06/12/2021

Tempo bom, não volta mais. Saudade… de outros tempos iguais!

1970, 1991, 2008 Analfabetismo, evasão, baixo nível. Fonte: Veja

De vez enquanto, numa roda de amigos, escuto alguém pronunciar as seguintes afirmações: "antigamente as coisas eram melhores", "as músicas tinham mais poesia", "as pessoas eram mais românticas", "a vida era mais fácil", "as pessoas se olhavam nos olhos", "brincávamos na rua, não havia essa violência de hoje em dia", "era melhor a educação escolar e a saúde pública", "eu era feliz e não sabia", etc.

Elas são expressões de nostalgia. Muitas pessoas fazem confusão entre nostalgia e saudade, mas segundo Carolina Falcão, professora de psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), não são sentimentos iguais. "Somos sujeitos atravessados por saudades, já que ao longo da vida vamos deixando experiências, pessoas e prazeres para trás". A diferença dos nostálgicos, ela diz, "é que além de sentirem saudade, entendem que o que tinham ou viviam no passado era melhor do que o que têm e vivem hoje".

O mais engraçado, é gente que talvez nem viveu esse passado, fica superestimando algo que nem sabe como realmente funcionava.

Por exemplo, em 2013 a Banda Paulo Mesquita & Os Brancos fizeram uma música com o título “Em Meu Tempo Era Melhor”. Nas duas primeiras estrofes ele escreveram: Os antigos me diziam "Em meu tempo era melhor". Atuais dizem "Hoje nada presta". Os jovens falam alto que seu tempo é melhor. Atuais dizem "Hoje é o que resta".

No final dos anos 60, o humorista Lilico (Olivio Henrique da Silva Fortes), estreou no programa "A Praça da Alegria", onde lançou seu personagem mais famoso: o homem do bumbo. Lilico entrava em cena cantando ‘Tempo bom, não volta mais, saudade de outros tempos iguais’. Por que será que nessa época da nossa história ela já dizia esse bordão?

A falta de informação de antigamente se transformou no excesso de informação e informações falsas que aparecem o tempo inteiro a nossa frente. Muitas pessoas, quando dizem 'antigamente' apenas se referem à sua infância e/ou juventude e não, de fato, ao passado longínquo.

Por que as pessoas sempre acham que as coisas antigas são sempre melhores que as coisas atuais? Talvez a solução para descobrir se realmente elas estão certas é colocar duas pessoas numa máquina para voltar ao passado, assim como ocorrido no filme "Túnel do Tempo". O ideal que uma das pessoas tenham nascido na década de 60 e outra na década de noventa.

Como essa máquina ainda não existe, vamos passear um pouco nas décadas de 50, 60, 70 e 80 para conhecer os fatos marcantes.

Os anos 50, década de 50 ou “Anos Dourados” ficou conhecido como a época das transições. É uma década de revoluções tecnológicas com evidentes implicações sociais, especialmente quando consideramos o ponto de vista comunicacional. O rádio cresceu no início dos anos 50, tendo ocorrido um aumento da publicidade. As populares radionovelas, por exemplo, tinham como complemento propagandas de produtos de limpeza e toalete.  Houve um aumento da tiragem dos jornais e revistas, e popularizaram-se as fotonovelas, lançadas no início da década. Em setembro de 1950, é inaugurada a TV Tupi, sendo este o primeiro canal de televisão da América Latina.

As mudanças que aconteceram na moda, música, fotografia, cultura, arquitetura e na arte em geral, influenciam até os dias atuais.

A moda dos anos 50 foi marcada pela sofisticação e luxo. As mulheres se mostravam cada vez mais femininas e delicadas, e por vezes excêntricas. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido. As saias e os vestidos alcançavam um comprimento abaixo do joelho e marcavam a cintura. O uso da luva também foi característico. O penteado era composto por um coque ou rabo de cavalo. Já os homens foram influenciados pelo estilo da moda colegial, inspirada no sportswear. Usavam calça, cintos e topetes bem definidos.

Com muito rock e um estilo dançante, Elvis Presley começa a fazer sucesso em 1956. O estilo musical brasileiro Bossa Nova começa a fazer sucesso. Os maiores representantes deste movimento foram: Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto. No final da década de 1950, é formada a banda de rock Beatles.

Houve um aumento da população urbana, sendo que 24% da população rural migraram para as cidades na década de 1950. Este processo ocorreu, devido ao aumento da intensificação das indústrias brasileiras.

Nos anos 1950 cerca de 50% dos brasileiros eram analfabetos, mesmo assim começou a ter um aumento em escala da escolarização, sendo que na década subsequente o número de analfabetismo cai para 39%.

Há violência tinha outra cara. Os jornais noticiavam, por exemplo, jovens que estavam tendo aulas sobre como assaltar turistas no Aeroporto Santos Dumont. Foram presos quando aprendiam a dizer “Hands up”, ou seja, mãos ao alto. Ou então, a prisão de uma quadrilha que dopava cavalos no Jockey para ganhar as apostas.

No fim dos anos 50, a revista “Cruzeiro”, importante publicação da época, estampava na capa a manchete: “O Rio enfrenta o crime noite e dia”. A reportagem dizia que se matava mais no Rio em um mês do que em Londres no ano todo. O tráfico de drogas ainda não era um desafio para a segurança pública. O tráfico era localizado. Havia pequenas bocas de fumo nas favelas, geralmente gerenciadas por senhoras, moradoras que atendiam ao consumidor típico. Na época era o chamado maconheiro e era geralmente o malandro, ou o artista, ou um marginal já nesse sentido que se dava ao bandido dos anos 60. Mas, mesmo em menor escala, a violência, na época, já era uma preocupação.

Consolidava-se a chamada sociedade urbano-industrial, sustentada por uma política desenvolvimentista que se aprofundaria ao longo da década.

Os anos 50 também trouxe mudanças no papel da mulher na sociedade, passando a desempenhar funções de esposa, mãe e dona de casa mais consciente e ativa. 

A década de 1960 pode ser dividida em duas etapas. A primeira, de 1960 a 1965, marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais, e no âmbito da política é evidente o idealismo e o entusiasmo no espírito de luta do povo. A segunda, de 1966 a 1968 (porque 1969 já apresenta o estado de espírito que definiria os anos 70), em um tom mais ácido, revela as experiências com drogas, a perda da inocência, a revolução sexual e os protestos juvenis contra a ameaça de endurecimento dos governos.

Na política, os anos 60 no Brasil não foram anos de orgulho. Foi uma época de revoluções, lutas, repressões e censura. No ano de 68 o Ato Constitucional Nº5 é decretado. Com este ato, considerado um dos mais repressivos da ditadura militar, juízes foram aposentados, o habeas corpus foi cancelado, manifestações políticas foram proibidas, a censura aumentou e a violência da polícia e do exército também.

Antes do regime militar, as forças militares serviam para proteger o Estado. O policiamento de rua era feito por corporações não militarizadas. Ela era utilizada em momentos específicos, como em manifestações e greves. As ações do cotidiano eram feitas por forças menores e civis. O governo do regime militar foi quem passou essa atividade de policiamento ostensivo à Força Pública. A partir daquele momento, os militares estavam responsáveis pela atividade de policiamento. O governo militar extinguiu a guarda civil, os membros foram incorporados à Força Pública e isso deu origem à PM.

Pra molecada que não sabe, o slogan ‘Brasil, ame-o ou deixe-o’ era usado pelos militares para justificar a repressão aos movimentos sociais contrários a ditadura.

Nesta época teve início uma grande revolução comportamental como a Segunda Onda do feminismo. O surgimento da pílula anticoncepcional, no início da década, foi responsável por um comportamento sexual feminino mais liberal. Surgem movimentos de comportamento como os hippies, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro [black power], do gay [gay power] e da liberação da mulher [women's lib]. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.

O Rock and Roll ganha crescente popularidade no mundo, associando-se ao final da década à rebeldia política.

A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre Cardin e o cabelo de franjão. O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking. As moças bem comportadas já começavam a abandonar as saias rodadas e atacavam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade. A minissaia, entretanto, é a principal marca da década de 60. Nas praias, um modelo muito usado nos anos 60 era o chamado "engana-mamãe", que de frente parecia um maiô, com uma espécie de tira no meio ligando as duas partes, e, por trás, um perfeito biquíni.

No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa. A palavra de ordem era "quero que vá tudo pro inferno".

Surge o Tropicalismo. Movimento cultural que misturava influências do pop, rock e cultura brasileira. As letras criticavam a ditadura e muitos dos representantes desse movimento foram presos e exilados.

Os anos de 1967-1968 tornam-se o auge dos festivais da canção, no Brasil, que eram uma forma alternativa de expressão político-ideológica da juventude, diante da repressão do regime militar. Em 1968, Geraldo Vandré lança a histórica música "Pra não dizer que não falei das flores", sendo logo depois censurada pelo AI-5.

No Brasil, a TV Tupi faz a primeira transmissão experimental a cores no dia 1 de maio de 1963. No entanto, quase ninguém pode ver a transmissão colorida. Não havia produção de aparelhos receptores de transmissão a cores, e a importação custava caro. Isso fez com que a implantação da TV a cores fosse adiada por cerca de uma década. Em 26 de abril de 1965 é inaugurada a Rede Globo de Televisão no Rio de Janeiro.

A década de 1970 foi marcada por um abalo das ideias dos ícones existentes nos anos 60, levando ao surgimento de diversas manifestações mais desregradas, como festivais de rock ao ar livre, pregando amor, drogas e vida alternativa. Os jovens eram embalados pelo lema sexo, drogas e Rock and Roll. Toda a sua busca por êxtase em métodos físicos e químicos eram incansáveis. Muitos cantores tiveram mortes prematuras devido ao excesso de drogas.

Foi neste período que o regime militar no Brasil atingiu seu auge popular, graças ao ‘milagre econômico’, coincidindo com o momento que aplicava censura em todos os meios de comunicação, torturava e exilava. Muitos jovens idealistas levaram a cabo sua luta política por meio do combate armado, na clandestinidade, para combater o regime militar.

Na Economia, as crises do petróleo foram os eventos econômicos que mais marcaram e desestabilizaram os países durante os anos 70. Triplicou o preço do barril de petróleo, elevando, o que provocou uma escassez de combustíveis no mercado mundial, inclusive levando os EUA a entrarem em recessão. O Brasil não passou impune pelas crises que se sucederam, pois queimara suas reservas oriundas do “milagre econômico”. O aumento dos preços dos combustíveis descontrolou o índice de inflação do País.

A década de 70 é também conhecida como a década da discoteca, devido ao surgimento da dance music. Surgia também o movimento punk com suas calças rasgadas, rebites, alfinetes, jaquetas de couro e cabelos com cortes e cores diferenciadas.

Uma das fortes heranças da moda dos Anos 70 foi a calça boca de sino (estampadas). Cabelos longos e barba longa fizeram parte do estilo da população da década de 1970.

Os biquínis começaram a ganhar popularidade entre os anos 60 e 70. E ele não parou por ai, com mais e mais avanços, a peça se tornou cada vez mais ousada.

Na esfera musical, deve-se destacar o surgimento uma nova geração, com Belchior, Gonzaguinha, Djavan e Ivan Lins, todos influenciados pelos festivais da década anterior.

Nos esportes destacamos o tricampeonato mundial do Brasil no Futebol (21 de junho de 1970) e a conquista do campeonato mundial de Formula 1 pelo piloto Emerson Fittipaldi.

Dentro da estrutura da família nos anos 70, a educação dada aos filhos seguia a estrutura que o Brasil teve desde sempre, o homem como centro. Os meninos eram educados para serem futuros chefes de família e as meninas para a serem donas de casa.

Quanto a saúde, os serviços de saúde no Brasil atendiam basicamente às necessidades dos grupos sociais de maior poder aquisitivo. As pessoas que não tinham carteira assinada não tinham acesso a consultas, exames, cirurgias. Mas, na verdade, as coisas eram um pouco mais complexas. Isso porque embora a classe média tivesse carteira assinada e pudesse usar a medicina previdenciária, ela pagava. “Era totalmente natural”, diz a pesquisadora Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “A classe média nunca foi atendida pelo setor público. Ela pagava consulta particular, pagava os procedimentos, que eram muito mais baratos. As pessoas pagavam parto, cirurgia”.

A situação da saúde no Brasil na década de 70 foi muito bem colocada pelo professor de filosofia Eurivaldo Tavares no seu livro “Subsídios para o Estudo de Problemas Brasileiros” em 1979: “Infelizmente temos que constatar o baixo nível sanitário de nossa população, em geral. Pelo elevado índice de doenças infecciosas parasíticas e pelo alarmante índice de mortalidade infantil.  A esses problemas, junta-se um enorme déficit de médicos, de enfermeiras e de leitos hospitalares, além do alto custo da medicina e produtos farmacêuticos”.

Os anos 80 foram uma época de muitas mudanças. Uma das décadas mais importantes do século XX. Foi palco de complexos acontecimentos tão acelerados em seus movimentos contínuos de violências, esvaziamentos, sentidos desconhecidos, que se for contada com rigor apresentará expressões velozes de um século em dez anos. Década de importantes movimentos na política e na sociedade. Tecnologias que hoje são tão naturais começavam a dar seus primeiros passos. Transição de um tempo lento para um tempo acelerado.

A moda nos anos 80 foi marcada pelos excessos. As misturas de estampas, a cintura alta, maquiagem carregada, bandanas, croppeds e a inesquecível pochete eram marcas registradas do estilo da época. Os cortes de cabelo mais comuns eram o blunt cut e pixie. Os cabelos com bastante volume e tamanhos variados eram moda entre os jovens.

Durante os anos 80 surgiram os biquínis, como o provocante enroladinho, o asa-delta e o de lacinho nas laterais, além do sutiã cortininha. E quando o biquíni já não podia ser menor, surgiu o imbatível fio-dental, ainda o preferido entre as mais jovens.

Diversos cantores e bandas nacionais fizeram sucesso nos anos 80, tais como: Ney Matogrosso, Blitz, Paralamas do Sucesso, Titãs, Roberto Carlos, RPM, Cazuza, Engenheiros do Havai, Biquine Cavadão, Ultraje a Rigor, Barão Vermelho, Leo Jaime, Legião Urbana, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil.

A população brasileira, se comparada à década de 1960, praticamente dobrou. Passou de cerca de 70 milhões para quase 120 milhões. Na educação, o número de analfabetos caiu de 43% da população em 1960 para 33,6% em 1980.

Entre os diversos ensinamentos da década de 1980 esteve presente o tema do endividamento familiar. Os salários eram corroídos pela inflação e pelos respectivos planos econômicos que, para conter os danos, eram severos com os trabalhadores.

A geração 80 cresceu e começou a se preocupar com o emprego, o consumo e o estudo. O primeiro, com mais centralidade do que os outros dois. Eu sou testemunha viva dessa falta de empregos. Foi justamente no início dos anos 80 que terminei meu curso universitário. Oportunidades de emprego era no Iraque para trabalhar em Campos de Petróleo ou fazer concurso para Petrobras, Banco do Brasil ou Caixa Econômica.

As escolas técnicas exerciam fascínio e produziam possibilidades reais sobre o futuro explicitamente incerto.

Ser adolescente nos anos 80 também não era tarefa fácil. As câmeras fotográficas não eram digitais. Você tirava a foto e esperava o filme acabar para revelar todas e saber se alguma ficou boa. Celular também ainda não existia. Só telefone. Pra piorar, a maioria das casas tinha só um telefone, de uso comum, ou seja, conversar com amigos e amigas, a família toda ouvia a conversa.

Nos anos 80, a internet ainda era discada, os programas simples e os fóruns e bate-papos online já eram moda. Já as contas poderiam ser uma surpresa. E ainda reclamam quando a internet cai hoje em dia.

Para ouvir o seu ídolo era preciso ter um toca-discos e comprar um vinil, ou apostar no acessório mais moderno de todos: um toca-fitas.

As comunicações era feitas através de cartas enviadas pelos correio e sem notificação de recebimento. Uma carta chegar ao destinatário e voltar com a resposta, passavam-se no mínimo uns 10 ou 15 dias. Pelo menos não tínhamos as fakenews.

As baladas de hoje eram os “assustados” de anos atrás, que aconteciam nas garagens de algum amigo. Para os que já podiam consumir bebida alcoólica, não podia faltar o velho Rum Montilla com Coca-Cola. Não havia convite impresso. Bastava dizer: “vai ter um assustado na casa de fulano. Bora?” E lá ia a turma toda, pouco importando se o dono da festa era conhecido ou não.

Os álbuns de figurinha foram uma febre dessa década, reunindo principalmente crianças e jovens com o objetivo de completar todas as figurinhas.

Os anos 1980 foram de despedidas das cadeiras na rua, portas abertas, puladas de muros, escritas no chão e muito convívio em diversos espaços do bairro. As ruas ainda eram o palco do verbo conviver, transitar, dialogar. Mas existia também a presença real de nomináveis fantasmas que reiteravam suas presenças para nos tirar das ruas.

Assim como nas ruas e nas casas, algo foi mudando na escola. Em meio à rigidez dos hinos, à uniformização dos corpos e dos saberes. Abriam-se as portas para a poesia, a prosa e o verso presentes no verbo.

A geração nascida entre as duas primeiras décadas de ditadura cresceu. Da infância à juventude nossa geração vivenciou mudanças substantivas sem conseguir ver os bastidores que compunham o palco da aparente ordem e progresso. A impressão que eu tenho, que essa geração sobreviveu a todo esse autoritarismo, mas não necessariamente nada aprendeu.

O envelhecer é um processo bastante desafiador porque envolve uma reconfiguração da vida diante de perdas que são contundentes e inerentes este momento do ciclo vital. Muitas vezes, esse passado fica idealizado como um tempo no qual existia muita felicidade. Numa oposição muito desleal com o presente que, certamente, impõe frustrações. Esse olhar distorcido atrapalha algumas pessoas de verem a época lembrada exatamente como ela era. Os aspectos bons são valorizados e os maus simplesmente desaparecem.

Acredito que nunca tenha havido épocas melhores ou piores do que a atual. Há pontos negativos e pontos positivos. Sempre há uma espécie de equilíbrio entre coisas boas e ruins. É apenas uma opinião pessoal de quem começou sua vida no fim da década de 50.

