26/06/2025

Como é bom ter conquistado o direito da aposentadoria!

Durante a história da humanidade, várias descobertas e invenções mudaram a vida do ser humano por proporcionarem maior conforto, qualidade de vida e diversão.

Se começarmos antes de Cristo, podemos lembrar do fogo, da roda e da escrita. A partir do século 1 podemos considerar a bússola, importante objeto para as navegações, a eletricidade (1750), o automóvel, pilha elétrica (1800), criação da câmara escura em 1826 (máquina fotográfica), a geladeira (1834), o telefone (1876), lâmpada (1879), o rádio (1895), a televisão em 1927 (forma de televisão que conhecemos hoje), o ar-condicionado (1902), o avião (1903), o computador.  Em fevereiro de 1946, o primeiro computador eletrônico da história era apresentado. O ENIAC (Eletronic Numerical Integrator and Computer) tinha cerca de dois metros de altura, pesava 30 toneladas e ocupava 180 metros quadrados. A partir desta invenção, a computação e os aparelhos evoluíram e os modelos se tornam cada vez mais compactos e poderosos que conhecemos nos dias atuais. Bem, vamos incluir também os celulares que passaram englobar a maioria das invenções num único aparelho. Não podemos esquecer da Internet (1960). A lista é grande.

Todavia, lembrando de um ensinamento de Jesus Cristo e dando outro significado, podemos dizer que nem só de descobertas e invenções vive o ser humano. Ele precisa trabalhar porém com condições de trabalho, remuneração e benefícios que garantam segurança e qualidade de vida. 

Dentro desse contexto, podemos citar algumas conquistas ocorridas principalmente no século XX, que mudaram a qualidade e condição de vida dos trabalhadores. Podemos citar, por exemplo: licença-maternidade e licença paternidade, férias de 30 dias com acréscimos de 1/3 do salário, 13º salário, descanso semanal remunerado, adicional noturno, horas extras, vale-transporte, condições seguras e saudáveis nos ambientes de trabalho, aposentadoria e outros mais.

Muita gente não sabe, mas a maioria dos direitos trabalhistas brasileiros foram conquistados a partir de muita luta e mobilização dos trabalhadores. Isso significa que muito do que temos hoje é consequência da coragem dos trabalhadores do passado em pleitear condições mais justas – nossos pais, avós e bisavós que foram às ruas, mobilizaram políticos e promoveram manifestações em defesa de mais direitos. Mesmo não sendo vistos de bons olhos por muitos e principalmente por empresários, o movimento sindical no passado foi responsável pela criação de regras que beneficiam milhões de brasileiros no presente.

O filósofo italiano Norberto Bobbio afirmava: “Direitos não são dados, são conquistados”. Assim sendo, temos que ter a consciência que os direitos trabalhistas não são “concessões ou favores dos patrões”, e sim consequência. Sempre haverá muitos empregadores e políticos interessados em retirar direitos para aumentar seus lucros.

O grego Heródoto (484-425 a.C.) conhecido como o "Pai da História" por ter sido o primeiro grego a escrever uma obra objetiva sobre eventos históricos, disse que é preciso pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro. Então voltando ao passado, relembramos que a origem do sindicalismo envolve o contexto de industrialização e consolidação do capitalismo na Europa. Os sindicatos, foram fundamentais para construção e afirmação do direito do trabalho, principalmente a partir da Revolução Industrial, época marcada pelas péssimas condições de vida e de trabalho, as quais a população europeia em sua maioria estava submetida. No decorrer de sua história, o sindicalismo foi impactado por diferentes concepções ideológicas..

A organização sindical no Brasil teve início após a abolição da escravatura, com a chegada dos imigrantes para substituir a mão de obra escrava.

As primeiras associações de resistência surgidas no final do século XIX, foram se transformando em sindicatos nos primeiros anos do século XX, por volta de 1906 e legalizadas por Getúlio Vargas em 1931.

As principais greves operárias ocorridas no Brasil durante a Primeira República tiveram como motivos a luta pelo aumento salarial, melhores condições de trabalho, melhores condições de vida (alimentação, moradia), por uma legislação previdenciária, direitos trabalhistas e sindicais.

