27/05/2025

SOPRO DA VIDA

Em nosso querido Brasil, graças a nossa democracia, de dois em dois anos temos eleições que movimentam o país. Nos meses que antecedem as eleições, candidatos políticos intensificam suas aparições em público, na tentativa de conquistar os leitores ainda indecisos. Infelizmente, falar bem em público, persuadir e reter a atenção não são habilidades para todos políticos, tanto em campanha quanto depois de eleitos. Aristóteles, o famoso filósofo grego, identificou três modos de persuasão, que são os pilares da oratória: a credibilidade do orador (Ethos), ou seja, a imagem que ele transmite e está relacionado com a autoridade, honestidade e reputação do orador; a emoção despertada na plateia, ou seja, a capacidade de conectar-se emocionalmente com o público (Pathos) e a validade do argumento, ou seja, a lógica da mensagem apresentada (Logos).

O grande perigo dos candidatos e políticos são os improvisos e as entrevistas, não planejadas. Todavia alguns cometem erros em palavras pensadas e escritas em suas falas.

Esse ponto me fez lembrar de uma ex-presidente da república, que sempre se envolvia em polêmicas, durante seus discursos. Uma das grandes frases da presidenta que agitou as redes sociais ocorreu quando sugeriu, durante discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), a invenção de uma tecnologia para estocar vento, que beneficiaria o mundo inteiro. Suas palavras: “Até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a manutenção e também pelo fato da água ser gratuita e da gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso?”

A frase virou meme. Fotografias de um homem com um ventilador enchendo sacolas plásticas de vento foram compartilhadas na internet, assim como montagens com o rosto da presidenta em pacotes de salgadinhos “de ar” e em porções de pastel de vento. A brincadeira “viralizou”.

Na verdade, não se trata de guardar ou estocar o vento, mas armazenar a energia eólica, que é um tipo de energia cinética gerada a partir da força dos ventos (fluxo ou movimento do ar), que é convertida em eletricidade por meio de turbinas eólicas, também conhecidas como aerogeradores, que aciona as hélices e, por meio de um gerador, converte essa energia mecânica em energia elétrica. Relembrando a Lei da Conservação da Energia do químico Antoine-Laurent de Lavoisier, que diz: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

A energia elétrica pode ser facilmente gerada nos aerogeradores, transmitida e transformada. Porém, até agora não foi possível armazená-la de forma prática, fácil e barata.

Deixando a polêmica e gozações de lado, o “vento” sempre foi alvo de controversa de ódio e amor, mistério e assombro, a ponto de ser venerado por algumas sociedades antigas. Atualmente o armazenamento de energia eólica, assim como o armazenamento de energia solar é um assunto que está sendo levado a sério, por engenheiros e cientistas de todo o mundo.

A energia eólica, é conhecida pelo homem há mais de 3.000 anos. A história da energia eólica começa quando civilizações utilizavam a força dos ventos, por meio de cata-ventos, para moer grãos, bombear água e transportar mercadorias em barcos a vela. O início da adaptação dos cata-ventos para geração de energia elétrica teve início no final do século XIX.

Dos gregos ou fenícios aos vikings, todas as civilizações aperfeiçoaram sua própria frota para explorar o mundo graças a um aprendizado contínuo do vento como um recurso natural. Sua potência também tornou possível a movimentação de moinhos de vento, inicialmente para moer trigo e produzir alimentos.

O vento impulsionou a realização das grandes viagens de exploração da Era dos Descobrimentos e as grandes viagens marítimas pelos oceanos a partir do século XV.

O vento sempre esteve presente em nossas vidas e representou uma parte indiscutível da história da humanidade. Podemos afirmar que é um elemento essencial para o ciclo de vida dos animais, plantas e seres humanos.

Ele transporta as folhas das árvores e renova a vida no campo. Auxilia o crescimento das plantas, polinizando flores e transportando sementes para longe. Muitas plantas, como o epilóbio-eriçado, dependem da ação do vento para propagar as suas sementes.

O vento ajuda a distribuir nutrientes pelo solo, e a controlar a temperatura, mantendo um equilíbrio natural no ecossistema. É capaz de transportar ao longo de grandes distâncias a poeira dos grandes desertos e as sementes de várias plantas, o que é fundamental para a sobrevivência de algumas espécies e das populações de insetos. Muitos insetos e aves migratórias tiram partido do vento nas rotas de migração, o que lhes permite percorrer distâncias consideráveis de outras formas impossíveis. As aves tiram partido das condições do vento de modo a voar ou planar.