A grande maioria das coisas que dizem que eram melhores ou que hoje estão perdidas, na verdade só mudaram. Muita coisa evoluiu do que existia no passado, e outras são simplesmente diferentes. Muitos problemas novos surgiram, mas isso não quer dizer que sejam problemas maiores ou piores que os antigos.

A expectativa de vida hoje é bem mais longa do que foi na história, por causa da melhor alimentação, dos cuidados médicos, do progresso da Medicina e do saneamento básico. Quantas doenças hoje erradicadas mesmo nos países mais pobres e que, no passado, faziam milhares, até milhões de vítimas. Milhões de pessoas vivem graças ao surgimento de vacinas, antibióticos e práticas de higiene básica. Podemos considerar também, à maior oferta de alimentos, de atendimento médico (mesmo em condições que, hoje em dia, possamos considerar ruins) e a uma maior consciência em relação à própria saúde.

Durante muito tempo, as mães eram as grandes e principais responsáveis pela saúde e educação dos filhos. Por conta de uma relação cultural, não era conveniente que as mulheres participassem do mercado de trabalho, dessa forma, o tempo para se dedicarem à educação dos filhos era maior. Com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a educação das crianças passou a ser da responsabilidade de toda a família.

Antigamente, era difícil o acesso à educação por parte de famílias pobres. Essas famílias que dependiam do ensino público, esperavam em filas enormes para conseguir efetuar a matricula de seus filhos. Atualmente, sobram vagas para o ensino básico.

Imaginem quem habitava, por exemplo, no meio da Caatinga. Sendo trabalhador ou dono de terra, o acesso aos serviços ficava longe, tinha que mandar os filhos para estudar na capital. Se havia um problema de doença, não tinha serviço de saúde disponível. Energia elétrica nem pensar.

Quanto a saúde, na década de 90 tivemos a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS). Único sistema público de saúde do mundo que atende uma população com mais de 200 milhões de pessoas gratuitamente, universal (para todos). Atualmente, 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS, o restante da população utiliza a saúde privada. Antes da implantação do SUS, o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) só atendia as pessoas que tinham carteira assinada e contribuíam para a Previdência. Mas, como tudo no Brasil, o SUS ainda sofre desafios do mau gerenciamento e a insuficiência de investimentos financeiros.

Hoje, as estradas são melhores, há novas escolas rurais e urbanas, há postos de saúde espalhados pelo território. Infelizmente, a qualidade dos serviços ainda deixa muito a desejar. Novos problemas surgem. Temos cidades grandes, com novos tipos de problemas de deslocamento e de infraestrutura urbana.

Tudo bem, as crianças não brincam mais na rua de pular elástico, brincar de barbante com os dedos, andar de carrinho de rolimã, trocar figurinhas, etc. Mas possuem outras diversões que são do seu tempo. Não temos mais os orelhões alimentados por fichas de latão ou cobre usadas para fazer contato com os bares da cidade em busca dos fujões, mas temos os celulares que tiram fotos, mandam mensagens (verdadeiros correios), tocam músicas e nos mostram inclusive a localização desses fujões. Não temos mais o cheiro da nicotina impregnada no corpo, na roupa e na alma toda vez que a gente entrava em ambientes fechados como restaurantes, escritórios e casas noturnas, todavia tivemos um aumento significativo do consumo de drogas (maconha, cocaína, crack, LSD…) entre principalmente adolescentes e jovens.

No centro das discussões sobre a segurança pública no Brasil e no mundo está a relação entre a violência e o tráfico de drogas. O comércio de drogas alimenta o crime organizado e as facções. Comunidades vulneráveis controladas por traficantes se transformam em áreas de alta criminalidade. Pobreza, pouca educação e marginalização social continuam sendo fatores importantes que aumentam o risco de ocorrência de transtornos associados ao aumento da violência dos dias de hoje.

Nos dias atuais é difícil acreditar que a televisão era um artigo de luxo e que a imagem não passava de alguns chuviscos difíceis de decifrar. Mas, o tempo passou. A tecnologia evoluiu. A partir de 1990, a Internet começou a ser usada pela população em geral, através de serviços de empresas que começaram a oferecer conexão de Internet empresarial e residencial. Ela mudou nossa vida, dando a cada pessoa a oportunidade de ser escutada e permitindo acesso a um conhecimento antes restrito a enciclopédias caras e livros inacessíveis. Nem tudo são flores, a Internet através das ferramentas de relacionamento (redes sociais) conseguem aproximar pessoas com pensamentos em comum em qualquer lugar do mundo, todavia em muitas vezes distanciam pessoas próximas.

No âmbito geral, e que talvez seja nossa maior vitória, nos tornamos menos ignorantes e começamos a questionar sempre que não achamos algo correto.

Continuamos na luta, a vida continua sendo injusta quando permite que uns poucos tenham muito mais do que os muitos. Ainda temos muitos problemas, mas cada época da História tem os seus impasses e suas demandas de compreensão. Os sofrimentos contemporâneos estão de alguma forma ligados à velocidade e à ansiedade comuns do mundo hoje, e ainda estamos tentando lidar com isso.

O segredo é aceitar o que se foi. Não anular ou esquecer. É usar aquilo como riqueza, como ganho. Somos produtos da nossa história, com seus aspectos felizes e desafiadores. Fazer o alinhavo de todas essas experiências é, sem dúvida, o maior desafio de qualquer pessoa.

No meu tempo, era diferente. Aliás, 'no meu tempo' não, porque hoje, agora, também é meu tempo. "O mundo é assim agora e não vai voltar atrás. Você vai ficar lá ou aqui?".

22/11/2021

“Meus concidadãos! Eu tenho um sonho”

Pastor Martin Luther King em um de seus discursos
Fonte: Estante Virtual.

No dia 28 de agosto de 1963, milhares de negros e negras Estadunidenses marcharam em Washington para exigir direitos. O ato foi convocado por organizações religiosas, sindicatos e movimentos populares pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos. E foi nesse ato que o reverendo Batista Martin Luther King, liderança e referência da resistência pacífica contra o racismo, proferiu seu discurso mais famoso: "Eu tenho um sonho", repetiu, por diversas vezes em sua fala, ao profetizar uma terra de liberdade e oportunidade em que "nossos filhos não serão julgados pela cor de suas peles, mas pelo conteúdo de seu caráter".

Luther King sabia que seu discurso era um grande passo em nome da união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos. O que ele não sabia era que o famoso sonho seria eleito o melhor discurso dos Estados Unidos no século XX.

A história política confirma que tanto o carisma quanto um bom poder argumentativo são capazes de produzir líderes autênticos das massas.

O sociólogo alemão Max Weber classificou o carisma como sinônimo de autoridade, ou seja, um tipo de influência legítima através do reconhecimento das virtudes do líder por seus governados. O carisma é uma característica descrita como determinante para um bom orador.

Independente das intenções, os grandes oradores são capazes de mobilizar pessoas até onde suas vozes alcançam. E a poesia da fala inspira e faz sonhar.  Se Martin Luther King tivesse afirmado que possuía uma ideia e não um sonho, seu desejo teria sido esquecido.

O século XX assistiu à ascensão de um dos mais exitosos oradores da história da política. Os discursos de Adolf Hitler, na Alemanha, foram responsáveis pela fanática adesão à causa nazista. Ainda que tenha reinventado a propaganda política, o führer liderou os alemães sob o poder hipnótico da oratória, considerado uma de suas principais qualidades. Os objetivos do nazismo são considerados insanos atualmente, mas pouco foi contestado pela maioria alemã na época.

A arte de falar em público é tão ancestral que remonta à era clássica da Grécia Antiga, quando era confundida como uma parte da retórica. De fato, oratória e retórica se combinaram ao longo da história e dos discursos. Para os gregos, a oratória valorizava o conteúdo e o apelo à razão. Era um meio de persuadir pessoas e obter influência. Os dois termos são semelhantes, mas não idênticos. Enquanto retórica designa, para nós, a arte de falar bem, de maneira eloquente e precisa, com capacidade de convencer. A oratória significa falar em público.

Apesar de não discursar, o filósofo grego Aristóteles, em Retórica, a definiu como forma de convencer o ouvinte, mesmo que em detrimento da verdade. Infelizmente, em se tratando da política brasileira, a definição de retórica do grego Aristóteles, é uma pura verdade.

Em 24 de janeiro 1973, a rede Globo de Televisão, estreou a novela “O Bem Amado”, obra de Dias Gomes. Primeira telenovela em cores da televisão brasileira e a primeira a ser exportada. Criticava com humor o Brasil da ditadura militar. A trama conta a história do político corrupto Odorico Paraguaçu e de suas estratégias nada ortodoxas para manter seu cargo como prefeito da cidade de Sucupira, no litoral baiano, com seus discursos inflamados e verborrágicos.

O político cria o slogan: "Vote em um homem sério e ganhe um cemitério" para ser eleito para o maior cargo executivo da cidade. A estratégia dá certo, e ele ganha a confiança do povo ao assegurar que todos terão acesso a uma moradia digna de conforto eterno. Interessante, que em determinado momento, O Bem-Amado retratou uma epidemia na ficção. A cidade de Sucupira se torna alvo de uma onda de tifo e, focado em sua estratégia de deixar alguém morrer no local para inaugurar o cemitério, Odorico faz vistas grossas para vacinar todos. “Meus concidadãos! Este momento há de ficar para sempre gravado nos anais e menstruais da História de Sucupira!” (Prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu).

Retornando a realidade, sabemos que a palavra é o reflexo do que se pensa e deseja, e que ela tem impacto direto na vida, seja para agradar ou agredir alguém. E não é só quem não tem papas na língua que se atropela ao falar demais, da forma ou na hora errada. Na maioria das vezes, não se mede o impacto que uma palavra pode ter.

Pois bem, isso se aplica totalmente aos políticos. Tudo que um político diz fica registrado nos anais da história. Muitas vezes fazem promessas milagrosas, para conquistar o voto do eleitor e depois não cumprir nem mesmos as viáveis, o que não deixa de ser um “estelionato eleitoral”. Não se pode negar que o eleitor também tem culpa nesse contexto. Mesmo porque quando “a promessa é grande, o santo desconfia” ou deveria desconfiar.

Faremos então, uma viagem no tempo relatando alguns impropérios que políticos brasileiros tiveram a ousadia de proferir nas mais diversas situações, seja em discursos, declarações ou entrevistas. Impropérios que de alguma forma demonstram nas mãos de quem o Brasil foi e está sendo entregue.  Interessante é que os fatos, em alguns momentos, parecem muito similares.

Nessa viagem, vamos focar em alguns presidentes da nossa república, que sem dúvida, influenciaram e continuam influenciando significativamente a história política do Brasil.

Iniciando pelo presidente da república que mais permaneceu no poder (1930/1945 e de 1951/1954), o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas. Considerado um dos mais importantes estadistas brasileiros.

Vargas não se manifestava muito afeto a legalidade. Em abril de 1936, uma triste, infeliz e malvada frase foi dita por Getúlio Vargas: “A Constituição é como as virgens. Foi feita para ser violada”.

No dia 1° de maio de 1951, Getúlio Vargas proferiu um discurso que pode não ter mudado o mundo, mas certamente alterou o rumo do Brasil. À frente de um estádio de São Januário (RJ) lotado, o então presidente do país fez sua homenagem aos trabalhadores do Brasil, enfatizando suas políticas públicas de regularização do trabalho. Pela primeira vez no pais, os brasileiros podiam contar com uma carteira assinada. A maneira de se dirigir ao povo foi determinante na construção da popularidade de Getúlio Vargas. A oratória era uma das ações populistas que o ex-presidente utilizou para se aproximar de seu eleitorado.

No dia 23 de agosto de 1954, Getúlio redige uma carta-testamento, de natureza fundamentalmente política, e suicida-se com um tiro no peito. Dois dias antes do trágico final, os militares exigiram a renúncia e, novamente, Vargas não a aceita, respondendo “daqui só saio morto”. Sua carta-testamento, na qual dá suas razões para o gesto extremo, é um dos mais conhecidos documentos históricos.

Na sua Carta Testamento, escreveu: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.

Entre 1956 e 1961 governou o Brasil, o médico Juscelino Kubitschek de Oliveira. Durante seu mandato tivemos a construção de Brasília. Algumas das principais frases que marcaram sua vida política:

-  Hoje é o dia mais feliz da minha vida. O Congresso acaba de aprovar o projeto para a construção de Brasília. Sabe por quê o projeto foi aprovado? Eles pensam que não vou conseguir executá-lo.

-  Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental.

-  O otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando.

-  Não nasci para ter ódio, nem rancores, nasci para construir.

-  Costumo voltar atrás, sim. Não Tenho compromisso com o erro.

-  O perdão é a marca da grandeza, sobretudo quando se tem em vista um objetivo mais alto.

 - Meu sonho é viver e morrer em um país em liberdade.

Em outubro de 1960 foi eleito presidente da república o sul mato-grossense Jânio da Silva Quadros. Um dos políticos mais controvertidos que o Brasil já teve. Ficou conhecido pelas polêmicas e pelos discursos moralizantes. Foi presidente do Brasil durante sete meses, renunciando em 1961.

O “homem da vassoura” assumiu a Presidência da República prometendo “varrer” toda a sujeira da vida pública brasileira. Não varreu. Um dos seus hábitos era mandar “bilhetinhos” para seus auxiliares. Em 206 dias de governo, rabiscou mais de mil e quinhentos bilhetes.

Outras babaquices do Presidente: proibição de uso de biquínis nas praias, corridas de cavalo nos dias úteis, brigas de galo e desfile de “misses” com maiôs cavados.

Professor de Português e de Geografia. Respeitava a norma culta de nossa língua em declarações, bilhetes, cartas, documentos, em tudo o que dizia e escrevia. Muitas de suas tiradas ficaram célebres, como por exemplo: " Fi-lo porque qui-lo". Jânio a proferiu quando ainda ocupava o Palácio do Planalto, durante uma reunião com governadores e outras autoridades.

Entre um sem-número de tiradas tão sarcásticas quanto ácidas do velho político, cito as seguintes:

-  Os servidores públicos são mulher de César (a quem não basta ser honesta, é preciso parecer honesto). A frase representou o pensamento de Júlio César, ditador absoluto ou pretor máximo romano, no ano de 63 antes de Cristo.

-  O senhor sabe que a família interiorana é moralista e conservadora. Gostaria de lhe perguntar: por que o senhor bebe. A resposta veio bem ao estilo de Jânio: “Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia”.

O primeiro Presidente do Brasil depois do golpe militar de março de 1964 foi o Marechal Humberto Castelo Branco. Nomeado pelo Congresso, ficou no poder de 15 de abril de 1964 até 15 de março de 1967.  Citações de destaque:

- O exército não é um partido político para apresentar solidariedade ao governo ou a quem quer que seja. Quem tem o direito de apresentar solidariedade tem o direito de apresentar também desaprovação.

- Forças Armadas não fazem democracia, mas garantem-na. Não é possível haver democracia sem Forças Armadas que a garantam.

- A esquerda é boa para duas coisas: organizar manifestações de rua e desorganizar a economia.

Entre os anos de 1967 e 1969, através de eleições indiretas, o General Artur da Costa e Silva foi eleito o 27º Presidente do Brasil Republica. Foi o “Pai” do Ato Institucional n.º5, o AI-5. O ato concedia poderes totais ao presidente, como fechar o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais, etc.

Podemos citar como principais frases:

-  Nunca seria um ditador, inclusive porque no Brasil não há lugar para ditaduras.

-  Salvamos o nosso programa de governo e salvamos a democracia, voltando às origens do poder revolucionário (Discurso do presidente transmitido, no final de 1968, por rádio e televisão sobre o Ato Institucional Nº 5 - AI-5).

-  "O poder é como um salame, toda vez que você o usa bem, corta só uma fatia, quando o usa mal, corta duas, mas se não o usa, cortam-se três e, em qualquer caso, ele fica sempre menor". Não sei a interpretação dessa frase, talvez tem tomado como base a do economista e filósofo Austríaco Friedrich Von Hayek, que disse: “A liberdade não se perde de uma vez, mas em fatias, como se corta um salame”.

Entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974, foi presidente do Brasil, o General-de-Exército Emílio Garrastazu Médici. No seu governo tivemos Campanhas oficiais para incentivar o povo. Foram criados slogans como: “Ninguém mais segura este país”, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, “Pra frente, Brasil”.

Algumas de suas principais citações:

-  Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho.

-  A economia vai bem, mas o povo vai mal.

-  A eleição direta é uma piada.

De 1974 a 1979 o Brasil foi governado pelo General Ernesto Beckmann Geisel. Principais citações:

 -  Eu sou um sujeito profundamente democrático (Em entrevista a Maria Celina D'Araujo justificando que a falta de liberdade durante o seu governo não era fruto de convicções pessoais).

-  Se é a vontade do povo brasileiro eu promoverei a Abertura Política no Brasil. Mas chegará um tempo que o povo sentirá saudade do Regime Militar. Pois muitos desses que lideram o fim do Regime não estão visando o bem do povo, mas sim seus próprios interesses.

-  É muita pretensão do homem inventar que Deus o criou à sua imagem e semelhança. Será possível que Deus seja tão ruim assim?

-  O Brasil vem conseguindo evitar a recessão e a estagnação, que nos estão sendo exportadas pelo mundo desenvolvido lá de fora, com o seu corolário do desemprego a atingir, sempre, as classes mais pobres.

-  Nosso mal foi ter durado tanto tempo (Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em agosto de 1987, a respeito do regime militar).

-  Ao longo da minha vida eu fui um infeliz.

O último presidente militar, antes da Constituição de 1988, foi o General João Batista Figueiredo. Assumiu a presidência em março de 1979 para dar prosseguimento ao já traçado processo de abertura política. Ele era curto e grosso em diversas falas. Uma ao ser questionado por um garoto sobre o que faria se seu pai ganhasse apenas um salário mínimo, respondeu: “eu dava um tiro na cuca”.

O plano original do governo militar era o de transformar Figueiredo numa figura popular, conhecida como João do Povo. Mas isso foi muito difícil, afinal, o presidente não colaborava. Às vezes escapavam frases tão sinceras e honestas, surgidas da mais profunda introspecção, que soltas acariciavam ouvidos como esporas. Praticante do hipismo, foi questionado uma vez sobre o “cheiro do povo” numa entrevista sobre a cavalaria. Sem dó, ele respondeu: “Eu prefiro o cheiro do cavalo”.

