Em algum momento de nossa vida devemos ter escutado alguém associar a ideia de cultura à erudição ou intelectualidade. Afirmar que alguém “não tem cultura”, geralmente, é o mesmo que dizer que a pessoa é ignorante ou não possui conhecimentos que são considerados de maior refino. Esse é um engano que todos nós já cometemos algum dia.
A cultura, é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Uma cultura não pode existir fora de uma sociedade, da mesma maneira, uma sociedade não pode existir sem cultura.
Todos os indivíduos, todos os seres humanos tem cultura, no entanto, cada cultura é diferente da outra, mesmo povos ditos incivilizados tem cultura, pois a cultura não baseia-se somente na linguagem escrita, e, como é herança social é transmitida de geração em geração. Cultura compreende uma série de elementos, como costumes, crenças religiosas, vestimenta, língua, objetos, rituais etc.
Dos quatro pilares nos quais alicerça a cultura humana – Arte, Mística, Filosofia e Ciência, a Arte é, muito provavelmente, a mais antiga a ser regularmente praticada pela Humanidade.
Na Grécia Antiga, surgiu a divisão entre as artes superiores, criadas para serem apreciadas com os olhos e os ouvidos, e as menores relacionadas com o tato. E dessas, seis vêm das que conhecemos hoje como Belas Artes: Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Literatura e Dança. O Cinema foi considerado como a sétima arte apenas no século XX, por Ricciotto Canudo, teórico e crítico de cinema, que queria distanciar a ideia de que o cinema era um espetáculo de massa, aproximando-o e integrando-o às Belas Artes. Para ele, o cinema é a arte síntese, que concilia todas as outras. Hoje, é um dos mais populares meios de expressão artística no mundo.
O cinema tem papel importante para a transformação da sociedade, pois através dele é possível chamar a atenção para diversas questões e realidades. Os filmes geram impacto nas pessoas, além de emoções e sentimentos. É possível, por meio deles, retratar, demonstrar, e até vivenciar diversas situações e problemas, que possuem relevância para o mundo.
Assistir um filme, é fazer uma grande viagem pelo imenso mundo do imaginário humano. Nas personagens apresentadas nos projetamos e nos sentimos como os heróis ou vilões, dependendo somente de quem você quer ser.
Dentro desse contexto, tenho certeza que todos nós, claro que existem exceções, devemos ter assistido um filme, seja no cinema, televisão ou em alguma plataforma de streaming, que de alguma forma marcou a nossa vida, ou pelo menos consideramos inesquecível. No meu caso esse filme se chama “Papillon”. Assisti esse filme em 1974 (cento e cinquenta minutos de projeção). Filme intenso do começo ao fim, não há momento para desatinar da cadeira. “Papillon” conta a história real do ladrão de jóias. Interpretado por Henry Charrière (Steve McQueen), apelidado de "Papillon" por causa da tatuagem de borboleta em seu peito, é injustamente condenado pelo assassinato de um cafetão. Em 1933, é condenado à prisão perpétua na temível colónia penal da Guiana Francesa (Île du Diable). Enclausurados e agrilhoados em celas minúsculas, escuras e sobrelotadas como cães miseráveis à mercê da morte, Henry, não se deixa vergar pelo infortúnio do seu fado, imiscuindo-se, desde logo, na venda de um arriscado plano de fuga ao abastado falsificador de dinheiro, Louis Dega (Dustin Hoffman) que há muito tempo perdeu todas às esperanças de ser libertado. É famosa a cena em que Papillon come baratas para sobreviver. Depois de 11 anos nesse “inferno”, de um alto penhasco, Papillon observa uma pequena enseada, onde descobre que as ondas são fortes o suficiente para carregar um homem para o mar e para o continente próximo. Papillon pede a Dega para se juntar a ele em outra fuga, e os homens fazem dois flutuadores com cocos ensacados. Enquanto eles estão no lado do penhasco, Dega decide não escapar e implora a Papillon que não o faça. Papillon abraça Dega uma última vez e depois salta do penhasco. Agarrando seu flutuador, ele é levado com sucesso para o mar.
O filme, mostra de maneira crua a crueldade que é vivida nesse lugar, e toda a desumanização, que acaba se tornando um trunfo para o protagonista após anos na solitária. Aflorar o sentimento de que é o instinto de sobrevivência e a vontade de ser livre, que são cativantes. O Papillon não perde a esperança de se ver livre. Um homem que não se deixou vencer. O filme, tem seu pico quando ressalta toda gana humana em busca da liberdade.