O vento é um elemento fundamental em vários desportos de competição ou atividades de lazer, como a vela, windsurf, kitesurf parapente, snowkite, asa-delta, balonismo ou o lançamento de papagaios de papel. Todavia, ventos de forte intensidade podem provocar estragos de natureza variável.

O vento influência a propagação de incêndios florestais. Durante o dia, a menor humidade, a maior temperatura e a maior velocidade do vento fazem com que a madeira arda a maior velocidade. O vento também pode limitar o crescimento das árvores. Em regiões costeiras e montanhas isoladas, a linha de árvores encontra-se muitas vezes a uma altitude muito inferior do que em sistemas montanhosos complexos, devido à maior exposição aos ventos fortes. Os ventos de altitude erodem o solo pouco espesso e causam estragos nos ramos e galhos das árvores. Quando associado a baixas temperaturas, o vento tem um impacto negativo no gado, afetando as reservas alimentares e as estratégias de caça e defesa dos animais.

Dentre os quatro elementos da natureza, o Ar, é talvez o elemento mais percebido, identificado e de maior contato diário do ser humano, através simplesmente da respiração.  O Ar simboliza o sopro da vida e está associado ao início de tudo, ao intelecto humano, aos processos mentais, a intenção e a capacidade criativa do homem.  Deus, ao criar Adão, o primeiro homem, após formar o seu corpo do pó do solo, soprou sobre ele um “sopro de vida”, surgindo assim o ser humano completo, corpo e alma (Gênesis 2:7).

O vento é um elemento presente em diversas passagens da Bíblia e possui diferentes significados simbólicos. Na Bíblia, o vento é frequentemente associado à ação de Deus e ao seu poder. Ele é mencionado em diversas passagens, como no livro de Gênesis, onde o Espírito de Deus pairava sobre as águas. No livro de Atos dos Apóstolos, revela que o Vento do Céu levou o Espírito Santo no Pentecostes. “Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa onde estavam sentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.” (Atos 2:1-4).

No Evangelho de Mateus (8,23-27), Jesus entrou na barca, e seus discípulos o acompanharam. E eis que houve uma grande tempestade no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, dormia. Os discípulos aproximaram-se e o acordaram, dizendo: 'Senhor, salva-nos, pois estamos perecendo! 'Jesus respondeu: 'Por que tendes tanto medo, homens fracos na fé?' Então, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. Os homens ficaram admirados e diziam: 'Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?'

O Espírito Santo de Deus, o Qual sempre foi simbolizado pelos antigos, como vento, (Hebraico: rúah = hálito de Deus, sopro, respiração; Grego: pneuma = soprar, respirar, espírito aéreo; vento).

Vento é uma boa palavra para descrever o poder do Espírito Santo. A mudança acontece quando os ventos sopram — e quando o Espírito Santo se move, Ele traz a mudança como o vento. Também é utilizado como uma metáfora para representar a ação do Espírito Santo na vida das pessoas, trazendo renovação, transformação e direção.

Embora o vento na Bíblia simbolize muitas vezes o poder e o Espírito de Deus, também pode ter conotações negativas. A noção de um "vento mau" na Bíblia é um exemplo disso. Estes ventos adversos representam muitas vezes o julgamento, o desastre e a consequência do pecado.

Não devemos deixar que o vento da negatividade nos afaste da rota de atingirmos os nossos objetivos.

Se o vento é o ar em movimento, podemos dizer que o Espírito Santo é Deus em movimento, Deus que não para de trabalhar, como nos falam as Sagradas Escrituras: “Meu Pai trabalha sempre e Eu também trabalho” (João 5,17).

O nosso Deus é invisível aos nossos olhos, mas está sempre presente e podemos sentir a sua presença na nossa vida como uma brisa suave.

O vento é um agente da natureza misterioso. Não podemos prendê-lo, tampouco podemos definir o seu curso e a sua ação, e ao mesmo tempo em que sopra forte, destruindo o que não está firme, também surge como uma brisa suave, que refresca e traz serenidade.