O apreço pelo povo era praticamente negativo para Figueiredo. Várias vezes de forma ofensiva, ele culpava os mais pobres por diversos problemas do país. Uma vez, ele afirmou que “um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar”.

Algumas de suas principais citações:

-  Estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo o que gosto mesmo é de clarim e de quartel.

-  A solução para as favelas é jogar uma bomba atômica.

-  É um vagabundo sem vergonha. Sobre o cantor, compositor e diplomata Vinícius de Moraes.

-  Eu cheguei e as baianas já vieram me abraçando. Ficou um cheiro insuportável, cheguei no hotel tomei 3, 5, 7 banhos e aquele cheiro de preto não saía

-  Também já declarou que “durante muito tempo o gaúcho foi gigolô de vaca".

Em 1985 tivemos o primeiro presidente civil após o movimento militar de 1964. O cargo foi exercido pelo político maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa Sarney. Como era vice presidente, assumiu a presidência após a morte de Tancredo Neves que não chegou a tomar posse.

Algumas de suas principais citações:

-  Consultei um futurólogo e ele previu que o Brasil só terá outro presidente nordestino daqui a 1.900 anos. Então, acho que mereço ficar os seis anos.

-  Durante o meu mandato a história se contorceu, mas a democracia não murchou na minha mão.

-  Quando há perigo iminente para os povos reunidos em Estados, cabe à inteligência política encontrar, e com decisão, a resposta certa.

-  A inflação é o pior inimigo da sociedade. Ela castiga os mais pobres, os que não têm instrumento de defesa contra seus terríveis efeitos. Ela não confisca apenas o salário: confisca o pão.

-A educação é o primeiro e o mais rentável dos investimentos públicos.

-  Herdei para administrar a maior crise política da história brasileira, a maior dívida externa do mundo, a maior dívida interna, a maior inflação que já tivemos, a maior dívida social e a maior dívida moral.

-  No Maranhão, depois dos 50 anos não se pergunta a alguém como está de saúde. Pergunta-se onde é que dói.

-  Realmente, estamos importando alimentos, mas isso é ótimo, porque significa que quem não comia está comendo.

- Governo é como violinha: você toma com a esquerda e toca com a direita (José Sarney mostrando porque sobrevive há tantos anos no poder).

Em 15 de março de 1990, assume a presidência da república, o carioca Fernando Collor de Melo. Primeiro presidente eleito pelo voto popular depois da ditadura militar. Também foi o primeiro presidente do Brasil a sofrer um processo de impeachment após denúncias de corrução e crime de responsabilidade. Ficou conhecido pelo congelamento da conta poupança da população.

Collor se elegeu presidente da República apoiado em uma campanha de moralização do serviço público em que se apresentava como "caçador de marajás". Conseguiu se projetar na campanha presidencial valendo-se da sua imagem de boa-pinta e o discurso de ser uma renovação na política. Durante o seu governo, na tentativa de dar mostras da sua jovialidade, Collor se deixava fotografar fazendo cooper, praticando esportes e pilotando jet-ski. Também tentava passar uma imagem de virilidade e, num desses arroubos, falou a notória frase: "Tenho aquilo roxo", após uma manifestação de protesto contra o governo.

Algumas de suas principais citações que ficaram para os anais da história:

-  O meu primeiro ato como presidente será mandar para a cadeia um bocado de corruptos.

-  Vamos dar um não à desordem, à bagunça, à baderna, à bandeira vermelha. Vamos dar um sim à bandeira do Brasil, verde, amarela, azul e branca (Collor de Mello referindo-se a Lula, no último debate dos presidenciáveis antes do segundo turno, em 14 de dezembro de 1989).

-  A poupança é sagrada.

-  Não temos mais alternativas. O Brasil não aceita mais derrotas. Agora, é vencer ou vencer. Que Deus nos ajude, declarou Fernando Collor de Mello, em rede nacional, na manhã do dia 16, após a ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, anunciar as medidas de um novo plano econômico.

- Minha gente! Não me deixem só! Eu preciso de vocês (Pronunciamento feito durante o processo de impeachment).

Após afastamento do Presidente Collor, devido ao processo de impeachment, assumiu a presidência do Brasil o engenheiro, militar e político brasileiro Itamar Augusto Cautiero Franco (1992 – 1994). O presidente tinha algumas esquisitices, mas não colecionou deslizes morais e nem acusações de corrupção. Todavia no seu mandato, um fato que ocorreu durante o desfile de Carnaval em 1993, gerou muita repercussão na impressa. Um fotógrafo oportunista documentou a alegria do presidente no palanque ao lado da modelo Lílian Ramos. A moça não usava a mais íntima das peças íntimas da indumentária feminina. E sua genitália ilustrou a foto mais badalada daquele carnaval, foi capa de revista e muitos veículos da mídia impressa em todo o mundo a divulgou. Interessante como os grandes escândalos também se modificam conforme a época.

Algumas de suas principais citações:

-  Como vou fazer para saber se as pessoas estão de calcinha preta, verde, vermelha ou sem calcinha?

-  Quando reajo, dizem que sou temperamental, teimoso. Quando demonstro serenidade, falam que sou omisso. Não sei o que essa gente quer. 

-  Nós devemos aos nossos credores dinheiro. Dinheiro se paga com dinheiro. Não se paga dinheiro com a fome, a miséria e o desemprego dos cidadãos brasileiros. 

-  Se não saio de Brasília, reclamam. Se vou para o Rio, reclamam. Se vou para Juiz de Fora, reclamam do mesmo jeito. Se falar em ir para qualquer lugar, reclamam. “

-  Do jeito que as coisas vão, FHC vende a Bandeira Nacional até 2002 (Itamar já não era mais presidente quando pronunciou essa frase).

De 1995 a 2002, ocupou a presidência da república o sociólogo e professor universitário Fernando Henrique Cardoso. Foi o primeiro presidente brasileiro a se reeleger para um segundo mandato.

Algumas de suas principais citações que ficaram para os anais da história:

- O nosso vizinho não foi capaz de apurar tão depressa os votos como nós aqui (Frase dita por Fernando Henrique em 2000, ironizando a confusão da eleição presidencial nos Estados Unidos).

-  É demagógico. Alertar contra a fome é bom, mas falar e não resolver é gravíssimo.

- Saco de bondade à custa do povo eu não faço (Frase dita em 2001, ao afirmar que não permitiria que os gastos públicos estourassem em 2002, ano eleitoral).

-  Logo que eu iniciei o governo, eu disse que era fácil governar o Brasil. Talvez tivesse que refazer o que disse.

-  A pior guerra é a guerra contínua contra a natureza, que é silenciosa, que destrói ao longo do tempo.

- Eu sou o presidente da República, mas quem manda em mim é o Marco Aurélio. Você precisa parar de mandar em mim, Marco Aurélio (Fernando Henrique, dirigindo-se, em tom bem-humorado, ao presidente do STF, Marco Aurélio de Mello, durante jantar oferecido pelo presidente do Senado, Ramez Tebet - 2001).

- Não posso aceitar o pressuposto de que abafei um crime. A leviandade da imprensa e o golpismo sem armas da oposição estão criando um clima de fascismo e terror insuportável (Em 2001, sobre o envolvimento do governo no caso do banco Marka).

-  Graças ao meu estilo de governar, pouco a pouco as oligarquias, os caciques foram perdendo centralidade na política (Em 2002, dizendo, em balanço sobre as eleições, que, no seu governo, as oligarquias perderam o peso e a centralidade que tiveram no passado).

Fernando Henrique, homem muito culto e poliglota não escapou de gafes, ainda que fora do campo da linguagem. Durante cerimônia de abertura do 10º Fórum Nacional, em 1988, ele afirmou que as pessoas aposentadas com menos de 50 anos eram vagabundos porque se locupletariam de um país de pobres e miseráveis.

No discursar em homenagem ao Dia Internacional da Mulher em 1998, indagou: “Aqui nós estamos assistindo a ministros e vice-ministras aqui presentes; quem sabe um dia ministros e ministras, não é?”. Continuou: “Essa diretriz e para que, havendo qualificações iguais, as mulheres assumam, não o poder (risos), mas participem, coparticipem do poder”. Depois afirmou que muitas são “cabeças de cavalo”, corrigindo, em seguida, para “cabeça do casal”.

O Trigésimo quinto presidente do Brasil foi o metalúrgico, líder sindical e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como o Fernando Henrique Cardoso, foi reeleito para um segundo mandato.

Os dois mandatos do presidente Lula foram marcados por grandes avanços, mas também por grandes escândalos. Lula teve condições de passar para a história como o presidente que realizou grandes feitos e priorizou políticas que beneficiaram os mais pobres, mas a corrução se infiltrou no poder.

Em diversas solenidades, Lula jogou para escanteio os discursos produzidos pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e partiu para o improviso.

Frases que marcaram seu período como presidente da república:

- Ontem, o Brasil votou para mudar. O brasileiro votou sem medo de ser feliz, e a esperança venceu o medo (No seu primeiro pronunciamento como presidente eleito).

-  Se no final de meu mandato cada brasileiro puder comer três vezes ao dia, terei cumprido a missão de minha vida.

-  Não é o Bolsa-Família que vai resolver o problema do povo brasileiro. O que vai resolver são as mudanças estruturais que nós queremos que aconteçam no Brasil: a economia tem de voltar a crescer e temos de gerar empregos.

-  Você pode fazer seu discurso político na hora em que quiser. Você pode ter suas definições ideológicas quando quiser, mas, na hora de governar, é pão, pão, queijo, queijo. Você nem sempre faz o que você quer.

-  Na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: “Sou torneiro mecânico”.

-  O salário mínimo nunca será o ideal porque ele é mínimo.

-  São privilegiados aqueles que podem pagar Imposto de Renda, porque ganham um pouco mais (em discurso a metalúrgicos do ABC que cobravam mudança na tabela do Imposto de Renda, em 2004).

-  Nunca fiz concessão política. Faço acordo… Se Jesus viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizã.

-  Resolveram fazer um estudo para saber se a perereca estava em extinção. Aí teve que contratar gente para procurar perereca, e procure perereca, procure perereca, perereca, perereca... (em maio de 2009, ao eleger o bichinho como inimigo do desenvolvimento; por causa dele, houve atraso de sete meses na construção de viaduto entre Brasil e Argentina.

-  Uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida. Tem que ser submissa a um parceiro porque gosta dele e quer viver junto com ele.

-  Lá, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que não dá nem para esquiar (em 4 de outubro de 2008, garantindo que os efeitos da crise econômica não seriam sentidos no Brasil).

-  Tem gente que não gosta do meu otimismo, mas eu sou corintiano, católico, brasileiro e ainda sou presidente do País. Como eu poderia não ser otimista?

-  Quero saber se o povo está na merda, e eu quero tirar o povo da merda em que se encontra (em maio de 2009, ao garantir no Maranhão que suas obras de saneamento).

-  Ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para transformar a luta contra a corrupção não em bandeira, mas em uma prática cotidiana (em meio às denúncias do escândalo de pagamento de propina a parlamentares que ficou conhecido como mensalão).

- (A dor da escravidão) é como a de cálculo renal: não adianta dizer, tem que sentir (em abril de 2005, na Casa dos Escravos, em Dacar, capital do Senegal, ao pedir perdão ao povo africano pelo passado escravista brasileiro).

-  Aprendi a contar até dez, apesar de só ter nove dedos, que é para não cometer erros.

-  A coisa que eu mais queria na minha vida quando casei com a minha ‘galega’ (a primeira-dama, Marisa Letícia) era um filho. Ela engravidou logo no primeiro dia de casamento, porque pernambucano ‘não deixa por menos’”.

-  Espero que o Poder Judiciário tenha agilidade para que processos não sejam engavetados, para que processos não demorem, porque o povo não pode continuar sendo roubado (em 2003, cobrando do Judiciário agilidade para que processos contra administradores públicos acusados de corrupção não fiquem engavetados).

Algumas gafes do Luiz Inácio Lula da Silva a partir de seu primeiro mandato, em 2003:

-  No plano geográfico ele disse uma vez que o Brasil somente não tinha fronteira com o Chile, o Equador e a Bolívia.

-  No setor de suas pesquisas históricas elas mostraram que Napoleão havia estado na China: “Quando Napoleão foi à China, ele cunhou uma frase que ficou famosa. Ele disse: A China é um gigante adormecido que o dia que ele acordar, o mundo vai tremer.

-  Outra sobre a sua natureza humilde, quando afirmou em 2004, no dia internacional da mulher, que era “filho de uma mulher que nasceu analfabeta”.

-  Durante uma viagem a Londres, em 2006. Lula participou de um banquete oferecido pela rainha Elizabeth 2ª e, chamado para discursar, elogiou a “contribuição do inglês Charles Miller ao futebol brasileiro. Miller era paulista, filho de um inglês com uma brasileira.

Nas eleições de 2010 tivemos a primeira mulher eleita para presidir o país, a mineira Dilma Vana Rousseff. Seu primeiro mandato foi de 2011 a 2014. Reeleita em 2014 para o segundo mandato de 2015 a 2018, todavia no dia 31 de agosto de 2016 deixou o cargo devido a um processo de impeachment aprovado pelo Senado, tendo sido acusada de crime de responsabilidade fiscal. 

Ao longo dos mandatos da presidente Dilma Rousseff diversos de seus discursos se tornaram polêmicos devido as frases engraçadas e, sem uma boa conexão com as temáticas abordadas. Muitas de suas falas se tornaram meme nas redes sociais.

Frases de Dilma Rousseff que não fazem o menor sentido:

-  O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”

-  Se hoje é o dia das crianças, ontem eu disse que criança… o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.

-  Primeiro, eu queria te dizer que eu tenho muito respeito pelo ET de Varginha. E eu sei que aqui, quem não viu conhece alguém que viu, ou tem alguém na família que viu, mas de qualquer jeito eu começo dizendo que esse respeito pelo ET de Varginha está garantido.

-  Eu tô aqui saudando a mandioca. Acho [a mandioca] uma das maiores conquistas do Brasil (abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas).

-  Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.

-  A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, tudo isso abrindo o negócio.

-  Eu já entendi que você entende, pois se você não tivesse entendido não entenderia que você teria entendido para ser explicado antes de você entender.

Nem tudo foi cômico:

-  A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia.

-  A imprensa que constrói uma democracia é a imprensa que fala o que quer, dá opinião que quer e se manifesta do jeito que bem entende.

-  Nós acreditamos que, sempre, em qualquer situação, é muito melhor o diálogo, o consenso e a construção democrática do que qualquer outro tipo de ruptura institucional.

-  Temos muitos motivos para preservar e defender a Petrobras de predadores internos e inimigos externos.

-  Lamento a campanha absolutamente difamatória que fazem contra mim, dizendo que estou utilizando o nome de Cristo para falar que nem ele me derrotava na eleição. Eu acho isso um absurdo, uma calúnia e uma vilania contra mim. Como vocês sabem que sou cristã, eu jamais usaria o nome de Cristo em vão.

No dia 31 de agosto de 2016, após aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, toma pose como Presidente da República o advogado e político Michel Miguel Elias Temer Lulia. 

Nem mesmo o polido e cauteloso Michel Temer escapou das gafes. Algumas gafes:

-  Durante um encontro com a primeira-ministra norueguesa em 2017, Temer chamou Harald V, monarca norueguês, de “rei da Suécia”, país vizinho escandinavo, e se referiu ao “parlamento brasileiro”, em vez do norueguês.

-  Luiz Fernando Pezão, quando governador do Estado do Rio de Janeiro, teve que ouvir de Temer que o câncer lhe deixou mais bonito (por ter emagrecido), o que seria algo “útil”.

Algumas frases significativas:

-  Bons diálogos, boas conversas, sempre com vistas à pacificação absoluta.

-  Tenho feito esse diálogo com frequência. A raiva precisa acabar. Não se faz política com o fígado. Em política não se tem inimigo, mas adversário, aquele que adversa, está do outro lado. Não entender isso é comprometer as bases do sistema democrático”.

-  Quando nós nos desviamos dos limites do direito, nós criamos a instabilidade social e a instabilidade política.

-  Quando se tem esse tipo de movimento de rua, é preciso ouvir e dialogar muito, ter humildade e isso nós temos.

-  É uma rebelião, digamos assim, contra a classe política. Você pode me perguntar: mas isso é útil ou é inútil? Eu acho que é útil. Quando há uma queixa popular, você precisa verificar o que está acontecendo para melhorar as relações do poder institucional com a principal instituição do estado que é o povo.

Concluindo nossa viagem, chegamos ao 38º presidente do Brasil, eleito em 2018 para o mandato de 2019 a 2022, o capitão da reserva do Exército Jair Messias Bolsonaro. Se tornou um fenômeno eleitoral ao vencer as eleições, filiado a uma legenda sem grandes alianças com pouco tempo de TV e rádio e longe das ruas depois do atentado que sofreu no dia 3 de setembro de 2018. No seu discurso da vitória, Jair Bolsonaro declarou que seu governo seria um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade.

O Presidente Jair Bolsonaro durante sua vida política sempre colecionou declarações polêmicas. Segundo o jornalista Noblat (30/08/2021), Jair Bolsonaro é um fio desencapado que ocasiona curtos circuitos e faíscas e pode produzir pequenos ou grandes incêndios.

Frases que marcaram sua histórica política:

-  Já vai tarde. (Quando Luís Eduardo Carlos Magalhães faleceu, filho de Antônio Carlos Magalhães -1998).

-  Se fuzilassem 30.000 corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o país estaria melhor (1999).

-  A atual Constituição garante a intervenção das Forças Armadas para a manutenção da lei e da ordem. Sou a favor, sim, de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que este Congresso dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo (Discurso na tribuna da Câmara em junho de 1999).

-  90% desses meninos adotados [por um casal gay] vão ser homossexuais e vão ser garotos de programa com toda certeza (2012).

-  A escória do mundo está chegando ao Brasil como se nós não tivéssemos problemas demais para resolver (haitianos, senegaleses, bolivianos que pediam refúgio ao Brasil - 2015).