Papillon é “borboleta” em francês, e bem simboliza esse homem, real, que por várias vezes tenta sair do casulo que o meteram injustamente, para alçar vôo de volta à França. Sim ela mesma, a mãe da liberdade. De lagarta à borboleta é praticamente uma ressurreição!
Em 2018 tivemos um remake de “Papillon”. Não conseguiu no Brasil alcançar o reconhecimento que teve o primeiro, e isso talvez se deva à época em que foi lançado (no Brasil, o original chegou em 1974, em plena ditadura militar, e fez sucesso devido ao tema abordado).
A arte, por vezes se confunde com a vida, o que nos leva a questão sobre quem imita quem. Seria a arte inspirada pelo nosso cotidiano, ou seria a vida baseada nas influências da arte? Se a arte for um retrato da vida, vivemos então como prisioneiros? Se a vida é reflexo da arte, somos condenados a fugir das cordas impostas pelos autores? E se formos nós esses autores?
Quem algum dia não pensou que a própria vida poderia tornar-se um bom filme? Que “happy end” podemos imaginar para o filme da nossa vida?
Bem, para fazermos um filme de nossa vida precisamos escrever o roteiro. Que tal iniciarmos escrevendo o Livro de nossa vida?
O livro da vida somos nós mesmo que escrevemos dia após dia. As pessoas à nossa volta partilham continuamente às páginas e capítulos do nosso livro.
O poeta chileno Pablo Neruda certa vez afirmou: “Escrever é fácil. Você começa com letra maiúscula, termina com ponto final e no meio coloca as ideias”. Quem dera, colocar as ideias no papel fosse algo tão simples como parece na citação acima! Porém, o grande desafio da arte da escrita está justamente no recheio.
Em algum momento da vida acumulamos uma mala cheia de histórias que poderiam facilmente ser transformadas em livro.
Nossa história vai sendo escrita durante nossa vida, as decisões que tomamos e tudo o que realizamos vão completando as páginas que estão em branco, todo dia escrevemos uma parte dessa história e somos nós que decidimos que tipo de história de nossa vida vamos contar nesse livro.
Alguns já têm muita coisa para contar aos 25, 30, 40 anos. Outros, consideram-se experientes apenas aos 70. O tempo, não passa da mesma forma para todo mundo, afinal, vivemos vidas diferentes e sentimos de formas únicas. E é justamente isso que torna cada história interessante.
Quando criança, por exemplo, não temos tantas memórias nítidas, então talvez seja preciso reconstruir algo.
Quando voltamos no tempo conseguimos identificar momentos felizes, outras vezes conseguimos identificar relacionamentos imaturos, estresse com discussões familiares ou mesmo ficamos olhando mais para fora, para o outro, do que para nós mesmos.
Todos sabemos o que vivemos e pelo menos os fatos que para nós foram mais importantes ou intensos estão em nossa memória, mas quando paramos para olhar mais de perto e tiramos um tempo, para avaliar os capítulos da nossa própria história, podemos criar um desfecho melhor e mais positivo, desconstruindo e reinterpretando uma cena aqui e ali, alterando o resultado dos capítulos seguintes.
Em certos momentos vivemos numa Comédia, depois passamos por um drama, há quem viva até mesmo um terror, mas em toda boa história tem seus momentos românticos, alegres, e de muita esperança, por isso, nos cabe apenas viver intensamente e deixar que o autor maior Deus, defina quais serão os próximos capítulos.
Devemos sempre ter em mente que o livro que escrevemos não pode ser reescrito, os acontecimentos passados não podem ser mudados. Por isso, não podemos nunca esquecer que plantamos hoje o que vamos colher no futuro, a vida é uma sucessão de consequências de nossas ações, não é como uma lavoura que no plantio já sabemos quando será a colheita, a colheita da vida pode ser imediata ou demorar longos anos, mas é preciso que seja cultivada, assim como as plantas, que precisam de cuidados, devemos cuidar de nossa vida com sabedoria. O futuro ainda não sabemos o enredo, mas sabemos quais são nossos objetivos e devemos lutar para que se realizem.
Deus nos dá uma nova chance todos os dias de escrever a nossa própria história. Cabe a nós, escolhermos o que vamos escrever hoje, e por isso temos que construir cada detalhe com total convicção de que estamos fazendo o nosso melhor, pois amanhã não terá como voltar atrás e fazer diferente. E o que foi escrito por nós hoje, borracha nenhuma será capaz apagar no amanhã.