No ano de 1907, existiam aproximadamente 150 mil operários. A grande maioria estava distribuída nas indústrias, mas existiam trabalhadores das ferrovias (ferroviários), trabalhadores da construção civil (serventes, pedreiros, carpinteiros), os portuários e outras profissões, como padeiros, sapateiros, trabalhadores dos comércios, entre outros.

A principal paralisação operária nessa época, foi a greve geral de 1917, iniciada em São Paulo, após a morte de um jovem trabalhador pela polícia. A greve se generalizou por todo o país e ocorreram na capital paulista vários conflitos e tiroteios por vários dias. Dessa greve participaram os operários da indústria têxtil e alimentícia, os ferroviários e os gráficos. Os ferroviários não hesitavam em exercitar o poder de paralisar o Brasil, isto já ocorria desde 1906. Praticamente não passou ano sem que se registrasse paralisação em estradas de ferro.

As reivindicações dos trabalhadores nos protestos de 1917 eram, em termos gerais, jornada de oito horas, fim do trabalho de crianças, restrições à contratação de mulheres e adolescentes, segurança no trabalho, aumento salarial, redução do preço dos aluguéis e do custo dos bens de consumo básicos, direito a aposentadoria, etc. As greves no ano 1917 tiveram um papel basilar para o desenvolvimento posterior do movimento operário e das lutas trabalhistas no Brasil.

Voltando as conquistas trabalhista, na minha opinião, a maior conquista que tivemos foi a “aposentadoria”. Vou um pouco mais longe, acredito que dentre os benefícios da previdência social administrados pelo INSS, o mais desejado é a aposentadoria.

Para escrever sobre aposentadoria temos que ir para o início do século passado, quando ainda não existia esse direito no Brasil. Não havia previdência social no país, nem lei que garantisse aposentadorias às pessoas inativas.

Até o começo dos anos vinte do último século, se uma pessoa deixasse de trabalhar, mesmo depois de uma vida de labuta, não tinha direito a um salário de aposentadoria.

Nessa época, o Brasil dependia fortemente das estradas de ferro, permitiu que essa dependência desse força às greves dos ferroviários. Eles conseguiam parar o país. Nos tempo atuais, quem consegue paralisar o Brasil são os caminhoneiros. Na Primeira República esse poder era dos ferroviários.

Uma das reivindicações da categoria nos protestos de 1917 era o direito à Aposentadoria. Como resultado, tivemos à promulgação da Lei Eloy Chaves, em 1923, voltada para os ferroviários do setor privado. A Lei obrigava as companhias ferroviárias do país a criar uma caixa de aposentadorias e pensões (CAP).

Quando apresentou o projeto, Chaves afirmou que objetivava acabar com a áspera luta de classes: “Até agora, os funcionários das ferrovias do país não têm nenhuma garantia para seus dias de velhice e para arrimo de sua família em caso de morte”. Infelizmente até meados da década de 1920, somente os trabalhadores ferroviários e alguns servidores públicos tinham direito a esse benefício. Apesar de ser voltada somente para uma categoria profissional, a lei foi o embrião para o estabelecimento da aposentadoria no país.

O primeiro aposentado no Brasil, após a vigência da Lei Eloy Chaves, foi Bernardo Gonçalves, chefe de Estação da Repartição de Transportes da São Paulo Railway Company, em Piritiba (SP).

Foi na década de 1930 que houve a expansão para outras categorias. Somente em 1966 é que foi criado o então Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) que unificava o sistema previdenciário de todas as categorias e empresas.

Temos sempre que comemorar essa conquista. Oficialmente, o Dia Nacional dos Aposentados, é comemorado em 24 de janeiro, foi estabelecido pela Lei n° 6.926, de 1981. É uma data de reconhecimento e valorização. Momento para refletir sobre a valorização, o respeito e a trajetória dessas pessoas.

Graças a Deus, consegui consolidar esse direito no dia 25 de julho de 2017, antes da Reforma da Previdência.

Primeiramente quero lembrar que ninguém dorme trabalhador e acorda aposentado. Pelo contrário. Todo mundo sabe que, mais cedo ou mais tarde, vai passar por isso. Para muitos os primeiros meses de aposentadoria são por vezes sinônimo de uma verdadeira crise existencial. "Pode ser um momento bastante dramático."

Em geral, a aposentadoria é muito desejada, mas pouco planejada. Todo mundo planeja passar no vestibular, se casar, ter filhos, ingressar no mercado de trabalho, etc., mas ninguém se prepara para a aposentadoria. Assim como o jovem pensa que nunca vai envelhecer, o trabalhador acha que nunca vai se aposentar.