-  Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens” (2008). Se referia ao índio Jacinaldo Barbosa, que lhe jogou um copo de água durante uma audiência pública na Câmara para discutir a demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol.

-  O erro da ditadura foi torturar e não matar” (2008 e 2016).

-  Eu jamais ia estuprar você porque você não merece (A frase foi dirigida à deputada federal Maria do Rosário, primeiro durante uma discussão nos corredores da Câmara em 2003, diante de vários jornalistas, depois repetida em 2014, dessa vez na tribuna da Casa).

-  Fui num quilombola [sic] em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriadores servem mais (2017).

- [O policial] entra, resolve o problema e, se matar 10, 15 ou 20, com 10 ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado, e não processado (Em declarações anteriores, ele já havia dito que “policial que não mata não é policial” e que a “polícia brasileira tinha que matar é mais” – 2018).

-  Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim, ele vai ter morrido mesmo. 

-  Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Vamos acabar com isso (2018).

-  Como eu estava solteiro na época, esse dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente (2018).

- Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.

-  Eu acredito em Deus. Sou católico. Mas é coisa rara ir à Igreja. Eu já li a Bíblia inteirinha com atenção. Levei uns sete anos para ler. Você tem bons exemplos ali. Está escrito: "A árvore que não der frutos, deve ser cortada e lançada ao fogo". Eu sou favorável à pena de morte.

-  O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada.  

-  E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre (declaração quando o Brasil passava a marca de 5 mil mortes e acabava de ultrapassar a China em número de óbitos - 2020).

-  No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão (2020).

-  Até quando vão ficar chorando? (Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia e ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas – 2021).

-  Se você virar um jacaré, é problema seu. Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada a ver com isso.

-  Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?" (Resposta dada a um jornalista que perguntou sobre os números da covid-19 no Brasil).

-  Nada temeis, nem mesmo a morte, a não ser a morte eterna (esta frase passou a fazer parte dos pronunciamentos do presidente desde o dia 5 de agosto 2021).

- Por ser uma floresta úmida, a Amazônia não pega fogo (discurso feito para investidores árabes em Dubai - novembro/2021, repetindo o que disse em discurso na assembleia-geral da ONU, em 2020).

Nessa “amostragem política”, muitos ficarão para sempre, nos anais da história política brasileira, conhecidos pelos discursos moralizantes, declarações polémicas, frases infelizes e malvada, discursos com frases engraçadas e, sem uma boa conexão com as temáticas abordadas que se tornaram meme nas redes sociais, pelas respostas curtas e grossas em diversas falas, sem o menor senso de educação e responsabilidade, e por gafes memoráveis.

Lembramos que todo político, assim como todos nós, devemos ter cuidado com o que falamos. Tem um ditado que diz que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. Esse é um ditado antigo e que está em plena sintonia com o provérbio de Salomão que recomenda que moderemos nossos lábios. Falar menos é sinal de prudência. Falar menos é sinal de sabedoria. "As palavras podem ferir e causarem dor, por isso, só devem ser ditas para construir, para trazer esperança e para produzir otimismo e nunca para aniquilar, mas para ajudar, direcionar e enaltecer. Nunca para arrasar alguém, nem para humilhar e muito menos para entristecer. Se não tem algo bom para falar de alguém, o melhor é falar a verdade ou ficar em silêncio" (escritor Salomão Tavares).

Concluindo esse artigo, afirmamos que não tivemos a intenção de comparar nossos políticos com Luther King.  O mesmo era um líder com ideais bem definidos de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos. Falando do jeito que fez, ele conseguiu educar, inspirar e informar, não apenas as pessoas que ali estavam, mas também pessoas em todo os EUA e outras gerações que nem sequer haviam nascido. Mas, principalmente para dizer que assim como Luther King, eu também tenho um sonho: Que nossos descendentes vão um dia viver em uma nação onde elas terão todos os direitos inalienáveis a vida e que os nossos políticos, que transpiram com o calor da injustiça, que transpiram com o calor de opressão, transformem esse nosso Brasil em um oásis de liberdade, igualdade e humanidade.

Parece que, por enquanto, os nossos políticos são os Odoricos Paraguaçu, da novela Bem Amado.

 “Não prometa o que não pode cumprir. Não exija o que não pode oferecer. Não desdenhe do que não sabe fazer melhor. Não tente parecer ser o que jamais será” (escritora Lavínia Lins).

07/11/2021

Nem tudo que reluz é ouro


Em 15 de novembro de 1889, ocorria na cidade do Rio de Janeiro, capital à época, a Proclamação da República, fato histórico e emblemático da jovem Nação Brasileira.
Fonte: Educamaisbrasil
Primeira constituição republicana (1891).
Fonte: Arquivo Nacional

Em 2022, o Brasil comemora 200 anos de independência.  Durante o Regime Monárquico (1822-1889), o Brasil teve dois Imperadores, 33 Primeiros-Ministros (sempre com alternância de poder entre os Partidos Liberal e Conservador) e uma Constituição (1823). O Parlamento nunca foi fechado e funcionava a pleno vapor, com os parlamentares trabalhando de segunda a sexta e não, como é hoje na república, apenas de terça a quinta. Enquanto, o Regime Republicano, que iniciou em 1889, completará 133 (cento e trinta e três) anos. Todavia, durante o período republicano, já tivemos: 06 (seis) vezes o congresso fechado, seis golpes de Estado, 13 (treze) presidentes que não concluíram o mandato, 19 (dezenove) presidentes eleitos pelo voto popular e 20 (vinte) presidentes não eleitos diretamente, também considerando posse de vice e interinos. Um fato relevante é que nesse período republicano tivemos 06 (seis) Constituições Federais.

Por incrível que pareça, o Estados Unidos como república federativa, em 231 (duzentos e trinta e um) anos, tiveram 01 (uma) Constituição e 45 (quarenta e cinco) indivíduos foram eleitos ou sucedidos ao cargo de presidente.

Será que com base nesses dados, podemos questionar se a república foi a solução para os problemas do Brasil existentes no período monárquico? 

Nos anais da história está registrado que a queda da monarquia foi um golpe de Estado e não uma revolução. Veio do alto escalão do exército. Para ser uma revolução, teria de ser proveniente de quem está fora dos setores de poder do Estado. As pessoas sequer tomaram conhecimento. Sobre isso, disse Aristides Lobo: “os brasileiros não compreenderam e assistiram bestializados à Proclamação da República, pensando que era uma parada militar”.

A primeira fase do regime monárquico é chamado de Primeiro Reinado (1822 -1831). Termina com a abdicação de D. Pedro I. A segunda fase, conhecida como Regência (1831-1840). A última fase, denominada Segundo Reinado (1840 -1889), com D. Pedro II no poder.

Dom Pedro II era um intelectual sensível, valorizava as artes e era poliglota. Nunca aumentou o seu salário, do qual usava parte, para libertar escravos e financiar estudos de brasileiros no exterior. Dizia que a importância do debate democrático estava na liberdade de expressão. Uma vez indagado sobre essa questão, respondeu ao jornalista: “veja meu filho, imprensa é algo muito sério, é o pilar da democracia, e ela não deve ser combatida com ações estatais, deve ser combatida com mais imprensa.”

D. Pedro, d. Teresa Cristina e sua comitiva no Egito.
Acervo da Fundação/Biblioteca Nacional

Uma curiosidade era o famoso “caderninho preto” de D. Pedro II, onde ele anotava o nome dos políticos envolvidos em corrupção, e esses nunca mais conseguiam ocupar um cargo público.

Antes da queda da monarquia, a economia do Brasil era uma das mais estáveis do mundo. Era um exemplo de responsabilidade fiscal. Tinha uma diplomacia vibrante, usada para fins nacionais e não para fins políticos. Mesmo no período da guerra do Paraguai, não enfrentou nenhuma recessão na sua economia.

Ocorreu nesse período o surgimento de indústrias, bancos e usinas financiadas por empreendedores locais, bem como a construção de estradas de ferro, iluminação a gás, encanamento de esgoto e o desenvolvimento da indústria naval. Houve renovação urbana, com ruas largas, hospitais, prisões, pontes, elevadores e túneis. Já havia brasileiros mais ricos que a família imperial. Destacamos na época, a figura do Barão de Mauá: o maior empresário que o Brasil já conheceu.

Outro ponto a ser ressaltado era que as liberdades civis eram profundamente respeitadas: o Brasil, mesmo tendo a Religião Católica como oficial, assegurava constitucionalmente o direito de cada grupo religioso realizar seu culto, seja ele qual fosse.

Mas com o passar do tempo, a monarquia começou a entrar em crise. Essa crise foi gerada por um conjunto de fatores, tais quais: o movimento pelo fim da escravidão, choques com a igreja, o movimento republicano e conflitos com o exército.

O sistema de padroado instaurou uma grave crise entre D. Pedro II e os clérigos católicos brasileiros. Através do sistema padroado, o Imperador tinha o poder de nomear os bispos, exercendo controle sobre a Igreja. Ele ficava encarregado de sustentar o clero, pagando seus salários, patrocinando construções de Igrejas, etc. O estopim da crise foi quando em 1864 o papa Pio IX, através da bula “Syllabus”, proibiu a permanência de membros da maçonaria nos quadros da Igreja. O imperador rejeitou a decisão do papa. Alguns bispos permaneceram fiéis ao Imperador, porém os bispos de Olinda e de Belém expulsaram de suas dioceses os padres envolvidos com a maçonaria. O imperador reagiu com a condenação dos mesmos à reclusão e prestação de trabalhos forçados. Posteriormente, D. Pedro II anulou a decisão. Eles foram libertados e desculpados. Porém, perdeu o apoio fundamental da igreja.

A partir de 1870, o Brasil Imperial começaria a sofrer diversos tipos de oposição ao seu regime e a defesa da instalação de uma República em seu lugar. Os republicanos criticavam a centralização da Monarquia, seu caráter “hereditário”, o poder excessivo nas mãos de Pedro II, a vitaliciedade do Senado e o sistema político em geral. Preocupados com a questão do desenvolvimento e da modernização do país, acreditavam que a monarquia operava como o grande sustentáculo do escravismo.

Uma parcela dos republicanos era influenciada pelo “positivismo” que foi uma corrente filosófica que veio da França, no início do século XIX e entrou no Brasil pelos militares, ganhava espaço junto com o federalismo inspirado nos EUA. Defendiam o fim das tradições monárquicas, pois a sociedade tinha que ser racional, científica e planejada por tecnocratas. Interessante que tentavam disseminar suas ideias a qualquer custo, mas sem sucesso. A população não aceitava isso e eles raramente se elegiam. Destacamos que alguns textos influenciados pelo “socialismo utópico” abraçavam a causa republicana e seus preceitos democráticos como forma de atendimento aos anseios populares.

Com diretrizes confusas, prolixas e completamente utópicas, essa filosofia “positivista” foi a escolhida para representar os anseios de um povo que, até hoje, pouquíssimo ouviu falar sobre ela e o que ela exatamente defendia. O encantamento com essa utopia nas Forças Armadas era tamanho que uma abreviação do seu lema foi colocada na bandeira republicana do Brasil: “Ordem e Progresso”, retirando a esfera armilar, a cruz e os ramos de açúcar e tabaco, que de fato representavam o Brasil e tinham um profundo significado para o seu povo.

Os grandes fazendeiros, extremamente dependentes da mão de obra escrava, entenderam o fim da escravidão(1888) como um ato de traição do Império. Revoltados, fizeram um gigantesco lobby de financiamento ao Partido Republicano e buscaram influenciar a Maçonaria, na ajuda para depor o regime que libertou os escravos do Brasil.

Talvez, o motivo mais importante que determinou a queda definitiva da monarquia no Brasil foi o desgaste entre os militares e o Império. As ideias trazidas da Guerra do Paraguai (1870) só alimentaram a disposição militar em “purificar” os costumes políticos, consolidando a auto imagem do Exército, de salvador nacional. Os militares não sentiram retribuição da parte do governo pelos esforços que haviam prestado à nação. As reivindicações dos militares por melhores salários e maior influência na política resultou em conflitos com a coroa.

Fonte: Assembleia Legislativa SP

Em 14 de novembro de 1889, os republicanos fizeram circular o boato de que D. Pedro II havia mandado prender Deodoro e o tenente-coronel Benjamin Constant, líder dos oficiais republicanos. Os boatos (fakenews?) deram certo e as tropas se rebelaram. Na manhã seguinte Deodoro expulsou o primeiro ministro. O Imperador que estava em Petrópolis, ao receber um comunicado dos golpistas informando sobre a proclamação da República e pedindo que deixasse o pais, não ofereceu resistência e partiu para a Europa.

D. Pedro II cumpriu à risca o que lhe foi ensinado. Morreu em 1891, aos 66 anos. O obituário no jornal The New York Times afirmou que D. Pedro II "foi o mais ilustrado monarca do século”.

O Império Brasileiro era tão democrático, estável e respeitoso para com os seus cidadãos que o Presidente da Venezuela em 1889, Rojas Paul, ao saber do Golpe de 1889, disse: “foi-se a única República do Hemisfério Sul.”

O mais irônico de tudo é que no Hino da Proclamação da República, composto pelo maestro Leopoldo Miguez, existe um verso, que diz: “nós nem cremos que escravos outrora tenham havido em tão nobre País, hoje o rubro lampejo da aurora, acha irmãos não tiranos hostis”. Da a impressão de que os Republicanos foram os responsáveis por libertar os escravos e que instauraram, de imediato, uma república que livrou o Brasil de uma ditadura sanguinária.

Relembrando a frase de Shakespeare na sua obra “O mercador de Veneza: “All that glitters is not gold” (Nem tudo que reluz é ouro), podemos concluir, pelos registros históricos, que o regime monárquico do Brasil, teve no final do século XIX, seus “desencantos”. Afirma a historiador Laurentino Gomes que um dos grandes problemas para a continuidade da monarquia, seria a sucessão, disse: "A impressão que se tem, ao estudar a história do Segundo Reinado, é que D. Pedro nunca acreditou de fato que a filha pudesse assumir o trono. No Brasil, conservador e patriarcal, D. Pedro sabia que o exercício político de Isabel era tarefa difícil".

Independentemente o que poderia acontecer, após a morte de D. Pedro II, o que temos assistido, após o fim da monarquia, é uma sucessão de golpes e contragolpes, de revoluções e reacionarismos, da ascensão vertiginosa de oportunistas famintos de poder e, a depender das necessidades, de sangue, suor e lágrimas. A República pariu o populismo, regimes ditatoriais, os “coronéis nordestinos” e tantos outros que marcam a nossa história como um exemplo de autoritarismo e uso do poder público para fins pessoais ou partidários.

No tempo do Imperador D. Pedro II, éramos reconhecidos no mundo inteiro pela nossa Cristandade, o apego que o nosso governo tinha pela ciência, pela nossa estabilidade e pela sabedoria do nosso Imperador. Nos tempos atuais, somos reconhecidos pelo país da corrupção e de não preservar as suas florestas. Infelizmente, nem pelo futebol somos mais reconhecidos.

Enfim, a monarquia se foi em 1889. O Brasil passou a ser uma República Democrática. Como disse o poeta: um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Contemplado com longos quilômetros de praias paradisíacas, animais das mais variadas espécies, uma população pacífica e religiosa, com muitas manifestações artistas e culturais, uma diversidade de riquezas minerais e uma grandiosa Floresta Amazônica. Mas, infelizmente a nossa classe política que é eleita pelo povo, esquecem que eles têm que governar, num regime democrático, conforme foi dito por Péricles, estadista da democracia ateniense do século V a.C: “pelo povo e para o povo”. E não com interesses pessoais ou partidários.

Mas não é ponderável colocar a culpa apenas na classe política. A culpa é de todos nós, brasileiros eleitores e cidadãos, que por vezes nos ocupamos em apontar o dedo para os erros dos outros sem, contudo, consertar os próprios. Refiro-me as maracutaias, termo utilizado para explicar as malandragens e os esquemas praticados para levar vantagem sobre os outros, também conhecido como jeitinho brasileiro. Tais práticas ocorrem praticamente em todos os espaços de relações sociais nesse solo gigantesco de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados.

E na hora do voto? De quem nos lembramos quando digitamos os números na urna eletrônica? Seria de alguém que julgamos ser uma boa pessoa para nos representar? Ou votamos apenas por ideologia política? Ou pior, apenas por interesses pessoais?

"Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva a Liberdade!" Gazeta da Tarde, 15 de novembro de 1889.

26/10/2021

Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos

Em novembro de 1995, a Gazeta Mercantil publicou o seguinte artigo: “Quanto a Cuba, o poder de Castro não ameaça os Estados Unidos mais do que uma pulga ameaça um elefante. Ele prejudica os cubanos, contudo. Aqueles que apoiam o embargo gostam de basear seus argumentos no princípio, segundo o qual, não se deve manter intercâmbio comercial com países cujos governos não reconhecem os direitos políticos de seus cidadãos e, em alguns casos, também os direitos humanos. Esse é um princípio sempre válido? Os Estados Unidos proibiram o comércio com a China?” Por esse artigo parece que quando se trata de determinadas nações, não vale o dito popular: “o pau que dá em Chico, dá em Francisco”.

O desenvolvimento do comércio Brasil-China teve início em meados dos anos 1950, ainda informalmente e sem uma notável expressividade econômica. No entanto, no começo da década de 90, o comércio bilateral entre os países experimentou um boom em suas transações.

Ao longo deste século, a China tornou-se o maior investidor externo do país. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores divulgados em 2019, entre 2003 e 2019 os chineses colocaram por aqui US$ 72 bilhões, ou 37,3% do total investido por estrangeiros. Apesar de menores em número de projetos, os chineses já investem mais no Brasil do que americanos ou japoneses e canadenses, cuja presença no país já está estabelecida há décadas.

Após anos de marginalização internacional, a China conseguiu, em 1971, tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa aproximação deu-se, principalmente, com os Estados Unidos, com quem a China formou uma aliança tática contra a “hegemonia soviética”.

A partir de 1978, liderado por Deng Xiaoping, a China lançou uma política de reformas e modernização de longo prazo, que consistia na reestruturação da indústria, da agricultura, da defesa e da cultura. Deng Xiaoping entendeu que o mundo era comandado pelo dólar. As reformas econômicas visavam principalmente a integração da China ao mundo capitalista.  A China passaria a ser uma grande empresa, "fábrica do mundo", disposta a produzir de tudo com seu estoque de mão de obra ociosa.