Porém, chega uma hora em que Deus nos tira o lápis e escreve ''FIM''. Por esse motivo, devemos aproveitar bem hoje, pois cada momento é único, o passado não voltará e o futuro pode não chegar. Não devemos desperdiçar tempo com mágoas, ódios, rancor e brigas. Assim como nos filmes, também temos um tempo limite, assim como os heróis e heroínas dos filmes. Afinal é por isso que gostamos e torcemos por eles.
Será que após escrevermos o livro de nossa vida e transformá-lo em um filme, vamos ter coragem de assistir ou até mesmo projetá-lo para nossos familiares e amigos? Bem, apenas para fazermos uma reflexão.
Porém, não podemos esquecer que o maior leitor da história de nossa Vida é Deus. Ele lê as linhas, mas também conhece as entrelinhas da história da nossa vida.
“Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta” (Chico Xavier).
Maravilhosa reflexão, meu amigo. E não há como plantarmos abacaxi e colhermos morangos. Cada ser é responsável por tudo que acontece em sua vida. Assumir cada erro e tirar o melhor proveito, já nos faz seres melhores. Temos defeitos e virtudes. Vamos cultivar a compaixão, a solidariedade, o amor e com certeza teremos bons resultados. Não devemos nos fechar em uma bolha apenas com os nossos, somos todos, somos um. Forte abraço amigo querido que tanto admiro.
Realmente meu sobrinho, todos nós temos um vasto material para colocarmos num livro, principalmente se tivermos uma vivência longa. Em nossa trajetória de vida acumulamos muitas histórias interessantes e outras não, mas todas elas nos deixa muita sabedoria e experiências que nos ajudam muito.
Parabens pelo texto sempre muito valioso e inteligente.
Um grande abraço.
Nós somos protagonistas
Do filme de nossas vidas…
POESIA:
Desde os tempos de criança
Que nós fomos doutrinados
A devolver os achados
E a rezar com esperança
O que ficou na lembrança
São culturas preferidas
Suas árvores escolhidas
Serão frutos futuristas
Nós somos protagonistas
Do filme de nossas vidas…
Bom dia, Vovô! Parabéns pelo artigo inteligente e belíssimo!
Bom fds pra você e família!
Abraço,
Walter Alves
25/08/2023
Parabéns Zé! Pela beleza de detalhes.
Assisti ao filme Papillon três vêzes, assim como você,
aínda hoje as cenas do mesmo estão armazenadas em minha mente.
Quanto ao conselho do Pablo Neruda, já comecei pela letra maiúscula ” HISTÓRIAS DE MINHA VIDA”, só que ainda não coloquei o ponto final, pois como disse MARTIN LUTHER KING JR:- ” O DENOMINADOR COMUM FINAL DA VIDA, CHAMA-SE MORTE, portanto o ponto final será colocado pelo HOMEM DO PRIMEIRO ANDAR.
Aquele abraço, um BFDS.
SAUDAÇÕES TRICOLORES!!!
👍👍👍👏👏😪🤝🤝🤝🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬🇧🇬
Muito bom Viana . O livro das nossas vidas cada dia uma página que devemos escrever sempre procurando o bem já que o que fizemos não volta mais e por isso tem que ser bem feito para não termos arrependimentos e não ferir ninguém . Sejamos belos atores nessa nossa história .
Boa reflexão. Acho que todos nós, somos protagonistas da nossa vida. Temos livre arbítrio de ter controle das nossas ações e decisões .Embora , nem sempre foi fácil. Graças à Deus, todos nós trilhamos o caminho do bem. E como disse Chico Xavier, Deus concede , o resto é por nossa conta. Um grande abraço.
Mais uma vez, parabéns, pela sabedoria e forma como conduz a narrativa e prende o leitor!
Ótima reflexão!
Excelente reflexao. A vida é curta e precisamos escrever nossa historia. Que seja sempre com happy end. 👏👏👏🙏
Belo texto.
Lembra-me alguém especial na arte e literatura brasileira.
“Viver é desenhar sem borracha”.
Acho que foi Ziraldo.
Adorei a leitura! Um texto que nos leva a refletir do ontem ao amanhã e, nos fazendo pensar de escrever algo melhor nas páginas, ainda em branco, que Deus nos permitiu ter em nosso livro da vida, entre a última escrita e a capa grossa, do fim do livro.
Parabéns amigo!
Excelente reflexão! Gostei muito.