texto . Pura verdade em tudo que passou para nós. Obrigado

  5. WASHINGTON SOARES DE ALMEIDA disse:

    Bom dia, Viana !
    Parabéns por mais um maravilhoso texto . Pura verdade em tudo que passou para nós. Obrigado

  6. Maria Elisa Alencar. disse:

    Mediante o texto ,que por sinal interessantíssimo.Digo:as palavras mais sábias que já ouvi ,é o calar.
    As opiniões se misturam nesse leriado.

  7. Francisco Ivan disse:

    Excelente texto Viana.
    Concordo plenamente com o ditado:
    Calar e ouro.Muita Sabedoria!!!
    Parabéns!!!

  8. JOÃO WILSON DE LUNA FREIRE disse:

    Boa noite Zé!
    Cara mais um texto maravilhoso, delicioso, ao discorrer sobre a palavra, você nos leva a uma reflexão sobre o peso que tem uma palavra mal colocada, trazendo vários exemplos do livro sagrado e de nomes renomados.
    Cada texto seu, é uma aula que me leva a um aprendizado.
    Parabéns Zé! Continue nesse rumo. Abraço!
    SAUDAÇÕES TRICOLORES!🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬

  9. NADJA DIAS FREIRE PINTO disse:

    Mais uma vez um texto de excelência.

  10. Junior Ribeiro disse:

    Belo, verdadeiro e super interessante seu texto. Parabéns!

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