Fonte: Internet

Depois de quinze anos como candidata, as mudanças permitiram que a China atingisse o seu objetivo, o que permitiu seu ingresso como membro da Organização Mundial do Comércio em 2001 e lhe abriu definitivamente as portas para a globalização e catalisou seu progresso econômico.

Em 2018, o então candidato à presidência da república Jair Bolsonaro, num dos seus discursos anti-China, fez a seguinte “observação”: “Os chineses não estão comprando no Brasil. Eles estão comprando o Brasil”. Tomou como exemplo a empresa China Molybdenum que comprou uma mina de nióbio por US$ 1,7 bilhão no ano de 2016. Segundo Bolsonaro, o próprio Brasil deveria desenvolver o empreendimento. Também registrou sua oposição à privatização planejada de alguns ativos da estatal Eletrobras, em razão do temor aos compradores chineses.

Entre 2007 e 2020, os chineses direcionaram 48% dos investimentos no setor de energia elétrica, em terras brasileiras, no qual há presença marcante de gigantes estatais como State Grid (maior transmissora de energia chinesa) e da China Three Gorges que arrematou hidrelétricas que pertenciam à estatal Cesp e comprou ativos da Duke Energy. Ambas as empresas são ainda fortes concorrentes em projetos de privatização, como os da Eletrobras e Cemig.

Após passar parte da campanha fazendo duras críticas à China, Bolsonaro mudou o discurso após tomar posse e passou a defender um reforço no comércio bilateral. No final de out/2019, Bolsonaro fez uma visita de Estado à Pequim e assinou 11 acordos de cooperação, principalmente nas áreas de energia e agronegócio. Durante a viagem, o presidente convidou Xi Jinping a participar do megaleilão do pré-sal.  Segundo o jornal Folha de São Paulo, já prevendo a possibilidade de fracasso dos leilões do pré-sal, o presidente brasileiro teria aproveitado a viagem à China para pedir a Xi Jinping que petroleiras chinesas participassem dos certames.

Essa mudança de atitude do presidente, se fosse algum tempo atrás, seria visto com preocupação pelos militares, alegando que essas cooperações poderiam trazer instabilidade das instituições do país. Quando Jânio Quadros renunciou à presidência (1961), o vice João Goulart estava na China em uma delegação responsável por aproximar economicamente a China ao Brasil. João Goulart foi comunicado que deveria retornar ao Brasil para assumir a presidência. No entanto, ministros militares formaram uma junta para impedir a posse de João Goulart, alegando que essa presidência ocasionaria instabilidade das instituições do país.

Faz cerca de 10 anos que a China passou a ter uma participação mais ativa em concorrências para exploração de campos de petróleo no Brasil. Em 2012, um consórcio com a presença das estatais China National Petroleum Corporation (CNPC) e a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) venceu o leilão do campo de Libra, um dos maiores do pré-sal. No leilão do pré-sal, realizado em 2019, no campo de Búzios, foi vencida por um consórcio formado pela Petrobras com as empresas chinesas CNOOC e CNODC. Dois dias depois, em um novo leilão, a chinesa CNDOC foi a única empresa estrangeira a fazer uma oferta em consórcio com a Petrobras. Foi arrematada na concorrência o bloco Aram, o mais nobre entre os cinco oferecidos. Importante ressaltar, que atualmente, a China é o maior importador do petróleo bruto brasileiro e que o Brasil avançou para o posto de terceiro maior fornecedor de petróleo bruto para China.

A área portuária é um dos setores que tem crescido em interesse por parte do governo chinês, a estatal China Communications Construction Company (CCCC), está investindo R$ 2 bilhões na construção do Terminal de uso privado no porto de São Luís, capital maranhense, formando assim duas rotas de escoamento da produção agrícola brasileira, ao sul e ao norte do país. A mesma CCCC está neste momento negociando um novo projeto, desta vez em Santa Catarina, também para a área de grãos, como em São Luís. O valor envolvido é da ordem de R$ 1 bilhão.

Em 2017 a China Merchants Group, uma companhia controlada pelo governo chinês listada em bolsa, pagou R$ 2,8 bilhões pelo Terminal de Contêineres do Porto de Paranaguá, o segundo maior do Brasil.

No ramo agrícola, os chineses são sócios majoritários com 53,4% da Belagrícola, produtora de máquinas e equipamentos paranaense com faturamento de R$ 2,8 bilhões. 

Outros investimentos incluem ainda: a Shangai Pengxin Group/Fiagril (insumos agrícolas e grãos), a Fosun/Guide (corretora investimentos) e a DIDI (Uber chinês) que comprou a brasileira 99.

Mas há outras companhias de grande porte que estão presentes ou investem no Brasil, tais como: BYD (maior produtora de baterias e veículos elétricos do mundo), Chery (montadora de automóveis), Lenova (computadores), Midea (fabricantes de eletrodomésticos) e a Petro China Company (maior petrolífera da China) que já comanda milhares de postos em solo brasileiro.

As empresas chinesas efetivaram 176 empreendimentos no Brasil, entre 2007 e 2020, com aportes que somam US$ 66,1 bilhões. Em 2019, pela primeira vez o Nordeste atraiu a maioria do número de projetos chineses no Brasil, com participação de 34%, seguido por Sudeste (27%), Sul (15%), Norte (12%) e Centro-Oeste (12%). O Nordeste também liderou a atração de aportes em termos de valor, com mais da metade do capital investido naquele ano.

Estima-se que 34,5 mil empregos foram criados no Brasil entre 2003 e 2020 por conta da entrada de novos projetos chineses (greenfield), ao mesmo tempo que as aquisições de ativos já existentes mantiveram 140,4 mil postos de trabalho no país.

Num período em que a economia foi prejudicada pela pandemia, os investimentos chineses no Brasil caíram de 74% em 2020, mas somam US$ 66,1 bi em 14 anos.  Entrada de capital chinês no País somou US$ 1,9 bilhão em 2020, o menor valor desde 2014, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, mas se consolida como principal destino de investimentos de Pequim na América do Sul. Apesar disso, a corrente de comércio (soma de exportações com importações) com a China bateu recorde em plena pandemia, chegando a US$ 101 bilhões em 2020.

Principais produtos exportados para China em 2019: soja, óleo bruto petróleo, minério de ferro, celulose, carne bovina, carne de frango, ferro ligas, algodão em bruto, carne de suíno e minério de cobre. Os principais produtos importados da China pelo Brasil em 2019 foram: manufaturados, circuitos impressos, motores, geradores, transformadores elétricos, circuitos integrados, tecidos de fibra têxteis/sintéticas/artificiais, peças para veículos, automóveis, tratores, inseticidas, formicidas, herbicidas, produtos laminados de ferro ou aço, bombas, compressores, ventiladores, aparelhos eletromecânicos ou térmicos para uso doméstico, e plataformas de perfuração ou exploração, etc.

A globalização abriu as fronteiras do comércio e tem gerado consequências de longo alcance. Parece que as nações idealizadoras do processo de globalização não se preocuparam com o que iria acontecer no seu país depois de certo tempo. É irônico, mas uma das características do processo de globalização é que ele concentrou a manufatura num pedaço da Ásia.

No caso específico do Brasil, essa avalanche de investimentos dos chineses em nosso território me fez lembrar do professor e jurista Celso Ribeiro de Bastos, ao analisar a soberania brasileira, concluiu: “Ter a soberania como fundamento do Estado brasileiro significa que dentro do nosso território não se admitirá força outra que não a dos poderes juridicamente constituídos, não podendo qualquer agente estranho à Nação intervir nos seus negócios.”

Não estou querendo dizer que essa “avalanche” possa ser um risco para a soberania brasileira mas entendo que a sociedade brasileira tenha que ter clareza de todo o processo que envolve a venda de ativos público, e até privados, porque os políticos passam e as consequências perpetuam para muitas gerações.

Por exemplo, podemos lembrar que no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu significativa venda de ações da Petrobras. Hoje, a União detém apenas 36,75% do capital total. O restante do capital ficou assim distribuído: 42,79% com investidores não-brasileiros e 20,46% com investidores brasileiros. Boa parte negociados na Bolsa de Nova York. Antes das vendas no governo tucano, a parte da União superava 80%.

Será que ainda temos a soberania sobre um dos nossos maiores patrimônio nacional? Já perdemos a maioria do capital total e agora estamos assistindo o desmanche da holding. Nos últimos dois anos, tivemos a venda da Petrobras Distribuidora, da rede de Gasodutos, de campos terrestre e marítimos, recentemente tivemos a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM). Outras vendas de Refinarias já estão encaminhadas. Imaginem o que pode acontecer com nosso Pré-Sal.

Outro ponto importante é a aquisição de terras no território brasileiro. É fato notório que a China precisa ter acesso a mais alimentos. Dos 7,7 bilhões de habitantes do mundo, a China é responsável por alimentar, sozinha, 1,43 bilhão dessas bocas. Consequentemente, ela precisa assegurar terras que garantam o alimento de sua enorme população e crescente classe média. Os chineses já são os estrangeiros que mais possuem terras rurais nos Estados Unidos e na Austrália. No Brasil, é diferente, eles estão apenas em 9º lugar no ranking de terras em posse de estrangeiros. Aqui, o apetite chinês é freado pelas diversas restrições impostas para a aquisição de terras por quem não é do país, geralmente relacionadas ao tamanho da área a ser adquirida ou arrendada e ao percentual do território do município que já está nas mãos dos estrangeiros. Mas isso pode mudar, caso o Projeto de Lei nº 2963/2019 que foi aprovado pelo Senado Federal e atualmente tramita na Câmara de Deputados, seja também aprovado pela Câmara e depois sancionado pelo Presidente da República. O projeto de lei facilita a compra, a posse e o arrendamento de propriedades rurais no Brasil por pessoas físicas ou empresas estrangeiras

Os escândalos revelados pela Operação Lava Jato envolvendo as maiores empreiteiras do Brasil estão longe de serem vistos como fator de preocupação econômica ou de instabilidade política pelos investidores chineses. Pelo contrário, têm ajudado, já que os preços dos ativos caíram.

Esta conclusão vai na direção da afirmação do diretor para a área de infraestrutura da A.T. Kearney, Cláudio Gonçalves, que afirmou: “Hoje, o Brasil é um país que está barato, por conta do cenário político e econômico. E isso é visto como uma grande oportunidade pelo investidor chinês".

Não tenho bola de cristal para dizer as consequências desse apetite desenfreado chinês. Por exemplo, o impacto causado por grandes projetos que facilitam a exploração de riquezas naturais brasileira. Como os vizinhos ao sul da China já sabem, o país não é exatamente o mais preocupado do mundo com danos ambientais. Que o digam aqueles que sofrem com secas e, consequentemente, com a fome, em função do controle de barragens chinesas sobre rios para geração de energia.

Lembrando da frase de Xiaoping: "Não importa se o gato é preto ou branco desde que cace ratos". Para ele, não importava se o sistema econômico chinês era comunista ou capitalista, mas se ele funcionava.

Possivelmente para Xiaopin, a conquista de uma Grande China, não será com a espada, mas com a importante carteira de investimentos internos e externos. Bem, parece que o apetite da China não é pequeno, o mundo é que se cuide.

26/10/2021

Melhor buscar a verdade e a preservação da harmonia

Fonte: depositphotos

Os últimos dezoito meses, na minha opinião, podem ser considerados um dos mais difíceis para a humanidade desde do fim da segunda guerra mundial em 12 de setembro de 1945, com vários pontos que precisamos fazer algumas reflexões. Em nosso artigo, vamos nos deter em dois pontos.

Com a avalanche de aplicativos de comunicação, por exemplo, o “whatsapp” que é utilizado para troca de mensagens de texto instantaneamente, além de vídeos, fotos e áudios através de uma conexão à internet ou mesmo o “facebook” que é um site e serviço de rede social em que os usuários postam comentários, compartilham fotos e links para notícias, e outros tais como: messenger, twitter, Youtube, etc, passamos a ter disponíveis ferramentas poderosíssimas de comunicação, que trazem notícias e informações em tempo real.  No entanto, como tudo na vida, seu mau uso ou seu excesso podem trazer problemas e provocar o inverso ao desejado. As pessoas terminam presas em suas bolhas tecnológicas, com verdadeira aversão aos contatos interpessoais mais próximos. Triste realidade, parece que estamos nos transformando em robôs.  Divulgamos notícias que as vezes nem sabemos a origem e veracidade. Imaginem nos deparássemos com uma divulgação falsa a nosso respeito, como reagiríamos? O pior é que muitos de nós que proclamamos ser Cristãos, esquecemos que Jesus deu testemunho da “Verdade”. Como discípulos de Jesus temos que dar testemunho da “Verdade”. Vocês não acham que vale uma reflexão?

O segundo ponto a refletir, começa com a seguinte pergunta: Qual é o preço de sempre se achar o dono da razão? Quais as consequências de sempre querer provar que se está certo? É claro que defender um ponto de vista é corriqueiro. Colocar nosso posicionamento ou nossas ideias perante um fato, de maneira sensata, é mesmo saudável.

Trocar ideias a respeito de um tema, argumentar a favor de um conceito no qual se acredita, são posturas naturais e comuns nas relações cotidiana. Porém, quando essa atitude supera todas as barreiras, está sempre como ponto de honra de nossa palavra, quando se torna fundamental ter a razão, pior ainda com ideologias políticas e religiosas, qual o preço a ser pago?

Quantas vezes nos aborrecemos com alguém pelo simples fato de querer convencê-lo de que ele está errado em sua forma de pensar? Quem de nós não se pegou transformando uma discussão tranquila em um afrontamento pessoal? Ou ainda, quantas vezes elevamos o tom da conversa, tornando ríspido o enfrentamento de ideias?

Não podemos esquecer que cada ser humano tem seu ponto de vista, sua percepção e capacidade de análise, conforme seus valores, conceitos e capacidades. Defender nosso ponto de vista como acreditamos ser o mais adequado, não quer dizer que estejamos errado. Porém não podemos esquecer de que o outro tem sua própria forma de ver, seus valores, suas ideias.

Enfrentar-se, nessas situações, será o duelo de ideias, a briga de argumentos, em que, quase sempre, o que existe, de verdade, é o desejo de impor nosso raciocínio, nossa argumentação.

Inúmeras vezes, em nome de desejarmos provar que a razão nos pertence, usamos nossa palavra como quem está numa batalha, não desejando nunca perder.

Ter sempre razão às vezes custa o preço de uma amizade ou pior, custa o preço de toda uma existência, de toda a imagem que se criou e se esvai pela prepotência de se achar “Estar Certo”.

Buscar impor aos outros nossos argumentos, repetidamente, pode ocasionar o desgaste da relação. Querer estar sempre certo, no campo das ideias e reflexões, pode causar fissuras nas relações Familiares e Sociais. Assim, antes de se buscar ter razão, melhor buscar a preservação da harmonia. Antes de querer ser vencedor em uma argumentação, melhor que se tenha paz de espírito.

Apesar de todas as dificuldades, temos a crença no povir e na capacidade de aprendizado do ser humano. Cada evento desgastante serviu de alicerce para o futuro. Com fé, esperança, união e amor, temos a certeza melhores dias virão.

17/10/2021

A Liberdade caminha sobre o fio da navalha

Fonte: Baixaki

Em decorrência da pandemia, chegamos à conclusão que o direito à liberdade não é absoluto e pode ser relativizado, sob pena de cometimento de crime, visto que em momento de pandemia, o interesse público se sobrepõe ao interesse privado. Isto mostra a fragilidade da nossa liberdade. O lockdown que consiste na obrigação de manter-se em isolamento social, bate de frente com o direito constitucional de ir e vir (artigo 5° inciso XV da Constituição Federal), fundamental para a liberdade de locomoção dos cidadãos. Enfim, ficamos proibidos de ir a um bar, fazer reunião com amigos, sair do estado ou do pais, visitar familiares e etc. Desrespeitando a política de isolamento e quarentena passamos a cometer crime. A população fica nesses momentos privada de liberdade.

Independentemente da pandemia, há muito tempo que a violência cresce no campo e nas cidades, já não temos mais liberdade de ir e vir como antes, nos trancamos a cada dia mais em nossos lares. Instalamos equipamentos de vigia externa, colocamos cadeado nos portões, mais fechadura na porta, isolamos o quarto da sala e do resto da casa.

Mas, o que é a liberdade? Segundo a filosofia, liberdade é definida como a independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. De acordo com a ética, a liberdade está relacionada com responsabilidade, uma vez que um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não desrespeite ninguém, não passe por cima de princípios éticos e legais.

A Liberdade guiando o povo – Eugenne Delacroix
Museu do Louvre

Podemos afirmar que este vocábulo, representa o bem mais sagrado da vida. É o bem maior que repousa no coração do homem. Como pressuposto do lema revolucionário francês a “Liberdade” representava a identidade democrática, que não privilegiava interesses particulares em prejuízo do bem público e do cidadão.

Os povos antigos, sábios e sacerdotes, agrupavam-se em templos que diziam ser proibidos ao Vulgo (a classe popular, a plebe, o povão), a fim de estudarem os fatos científicos que originaram as divisões da ciência em várias disciplinas. Ao lado dos estudos científicos, técnicos realizavam o estudo dos fatos sociais com a preocupação de dar aos seres humanos, condições de vivência justa.

Após dotar a sociedade de estruturas que permitiram a vivência do homem em agrupamento, passou a sociedade a dedicar-se à libertação dos povos, à extirpação da inquisição e da escravatura.

Se ontem a luta era contra a prepotência, os dominadores, o absolutismo e as leis injustas, hoje se tem pela sua frente o monstro da corrupção para ser enfrentado. Deve-se a pobreza moral do ser humano, a implantação desse mal, que oriundo do orgulho e do egoísmo, elimina vidas, desagrega famílias. Vemos em pleno século XXI atos brutais de terrorismos, atentados, ditaduras, sequestros, assaltos, enfim, a violência campeia em todos os seguimentos sociais.

Será que está tudo perdido? Não, basta analisarmos os preceitos morais que nortearam, norteiam e hão de nortear a sociedade humana para que possamos nos posicionar em guardar contra o monstro voraz dos inescrupulosos, dos corruptos, etc.