Concluo lembrando de uma melodia do consagrado pianista Alcyr Pires Vermelho que recebeu letra de Gilvan Chaves e Fernando Luiz da Câmara Cascudo, filho do renomado folclorista potiguar, que tem o título Prece ao Vento: “Vento que balança as palhas do coqueiro. Vento que encrespa as ondas do mar. Vento que assanha os cabelos da morena. Me traz notícia de lá. Vento que assovia no telhado. Chamando para a lua espiar, oh. Vento que na beira lá da praia. Escutava o meu amor a cantar”.

Ah! Como seríamos cristãos diferentes se permitíssemos que o “Vento” de Deus soprasse a todo instante as “velas do nosso barco”, para que fosse, de fato, o condutor de nossas ações!

17/10/2021

E se o Brasil não tivesse descoberto o PRÉ- SAL?

Fonte: Politize

Em 20/11/2009 participamos da inauguração oficial da Refinaria Potiguar Clara Camarão localizada no Município de Guamaré-RN. Em um determinado momento tive a oportunidade de trocar algumas palavras com um dos diretores da Petrobras da época, que se fazia presente ao evento. Na verdade, apenas disse para ele: “Diretor, para os petroleiros o Senhor é o Pai do Pré-Sal”. Ele de imediato respondeu: “Não sou o pai do Pré-sal, apenas defendo o Pré-sal contra forças ocultas”. Infelizmente nossas trocas de palavras terminaram com essa resposta e não consegui matar minha curiosidade de quais forças ocultas ele estava falando.

Independentemente do que seja, a história do petróleo em solo brasileiro, pode ser comparada como uma longa estrada cheia de obstáculos e desvios, que se interligam a própria história da Petrobras.

Nossa caminhada nessa estrada inicia no Segundo Reinado (1840-1889), quando os primeiros decretos foram concedidos dando o direito de extração de minerais no Brasil. As concessões tinham por finalidade encontrar material para o fabrico de óleo ou gás de iluminação.

Em 1864, através de Decreto Imperial, foi concedido ao inglês Thomaz Denny Sargent prerrogativa pelo prazo de 90 anos para, por si ou por meio de uma companhia, extrair turfa, petróleo e outros minerais nas comarcas do Camamu e Ilhéus, na Província da Bahia. Houve ainda nessa época, várias outras concessões do governo do Império do Brasil para pequenos exploradores em busca de jazidas de petróleo, geralmente junto com a busca por carvão e outros minerais.

A partir de 1876 com a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais, passou-se a formar mão-de-obra mais especializada e detentora de algum conhecimento científico para se buscar petróleo. No entanto, o primeiro poço brasileiro foi perfurado somente em 1897 pelo fazendeiro Eugênio Ferreira de Camargo no município de Bofete, no estado de São Paulo. O poço atingiu a profundidade de 488 metros, mas, jorrou apenas uma água sulfurosa, com grande concentração de enxofre. 

Na primeira metade do século XX, no surgente setor industrial brasileiro, destaca-se a figura do escritor da maior parte das histórias infantis nacionais, o paulista Monteiro Lobato. Os quatro anos que passara na América do Norte, como adido comercial, constituíram uma descoberta e um deslumbramento para o caipira de Taubaté. Ele vê o gigantesco progresso americano e o compara com a nossa lentidão colonial.

Fonte: Traça Livraria

Logo após ao seu retorno ao Brasil, começou a apresentar planos grandiosos de salvação econômica para o Brasil. O primeiro deles é a Campanha do Ferro: é preciso “ferrar o Brasil”. E logo em seguida, ainda mais ampla, que foi a Campanha do Petróleo.

Em dois livros, “Ferro” (1931) e “O Escândalo do Petróleo” (1936), o escritor documenta os lances dramáticos das duríssimas batalhas que teve que travar para prover o Brasil de uma indústria petrolífera independente.

O governo de Getúlio Vargas, o qual era a­cu­sado de “não perfurar e não deixar que se perfure” proibiu “O Es­cân­dalo do Petróleo” e mandou re­colher todos os exemplares disponíveis, naquilo que seria o primeiro lance da longa sequência de escândalos envolvendo o ouro negro brasileiro, que prosseguem até os dias de hoje.