Preparar-se financeiramente para quando a aposentadoria, realmente é muito complicado, principalmente para muitos que o dinheiro que ganha não dá nem para sobrevivência. Mas, para aqueles que têm condições financeiras um pouco privilegiada, o ideal é o trabalhador colocar isso como prioridade.

Chegou a hora de se aposentar e será que temos consciência como iremos ocupar nosso tempo nessa nova fase da vida? Para quem tem uma rotina corrida e com muito trabalho, se aposentar é uma grande mudança.

Esse pode ser um bom momento para ficar mais perto da família. Nem sempre temos tempo enquanto estamos trabalhando para estar próximos da família.

Cuidar da sua vida social. Teremos mais tempo de se reaproximar dos amigos e até cultivar as nossas amizades. É hora de fazer novos amigos.

Vai ser ainda mais divertido sair para programas culturais, para comer ou para passear por aí. Até conhecer o mundo. Quando falamos de mundo, pode ser outro país ou as cidades próximas de onde você mora. Não importa se é perto ou longe, mas viajar pode ser uma ótima forma de sair da rotina, aprender coisas novas, conhecer pessoas e mudar de ares.

Quem sabe, ajudar o próximo com trabalho voluntário. Uma ótima maneira de se manter ativo.

Na verdade, essa é uma fase para aproveitar a vida. Seja realizando sonhos, aprendendo novas habilidades, conhecendo pessoas, aprendendo uma nova língua, aprendendo um instrumento musical ou dedicando-se mais ao instrumento que já domina, dedicando-se a leitura, praticando mais exercícios físicos, vivenciando mais a religiosidade, etc.

Não devemos esquecer de cuidar de nós mesmos. Devemos aproveitar o tempo para ter momentos tranquilos e para ter boas noites de sono. Relaxar também faz parte.

Infelizmente, sabemos que muita gente se aposenta de direito mas não de fato, pois não consegue viver da aposentadoria. Para complementar a renda familiar se faz necessário voltar a trabalhar seja como empregado ou como empreendedor. Essas pessoas, infelizmente ainda não conseguem gozar desta tão sonhada conquista. 

De qualquer forma, para quem se aposenta e não volta ao mercado de trabalho, aposentar-se pode ser bom ou ruim, isso depende de cada um. O que não devemos é transformar nossa vida num 'grande domingo que nunca acaba.

Finalizo, escrevendo com muita alegria a minha gratidão a Deus, que me permitiu em 25 de julho de 2017 ter conquistado esse direito de aposentar e conseguir viver da melhor forma possível.

Viva os trabalhadores que deram suas vidas pela República Federativa do Brasil e hoje são aposentados.

25/02/2024

A resiliência e coragem das mulheres na conquista de seus direitos como cidadã, mãe e trabalhador

Recentemente li a seguinte frase, de um autor desconhecido: “Ser avó é voltar a ser criança, é fazer tudo pelo neto amado… É povoar a vida de esperança, é reviver todinho o seu passado”. Sábio pensamento. É assim que me sinto desde que meu neto nasceu. Nessa nossa volta a ser criança, coloco como um dos fatos relevantes, a comemoração da passagem de idade. Como é importante para as crianças, que “contam os dias” para comemorar com a família e os amigos. O dia do aniversário de uma pessoa, é um acontecimento marcante e especial, pois é a renovação de um ciclo cheio de aprendizados, realizações e renovação de muitos planos para a nova idade. Mas, para as crianças, tem um gostinho especial. O tema da festa, a mesa repleta de docinhos, bexigas coloridas, brincadeiras e, claro, muitos presentes. Essa é a ideia de festa de aniversário, para os pequenos. A comemoração é uma oportunidade valiosa para as crianças se sentirem amadas, valorizadas e especiais.

Assim como a comemoração de datas natalícias, seja de crianças ou em qualquer idade, as datas comemorativas carregam um simbolismo, um contexto histórico e cultural. Sejam datas para lembrar um evento, homenagear uma pessoa ou uma categoria profissional, um momento histórico, religioso, uma personalidade, uma data casamento, início namoro, etc. Interessante que aprendemos? desde cedo a nos importarmos com os eventos do calendário.