Cabe agora à nossa Sociedade libertar o homem. Trabalho árduo, mas, necessário. Não mais a libertação física, mas libertação moral, libertação do seu interior, numa certeza que existe uma vida futura.

Para Rousseau, o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Da mesma forma, o homem nasce livre, mas por toda parte se encontrará acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração. O indivíduo se torna escravo de suas necessidades e daqueles que o rodeiam, o que em certo sentido refere-se a uma preocupação constante com o mundo das aparências, do orgulho, da busca por reconhecimento e status.

Para se conquistar um maior grau de liberdade é fundamental o fortalecimento da paciência e da tolerância frente às frustações em geral. É poder ver cada novo dia uma nova esperança brotar. É acreditar que as pessoas podem mudar, se delas partir essa decisão. Liberdade é olhar para o céu, mas em toda a parte se vê acorrentado.

Não podemos esquecer que os vícios limitam os nossos atos livres. São, portanto, uma forma de escravidão, pois nos tornam dependentes deles.

A verdadeira liberdade não é fazermos tudo o que queremos como: depredar o bem público, como se ele não fosse nosso, jogar detritos pela janela da casa ou do carro, quebrar os ônibus da cidade, ligar o rádio no máximo, pois quer ouvir música alta, bater e ferir emocionalmente as pessoas ou mesmo ter vícios para fugir da realidade. Isso não é liberdade, é falta de domínio próprio, é ser escravo. Ter a capacidade de escolher e seguir qual o melhor caminho, ainda que tenha todas as possibilidades ao seu alcance, é a cereja do bolo. É controlar-se mesmo em situações adversas, escolher as atitudes que lhe farão bem.

Haverá necessariamente conflitos de liberdades. A liberdade de uns necessariamente estará impactada pela liberdade dos outros. Imagine-se que, no exercício de sua liberdade de ir e vir, uma boa parte da humanidade decidisse, simultaneamente, estar no mesmo momento no Pico do Everest. A liberdade de ir e vir de muitos estaria limitada. Ou imagine que, em uma assembleia de cem pessoas, todas resolvessem simultaneamente exercer a liberdade de discursar.

A Liberdade não é só poder sair por aí, caminhando, respirando, vivendo, amando, partindo, voltando, e sim estar bem com seu espírito, seguir sua vontade sem obstáculos, sem amarras. É poder olhar as pessoas e ver o lado bom deles, é olhar a vida com os olhos da alma e poder alçar voos mais altos em busca da evolução. É meditar, ouvir, é sentir sua verdadeira essência, é sempre querer ser alguém melhor, e também querer que os outros sejam.  Ser livre é poder escolher o que você quer para a vida, mesmo que para os outros não seja a escolha certa. 

Enfatizo que a liberdade deve sempre vir acompanhada de responsabilidade. Assim, “ser livre” é também não se vincular a compromissos para os quais não estamos preparados.

Liberdade é desenvolver a criatividade, descobrindo sempre novas possibilidades. É ser inocente, sem ser ingênuo. É aumentar a cada dia a sensação de vitalidade. É sentir-se desobrigado a agradar constantemente os outros. É não precisar justificar-se a todo momento.

Liberdade é sermos nós – plenos de defeitos e imperfeições – devotados para poder talhar a pedra pela construção contínua de uma sociedade mais justa e perfeita.

Para terminar lembramos do Hino da Proclamação da República do Brasil, escrito por Medeiros de Albuquerque, que apresenta um importante conceito de liberdade: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!". E de uma frase do livro “O Fio da Navalha” de W. Somerset Maugham: “Difícil é caminhar sobre o aguçado fio de uma navalha. Árduo, dizem os sábios, é o caminho da Salvação”.

17/10/2021

E se o Brasil não tivesse descoberto o PRÉ- SAL?

Fonte: Politize

Em 20/11/2009 participamos da inauguração oficial da Refinaria Potiguar Clara Camarão localizada no Município de Guamaré-RN. Em um determinado momento tive a oportunidade de trocar algumas palavras com um dos diretores da Petrobras da época, que se fazia presente ao evento. Na verdade, apenas disse para ele: “Diretor, para os petroleiros o Senhor é o Pai do Pré-Sal”. Ele de imediato respondeu: “Não sou o pai do Pré-sal, apenas defendo o Pré-sal contra forças ocultas”. Infelizmente nossas trocas de palavras terminaram com essa resposta e não consegui matar minha curiosidade de quais forças ocultas ele estava falando.

Independentemente do que seja, a história do petróleo em solo brasileiro, pode ser comparada como uma longa estrada cheia de obstáculos e desvios, que se interligam a própria história da Petrobras.

Nossa caminhada nessa estrada inicia no Segundo Reinado (1840-1889), quando os primeiros decretos foram concedidos dando o direito de extração de minerais no Brasil. As concessões tinham por finalidade encontrar material para o fabrico de óleo ou gás de iluminação.

Em 1864, através de Decreto Imperial, foi concedido ao inglês Thomaz Denny Sargent prerrogativa pelo prazo de 90 anos para, por si ou por meio de uma companhia, extrair turfa, petróleo e outros minerais nas comarcas do Camamu e Ilhéus, na Província da Bahia. Houve ainda nessa época, várias outras concessões do governo do Império do Brasil para pequenos exploradores em busca de jazidas de petróleo, geralmente junto com a busca por carvão e outros minerais.

A partir de 1876 com a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais, passou-se a formar mão-de-obra mais especializada e detentora de algum conhecimento científico para se buscar petróleo. No entanto, o primeiro poço brasileiro foi perfurado somente em 1897 pelo fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo no município de Bofete, no estado de São Paulo. O poço atingiu a profundidade de 488 metros, mas, jorrou apenas uma água sulfurosa, com grande concentração de enxofre. 

Na primeira metade do século XX, no surgente setor industrial brasileiro, destaca-se a figura do escritor da maior parte das histórias infantis nacionais, o paulista Monteiro Lobato. Os quatro anos que passara na América do Norte, como adido comercial, constituíram uma descoberta e um deslumbramento para o caipira de Taubaté. Ele vê o gigantesco progresso americano e o compara com a nossa lentidão colonial.

Fonte: Traça Livraria

Logo após ao seu retorno ao Brasil, começou a apresentar planos grandiosos de salvação econômica para o Brasil. O primeiro deles é a Campanha do Ferro: é preciso “ferrar o Brasil”. E logo em seguida, ainda mais ampla, que foi a Campanha do Petróleo.

Em dois livros, “Ferro” (1931) e “O Escândalo do Petróleo” (1936), o escritor documenta os lances dramáticos das duríssimas batalhas que teve que travar para prover o Brasil de uma indústria petrolífera independente.

O governo de Getúlio Vargas, o qual era a­cu­sado de “não perfurar e não deixar que se perfure” proibiu “O Es­cân­dalo do Petróleo” e mandou re­colher todos os exemplares disponíveis, naquilo que seria o primeiro lance da longa sequência de escândalos envolvendo o ouro negro brasileiro, que prosseguem até os dias de hoje.

Entre 1932 e 1935, duas companhias passaram a atuar no Brasil: a Companhia Petróleo Nacional, que funcionava em Riacho Doce, Alagoas, e a Companhia Petróleos do Brasil, instalada no campo de Araquá, hoje Águas de São Pedro, no interior de São Paulo. Ainda assim, não se extraía petróleo do subsolo brasileiro. Ao menos não oficialmente.

Em 1932, o país consumia cerca de 12.000 barris por dia e em 1938, exigia a importação de 38.000 barris diários.

Com o objetivo de remover obstáculos e embaraços ao racional aproveitamento das riquezas do subsolo e de assegurar as iniciativas privadas nos trabalhos de pesquisa e lavra, em 1934 o governo federal promulgou o novo Código de Minas, que regulava a propriedade das jazidas do subsolo. A legislação, porém, ao definir empresas nacionais como “sociedades organizadas no Brasil”, sem restrição de nacionalidade dos acionistas, possibilitava que companhias estrangeiras fossem até proprietárias de empresas nacionais.

Monteiro Lobado criticou duramente e abertamente o Código de Minas de 1934. Em especial com a exigência de nacionalidade brasileira para a pesquisa e para a lavra das jazidas minerais, apelidou-o de “lei cipó”.  Ele julgava necessária a diferenciação entre acordo e entreguismo. Ele cobrava que Getúlio Vargas priorizasse os interesses do Estado brasileiro, inclusive em longo prazo.

Em março de 1934, o DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) foi criado.  O órgão passou a comandar as iniciativas de pesquisa de petróleo em território brasileiro.  Nesse mesmo ano, foi contratado o técnico americano Victor Oppenheim, conhecido e renomado geólogo da época vinculado à Standard Oil, o maior truste petrolífero norte-americano, para operar pesquisas em solo brasileiro.

Os primeiros boletins divulgados pelo DNPM, afirmavam que a região de S. Pedro, no estado de S. Paulo (poço São João do Araquá, cuja exploração se dava pela Companhia Petróleos do Brasil, de Monteiro Lobato), assim como, em Alagoas, em um poço explorado pela Companhia Petróleo Nacional, outra empresa de Lobato, e ainda na localidade de Lobato, na Bahia, eram positivamente desfavoráveis à presença de hidrocarbonetos, do ponto de vista da geologia de petróleo,

Primeiro poço produtor de petróleo no Brasil na cidade de Lobato na Bahia. 1938. Fonte: Acervo CPDOC FGV

Mas em 1939, contrariando os laudos do DNPM, o petróleo brotou no bairro de Lobato, em Salvador, na Bahia. Apesar da descoberta do primeiro poço de petróleo brasileiro ter ocorrido no bairro de Lobato, em Salvador (Bahia), esse nome nada tem a ver com o criador do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.

Nessa época, o jornal “A Nação” publicou: “Durante longas datas, a existência de petróleo no Brasil foi uma questão morta”.

Em janeiro de 1939, o jornal “A Noite”, reportou as notícias que vieram a encher de júbilo todos os brasileiros: “O óleo de combustível jorrava pelo furo da sonda, com tal violência que ameaçava desmontar a perfuradora”. Nesse mesmo mês, o mesmo jornal, trazia a manchete “Romaria ao local da jazida”. De acordo com a reportagem, a empolgada multidão fazia “questão de levar um frasco com amostra do petróleo”.

Infelizmente, ao final de 17 poços perfurados, em quatro anos de atividades, apenas sete apresentaram óleo. O poço responsável pela descoberta rapidamente perdeu vazão e o campo foi considerado subcomercial.

Primeiro poço comercial produtor de petróleo no Brasil - Candeia/BA.
Fonte: CandeiasBrasil

Finalmente, no ano de 1940, o primeiro campo comercial foi descoberto na bacia do Recôncavo, no município de Candeias/Ba.

O certo é que com admirável sentido de luta, Monteiro Lo­ba­to conseguiu sacudir o Brasil de alto a baixo, apontando ao povo brasileiro os caminhos de sua emancipação econômica, lutas que se aprofundariam após a sua morte e que redundaram na fundação da hoje Petróleo Brasil S/A (Petrobras).

No dia 2 de julho de 1948, Monteiro Lo­ba­to concedeu à rádio Record aquela que se­ria a última entrevista de sua vida, a qual encerrou com as palavras: “O Pe­tróleo é Nosso”! Dois dias após, “O Repórter Esso”, na voz de He­ron Domingues, anunciou a morte de um grande brasileiro, desses que surgem poucos a cada geração: “E a­gora uma notícia que entristece a todos: acaba de falecer o grande es­critor e patriota Monteiro Lobato!”.

Entre 1945 e 1950, o abastecimento de derivados de petróleo importados no Brasil começava a pressionar de forma crescente as reservas cambiais do país. A importação de derivados de petróleo em 1948 chegou a representar 44% do valor de todas as matérias-primas importadas pelo Brasil.

Em 1950 o valor que o país pagava pela importação de petróleo bruto era US$ 200.000 e equivalia ao que o país arrecadava com toda a exportação de café.

 A campanha pela autonomia brasileira no campo do petróleo foi uma das mais polêmicas da história do Brasil republicano, de 1947 a 1953 o país dividiu-se entre aqueles que achavam que o petróleo deveria ser explorado exclusivamente por uma empresa estatal brasileira e aqueles que defendiam que a prospecção, refino e distribuição deveriam ser atividades exploradas por empresas privadas, estrangeiras ou brasileiras

 Os nacionalistas argumentavam que se o Brasil não criasse uma empresa estatal, fatalmente aquele produto estratégico para o desenvolvimento econômico, seria oligopolizado pelas grandes corporações internacionais, pela Standard Oil, Shell, Texaco, Mobil Oil, Esso, etc... e que desta forma o país se veria refém daquelas grandes companhias.

 No dia 3 de outubro de 1953, Vargas sancionou a Lei nº 2.004. Estava criada a maior empresa nacional da história, a Petróleo Brasileiro S.A – Petrobras.


Getúlio discursa, observado por Café Filho (atrás dele) e pelo deputado Tancredo Neves (à direita de Café) durante solenidade de assinatura do decreto de criação da Petrobras. Fonte Memorial da Democracia
Fonte: Memorial da Democracia

 Depois de Guaricema, ocorreram outras descobertas no litoral do Nordeste: em 1970, os campos de Caioba, Camorim, Robalo e Dourado, em Sergipe; em 1973, Ubarana, no Rio Grande do Norte.

Plataformas geminadas - Campo Ubarana litoral do Rio Grande Norte
Plataforma de Concreto (PUB-02) navegando para costa potiguar nos anos 70. Foi construída em Ponta de Laje na Baia de Aratu - Bahia

Em 1968, o petróleo existia em grande quantidade e a baixo preço no exterior, e a política governamental de autossuficiência petrolífera foi deixada de lado. A ordem passou a ser comprar petróleo onde fosse mais barato. A partir desse ano, a produção nacional estaciona e o consumo cresce. A importação do Petróleo trouxe sérias consequências para o país, entre elas, o aumento da dívida externa.

Na década de 1970 quando ocorreu as duas “Crises do Petróleo”, a primeira em 1973 e a segunda em 1979, a explosão do preço do barril de petróleo provocou o colapso econômico, encerrando inclusive o chamado “Milagre Econômico Brasileiro”.

Fonte: Revista Veja
Crise Petróleo.
Fonte: Matiz Jeocaz Lee Meddi

Em 1972 o Brasil importava 80% do petróleo que consumia e a produção interna de petróleo atendia apenas 23.5% da demanda aparente.    

 A partir de 1973, os preços do barril de petróleo foram elevados de US$ 2,90 para US$ 11,65/barril. Na ocasião, a Petrobras produzia apenas 169 mil barris de petróleo/dia e as importações ultrapassavam 1 milhão de barris diários.

Em 08/12/1973, o jornal O Estado de São Paulo, apresentou a seguinte manchete: “Petrobras fará apelo para poupar gasolina”.

Fonte: Info Escola
Fonte: Revista Quatro Rodas

Esse aumento provocou impacto negativo da conta do petróleo sobre as reservas cambiais, com repercussões na economia, como por exemplo: redução das taxas de crescimento econômico, agravamento do processo inflacionário, crescente drenagem de moedas fortes para os países produtores de petróleo e a mudança inesperada na estrutura econômica.

O valor das importações de petróleo em 1974 superou o de todas as exportações de produtos manufaturados feitas pelo Brasil.  Em consequência de seu déficit comercial o país teve que aumentar sua dívida externa e reduzir suas reservas internacionais.

A dívida externa brasileira subiu de 4.4 bilhões de dólares em 1969 para 12.6 bilhões em 1973, e de US$ 17,2 bilhões em 1974 para US$ 43,5 bilhões em 1978.

No apagar do ano de 1974, finalmente, a primeira descoberta importante aconteceu no mar: o Campo de Garoupa, na Bacia de Campos. Tendo a produção de petróleo iniciada em 1977.  Garoupa é considerado o marco da exploração de petróleo em alto-mar, iniciada em 1968 no campo de Guaricema, no Sergipe.

Plataforma no Campo de Guaricema.
Fonte: Agencia o Globo
Plataforma no Campo de Garoupa.
Fonte: Revista Petro&Quimica

Superando as expectativas contrárias da época, a Petrobras descobriu ainda petróleo em diversas bacias sedimentares terrestres brasileiras, como nas bacias do Recôncavo, de Sergipe, de Alagoas, Potiguar e do Solimões.

Exploração na Bacia Potiguar.
Fonte: Revista Petro&Quimica

Em 1975, foi descoberto na Bacia de Campos o Campo de Namorado, o primeiro gigante da Plataforma Continental Brasileira. Em 1976, o campo de Enchova.

Os problemas relacionados com o balanço de pagamentos levaram o Governo a considerar a possibilidade de rever a legislação do petróleo de modo a aumentar a produção interna. Isso levou a aceitação em outubro de 1975 dos chamados contratos de serviço com cláusula de risco.

Nos 14 anos de vigência dos contratos de risco (1975-1988), foram celebrados 243 acordos com as 35 maiores e mais experientes empresas estrangeiras, que tiveram à disposição mais de 80% das bacias sedimentares brasileiras.

No período 1977-1989, elas investiram US$ 1,1 bilhão, dos quais apenas US$ 350 milhões no Brasil, O saldo destinou-se ao pagamento de equipamentos e mão-de-obra no exterior. No mesmo período, a Petrobras aplicou US$ 26 bilhões, ou seja, quase 80 vezes mais.

As multinacionais perfuraram apenas 205 poços, contra 9.770 concluídos pela Petrobrás. Afora uma pequena ocorrência não comercial de gás na Bacia de Santos, de economicidade duvidosa, identificada pela Pecten e consorciadas, as companhias estrangeiras não descobriram nada. Em razão do fracasso, os contratos foram proibidos pelos constituintes de 1988, quase por unanimidade. Na mesma área, em local distante apenas 1.500 metros de poço perfurado pelas multinacionais, a Petrobras encontrou óleo que deu origem ao Campo de Tubarão e, posteriormente, Estrela do Mar, Coral e Caravela.

No mesmo período, a Petrobras mais que quadruplicou a produção brasileira de óleo e gás equivalente, elevando-a de 169 mil barris em 1975 para 700 mil em 1989. Porém, em 1978, ocorreu nova crise. Desta vez o preço internacional quintuplica. A Petrobras volta a investir na prospecção de jazidas petrolíferas a fim de diminuir nossa dependência externa em relação a esta fonte importantíssima de matéria – prima.