Entre 1932 e 1935, duas companhias passaram a atuar no Brasil: a Companhia Petróleo Nacional, que funcionava em Riacho Doce, Alagoas, e a Companhia Petróleos do Brasil, instalada no campo de Araquá, hoje Águas de São Pedro, no interior de São Paulo. Ainda assim, não se extraía petróleo do subsolo brasileiro. Ao menos não oficialmente.

Em 1932, o país consumia cerca de 12.000 barris por dia e em 1938, exigia a importação de 38.000 barris diários.

Com o objetivo de remover obstáculos e embaraços ao racional aproveitamento das riquezas do subsolo e de assegurar as iniciativas privadas nos trabalhos de pesquisa e lavra, em 1934 o governo federal promulgou o novo Código de Minas, que regulava a propriedade das jazidas do subsolo. A legislação, porém, ao definir empresas nacionais como “sociedades organizadas no Brasil”, sem restrição de nacionalidade dos acionistas, possibilitava que companhias estrangeiras fossem até proprietárias de empresas nacionais.

Monteiro Lobado criticou duramente e abertamente o Código de Minas de 1934. Em especial com a exigência de nacionalidade brasileira para a pesquisa e para a lavra das jazidas minerais, apelidou-o de “lei cipó”.  Ele julgava necessária a diferenciação entre acordo e entreguismo. Ele cobrava que Getúlio Vargas priorizasse os interesses do Estado brasileiro, inclusive em longo prazo.

Em março de 1934, o DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) foi criado.  O órgão passou a comandar as iniciativas de pesquisa de petróleo em território brasileiro.  Nesse mesmo ano, foi contratado o técnico americano Victor Oppenheim, conhecido e renomado geólogo da época vinculado à Standard Oil, o maior truste petrolífero norte-americano, para operar pesquisas em solo brasileiro.

Os primeiros boletins divulgados pelo DNPM, afirmavam que a região de S. Pedro, no estado de S. Paulo (poço São João do Araquá, cuja exploração se dava pela Companhia Petróleos do Brasil, de Monteiro Lobato), assim como, em Alagoas, em um poço explorado pela Companhia Petróleo Nacional, outra empresa de Lobato, e ainda na localidade de Lobato, na Bahia, eram positivamente desfavoráveis à presença de hidrocarbonetos, do ponto de vista da geologia de petróleo,

Primeiro poço produtor de petróleo no Brasil na cidade de Lobato na Bahia. 1938. Fonte: Acervo CPDOC FGV

Mas em 1939, contrariando os laudos do DNPM, o petróleo brotou no bairro de Lobato, em Salvador, na Bahia. Apesar da descoberta do primeiro poço de petróleo brasileiro ter ocorrido no bairro de Lobato, em Salvador (Bahia), esse nome nada tem a ver com o criador do Sítio do Pica-Pau-Amarelo.

Nessa época, o jornal “A Nação” publicou: “Durante longas datas, a existência de petróleo no Brasil foi uma questão morta”.

Em janeiro de 1939, o jornal “A Noite”, reportou as notícias que vieram a encher de júbilo todos os brasileiros: “O óleo de combustível jorrava pelo furo da sonda, com tal violência que ameaçava desmontar a perfuradora”. Nesse mesmo mês, o mesmo jornal, trazia a manchete “Romaria ao local da jazida”. De acordo com a reportagem, a empolgada multidão fazia “questão de levar um frasco com amostra do petróleo”.

Infelizmente, ao final de 17 poços perfurados, em quatro anos de atividades, apenas sete apresentaram óleo. O poço responsável pela descoberta rapidamente perdeu vazão e o campo foi considerado subcomercial.

Primeiro poço comercial produtor de petróleo no Brasil - Candeia/BA.
Fonte: CandeiasBrasil

Finalmente, no ano de 1940, o primeiro campo comercial foi descoberto na bacia do Recôncavo, no município de Candeias/Ba.

O certo é que com admirável sentido de luta, Monteiro Lo­ba­to conseguiu sacudir o Brasil de alto a baixo, apontando ao povo brasileiro os caminhos de sua emancipação econômica, lutas que se aprofundariam após a sua morte e que redundaram na fundação da hoje Petróleo Brasil S/A (Petrobras).