Dentro desse contexto, considero uma das datas comemorativa mais justas ou melhor, mais significativa, o Dia Internacional da Mulher, que foi oficializado em 8 de março de 1975 pela ONU. Data que simboliza a luta histórica e reivindicações das mulheres pelos direitos femininos, contra a desigualdade e sexismo, desde que o mundo é mundo. Inicialmente, essa data remetia à reivindicação contra a desigualdade e discriminação de gênero, no âmbito profissional, em todo mundo, atualmente, simboliza também a luta das mulheres contra o machismo e a violência.

Infelizmente, existe a concepção equivocada de que a mulher é inferior ao homem nas mais variadas culturas. Mas no Ocidente foi (e ainda é) sustentada por uma determinada interpretação da narrativa religiosa: feita da costela de Adão, Eva (e a mulher por extensão) seria um homem incompleto; uma pequena parte dele. Seria ainda a tentação, aquela que leva o companheiro a provar o fruto proibido, condenando todos à queda. Essa leitura do Gênesis contaminou a cultura ocidental e contribui para manter a dominação masculina sobre o feminino. Na verdade, o que temos que observar que Deus tão pouco tirou de Adão um osso de uma parte inferior (de seu pé) ou superior (da cabeça) para dar vida a ela. A costela está na lateral do corpo. Este é o lugar da mulher: não abaixo nem acima, mas ao lado do homem. Mais um sinal de igualdade. Quanto ao argumento de que Eva (e a mulher) é a tentação do homem, não se sustenta nem mesmo pela lógica machista. O sexo dito forte não seria, por meio dessa narrativa, fraco ao ceder à tentação? E não estaria em pé de igualdade com a mulher ao cometer o mesmo equívoco?

O Rabino Chelbo, um sábio que viveu há cerca de 1800 anos, eloquentemente afirmou: “Cuida-te quando fazes chorar uma mulher, pois Deus conta as suas lágrimas. A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado”.

Nunca podemos esquecer que Deus criou o mundo em "seis dias", e foi fazendo tudo surgir numa ordem crescente de perfeição: minerais, vegetais, animais, homem e mulher; então, a mulher é a mais linda criação de nosso Pai.

Infelizmente, a mulher entre os judeus, na época de Jesus, era não mais que um objeto pertencente ao marido, como seus servidores, suas edificações e demais posses legais. No interior da sociedade judaica, ela ocupava uma posição bem inferior à do homem.  Alguns rabinos chegavam aos extremos de afirmar que as mulheres não tinham alma.

As condições vulneráveis que as mulheres eram submetidas, nos tempos de Jesus são visíveis nos escritos sinóticos e no evangelho joanino.

Um dos episódios mais chocantes do Evangelho é justamente aquele no qual Ele se dirige à mulher samaritana. Este povo era aguerrido adversário dos hebreus, desde a cisão entre as tribos de Israel. Assim, ao se revelar claramente como o Messias para alguém desta comunidade, especialmente a uma mulher, Ele deixou tanto samaritanos quanto judeus perplexos.

A sociedade nos tempos de Jesus continuava com uma estrutura patriarcal de inferioridade e de submissão às mulheres. Jesus, porém, introduziu algumas mudanças significativas em seu comportamento pessoal com as mulheres, sendo diferente do tratamento oferecido pelos homens às mulheres de sua época. Ele reagiu contra a marginalização das mulheres. Mas como fazia parte de uma sociedade patriarcal, nada pode fazer com relação às mudanças jurídicas.

A Idade Média foi considerada por muitos historiadores como a Idade das Trevas, período de transição da escravidão para o feudalismo. Uma época de muita perseguição religiosa, várias doenças e ataques entre povos. Às mulheres deste período eram muito desvalorizadas, pois a sociedade era toda centralizada na figura do homem, porém foi nessa época que às mulheres conquistaram acesso a grande parte das profissões e também ao direito de propriedade. Mesmo tendo sua mão-de-obra vista como inferior a realizada pelos homens, há exemplos e exemplos de mulheres na Idade Média que desenvolveram atividades de liderança política, mulheres que tiveram à frente de exércitos, mulheres que ajudaram a conduzir batalhas, mulheres que trabalhavam nas oficinas, tendo determinados ofícios que eram quase propriamente femininos, as tecelãs são exemplo disso. Podemos destacar a camponesa francesa Joana D’arc liderou o exército francês durante um período da Guerra dos Cem Anos (entre França e Inglaterra). Essa valente figura rompeu com os paradigmas impostos pela sociedade, vestia roupas masculinas e possuía uma forte personalidade. A moça foi condenada pela Inquisição e executada como bruxa. Porém, no início do século XX foi canonizada como santa pela Igreja Católica.