As novas descobertas da Petrobras aumentavam exponencialmente. O Brasil produzia 14% do petróleo que consumia, número que passou a 50% em 1985.

O primeiro grande campo descoberto em águas profundas do País, ocorreu em 1984, e foi chamado de Albacora. Mais tarde, surgiram outros campos gigantes, como Marlim, Roncador, Barracuda e Caratinga. Além desses, também de grande porte, foram descobertos na parte norte da bacia, já no estado do Espírito Santo: Jubarte e Cachalote, na área que ficou conhecida como "Parque das Baleias". Em 1984 a produção nacional era cerca de 500 mil barris por dia.

Fonte; Agencia O Globo

Em 12/10/1986 apenas sessenta e duas pessoas presenciaram o momento em que o petróleo jorrou pela primeira vez na Amazônia, no campo de Urucu. Situado no município de Coari, a cerca de 650 quilômetros de Manaus. Grande desafio. A aventura pura, estilo Indiana Jones mesmo. Todo transporte de material e de pessoas era feito pelo Rio Urucu. Os equipamentos, máquinas, tratores e sondas eram desmontados e carregados pelo meio da mata fechada e enlameada nas costas. Desmontava-se tudo, colocava-se tábuas para reduzir os atoleiros e, em meio as clareiras que eram abertas, se montava tudo de novo. Não era incomum as equipes encontrarem onças, cobras e todo tipo de animal. Não podemos deixar de exaltar o desafio de produzir petróleo com respeito ao meio ambiente e redução dos impactos da atividade sobre a região.

Campo de Urucu em plena Selva Amazônica.
Fonte: AM Post

Em 1997, a Petrobras chegou a 1 milhão de barris produzidos por dia. No ano de 2006 finalmente atingimos a 2 milhões de barris produzidos por dia, o que significava dizer que a produção desse recurso no país, pela primeira vez, era igual ou maior do que a demanda interna para a sua utilização.       A expertise da Petrobras em águas profundas foi fundamental para vencer o desafio tecnológico da extração de petróleo no Pré-sal.

Separação do Continente Gondwana
Fonte: Pangea_animation

O Pré-sal é uma sequência de rochas sedimentares formadas há mais de 100 milhões de anos, no espaço geográfico criado pela separação do antigo continente Gondwana. Na separação formou-se a América Sul e a África.

O Pré-sal descoberto no Brasil constitui uma grande reserva petrolífera e de gás natural localizada em áreas profundas do oceano, abaixo de uma camada de sal que atualmente chega a 2 mil metros de espessura. Essa reserva situa-se em uma área de três bacias sedimentares: Bacia de Santos, Bacia de Campos e Bacia do Espírito Santo.

Os primeiros indícios de petróleo no Pré-sal ocorreram em agosto de 2005, na Bacia de Santos, próximo a Parati. Ainda em caráter experimental, ou seja, para verificar a qualidade do óleo extraído que acabou sendo de boa qualidade.

Todo esse trabalho foi consolidado no dia 15 de julho de 2010, quando a Petrobras deu início à produção comercial do Pré-sal, campo de Baleia Franca, na Bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo. Produzindo 13.000 barris de petróleo dia.

Plataforma da Petrobras no pré-sal da área de Parque das Baleias, no Espírito Santo. Foto: Steferson Faria / Agência O Globo

O Pré-sal brasileiro ao apresentar um grande volume de petróleo, qualidade do óleo, alta produtividade dos poços produtores e alta índice de sucesso nas perfurações, possibilitou a redução do custo de produção com o aumento gradativo da explotação dos reservatórios, a ponto do custo de produção do barril de petróleo no Campo de Búzios na Bacia de Santos ter atingido US$ 4 em 2020.

Importante ressaltar, que a Shell chegou perto de descobrir o Pré-Sal, todavia não quis correr o risco financeiro para enfrentar o risco geológico, tendo em vista os poços serem muito caros, um poço custava US$ 240 milhões. Neste momento a Petrobras fez a diferença tendo em vista seu compromisso com o desenvolvimento nacional.

Com todo esse histórico de dificuldades, é impressionante como uma parte da imprensa brasileira ainda é capaz de distorcer a realidade dos fatos. Talvez por interesses pessoais ou “coletivos”, como podemos constatar através de artigos publicados na mídia brasileira.

Dois anos após a descoberta de Pré-sal, Carlos Alberto Sardenberg publicou artigo afirmando que o Pré-sal existia só na propaganda do governo.

Em 2009, Miriam Leitão reconheceu a existência do Pré-sal, mas foi categórica ao afirmar que a Petrobras não tinha tecnologia para extrair petróleo em águas tão profundas. Precisaria do apoio de empresas estrangeiras.

A mesma jornalista, em 29/10/2010, escreveu o artigo “Além do Arco-Íris”, e citou: “É falsa a ideia de que o Pré-sal é a solução mágica que garante o futuro. O governo faz confusão proposital quando o assunto é petróleo”. O Pré-sal invenção brasileira é uma distorção de marketing inventado pelos políticos do governo com apoio dos ideólogos da Petrobras e da ANP”.

O Globo, em seu editorial de 20/12/2015, destila ódio contra a Petrobrás: “O Pré sal pode ser patrimônio inútil”. Todavia, em 16 setembro 2018, O GLOBO publica em um dos seus editoriais: “Doze anos após sua descoberta, o Pré-sal brasileiro se tornou a fronteira petrolífera mais atraente do mundo”.

No final de abril de 2016, Carlos Alberto Sardenberg, com maestria de picadeiro, retrata a situação: “Quebraram a estatal. Ou ela faz um acordo judicial ou vai precisar de aportes do governo”. Nunca mostrou um número sequer (mesmo porque eles não existiam), e o Brasil inteiro acreditou (e, incrivelmente, até hoje acredita). A mentira virou verdade.

Fonte: TiberioGeo

Em 2018, Fernando Morais em seu Blog NOCAUTE, escreveu:  Pré-sal: o “patrimônio inútil” agora vale ouro. Pois é o Pré-sal é a maior descoberta petrolífera no mundo contemporâneo e já responde por 70% da produção nacional de petróleo. 

Enquanto a imprensa brasileira fazia uma cobertura superficial e tendenciosa adotando um tom de fofoca, com críticas rasas e sem fundamento sobre o Pré-sal, a mídia estrangeira publicava matérias consistentes e detalhadas, destacando a importância do Pré-sal para o Brasil e para a indústria petrolífera mundial e até comemorando a conquista. O The New York Time em um dos seus editoriais, enfatizou a “mudança nacionalista” do País, que fortalecia a atuação estatal da Petrobras na exploração da camada.

Fonte: Geopolitica do petroleo

Interessante, como a mídia brasileira em determinados momentos, acerca do Pré-sal, conseguiu influenciar pesadamente o pensamento de muitos brasileiros. Alguns amigos chegaram a me perguntar se esse negócio de Pré-sal era mesmo verdade. Parecia aquela dúvida que até hoje muitos ainda têm sobre a ida do homem à Lua. Tem gente que não acredita. Realmente, explorar petróleo a 300 km distante da costa, com lâmina d’água atingindo 2.200 m de profundidade e os reservatórios chegando a 5.000 m abaixo do leito marinho, incluindo uma camada de sal de aproximadamente 2.000 m de espessura, pode ser comparado a complexidade de chegar à lua.  

Desde as primeiras descobertas em águas profundas, na Bacia de Campos, nos anos 70, até chegar à nova fronteira exploratória do Pré-sal, foi necessário trilhar numa longa jornada tecnológica. Tecnologias foram aprimoradas e novas tecnologias desenvolvidas com participação diversas áreas técnicas da Petrobras, incluindo o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Miguez (Cenpes), de fornecedores, operadoras, de estudiosos e pesquisadores de universidades e centros de tecnologias.

Com certeza, a descoberta dessas extensas reservas de petróleo e gás ao longo da costa sudeste do Brasil, em 2006, representou um novo capítulo na história do petróleo mundial e principalmente do Brasil. Atualmente a produção de petróleo do Brasil, totaliza 3.045.000 bbl/dia, sendo que o Pré-sal totaliza 2.221.126 bbl/dia, correspondendo a 73% do petróleo explorado (dados apresentados no Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natura da Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e BioCombustíveis de 31/08/2021).

Campo de Tupi.
Fonte: Petrobras

Fico pensando como estaria a economia do Brasil sem o Pré-Sal. Talvez, sem o Pré-sal, estaríamos na mesma situação da década de 70, onde o Brasil era um grande importador de petróleo com reflexo significativo na sua economia e crescimento.

Fonte: Jornal O Globo

Acredito que podemos denominar de “Bandeirantes do petróleo” os trabalhadores brasileiros que escreveram e continuam escrevendo a história do petróleo brasileiro com muita luta e dedicação, e principalmente com a consciência, que o “Petróleo é Nosso”.

Fonte: IBP
Monteiro Lobado.
Fonte: Dialogo do Sul

Em 1º de maio de 1935, Monteiro Lobado escreveu uma carta para o engenheiro de perfuração Charles Frankie, imigrado da Suíça em 1920, lamentando a ignorância de deputados e senadores sobre a questão do petróleo. Dizia ainda que: “O livro [Luta pelo Petróleo] é que vai abrir os olhos dessa gente, mostrando a significação do petróleo. Ninguém sabe. Este país é uma burrada imensa…”.

Sem sombra de dúvida, Monteiro Lobato foi um dos homens mais íntegros e corajosos que já viveram neste país, um intelectual “à moda antiga”, daqueles que passados quase um século a nossa pobreza ética e intelectual ainda se ressente.

12/10/2021

O vírus da saúde brasileira

Fonte: Manaus Olimpica

O livro “Subsídios para o estudo de problemas brasileiros” (1979) de autoria do professor Eurivaldo Tavares, no capítulo Saúde – Diagnóstico e Diretrizes, faz um raio X dos problemas da saúde no Brasil da época, evidenciando o enorme déficit de médicos, de enfermeiras e de leitos hospitalares, além do alto custo da medicina e dos produtos farmacêuticos. Além disso, complementa: “Os profissionais da medicina, além de poucos, são mal distribuídos, muito sofrendo o interior do país. Mais da metade dos municípios brasileiros não tem um só médico. De modo geral, os médicos recém-formados não são inclinados a se deslocarem para o interior...”.  Alguma semelhança com o sistema de saúde no Brasil dos tempos atuais?

Voltando ao Brasil-Colônia, lembramos que o território brasileiro era ocupado unicamente por povos indígenas que já tinham algumas enfermidades, mas a colonização portuguesa trouxe diversas outras comuns na Europa, que não existiam por aqui. Isso causou um grande problema de saúde entre a população, já que os nativos não tinham imunidade para combater determinadas enfermidades; como consequência, milhares deles morreram. Como não existia infraestrutura na área de saúde, quem precisava buscar auxílio geralmente recorria aos pajés, curandeiros, boticários ou barbeiros.

No Brasil colonial, eram os curandeiros e barbeiros que proporcionavam atendimento de saúde aos menos favorecidos (Fonte: Scielo)

Com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, o Brasil começou a receber mais investimentos em infraestrutura. Foram criados os cursos de Medicina, Cirurgia e Química.

Em 1822, D. Pedro I declara a independência brasileira com relação a Portugal, bradando: “Independência ou morte!”  Relacionando o bordão com saúde pública, pode-se dizer que houve avanços durante o período Imperial – de acordo com o Dr. Drauzio Varella, pouco eficazes.

Na realidade, durante os 389 anos de duração da Colônia e do Império, pouco ou nada foi feito com relação à saúde. Não havia políticas públicas estruturadas, muito menos a construção de centros de atendimento à população. O acesso aos tratamentos e cuidados médicos dependia da classe social: pessoas pobres e escravos viviam em condições duras e poucos sobreviviam às doenças que tinham. As Santas Casas de Misericórdia foram, durante décadas, a única opção de acolhimento e tratamento de saúde para quem não tinha dinheiro. As pessoas nobres e colonos brancos, que tivessem terras e posses, tinham maior facilidade de acesso aos médicos e remédios da época.


Igreja da Misericórdia de Porto Seguro, fundada na primeira metade do século 16 pela primeira Irmandade da Santa Casa da Misericórdia do Brasil, que também fundou o primeiro hospital. Atualmente é o Museu de Arte Sacra de Porto Seguro, com imagens do século 16 (Fonte: Guia Geográfico História do Brasil)

Com a instauração da Republica do Brasil, em 1889, o Pais continuava sofrendo com epidemias e falta de saneamento básico. A cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico, caracterizado pela presença de diversas doenças graves que acometiam à população, como a varíola, a malária e a febre amarela.

Fonte: Biblioteca Nacional

Na era do Estado Novo (Era Vargas) poucas foram as investidas no setor da saúde pública, podemos citar a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública (1930) e o fortalecimento do Instituto Oswaldo Cruz, como referência nacional no controle epidemias e endemias.

É importante destacar a implantação da Lei Eloy Chaves, estabelecida pelo Decreto Legislativo 4.682/1923, que criou as chamadas Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) para os empregados ferroviários. Depois estendida para empregados dos serviços de força, luz, bondes, mineração, para os telegráficos e portuários.  As CAP’s concediam aos trabalhadores associados ajuda médica, aposentadoria, pensões, para dependentes e auxílio funerário.  O Decreto n° 20.465/1931, estendeu o Regime da Lei Eloy Chaves aos empregados dos demais serviços públicos concedidos ou explorados pelo Poder Público Federal. É considerada a primeira lei de previdência social.

Posteriormente, as CAP’s existentes a época foram reunidas nos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), organizados pelo Estado, como autarquias federais, por categoria profissional, surgindo, assim, uma previdência social de abrangência nacional. Todavia, a unificação dos IAP’s só ocorreu em 1977, por meio do Decreto-Lei nº 72/1966, após a criação do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS).

Infelizmente, durante o regime militar, a saúde sofreu cortes orçamentários e muitas doenças voltaram a se intensificar. Em 1970, apenas 1% do orçamento da União era destinado para a saúde. Em 1977 foi criado o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) que era ligado ao Ministério da Previdência e Assistência Social, e fornecia atendimento com uma ressalva: só eram atendidas as pessoas que tinham carteira assinada e contribuíam para a Previdência. O Inamps entra em declínio no final dos anos 1980, por pressão de movimentos por uma reforma sanitarista no País e por constituir um sistema, cuja conta não fechava: arrecadação não cobria os gastos.

Em setembro de 1990 tivemos a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS). Na Constituição de 1988 ficou definido que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. A frase define a ideia de qualquer pessoa pode ir a uma unidade básica de saúde ou a um hospital público e receber atendimento de graça. O sistema brasileiro foi inspirado no britânico, o NHS (Nacional Health Service). O SUS não é apenas atendimento médico, mas também vigilância em saúde e fornecimento de medicamentos.  

O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma das maiores conquistas da população brasileira (Fonte: APUBH)

O SUS é o único sistema público de saúde do mundo que “atende uma população com mais de 200 milhões de pessoas” gratuitamente, universal (para todos) e financiado pelo dinheiro dos impostos. Dos países reconhecidos por possuírem sistema de saúde público e universal, como Reino Unido, Canadá, Dinamarca, Suécia, Espanha, Portugal e Cuba, nenhum tem população superior a 100 milhões de habitantes. Nos EUA não há sistema universal de saúde – é necessário pagar para ter atendimento ou remédios. O governo subsidia planos de saúde para alguns grupos específicos, como idosos ou pessoas de baixa renda – no entanto, mesmo para eles o atendimento e os remédios não são de graça. Na China, o sistema público de saúde não é gratuito, já que existem os seguros de saúde públicos e os privados.

Pelo que evidenciamos, apesar de inúmeras conquistas e avanços em sua história, o sistema saúde pública no Brasil continua enfrentando diversos problemas. O saneamento básico ainda é precário em várias regiões do Brasil. Temos retorno de doenças consideradas erradicadas ou controladas há muito tempo. Em muitos hospitais faltam leitos, principalmente quando trata-se de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Além de que é comum a grande espera para atendimento. O mesmo acontece com a marcação de exames. Ressaltamos ainda que, a concentração e distribuição de médicos pelo território brasileiro é bastante desigual.

Fonte: SOU + SUS
Fonte: SOU + SUS
Fonte: SOU + SUS

Todavia entendo que nosso SUS (Sistema Único de Saúde) foi uma das grande conquista da população brasileira, sendo reconhecido como um dos maiores do mundo e usado como modelo em muitos outros países. Entretanto, sofre desafios do mau gerenciamento e a insuficiência de investimentos financeiros. No Orçamento Público aprovado para 2020, que totaliza R$ 3,6 trilhões, foi destinado apenas R$ 125,6 bilhões para a Saúde. Isso corresponde à 3,5% do total, enquanto que a média mundial é de 11,7%. Atualmente, 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS, o restante da população utiliza a saúde privada.

Fonte: SOU + SUS

Durante esta pandemia do coronavirus ficaram ainda mais evidentes alguns dos problemas do sistema de saúde do Brasil. Como por exemplo: a falta de profissionais, leitos, aparelhos, etc. Inclusive a atitude de nossos políticos. Talvez estes sejam o grande vírus da saúde brasileira.

“Um país onde falta saúde, educação, segurança e ainda pagamos os impostos mais altos do mundo, precisa ser repensado.” Marcos Ferreira.

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12/10/2021

Quando vamos revogar a “Lei de Gérson”?

Fonte: Acarlosoliveira

O Filósofo Sócrates (470-399 a.C) foi condenado a beber veneno por acusação de corromper a juventude, não honrar os deuses da cidade e violar as leis. Ele dizia: “Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são”.

A maior investigação criminal sobre corrupção no Brasil (Lava Jato), derrubou, dentre tantos outros, um dos mitos mais aceitos pelo ingênuo senso comum: o de que os responsáveis pela corrupção são apenas os funcionários e agentes do demoníaco Estado, destacando-se os políticos. Os números e as provas, demonstram que muitas fortunas (boa parcela delas) foram construídas por força da compra de favores e privilégios junto ao poder público. A corrupção jamais se tornaria sistemática nas proporções a que chegou sem a participação efetiva, a conivência e o estímulo dos agentes do mercado (econômico e financeiro). É praticamente impossível medir a proporção de efetividade de cada parte (Estado e mercado) na medonha corrupção brasileira.