No dia 2 de julho de 1948, Monteiro Lo­ba­to concedeu à rádio Record aquela que se­ria a última entrevista de sua vida, a qual encerrou com as palavras: “O Pe­tróleo é Nosso”! Dois dias após, “O Repórter Esso”, na voz de He­ron Domingues, anunciou a morte de um grande brasileiro, desses que surgem poucos a cada geração: “E a­gora uma notícia que entristece a todos: acaba de falecer o grande es­critor e patriota Monteiro Lobato!”.

Entre 1945 e 1950, o abastecimento de derivados de petróleo importados no Brasil começava a pressionar de forma crescente as reservas cambiais do país. A importação de derivados de petróleo em 1948 chegou a representar 44% do valor de todas as matérias-primas importadas pelo Brasil.

Em 1950 o valor que o país pagava pela importação de petróleo bruto era US$ 200.000 e equivalia ao que o país arrecadava com toda a exportação de café.

 A campanha pela autonomia brasileira no campo do petróleo foi uma das mais polêmicas da história do Brasil republicano, de 1947 a 1953 o país dividiu-se entre aqueles que achavam que o petróleo deveria ser explorado exclusivamente por uma empresa estatal brasileira e aqueles que defendiam que a prospecção, refino e distribuição deveriam ser atividades exploradas por empresas privadas, estrangeiras ou brasileiras

 Os nacionalistas argumentavam que se o Brasil não criasse uma empresa estatal, fatalmente aquele produto estratégico para o desenvolvimento econômico, seria oligopolizado pelas grandes corporações internacionais, pela Standard Oil, Shell, Texaco, Mobil Oil, Esso, etc... e que desta forma o país se veria refém daquelas grandes companhias.

 No dia 3 de outubro de 1953, Vargas sancionou a Lei nº 2.004. Estava criada a maior empresa nacional da história, a Petróleo Brasileiro S.A – Petrobras.


Getúlio discursa, observado por Café Filho (atrás dele) e pelo deputado Tancredo Neves (à direita de Café) durante solenidade de assinatura do decreto de criação da Petrobras. Fonte Memorial da Democracia
Fonte: Memorial da Democracia

 Depois de Guaricema, ocorreram outras descobertas no litoral do Nordeste: em 1970, os campos de Caioba, Camorim, Robalo e Dourado, em Sergipe; em 1973, Ubarana, no Rio Grande do Norte.

Plataformas geminadas - Campo Ubarana litoral do Rio Grande Norte
Plataforma de Concreto (PUB-02) navegando para costa potiguar nos anos 70. Foi construída em Ponta de Laje na Baia de Aratu - Bahia

Em 1968, o petróleo existia em grande quantidade e a baixo preço no exterior, e a política governamental de autossuficiência petrolífera foi deixada de lado. A ordem passou a ser comprar petróleo onde fosse mais barato. A partir desse ano, a produção nacional estaciona e o consumo cresce. A importação do Petróleo trouxe sérias consequências para o país, entre elas, o aumento da dívida externa.

Na década de 1970 quando ocorreu as duas “Crises do Petróleo”, a primeira em 1973 e a segunda em 1979, a explosão do preço do barril de petróleo provocou o colapso econômico, encerrando inclusive o chamado “Milagre Econômico Brasileiro”.

Fonte: Revista Veja
Crise Petróleo.
Fonte: Matiz Jeocaz Lee Meddi

Em 1972 o Brasil importava 80% do petróleo que consumia e a produção interna de petróleo atendia apenas 23.5% da demanda aparente.    

 A partir de 1973, os preços do barril de petróleo foram elevados de US$ 2,90 para US$ 11,65/barril. Na ocasião, a Petrobras produzia apenas 169 mil barris de petróleo/dia e as importações ultrapassavam 1 milhão de barris diários.

Em 08/12/1973, o jornal O Estado de São Paulo, apresentou a seguinte manchete: “Petrobras fará apelo para poupar gasolina”.

Fonte: Info Escola
Fonte: Revista Quatro Rodas

Esse aumento provocou impacto negativo da conta do petróleo sobre as reservas cambiais, com repercussões na economia, como por exemplo: redução das taxas de crescimento econômico, agravamento do processo inflacionário, crescente drenagem de moedas fortes para os países produtores de petróleo e a mudança inesperada na estrutura econômica.

O valor das importações de petróleo em 1974 superou o de todas as exportações de produtos manufaturados feitas pelo Brasil.  Em consequência de seu déficit comercial o país teve que aumentar sua dívida externa e reduzir suas reservas internacionais.