A transição entre a Idade Média e Idade Moderna fez com que às mulheres começassem a ganhar espaço na sociedade mercantilista.

Na Idade Moderna, com o desenvolvimento industrial, a mulher assume novas ocupações, as mesmas antes ocupadas pelo homem. A Revolução Industrial, trouxe a disputa do trabalho entre o homem e a mulher. A mulher possuía mão-de-obra mais barata que o homem, porém, produzia menos em virtude de suas ocupações domésticas.

Recordando um pouco da nossa história brasileira, iniciando na época do Brasil Colônia (1500-1822), apenas uma pequena parcela da sociedade possuía direitos e deveres e mesmo às mulheres livres, eram marginalizadas de todo o processo político e econômico da sociedade. A escravidão se fazia presente durante esse período e às mulheres brancas eram tratadas de forma diferente das mulheres negras. Ambas eram submetidas à dominação do homem, que centralizava o poder para si, mas enquanto as mulheres brancas apenas estavam destinadas ao trabalho doméstico e familiar, a obedecer aos seus pais e maridos, às mulheres negras serviam de mão de obra escrava não só no âmbito doméstico, mas também nos campos e lavouras.

A lei permitia que marido assassinasse a própria mulher. Jorge Amado abre o clássico Gabriela, Cravo e Canela narrando o aflitivo momento em que o fazendeiro Jesuíno Mendonça flagra a mulher, dona Sinhazinha, na cama com o dentista Osmundo Pimentel e, sem hesitar, executa os dois a tiros. Embora seja ficcional, Gabriela se baseia em elementos da realidade daquela época.

Na Colônia, no Império e até nos primórdios da República, a função jurídica da mulher era ser subserviente ao marido. Mesmo após a Proclamação da República (1889) e o estabelecimento da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, em 1891, às mulheres continuavam esquecidas, não sendo citadas em nenhum momento.

Fazendo uma pequena corrida no tempo, podemos lembrar de importantes acontecimentos e conquistas das mulheres brasileiras. Iniciamos lembrando quando as mulheres foram autorizadas a ingressar nos colégios e estudassem além da escola primária (1827), assim como acerca da obra “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens”, de autoria da potiguar Nísia Floresta, publicado em 1833. Ela foi a primeira mulher brasileira a denunciar em uma publicação o mito da superioridade do homem e de defender às mulheres como pessoas inteligentes e merecedoras de respeito igualitário. 

Apesar da Proclamação da República no Brasil tenha ocorrido em 1889, foi apenas 20 anos depois, em 1910, que nasceu o Partido Republicano Feminino, como ferramenta de defesa do direito ao voto e emancipação das mulheres na sociedade. 

Quando ainda nem existia o voto feminino (1928), a potiguar da cidade de Angicos, Alzira Soriano de Souza abriu espaço para as mulheres na política. Ela foi a primeira mulher a assumir o governo de uma cidade não apenas no Brasil, mas na América Latina inteira. Somente em 1932 às mulheres brasileiras conquistam o direito ao voto. Uma vitória da luta das mulheres que, desde a Constituinte de 1891, pleiteavam o direito ao voto. Em 1934 a paulista Carlota Pereira Queiróz é eleita a primeira deputada do país. Em 27 de agosto, a Lei nº 4.212/1962 permitiu que mulheres casadas não precisassem mais da autorização do marido para trabalhar. A partir de então, elas também passariam a ter direito à herança e a chance de pedir a guarda dos filhos em casos de separação. Somente em 1974, às mulheres conquistam o direito de portarem um cartão de crédito. Imagine só. Cartão de crédito, que hoje está presente na vida da maioria das pessoas, por muito tempo foi um direito exclusivo dos homens. Até o dia 26 de dezembro de 1977, às mulheres permaneciam legalmente presas aos casamentos, mesmo que fossem infelizes em seu dia a dia. Somente a partir da Lei nº 6.515/1977 é que o divórcio se tornou uma opção legal no Brasil. Parece estranho, mas somente em 1983, Conselho Nacional de Desportos (CND), considerou o futebol feminino aceitável e o regulamentou. Dois anos depois (1979), a paulista Eunice Michilles tornou-se a primeira mulher a ocupar um assento no Senado Federal pelo voto popular e em 1994, Roseana Sarney é eleita como a primeira governadora de um estado brasileiro (Maranhão).