A corrupção no Brasil tem se transformado numa espécie de luta dos bons contra os maus. Corrupto é sempre o outro. Temos que lembrar que é um ato corrupto quando alguém desafia a honestidade e ganha vantagem em cima de outra pessoa. Parar em fila dupla é corrupção também. “Quem é que garante que quando você para em uma fila de mão dupla não vai prejudicar alguém que está em estado grave numa ambulância?”. É honesto o cidadão pegar atestados médicos sem estar doente ou saquearcargas de veículos acidentados nas estradas?

As práticas designadas como corruptas e corruptoras não são idênticas, elas sofrem uma variação significativa no tempo e espaço, isto é, o fenômeno possui uma dimensão legal, histórica e cultural. No Brasil, em razão do nosso passado colonial, isso ficou bem evidente.

Segundo os historiadores, a corrupção chegou ao Brasil com as caravelas portuguesas. Para estimular um fidalgo português a deixar o conforto da Corte e se aventurar no território selvagem recém-descoberto, a coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância, para não abrir mão do Brasil. A concessão de cargos foi o mecanismo usado por Portugal para garantir seu domínio e explorar as riquezas da nossa colônia. Esses cargos trariam não somente prestígio social, mas, principalmente, vantagens financeiras.

Ressaltamos ainda o estimulo da coroa portuguesa para pessoas irem para o interior, dizia: “vão para o interior e podem mandar à vontade por lá”. Esses locais só eram acessíveis após meses de caminhada, o que exigia ainda mais “incentivos” para os “fidalgos-desbravadores”.

A escravidão também contribuiu para o desenvolvimento da corrupção no país. Isso porque era a única relação de trabalho existente, deixando o trabalho livre sem qualquer tipo de norma para regê-lo. A corrupção encontrou, desta maneira, em solo brasileiro, condições propícias para sobreviver e se difundir na cultura de novo país durante a sua formação. Propinas a governantes e funcionários reais era uma prática tolerada e até regulamentada por lei.

D. João VI, nos oito primeiros anos em terras brasileiras, distribuiu mais títulos de nobreza do que em 700 anos de monarquia portuguesa. O historiador Pedro Calmon uma vez disse que, para ganhar título de nobreza em Portugal, eram necessários 500 anos, mas, no Brasil, bastava 500 conto. O Banco do Brasil foi fundado e refundado várias vezes. A primeira delas foi em 1808, por Dom João VI. Ao voltar para Portugal, em 1821, Dom João VI pegou todo o dinheiro depositado no banco.

Os populares santos de pau oco são mais representativos da contradição entre a fé e cobiça do que da prática do contrabando de ouro e diamante. Fonte: Revistadehistória

O famoso “jeitinho brasileiro” já era notado nessa época. Basta lembrar da famosa expressão “Santo do pau oco”. Pedras preciosas e ouro eram contrabandeados para a Europa, dentro de imagens de santos católicos para escaparem dos altos tributos. Nem a padroeira do Brasil escapou da corrupção. Entre a colônia e o Império, a devoção a Nossa Senhora Aparecida foi explorada e doações foram surrupiadas. Durante o Império, padres foram afastados pela Coroa e civis foram nomeados para comandar a diocese e usufruir do poder político.,

No primeiro Reinado, a Marquesa de Santos, amante de Dom Pedro I, cobrava dinheiro para fazer indicações a cargos públicos. O imperador, segundo jornais da época, era suspeito de estar envolvido. O jornalista Borges da Fonseca chamava D. Pedro I, ironicamente, de ‘Caríssimo`, não por considera-lo um ‘Prezado` monarca, mas em referência às enormes verbas que a Casa Imperial consumia dos cofres público”.

 “Quem furta pouco é ladrão, quem furta muito é barão e quem furta e esconde passa de barão a visconde” (adágio do século 19). Uma indicação da permanente suspeita de corrupção no Império.

Durante o reinado de D. Pedro II, Ângelo Agostini, um importante cartunista da época, desenhou ratazanas gordas usurpando do Tesouro Nacional. A casa Imperial também possuía grandes verbas, como o chamado “Bolsinho do Imperador”, de caráter pessoal, do qual o monarca era dispensado de prestar contas. Cartão Corporativo da época.



A charge acima, publicada na revista Ilustrada, mostra os ratos que comiam o Tesouro Nacional (Segundo Reinado). Um detalhe curioso para os paranaenses: dois ratos levantam suspeitas sobre a construção da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá e da obra do ramal ferroviário para Antonina (Fonte: Gazeta do Povo)

Com a proclamação da república (1889), cenário de corrupção pouco mudou. Fontes históricas sugerem, por exemplo, a continuidade da prática de pagamentos de propina, como no caso de concessões para construção de ferrovias durante a Primeira República.

Fonte: HH Magazine

Na República Velha não tínhamos sequer eleições para valer. O que tínhamos era o regime “café com leite”, o regime dos governadores, onde os governadores se reuniam e decidiam: “Essa é a vez daquele, aquela é a vez do outro”. Destacamos ainda o “voto de cabresto”, em que os coronéis locais determinavam em quem os eleitores tinham de votar. No dia da eleição o votante ganhava um pé do sapato e somente após a apuração das urnas o coronel entregava o outro pé. Caso o candidato não ganhasse o eleitor ficaria sem o produto completo.

A expressão “mar de lama” foi popularizada na segunda gestão do governo Getúlio Vargas. O Inquérito do Branco Brasil, Cexim (antigo CACEX) e Jornal Última Hora, foram três casos de corrupção envolvendo órgãos e agentes do governo, que contribuíram por fixar certa concepção social do que seja corrupção na sociedade brasileira nos anos 50.

O Regime Militar (1964) se firmou sob o pretexto de lutar contra a subversão e a corrupção porém não estava imune à corrupção. Embora não haja nenhuma denúncia de corrupção envolvendo diretamente os generais-presidentes, muitos outros militares e civis foram alvo de denúncias durante o regime. Mais de 1.100 processos foram instaurados pela Comissão Geral de investigações, ligado ao Ministério da Justiça, mas desse montante apenas 99 casos chegaram ao fim, com o confisco de bens aos envolvidos. Como a imprensa era censurada, muitos escândalos nem sequer chegavam aos jornais.



Fonte: Brasilefragilrepublica

Em 1974, o “Pasquim”, deu uma “cutucada” e publicou uma foto da ponte Rio-Niterói, com uma legenda mais ou menos assim: “Ilusão de ótica: onde vocês veem uma ponte, são onze pontes”.

Segundo a pesquisadora Heloísa Starling, o Presidente Castello Branco descobriu depressa que esconjurar a corrupção era fá­cil; prender corrupto era outra con­versa: “O problema mais grave do Brasil não é a subversão. É a corrup­ção, muito mais difícil de caracteri­zar, punir e erradicar”.

A redemocratização não impediu que o país continuasse a ser palco de grandes escândalos de corrupção. Afloraram principalmente por três fatores: maior liberdade de imprensa (sem censuras dos governos), atuação mais energética do Ministério Público e Promotores de Justiça e maior participação da população na política. O ex-presidente Fernando Collor sofreu impeachment em 1992 por denúncias de que tinha suas despesas pagas por meio de um esquema de corrupção. Anos depois, a emenda constitucional que garantiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso foi alvo de outra grande suspeita: os votos favoráveis no Congresso teriam sido comprados. Em 2005, o governo Lula foi palco do escândalo do mensalão. Pouco depois veio a Lava Jato, que criou a pressão popular para o impeachment de Dilma Rousseff. Ressaltamos ainda os escândalos corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (RJ), do ex-presidente da Câmara Deputado Eduardo Cunha e outros políticos.

Pelo exposto, evidenciamos que as práticas que vemos hoje na política brasileira já remontam ao século XVI. O sistema político brasileiro (com raríssimas exceções) sempre foi um balcão de negócios e predominantemente um escritório de gerenciamento dos interesses das classes dominantes. Não devemos esperar que a corrupção seja suprimida da noite para o dia. A atitude de conformismo, passividade e alienação do cidadão alimenta a proliferação de maus políticos. Precisamos urgentemente, mudar nossos valores e atitudes. Vamos revogar a “Lei de Gérson”. Chega de levar vantagem em tudo!

Em meados dos anos 70, em pleno regime militar e o Brasil tricampeão mundial de futebol, um infame comercial de cigarro (Vila Rica) teve como garoto propaganda o nosso Gérson, o Canhotinha de Ouro, que protagonizou uma campanha publicitária e sem querer descreveu em uma frase o brasileiro e sua essência, Gérson finalizava o comercial dizendo: “gosto de levar vantagem em tudo”.

Quem não se comunica, se trumbica

Discoteca do Chacrinha foi um programa de variedades da televisão brasileira apresentado por Abelardo "Chacrinha" Barbosa em várias emissoras (Fonte: observatoriodatv)

O escritor e jornalista macauense (RN) Vicente Serejo, escreveu um artigo com o título “Vesgos”. Segundo ele, o fenômeno “vesgos” nasce de polarização que divide brasileiros e impede a visão correta do Brasil; os que apoiam candidato “A” não enxergam erros do seu candidato e os que apoiam o candidato “B” olham em seu candidato o exemplo da virtude. O efeito imediato é a vesguice, um verdadeiro vício “vesgueiro”, que acaba por fomentar uma visão política brasileira atual completamente distorcida, cheia de intolerância e sem limites, jogada num fosso profundo.

As recentes manifestações de rua, por todo país, reforçam o pensamento do jornalista Vicente Serejo. Podemos até entender a indignação e frustração do povo com os descaminhos da política, mas fazer manifestação pedindo intervenção militar e, pior, retorno do AI 5 (Ato Institucional 5) é desconhecer totalmente a história do Brasil. Acredito que a maioria destas pessoas nem eram nascidas na década de 60 e 70.  Há muito tempo ouvimos a frase: “O brasileiro tem memória curta!”. Vou mais longe, a memória do brasileiro não dura sequer seis meses.

Ao longo de mais de 150 anos, a postura do poder constituído frente às ideias dissonantes que emergiam da sociedade variou de uma repressão ferrenha à relativa liberalização, por vezes centrando fogo nas questões políticas, outras posicionando-se em defesa de uma suposta moral da família brasileira. 

A censura no Brasil, tanto cultural como política, ocorreu durante todo o período após a colonização do país. A imprensa brasileira, por exemplo, teve um nascimento tardio, como tardios foram o ensino superior, a própria independência política e a abolição da escravatura. As três primeiras tentativas de surgimento da imprensa no Brasil, tanto em Pernambuco (1706), Rio de Janeiro (1747) e Vila Rica – Minas Gerais (1807) foram suprimidas por ordem do governo português.

O objetivo da Coroa era manter a Colônia ainda em seu domínio, nas trevas e na ignorância. Era coibida toda e qualquer atividade de imprensa (jornais, livros ou panfletos). A Coroa proibia circular em seus territórios e suas colônias todas as obras de teor iluminista ou que criticassem a  Igreja Católica e a monarquia absolutista instituída em Portugal.

A Gazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornal publicado em território nacional. Começou a circular em 10 de setembro de 1808. Infelizmente, pouco mais de um mês depois, uma série de medidas renovou os dispositivos referentes à censura e à vigilância sobre os impressos. A situação da imprensa só se alterou em março de 1821, quando D. João ordenou por decreto a suspensão da prévia censura, mas sob a condição de que dois exemplares de cada impresso seriam obrigatoriamente remetidos ao Diretor de Estudos, para análise das provas que se tinham de cada folha na imprensa. Em 28 de agosto de 1821, D. Pedro alterou a Lei da Imprensa, determinando a liberdade de imprensa, porém foram caracterizados os chamados crimes de imprensa com punições.

A censura foi em tese abolida com a lei de imprensa de outubro de 1823, assinada por D. Pedro I. Esse decreto estipulou que nenhum escrito estaria sujeito a censura, mas não impedia que o imperador fizesse uso de outras prerrogativas para perseguir aqueles que o atacavam nos jornais.

Um fato interessante sobre D. Pedro I era que gostava de publicar artigos inflamados contra seus adversários no jornal “O Espelho”. Era considerado um jornalista panfletário, irreverente e polêmico. Utilizava vários pseudônimos: “Simplício Maria das Necessidades”, “O Inimigo dos Marotos”, “Derrete Chumbo a Cacete”, “Piolho Viajante”, etc.

A constituição brasileira de 1824 estabeleceu a liberdade de imprensa como norma, mas incluía limitações suficientemente vagas para aplicações de restrições e represálias.

Importante lembrar que o jornalista João Soares Lisboa, editor do Correio do Rio de Janeiro, foi o primeiro a defender, através da imprensa, a convocação de uma constituinte brasileira e a primeira pessoa processada no Brasil por abuso da liberdade de imprensa (1822), do mesmo modo que o jornalista Líbero Badaró foi o primeiro jornalista a ser assassinado no Brasil em virtude do que escrevia. Era um crítico em relação ao autoritarismo do Imperador e defensor de que a imprensa deveria ser tanto livre quanto responsável. Morreu em novembro de 1830, em consequência de um atentado a bala.

Do ponto de vista da liberdade de imprensa, o Reinado de Pedro II é incomparável, principalmente decorrente da postura tolerante do monarca frente às críticas escritas e ao deboche das caricaturas. Os jornais que pregavam a mudança da forma de governo nunca foram reprimidos por isso.

Com a proclamação da República (1889), ocorreu a volta aos tempos de cerceamento da liberdade e dos atos de violência, no início, sobretudo, contra os poucos jornais que se mantinham monarquistas, por parte de agentes e simpatizantes do governo.

No fim de 1889, surge a primeira lei de censura republicana, ou seja, a junta militar passa a ter o direito de processar jornalistas e puni-los. Ocorreu o fechamento de diversos jornais. Além da repressão, não foram poucos os casos em que recursos públicos foram utilizados para corromper jornais e jornalistas, em especial sob o governo Campos Salles (1898-1902).

No governo Arthur Bernardes (1923) foi criada a Lei de Imprensa Brasileira (lei de censura) para estabelecer limites de atuação da imprensa.

Um dos exemplos de censura mais conhecidos é o do Barão de Itararé. Em 1932, após mais de cinco anos de implacáveis sátiras à sociedade e à política em geral, Aparício é sequestrado e espancado por policiais da marinha, nunca identificados. O episódio não o fez abandonar seu ofício. Mantendo o espírito satírico, afixou o seguinte aviso na porta de seu escritório: “Entre sem bater”.

O nascimento do Estado Novo, em 1937 (Era Vargas), além de haver uma grande censura aos meios de comunicação, exilio e tortura de jornalistas e intelectuais que faziam críticas ao regime, foi também instituído uma espécie de culto à personalidade ao ditador Getúlio Vargas, semelhante à adoração que havia à Adolfo Hitler (Alemanha) e à Benito Mussolini (Itália).

Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que era encarregado do aparato de censura e da propaganda oficial. Objetivos principais: fazer censura do teatro, do cinema, das funções recreativas e esportivas, da radiodifusão, da literatura social e política e da imprensa.

Em março de 1940, registrou-se um dos casos mais notórios de intervenção em jornais com a invasão pela polícia de “O Estado de S. Paulo”; o jornal permaneceu sob intervenção do DIP até o final do Estado Novo (1945).

No período democrático entre 1946 e 1964, a censura centrou-se em questões morais e atuava em grande medida em função da pressão de setores conservadores da sociedade, preocupados especialmente com o cinema (decreto 20493), que experimentava uma popularização sem precedentes e começava a ousar em cenas e enredos.

O período de 1964 a 1985 foi sombrio para o exercício da liberdade de imprensa. A princípio, embora as lideranças políticas identificadas com o antigo governo e à esquerda dele tenham sido perseguidas, não houve maior repressão à imprensa, entretanto, em pouco tempo a censura ganhou força multiplicadora e se voltou para questões políticas. Era considerada subversivas e perigosas para a unidade nacional quaisquer manifestações que envolvessem algum tipo de crítica ao regime vigente, ao cotidiano nacional e às “tradições brasileiras”. O endurecimento do regime militar com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), no dia 13 de dezembro de 1968, reintroduziu a censura direta e indireta em níveis só comparáveis ao período mais duro do Estado Novo (1937-1945).

Parecer da censura recomendando a proibição da canção "Partido Alto", de Chico Buarque (Fonte Arquivo Nacional).

Em 1970 uma portaria formalizou esta prática em caráter mais duradouro e enfatizava a censura sobre publicações consideradas “subversivas” ou “obscenas.” Nesse período, censores foram colocados nas redações dos jornais, com uma lista de tópicos que não deveriam ser abordados, e até mesmo palavras que não poderiam ser faladas. A partir do governo Geisel a atuação da censura começou a arrefecer, mas não cessou, estendendo-se até mesmo além do governo Figueiredo.

Entretanto, graças a constituição de 1988, a proteção à liberdade de expressão e de pensamento foi firmada com tamanha amplitude. Afirma: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

Apesar de transcorridos apenas 35 anos (1985-2020), este é o maior período da Era Republicana em que houve plena vigência das instituições democráticas, principalmente após a Constituição 1988. Com o retorno à democracia, conseguimos reaver os nossos direitos fundamentais, entre eles, o da liberdade de expressão que é vital para o próprio funcionamento da sociedade democrática, haja vista que a imprensa (escrita, televisiva ou virtual) tem o poder de fiscalizar o exercício da atividade pública, bem como supervisionar e denunciar abusos de autoridade e crimes que venham a ser praticados por membros de instituições públicas. Liberdade de expressão é um dos “pulmões” da democracia.

Fonte: mekstein.blogspot

A Democracia outorga liberdade, mas a mesma não significa permissividade ou licenciosidade, pela qual se pode abusar da liberdade para a prática do mal e de tudo o que é proibido, e sim, traduz-se pelo uso responsável dos direitos e o exercício consciente dos deveres. Nesse aspecto todos nós temos que nos policiarmos, principalmente em decorrência das redes sociais disponíveis nos tempos atuais (facebook, whatsApp, twitter, Messenger, etc). 

Já dizia o grande pernambucano Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Quem não se comunica se trumbica”. Se Chacrinha fosse vivo, faria um complemento: “porém sem fakenews”.