A dívida externa brasileira subiu de 4.4 bilhões de dólares em 1969 para 12.6 bilhões em 1973, e de US$ 17,2 bilhões em 1974 para US$ 43,5 bilhões em 1978.

No apagar do ano de 1974, finalmente, a primeira descoberta importante aconteceu no mar: o Campo de Garoupa, na Bacia de Campos. Tendo a produção de petróleo iniciada em 1977.  Garoupa é considerado o marco da exploração de petróleo em alto-mar, iniciada em 1968 no campo de Guaricema, no Sergipe.

Plataforma no Campo de Guaricema.
Fonte: Agencia o Globo
Plataforma no Campo de Garoupa.
Fonte: Revista Petro&Quimica

Superando as expectativas contrárias da época, a Petrobras descobriu ainda petróleo em diversas bacias sedimentares terrestres brasileiras, como nas bacias do Recôncavo, de Sergipe, de Alagoas, Potiguar e do Solimões.

Exploração na Bacia Potiguar.
Fonte: Revista Petro&Quimica

Em 1975, foi descoberto na Bacia de Campos o Campo de Namorado, o primeiro gigante da Plataforma Continental Brasileira. Em 1976, o campo de Enchova.

Os problemas relacionados com o balanço de pagamentos levaram o Governo a considerar a possibilidade de rever a legislação do petróleo de modo a aumentar a produção interna. Isso levou a aceitação em outubro de 1975 dos chamados contratos de serviço com cláusula de risco.

Nos 14 anos de vigência dos contratos de risco (1975-1988), foram celebrados 243 acordos com as 35 maiores e mais experientes empresas estrangeiras, que tiveram à disposição mais de 80% das bacias sedimentares brasileiras.

No período 1977-1989, elas investiram US$ 1,1 bilhão, dos quais apenas US$ 350 milhões no Brasil, O saldo destinou-se ao pagamento de equipamentos e mão-de-obra no exterior. No mesmo período, a Petrobras aplicou US$ 26 bilhões, ou seja, quase 80 vezes mais.

As multinacionais perfuraram apenas 205 poços, contra 9.770 concluídos pela Petrobrás. Afora uma pequena ocorrência não comercial de gás na Bacia de Santos, de economicidade duvidosa, identificada pela Pecten e consorciadas, as companhias estrangeiras não descobriram nada. Em razão do fracasso, os contratos foram proibidos pelos constituintes de 1988, quase por unanimidade. Na mesma área, em local distante apenas 1.500 metros de poço perfurado pelas multinacionais, a Petrobras encontrou óleo que deu origem ao Campo de Tubarão e, posteriormente, Estrela do Mar, Coral e Caravela.

No mesmo período, a Petrobras mais que quadruplicou a produção brasileira de óleo e gás equivalente, elevando-a de 169 mil barris em 1975 para 700 mil em 1989. Porém, em 1978, ocorreu nova crise. Desta vez o preço internacional quintuplica. A Petrobras volta a investir na prospecção de jazidas petrolíferas a fim de diminuir nossa dependência externa em relação a esta fonte importantíssima de matéria – prima.

As novas descobertas da Petrobras aumentavam exponencialmente. O Brasil produzia 14% do petróleo que consumia, número que passou a 50% em 1985.

O primeiro grande campo descoberto em águas profundas do País, ocorreu em 1984, e foi chamado de Albacora. Mais tarde, surgiram outros campos gigantes, como Marlim, Roncador, Barracuda e Caratinga. Além desses, também de grande porte, foram descobertos na parte norte da bacia, já no estado do Espírito Santo: Jubarte e Cachalote, na área que ficou conhecida como "Parque das Baleias". Em 1984 a produção nacional era cerca de 500 mil barris por dia.

Fonte; Agencia O Globo

Em 12/10/1986 apenas sessenta e duas pessoas presenciaram o momento em que o petróleo jorrou pela primeira vez na Amazônia, no campo de Urucu. Situado no município de Coari, a cerca de 650 quilômetros de Manaus. Grande desafio. A aventura pura, estilo Indiana Jones mesmo. Todo transporte de material e de pessoas era feito pelo Rio Urucu. Os equipamentos, máquinas, tratores e sondas eram desmontados e carregados pelo meio da mata fechada e enlameada nas costas. Desmontava-se tudo, colocava-se tábuas para reduzir os atoleiros e, em meio as clareiras que eram abertas, se montava tudo de novo. Não era incomum as equipes encontrarem onças, cobras e todo tipo de animal. Não podemos deixar de exaltar o desafio de produzir petróleo com respeito ao meio ambiente e redução dos impactos da atividade sobre a região.