Foi apenas na Constituição de 1988 que o papel da mulher na sociedade contemporânea brasileira foi completamente modificado. Ocorreu a introdução do princípio da igualdade, que estabelece que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Outro fato relevante, ocorreu em 2002, quando da retirada do Código Civil do artigo que dizia que um homem podia pedir a anulação do casamento caso descobrisse que a esposa não era virgem.

Nesse pequeno histórico, podemos dizer que uma das conquistas mais importantes para às mulheres brasileiras ocorreu em 2006 com a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que foi sancionada para combater a violência contra a mulher. Tivemos ainda, no campo da política, em 2010, a mineira Dilma Roussef eleita como a primeira presidente mulher do Brasil.

Dentro do contexto mundial, temos que ressaltar que as Grandes Guerras Mundiais (Primeira e Segunda), foram marcos históricos que causaram profundas transformações na sociedade, tanto no cenário econômico quanto no político e social. Nesse período ocorreu a inserção das mulheres nas relações de trabalho, pois os homens eram obrigados a se ausentar de casa para defender seus países, enquanto que as mulheres passaram a se inserir no mercado de trabalho. Inicialmente, elas começaram a substituir os homens nas fábricas, indústrias enquanto ainda continuavam com seu “papel” de cuidar da família.

Com as inúmeras perdas nos primeiros dois anos de guerra, as mulheres começaram a tomar funções militares, como enfermeiras, espiãs e outras muitas carregando armas em trincheiras.

Temos que destacar a participação de enfermeiras brasileiras na Segunda Guerra Mundial. As enfermeiras serviram nos hospitais militares, comandados pelos norte-americanos. A proximidade com a linha de fogo variava de acordo com o tipo de hospital (estacionamento, campanha, evacuação). Isso não as livrou dos perigos da guerra, já que as áreas hospitalares também foram atingidas por bombardeios, incêndios, alagamentos e explosões de minas.

Há um longo caminho a ser percorrido para uma sociedade ser justa e igualitária. É preciso de uma longa batalha para que o preconceito contra mulheres seja banido. Cada dia, um novo capítulo é escrito.

Apesar da conquista dos direitos no mercado de trabalho, o preconceito contra mulheres ainda é amplo. As mulheres não têm a sua vida prejudicada somente no mercado de trabalho, além disso, elas ainda são vítimas cotidianamente de assédio e da violência, seja ela simbólica, física ou sexual. Mas, na sociedade atual, a mulher moderna possui plena consciência do seu potencial e seus direitos e passa a demonstrar grande interesse pela valorização e melhoria de seus direitos como cidadã, mãe e trabalhadora.

O Dia Internacional da Mulher não é um mero dia voltado simplesmente a homenagens triviais às mulheres, mas diz respeito a um convite à reflexão referente a como a nossa sociedade as trata. Essa reflexão vale tanto para o campo do convívio afetivo, familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho. Momento para repensar atitudes e tentar construir uma sociedade sem desigualdade.

Tanto às mulheres brasileiras como as de todos os lugares desse planeta, em comum, elas têm resiliência e coragem para persistir e seguir em frente. Suas conquistas e trajetórias de vida servem de inspiração e exemplo para as gerações seguintes, porém apesar das vitórias e avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Entendemos que é preciso comemorar o dia da mulher todos os dias e respeitar, apoiar e encorajar aquelas que são tão importantes para nossa vida!

Concluímos com alguns trechos da música “Mulher (sexo frágil)” de Erasmo Carlos: “Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda! Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas. Vejam como é forte a que eu conheço. Sua sapiência não tem preço. Satisfaz meu ego se fingindo submissa, mas no fundo me enfeitiça. Mulher, mulher. Do barro de que você foi gerada. Me veio inspiração, pra decantar você nessa canção. Na escola em que você foi ensinada, jamais tirei um dez, sou forte, mas não chego aos seus pés”.