Campo de Urucu em plena Selva Amazônica.
Fonte: AM Post

Em 1997, a Petrobras chegou a 1 milhão de barris produzidos por dia. No ano de 2006 finalmente atingimos a 2 milhões de barris produzidos por dia, o que significava dizer que a produção desse recurso no país, pela primeira vez, era igual ou maior do que a demanda interna para a sua utilização.       A expertise da Petrobras em águas profundas foi fundamental para vencer o desafio tecnológico da extração de petróleo no Pré-sal.

Separação do Continente Gondwana
Fonte: Pangea_animation

O Pré-sal é uma sequência de rochas sedimentares formadas há mais de 100 milhões de anos, no espaço geográfico criado pela separação do antigo continente Gondwana. Na separação formou-se a América Sul e a África.

O Pré-sal descoberto no Brasil constitui uma grande reserva petrolífera e de gás natural localizada em áreas profundas do oceano, abaixo de uma camada de sal que atualmente chega a 2 mil metros de espessura. Essa reserva situa-se em uma área de três bacias sedimentares: Bacia de Santos, Bacia de Campos e Bacia do Espírito Santo.

Os primeiros indícios de petróleo no Pré-sal ocorreram em agosto de 2005, na Bacia de Santos, próximo a Parati. Ainda em caráter experimental, ou seja, para verificar a qualidade do óleo extraído que acabou sendo de boa qualidade.

Todo esse trabalho foi consolidado no dia 15 de julho de 2010, quando a Petrobras deu início à produção comercial do Pré-sal, campo de Baleia Franca, na Bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo. Produzindo 13.000 barris de petróleo dia.

Plataforma da Petrobras no pré-sal da área de Parque das Baleias, no Espírito Santo. Foto: Steferson Faria / Agência O Globo

O Pré-sal brasileiro ao apresentar um grande volume de petróleo, qualidade do óleo, alta produtividade dos poços produtores e alta índice de sucesso nas perfurações, possibilitou a redução do custo de produção com o aumento gradativo da explotação dos reservatórios, a ponto do custo de produção do barril de petróleo no Campo de Búzios na Bacia de Santos ter atingido US$ 4 em 2020.

Importante ressaltar, que a Shell chegou perto de descobrir o Pré-Sal, todavia não quis correr o risco financeiro para enfrentar o risco geológico, tendo em vista os poços serem muito caros, um poço custava US$ 240 milhões. Neste momento a Petrobras fez a diferença tendo em vista seu compromisso com o desenvolvimento nacional.

Com todo esse histórico de dificuldades, é impressionante como uma parte da imprensa brasileira ainda é capaz de distorcer a realidade dos fatos. Talvez por interesses pessoais ou “coletivos”, como podemos constatar através de artigos publicados na mídia brasileira.

Dois anos após a descoberta de Pré-sal, Carlos Alberto Sardenberg publicou artigo afirmando que o Pré-sal existia só na propaganda do governo.

Em 2009, Miriam Leitão reconheceu a existência do Pré-sal, mas foi categórica ao afirmar que a Petrobras não tinha tecnologia para extrair petróleo em águas tão profundas. Precisaria do apoio de empresas estrangeiras.

A mesma jornalista, em 29/10/2010, escreveu o artigo “Além do Arco-Íris”, e citou: “É falsa a ideia de que o Pré-sal é a solução mágica que garante o futuro. O governo faz confusão proposital quando o assunto é petróleo”. O Pré-sal invenção brasileira é uma distorção de marketing inventado pelos políticos do governo com apoio dos ideólogos da Petrobras e da ANP”.

O Globo, em seu editorial de 20/12/2015, destila ódio contra a Petrobrás: “O Pré sal pode ser patrimônio inútil”. Todavia, em 16 setembro 2018, O GLOBO publica em um dos seus editoriais: “Doze anos após sua descoberta, o Pré-sal brasileiro se tornou a fronteira petrolífera mais atraente do mundo”.

No final de abril de 2016, Carlos Alberto Sardenberg, com maestria de picadeiro, retrata a situação: “Quebraram a estatal. Ou ela faz um acordo judicial ou vai precisar de aportes do governo”. Nunca mostrou um número sequer (mesmo porque eles não existiam), e o Brasil inteiro acreditou (e, incrivelmente, até hoje acredita). A mentira virou verdade.

Fonte: TiberioGeo

Em 2018, Fernando Morais em seu Blog NOCAUTE, escreveu:  Pré-sal: o “patrimônio inútil” agora vale ouro. Pois é o Pré-sal é a maior descoberta petrolífera no mundo contemporâneo e já responde por 70% da produção nacional de petróleo. 

Enquanto a imprensa brasileira fazia uma cobertura superficial e tendenciosa adotando um tom de fofoca, com críticas rasas e sem fundamento sobre o Pré-sal, a mídia estrangeira publicava matérias consistentes e detalhadas, destacando a importância do Pré-sal para o Brasil e para a indústria petrolífera mundial e até comemorando a conquista. O The New York Time em um dos seus editoriais, enfatizou a “mudança nacionalista” do País, que fortalecia a atuação estatal da Petrobras na exploração da camada.

Fonte: Geopolitica do petroleo

Interessante, como a mídia brasileira em determinados momentos, acerca do Pré-sal, conseguiu influenciar pesadamente o pensamento de muitos brasileiros. Alguns amigos chegaram a me perguntar se esse negócio de Pré-sal era mesmo verdade. Parecia aquela dúvida que até hoje muitos ainda têm sobre a ida do homem à Lua. Tem gente que não acredita. Realmente, explorar petróleo a 300 km distante da costa, com lâmina d’água atingindo 2.200 m de profundidade e os reservatórios chegando a 5.000 m abaixo do leito marinho, incluindo uma camada de sal de aproximadamente 2.000 m de espessura, pode ser comparado a complexidade de chegar à lua.  

Desde as primeiras descobertas em águas profundas, na Bacia de Campos, nos anos 70, até chegar à nova fronteira exploratória do Pré-sal, foi necessário trilhar numa longa jornada tecnológica. Tecnologias foram aprimoradas e novas tecnologias desenvolvidas com participação diversas áreas técnicas da Petrobras, incluindo o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Miguez (Cenpes), de fornecedores, operadoras, de estudiosos e pesquisadores de universidades e centros de tecnologias.

Com certeza, a descoberta dessas extensas reservas de petróleo e gás ao longo da costa sudeste do Brasil, em 2006, representou um novo capítulo na história do petróleo mundial e principalmente do Brasil. Atualmente a produção de petróleo do Brasil, totaliza 3.045.000 bbl/dia, sendo que o Pré-sal totaliza 2.221.126 bbl/dia, correspondendo a 73% do petróleo explorado (dados apresentados no Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natura da Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e BioCombustíveis de 31/08/2021).

Campo de Tupi.
Fonte: Petrobras

Fico pensando como estaria a economia do Brasil sem o Pré-Sal. Talvez, sem o Pré-sal, estaríamos na mesma situação da década de 70, onde o Brasil era um grande importador de petróleo com reflexo significativo na sua economia e crescimento.

Fonte: Jornal O Globo

Acredito que podemos denominar de “Bandeirantes do petróleo” os trabalhadores brasileiros que escreveram e continuam escrevendo a história do petróleo brasileiro com muita luta e dedicação, e principalmente com a consciência, que o “Petróleo é Nosso”.

Fonte: IBP
Monteiro Lobado.
Fonte: Dialogo do Sul

Em 1º de maio de 1935, Monteiro Lobado escreveu uma carta para o engenheiro de perfuração Charles Frankie, imigrado da Suíça em 1920, lamentando a ignorância de deputados e senadores sobre a questão do petróleo. Dizia ainda que: “O livro [Luta pelo Petróleo] é que vai abrir os olhos dessa gente, mostrando a significação do petróleo. Ninguém sabe. Este país é uma burrada imensa…”.

Sem sombra de dúvida, Monteiro Lobato foi um dos homens mais íntegros e corajosos que já viveram neste país, um intelectual “à moda antiga”, daqueles que passados quase um século a nossa pobreza ética e intelectual ainda se ressente.